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Quando o comércio de escravos veio para o Brasil no século 16, as

crenças e os rituais africanos sobreviveram às longas e perigosas


viagens transatlânticas. Ao longo dos séculos, tais crenças viriam a
unificar muitos dos descendentes dos cerca de quatro milhões de
escravos trazidos para o país, por meio das atuais religiões afro-
brasileiras do candomblé e da umbanda.

Durante o mesmo período de colonização, 700.000 imigrantes


portugueses se fixaram no Brasil, trazendo o seu próprio tipo de
catolicismo com eles. Alguns desses colonos acabariam assentando-
se no Sertão, o implacável deserto brasileiro, e seus descendentes
viriam a ser conhecidos como “sertanejos”.

Os dois grupos viriam a compartilhar não só uma grande parte da


mesma região — o Nordeste –, mas também um aspecto importante
entre as suas religiões: um ritual conhecido como o fechamento de
corpo.

O fechamento de corpo é baseado em uma oração de proteção que


resulta em um corpo protegido. O ritual é feito para afastar o mal —
seja ou espiritual, físico ou os dois. Se a garantia procurada for no
sentido físico, o beneficiário acreditaria estar protegido contra ataques
dos seus inimigos, sejam eles perpetrados por facas, armas de fogo
ou veneno de cobra.

Como o fechamento de corpo se tornaria um fio condutor que percorre


essas duas diferentes tradições religiosas no Brasil? A história
começou há mais de quinhentos anos.

Catolocismo como um manto

No século 15, os portugueses foram à África em busca de uma rota


para a Índia, iniciaram a produção de cana de açúcar e, em seguida,
fizeram a transição para um negócio mais lucrativo: o do comércio de
escravos. Durante o mesmo período, na África subsaariana, os
missionários de Portugal chegaram com o objetivo de converter os
habitantes locais para o cristianismo.

A manifestação posterior de sistemas de crenças africanas no Brasil


sugere que a missão dos padres portugueses não foi totalmente bem-
sucedida. Em vez de mudarem fundamentalmente suas crenças, os
africanos acabaram as complementando e/ou as disfarçando com
elementos da religião dos escravistas portugueses.
A revista brasileira Mundo Estranho escreveu sobre essa ocultação
num artigo de janeiro 2014:

Naquela época, chegaram ao país os primeiros africanos de origem


iorubá, um povo que ocupava a região onde hoje ficam Nigéria, Benin
e Togo. A religião dos iorubás era o candomblé, mas eles aportaram
no Brasil como escravos e não podiam cultuar suas divindades
livremente […] Por causa dessa proibição, os escravos começaram a
associar suas divindades com os santos católicos para exercerem sua
fé disfarçadamente. Como os santos católicos são bem numerosos,
existem divindades que são identificadas com mais de um santo. Por
exemplo: Oxóssi, o rei da caça, é associado a São Jorge e a São
Sebastião.

O candomblé como religião foi formalizado no século 19. Depois veio


a umbanda já no século 20, que é principalmente uma mistura de
candomblé e espiritismo, esse por sua vez um movimento religioso
que acredita na existência de espíritos e reencarnação.

As duas religiões de origem africana são “comparáveis ao cristianismo


e Islã”, já que “elas têm fundações, ritos, visões e
interpretações completamente diferentes”, de acordo com
o blog Tenda de Umbanda Filhos da Vovó Rita, que é gerido por um
terreiro de umbanda em Santa Catarina. No entanto, o blog explica
que candomblé e umbanda compartilham alguns traços comuns, tais
como a devoção aos deuses conhecidos como orixás e o uso de
contas e tambores de mão.

Uma das crenças africanas a fazer parte deste manto católico era
justamente o ritual de corpo fechado. Curiosamente, o ritual – também
chamado de “kura” — normalmente é praticado a cada ano na sexta-
feira santa, em terreiros por todo Brasil.

O blog O Candomblé explica o processo do ritual:

As Kuras são incisões feitas no corpo do Yaô (noviço já iniciado no


Candomblé), que por um lado representam o símbolo de cada tribo,
como o símbolo de cada Ilê (casa ou terreiro), mas têm o objectivo de
fechar o corpo do Yaô, protegendo-o de todo o tipo de influências
negativas.

Para isso são feitas as incisões (o que chamamos de abrir) e nessas


incisões é colocado o Atim (pó) de defesa para aquele Yaô (iniciado).
O Atim tem uma composição base de diversas plantas e substâncias,
mas o Atim utilizado para as Kuras, contêm também as ervas do Orixá
daquele Yaô em quem ele vai ser aplicado.

A umbanda, por outro lado, geralmente emprega métodos menos


invasivos para “fechar” o corpo. Em vez de incisões, o pai ou mãe de
santo (chefes do terreiro) usa uma mistura de ervas e outros
ingredientes para depois delicadamente fazer o símbolo da cruz sobre
as partes diferentes do corpo da pessoa que está se submetendo ao
ritual.

Os ingredientes variam. De acordo com o blog Sete Porteiras,


elementos como chaves, giz branco, ervas, azeite, correntes,
amuletos, orações, velas, água, conchas, correntes de aço e alho são
normalmente usados. Cada chefe de terreiro tem sua própria maneira
particular de manipular os elementos físicos voltados para a proteção
astral.

As orações de proteção de um bandido

Os afro-brasileiros não foram os únicos que passaram a praticar o


fechamento do corpo. Os camponeses residentes do Sertão também
adotaram o ritual.

Localizado no interior nordestino, o sertão é o deserto brasileiro. A


baixa precipitação anual na região leva a secas prolongadas. O solo é
pouco favorável à agricultura. Lá, a vida depende dos ciclos da
natureza e de sacrifícios e batalhas diárias, mas, apesar disso, sua
população resiste e sobrevive. Euclides da Cunha, um escritor e
repórter brasileiro que cobriu a Guerra de Canudos, uma rebelião
camponesa que aconteceu no final do século 19 no Sertão, falou
sobre a longevidade e a força do camponês rural quando disse que “o
sertanejo é, antes de tudo, um forte”.
Casa de sertanejo. Imagem do usuário de Flickr Wagner
Rochink. CC BY 2.0

A região tem uma cultura distinta. Ao longo dos séculos, tradições


orais se misturaram e deram origem à rica literatura local, conhecida
como cordel; estilos musicais, como o forró, frevo, xaxado, samba de
roda e samba de côco; e festividades de inverno (durante a estação
chuvosa) centrados em torno de São João Batista.

A religião no Sertão também tem um toque único. Camponeses


criaram o seu próprio tipo de catolicismo rural no Brasil, combinando
“a magia, superstições, a presença de amuletos, orações fortes e de
corpo-fechado, rezadeiras, beatos”, de acordo com o cientista social
Max Silva D'Oliveira.

Na dissertação intitulada “O Mandonismo do Sertão”, autor Luis Carlos


Mendes Santiago descreve vários métodos e cerimônias para fechar o
corpo praticados no Sertão, que às vezes vão além de simples
orações. Em um exemplo, descrito pelo famoso antropólogo brasileiro
Câmara Cascudo, o beneficiário permanece de pé, com o pé direito
sobre o esquerdo, em um balde de água, ao receber gestos feitos com
uma chave. Outra maneira inclui uma freira que costura uma hóstia —
considerado o corpo de Cristo — sob a pele enquanto são
feitas orações e movimentos rituais.
Um sertanejo que ficou famoso por por praticar o ritual de corpo
fechado foi Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como
Lampião. Durante os anos 1920 e 1930, Lampião foi um líder de
cangaceiros, grupo de camponeses armados que ora prestavam
serviços a grandes proprietários de terra, ora se rebelavam contra
eles. O autor americano Billy Jaynes Chandler, que escreveu o livro
“Bandit King”, o compara com o americano Jesse James, um famoso
fora-da-lei dos Estados Unidos e uma figura central no imaginário do
faroeste americano.

Enquanto Lampião ardentemente e continuamente infringiu a lei, ele


nunca rompeu com as suas crenças religiosas, que se estendiam para
o terreno místico. O blog Lampião Aceso descreve as crenças de
Lampião durante a época de seu banditismo nômade:

…onde era comum a crença de que aquele que soubesse alguma


oração de corpo-fechado e tomasse seus cuidados, estaria protegido
contra a peste e as balas mortais dos inimigos. Lampião e seus
cangaceiros recitavam esta oração diariamente. O líder do cangaço
acreditava que a força da fé era suficiente para protegê-los dos
perigos naturais do Sertão […]. Outro guerreiro, séculos antes, tornou-
se símbolo da proteção divina: São Jorge, que corresponde, na
mitologia, ao Orixá dos exércitos e dos guerreiros. […] Lampião incluiu
em sua oração de fechamento de corpo não só vários elementos da
oração a São Jorge, como principalmente a imensa religiosidade que
recobre o povo sertanejo.
Lampião, ao centro, e sua esposa Maria Bonita, à direita, por
volta de 1936. Foto: Benjamin Abraão Moto/domínio público

Além de apenas recitar as orações de proteção, o Lampião era bem


conhecido, tanto entre os seus amigos bandidos quanto os seus
inimigos, por sua capacidade de ver “além”. Não só isso, mas seus
inimigos nas Forças Volantes — soldados que contratados para lutar
contra os bandidos — também levavam a sério o significado de seus
próprios sonhos. No livro “Lampião: Senhor do Sertão”, a autora Elise
Grunspan-Jasmin acrescenta:

Lampião não tinha somente o dom de interpretar os sinais


anunciadores de boa fortuna, de perigo ou de desgraça. Dizia-se que
era dotado de uma intuição de adivinho e, de acordo com alguns dos
seus companheiros, de um ‘sexto sentido': ele ‘via’ o que os inimigos
procuravam dissimular e também o que ninguém tinha possibilidade
de ‘ver’.

Apesar de suas orações diárias para proteção, o Lampião, que deve


ter se sentido invencível durante o seu reinado de 16 anos como o
mais famoso fora-da-lei do Brasil, acabou sendo traído, o que levou ao
seu assassinato por tropas policiais. Seu corpo “fechado” estava
literalmente aberto e uma parte dele foi exposto publicamente como
exemplo para outros que pudessem se inspirar em sua causa. Pode-
se dizer que a sua morte é a prova de que o ritual de corpo fechado
não funciona, mas talvez suas quase duas décadas como um fora-da-
lei prove o contrário.

Uma saída para aqueles que mais sofreram

O mais interessante talvez não seja o fato do ritual de corpo fechado


sobreviver ou morrer com certas pessoas, mas que sobrevive
culturalmente através dos séculos, mesmo quando praticado por
descendentes de dois grupos sociais completamente diferentes.

Apesar de ser um ritual que não nasceu no Brasil, o fato de que eles
criaram raízes entre aqueles que mais sofreram — descendentes de
escravos e colonos do sertão — não parece ser coincidência. Talvez a
razão pelo qual o ritual sobreviva esteja na paisagem, tanto geográfica
quanto religiosa. Um ponto de convergência que por acaso está no
Brasil.

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