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DECISÃO INTERLOCUTÓRIA
Vistos etc.
Trata-se de denúncia oferecida pelo Ministério Público do Distrito Federal, em face de Luis Cláudio
Fernandes Miranda, Halison Ribeiro Vitorino e Eurico Cândido de Miranda, dando-os como incursos no
artigo 171, caput, do Código do Penal (ID 47795872).
O investigado Luís Cláudio Fernandes Miranda, por meio da petição de ID 48050590, requer a rejeição da
peça acusatória, em relação a sua pessoa.
Argumenta que a denúncia não narrou, de forma individualizada, nenhuma conduta imputável ao
investigado. Que, a referência que se faz à sua pessoa está relacionada à cártula de cheque devolvida por
insuficiência de fundos, mencionando, sem maiores esclarecimentos, que a empresa responsável pela
emissão da cártula era ligada aos investigados Luis Cláudio e Halison.
Noticia que, na condição de fiador, diante da ausência de quitação do débito pelo devedor principal,
efetuou o pagamento integral da dívida junto ao credor, resultando, inclusive na extinção do processo de
execução.
Destaca também que, quanto à cártula de cheque fraudada, a denúncia não faz referência acerca de
eventual conduta sua.
Instado, o Ministério Público oficiou pelo indeferimento dos pedidos e pelo recebimento da denúncia.
Aduz, em síntese, que a peça acusatória atende aos requisitos do artigo 41, do Código de Processo Penal e
que os argumentos carreados pelo investigado Luís Cláudio Fernandes Miranda demandam análise de
mérito.
Os argumentos trazidos pela Defesa do investigado Luís Cláudio Fernandes Miranda, pode-se adiantar,
não merecem prosperar.
Com efeito, ao investigado Luís Cláudio é imputada a prática, em tese, de crime de estelionato, porque,
segundo a peça acusatória, em conluio com os investigados Halison Ribeiro Vitorino e Eurico Cândido de
Miranda, e na qualidade de fiador em contrato de locação de imóvel, teria efetuado pagamento de dívida
de aluguel com duas cártulas de cheque no valor de R$ 7.000,00 (sete mil reais) e R$ 4.500,00 (quatro mil
e quinhentos reais), sendo a primeira objeto de fraude e, a segunda, devolvida por insuficiência de fundos.
Olvida-se o investigado que nos crimes societários, de autoria coletiva, tanto a doutrina como a
jurisprudência têm abrandado o rigor do disposto no art. 41 do Código de Processo Penal, dada a natureza
dessas infrações, que nem sempre possibilita a descrição detalhada da atuação de cada um dos indiciados.
A propósito do assunto, vale trazer à baila orientação jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça, nos
termos da ementa a seguir transcrita:
Assim tem-se por válida a denúncia quando, apesar de não descrever minuciosamente as atuações
individuais de cada um dos invetigados, demonstra o liame entre o seu agir e a suposta prática delituosa,
possibilitando, pois, o exercício da ampla defesa.
Na hipótese, a peça acusatória atribui a conduta delituosa ao investigado Luís Cláudio porque, em tese, o
investigado Eurico Cândido de Miranda teria procurado a vítima para quitar a dívida, sob as ordens de
Luís Cláudio e Eurico Candido. Logo, ainda que de forma suscinta, é possível identificar a narrativa do
liame subjetivo que justificou o oferecimento da denúncia em face de Luís Cláudio Fernandes Miranda.
Eventual aprofundamento do tema guarda relação com o mérito e merecerá análise em momento
oportuno.
No mais, como bem realçado pelo Ministério Público, “...o pagamento posterior da dívida civil gerada
pela conduta descrita na denúncia não ilide o crime, conforme entendimento já pacificado perante do
Superior Tribunal de Justiça.”.
A respeito do assunto, vale reportar ao entendimento jurisprudencial do e. TJDFT, sintetizado nos termos
da ementa a seguir:
Na ocasião da citação, os Citandos deverão ser advertidos de que, em caso de procedência da acusação, a
sentença poderá fixar valor mínimo à reparação dos danos causados pela infração, considerando os
prejuízos sofridos pelo ofendido (art. 387, inciso IV, do CPP).
O Oficial de Justiça intimará os Réus a constituírem Advogado (caso em que deverá fornecer os dados
pelos quais possa ser intimado, tais como nome e nº de OAB), sendo que, na ausência de Advogado
particular, ser-lhes-á nomeado o NPJ/IESB para patrocinar suas defesas, informando, neste caso, o
próprio telefone (se solto), ou telefone de alguém da família, para contatar, se preciso, com o NPJ
nomeado.
Os Citandos deverão, ainda, ser cientificados de que é sua obrigação manter o endereço atualizado nos
autos, sob pena de o processo seguir sem as suas presenças.
Ressalto, ademais, que deverá constar nos mandados citatórios a ressalva prevista no art. 362 do referido
Diploma legal.
Verifico também que os denunciados Luís Cláudio Fernandes Miranda e Eurico Cândido de
Miranda possuem sentença penal condenatória transitada em julgado. Diante disto, oficie-se à Vara
de Execuções Penais, comunicando-se o recebimento da denúncia em questão.
Juiz de Direito