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Imagens do Nordeste Brasileiro na Idade Mídia.

Elementos para uma antropológica da ficção audiovisual


brasileira

Cláudio Cardoso de Paiva


claudiocpaiva@yahoo.com.br
Universidade Federal da Paraíba

Índice Resumo
1 À guisa de introdução 1 As telenovelas como O Bem Amado, Roque
2 O papel social e estético da teledrama- Santeiro, Porto dos Milagres e as minissé-
turgia 2 ries como Lampião e Maria Bonita, O paga-
3 Diversidade e qualidade das narrativas dor de promessas e O auto da compadecida
ficcionais 3 têm concedido formas de visibilidade e res-
4 Tradições históricas e traduções hiper- sonância ao Nordeste, espelhando as formas
midiáticas 5 do discurso, os tipos de sociabilidade e o es-
5 Cumplicidade e rivalidade entre o ci- tilo de vida dos nordestinos. Misturando os
nema e a televisão 7 mitos regionais, com os signos da cultura de
6 Pré-história das culturas locais e mo- massa, o imaginário pop do cinema e da pró-
derna tradução nordestina 8 pria televisão, a comunicação eletrônica ab-
7 Narcisismo e tribalização na experiên- sorve e irradia as novas expressões e sensibi-
cia cultural contemporânea 9 lidades das culturas locais, estratégias de po-
8 Tradução e transgressão das artes mi- litização do cotidiano e novos modos de re-
diáticas 10 conhecimento das identidades culturais. Ex-
9 Processos intermidiáticos e socieda- ploramos os modos como o cinema e a tele-
des multiculturais 11 visão, em conexão com as novas mídias e su-
10 Sincronicidade dos processos midiá- portes tecnológicos, favorecem um olhar so-
ticos e matrizes culturais 12 bre o imaginário nordestino.
11 Interfaces do Cinema e da Ficção Te-
levisiva 14 1 À guisa de introdução
12 Conjunção e rivalidade das artes tec-
nológicas 14 Tudo aquilo que os intérpretes, estudiosos
13 Para concluir 15 e explicadores da cultura brasileira tenta-
14 Bibliografia 16 ram ordenar, classificar, demonstrar, através
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das noções, conceitos e categorias, mostra-se sos estudiosos têm contribuído para uma in-
hoje, em diversas modulações, nas imagens vestigação rigorosa das relações entre a tele-
projetadas nas telas do cinema e da televisão. dramaturgia, a vida social e política, como
Há quase meio século a televisão tem atua- MELO (2002), LOPES (2004), BALOGH
lizado uma representação do nordeste brasi- (2005), LOBO (2000), RIBEIRO (2004), en-
leiro, com inteligência e sensibilidade. As tre outros. Em princípio estes estudos po-
telenovelas como Gabriela, Saramandaia e dem nortear a nossa argumentação, que se
Roque Santeiro e as minisséries como Lam- situa no campo da comunicação, enfatizando
pião e Maria Bonita, O Pagador de Promes- as artes tecnológicas do cinema e da tele-
sas e O auto da Compadecida têm conce- visão e epistemologicamente se define pelo
dido um nível importante de visibilidade e diálogo com os estudos culturais e se orienta
ressonância ao Nordeste, espelhando as for- pelas empiricidades que favorecem uma an-
mas do discurso, os tipos de sociabilidade e tropológica da comunicação. Ou seja, um
o estilo de vida dos nordestinos. Privilegia- olhar sobre o homem, a mulher e seus símbo-
mos a ficção televisiva seriada como um mo- los, nos tempos do trabalho e do lazer, face
tor eficaz na construção do imaginário cole- aos processos midiáticos, que atuam sobre as
tivo do Nordeste e, neste contexto, reconhe- formas do pensar, falar e agir.
cemos que a ficção do cinema concorre tam-
bém para a formação do imaginário, em suas
2 O papel social e estético da
dimensões locais e globais.
O enfoque do regional na teledramatur- teledramaturgia
gia não é dominante, mas é expressivo, pela O turbocapitalismo acelerou o processo de
competência técnica e decupagem estética; o globalização, forçando as identidades cul-
tema se tornou cult no repertório da acade- turais a virem à tona e surpreendentemente
mia, da mídia especializada e nas conversa- as culturas locais explodiram em sua exu-
ções diárias na esfera pública, no que res- berante visibilidade, quando bombardeadas
peita às questões individuais e coletivas, à pela legiferância da globalização.
ética, cidadania, gestão política, direitos hu- Sem pretender articular um discurso de
manos e responsabilidade social. Não existe verdade, como o telejornal, a teledrama-
ainda nenhum estudo científico sobre as re- turgia, ao explorar os enredos nordestinos,
presentações do Nordeste na ficção televisiva seduz a opinião pública, exibindo os ma-
seriada, há um estudo sobre o Nordeste no ci- tizes de uma culturalidade nordestina em
nema, intitulado Cangaço, o Nordeste no Ci- suas dimensões épicas e afetivas, românti-
nema Brasileiro (Caetano, 2005), e este deve cas e transgressivas. Como espécies raras
ser um primeiro ensaio sobre as imagens do da grande arte, há telenovelas e minisséries
Nordeste na cultura das mídias, enfatizando que têm o dom de saber apresentar a parte
as narrativas ficcionais do cinema e da te- de estranheza dos afetos humanos. Os gran-
ledramaturgia, com o objetivo de decifrar o des mestres da teledramaturgia empenhados
sentido das identidades culturais no contexto no refinamento de uma elaboração estética
da sociedade globalizada. do Nordeste têm tratado dos assuntos gra-
De maneira crítica e compreensiva, diver-

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ves, extremos, radicais da existência e o seu mente, reconhecendo as disparidades entre


êxito reside na moderação, na maneira como a modernização industrial-tecnológica e o
modula a intensidade e a duração dos afetos, atraso social, deixou um legado, que nos
das sensações, dos sentimentos e das emo- permite mirar fundo na lógica da domina-
ções mais profundas. ção e nas modalidades de resistência da re-
O trabalho do dramaturgo sempre mo- gião Nordeste. E um autor jovem como Guel
dela uma consciência estética da realidade Arraes, competente na exploração dos con-
e se por um lado, exerce a idéia de que trastes, hibridações e mestiçagens do país,
“os meios são as massagens”, numa acep- ligado nas vibrações estéticas, cognitivas e
ção de MCLUHAN (1966), distraindo, rela- sensoriais, emergentes na cena urbana do
xando, proporcionando o sonho do telespec- Nordeste contemporâneo, tem se mostrado
tador, por outro lado, pode despertá-lo atra- ágil, certeiro e eficiente, na exibição das vi-
vés da “experiência de choque”, como rela- sões, sensibilidades e competências nordes-
tava WALTER BENJAMIN (1985). E neste tinas, ultrapassando as fronteiras regionais
sentido, relembramos que uma das funções e interagindo com outras esferas da cultura
básicas da arte é mostrar as imagens duras, mundializada.
insólitas, difíceis, mas de formas extáticas,
arrebatadoras, catárticas, fazendo amadure-
3 Diversidade e qualidade das
cer a consciência estética. Os arcanos maio-
res da teledramaturgia brasileira têm o poder narrativas ficcionais
de despertar uma imaginação crítica, uma A teledramaturgia, focalizando a temática
consciência ética, social e cósmica diante da nordestina, não se esgota no formato das
realidade. telenovelas. Desde o programa CASO
Neste patamar situamos as telenovelas O ESPECIAL, da Rede Globo (1971-1995),
Bem Amado (1974), Saramandaia (1976), trabalhos originais e adaptados da litera-
Roque Santeiro (1986), A indomada (1997), tura e do teatro tematizaram o Nordeste
Porto dos Milagres (2001) e as séries Tenda na ficção televisiva, como Fogo Morto
dos Milagres (1985), O pagador de promes- (José Lins do Rego/Walter Jorge Durst,
sas (1988) e O auto da compadecida (1999), 1973), A morte e a morte de Quincas
que entre outras, liberam imagens, sons e Berro d’água (Jorge Amado/Walter Avan-
discursos fundamentais para uma compreen- cini, 1978), Morte e Vida Severina (João
são da realidade social nordestina. Mistu- Cabral de Melo/Avancini, 1981), São Ber-
rando os mitos regionais, com os signos da nardo (Graciliano Ramos/Lauro César Mu-
cultura de massa, do imaginário pop do ci- niz, 1983), Lucíola (José de Alencar/Geraldo
nema e da própria televisão, a comunicação Carneiro, 1993), Lisbela e o prisioneiro
eletrônica absorve e irradia vigorosamente as (Osman Lins/Guel Arraes, 1993), Menino
novas expressões e sensibilidades das cultu- de Engenho (José Lins do Rego/Geraldo
ras locais, as estratégias de politização do co- Carneiro, 1993), O coronel e o lobiso-
tidiano, gerando formas de reconhecimento mem (José Cândido de Carvalho/Guel Arraes
das identidades e diferenças culturais. 1994), Uma mulher vestida de sol (Ariano
O dramaturgo Dias Gomes, particular-

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Suassuna/Luiz Fernando Carvalho, 1994), 1986) são marcos pioneiros na construção da


O compadre de Ogum (João Ubaldo Ri- comunidade imaginada do Nordeste.
beiro/Geraldo Carneiro, 1994), A farsa da Um outro registro pertinente é o for-
boa preguiça (Ariano Suassuna/Bráulio Ta- mato de ficção interativa proposto pela Rede
vares, 1995). Globo no programa VOCÊ DECIDE (1992-
Este acervo exuberante de narrativas míti- 2000), em que dois episódios fazem uma
cas, históricas, satíricas e sociais documenta exploração sensível e inteligente da trajetó-
uma outra história do Brasil, contemplando ria dos migrantes, nômades, viajantes, suas
os afetos e as sociabilidades do ser nordes- aventuras e seus infortúnios. No episó-
tino, as contrações e descontrações sociais dio Tragédia brasileira (Geraldo Carneiro,
e políticas, as perdas, os ganhos, os reve- 1993), um nordestino tem a oportunidade de
zes e momentos de felicidade. É interes- migrar para o sul, mas para isso tem que dei-
sante perceber como o ambiente ficcional xar a mulher e os filhos, então o publico de-
pode intervir na identificação, elevação da verá decidir se ele parte ou fica com a fa-
auto-estima, gratificação, dissolução do re- mília; o episódio O califa de Caruaru (Ge-
calque, extinção do preconceito e do ressen- raldo Carneiro, 1999) conta as aventuras de
timento. Existe uma representação midiá- um caixeiro viajante, cuja esposa descobre
tica do Nordeste em que se firmam as bases que este tem mais duas mulheres e deve de-
para uma ética-estética eficiente na formação cidir se continua com o marido. Diferentes
de consciência crítica e da atitude afirmativa. enredos tratam das dúvidas do ser diante da
Com arte, técnica, astúcia e sabedoria, estes figura do Destino e da permanente necessi-
autores apresentam uma tradução fidedigna dade de optar, fazer escolhas, decidir.
do Nordeste, criando situações imaginadas, A Rede Globo colocou o Nordeste em
verossímeis, inquietantes e fabulosas que se perspectiva memorável no Caso Especial O
colam à realidade nordestina como uma se- Auto da Nossa Senhora da Luz (Flávio Cam-
gunda pele. pos, Péricles Leal e Bráulio Tavares, 1992),
A temática nordestina reapareceu na tele- introduzindo a narrativa de cordel, grupos
visão no programa CASO VERDADE, exi- de teatro popular, folclore nordestino, ence-
bido pela Rede Globo (1982-1986). Obras nação moderna dos antigos rituais místico-
originais e roteiros adaptados sinalizaram religiosos; o tema será resgatado em 2005-
um olhar em direção ao Norte, atuali- 2006, na primorosa realização de Hoje é
zando o conceito de culturalidade nordes- dia de Maria (Luiz Fernando Carvalho), um
tina. O encontro de tia Policarpa com mergulho fenomenal nas artes e manifesta-
seu destino (Valeriano Félix dos Santos/Eloy ções da culturalidade brasileira em seus múl-
Santos, 1983), Os filhos de Maria (Eloy tiplos enraizamentos, conectando o país pro-
Santos/Walter Campos, 1983), Os meni- fundo, trágico e sentimental. A cenogra-
nos do Recife (Chico de Assis/Reynaldo fia e iluminação minimalistas desnudam de
Boury, 1983), Olinda, vem cantar (Armando forma extraordinária as tramas sociais, polí-
Costa/Milton Gonçalves, 1983), A eleição ticas, existenciais, pela ótica de uma menina,
imparcial (Edison Valentim/ Eduardo Clark, que errando pelo Brasil, descobre a sabedo-
ria das “histórias do interior” (PAIVA, 2006).

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Um novo modelo de ficcionalidade televisiva permite um olhar clínico sobre as


foi inaugurado com o programa BRAVA fraturas sociais, as modalidades de violência,
GENTE (2000-2001), adaptando contos e antigas, seculares, históricas, mas que per-
peças regionais como O Santo e a Porca sistem na atualidade e são apresentadas com
(Adriana Falcão/Ariano Suassuna, 2000), perícia pelos escritores, dramaturgos e nove-
A Bagaceira (João Emanuel Carneiro/José listas.
Américo de Almeida, 2001), O diabo ri por
último (Fausto Galvão/Altimar Pimentel,
4 Tradições históricas e
2001), Pastores da Noite (Cláudio Paiva,
Guel Arraes, Sérgio Machado/Jorge Amado, traduções hipermidiáticas
2002). As relíquias do tesouro cultural No intuito de compreender as leituras e in-
nordestino são expostas na vitrine da mídia terpretações do Nordeste, num período ante-
eletrônica, de maneira farta e generosa, rior à dita “cultura das mídias”, recorremos
reunindo autores consagrados e grandes ao trabalho do filósofo e historiador Durval
expressões do teatro, folclore e literatura Muniz de Albuquerque, A invenção do Nor-
regionalistas e universais. Assim são seme- deste e outras artes (2000) e a partir daí ob-
ados os grãos férteis para a abundante safra servamos um percurso iniciado nas imagens
das minisséries, um gênero que vai conferir literárias construídas pelos escritores memo-
um novo status à teledramaturgia brasileira. riais como José Lins do Rego (Menino de
As minisséries Lampião e Maria Bonita Engenho), José Américo de Almeida (A Ba-
(Aguinaldo Silva & Doc Comparato, 1982), gaceira) e Rachel de Queiroz (Memorial de
Grande Sertão, Veredas (Walter George Maria Moura), os chamados autores do “ro-
Durst, 1985), O pagador de promessas (Dias mance de 30”, que, inspirados na sociolo-
Gomes, 1988), Riacho Doce (Aguinaldo gia tropical de Gilberto Freyre, definiram
Silva & Ana Maria Moretzsohn, 1990), O um “território de saudade”, o Nordeste pro-
sorriso do lagarto (Walter Negrão & Ge- fundo, colonialista e patriarcal.
raldo Carneiro, 1991), Memorial de Maria Segundo Muniz de Albuquerque, há na li-
Moura (Jorge Furtado & Carlos Gerbase, teratura de Graciliano Ramos (Vidas Secas)
1994), Dona Flor e seus dois maridos (Dias e na poética de João Cabral de Melo Neto
Gomes, 1998) são veredas ficcionais que es- (Morte e Vida Severina), a demarcação de
timulam um enfoque agudo e problematiza- um “território da revolta”, por meio dos dis-
dor do Nordeste. Diferentemente das tele- cursos indignados face à situação de um se-
novelas, que são “obras abertas”, as minis- cular autoritarismo e extrema desigualdade
séries constituem “obras fechadas”, mais re- social.
sistentes às regras mercadológicas e à tira- As narrativas de Jorge Amado (Gabriela,
nia do IBOPE, facultando aos autores maior Dona Flor, Porto dos Milagres), adaptadas
liberdade no trabalho de recriação da reali- para o cinema e vídeo, mostram com rigor
dade e uma elaboração mais arrojada na re- as imagens do interior, do sertão e do lito-
presentação dos paradoxos e especificidades ral nordestino, particularmente da Bahia e
regionais. Revisitando o nosso passado his- a visão mitológica de Ariano Suassuna (A
tórico, nas diversas regiões do país, a ficção

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farsa da boa preguiça, O santo e a porca, tesanais e eletrônicos, que respondem às ex-
O auto da compadecida), transposta para a pectativas de um público dos enredado, ao
televisão, recompõe alegoricamente um re- mesmo tempo, nas malhas da tradição e das
trato satírico, trágico e afirmativo da con- conexões urbanas.
dição nordestina. Aliás, ambos os enfo- As tensões e conflitos sociais do sertão são
ques difundem uma sensibilidade nordes- capturados pelo prisma das câmeras de TV,
tina que se reconhece e se irradia também numa minissérie como Lampião e Maria Bo-
na poética musical dos menestréis e canta- nita (1982), que desnuda as tramas sociais e
dores, como Luiz Gonzaga, Dominguinhos, políticas do Nordeste, através de tecnologias
Zé Ramalho, Alceu Valença, Ednardo, Ge- audiovisuais poderosas que captam em vá-
raldo Azevedo, Elba Ramalho, Caetano, Gil, rias tonalidades o drama nordestino.
Gal Costa, Maria Bethânia, atualizando-se A concorrência das cadeias de televisão
na versatilidade de artistas como Carlinhos contribuiu para o rigor das representações
Brown, Chico Science, Lenine, Chico Cé- do cenário nordestino, como mostra a ficção
sar e Zeca Baleiro. Esta difusa sonoridade, Mandacaru (Carlos Alberto Ratton, 2005),
ao mesmo tempo regional, universal, local e realizada pela Rede Bandeirante; em que o
global, produto de conexões históricas, or- realismo das imagens capta as tensões soci-
ganiza uma comunidade simbólica, uma so- ais e políticas do Nordeste, nos anos 30, sob
ciabilidade musical, construída em sintonia a ótica dos cangaceiros.
permanente com as trilhas sonoras. Apostamos que a televisão, como um su-
Os seres imaginados da televisão promo- porte nacional privilegiado de arte tecno-
vem modalidades de identificação e perten- lógica, detém o poder de resgatar as ima-
cimento, experiências de reconhecimento e gens, sons e textos da tradição nordestina
gratificação. Isto se deve principalmente ao conferindo-lhes uma surpreendente atuali-
prestígio da ficção televisiva e do cinema dade. As narrativas ficcionais da TV não ces-
brasileiro nos mercados globais, a sua qua- sam de produzir novas aparências do regi-
lidade técnica, estética e destreza na cap- onal, que permanentemente se transfiguram
tação dos afetos, anseios e expectativas so- por meio das repetidas migrações e reterri-
ciais. A ficção brasileira além de ser um torializações de norte a sul do país. A fic-
produto apreciado pela crítica é amada pelo ção televisiva seriada tem produzido um re-
grande público que faz a sua catarse diária pertório importante que revela uma dimen-
diante das telenovelas. são pluralista, polifônica, barroca, transcen-
As narrativas ficcionais como O Auto da dental do Nordeste. Através dos audiovisu-
Compadecida (1999), Lisbela e o Prisio- ais podemos flagrar os estilos da vida social
neiro (2003), O coronel e o Lobisomem e política, a religiosidade e a carnavalização,
(2005), sob a direção de Guel Arraes, são as formas assumidas pela acelerada hibrida-
produtos híbridos realizados e exibidos na te- ção entre o popular, o folclórico, o massivo,
levisão e no cinema. Embalados na poética que distinguem a paisagem nordestina mar-
musical do Mangue Beat (de Pernambuco), cada por grandes diversidades, constituindo
reúnem simultaneamente imagens e sons ru- um conjunto multiforme das identidades in-
rais, urbanos, experimentais, inventivos, ar- dividuais e coletivas.

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5 Cumplicidade e rivalidade preconceitos e na trama discursiva da própria


entre o cinema e a televisão ficção televisiva encontramos exemplos ra-
cistas, xenófobos e excludentes. Na teleno-
As telenovelas, os seriados e as minisséries vela Suave Veneno (Aguinaldo Silva, 1999),
desde O Bem Amado e Gabriela até O auto a personagem Maria Regina (Letícia Spiler)
da Compadecida e Lisbela e o prisioneiro trata preconceituosamente o pai nordestino e
irradiam estilos de oralidade, sonoridade e na narrativa de Senhora do Destino (Agui-
visibilidade que traduzem os traços essen- naldo Silva, ano), a personagem Nazareth
ciais das culturas populares no contexto do (Renata Sorrah) designa a sua rival, Maria
Norte-Nordeste midiatizado, e acrescente-se do Carmo (Suzana Vieira), como uma “anta
a isso um acervo monumental de canções, nordestina”. Os exemplos são inúmeros, en-
melodias e sonorizações que compõem as tretanto, é preciso enxergar nas redes midiá-
trilhas sonoras da ficção televisiva, adicio- ticas, outras imagens e discursos que des-
nando mais novas camadas de significação mancham os tabus e os preconceitos.
às traduções memoriais da região. Se por Há uma teledramaturgia brasileira que es-
um lado temos a atuação de processos re- timula os “exercícios do ver”, permitindo-
gressivos e produtos de qualidade discutí- nos contemplar a paisagem nordestina para
vel, que como um “esgoto sonoro”, promove além dos estigmas e preconceitos que apri-
a destruição das tradições culturais, através sionam as culturas regionais e populares nas
de uma globalização perversa, trazendo mal- imagens-clichês da seca, do atraso e subde-
estar e infelicidade, por outro lado, a própria senvolvimento. A programação da ficção te-
dinâmica da produção cultural, do cinema e levisiva, contemplada numa perspectiva crí-
da televisão, positivamente, cria os termos de tica, pode testemunhar evoluções importan-
uma “outra globalização”, inclusiva, funda- tes nos processos de leitura e interpretação
mental e afirmativa, desvelando novos esti- que levam as experiências de transcendên-
los identitários e novas dinâmicas de socia- cia, dissolvendo o ressentimento, a apatia,
bilidade. o sentimento de inferioridade; pode igual-
As relações entre a televisão e a sociedade mente ressaltar o vigor, o entusiasmo e uma
se mostram mais dinâmicas quando enfoca- perspectiva de vida afirmativa, mesmo num
mos o poder das mediações individuais e co- quadro marcado pelas adversidades. O per-
letivas, realizadas pelos telespectadores, que sonagem João Grilo (em O Auto da Com-
aprenderam a fazer um bom uso das men- padecida) é pobre, faminto, miserável, mas
sagens midiáticas, na rotina de suas vivên- ágil, esperto e astucioso; Suassuna (e Guel
cias cotidianas. Neste sentido, diversos es- Arraes) formulam as suas estratégias discur-
tudos têm mostrado com rigor a competên- sivas como processos dialéticos ou “jogos
cia dos usuários que de receptor passivo po- de cintura”, investidos de afetos positivos,
dem se tornar elementos ativos, enquanto lei- respeito, dignidade, solidariedade, e desta
tores, cidadãos e consumidores; ver a pro- forma, ambos, como escritores, dramatur-
pósito, LOPES (2006), ALMEIDA (2003), gos, novelistas, criam uma camada de sen-
ANDRADE (2003), entre outros. tido transcendente que favorece a superação
A teledramaturgia pode reforçar velhos dos preconceitos contra o pobre, o migrante,

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o nordestino, enfatizando a sua imaginação de uma linguagem distanciada dos discur-


criativa e assegurando o direito à transgres- sos falados pelos segmentos populares. O
são num contexto normativo marcado pelas grande público teria de esperar a expansão
injustiças sociais. da cultura popular de massa, gerada pelo ci-
A qualidade das obras de Dias Gomes, nema e pela televisão, para assistir e se reco-
Aguinaldo Silva, Doc Comparato, Walter nhecer nas transmutações de obras como O
Avancini, Geraldo Carneiro, entre outros, re- Guarani (1857), Iracema (1865), As Minas
side na competência em lidar com as dimen- de Prata (1866) e Senhora (1875) para a lin-
sões ocultas, invisíveis, reprimidas da cul- guagem audiovisual. Uma estratégia de co-
tura; são peritos no exercício de uma ima- municação eficaz no resgate das reminiscên-
ginação atenta, que pode liberar a dimensão cias culturais consiste no uso de uma lingua-
do desejo, estimulando a realização de expe- gem bem elaborada, mas familiar e acessível
riências fundamentais nos campos da ética, ao repertório das novas gerações informadas
da estética e da educação. pelos audiovisuais, fazendo uma ponte entre
Faz-se necessário apreciar como as mídias estas e a tradição oral, verbal, acústica, lite-
podem iluminar as zonas sombrias dos indi- rária.
víduos, as estranhezas do ser, os lugares e Ao longo do século XX, tivemos a forma-
as instâncias de pouca visibilidade no inte- ção de uma vigorosa tradição literária nor-
rior dos processos sociais, através de veícu- destina consolidada a partir de obras monu-
los como a fotografia, o cinema, a teledrama- mentais como Os Sertões (Euclides da Cu-
turgia; quando os processos midiáticos insti- nha 1906), um marco na história da litera-
gam novas possibilidades de compreensão e tura e do jornalismo investigativo, matizando
intervenção na realidade, isto implica tam- um olhar agudo sobre o interior do Brasil, a
bém num modo de politizar o olhar sobre partir da campanha de Canudos e, ao mesmo
as culturas locais, regionais, em suas versões tempo, definindo um perfil histórico-social,
globalizadas. antropológico e político do ser nordestino.
Mas somente na chamada idade mídia, com
um projeto audiovisual (em filme, vídeo e
6 Pré-história das culturas locais
DVD), como Guerra de Canudos (Sérgio
e moderna tradução Resende, 1997/98), tivemos a publicização
nordestina da dita “guerra do fim do mundo”, levando
a uma compreensão polifônica, intertextual,
Desde o século XIX, com o romance his-
midiática de um dos episódios mais violen-
tórico de José de Alencar assistimos à defi-
tos da história nacional.
nição de alguns elementos conceituais, bus-
cando afirmar o caráter regional da literatura
brasileira e sua contextualização num projeto
de nacionalidade e regionalidade, em que se
situam os tipos sociais do indígena, do va-
queiro, do sertanejo. Mas, tratava-se de uma
representação literária construída por meio

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7 Narcisismo e tribalização na ção cultural nordestina; mas, sobretudo, ex-


experiência cultural ploram a região na perspectiva da palavra
escrita, da cultura letrada, das classes soci-
contemporânea
ais hegemônicas. Relembramos em tempo
Os audiovisuais construíram uma programa- que um esforço de recuperar a tradição dos
ção visual, sonora, sensorial, lançando uma sertões, em moldes de western, apareceu na
ponte entre as gerações veteranas e as ge- primeira fase das telenovelas de época, nos
rações informadas pela televisão e compu- anos 60/70, com Jerônimo, o herói do sertão
tador. É difícil atingir esta faixa de público (FERNANDES, 1994), uma narrativa mar-
quando é preciso recorrer aos registros histó- cada pelos valores do machismo e patriar-
ricos, sociais e políticos de uma outra época, cado da burguesia agrária.
experimentamos na pele os fortes efeitos de A ideologia rural, pastoril, agrícola, paula-
uma “cultura do narcisismo”; mas convém tinamente se tornou objeto de contemplação
atualizar o enfoque dos processos educativos e crítica pela mídia sonora, nas radionove-
e comunicacionais, percebendo que a utili- las, nos anos 40/50 e iria experimentar ou-
zação dos jargões da moda industrial, eletrô- tras mediações sociais e tecnológicas em sua
nica, tecnológica, quando mixados com os recepção pelo público do cinema e da televi-
núcleos das narrativas tradicionais pode sur- são. Menino de Engenho virou filme de Wal-
tir resultados eficazes. Este insight se apre- ter Lima Junior, em 1965, tornando-se uma
senta num ensaio intitulado grandesertão.br referência histórica no museu imaginal das
ou: a invenção do Brasil (Bolle, 2001), que artes regionais e, por sua vez, Memorial de
mergulha no Brasil profundo, mas extrema- Maria Moura, tornou-se uma minissérie da
mente atento à sensibilidade táctil, acústica, Rede Globo, em 1994, importante entre ou-
sensorial das gerações da era digital, que po- tras coisas porque atualizou um enfoque dos
dem seduzidas para revisitarem o nosso pas- sertões, colocando em perspectiva a mulher,
sado histórico, por meio de linguagens que a terra e a luta.
falam às suas expectativas e sensibilidades. É importante, retomar a caracterização
As obras de José Lins do Rego (Menino de dos romances adaptados para a televisão, re-
Engenho, 1932), José Américo de Almeida conhecendo o rigor na transposição das te-
(A Bagaceira, 1928) e Rachel de Queiróz máticas literárias para os audiovisuais, que
(Memorial de Maria Moura, 1930), ao seu esteticamente mostram outras arestas das
modo, formalizam uma literatura regional formas de exercício do poder e controle so-
naturalista que reagiu à modernização in- cial, assim como instigam um olhar atento
dustrial, buscando resgatar a tradição aris- sobre as modalidades de luta pela liberdade
tocrática da cultura, dos coronéis, do enge- e autonomia no contexto nordestino. Numa
nho, da sinhazinha, dos jagunços, dos es- vidência extraordinária, Dias Gomes, em O
cravos e das mucamas. São obras inspira- fim do mundo (1996), ambienta a sua trama
das - em grande parte - na sociologia tropi- num lugarejo nordestino, em que as auto-
cal de Gilberto Freyre e constituem modali- ridades, assombradas com a perspectiva do
dades discursivas formadoras de uma tradi- fim do mundo, liberam os indivíduos encar-
cerados nas prisões, clínicas, mosteiros, fá-

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10 Cláudio Cardoso de Paiva

bricas, afrouxando os dispositivos de vigi- rados, enfoques glamourosos e angulações


lância; trata-se de uma experiência astuci- sensuais na exaltação das celebridades mi-
osa que elabora uma contemplação irônica diáticas, como Vera Fischer (na pele de Edu-
do exercício do poder hegemônico no nor- arda) e Carlos Alberto Ricelli (como o pes-
deste brasileiro. cador Nô). A minissérie foi encenada no
cenário ecológico de Fernando de Noronha,
na Praia Carne de Vaca, em Pernambuco,
8 Tradução e transgressão das
quando a Rede Globo teve de competir com
artes midiáticas a grande audiência da telenovela ecológica
Há obras como os clássicos de José Lins do Pantanal, da Rede Manchete. E, no que con-
Rego e Rachel de Queiroz, mais conheci- cerne à inscrição da temática nordestina no
das em suas transposições da literatura para contexto multimidiático, relembramos que
o vídeo, Riacho Doce (Aguinaldo Silva e Riacho Doce foi adaptada para o cinema
Ana Maria Moretzsohn, 1990) e Memorial numa produção mediana com o título Bela-
de Maria Moura (Jorge Furtado & Carlos dona (Fábio Barreto, 1998), mas, no que res-
Gerbase, 1994). Estas resultaram respectiva- peita à comunidade simbólica ligada nos te-
mente em versões seriais estetizadas, aquém mas regionais, o filme projeta as belas ima-
das narrativas literárias, mas convém admi- gens da praia de Jericoacoara (Ceará), reduto
tir, registram novos e inusitados enfoques do ecológico povoado por turistas do mundo in-
Nordeste e permitem o acesso do grande pú- teiro, em que visualizamos os processos in-
blico aos clássicos regionais. Mesmo con- terativos de sociabilidade entre os nativos e
siderando que estas adaptações impliquem os estrangeiros.
em perda da qualidade narrativa, estética, Os cenários paradisíacos explorados na te-
cognitiva, cabe aos especialistas em educa- ledramaturgia estão a serviço de um esquema
ção, semiótica, história, midiologia se debru- de “merchandising cultural”, ou seja, de uma
çarem sobre estes formatos decodificando a operação financeira e publicitária, visando
nova significação das obras com temas regi- ampliar os mercados locais através da di-
onais mediadas pelos dispositivos tecnológi- vulgação turística. Todavia, numa mirada
cos. Fundamentalmente, tais obras, a partir antropológica, percebemos que a exibição
de novos registros (numéricos, digitais, te- dos recantos ecológicos nas regiões distan-
lemáticos), asseguram a reprodutibilidade e tes dos centros urbanos não deixa de consti-
o consumo de representações qualificadas, a tuir uma extraordinária oportunidade para o
reedição das narrativas em função das esco- acesso a um reconhecimento do Brasil pro-
lhas temáticas pelos pesquisadores e a utili- fundo e suas alteridades e entrelaçamentos
zação dos signos do Nordeste irradiados na culturais. Isto ocorreu durante a realização
midiosfera a serviço da experiência educa- da novela Final Feliz (Ivani Ribeiro, 1982),
tiva. focalizando as comunidades pesqueiras em
Riacho Doce consiste numa obra literária luta contra a opressão dos poderes locais, nas
considerada “menor” na bibliografia de José praias de Fortaleza; por sua vez, a telenovela
Lins do Rego, que ganhou matizes edulco- Celebridade (Gilberto Braga, ano), exibiu a
ecologia exuberante da cidade de João Pes-

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Imagens do Nordeste Brasileiro na Idade Mídia 11

soa, os mercados da moda, o artesanato lo- do realismo social, que se desloca do regio-
cal, a culinária típica e as suas manifestações nal ao universal, do local ao global e man-
culturais recentes em que se misturam o ar- tém uma força poética vigorosa ao retratar
caico e o ultramoderno. de maneira nobre e sensível uma realidade
Tieta do Agreste, uma adaptação do li- histórico-social, que permanece miserável,
vro de Jorge Amado, por Aguinaldo Silva, devastada pelas intempéries da natureza e
(1990), por sua vez, consiste num produto pela ineficácia das gestões governamentais,
bem sucedido da teledramaturgia pela cria- e sempre instigando novos olhares críticos
ção artística, que abre um espaço oportuno à e contemplativos no cinema, com Aruanda
revisitação dos recortes regionais. Repete- (Linduarte Noronha, 1959), O país do São
se aqui, um flagrante da utilização dos re- Saruê (Vladimir de Carvalho, 1971) até Ci-
cursos naturais de maneira predatória, a de- nema, aspirinas e urubus (Marcelo Gomes,
núncia exploração do trabalho braçal, a ira 2005) e na televisão com Gabriela (1975),
das autoridades locais ameaçadas pela lógica Senhora do Destino (2004) e Hoje é dia de
do progresso e do desenvolvimento. A crí- Maria (2005).
tica social reapareceria no enredo da tele-
novela Porto dos Milagres (2001), em que
9 Processos intermidiáticos e
os pescadores se organizam em cooperati-
vas, driblando a armadilhas dos atravessa- sociedades multiculturais
dores, além de satirizar às disputas místico- Há séries muito expressivas que chegam às
religiosas entre as beatas puritanas da igreja novas gerações através das linguagens audi-
católica e as filhas de santo no cenário de ovisuais e nos interessam aqui, na medida
uma suposta cidadela no litoral da Bahia. em pontuam novos processos intersemióti-
Num outro registro, encontramos a obra cos (falas, escutas, olhares) e intermidiáti-
de João Cabral de Melo Neto, Morte e Vida cos (cinema, televisão, vídeo, DVD), defla-
Severina (1956), adaptada pela televisão, grando poéticas tecnológicas de qualidade
num Caso Especial (Walter Avancini, 1981), e naturalmente solicitam novas apreciações
mostrando as imagens do Nordeste focali- no campo da pesquisa. Seja pela sua força
zado por meio de uma ética-estética do re- poética, discursiva, imagética, seja pela po-
alismo social, revelando os signos da indig- tencialidade das inserções históricas que nos
nação e revolta. Retrata-se a pobreza, o in- aproximam das narrativas nordestinas, mi-
fortúnio dos homens e mulheres, mas isto se grando da literatura para os espaços imagís-
faz com dignidade; a força poética da nar- ticos, o que não deixa de estimular novos há-
rativa advém do modo como aqui se lança bitos de leitura.
um olhar sobre o homem, a terra e a luta É pertinente remontar aqui à figura do can-
pela sobrevivência, com respeito, compaixão gaceiro, uma referência incontornável nas
e delicadeza. Morte e Vida Severina retratou histórias do sertão nordestino, presentes no
as imagens sublimes do Nordeste Brasileiro, espectro de uma vasta literatura regionalista,
transformando o cenário de seca, fome, vio- mas igualmente transposta para a linguagem
lência e desolação em configurações poéticas do cinema, conforme podemos comprovar
arrebatadoras. Consiste num registro solene

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12 Cláudio Cardoso de Paiva

em obras cinematográficas como O Canga- para a cultura audiovisual, como Gabriela


ceiro (Lima Barreto, 1952), Deus e o Di- Cravo e Canela (1975), Dona Flor (Dias
abo na Terra do Sol (Glauber Rocha, 1964), Gomes, 1988), Tereza Batista (1992) e Porto
Corisco e Dada (Rosemberg Cariry, 1996), dos Milagres (2001), projetam as imagens,
Baile Perfumado (Paulo Caldas & Lírio Fer- sons e textualidades do sincretismo do nor-
reira, 1997). Trata-se de um tema que ser- deste católico e pagão, resgatando as ema-
viu de argumento para a primeira minissé- nações étnicas das tribos, indígenas, cabo-
rie da Rede Globo, com o título de Lampião clas e africanas que compõem a essência da
e Maria Bonita (Doc Comparato & Agui- nossa mestiçagem cultural. Como espécies
naldo Silva, 1982). E no que concerne aos de crônicas de uma festa anunciada, as obras
deslocamentos do cangaço para a ecologia de Jorge Amado transcritas para o cinema e
televisiva, mais importante talvez seja apre- para a televisão são traduções extraordiná-
ciar a maneira como se traduzem em diver- rias da dimensão dionisiana da cultura bra-
sos tempos históricos, em recortes regionais sileira. Em diversas passagens, a obra de
e culturais distintos, o sentido da experiên- Jorge Amado certamente agrega matizes po-
cia da luta dos cangaceiros, principalmente pulistas, mas não deixa de fazer a denúncia
na época da violência e do crime global, em do Nordeste clientelista dos coronéis, os di-
que os discursos de rebeldia e transgressão tos crimes em defesa da honra, focalizando a
ganham novos significados e assumem novos miséria, a feiúra, o grotesco, sem esquecer a
espectros, irradiam novas significações ideo- dimensão da beleza, da exuberância, da car-
lógicas e sofrem duras resistências por parte navalização nordestina.
de uma sociedade abandonada pelo Estado
neoliberal que transfere as suas responsabili-
10 Sincronicidade dos processos
dades para a esfera privada.
No nível da forma, seria pertinente obser- midiáticos e matrizes
var como o cancioneiro, as trilhas sonoras, culturais
a imagens acústicas nos permitiriam detec-
Encontramos uma outra perspectiva do Nor-
tar as modulações de oralidade que traduzem
deste na narrativa de Ariano Suassuna, O
os discursos sobre essa camada da nordes-
Auto da Compadecida (1955), adaptada para
tinidade, representada pelos marginalizados
a televisão, por Guel Arraes, Adriana &
pela sociedade. E caberia apreciar como este
João Falcão (1999), para o cinema e DVD
conjunto de signos e representações verbais,
(2000). A narrativa exibe o universo nordes-
imagísticas e visuais nos levaria a um enten-
tino numa visada multidimensional porque
dimento do conflito secular nordestino, que
exibe as angulações do sublime, grotesco,
longe de ter se concluído assume novas con-
histórico, mitológico, cujas emanações esté-
figurações a partir dos atuais processos mi-
ticas, catárticas, libertárias, salientam os re-
gratórios, em que se redefinem os papéis dos
gimes de oralidade atualizando a memória
coronéis, matadores de aluguel, latifundiá-
coletiva e exprime estratégias de politização
rios, posseiros e sem terra, no nordeste glo-
do cotidiano pelas camadas desfavorecidas,
balizado.
que não cessam de promover os exercícios da
As narrativas de Jorge Amado adaptadas

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Imagens do Nordeste Brasileiro na Idade Mídia 13

“carnavalização”, conforme escreve BAKH- gunda metade do século XX) de maneira si-
TIN (1981). multânea. O vídeo-cassete, o CD-ROM, o
Convém chamar a atenção dos intérpre- DVD - por sua vez - como eficazes meios in-
tes da história da cultura brasileira para a terativos têm permitido à novíssima geração
formação de uma moderna tradição no con- acessar aos diversos períodos na história da
texto das representações do Nordeste, no ci- cultura nordestina. Logo, convém aceitar o
nema, na televisão e em outras artes tecnoló- fato de que a natureza técnica da hipermídia
gicas como a internet, que geram constante- instiga novas molduras, representações, lei-
mente modalidades de cidadania e sociabili- turas e interpretações das culturalidades lo-
dade, conforme sugerem os estudos de BAR- cais.
BÉRO (2001). Os autores, pesquisadores e intérpretes
Um trabalho como O auto da Compade- contemporâneos têm ao seu dispor um reper-
cida, em suas diversas mediações poético- tório formidável de informações (imagens,
tecnológicas, é produto de uma experiên- sons e textos) que lhes permitem atualizar a
cia dialógica tramada entre gerações distin- história das culturas locais, usando inclusive
tas (de Ariano Suassuna e de Guel Arraes), as tecnologias globais. E o mais importante,
que ganha visibilidade e se torna mais aces- nessa experiência de releitura e interpreta-
sível através de linguagens sedutoras para as ção é que os novos sistemas de pensamento,
platéias midiatizadas, levando a uma com- as mediações tecnológicas e as ações sociais
preensão das maneiras específicas do pensar, interativas não cessam de produzir sentido,
falar e agir do Nordeste. adicionando novas camadas à espessura das
Cumpre notar a força poética das ficções significações nordestinas. Então, cumpre de-
televisivas em diálogo com o chamado “ci- cifrar o sentido das obras de arte tecnológi-
nema da retomada”, com Lisbela e o Pri- cas como O auto da compadecida, Lisbela
sioneiro (Guel Arraes, 2003) e O coronel e e o prisioneiro e O coronel e o Lobisomem,
o Lobisomem (2005), ambos originalmente que consistem em ícones reveladores das tra-
produtos televisivos, que refazem as tramas mas políticas, mitológicas, religiosas, histó-
intertextuais misturando os signos do cor- ricas e carnavalescas do Nordeste. Esta vi-
del, rockpop e processos folkmidiáticos, por gorosa produção ganha importância ao reco-
meio das narrativas ágeis do cinema, do vi- nhecermos que constitui uma parte privile-
deoclipe e da televisão, respondendo à sensi- giada do repertório audiovisual, completado
bilidade das novíssimas gerações, cujos refe- pelo cinema, pois a filmografia recente tem
renciais étnico-acústicos, audiovisuais, tele- apresentado outras visões do Nordeste; in-
máticos são produtos de um hibridismo cul- cluindo os documentários, ficções, adapta-
tural marcante. ções e roteiros originais.
Após a literatura e os audiovisuais, no ter-
ceiro tempo da história da cultura do Nor-
deste, as hipermídias apareceram oportuna-
mente possibilitando revisitações da tradição
cultural nordestina (do século XIX até os
anos 50) e a modernização regional (na se-

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14 Cláudio Cardoso de Paiva

11 Interfaces do Cinema e da 12 Conjunção e rivalidade das


Ficção Televisiva artes tecnológicas
No século XXI, a dita “retomada do cinema Os filmes (como Guerra de Canudos, Ca-
brasileiro”, graças ao agenciamento de al- randiru, Bicho de Sete Cabeças) e as fic-
guns dispositivos institucionais e financeiros ções televisivas (como Lampião e Maria Bo-
(desativados na gestão do Presidente Collor), nita, O auto da compadecida, Lisbela e
traz boas novas ao cenário cultural, em co- o prisioneiro Moura) possuem a caracterís-
nexão simultânea com a programação tele- tica comum de promoverem uma simboli-
visiva, abrindo novas janelas para uma con- zação fidedigna da realidade social do Nor-
templação das imagens do Nordeste. deste (e dos nordestinos), na tela e no ví-
Amarelo Manga (2003), Baile Perfumado deo. Distinguem-se basicamente pela se-
(1997), Eu, Tu, Eles (2000), Guerra de Ca- rialidade da televisão e a unicidade do ci-
nudos (1997), Lisbela e o prisioneiro (2003), nema, pelas condições de produção, distri-
O Coronel e o Lobisomem (2005). Central buição e consumo de cada um dos veículos.
do Brasil (1998), Abril Despedaçado (2001), Diferenciam-se igualmente pelos rituais ci-
No caminho das nuvens (2003), entre outros nematográficos, de exibição na tela grande,
consistem em iconografias importantes por- recepção na sala escura e projeção contínua
que registram um percurso da história das da narrativa e pelas modalidades de consumo
imagens do Nordeste no campo da comuni- da teledramaturgia, através da “telinha”, na
cação visual, a partir de orientações éticas tranqüilidade da recepção doméstica e exi-
e estéticas, culturais e políticas renovadoras, bição descontínua entrecortada pelos recla-
distinguindo-se das produções das gerações mes publicitários. No caso do Brasil, con-
precedentes. vém relembrar que o campo da teledrama-
A relação do cinema com a televisão turgia constitui uma megaestrutura industrial
tem sido historicamente ambígua, marcada e mercadológica, enquanto que o cinema na-
pela rivalidades e cumplicidades, subtrações cional tem enfrentado inúmeras crises infra-
e complementaridades, disputas acirradas, estruturais, mas tem demonstrado uma pro-
mas convém perceber que existem contribui- dução revigorada, também pela junção orga-
ções mútuas no diálogo entre os cineastas e nizacional com a indústria da televisão. E
os novelistas, entre os roteiristas de cinema sem querer aprofundar uma discussão sobre
e os escritores da televisão, artistas da tele- as conjunções e disjunções entre estas duas
visão e do cinema. E interessa aqui sondar modalidades de arte tecnológica, buscamos
em que medida a hibridação entre os gêne- traçar algumas linhas de argumentação sobre
ros pode repercutir numa linha evolutiva das os modos como se constroem as formas de
artes visuais, fisgando as imagens e sons do identidade e alteridade cultural do Nordeste,
Nordeste, empenhados numa postura voltada no campo da teledramaturgia e simultanea-
para decifrar as tramas estruturais e conjun- mente no campo da cinematografia nacional.
turais da cultura nordestina. Importaria aqui nos determos sobre a ma-
neira como o repertório dos audiovisuais re-
trata a experiência cotidiana de ambos os

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Imagens do Nordeste Brasileiro na Idade Mídia 15

gêneros, discutindo os modelos antigos do local conforme sinaliza a etnografia de GE-


patriarcado e a perspectiva feminista, como ERTZ (1997); as estratégias do mercado as-
nos filmes Eu, Tu, Eles, Dona Flor e Ci- sumem um papel hegemônico em detrimento
dade Baixa e em produtos da teledramaturgia da participação do Estado nas questões soci-
como Roque Santeiro, A Indomada e Tieta ais, econômicas e culturais, mas os agentes
do Agreste. A ficcionalidade tem acionado culturais permanecem atentos para as opor-
efetivamente alguns dispositivos favoráveis a tunidades críticas e criativas, como indica
um relaxamento das tensões entre ambos os JAMESON (2004); a experiência do con-
sexos e, deste modo, implica numa politiza- sumo passa a ser vista não somente como
ção dos afetos entre os parceiros. De maneira efeito de uma “globalização perversa”, mas
contundente, a ficção brasileira propicia uma como uma possibilidade de articulação das
desmontagem da ideologia patriarcal e ma- estratégias de subjetividade e de sociabili-
chista, remetendo aos novos estilos de fami- dade, como sugerem MAFFESOLI (1995) e
lia, tribalização, afetividade e sociabilidade. FEATHERSTONE (1995).
O mal-estar da civilização, neste con-
texto da “pós-modernidade” ou da “mo-
13 Para concluir
dernidade líquida”, assume novos matizes,
Vislumbramos no contexto histórico con- levando às novas formas de resistência e
temporâneo a inscrição de novos olhares (no intervenção estéticas, políticas, cognitivas,
cinema e na televisão) sobre a cultura tradi- artístico-culturais, conforme enuncia BAU-
cional e as obras literárias, através dos quais MAN (1998). Assim, aparecem novas ex-
reconhecemos as antigas imagens da histó- pressões de visibilidade e dizibilidade, pos-
ria formando novas comunidades de leitores síveis apenas a partir dos novos estilos de
e telespectadores. Percebemos igualmente reprodutibilidade, interconectividade e das
a formação de uma “nova cultura moderna” emergentes formas de interação social na
que atualiza as expressões tradicionais da so- cultura contemporânea.
ciedade nordestina. A literatura, o jornal, o O tema das culturas locais se faz pre-
rádio e o cinema traduziram modernamente sente na articulação dos discursos que cons-
as especificidades culturais do nordeste bra- tituem a tradição cultural nordestina e bra-
sileiro; hoje, novas configurações são reve- sileira e reaparece no contexto da sociedade
ladas na dita cultura “pós-moderna”, em que de consumo através de outras formas dis-
se instaura um diálogo entre a força da tradi- cursivas. Tudo isso tem sido revisto com
ção e a crítica da modernidade, de maneira a revolução digital, desde anos 90, quando
transversal e dialógica, os intelectuais, es- a tradição pode reencontrar a modernidade.
tetas, pedagogos e críticos da cultura atu- Hoje, modulando uma linguagem popular de
alizam as suas estratégias de ação através massa, com todos os seus sincretismos téc-
dos multimeios comunicacionais e suas múl- nicos, religiosos, estéticos e comportamen-
tiplas interconexões (literatura, cinema, ví- tais, os meios de informação e comunicação
deo, internet, DVD, CD-ROM). Neste cená- liberaram o inconsciente da cultura. E o que
rio novos elementos se introduzem, modifi- se conhecia como efeito de uma colonização
cando as modalidades do saber e do poder interna, em termo de hegemonia econômica,

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16 Cláudio Cardoso de Paiva

política e cultural do Sul sobre o Norte, hoje e política, através do recurso da ficcionali-
se presta a uma rediscussão, pois as estra- dade; a exploração do imaginário midiático,
tégias de globalização se difundem em vá- eletrônico, telemático e informacional con-
rios sentidos e direções, e é oportuno se vis- siste numa forma atualizada de se debater a
lumbrar as oportunidades abertas pelos no- equação antiga envolvendo as estruturas do
vos fluxos midiáticos e informacionais, que poder e o campo da comunicação.
surpreendentemente, podem modificar, para
melhor, as instâncias da vida cultural e polí-
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