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Para a minha avó Isabel

pela (in)temporalidade dos seus ensinamentos.


Agradecimentos

A autora gostaria de agradecer aos Professores Carlos Fernandes da


Silva e José Bernardo Keating pela escrita dos prefácios. Ao primeiro
gostaria também de agradecer a possibilidade que teve de dar os «pri-
meiros passos» na área da cronobiologia em geral e da sua aplicação à
problemática do trabalho por turnos em particular. Ao segundo, gos-
taria de agradecer o desafio de olhar para a problemática do trabalho
por turnos a partir de várias perspectivas, incluindo a cronobiológica,
tão pouco (ou mesmo nada) presente na área da psicologia das organi-
zações. A ambos, agradece ainda, as oportunidades de desenvolvimen-
to científico que proporcionaram ao longo do seu percurso académico.
Índice

Lista de Figuras.....................................................................   12


Lista de Tabelas.....................................................................   13
Prefácio(s)..............................................................................   15
Introdução.............................................................................   21

[1] Horários de trabalho e trabalho por turnos..........................   25


1. Introdução.........................................................................   25
1.1. Horários de trabalho...................................................   26
1.1.1. Mudanças nos contextos económico,
tecnológico e sócio-cultural: contributos da
e para a organização do tempo de trabalho........   30
1.1.1.1. M udanças nos contextos económico
e tecnológico.........................................   31
1.1.1.2. Mudanças no contexto sócio-cultural...   33
1.2. Modalidades horárias alternativas ao modelo
tradicional de organização do tempo de trabalho........   38
1.2.1. Horário de trabalho flexível...............................   40
1.2.2. Semana de trabalho reduzida.............................   45
1.2.3. Horário de trabalho a tempo parcial..................   48
1.3. Horário de trabalho por turnos...................................   51
1.3.1. Considerações sobre o conceito.........................   51
1.3.2. Principais elementos caracterizadores
dos sistemas de turnos.......................................   55

9
10 As Condições de Trabalho no Trabalho por Turnos

1.3.3. Contexto de evolução........................................   58


1.3.4. Prevalência.........................................................   61
1.4. Considerações finais....................................................   62

[2] Ritmos, sistema circadiano humano e trabalho por turnos....  67


1. Introdução.........................................................................   67
1.1. Cronobiologia: considerações gerais sobre a sua
emergência e evolução.................................................   68
1.2. Ritmos e regulação do sistema circadiano humano:
noções introdutórias....................................................   75
1.2.1. R
 itmos, parâmetros rítmicos e ordem temporal
interna...............................................................   76
1.2.2. «Relógios biológicos» e sincronização................   82
1.2.3. Sistema circadiano e trabalho por turnos...........   94
1.3. Modelos de adaptação ao trabalho por turnos.............  104
1.3.1. Modelo de Rutenfranz (1976)...........................  104
1.3.2. Modelo de Haider, Kundi e Koller (1981).........  106
1.3.3. Modelo de Monk (1988)...................................  109
1.3.4. M odelo de Barton e colaboradores (1995)
e seus desenvolvimentos subsequentes (Smith
et al., 1999)........................................................  111
1.4. Conclusão...................................................................  117

[3] Consequências do trabalho por turnos................................  119


1. Introdução.........................................................................  119
1.1. Consequências na saúde..............................................  121
1.1.1. Sono..................................................................  121
1.1.2. Saúde psicológica..............................................  131
1.1.3. Sistema gastrointestinal.....................................  136
1.1.4. Sistema cardiovascular.......................................  140
1.1.5. Outras perturbações na saúde............................  145
1.1.5.1. Saúde reprodutiva.................................  146
1.1.5.2. Doença oncológica................................  148
1.2. Consequências nas esferas familiar e social.................  152
1.2.1. Consequências na esfera familiar.......................  155
1.2.2. Consequências na esfera social..........................  166
Índice 11

1.3. Consequências no contexto organizacional.................  175


1.3.1. Segurança..........................................................  175
1.3.2. Produtividade....................................................  179
1.3.3. Absentismo........................................................  184
1.3.4. Outras consequências........................................  189
1.4. Considerações finais e conclusão.................................  195

[4] Tolerância ao trabalho por turnos e estratégias


de intervenção......................................................................  203
1. Introdução.........................................................................  203
1.1. Factores individuais de tolerância................................  206
1.1.1. Amplitude dos ritmos circadianos.....................  206
1.1.2. Características do cronótipo..............................  207
1.1.3. Idade..................................................................  211
1.1.4. Sexo...................................................................  216
1.1.5. Outras características.........................................  220
1.2. Factores contextuais de tolerância...............................  221
1.2.1. Contexto familiar e social..................................  222
1.2.2. Contexto organizacional....................................  223
1.2.2.1. Sistema de turnos..................................  223
1.2.2.2. Outros factores organizacionais............  238
1.3. Estratégias de intervenção no trabalho por turnos......  242
1.3.1. «Selecção» dos trabalhadores por turnos............  243
1.3.2. In(formação)......................................................  244
1.3.3. Outras intervenções...........................................  252
1.4. Considerações finais e conclusão.................................  257

Conclusão..............................................................................  261
Referências bibliográficas......................................................  265
Lista de Figuras

2.1. Parâmetros de um ritmo


2.2. Exemplos de processos fisiológicos que exibem ritmos circadianos
2.3. Modelo de Rutenfranz (1976)
2.4. Modelo de Haider, Kundi & Koller (1981)
2.5. Modelo de Monk (1988)
2.6. Modelo de Barton, Spelten, Totterdell, Smith, Folkard & Costa
(1995)
4.1. Factores que podem afectar a tolerância ao trabalho por turnos e
nocturno
Lista de Tabelas

4.1. Recomendações ergonómicas relativas à concepção dos sistemas


de turnos
Prefácio(s)

O livro «As condições de trabalho no trabalho por turnos: conceitos,


efeitos e intervenções», da Doutora Isabel Soares da Silva, Professora
Auxiliar na Escola de Psicologia da Universidade do Minho, é um
livro fundamental no panorama nacional, de elevado interesse para a
saúde ocupacional. Efectivamente, o trabalho nocturno e por turnos
rotativos colocam sérios problemas de saúde, económicos e sociais.
Constitui igualmente um desafio para os investigadores, quer ao nível
das ciências de processos básicos (cito-histologia, bioquímica, gené­
tica) quer ao nível das ciências dedicadas às sínteses dos processos em
contexto de interacção com o meio ambiente (fisiologia, neurociências,
farmacologia, psicologia, sociologia) e às diversas áreas de intervenção
profissional (medicina do trabalho, psicologia das organizações e do
trabalho, enfermagem, ergonomia).
O livro possui 264 páginas de texto científico e técnico, para além
dos outros anexos que são devidos em qualquer obra de carácter cientí-
fico e/ou técnico (índice, referências, etc.), sendo o texto extremamente
rigoroso, actualizado e muito bem organizado. A escrita é muito cuidada.
O primeiro de quatro capítulos é dedicado ao conceito de horários
de trabalho e de trabalho por turnos, a importância social, económica
e tecnológica da abordagem científica e técnica deste tema, bem como
modalidades horárias alternativas ao modelo tradicional de organiza-
ção dos horários de trabalho. A clarificação destes conceitos impõe-
-se, sobretudo porque este tema não tem sido devidamente valorizado
pelas organizações que, habitualmente, se preocupam acima de tudo

15
16 As Condições de Trabalho no Trabalho por Turnos

com a competitividade empresarial e a fortiori com a produção. Porém,


a não consideração de modalidades horárias alternativas compromete
o rendimento dos trabalhadores a médio e longo prazo.
O segundo capítulo revê a cronobiologia, a ciência dos ritmos bio-
lógicos e suas aplicações, bem como analisa modelos de adaptação ao
trabalho por turnos. A cronobiologia é uma ciência com estatuto epis-
temológico indiscutível, na medida em que possui objecto específico
e metodologias apropriadas. A autora deste livro expõe com rigor os
conceitos e métodos que, se forem tidos em conta, permitirão aumen-
tar o rendimento dos trabalhadores sem prejuízos relevantes a curto e
médio prazo. No fundo, a cronobiologia é imprescindível para a orga-
nização científica do trabalho.
No terceiro capítulo a autora aborda as consequências do trabalho
nocturno e por turnos nos domínios da saúde, social, familiar e organiza-
cional. A maioria das pessoas não faz a mínima ideia dos efeitos do tra-
balho nocturno e por turnos, nem tão pouco das sequelas muitas vezes
irreversíveis. De facto, as pessoas esquecem-se (ou nem sempre têm a
noção) de que o conhecimento científico é quase sempre contra-intuiti-
vo. Efectivamente, o senso comum e as generalizações a partir da expe-
riência pessoal não traduzem a «natureza» das coisas, sendo geradoras
de diversas crenças erróneas. Por isso, embora «Science must begin with
myths and with the criticism of myths» (Karl Popper, 1957), a investiga-
ção científica acaba por desenvolver concepções opostas às dos «mitos»
de que se parte na fase nebulosa com que se começa a estudar qual-
quer fenómeno pela primeira vez. Neste livro, a autora combate muitos
«mitos» sobre a adaptabilidade ao trabalho nocturno e por turnos.
A obra termina com a análise dos factores individuais e contextuais
da tolerância ao trabalho por turnos, bem como as principais estraté-
gias de promoção da tolerância ao mesmo. Este capítulo, muito bem
conseguido, é de suma importância para os especialistas que trabalham
no domínio da saúde ocupacional.
Pela elevada qualidade do trabalho e a extensíssima fundamenta-
ção em literatura científica da especialidade, este livro deve fazer par-
te das bibliotecas públicas, privadas e pessoais de todos os que traba-
lham neste sistema de horários e de todos os que se dedicam a ajudar
a encontrar as melhores soluções para este problema.
Prefácio(s) 17

A autora, que é uma investigadora exemplar (bastaria apreciar o ele-


vado rigor e precisão nos métodos de análise de dados da sua tese, bem
como a discussão dos resultados) é simultaneamente uma pessoa inte-
lectualmente honesta, trabalhadora incansável, com excelente capacida-
de de trabalho em equipa, e humilde quanto baste para não se ter esque-
cido de todos os que em Portugal iniciaram a abordagem cronobiológica
dos problemas do trabalho nocturno e por turnos, nomeadamente a
Professora Doutora Maria Helena Azevedo, Professora Catedrática de
Psicologia Médica da Faculdade de Medicina de Coimbra.
Com este trabalho os gestores e técnicos de saúde ocupacional têm
acesso a mais conhecimento, rigoroso e preciso sobre o modo como
devem pensar a organização de todo o trabalho que implique rotações
de horários e trabalho nocturno. Porém, mais importante do que o
conhecimento proporcionado, urge decidir com base na evidência, isto é,
mais do que «Cogito, ergo sum» devemos avançar para um paradigma
do tipo «Opto, ergo sum».

Aveiro, 12 de Julho de 2011

Carlos Fernandes da Silva


Professor Catedrático da Universidade de Aveiro

Compreender o comportamento humano, na situação de trabalho ou


fora dela, é um projecto ambicioso e, até onde se consegue vislumbrar,
destinado a ser perpetuamente incompleto. Piet Hein, um cientista,
inventor, matemático e poeta dinamarquês cuja obra vale a pena conhe-
cer, num admirável conjunto de poemas, ou aforismos chamados Grooks,
resumia assim o processo de construção do conhecimento:

«The road to wisdom?

Well, it's plain


and simple to express.
Err and err and err again,
but less and less and less.» Piet Hein
18 As Condições de Trabalho no Trabalho por Turnos

Vem este aforismo a propósito de uma obra que aborda áreas do


comportamento humano em que o que nos parece óbvio e simples de
explicar com base na nossa intuição dos fenómenos psicológicos, nos
pode levar a cometer erros com custos, contabilizáveis ou não, bastante
importantes. E que nos pode portanto ajudar a errar menos.
Em qualquer filme que respeite as convenções da sétima arte, são
de efeito garantido as fatídicas palavras, talvez em voz-off e com algu-
ma ressonância, «Bem-vindos ao turno da noite». É certo que aconte-
cimentos estranhos se preparam.
Para além da óbvia falta de luz solar, aliás compensada em lar-
ga medida pela tecnologia, o que fará estranhas certas horas, horas a
desoras? Se olharmos de suficientemente longe, de preferência a­ cima
de um dos pólos e dentro de uma destas naves de ficção científica, com
janelas panorâmicas impecavelmente limpas e gravidade artificial, à
noite entramos apenas na sombra do nosso próprio planeta, em resul-
tado do seu simples movimento de rotação. Nada de extraordinário:
o mesmo planeta, a apenas um diâmetro de distância, é iluminado e
aquecido pelo sol, com as variações a que estamos habituados; os nos-
sos irmãos do outro lado do planeta andam na sua vida diurna normal,
no worries. E sendo este movimento tão simples que o podemos repro-
duzir com uma laranja em cima de uma mesa, podemo-nos perguntar
porquê, então, esta diferença de qualidade entre as expe­riências diurna
e noturna. Para isso temos de olhar muito mais de perto.
A obra que aqui se apresenta aborda algumas explicações das
mudanças na qualidade das nossas experiências ao longo do dia.
Interessantemente, fá-lo a propósito do trabalho por turnos, uma prá-
tica generalizada e familiar, mas que é também uma área de impor-
tantes problemas na relação das pessoas com o trabalho. Desde logo,
e seguindo o grande impulso que as explicações do comporta­mento
humano têm recebido das neurociências, procurando explicações
basea­das no que sabemos sobre o funcionamento do cérebro e as
mudanças por que este passa ao longo do dia. Mas também, e evi­tando
algum determinismo por vezes demasiado simplista das explicações
puramente biológicas, procurando também compreender o problema a
partir de explicações baseadas no que sabemos sobre o comportamento
social e a relação das pessoas com a cultura em que vivem.
Prefácio(s) 19

Esta reflexão, sem menorizar as suas importantes consequências


práticas, pode ser vista como um esboço de ponte entre os conheci-
mentos biológico e o social e cultural, tradicionalmente separados e
até excluindo-se mutuamente. Isso coloca esta obra numa das linhas
de reflexão mais promissoras, quanto a mim, sobre o comportamento
humano, ao assumir uma relação pacífica, de continuidade sem ruptu-
ras, entre o biológico e o social e cultural nas explicações para os fenó-
menos humanos.
Como duas povoações que se pudessem ver e ouvir, mas por cima
de um abismo intransponível, falta, é certo, à ciência actual, o mapea-
mento completo desta articulação entre formas de explicação tão dife-
rentes. Reflexões como esta, que mostram até onde se pode ir em cada
uma das margens do abismo, são contributos importantes para futu-
ras pontes.
Fá-lo, dizia, a propósito do trabalho por turnos, uma invenção
­baseada na intuição de que o nosso corpo e cérebro funcionam de
forma semelhante nas vinte e quatro horas do dia, como o fazem as
máquinas eventualmente usadas para o trabalho. Após ler esta obra
poderá ter uma ideia de quão errada é esta intuição. Mas o trabalho
por turnos aí está. Uma possibilidade que existe e que requer decisões
sobre o seu uso e a sua organização, e como resolvemos as dificuldades
que eventualmente surjam.
Saber o que se sabe sobre o que vai no corpo e na cabeça das pes-
soas que o praticam ajuda-nos a compreender o que está envolvido,
ajuda-nos a compreender qual a natureza do problema. Ajuda-nos a
errar menos: a ser mais inteligentes e, talvez, mais criativos na detec-
ção, explicação e resolução, ou pelo menos atenuação, dos problemas
que o trabalho fora de horas não deixa de criar.

Braga, 12 de Junho de 2011

José Keating
Professor Associado da Universidade do Minho
Introdução
«(…) for better or worse, shiftwork is here to stay».
Smith, Macdonald, Folkard e Tucker, 1998, p. 226.

Shiftwork has long been recognized as an occupational health and


safety hazard.
Di Milia, Bohle, Loundon e Pisarski, 2008, p. 539.

Nas sociedades modernas, o tempo de trabalho assume um carácter


determinante na estruturação dos tempos societal e individual (Boulin,
1993; Fagan, 2001a). O tempo de trabalho não representa apenas um
determinante chave das condições de trabalho, mas constitui igual-
mente um elemento central na relação entre a esfera ocupacional e as
outras esferas da vida (Fagan, 2001a; Gracia, Peiró & Ramos, 2002).
Os horários de trabalho podem variar na sua duração, na sua aloca­
ção no período das vinte e quatro horas, na regularidade dessa alo­cação
ou no grau de controlo que é dado ao trabalhador sobre essa varia-
ção. O recurso a horários de trabalho diferentes do horário de traba-
lho considerado normal ou tradicional (i.e., caracterizado pela duração
de 7 a 8 horas por dia, de segunda a sexta-feira e realizado durante o
período diurno) é, nos países industrializados, utilizado por uma parte
significativa de organizações em diversos sectores de actividade (Beers,
2000; Boisard, Cartron, Gollac & Valeyre, 2003). Ao que tudo indica,
a tendência é para aumentar graças a três factores interrelacionados –
económicos, tecnológicos e sócio-culturais (Presser, 1999). Entre tais
factores, e considerando a perspectiva das organizações, encontra-se,
por exemplo, o desejo de uma maior flexibilidade no uso da força de
trabalho e/ou do equipamento produtivo, enquanto que da parte dos
trabalhadores há um crescente desejo no controle do seu próprio tem-
po de trabalho (Knauth, 1998; Schabracq & Cooper, 2000; Fagan,

21
22 As Condições de Trabalho no Trabalho por Turnos

Warren & McAllister, 2001; Smith, Folkard & Fuller, 2003). Como
consequência desta tendência na organização do tempo de trabalho,
tem-se vindo a assistir a uma proliferação de horários de trabalho
alternativos ao horário de trabalho dito convencional. Por exemplo, de
acordo com o Terceiro Inquérito às Condições de Trabalho levado a
cabo em 2000 pela Fundação Europeia para a Melhoria das Condições
de Vida e do Trabalho, mais de um terço da população activa da União
Europeia (15 Estados Membros) tinha um horário de trabalho dife-
rente do horário «normal» das oito horas diárias e mais de um quinto
trabalhava por turnos (Boisard et al., 2003).
A crescente diversificação dos horários de trabalho tem sido refe-
rida como uma das mudanças mais significativas que ocorreu nas últi-
mas décadas do ponto de vista ocupacional (Thierry & Jansen, 1998;
Härmä & Ilmarinen, 1999; Peiró, Prieto & Roe, 2002). Entre as diver-
sas modalidades horárias existentes, consta a organização do horário
de trabalho por turnos, a qual, tem sido definida tipicamente como o
«modo de organização diária do horário de trabalho no qual diferen-
tes equipas trabalham em sucessão de modo a estenderem os horá-
rios de trabalho, incluindo o prolongamento até às 24 horas diárias»
(Costa, 1997: 89). Assim, a adopção desta modalidade horária permi-
te às organizações a extensão do seu período de laboração, prolonga-
mento que pode revelar-se imprescindível do ponto de vista social (ex.,
assegurar serviços de saúde) ou do ponto de vista técnico (ex., impossi-
bilidade de suster processos de fabrico). Este prolongamento pode, no
entanto, representar uma estratégia organizacional cujo interesse cen-
tral é de natureza económica (ex., aumentar a capacidade produtiva e/
ou rentabilizar o equipamento produtivo).
A par da diversificação na organização do tempo de trabalho, tem-
-se assistido também ao crescente interesse por parte da comunidade
científica na compreensão dos efeitos associados aos diferentes arran-
jos horários, incluindo o trabalho por turnos. Esta modalidade horá-
ria tem sido associada a diversos efeitos indesejáveis para os trabalha-
dores dado que poderá colocar problemas de ajustamento do ponto
de vista fisiológico, psicológico e social (Walker, 1985; Presser, 2000;
Åkerstedt, 2003; Knutsson, 2003). Consequências indesejáveis ao
nível da produtividade e da segurança ocupacional têm sido igualmen-
Introdução 23

te associadas a este modo de organização do tempo de trabalho, espe-


cialmente em conexão com o período de trabalho nocturno (Monk,
Folkard & Wedderburn, 1996; Folkard & Tucker, 2003).
O crescente envelhecimento da população activa nos países indus-
trializados em conjunto com os recentes dados epidemiológicos relati-
vos à relação entre trabalho por turnos e fadiga, desempenho e efeitos
crónicos na saúde, levam Härmä e Ilmarinen (1999) a referir que exis-
tem razões para acreditar que o trabalho por turnos possa constituir,
num futuro próximo, um dos principais problemas do ponto de vista
da saúde e da segurança ocupacionais. Por outro lado, mudanças socie-
tais como o crescente número de casais de dupla carreira ou de famí-
lias mono-parentais colocam igualmente questões relevantes no modo
como o tempo de trabalho é organizado, em especial ao nível da inter­
face trabalho-família (Fagan, 2001a). Neste cenário, importa, por um
lado, reconhecer e compreender as dificuldades associadas ao trabalho
por turnos e, por outro, (re)examinar as estratégias de intervenção pas-
síveis de minorar tais dificuldades, quer na perspectiva dos trabalhado-
res por turnos e suas famílias quer na perspectiva das organizações que
recorrem a essa modalidade horária. O presente trabalho procura dar
contributos em ambos os domínios – compreensão dos problemas e
possibilidades de intervenção – tendo em consideração quer a perspec-
tiva dos trabalhadores por turnos quer das organizações no sentido de
maximizar a adaptação a este regime de horário de trabalho. Do ponto
de vista da sua estrutura, encontra-se organizado em 4 Capítulos.
O Capítulo 1 começa por discutir os horários de trabalho na estru-
turação dos tempos individual e societal bem como os principais fac-
tores de natureza económica, tecnológica e sócio-cultural que têm
impulsionado o crescimento de configurações horárias alternativas à
configuração considerada tradicional. Segue-se a caracterização das
modalidades horárias mais usadas, onde é dada naturalmente particu-
lar ênfase à organização do horário de trabalho por turnos. Boa parte
da investigação realizada no âmbito da problemática do trabalho por
turnos tem sido moldada pelo «paradigma cronobiológico», o qual,
enfatiza a dimensão temporal (interna e externa) na compreensão dos
sistemas vivos. No sentido de melhor se compreender o seu contri-
buto do ponto de vista dos efeitos e das intervenções propostas no
24 As Condições de Trabalho no Trabalho por Turnos

âmbito desta modalidade horária, o Capítulo 2 é também ele próprio


moldado por essa «abordagem». Especificamente, este capítulo inte-
gra algumas considerações iniciais sobre a emergência e a relevância
actual da cronobiologia, a definição e caracterização dos ritmos bio-
lógicos, uma breve descrição das estruturas e dos mecanismos envol-
vidos na regulação do sistema circadiano humano e o modo como o
trabalho por turnos pode afectar essa regulação. O capítulo termi-
na com a apresentação dos principais modelos teóricos de adaptação
ao trabalho por turnos, onde a perturbação da ritmicidade constitui,
na maioria das propostas, um dos elementos centrais do problema.
O Capítulo 3 é dedicado à revisão das principais consequências asso-
ciadas ao trabalho por turnos, podendo estas enquadrarem-se em três
domínios inter-relacionados: i) saúde; ii) vida familiar e social; iii) con-
texto ocupacional. O último capítulo – Capítulo 4 –, além de rever os
principais determinantes de natureza individual e situacional associa-
dos à tolerância ao trabalho por turnos, inclui uma descrição das prin-
cipais propostas de intervenção no âmbito desta problemática. O tra-
balho é concluído com uma síntese dos principais pontos abordados
e com algumas considerações do ponto de vista do desenvolvimento
conceptual no âmbito da problemática do trabalho por turnos.
Antes de terminar a Introdução, refira-se ainda que o presente tra-
balho resultou da Dissertação de Doutoramento em Psicologia, área
de conhecimento em Psicologia do Trabalho e das Organizações apre-
sentada pela autora à Universidade do Minho. De um modo geral,
a Dissertação nasceu do interesse em compreender de que modo as
organizações localmente percepcionavam e geriam (ou não) os diver-
sos problemas presumivelmente suscitados pela implementação de
horários de trabalho por turnos. Com efeito, como se poderá ver ao
longo dos quatro capítulos que se seguem, a evidência disponível tem
apontado para o facto de haver dificuldades de adaptação biológica,
psicológica e social associadas a esta modalidade horária, especial-
mente quando envolve trabalho nocturno e/ou trabalho realizado em
períodos valorizados familiar e socialmente. Do ponto de vista orga-
nizacional, também são essas as configurações horárias que mais ques-
tões levantam ao nível da segurança, da produtividade e da gestão dos
recursos humanos que lhe estão afectos.

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