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2017/2018 HDP Propostas de Resolução

Perguntas e propostas de resolução – HDP

Refira-se, sucintamente (mentira), aos seguintes temas:


1. História interna do Direito
Pertence a Leibinz a autoria da divisão entre história interna e história externa do
Direito. Na história interna, inclui-se aquilo que geralmente se designa por História
do Direito, ocupando-se dos sistemas jurídicos que vigoraram no passado, na
totalidade das suas características. Na história externa, lida-se com aspetos meta-
jurídicos, fatores de ordem política, económica, social, religiosa, cultural, etc.
Este modo de distinção foi alvo de críticas: apenas a história interna se reflete na
História do Direito, estando ela compreendida nesta classificação. A história externa
leibinziana apresenta-se mais como uma faceta da história civilizacional.
Assim, modernamente, que história interna é entendida como o ramo da história
jurídica que estuda as instituições jurídicas, enquanto que o objeto da história externa
consiste nas fontes do Direito do passado.

2. Forais
Um foral (ou carta de foral) era um diploma concedido pelo rei, um senhor laico, ou
por uma entidade eclesiástica, a determinada terra, contendo normas que
disciplinavam as relações entre os habitantes e a entidade outorgante e entre os
habitantes entre si. Contendo, maioritariamente, normas de Direito Público,
abordavam assuntos como as liberdades e garantias das pessoas habitantes e dos seus
bens, impostos e tributos, serviço militar, aproveitamento de terrenos comuns, entre
outros. Consistiram numa das principais fontes de Direito, especialmente no Período
de Individualização do Direito Português, no qual se mantiveram os forais
promulgados anteriormente à fundação do reino (como, por exemplo, os forais de
Coimbra e de Soure, de 1111, concedidos pelos condes D. Teresa e D Henrique), e no
qual novos foram concedidos já após a formação do reino, mantendo-se como uma
das principais fontes de direito – particularmente pela elevada atribuição de forais,
causada pela fraca legislação devido a preocupações de conquista, defesa e
povoamento das terras por parte dos governadores. Considera-se que os forais
resultaram de um processo de complexificação das denominadas “cartas de
povoação”, que eram cartas através dos quais a entidade outorgante se dirigia aqueles
que se quisessem fixar numa determinada localidade pertencente ao seu domínio.
No que toca ao tema dos forais, é importante relevar a existência de uma divergência
doutrinal. Alexandre Herculano, numa conceção mais restrita deste conceito, assume
como foral apenas os documentos com as dadas características que confiram
existência jurídica a determinado conselho, indiciando a circunstância de previsão de
uma magistratura própria e individual – carecendo desta, o documento considerar-se-
ia uma carta de povoação. No âmbito desta conceção, Herculano distingue diferentes
tipos de concelhos: concelhos rudimentares, nos quais ocorre a presença de um
magistrado fiscal ou administrativo, mas não um juiz; concelhos imperfeitos, na qual
ocorre a existência de um magistrado judicial, contudo carecendo de uma organização
concelhia expressa no foral; e concelhos perfeitos/completos, nos quais existe uma
magistratura colegial, com funções judiciais plenas, e na qual está perfeitamente
definida a organização concelhia da localidade.
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Bárbara Morim
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Por sua vez, Paulo Merêa, contrariando a posição anteriormente referida, considera
que a existência de magistratura própria não é condição suficiente nem necessária
para que haja um concelho. Isto porque, segundo o professor de Coimbra,
anteriormente à existência de magistraturas municipais, já poderia haver uma ideia
municipal; também tendo em conta que existiam localidades com juiz eleito que não
se consideravam concelhos.
É importante referir que, devido à desatualização e deterioração dos forais, por volta
de 1472/73 e 1481/82, os procuradores concelhios requereram uma reforma dos forais
– concedida por D. João II, e terminada em 1520, no reinado de D. Manuel I.
No século XVIII, com o liberalismo, ocorreu a extinção dos forais, com o decreto de
13 de agosto de 1832 e, com a carta de lei de 22 de junho de 1846, os direitos foraleiros
foram abolidos.

3. Concílios
Os concílios eram reuniões marcadas pela sua natureza eclesiástica. Juntamente com
as Cúrias, consistiam numa das principais fontes de direito no período da
individualização do Direito Português, dado que não se observou uma rotura imediata
e total do sistema jurídico com a formação do reino, herdaram-se algumas das fontes
do Reino de Leão. Por sua vez, as cúrias eram órgãos auxiliares do rei, de carater
iminentemente político. Estes dois conceitos tendem a confundir-se, na medida em
que os altos dignatários da Igreja participavam em reuniões da Curia e os concílios
eram amiúde convocados pelo rei, participando neles leigos. Assim, para distinguir,
é necessário atentar na entidade convocante, nas matérias versadas e na sanção – que
poderia ser régia ou canónica – das decisões que eram tomadas.
Em todo o caso, parece que se pode falar da Cúria de Leão de 1017, no Concílio de
Coiança (1055) e no Concílio de Oviedo (1115).

4. Cúria Régia
v. nº3
5. Concórdias e Concordatas
As concórdias e as concordatas foram uma das principais fontes de direito na história
do Direito Português, com particular relevo no período da individualização do Direito
português. Tratavam-se de acordos celebrados entre o rei e as autoridades
eclesiásticas, em que ambas as partes se comprometiam ao reconhecimento de direitos
e deveres relativas ao Estado e à Igreja. Este tipo de situações poderia também ocorrer
em casos nos quais se verificassem respostas aos agravamentos proferidos em Cortes
pelos representantes do clero.
Uma concórdia deriva de um acordo entre o Rei e as autoridades eclesiásticas
nacionais, da negociação entre estes. Por sua vez, uma concordata ocorre quando, na
negociação, interviesse a Santa Sé (o Papa).
Foram, como já dito, fontes relevantes de direito no período da individualização do
direito português, no qual a legislação era ainda muito fraca, tendo sido das únicas
fontes de direito posteriores à fundação da nacionalidade neste período, os primeiros
destes acordos em Portugal verificaram-se nos reinos de D. Sancho I, D. Afonso II e
D. Sancho II.

6. Complantação
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Bárbara Morim
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A complantação era um contrato agrário, do tipo de contratos de exploração agrícola,


característicos e importantes do ponto de vista social e económico no período da
individualização do direito português. no qual reinava o princípio da conquista da
propriedade pelo trabalho. Neste contrato, o trabalho e a propriedade da terra são
equilibrados: o proprietário de determinado prédio agrícola cede-o a um agricultor,
sendo a este incumbindo a fertilização do mesmo recorrendo à plantação de espécies
férteis (como a oliveira e a vinha), durante um período de, normalmente, entre 4 a 8
anos. Passado este tempo, procedia-se à divisão material do prédio, através da qual,
normalmente, o prédio era dividido em duas partes, uma para o proprietário inicial e
outra para o agricultor – comummente, esta divisão era feita de modo igual, sendo as
duas partes idênticas, porém nada obsta à existência de clausulas adicionais no
contrato estabelecido por estas entidades.

7. Enfiteuse
A enfiteuse era um dos contratos agrários, do tipo contrato agrícola, característicos
do período da individualização do Direito português. Estes contratos tinham como
princípio o da conquista da propriedade pelo trabalho.
Na enfiteuse, um proprietário de um prédio cede este a um agricultor, o enfiteuta,
ficando este obrigado a pagar determinada prestação anual, designada de forro, que
consistia numa parte dos frutos produzidos pelo terreno, ficando também obrigado a
fazer um aproveitamento diligente das terras. O proprietário tinha, aqui, um domínio
direto do prédio, enquanto que o agricultor tinha apenas o domínio útil.
Caso o enfiteuta pretendesse transmitir o domínio útil do prédio a um terceiro, ficaria
este terceiro a ser o enfiteuta, pagando ele a prestação anual, com os mesmos direitos
e deveres. Nestes casos, o proprietário do prédio agia conforme uma das suas duas
opções: exercia o seu direito de preferência, através do qual pagava a mesma quantia
de dinheiro ao enfiteuta que o terceiro estava disposto a pagar pelo domínio útil do
prédio, ficando, novamente, com o domínio pleno deste; ou, não querendo recuperar
a propriedade plena, o senhoria poderia ficar com uma parte do valor acordado entre
o enfiteuta e o terceiro, o chamado laudínio (que normalmente era de 2%).

8. Compra e venda de rendas


A compra e venda de rendas era um contrato de crédito (contratos cujo objeto é a terra,
mas com função financeira, no qual se tem em conta a proibição canónica e civil da
usura ou mútuo oneroso, servindo de forma subsidiária a este). A compra e venda de
rendas é definida como o contrato de concessão de crédito em que o mutuário
(devedor) onera o rendimento de um prédio ao pagamento da dívida e dos juros.
Neste contrato, um proprietário de um prédio, necessitando de capitais, recebia de
uma outra pessoa, a titulo definitivo, a quantia de dinheiro que necessita; em
contrapartida, quem cedeu o crédito tem o direito de receber, a titulo perpétuo, uma
determinada prestação monetária anual, que constituía um encargo sobre o prédio (se
a propriedade do prédio fosse transmitida a um terceiro, ficava este de cumprir a
prestação, ocorre aqui um ónus real, sendo que o direito do detentor de capitais nunca
poderá ser frustrado por alienação do prédio).
A função deste negócio jurídico é muito semelhante à do empréstimo a juros, porem
não era abrangida pela proibição medieval da usura.

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Bárbara Morim
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9. Glosa
As glosas eram o principal instrumento de trabalho utilizado pela Escola dos
Glosadores (ou Escola de Bolonha, ou, ainda, Ineriana), escola esta marcada pelo seu
método de índole marcadamente exegética, analítica e casuística.
As glosas constituíam em anotações, esclarecimentos ou comentários sobre o texto
do Corpus Iuris Civilis, documento quase sagrado para esta Escola – sendo, até,
encarado com demasiado apego. Inicialmente, constituindo meras anotações,
escreviam-se entre as linhas do texto, denominando-se estas por glosas interlineares.
Porém, com o tempo, as glosas foram-se complexificando, sendo o espaço interlinear
do texto insuficiente para tais anotações, passando estas a fazerem-se na sua margem
– glosas mariginais.
O termo “Glosa”, só por si, pode também referir-se à Magna Glosa, ou Glosa de
Acúrsio, que consiste na compilação de uma imensidão (mais de 96 940 glosas) de
glosas, ordenada por Acúrsio entre 1220 e 1240, nas quais apresentava criticamente
as principais opiniões discordantes sobre as mesmas. A Glosa passou a acompanhar
as cópias do Corpus Iuris Civilis. Esta obra assinala o término de um ciclo da ciência
do Direito, sendo a secunda metade do sec. XIII um período de transição para uma
nova metodologia.

10. Glosa Magna de Acúrcio


(ver nº 8)

11. Universidade ex consuetudine


Durante os séculos XII e XIII, assistiu-se à criação de várias universidades europeias
onde se estudava, nomeadamente, o Direito Romano Justinianeu, bem como Direito
Canónico, ensinado segundo o método das escolas italianas, constituindo uma das
causas da difusão deste na Europa – os estudantes estrangeiros que iam estudar para
estas universidades, aprendiam e levavam os seus conhecimentos sobre Direito
Romano para o seu pais de origem. Assim, existem três meios de surgimento deste
tipo de estabelecimento, que conferiam aos diplomados o ius ubique docendi, o direito
para ensinar em todas as partes da Cristandade, sendo eles: ex consuetudine, ex
sucessione e ex privelegio.
As universidades ex consuetudine eram, desta forma, as universidades que surgiam
espontaneamente, como as primeiras Universidades, geralmente a partir da evolução
e corporativização de pequenos centros de ensino já existentes – é o caso da
Universidade de Bolonha e Paris.
Por sua vez, as universidades ex sucessione eram aquelas formadas a partir da
separação de uma outra Universidade (como por exemplo, Oxford e Cambridge;
Bolonha e Paiva), e as universidades ex privilegio seriam aquelas que sem terem,
normalmente, por trás uma tradição minimamente formada, eram criadas por
iniciativa de um soberano e sujeitas a confirmação pontíficia, para desempenharem
determinadas funções e alcançarem determinado estatuto (como estarem ao plano de
outras e poderem conferir o ius ubique docendi).

12. Siete Partidas


De entre as causas da difusão do Direito Romano na Península Ibérica, estão as obras
doutrinais e legislativas de conteúdo romanístico – estando as Siete Partidas
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Bárbara Morim
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englobadas por estas últimas. Assim, as Siete Partidas eram uma obra legislativa
(adveniente do reinado de D. Afonso X e da sua política de reivindicação para o
monarca da criação jurídica, da uniformização e da renovação do Direito nos seus
Reinos) que se apresentava como uma exposição jurídica de caráter enciclopédico,
visando o alcance de uma certa uniformidade jurídica no reino, e sintetizando, a par
da inspiração no sistema romano-canónico, princípios filosóficos, teológicos,
religiosos e morais – estes como argumentos para a fundamentação de vários preceitos.
Foi um dos textos jurídicos de Castela com maior difusão, ainda assim, não
reconheceu vigência oficial para alem da sua aplicação nos tribunais do Rei, até
meados do séc. XIV, como fonte de Direito subsidiária.
É de destacar que, na elaboração das Ordenações Afonsinas, foram incluídas algumas
das normas presentes nas Siete Partidas.

13. Corpus iuris canonici


O Direito canónico é o conjunto de normas que disciplinam as matérias da
competência da Igreja Católica, incluindo preceitos no que toca a fontes de Direito
Divino e, também, Humano, conquanto canónico.
O Corpus iuris canonici tratava-se de um documento, promulgado em 1580 pelo Papa
Gregório XIII, e que vigorou até 1917, data em que entra em vigor o Codex Iuris
canonici, no qual estavam integradas coletâneas de Direito Canónico elaboradas
desde o sec. XII, no âmbito da renovação contínua do Direito Canónico, servindo as
mesmas de base à reelaboração científica deste.
Uma das coletâneas que integrava este documento, era o Decreto de Graciano (1140),
que se tratava de uma compilação privada, síntese dos princípios e normas canónicas
vigentes até então, graças à sua amplitude e perfeição técnica foi difundida como lei
geral da igreja sob o nome de Decreto, sendo que os canonistas que estudavam esta
obra assumiam a designação de decretistas. Em 1234, surgem uma outra coletânea
que virá a integrar o corpus iuris canonici, as Decretais de Gregório IX, que
consistiam em coletâneas de normas pontifícias surgidas apos o Decreto, que, apos a
sua promulgação pelo papa Gregório IX, revogou as disposições do Decreto que nela
não estavam incluídas – os canonistas que a estudavam assumiam o nome de
decretalistas. Uma terceira coletânea é o Sexto de Bonifácio VII, de 1298, promulgada
por este, abrangia normas canónicas surgidas depois das decretais, recebendo o nome
de “sexto” devido às mesmas se dividirem em cinco livros, servindo, portanto, como
o sexto livro, face à sua complementaridade a esta. Em 1317, surgem As Clementinas,
resultado da compilação dos cânones do Concílio de Viena (1311-12). Por fim, temos
as Extravagantes de João II e as Extravagantes Comuns, as quais foram publicadas
em 1500 juntamente com as quatro coletâneas anteriormente mencionadas – devendo
o nome de “extravagantes” ao facto de estarem fora das coletâneas oficiais, sendo
representantes de um esforço papal no sentido de unificação do Direito da Igreja
contrário a particularismos regionais ou nacionais (a criação jurídica pertencia
somente à Santa Sé).

14. Decretalistas
A reelaboração científica do Direito Canónico fez-se com base nas coletâneas
organizadas a partir do séc. XII – nomeadamente o Decreto de Graciano, as Decretais
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Bárbara Morim
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de Gregório IX, o Sexto de Bonifácio VII, As Clementinas, e as Extravagantes de


João XII – recorrendo a uma metodologia exegética, utilizada por Glosadores e
Comentadores. Desta forma, os canonistas recorreram aos instrumentos destas
Escolas – à glosa e ao comentário como instrumentos interpretativos, transpondo-os
para o Direito Canónico.
Ora, estabelece-se aqui uma diferença entre os canonistas que estudavam o Decreto
de Graciano – a quem se atribuía o nome de decretistas. Por contrapartida, àqueles
que estudassem as Decretais de Gregório IX atribuía-se o nome de decretalistas.

15. Direito Comum


O Direito Comum é constituído pelo Direito Romano renascido e pelo Direito
Canónico renovado. É a designação para o sistema normativo de fundo romano que
se consolidou com os Comentadores, e constituiu, embora não de modo uniforme, a
base da experiência jurídica europeia até aos finais do sex. XVIII. Está contraposto
aos Direitos próprios, que são os ordenamentos jurídicos particulares, de direito local
ou de vários Estados.
Durante os séculos XII e XIII, o Direito Comum sobrepôs-se ao Direito nacional e a
todas as outras fontes de Direito que com ele concorriam. Todavia, a partir da altura
em que o ius proprium se torna fonte imediata, assume o papel de fonte jurídica
subsidiária (mercê da legitimidade que o soberano lhe conferisse).

16. Resoluções régias


As resoluções régias foram uma das fontes de direito que marcaram o período de
inspiração romano-canónica, na época do direito comum, ou seja, entre meados do
seculo XIII e a implementação das Ordenações Afonsinas. Consistiam em
providências legislativas tomadas pelos monarcas nas Cortes, como resposta aos
agravamentos (que eram sugestões de assuntos para apreciação e decisão) apontados
pelas três classes sociais, onde, caso neles constassem normas a aplicar para o futuro,
a aproximação às leis era evidente.
A diferença entre estas e as leis parte, desde logo, do seu modo de formação: enquanto
que as leis eram formadas por iniciativa do monarca, isto não acontecia com as
resoluções régias. No que toca à sua publicidade, encontramos também diferenças: as
leis eram publicitadas por tabeliães, já as resoluções régias manifestavam-se,
normalmente, através dos traslados (ou cópias) que os procuradores concelhios ou
outros interessados pediam.

17. Ordenações de D. Duarte


Um grande aumento do número de diplomas legais na época do direito comum
(período de inspiração romano-canónica do direito português) tornou necessária a sua
compilação – desta forma, podemos afirmar que existiram coletâneas gerais do Reino
que precederam às Ordenações Afonsinas, ainda que tenham tido um caráter privado,
não sendo objeto de promulgação (mesmo estando ligadas a órgãos públicos).
Destas compilações chegam-nos duas: o Livro das Leis e Posturas, que teve objetivo
de mera compilação das leis, e não da coordenação da mesma, o que se pode concluir
devido à falta de organização do documento e, até, à repetição de textos (segundo
alguma doutrina, este trata-se de um conjunto de trabalhos preparatórios para as
Ordenações Afonsinas, ainda que haja grandes duvidas acerca disto, é comummente
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Bárbara Morim
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aceite); e, a segunda, as chamadas Ordenações de D. Duarte, que consistiam numa


coletânea privada que pertenceu à biblioteca de D. Duarte, ainda que não tenha sido
dele derivada, tendo este apenas acrescentado um índice e um discurso sobre as
virtudes de um bom julgador. Tendo um maior número de leis do que o Livro das Leis
e Posturas, sendo também raras as repetições, está nitidamente organizado por reinos
(de D. Afonso II a D. Duarte) e, dentro destes, por matérias.

18. Ordenações Afonsinas


Devido a um grande número de insistentes pedidos para a elaboração de uma
coletânea com todo o Direito vigente, de forma a aniquilar as dúvidas e confusões que
se geravam devido ao caráter disperso e confuso das normas, D. João I encarrega João
Mendes de elaborar tal obra, após a morte de ambos, D. Duarte encarrega Rui
Fernandes de continuar os trabalhos preparatórios, que o continua a fazer após a morte
de D. Duarte, por ordem do Infante D. Pedro, regente na menoridade de D. Afonso V.
Em 1446/47, são então finalizadas e publicadas as Ordenações, em nome de D.
Afonso V, tendo apenas generalização efetiva por volta de 1450.
A elaboração desta coletânea recorreu às várias fontes de direito anteriores (sendo
estas as leis gerais, as resoluções régias, as concórdias e as concordatas, os costumes
gerais e locais, os Estilos da Corte ou de tribunais superiores, algumas normas das
Siete Partidas, e preceitos de Direito Romano e Direito Canónico). Tendo sido
organizadas em cinco livros, utilizou-se uma técnica meramente compilatória do
Livro II ao Livro IV, que consistia na mera transcrição das fontes anteriores,
declarando-se em que termos esses preceitos eram confirmados, alterados ou
afastados; no Livro I recorreu-se a uma técnica legislativa, com formulação direta de
preceitos, sem referência às eventuais fontes anteriores, como se se legislasse pela
primeira vez).
Esta obra teve tremenda importância, nomeadamente na medida em que contribuiu
para a consolidação da autonomia do sistema jurídico português, quer face a Castela
quer face ao Império Sacro-Romano. Teve também importância na viabilização do
conhecimento das instituições desde o início da nacionalidade e na contribuição para
o desenvolvimento do poder régio, dado que o Rei passava a poder regular os
comportamentos das pessoas através da lei.
Surgiram várias Ordenações após as Ordenações Afonsinas, porém estas pouco mais
fizeram que atualizar esta coletânea.

19. Ordenações Manuelinas


Devido à introdução da imprensa nos finais do século XV, urgia levar à tipografia a
coletânea jurídica básica do reino, para facilitar a sua difusão, e tendo em conta o auge
dos Descobrimentos presenciado por D. Manuel I, este, em 1505, encarrega uma
comissão de juristas, composta por Rui Boto, Rui Grã e João Cotim, a proceder à
atualização das Ordenações do reino. Esta dá-se por completa em 1514, porém D
Manuel I, não satisfeito com o resultado, pede alterações – acabando estas por serem
publicadas em 1521, ano da sua morte.
A organização do documento mantém-se relativamente às Ordenações Afonsinas,
mantendo-se os cinco livros, divididos por títulos, que se organizavam em parágrafos,
mantendo-se também a distribuição das matérias por cada Livro.

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Bárbara Morim
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Ainda assim, levaram-se a cabo algumas atualizações: foram excluídos quaisquer


preceitos sobre mouros ou judeus, visto que estes tinham sido, entretanto, expulsos
do reino; as matérias relativas à fazenda foram também retiradas, ficando
autonomizadas nas Ordenações da Fazenda; ocorre vinculação da interpretação
legislativa, através dos assentos da Casa da Suplicação, bem como várias alterações a
nível do Direito subsidiário.
Uma outra alteração consta na técnica legislativa usada. Anteriormente, apenas o
Livro I possuía um estilo legislativo ou decretória, sendo os Livros II a V marcados
por um sistema de transcrição, agora o primeiro estendia-se a toda a obra.

20. Ordenações Filipinas


As Ordenações Manuelinas não foram suficientemente inovadoras, necessitando, por
volta dos finais do século XVI, de uma revisão profunda. Desta forma, D. Filipe I, até,
de certa forma, demonstrando respeito pelas tradição e cultura jurídicas portuguesas,
incumbe a Jorge Cabedo, Afonso Vaz Tenreiro e Duarte Nunes de Lião de executar
esta revisão. Tal documento é terminado em 1595, contudo, apenas entra em vigor no
ano de 1603, já no reinado de D. Filipe II.
Continuou a vigorar a sistematização das Ordenações Manuelinas, estando
organizadas em cinco livros, cada um dividido em parágrafos. No que toca ao
conteúdo, procurou meramente fazer-se uma atualização deste em relação aos tempos
do momento, resumindo os preceitos anteriores e posteriores normas avulsas num
único corpo legislativo – no que toca às alterações feitas neste âmbito, temos que o
direito subsidiário passa de estar no Livro II (matérias político-constitucionais),
passando para o Livro III (relativo ao processo), o que demonstra uma mudança de
mentalidade relativa a este tema; disciplina-se, pela primeira vez, o direito da
nacionalidade; por ultimo, revogaram-se todas as normas que não constassem na
compilação, exceto aquelas que estivessem transcritas em livro.
Apesar da Revolução de 1640, as Ordenações Afonsinas mantiveram-se em vigor, por
aceitação expressa de D. João IV, na lei de 20 de janeiro de 1643.
Tendo ocorrido uma grande preocupação em não se ser inovador, e simplesmente
acrescentar o antigo ao novo, acontecia muitas vezes encontrarmos preceitos já
obsoletos e, até mesmo, normas contraditórias, o que criou uma enorme falta de
clareza nas Ordenações Filipinas. A esta falta de originalidade e aos restantes defeitos,
no final do sex. XVIII, atribuiu-se o nome de “filipismos”.
Estas foram as Ordenações que mais tempo vigoraram, tanto em Portugal, como no
Brasil.

21. Filipismos
v. nº 19

22. Alvará
Entre as fontes de direito na Época das Ordenações do Período do DP de Inspiração
Romano-Canónica, encontramos fontes de Direito Pátrio, das quais fazem parte a
legislação extravagante, o costume e os estilos da Corte. A legislação extravagante
em grande escala é justificada pela necessidade de alterar e complementar as
Ordenações Filipinas, sendo as ordenações que vigoraram mais tempo na História do
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Bárbara Morim
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Direito Português. Alguns diplomas, que não se qualificavam como abstratos e gerais,
assumiam caráter legal – destes, os mais importantes são as Cartas de Lei (que
começavam pelo nome próprio do Rei, e eram assinados com a expressão El rei, sendo
o modo de promulgação de normas destinadas a vigorar mais de um ano) e os Alvarás.
Estes últimos, por sua vez, iniciavam-se com a expressão Eu el Rei, aparecendo na
assinatura somente Rei. Destinavam-se à promulgação de normas destinadas a vigorar
menos de um ano. Apesar desta divisão, os diplomas confundiam-se, chegando a
surgir alvarás da lei, em forma de lei ou com força de lei.
Um importante alvará para a história do Direito português é, por exemplo, um alvará
de 1518, que dita que os assentos da Casa da Suplicação em matérias de interpretação
jurídica têm caráter vinculativo.

23. Estilos da Corte


Os Estilos da Corte assumiram um importante papel como fonte de Direito nacional,
na época das Ordenações do Período do DP de inspiração romano-canónica. Estes
consistiam na jurisprudência uniforme e constante da Casa da Suplicação, porém,
careciam de determinadas características para serem considerados fontes de Direito –
primeiramente, não poderiam contrariar a lei; necessitavam de serem prescritos, tendo,
no mínimo, uma antiguidade de dez anos; finalmente, teriam de ter sido previamente
introduzidos, pelo menos, através de dois atos conformes na Casa da Suplicação.
Porém, estas características sofrem opiniões divergentes, havendo quem considera
que seria necessário um mínimo de três atos judiciais, e que o requisito da prescrição
de dez anos apenas ocorreria em caso de contradição à lei.
Em 1605, um diploma estabeleceu que todas as alterações e duvidas esclarecidas na
matéria dos estilos da Corte deveriam ser objetos de assento.
Há que atentar, ainda, na comparação entre Estilos da Corte e do Costume. Ambas as
fontes de Direito têm natureza não legislativa, partindo a mesma do uso. Porém,
diferem nos sujeitos – sendo que o costume tem um sujeito de natureza coletiva,
enquanto que os estilos são introduzidos pela prática de entidades publicas,
especialmente de órgãos judiciais – e nas matérias sobre as quais versam – cingindo-
se o costume mais a matérias de direito substantivo, enquanto que os estilos versam
sobre matérias processuais.
Na Lei da Boa Razão de 1769, parte da Reforma Pombalina, estes perdem o caráter
autónomo, passando apenas a ser considerado fonte de Direito quando um assento da
Casa da Suplicação assim o entendesse.

24. Forais novos ou manuelinos


Inicialmente, os forais eram diplomas concedidos pelo rei, um senhor laico ou uma
entidade eclesiástica, a determinada terra, contendo normas que disciplinavam as
relações entre os habitantes e a entidade outorgante e entre os habitantes entre si.
Foram uma importante fonte de Direito, particularmente no período da
individualização do DP.
Porém, os forais foram-se desatualizando por vários motivos: parte do seu conteúdo
estava revogada por legislação geral; algumas normas vigentes já revelavam caráter
obsoleto; devido à desvalorização da moeda, houve alterações das providencias
estabelecidas, o que gerou incertezas e arbitrariedades; alguns documentos
encontravam-se muito deteriorados, não oferecendo garantias da sua autenticidade.
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Bárbara Morim
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Por estas razões em 1472/73 e 1481/82, os procuradores concelhios solicitaram uma


reforma dos forais – que foi concedida por D. João II (elaborada por Rui Boto, João
Façanha e Fernão Pina) e concluída no reinado de D. Manuel I, em 1520. Surgiram
assim os forais novos ou manuelinos, em contraposição aos forais velhos – existindo,
ainda, muito raros forais concedidos após a reforma, cujo nome atribuído era forais
novíssimos.
Com a reforma, os forais perderam o papel de estatutos político-concelhios,
limitando-se a disciplinar os encargos devidos pelos povos ao rei e aos donatários das
terras – o que reflete o fortalecimento do poder do rei.
No século XVIII, com o liberalismo, foi alcançada a extinção dos forais, oficializada
com o decreto de 13 de agosto de 1832. Por sua vez, com a carta de lei de 22 de junho
de 1846, os direitos foraleiros foram também eles abolidos.

25. Uso moderno


Surgiu na Alemanha, no século XVII, passando para outros países, o chamado Uso
Moderno, ou usus modernus pandectarum, que consistia numa nova metodologia de
interpretação do Direito romano, na qual se deveria analisar quais das normas do
Corpus iuris civilis poderiam ser alvo de uso moderno, respeitando os princípios
imutáveis de Direito natural, e quais as normas do mesmo que se encontravam
obsoletas, associadas às peculiares situações características do Direito romano (ou
seja, descobrir quais as normas de Direito “vivo” e Direito “caduco” presentes no
Corpus iuris civilis).
Numa segunda fase, essa apreciação da atualidade das normas do direito romano
justinianeu beneficiou do jusracionalismo (ainda que nunca se tenha confundido as
duas escolas, dado que o usus modernus consiste numa corrente prática de estudos
dos dogmas romanos, enquanto que o jusracionalismo era uma corrente de
especulação teórico-filosófica).
O usus modernos deu também particular importância ao Direito nacional vigente, que
estava, então, lado a lado com as normas passiveis de uso moderno do Corpus Iuris
Civilis. Em suma, pode dizer-se que o uso moderno consiste de uma orientação em
que convergem vetores práticos racionalistas e nacionalistas jurídicos.

26. Humanitarismo
O Humanitarismo foi uma corrente que decorreu do Iluminismo, focando-se,
essencialmente, no âmbito do Direito Penal, devendo ainda distinguir-se das correntes
humanistas. Tem, no seu âmbito, quatro aspetos essenciais. Primeiramente, no âmbito
geral do Direito Penal, verifica-se uma total independência deste a pressupostos
religiosos, passando a tutelar interesses e valores gerais – atuando na dimensão da
utilidade e necessidade comuns.
Relativamente aos fins das penas, estas param de ter caráter sancionatório, passando
a ter como objetivo a prevenção de delitos futuros – pode ser uma prevenção geral, se
prevenir crimes na generalidade da sociedade, ou uma prevenção especial, se o seu
foco for o individuo responsável pelo delito. Podem, aqui, ter caráter preventivo –
caso visem a reintegração social do mesmo –, ou negativo – quando o intuito for
incutir medo.

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O terceiro aspeto fundamental é o respeito pela dignidade humana, que passa a ser o
limite da justiça, exigindo-se uma proporcionalidade entre a pena e o delito cometido,
bem como a extinção de penas corporais, substituindo estas por penas de prisão.
Finalmente, o último aspeto, refere-se ao processo penal. Agora, contrariamente ao
anterior processo inquisitório, trata-se de um processo de caráter acusatório, no qual
há diferenciação entre a entidade que investiga e acusa e a entidade que julga. Nesta
matéria, com influeência do relevo da dignidade humana, passa a aplicar-se o
princípio in dúbio pro reo (caso o julgador não estiver convencido, o réu deve ser
absolvido).
Em Portugal, esta corrente influenciou a obra de Mello Freire.

27. Método sistemático-demonstrativo-compendiário


Depois de, em 1971, se ter verificado uma análise de resultados catastróficos do
ensino universitário em Coimbra, por parte da Junta de Providência Literária que
lançou o Compêndio Histórico da UC, procederam-se à elaboração de novos estatutos
da UC – ou os Estatutos Pombalinos, em 1772. Forem efetuadas quatro alterações
fundamentais com os novos estatutos: incluíram-se novas matérias no programa de
estudos (como o Direito Nacional e a História do Direito e das Instituições do Direito
Pátrio), ainda que se tenha mantido o núcleo geral de estudos nos Direitos Romano e
Canónico; estabeleceu-se um programa de estudos para cada matéria, submetendo os
docentes ao seu cumprimento de acordo com a Escola preferível sobre a matéria (o
Direito Romano e Canónico estudava-se de acordo com a visão humanista, por
exemplo); supunha-se um estudante empenhado e aplicado, submetido a um severo
regime de faltas; e determinou-se a modernização do método de ensino sistemático-
demonstrativo-compendiário, que substituiria o método analítico (ainda que este se
tenha mantido em duas cadeiras de final de curso relativas à execução e interpretação
legislativa).
O método de ensino era, portanto, sintético, na medida em que se deveria fornecer aos
estudantes uma ideia geral de cada disciplina, recorrendo à sistematização e à
exposição da matéria do mais fácil para o mais difícil. Demonstrativo, pois a matéria
deveria ser apresentada num encadeamento lógico, só se passando para um ponto
quando o anterior estiver esclarecido, retirando-se os seguintes através da dedução. E,
finalmente, compendiário, dado que tudo o que foi anteriormente mencionado deveria
ser acompanhado da elaboração, pelos professores, de manuais que substituíssem as
tradicionais apostilas (equivalentes às atuais “sebentas” de alunos) – enquanto se
aguardava a sua elaboração, seguir-se-iam obras estrangeiras correspondentes.

28. Concordata com a Santa Sé de 1940


Concordata com a Santa Sé de 1940 foi a concordata que pacificou a relação entre o
Estado Português e a Igreja, que haveriam sido abruptamente rompidas em 1911, com
a Lei da Separação do Estado da Igreja, que procurou a máxima laicização do Estado
(foram proibidos os conventos, mosteiros e colégios das ordens religiosas regulares,
e s seus bens passaram a pertencer ao Estado; de notar é que se repuseram alguns
diplomas pombalinos; a vida religiosa em comunidade foi extinta, e baniu-se o ensino
da religião católica nas escolas oficiais, tendo sido proscritos da prática administrativa
os juramentos religioso). Aqui, prosseguiu-se o já publicado decreto da Lei da
Personalidade Jurídica das Igrejas, o que se estendeu às organizações e associações
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por ela instituídas. O património da igreja, os bens que lhe tinham sido retirados, é
reconhecido como sua propriedade – ainda que na prática, nada foi efetivamente
devolvido, nem concedido via indemnização. Permitiu-se que a igreja formasse as
próprias escolas, bem com o ensino da religião católica nas escolas oficiais.
Ainda em consequência desta concordata, volta a prever-se o casamento católico ao
lado do casamento civil, sendo o divorcio excluído do primeiro.

1. Recorte o Objeto da história do Direito


O objeto da história do Direito incide sobre três áreas fundamentais: a história das
fontes, a história das instituições e a história do pensamento jurídico.
No que toca à história das fontes, o objeto da mesma varia consoante o sentido que
damos à expressão “fontes de direito”. Caso nos refiramos a um sentido filosófico,
lidamos com as fontes como fundamento da validade ou obrigatoriedade do direito;
se mencionarmos um sentido político, as fontes aqui são entendidas como órgãos de
onde emana o direito, identificando-se com as fontes existendi no Direito Romano;
num sentido formal, estas identificam-se com as fontes manifestandi, sendo
representadas pelos os modos de formação e revelação do direito; num sentido
material, observamos a correspondência as fontes cognoscendi, as quais consistem
nos textos e diplomas em que o direito se contém; por fim, num sentido sociológico,
estas são vistas como fatores que representam as causas sociais que levaram à
formação de determinadas normas, do seu conteúdo concreto.
Na história das instituições, estuda-se o Direito tal como este está contido nas normas
jurídicas das diferentes épocas históricas. Tendo isto um duplo alcance, não bastando
que se estude a existência e evolução das várias instituições ao longo do tempo, é
necessário averiguar se as normas constantes das mesmas eram, de facto, aplicadas
na realidade.
Por fim, em relação à história do pensamento jurídico, estamos aqui presentes de uma
relação com a teleologia. Estuda.se a atividade científica cultural e prática que
acompanha o Direito. Cabe-lhe a análise da formação dos juristas e das correntes
doutrinais, sendo o direito sempre acompanhado de uma elaboração científica.

2. Explique o entendimento exclusivista da HD como ciência jurídica


A História do Direito tem especial interesse formativo, permitindo um distanciamento
em relação à norma e oferecendo uma reflexão crítica e problemática, um repensar.
Estamos perante uma divergência doutrinal no que toca à visão da História do Direito
como ciência histórica, ou como ciência jurídica.
Para o entendimento exclusivista da História do Direito como ciência jurídica,
entende-se que para esta apenas tem interesse aquilo que pode ser dogmaticamente
conseguido. A História do Direito pretenderia estudar o desenvolvimento histórico do
Direito presente, sendo a História das normas atuais. Assim, apenas considerações
estritamente técnico-jurídicas seriam admitidas numa análise jurídico-histórica,
abstraindo-se de outros fatores, nomeadamente sociológicos. Nesta corrente há uma
notória influência do conceitualismo do séc. XIX.
Nesta perspetiva, o estudo do Direito pode fazer-se sob três ângulos diferentes: um
ângulo técnico, ou dogmático, no qual se encara o conjunto de normas jurídicas
vigentes que disciplinam a vida social com a finalidade da sua interpretação,
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sistematização e aplicação; filosófico, quando se considera o direito numa dimensão


supratemporal, colocando-se as interrogações do discurso filosófico a respeito da
ideia de Direito, independentemente da formulação específica que assume em
determinado momento histórico, averiguando-se se as normas jurídicas atuais
encerram ou não a ideia de justiça suficiente para continuarem a ser normas vigentes,
e quais os preceitos que devem ascender a essa categoria; e, finalmente, histórico,
onde se estudam as instituições e os princípios jurídicos no seu passado, apurando
como e porque surgiram, investigando-se, também, os precedentes e as causas do
direito atual.
É de mencionar que a perspetiva antagonista à referida, a perspetiva da historia do
direito como ciência histórica, entende o Direito como uma manifestação da cultura,
sendo portanto a Historia do Direito estudada enquanto integrada na metodologia da
ciência histórica, a História do Direito seria um ramo especializado da ciência da
história, no ramo da história genética, havendo também a historia narrativa (onde se
descrevem factos e personagens do passado) e a história pragmática (através do qual
se procede à extração de ensinamentos do passado para aplicação no presente).
A posição adotada no curso não é estritamente histórica nem jurídica, mas sim uma
posição na qual se encara a História do Direito como ciência plenamente jurídica, mas
possuidora de um estatuto jurídico-histórico: isto porque os conceitos atuais não
podem desfigurar aquilo que se estuda.

3. Enumere os fatores de penetração do Direito Romano Renascido na esfera jurídica


hispânica e portuguesa
O Direito Romano Renascido, como Direito Romano e obra dos Glosadores,
penetraram na esfera jurídica hispânica e portuguesa devido a diversas causas. Estas
englobam as mesmas causas para a sua difusão na Europa e outras mais. Consistindo
as primeiras na presença de estudantes europeus, nomeadamente peninsulares, em
Bolonha, para estudar, que, uma vez regressados ao seu país de origem, lecionariam
aquilo que aprenderam nas escolas italianas. A fundação de universidades (através de
meios ex consuetudine, ex sucessione e ex privilegio) que proporcionavam um ius
ubique docendi, direito para ensinar em todas as partes da Cristandade, foi também
crucial para a difusão deste.
Mais especificamente à península Ibérica, temos a presença de estudantes
peninsulares em centros de ensino, alem de italianos, também franceses, bem como a
presença de jurisconsultos estrangeiros na península. Assim, facilitando a difusão do
Corpus Iuris Civilis e da Glosa, um outro fator, visto que os estudantes, quando
regressavam ao seu país, para além dos conhecimentos obtidos no estrangeiro,
levavam também os documentos que foram objeto e auxiliares de estudo.
Um outro fator é o ensino do Direito Romano justinianeu nas Universidades (tendo
sido o Estudo Geral criado por D. Dinis, no caso Português). Ocorria também a
implementação de legislação e de uma prática de inspiração nitidamente romanística,
no que toca ao conteúdo das leis dos monarcas e à prática dos tabeliães.
Por fim, ocorre a implementação de obras doutrinais e legislativas de conteúdo
romanístico – entre as obras doutrinais, temos as Flores de Derecho e os Nueve
Tiemos de Los Pleitos, de Jácome Ruiz, que tendiam a substituir as bases de direito
foraleiro e consuetudinário; no que toca às obras legislativas, derivando das políticas
de Afonso X no que toca à reivindicação da criação jurídica para o monarca, bem
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como de politicas de uniformização e renovação do Direito em todo o reino, temos o


Fuero Real e as Siete Partidas.

4. Caracterize, do ponto de vista metodológico, a Escola dos Comentadores


A Escola dos Comentadores, Escolástica ou, ainda, Bartolista aparece, sem quebra de
continuidade com a Escola dos Glosadores, no sec. XIV, devido, essencialmente, à
incapacidade da Escola dos Glosadores de adaptar o Direito Romano às conduções da
época e ao crescente prestígio e generalização do Método Escolástico ou Aristotélico,
método utilizado por esta Escola, seguindo o paradigma adotado por D. Tomás
Aquino nos domínios filosóficos e teológicos, também associado a uma tendência
sistemática do pensamento. O comentário era o instrumento de trabalho característico
desta escola, e revelava um maior desenvolvimento do que as glosas da Escola dos
Glosadores.
O método Escolástico estava dividido em três fases, ou elementos – sendo o primeiro
denominado de Lectio, aqui, procedia-se à leitura de textos de autores fundamentais,
bem como de glosas, sendo este o elemento fundamental. De seguida, a quaestio, a
qual consistia na formulação de um problema, para o qual era necessário arranjar uma
solução. Finalmente, a disputatio, que era fomentada pela dialética aristotélica, onde
triunfavam as regras da lógica e do silogismo subsuntivo, assentando na discussão da
quaestio, feita com base na enumeração de argumentos a favor de uma determinada
solução, bem como em sentido contrário. Chegava-se, assim, à solutio, que era a
decisão entendida como mais correta da disputatio.
Com isto, entende-se que a atitude pragmática da Escola dos Comentadores fosse
essencialmente de uma dogmática dirigida à solução de problemas concretos,
analisando a matéria jurídica sob uma perspetiva lógico-sistemática.
Os Comentadores foram além dos textos romanos, estudando glosas, e até
comentários das mesmas, bem como outras fontes de direito como os costumes locais,
estatutos de cidades italianas, Direito canónico, etc. Assim, contribuíram para a
criação de novos institutos jurídicos bem como para o desenvolvimento de novos
ramos de Direito (Direito Internacional Privado, Direito Comercial, Direito do Mar).
Porém, o emprego rotineiro do método escolástico acabou por conduzir à estagnação
e consequente repetição de argumentos e autores. O uso abusivo do principio da
autoridade o excesso de casuísmo levaram a uma perda de preocupação da criação
original, restando-lhes nada mais do que enunciar argumentos favoráveis e
desfavoráveis num caso concreto, bem como listar as respetivas opiniões de autores
para formar a communis opinio doctorum – que possuía caráter quantitativo, sendo
mais importante a quantidade de autores a argumentar algo, do que a qualidade dos
seus argumentos (critério qualitativo).

5. Aborde os estilos da corte como fonte de direito na HDP


Os Estilos da Corte assumiram um importante papel como fonte de Direito nacional,
na época das Ordenações do Período do DP de inspiração romano-canónica. Estes
consistiam na jurisprudência uniforme e constante da Casa da Suplicação, porém,
careciam de determinadas características para serem considerados fontes de Direito –
primeiramente, não poderiam contrariar a lei; necessitavam de serem prescritos, tendo,
no mínimo, uma antiguidade de dez anos; finalmente, teriam de ter sido previamente
introduzidos, pelo menos, através de dois atos conformes na Casa da Suplicação.
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Porém, estas características sofrem opiniões divergentes, havendo quem considera


que seria necessário um mínimo de três atos judiciais, e que o requisito da prescrição
de dez anos apenas ocorreria em caso de contradição à lei.
Em 1605, um diploma estabeleceu que todas as alterações e duvidas esclarecidas na
matéria dos estilos da Corte deveriam ser objetos de assento.
Há que atentar, ainda, na comparação entre Estilos da Corte e do Costume. Ambas as
fontes de Direito têm natureza não legislativa, partindo a mesma do uso. Porém,
diferem nos sujeitos – sendo que o costume tem um sujeito de natureza coletiva,
enquanto que os estilos são introduzidos pela prática de entidades publicas,
especialmente de órgãos judiciais – e nas matérias sobre as quais versam – cingindo-
se o costume mais a matérias de direito substantivo, enquanto que os estilos versam
sobre matérias processuais.
6. Indique as fontes de Direito subsidiário segundo as Ordenações Afonsinas
O Direito Subsidiário consiste no sistema de normas jurídicas chamado a colmatar as
lacunas de um outro sistema jurídico. Divide-se em Direito Subsidiário geral, caso
colmate as lacunas de todo o ordenamento jurídico, ou Direito Subsidiário especial,
caso apenas tenha em atenção as lacunas de determinada instituição ou ramo do
Direito. No caso da Época das Ordenações, todas elas retratam um Direito Subsidiário
de caráter geral.
Anteriormente às Ordenações Afonsinas, durante a época de receção do direito
romano renascido e do direito canónico renovado, as fontes de direito subsidiário
consistiam meramente em textos de Direito Romano e Direito Canónico (Flores de
Derecho, Siete Partidas, Nueve Tiempos de Los Pleitos, Fuero Real). Segundo as
Ordenações Afonsinas, quando o Direito nacional não fosse suficiente, possuindo
lacunas, devia-se, antes de tudo, recorrer ao Direito Romano e Direito Canónico. O
Direito Romano estava previsto para versar sobre questões de natureza temporal,
excetuando quando este resultava numa solução pecaminosa, sendo então a questão
remetida para o Direito Canónico que, além disto, versava sobre questões de natureza
espiritual também. Temos aqui que mencionar o exemplo da usucapião, permitida
pelo Direito Romano, porém, sendo observada má-fé, rejeitada pelo direito canónico.
Quando quer o Direito Romano, quer o Direito Canónico se mostrassem
inconclusivos no preenchimento das lacunas, dever-se-ia recorrer à Glosa de Acúrcio
e, caso esta não bastasse, seguidamente, à Opinião de Bártolo.
Poderia acontecer que nenhuma das fontes de direito subsidiário referidas até agora
resolvesse a questão, ou apresentassem soluções contraditórias. Caso isto ocorresse,
em última instância, poderia recorrer-se à resolução do monarca, que emitiria uma
resolução régia com a solução entendida ao caso, observando caráter vinculativo para
o futuro.

7. Retrate o direito subsidiário segundo o disposto nas Ordenações Manuelinas


Ou analise o direito subsidiário de acordo com as Ordenações Manuelinas
Direito subsidiário é o sistema jurídico chamado a colmatar as lacunas existentes num
outro sistema – podendo ser dividido entre direito subsidiário geral, caso colmate
todas as lacunas de todo um ordenamento jurídico; ou direito subsidiário especial,
caso colmate as lacunas de uma instituição ou de um ramo de Direito específicos. No
caso das ordenações, todas elas são abrangidas por direito subsidiário geral.

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Nas Ordenações Afonsinas, as fontes de Direito subsidiário consistiam no Direito


Romano (para questões temporais) e Direito Canónico (para questões espirituais, ou
temporais naquelas que o Direito Romano oferecesse soluções pecaminosas); a Glosa
de Acúrsio e a Opinião de Bártolo, por essa ordem de preferência, caso os primeiros
não oferecessem uma solução; e, finalmente, caso nenhuma das fontes de direito
subsidiário anteriormente referidas encontrasse uma resposta concreta, ou
encontrassem respostas divergentes, as resoluções do monarca – que teriam caráter
vinculativo para o futuro.
Com as Ordenações Manuelinas, registaram-se algumas alterações nesta área. A
vigência do Direito Romano era, agora, justificada pela sua autoridade intrínseca, e
não pela filiação do reino ao Sacro Império. O Direito Romano e o Direito Canónico
mantinham-se fontes de direito subsidiário, porem agora desvinculados das questões
temporais e espirituais, passando a aplicar-se sempre normas de Direito Romano,
exceto em caso de solução pecaminosa – intervindo, apenas aqui, o Direito Canónico.
Com isto, percebe-se que a aplicação do Direito Romano passa a ser muito superior
que a do Direito Canónico.
A aplicação da Glosa de Acúrcio e da Opinião de Bártolo mantém-se, porém, agora,
estes devem ambos ser filtrados pela communis opinio doctorum, que, desta forma,
serve ela mesma como uma fonte de direito subsidiária direta antecedente do recurso
de ambas.

8. Reflita acerca dos contributos jurídicos e políticos da Segunda Escolástica


A Escola Espanhola do Direito Natural, também chamada por Segunda Escolástica,
surgiu e desenvolveu-se nos séculos XVI a XVIII, devido, especialmente, ao
renascimento dos estudos filosóficos e à quantidade de novos problemas levantados
pela expansão dos Descobrimentos. Esta dedicou-se a trabalhar a posição idealista de
base tomista, que também defendeu que o Direito Natural existiria mesmo que se
admitisse o caso de Deus não existir (ainda que assentasse as suas bases em Deus,
dado que se alicerçam o Direito e o Estado numa posição teocêntrica).
Esta corrente caracterizou-se por diversos elementos, do ponto de vista político,
destaca-se a afirmação de uma doutrina que restituía à Igreja a sua supremacia nas
relações estabelecidas com o Estado – já que o Direito natural, de ordem divina, era
o alicerce do Direito positivo, apenas faria sentido a Igreja ter poder sobre o Estado.
Numa assunção de uma posição verdadeiramente jusnaturalista, alicerçaram-se o
Direito e o Estado numa posição teocêntrica – o Direito, na medida em que os
institutos que o constituem eram encarados de uma forma conforme ao poder divino,
e o Estado, tendo em conta que o poder estatal é legitimado por Deus).
Esta Escola contribuiu também para a edificação e evolução de muitos setores,
nomeadamente a Teoria do Estado e do Direito Internacional, no Direito Penal
(relativamente a doutrinas do homicídio, da lesão corporal e da pena de morte), e até
às dogmáticas modernas do Direito Privado.
Assim, consta do principal legado desta Escola o impulso dado para a criação do DIP
moderno, com dois elementos essenciais: a construção, de Hugo Grócio, de um DIP
alicerçado num Direito vinculativo para todos os homens; relativamente ao exclusivo
da navegação e do comércio nos mares e territórios surgem divergências doutrinais –
entre a doutrina da liberdade da navegação, que defende que todos são livres de

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navegar no mar descoberto, defendida por Grócio – contra o movimento do


monopólio dos países que abriram tais rotas.

9. Mostre os reflexos que o direito natural, os seus princípios e as suas conceções tiveram
no Direito Português
A Escola Espanhola do Direito Natural, também chamada por Segunda Escolástica,
surgiu e desenvolveu-se nos séculos XVI a XVIII, devido, especialmente, ao
renascimento dos estudos filosóficos e à quantidade de novos problemas levantados
pela expansão dos Descobrimentos. Esta dedicou-se a trabalhar a posição idealista de
base tomista, que também defendeu que o Direito Natural existiria mesmo que se
admitisse o caso de Deus não existir (ainda que assentasse as suas bases em Deus,
dado que se alicerçam o Direito e o Estado numa posição teocêntrica).
Hugo Grócio recorreu a este argumento da Segunda Escolástica, para uma efetiva
laicização do Direito Natural: que, agora, se assentava na razão do homem, deixando
de ter cariz divino. Com os sucessores de Grócio, constrói-se o verdadeiro Direito
natural racionalista, verdadeiramente desvinculado de matérias metafisico-teológicas,
e completamente alicerçado na razão humana. O Direito Natural é, então, o conjunto
de normas jurídicas dimanadas pela razão humana, normas que são imutáveis no
tempo e no espaço e nas quais assentam todas as normas de direito positivo.
O Homem passava, também numa visão laicizadora, a ser tomado como ser natural e
não como obra de deus e o direito natural passa a ser entendido como construção
através de axiomas básicos.

10. Explique o uso moderno pandectorum à luz da sua época


Surgiu na Alemanha, no século XVII, passando para outros países, o chamado Uso
Moderno, ou usus modernus pandectarum, que consistia numa nova metodologia de
interpretação do Direito romano, na qual se deveria analisar quais das normas do
Corpus iuris civilis poderiam ser alvo de uso moderno, respeitando os princípios
imutáveis de Direito natural, e quais as normas do mesmo que se encontravam
obsoletas, associadas às peculiares situações características do Direito romano (ou
seja, descobrir quais as normas de Direito “vivo” e Direito “caduco” presentes no
Corpus iuris civilis). Numa segunda fase, essa apreciação da atualidade das normas
do direito romano justinianeu beneficiou do jusracionalismo (ainda que nunca se
tenha confundido as duas escolas, dado que o usus modernus consiste numa corrente
prática de estudos dos dogmas romanos, enquanto que o jusracionalismo era uma
corrente de especulação teórico-filosófica).
O usus modernus deu também particular importância ao Direito nacional vigente, que
estava, então, lado a lado com as normas passiveis de uso moderno do Corpus Iuris
Civilis. Em suma, pode dizer-se que o uso moderno consiste de uma orientação em
que convergem vetores práticos racionalistas e nacionalistas jurídicos.
Ora, desta forma, o usus modernus surgiu e desenvolveu-se no Período Português de
Inspiração Romano Canónica, mais propriamente na época das Ordenações
(Ordenações Filipinas, aqui), nas quais o Direito Romano era uma das fontes
subsidiárias de direito – chamado a colmatar lacunas nas questões. O Direito Romano,
como fonte subsidiaria nesta época, era, de certa forma, filtrado pelo Direito Canónico
na medida em que respondia às questões, excetuando quando apresentasse uma
solução pecaminosa.
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11. Enuncie os postulados fundamentais do Humanitarismo


O Humanitarismo foi uma corrente que decorreu do Iluminismo, focando-se,
essencialmente, no âmbito do Direito Penal, devendo ainda distinguir-se das correntes
humanistas. Tem, no seu âmbito, quatro aspetos essenciais. Primeiramente, no âmbito
geral do Direito Penal, verifica-se uma total independência deste a pressupostos
religiosos, passando a tutelar interesses e valores gerais – atuando na dimensão da
utilidade e necessidade comuns.
Relativamente aos fins das penas, estas param de ter caráter sancionatório, passando
a ter como objetivo a prevenção de delitos futuros – pode ser uma prevenção geral, se
prevenir crimes na generalidade da sociedade, ou uma prevenção especial, se o seu
foco for o individuo responsável pelo delito. Podem, aqui, ter caráter preventivo –
caso visem a reintegração social do mesmo –, ou negativo – quando o intuito for
incutir medo.
O terceiro aspeto fundamental é o respeito pela dignidade humana, que passa a ser o
limite da justiça, exigindo-se uma proporcionalidade entre a pena e o delito cometido,
bem como a extinção de penas corporais, substituindo estas por penas de prisão.
Finalmente, o último aspeto, refere-se ao processo penal. Agora, contrariamente ao
anterior processo inquisitório, trata-se de um processo de caráter acusatório, no qual
há diferenciação entre a entidade que investiga e acusa e a entidade que julga. Nesta
matéria, com influência do relevo da dignidade humana, passa a aplicar-se o princípio
in dúbio pro reo (caso o julgador não estiver convencido, o réu deve ser absolvido).
Em Portugal, esta corrente influenciou a obra de Mello Freire. Sendo também uma
das correntes do pensamento jurídico que acabou por influenciar as reformas jurídicas
pombalinas.

12. Mostre a relevância da corrente humanitária para a evolução do Direito Penal


v. nº11

13. Aponte apenas os aspetos inovadores que os Estatutos Pombalinos da UC trouxeram


ao ensino do Direito
Ou aluda às alterações fundamentais trazidas ao ensino jurídico pelos Estatutos da UC
de 1772
Os Estatutos Pombalinos da Universidade de Coimbra, promulgados através da lei de
28 de agosto de 1772, devido à análise executada pela Junta de Providência Literária,
em 1770, do ensino universitário, que resultou no Compêndio Histórico da
Universidade de Coimbra, em 1771, no qual se fazia uma crítica demolidora à
instituição, nomeadamente por se verificar um ensino exclusivo do Direito Romano e
Canónico, com quase desconhecimento do Direito Português; o abuso do método
bartolista e um respeito cego pela opinião comum dos doutores.
Assim, os Estatutos vieram trazer algumas alterações fundamentais. Primeiramente,
estabelece-se o início do ensino de novas matérias (como o Direito Natural, e a
História do Direito e Instituições do Direito Pátrio), ainda que o foco do curso se
mantenha o Direito Romano e Canónico, analisados, contudo, numa perspetiva
bastante diferente. Outra alteração, trata-se da aplicação do método de ensino
sintético-demonstrativo-compendiário, que consiste num modo de ensino que parte
da síntese dos conteúdos, apresentada aos alunos para que estes tenham uma noção
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prévia daquilo que é cada matéria, sendo esta lecionada da mais fácil para a mais
difícil; demonstrativa, dado que a matéria deve, também, visar um encadeamento
lógico, devendo apenas avançar-se para um ponto depois de o anterior estar totalmente
esclarecido, avançando-se, então, de forma dedutiva; compendiário, já que o que já
foi disposto deverá ser acompanhado por uma obra escrita pelo professor, substituindo
as anteriores apostilas – durante a elaboração desta, deverá recorrer-se a obras
estrangeiras equivalentes.
Uma terceira alteração consta no estabelecimento de um programa para dada
disciplina a lecionar, bem como da escolha prévia da Escola cuja doutrina deverá ser
seguida (por exemplo, no Direito Romano seguir-se-á uma perspetiva humanista).
Finalmente, temos que os Estatutos preveem, no seu texto, a existência de um aluno
empenhado e aplicado, submetido a um regime severo de comparência às aulas e a
provas de aproveitamento.

14. Analise a influência da Escola Racionalista do Direito Natural nas reformas


pombalinas
A Escola Racionalista do Direito Natural, ou Segunda Escolástica, surgiu na Europa,
anteriormente ao período da formação do Direito Português Moderno. O sistema
jurídico construído pela Segunda Escolástica fundava-se em Deus, porem utilizaram
o argumento de que existiria Direito natural, mesmo que Deus não existisse. Ora,
Hugo Grócio serviu-se desse ponto de partida para a criação de uma conceção de
Direito natural que já na se baseasse em Deus – a ordem jurídica superior assentava
na razão do Homem, paralela a qualquer cariz divino.
Porém, foram os autores que trabalharam a obra de Grócio – como Hobbes, Locke,
Thomasius e Wolff – que realmente construíram um Direito natural racionalista,
verdadeiramente desvinculada de pressupostos metafísico-religiosos e assente na
razão humana. O Homem, numa visão laicizadora, passava a ser encarado como ser
natural, e não como produto de Deus, o Direito natural construir-se-ia baseado em
axiomas básicos.
Esta Escola foi uma das correntes do pensamento jurídico europeu que inspiraram as
reformas jurídicas do Marquês de Pombal – nomeadamente à reforma jurídica levada
a cabo pela Lei da Boa Razão, nomeada precisamente pelas referências constantes à
“boa razão”, que seria a recta ractio do jusracionalismo, ao dogma supremo da
atividade interpretativa e integrativa). Esta inspiração é notória, particularmente, no
que toca às matérias de direito subsidiário: o Direito romano apenas poderia ser
aplicado subsidariamente se respeitasse a boa razão; no que toca à Glosa de Acúrsio,
à Opinião de Bártolo e, implicitamente, à communis opinio estas foram afastadas,
devido à sua ignorância em matérias de Direito natural. Há também uma subordinação
do Costume à boa razão, podendo ele apenas ser aplicado quando a ela for conforme.
Teve também impacto na formação dos Estatutos Novos da UC – fazendo parte deles
a criação de uma cadeira dedicada ao estudo de Direito Natural, para combater a
ignorância ao mesmo. Além disso, a aplicação de Direito Romano, atualizada com os
Estatutos, teria de ser conforme as orientações da corrente do usus modernus
pandectarum.
Mas a indicação de reflexos do jusracionalismo não se fica por aqui: está, também,
patente noutros diplomas legais pombalinos – como o Regimento da Real Meza
Censoria, ou a Carta de Lei de 23 de Novembro de 1770.
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2017/2018 HDP Propostas de Resolução

15. Explique o sentido do costume de acordo com a Lei da Boa Razão


O Costume é a prática constante e reiterada de uma certa conduta, com crença na sua
obrigatoriedade, assumindo papel de Fonte de Direito ao longo de quase toda a
História do Direito Português.
As reformas pombalinas no âmbito da ciência do direito foram levadas a cabo pela lei
de 18 e agosto de 1769 – que ficou conhecida como Lei da Boa Razão (1769), por
invocar, ao longo do documento, várias vezes, a “boa razão” (recta ratio do
jusracionalismo, consistindo no dogma fundamental da atividade interpretativa e
integrativa). Esta lei consagrou várias soluções, quer no âmbito do Direito Pátrio, quer
no âmbito do Direito subsidiário.
No âmbito do Direito pátrio, entendeu-se que os Estilos da Corte apenas seriam fontes
de Direito quando um assento das Casa da Suplicação assim o confirmasse, deixaram
portanto de ter uma eficácia autónoma, como teriam na época das ordenações;
precisamente no que toca aos assentos como fonte de Direito Pátrio, só o eram os
assentos oficiais da Casa da Suplicação, sendo que os assentos dos Tribunais das
relações só seriam considerados fontes quando confirmados pela própria Casa da
Suplicação; também o Costume sofreu alterações relativamente ao período anterior,
em que se aceitava como fonte de Direito sendo costume secundum legem, praeter
legem e contra legem. Agora, este necessitaria de obedecer a três requisitos
cumulativos, sob pena de se considerar uma prática corrupta: primeiramente, não
poderia contrariar a lei (é afastado o costume contra legem); segundamente, teria de
ser conforme a boa razão (estar de acordo com as ideias jusracionalistas); deveria, por
último, ter uma existência mínima de 100 anos. O cumprimento cumulativo de todos
estes requisitos aparentou ter bastantes dificuldades.
No Código de Seabra, o primeiro Código Civil português, o costume praeter legem
deixa também de ser aceite como fonte de Direito, passando o costume a ser
considerado uma fonte mediata, apenas aplicada na extada medida que o legislador
determine.

16. Analise as soluções consagradas pela Lei da Boa Razão quanto à utilização do direito
subsidiário
O Direito subsidiário consiste no ordenamento jurídico chamado a colmatar lacunas
de um outro ordenamento jurídico. A Lei da Boa Razão (1769), no seu processo de
reforma da ciência do direito, consagrou diversas soluções no âmbito da matéria de
direito pátrio e no âmbito do direito subsidiário. Esta foi marcada pelas correntes da
Escol Racionalista do Direito Natural, pelo usus modernus pandectorum, pela
Jurisprudência elegante, pelo iluminismo e pelo humanitatismo.
No que toca ao Direito subsidiário, abordaram-se os temas do Direito Romano,
Direito canónico e a Glosa de Acúrsio e Opinião de Bártolo (conjuntamente com a
communis opinio). Ora, quanto ao Direito Romano, este é aceite como fonte
subsidiária, porém a Lei da Boa Razão diz que apenas o é, quando respeite os
postulados da “boa razão” – devido a ser um preceito muito vago, os Estatutos da UC
de 1772 vêm complementá-lo: este será fonte de Direito subsidiário quando estiver
conforme o usus modernus pandectorum, acabando o uso moderno por assumir,
indiretamente, um valor de fonte subsidiária. Ainda sobre este, ele nunca poderia ser
aplicado a matérias políticas, económicas, mercantis e marítimas (nestes domínios
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Bárbara Morim
2017/2018 HDP Propostas de Resolução

dever-se-ia aplicar as leis das Nações Christãs, Illuminadas e Polidas, porque o Direito
Romano se considerava desadequado)
Relativamente ao Direito canónico, este deixa totalmente de ser fonte de direito
subsidiário – passando a ser aplicado exclusivamente nos tribunais eclesiásticos (esta
laicização é uma manifestação evidente da influência iluminista).
A Glosa de Acúrsio, a Opinião de Bártolo, e, consequentemente, a communis opinio
são também afastadas da vigência. Esta solução é justificada no facto de todas essas
fontes serem ignorantes em matérias de direito natural, e também pela falta de
conhecimentos históricos e linguísticos destes autores.

17. Trace a evolução do Direito Canónico, como fonte de direito subsidiário, ao longo da
história do Direito Português
Direito canónico é conjunto de normas que disciplinam as matérias de competência
da Igreja Católica. Segundo uma das chamadas “Leis de D. Afonso II” de 1211, o
direito pátrio estava subordinado ao direito canónico, assumindo-se este,
expressamente, como fonte do direito português. No período de receção do direito
romano renascido e direito canónico renovado, anterior às ordenações afonsinas,
recorria-se a este para o preenchimento de lacunas do ordenamento jurídico – contudo,
estando os juristas impreparados para aceder às fontes de direito canónico originais,
circulavam com carater subsidiário obras castelhanas de relevo (como o Fuero Real,
Siete Partidas, Flores de Derecho, Nueve Tiempos). Já na época das ordenações, com
as ordenações afonsinas, o caráter subsidiário do direito canónico estava reservado
para as questões de ordem espiritual e para as questões de ordem temporal às quais o
direito romano induzisse pecado nas soluções. Nas ordenações manuelinas, a divisão
entre questões temporais e espirituais deixa de ter relevo, passando o direito canónico
a ser aplicado subsidiariamente apenas quando o direito romano apresentasse um
caminho pecaminoso. Com a Lei da Boa Razão, 1769, o direito canónico é
definitivamente afastado da aplicação subsidiária nos tribunais civis, restando a sua
aplicação nos tribunais eclesiásticos.
18. Das fases que marcaram o Direito português do século XX, escolha uma delas e faça
sobressair três matrizes jurídicas que, em seu entender, repute fundamentais.
delimitação temporal da época do direito social; identificação das diferentes fases
pelas quais passou o direito português do século XX(direito da Primeira República,
direito do Estado Novo Corporativo e direito posterior a1974); apresentação de três
aspectos jurídicos próprios de uma das fases identificadas delimitação temporal da
época do direito social; identificação das diferentes fases pelas quais passou o direito
português do século XX(direito da Primeira República, direito do Estado Novo
Corporativo e direito posterior a1974); apresentação de três aspectos jurídicos
próprios de uma das fases identificadas

19. Descreva a evolução do instituto dos assentos desde a sua criação às Reformas
Pombalinas

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Em 1518, no alvará de 10 de dezembro, D. Manuel I atribui aos assentos da Casa da


Suplicação o poder para resolver possíveis dúvidas que se pudessem levantar no
momento de interpretação da lei – passando, então, estes assentos a ter caráter
vinculativo de interpretação jurídica. Até ao sec. XVI, tais duvidas eram resolvidas
em reuniões dos tribunais superiores, presididas pelo rei.
Estabeleceu-se que, em caso de os desembargadores da Casa da Suplicação tivessem
duvidas sobre algum preceito geral, deviam recorrer ao regedor do mesmo tribunal –
que conjuntamente com alguns desembargadores à sua escolha, resolveria o problema.
Caso a duvida subsistisse, o regedor poderia recorrer ao rei para este proferir uma
resolução sobre o problema. As decisões assim proferidas são, desta forma, os
assentos, e eram registadas no Livro dos Assentos, tenho força imperativa para casos
idênticos futuros – eram jurisprudência obrigatória.
Porém, os tribunais das Relações entenderam associas aos seus assentos, também, um
caráter vinculativo, apesar de nenhum documento lhes ceder tal poder, o que gerou
confusões e contradições – no sec. XVII, com a Lei da Boa Razão de 1769, pôs-se
fim a estes abusos, estabelecendo a mesma, expressamente, que os únicos assentos de
caráter vinculativo seriam os da Casa da Suplicação e aqueles por ela aprovados.

20. Aluda ao contributo da doutrina e da jurisprudência para a transformação do direito


privado português na época do individualismo, antes da aprovação do Código de
Seabra
Os conceitos de boa razão e uso moderno passaram a ser utilizados para defender
pontos de vista novos: a boa razão passou a ser vista à luz do individualismo liberal,
e o uso moderno deixou de ser uma remissão para as obras dos autores da escola do
Usos Modernus Pandectarum, passando a ser entendida como os códigos individuais
já existentes na Europa.
Para justificar a utilização subsidiária destes códigos individuais recorreu-se ao
argumento apresentado por Coelho da Rocha: se o uso moderno está presente nas
obras dos jurisconsultos das nações europeias, então, por maioria de razão, poderia
ser encontrado nos seus Códigos. Claro que, como aponta Braga Cruz, o uso moderno
referido nos estatutos estava ligado a uma corrente doutrinal com um sentido muito
específico (ligação do jusnaturalismo ao Direito Romano), da qual os códigos
oitocentistas (associados ao individualismo) se afastavam.
Uma outra modernização do Direito privado consta da formação de novas
interpretações de textos legislativos em vigor, com base nos critérios da legislação
pombalina – assim, utilizando estes critérios, os juristas da primeira metade do sec.
XIX interpretaram varias normas legais, por via a alterar profundamente o Direito
vigente (é o caso do princípio da essencialidade da instituição do herdeiro: era visto
como essencial, porém como se consideraram exceções, estes autores interpretaram
essa existência de exceções como uma não-essencialidade de tal aspeto). Acresce a
isto que tanto a defesa de doutrinas contrárias às previstas nos textos, como a defesa
de novas doutrinas no domínio do Direito subsidiário, constituíam vias importantes
de transformação do Direito vigente.

21. Trace a evolução do costume ao longo da história do direito português


O costume consiste na prática constante e reiterada de uma ação, com crença da sua
obrigatoriedade. No período da individualização do Direito Português, este entendia-
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se num sentido amplo, englobando todas as fontes de Direito tradicional sem caráter
legislativo (direito consuetudinário, sentenças da cúria régia, sentenças de juízes
municipais e arbitrais, pareceres de juristas, etc.).
Já no período do Direito Português de inspiração romano-canónica, na época da
receção do direito romano renascido e direito canónico renovado, este perde o seu
significado e importância, em favor da lei – decaindo a sua primazia como fonte de
direito novo – na sequencia das conceções romanísticas, o costume passa a ser visto
como manifestação da vontade do monarca (se o rei não promulgasse uma lei que
revogasse o costume, é porque tacitamente o aceita). No mesmo período, mas já na
época das Ordenações, este mantém a eficácia como fonte de Direito, quer conforme
à lei (secundum legem), além da lei (praeter legem) ou, ainda, contra legem, contra a lei;
nas ordenações afonsinas, mantem-se como na época previamente referida; nas ordenações
manuelinas e filipinas, salienta-se a validade no mesmo plano dos costumes gerais e locais,
mas restringe-se o seu campo de aplicação, como fonte imediata, aos casos em que ele fosse
admitido pelo Direito Romano e Canónico – existindo requisitos para o mesmo passar a ser
fonte de Direito (antiguidade de 10 ou mais anos; número de atos (2, comummente aceite;
opiniões divergem entre 1 a 10) necessários à demonstração de vigência do costume,
preferencialmente de natureza judicial).
Passando para o período da formação do Direito Português Moderno, com a Lei da Boa Razão,
os critérios para a aceitação do costume como fonte de Direito mudam: agora, este necessita
de não ser contra a lei (costume contra legem é afastado); ser conforme a boa razão (as normas
de jusracionalismo); e ter uma antiguidade de, pelo menos, 100 anos. Mais tarde, com o
Código de Seabra, primeiro Código Civil português, é também afastado o costume praeter
legem, aceitando-se apenas o costume conforme a lei, e como fonte mediata – sendo a sua
utilização dependente do legislador. Atualmente, o costume não é sequer reconhecido como
fonte de direito no nosso Código Civil.

22. Analise a evolução do Direito subsidiário português à luz das correntes doutrinais que
o foram marcando
Direito subsidiário é o sistema jurídico chamado a colmatar as lacunas de um
determinado ordenamento. Anteriormente às Ordenações afonsinas, o preenchimento
de lacunas era regulado por critério dos juristas e dos tribunais, utilizando-se, em
grande escala, direito romano e direito canónico – contudo, os juristas não se
encontravam preparados para aceder às fontes originais, portanto circulavam com
caráter subsidiário obras castelhanas de relevo (siete partidas, flores de derecho,
nueve tempos, fuero real).
Com as ordenações afonsinas, o direito subsidiário passa a ter fontes definidas:
Direito Romano (para questões temporais) e Direito Canónico (para questões
espirituais e temporais em que o Direito Romano oferecesse soluções pecaminosas),
a Glosa de Acúrsio e a Opinião de Bártolo (contributos da Escola dos Glosadores e
Escola dos Comentadores, respetivamente); caso nenhum destes oferecesse uma
solução concreta, ou oferecessem soluções divergentes recorria-se à resolução do
monarca. Com as Ordenações Manuelinas, a questão da espiritualidade e
temporalidade deixa de possuir importância, passando o Direito Romano a vigorar em
maior parte dos casos, sendo reservado ao Direito Canónico apenas as matérias em
que o primeiro induz o pecado; há também alterações no âmbito da subsidiariedade
da Glosa e da Opinião de Bártolo, sendo que estas terão de estar em conformidade
com a communis opinio, que serve como uma fonte subsidiaria a anteceder estas duas.

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Com as Reformas Pombalinas, sob a influencia do contributo do jusracionalismo, o


usus modernus, do iluminismo e do humanitarismo, surgem mais alterações no âmbito
do direito subsidiário: com a Lei da Boa Razão, em 1769, o Direito Romano passa a
ser fonte subsidiária apenas quando conforme à boa razão (aos princípios
jusracionalistas) – como isto se apresentava como um preceito muito vago, em 1772,
com os Estatutos da UC, elabora-se que o Direito Romano terá que ser conforme ao
usus modernus, não podendo ser aplicado em matérias mercantis, financeiras,
comerciais e marítimas, devido à sua desadequação, assumindo nestes assuntos
caráter subsidiário as leis das Nações Christãs, Illuminadas e polidas. Relativamente
ao Direito Canónico, este é afastado, como manifestação da influência do iluminismo,
cingindo-se meramente a matérias dos tribunais eclesiásticos. Também a Glosa, a
Opinião de Bártolo e a communis opinio, consequentemente, foram afastados – isto
dado o facto de serem autores ignorantes ao direito natural e divino, contribuindo
também a sua falta de conhecimento histórico e linguístico.
Antes da promulgação do Código de Seabra, devido a toda uma fase de inércia
legislativa, recorria-se a codificações individualistas estrangeiras – recorrendo-se ao
argumento de ser considerada fonte subsidiária o usus modernus e, se o uso moderno
podia ser encontrado nas obras dos jurisconsultos das nações europeias, por maioria
da razão, também poderia ser encontrado nos seus Códigos (Braga da Cruz).
Com o Código de Seabra, passa-se a aceitar como primeira instância de direito
subsidiário a analogia – em caso de dúvidas, deverá tentar preencher-se a lacuna
recorrendo a normas análogas. Caso não seja possível, prevalece a orientação de que
se deve deixar o preenchimento da lacuna com o juiz responsável – que deverá agir
conforme o legislador agiria, caso se previsse o caso omisso.

23. Analise o movimento codificador oitocentista à luz do pensamento jurídico da época


A promulgação dos primeiros Códigos em Portugal ocorreu apenas na época do
individualismo, apesar da tentativa operada no reino de D. Maria I. Os códigos, como
corpos legislativos unitários, condensadores e autónomos das normas de um ramo de
Direito, distinguem-se das compilações por terem um intuito inovador e de
transformação jurídica, não se limitando a uma recolha da legislação precedente.
Ora, este movimento teve, em grande parte, influências do positivismo legalista e da
Escola da Exegese, que postulava a identificação do Direito com a lei, sendo a lei a
única fonte de Direito, e sendo o Estado o único órgão capaz de produzir Direito. A
lei é o único critério normativo-jurídico – é suficiente, havendo uma plenitude
normativo-jurídica do sistema – e era aplicada concretamente, de acordo com um
silogismo.
Opõe-se fortemente a esta visão a Escola Histórica, que considera o Direito uma
manifestação do espírito do povo, criado pela consciência coletiva. Aqui, o costume
deverá ter supremacia sobre a lei, porque ele deriva diretamente do povo, e exterioriza
o Direito positivo, cabendo ao legislador inspirar-se no Direito consuetudinário.
Assim, a Escola Histórica opõe-se drasticamente à codificação

24. Explique a importância da corrente iluminista para o DP


O iluminismo organiza as ciências do espírito num sistema semelhante ao das ciências
naturais, pois tudo se baseia na natureza e é avaliado pela razão humana subjetiva e
crítica. Com este movimento, surgem novas posições teoréticas ao nível dos
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problemas da filosofia jurídico-política: a compreensão iluminista do Direito e do


Estado é individualista e liberal, tendo na sua base direitos originários e naturais do
indivíduo; do ponto de vista científico-cultural, ocorre uma hipertrofia da razão e do
racionalismo – o que é um corolário humanista, desenvolvido pelo jusracionalismo.
Em Portugal, este não foi um movimento homogéneo, respeitando-se a tradição
católica, com base no iluminismo italiano, caracterizou-se pelo reformismo e
pedagogismo.
Graças ao iluminismo, ocorre uma laicização geral – algo bastante refletido na história
do Direito Português, particularmente com a Lei da Boa Razão de 1769, na qual o
Direito Canónico deixa de ser direito subsidiário vigente nos tribunais civis; também
ocorre o afastamento da Glosa de Acúrsio, da Opinião de Bártolo e da opinião comum
dos doutores, como fundamento na ignorância destes em matérias de direito natural
(fundado no homem, e na razão, e não na ordem divina) e direito divino, e na sua falta
de conhecimento histórico. O Direito Romano é também ele influenciado por esta
corrente, ficando subjugado ao usus modernus para ser considerado fonte de direito
subsidiário.
Relativamente ao ensino de direito em Portugal, muito se deve também à ifluência do
iluminismo – desde a formação de novas cadeiras (como o Direito natural, História
do Direito e Instituições de Direito Pátrio), consagração de um método de ensino
sistemático-demonstrativo-compendiário e ao estudo do Direito Romano e Canónico
numa perspetiva humanista.

25. Faça avultar alguns dos traços essenciais da época do direito social
A Época do Direito Social, inserida no período da formação do Direito moderno, com
inicio em 1914, estando, ainda, a vigorar, tem como marco inicial a I Guerra Mundial,
que trouxe consigo nomas relações sociais e impôs ao Direito noas exigências de
tutela. Dos traços essenciais desta época, importa assinalar o incremento do
intervencionalismo legislativo do Estado, limitando a autonomia da vontade e a
liberdade contratual. Também a tendência para a subordinação dos interesses
individuais aos interesses coletivos, que deviam convergir para a sua prossecução.
Finalmente, no inicio do século XXI, regista-se, contudo, uma tendência para a
desintervenção do Estado. (desenvolver)

26. Explique a modernização do direito privado português no seculo XIX


Ao contrário do que aconteceu com o Direito Público, o triunfo do liberalismo não
trouxe alterações imediatas de relevo no campo do Direito Privado, o que só viria a
acontecer com o Código Civil de 1867, mesmo com o Código Comercial de 1833 não
ocorreram alterações substanciais, visto que este não foi inovador, limitando-se a
compilar preceitos dos códigos das nações cultas da Europa, que, na prática, já
vigoravam entre nos a título subsidiário em matéria mercantil desde a Lei da Boa
Razão. Deste modo, dada a inércia legislativa, a evolução de Direito Privado
português no século XIX foi obra da jurisprudência e da doutrina.
Ora, na primeira metade do séc. XIX, os conceitos de boa razão e uso moderno
passaram a ser utilizados para defender pontos de vista novos: a boa razão passu a ser
vista à luz do individualismo liberal, e o uso moderno deixou de ser uma remissão

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para as obras dos autores da escola do Usos Modernus Pandectarum, passando a ser
entendida como os códigos individuais já existentes na Europa.
Para justificar a utilização subsidiária destes códigos individuais recorreu-se ao
argumento apresentado por Coelho da Rocha: se o uso moderno está presente nas
obras dos jurisconsultos das nações europeias, então, por maioria de razão, poderia
ser encontrado nos seus Códigos. Claro que, como aponta Braga Cruz, o uso moderno
referido nos estatutos estava ligado a uma corrente doutrinal com um sentido muito
específico (ligação do jusnaturalismo ao Direito Romano), da qual os códigos
oitocentistas (associados ao individualismo) se afastavam.
Uma outra modernização do Direito privado consta da formação de novas
interpretações de textos legislativos em vigor, com base nos critérios da legislação
pombalina – assim, utilizando estes critérios, os juristas da primeira metade do sec.
XIX interpretaram varias normas legais, por via a alterar profundamente o Direito
vigente (é o caso do princípio da essencialidade da instituição do herdeiro: era visto
como essencial, porém como se consideraram exceções, estes autores interpretaram
essa existência de exceções como uma não-essencialidade de tal aspeto). Acresce a
isto que tanto a defesa de doutrinas contrárias às previstas nos textos, como a defesa
de novas doutrinas no domínio do Direito subsidiário, constituíam vias importantes
de transformação do Direito vigente.

27. Analise duas projeções jurídicas da questão religiosa na I República


A revolução de 5 de outubro de 1910 instaurou um regime republicano, que se inseriu
na tradição dos ideais do liberalismo – por isso, o novo regime pretendeu continuar
essa tradição, mas expurgando-a de todas as facetas monárquicas.
No que toca à questão religiosa, reacendendo o anticlericalismo que já fora assinalado
com o Marquês de Pombal e com o inicio d liberalismo, a I Republica abriu esta
questão: foram proibidos os conventos, mosteiros e colégios das ordens religiosas
regulares, e s seus bens passaram a pertencer ao Estado; de notar é que se repuseram
alguns diplomas pombalinos; a vida religiosa em comunidade foi extinta, e baniu-se
o ensino da religião católica nas escolas oficiais, tendo sido proscritos da prática
administrativa os juramentos religiosos. O registo civil foi, aqui, tornado obrigatório.
Uma projeção jurídica no âmbito desta questão, vinda da Lei de Separação do Estado
das Igrejas, de 20 de abril de 1911, declarou a liberdade de consciência e culto,
conquanto não ofendesse a moral pública. Da mesma lei, projeta-se o término do
catolicismo como religião oficial do Estado.
(Vasto património da Igreja torna-se público; extinção dos financiamentos públicos à
Igreja)

28. Comente, de acordo com a sua ponderação, duas das mais emblemáticas
transformações do DP durante a I República
A revolução de 5 de outubro implementou um regime republicano, inserido na
tradição dos ideais do liberalismo e, por isso, o nomo regime pretendeu continuar essa
tradição, ainda que expurgando-a de todas as facetas monárquicas. Duas das mais
emblemáticas transformações do Direito Português foram no âmbito do/a [questão
religiosa, Direito da Família, Direito Contratual, Direito Sucessório, Direito
Constitucional, Direito do Trabalho e Proteção Social – escolher 2 destes].

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No âmbito do direito da família, logo em 1910, foi promulgada legislação que


reconheceu apenas o casamento civil; por outro lado, foi admitido, pela primeira vez,
o divórcio, nas modalidades de divórcio litigioso ou mútuo consentimento, também
se admitindo a separação de pessoas e de bens por mútuo consentimento. Todos os
filhos ilegítimos, excetuando filhos incestuosos, poderiam agora ser aperfilhados, e o
matrimonio legitimava todos os filhos nascidos antes dele. Finalmente, tomaram-se
providências de proteção de menores em perigo moral desamparados e delinquentes.
Quanto ao Direito dos Contratos, verificaram-se alterações de vulto nos contratos de
arrendamento e de enfiteuse: no primeiro, reforçou-se a posição do arrendatário
urbano, garantindo-lhe uma maior certeza (senhorio não poderia aumentar a renda
durante um ano, por exemplo); no segundo, facilitou-se a extinção do contrato pelo
enfiteuta, que ao mesmo tempo facilitava a propriedade plena, considerada mais
eficiente e de mais fácil transmissão.

29. Explique três alterações de relevo ocorridas no direito português na fase do Estado
Novo Corporativo
O regime corporativo, numa recusa tanto da lógia do liberalismo individualista como
da do parlamentarismo democrático, proclamava o bem comum, devendo os
interesses individuais e coletivos convergir para a sua prossecução, assim, os
trabalhadores e as entidades patronais agrupavam-se dentro da organização
corporativa: os primeiros em sindicatos nacionais e as segundas em grémios. Estes,
por sua vez, agrupavam-se com outros do seu ramo de atividade, em Federações
Regionais ou Nacionais, de onde saíram as Uniões de sindicatos e de grémios. No
topo da pirâmide, encontravam-se as Corporações, através das quais o Estado
coordenava o sistema – isto constitui o corporativismo do Estado (1).
A quebra da continuidade entre o Código de Seabra e a legislação posterior, bem com
as conceções que nele não tinham acolhimento, levou a uma Reforma do Código em
1930, baseada num projeto de António Pinto de Mesquita – foi contudo uma revisão
limitada, que procurou apenas colmatar lacunas, suprir deficiências e adaptar certos
preceitos às novas circunstancias. Em 1944, começaram, então, os trabalhos
preparatórios para o novo Código Civil – de 1966, não qual estavam patentes uma
forte inspiração na filosofia de reação contra positivismo legalista, um Direito de
inspiração social e um estilo de maior sobriedade e simplicidade elegante. (2)
Uma outra alteração de relevância constitui na Concordata com a Santa Sé de 1940 e
as alterações no âmbito do direito da família dela originadas: esta foi a concordata
que pacificou a relação entre o Estado Português e a Igreja, que haveriam sido
abruptamente rompidas em 1911, aqui, prosseguiu-se o já publicado decreto da Lei
da Personalidade Jurídica das Igrejas, o que se estendeu às organizações e associações
por ela instituídas. O património da igreja, os bens que lhe tinham sido retirados, é
reconhecido como sua propriedade – ainda que na prática, nada foi efetivamente
devolvido, nem concedido via indemnização. Permitiu-se que a igreja formasse as
próprias escolas, bem com o ensino da religião católica nas escolas oficiais.
Ainda em consequência desta concordata, volta a prever-se o casamento católico ao
lado do casamento civil, sendo o divorcio excluído do primeiro.

30. Aluda à Concordata com a Santa Sé de 1940 e à sua importância para o Direito da
Família
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Bárbara Morim
2017/2018 HDP Propostas de Resolução

Concordata com a Santa Sé de 1940 foi a concordata que pacificou a relação entre o
Estado Português e a Igreja, que haveriam sido abruptamente rompidas em 1911, com
a Lei da Separação do Estado da Igreja, que procurou a máxima laicização do Estado
(foram proibidos os conventos, mosteiros e colégios das ordens religiosas regulares,
e s seus bens passaram a pertencer ao Estado; de notar é que se repuseram alguns
diplomas pombalinos; a vida religiosa em comunidade foi extinta, e baniu-se o ensino
da religião católica nas escolas oficiais, tendo sido proscritos da prática administrativa
os juramentos religioso). Aqui, prosseguiu-se o já publicado decreto da Lei da
Personalidade Jurídica das Igrejas, o que se estendeu às organizações e associações
por ela instituídas. O património da igreja, os bens que lhe tinham sido retirados, é
reconhecido como sua propriedade – ainda que na prática, nada foi efetivamente
devolvido, nem concedido via indemnização. Permitiu-se que a igreja formasse as
próprias escolas, bem com o ensino da religião católica nas escolas oficiais.
Ainda em consequência desta concordata, volta a prever-se o casamento católico ao
lado do casamento civil, sendo o divorcio excluído do primeiro.

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Bárbara Morim

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