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Mara Morelo
Rocha Felix1, Alergia à penicilina: aspectos atuais
Fábio Chigres
Kuschnir2
Penicillin allergy: current aspects
> RESUMO
Objetivo: Revisar os principais mecanismos imunopatológicos e apresentar uma abordagem prática para o diagnóstico
e conduta da alergia à penicilina. Métodos: Revisão não sistemática de artigos originais e revisões indexadas nas bases
MEDLINE e LILACS, além de textos clássicos que tratam do tema. Os seguintes descritores foram utilizados: hipersensibilidade
a drogas, agentes antibacterianos, penicilina, febre reumática, adolescentes. Resultados: A penicilina é um antibiótico
amplamente utilizado na prática clínica com uma incidência de reações alérgicas estimada em 2% por curso de tratamento.
Entretanto, a percepção geral de alergia a este medicamento é de 10 a 15%. Convém ressaltar sua importância na prevenção
da febre reumática e no tratamento da sífilis congênita, doenças ainda bastante prevalentes no nosso país e que constituem
importante problema de saúde pública. A penicilina pode causar reações através de todos os mecanismos imunológicos
descritos por Gell & Coombs. Além da história clínica, os testes diagnósticos in vivo e in vitro são úteis para esclarecimento
dos casos suspeitos de alergia à droga. Conclusão: Muitos indivíduos são falsamente rotulados como alérgicos à penicilina.
A utilização das ferramentas disponíveis para o diagnóstico correto permitirá o uso seguro deste medicamento de elevada
eficácia e baixo custo.
> PALAVRAS-CHAVE
Penicilina, alergia, hipersensibilidade a drogas.
> ABSTRACT
Objective: To review the main immuno-pathological mechanisms and present a practical approach to the diagnosis and
treatment of penicillin allergies. Methods: non-systematic review of original articles and reviews indexed in the MEDLINE
and LILACS databases, in addition to classical texts on this subject. The descriptors used were: drug hypersensitivity, anti-
bacterial agents, penicillin, rheumatic fever and adolescents. Results: Penicillin is widely used in clinical practice, with
an incidence of allergic reactions estimated at 2% per course of treatment. However, the general perception of allergy
to this medicine is between 10% and 15%. Its importance must be stressed for preventing rheumatic fever and treating
congenital syphilis, which are diseases still quite prevalent in Brazil, constituting major public health problems. Penicillin can
cause reactions through all the immunological mechanisms described by Gell & Coombs. In addition to clinical history, in
vivo and in vitro diagnostic tests are useful for exploring suspected cases of allergy to this drug. Conclusion: Many people
are wrongly labeled as allergic to penicillin. Using the tools available for correct diagnosis will allow the safe use of this
medication of high efficacy and low cost.
>
KEY WORDS
Penicillin, allergy, drug hypersensitivity.
1
Mestre em Clínica Médica, Setor de Saúde da Criança e Adolescente da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Médica do Setor
de Alergia e Imunologia Pediátrica do Hospital Federal dos Servidores do Estado – RJ.
2
Doutor, Professor da Disciplina de Pediatria da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e do Programa de Pós-Graduação em
Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFRJ.
Mara Morelo Rocha Felix (maramorelo@gmail.com) – Av. Maracanã, 1523/104, Tijuca – CEP: 20511-000 – Rio de Janeiro – RJ
Recebido em 15/08/2011 - Aprovado em 10/09/2011
Adolescência & Saúde Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, p. 43-53, jul/set 2011
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se hepática por acetaminofeno. Efeitos colaterais tipo I é mediado por anticorpos do tipo IgE. São
são as reações adversas mais comuns. Ocorrem as reações imediatas, do tipo anafilático como,
em doses usuais e são decorrentes das ações far- por exemplo, a urticária, o angioedema e a ana-
macológicas da droga diferindo do efeito tera- filaxia. As reações de hipersensibilidade do tipo II
pêutico desejado, como por exemplo sedação são mediadas por anticorpos IgG e IgM, e tam-
com anti-histamínicos de primeira geração. Os bém por complemento. São as chamadas reações
efeitos secundários são consequências indiretas citotóxicas, como, por exemplo, as citopenias
da ação farmacológica primária da droga, como imunes (anemia hemolítica, trombocitopenia) e
por exemplo clindamicina levando à colite pseu- algumas inflamações de órgãos. As reações de
domembranosa por Clostridium difficile. A intera- hipersensibilidade do tipo III são mediadas por
ção medicamentosa é definida como a modifica- imunocomplexos, com a participação do sistema
ção do efeito de uma droga pelo uso anterior ou complemento. Exemplos deste mecanismo são as
concomitante de outra medicação, por exem- vasculites e a doença do soro. Por último, o me-
plo, eritromicina e fluconazol3,10. canismo de hipersensibilidade do tipo IV é me-
As reações não previsíveis correspondem a diado por células. São as reações tardias, como a
20-25% das reações adversas a drogas. Hiper- dermatite de contato e alguns exantemas10.
sensibilidade (alergia) é definida como uma re- Pichler e colaboradores propuseram uma
ação imunologicamente mediada no paciente subclassificação das reações do tipo IV de Gell &
previamente sensibilizado. A idiossincrasia é ca- Coombs. O tipo IVa seria determinado por um pa-
racterizada como um efeito não esperado e não drão Th1, semelhante ao que ocorre em resposta
relacionado à ação farmacológica do medica- à tuberculina. O tipo IVb seria constituído por um
mento, por exemplo, dapsona causando anemia padrão Th2, com níveis elevados de IL-5 e eosinofi-
hemolítica em um paciente com deficiência de lia. O tipo IVc seria constituído por células T CD4+
G6PD. A intolerância é o efeito indesejado que citotóxicas, que contêm citolisinas, e estão presen-
ocorre com doses pequenas ou terapêuticas de tes no exantema maculopapular, e por células T
um medicamento, por exemplo, tinnitus induzi- CD8+ que, além de conter citolisinas, expressam
do pela aspirina. As reações pseudo-alérgicas ou Fas-Ligante (mediador de apoptose) quando ati-
anafilactoides são reações sistêmicas imediatas, vadas, como ocorre no exantema bolhoso. O tipo
com quadro clínico semelhante ao da anafila- IVd seria determinado por células produtoras de
xia, porém não são mediadas por IgE, como por IL-8 (fator quimiotático de neutrófilos), levando ao
exemplo, reações por contraste iodado3,10. Atu- acúmulo de neutrófilos nas lesões12.
almente, o termo anafilactoide está em desuso, A penicilina pode causar reações através de
pois a reação requer tratamento semelhante ao todos mecanismos descritos acima10.
da anafilaxia mediada por IgE.
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sem angioedema, e anafilaxia. A urticária carac- 30% na NET, com uma sobreposição SJS/NET
teriza-se por pápulas pruriginosas transitórias quando o destacamento cutâneo está entre 10 e
disseminadas pelo corpo6, 7. A anafilaxia é defi- 30%. A taxa de letalidade é cerca de 10% na SJS
nida como sendo uma reação alérgica grave, de e maior que 30% na NET18.
início rápido e que pode levar ao óbito. O pa- A síndrome de hipersensibilidade a drogas
ciente pode apresentar sintomas como prurido ou DRESS (drug rash with eosinophilia and syste-
nas palmas e plantas que se torna generalizado, mic symptoms) é uma doença sistêmica grave
eritema, urticária, dispneia, hipotensão, taqui- caracterizada por exantema macular, edema
cardia e perda da consciência6. centrofacial eritematoso, mal-estar, febre, linfa-
As reações imediatas são geralmente IgE- denomegalia e envolvimento de outros órgãos,
mediadas, e frequentemente direcionadas con- incluindo hepatite e nefrite, respectivamente em
tra os determinantes antigênicos secundários da 50% e 10% dos casos e, mais raramente, pneu-
penicilina2, 3. Entretanto, é importante lembrar monite, colite e pancreatite. A eosinofilia é um
que algumas reações IgE-mediadas podem ocor- achado importante (> 1,5 x 109 eosinófilos/L). A
rer após 1 hora da administração da droga18. taxa de letalidade é de aproximadamente 10%.
É interessante notar que a DRESS é causada por
B) TARDIAS um número limitado de drogas, como os anti-
As reações tardias ou não imediatas ocor- convulsivantes, alopurinol e as sulfonamidas. Os
rem após 1 hora da administração, e envolvem beta-lactâmicos não são comumente relatados
um amplo espectro de patologias. São as rea- como causa desta reação, porém já existem rela-
ções mais comuns, sendo frequentemente me- tos de casos após o uso deste grupo de antibióti-
diadas por células T18. cos, principalmente as cefalosporinas19.
O tipo mais frequente é a erupção macu- Outras reações de hipersensibilidade de
lopapular ou morbiliforme, caracterizada por aparecimento tardio são a nefrite intersticial, as
máculas e pápulas eritematosas, afetando prin- citopenias e a doença do soro-símile. A doença
cipalmente tronco e extremidades proximais. É do soro apresenta manifestações como febre, ar-
observada em cerca de 2% dos pacientes hospi- tralgias, exantema macular e urticariforme, e lin-
talizados, e geralmente aparece após 2 a 9 dias fadenopatia. Anteriormente, com o uso de soro
da introdução da droga18. heterólogo, era comum o seu aparecimento 1 a
Uma doença rara que pode ser causada por 3 semanas após a administração deste compos-
aminopenicilinas é a chamada PEGA (Pustulose to imunobiológico. Atualmente, as penicilinas e
Exantemática Generalizada Aguda). Caracteriza- as cefalosporinas são as causas mais comuns de
se por pústulas cutâneas estéreis, de 1 a 3 mm doença do soro-símile, com um período de la-
de diâmetro, que aparecem após 3 a 5 dias de tência de 6 a 8 horas. Esta apresentação clínica
tratamento. Os pacientes apresentam febre e leu- geralmente é autolimitada, com duração média
cocitose importante, algumas vezes com eosino- de 1 a 2 semanas18.
filia. A taxa de letalidade está em torno de 4%18.
Outras duas patologias extremamente gra-
ves que podem ser causadas por drogas são as DIAGNÓSTICO DE >
síndromes de Stevens-Johnson (SJS) e a necrólise ALERGIA À PENICILINA
epidérmica tóxica (NET) ou síndrome de Lyell.
São caracterizadas por exantema macular erite- O diagnóstico de alergia à penicilina deve
matoso ou purpúrico que evolui para formação ser avaliado, primeiramente, através de uma his-
de bolhas. As mucosas, mais comumente labial, tória clínica detalhada. Assim, pode-se classificar
genital e a conjuntiva ocular, estão envolvidas. as reações de hipersensibilidade em imediatas
A extensão da pele afetada é < 10% na SJS e > ou não imediatas.
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A reatividade cutânea IgE-mediada diminui ção sistêmica adversa durante o teste com peni-
com o tempo e os testes cutâneos diagnósticos cilina é menor que 1%20.
podem se tornar negativos. Por esta razão, é im- Estes testes não têm valor e não devem
portante avaliar o tempo entre a ocorrência da re- ser realizados em pacientes com história de re-
ação clínica e a avaliação pelo especialista. Outros ação não IgE-mediada grave à penicilina, como
dados relevantes são: idade; sexo; história pessoal por exemplo: hepatite, nefrite, síndrome de
de atopia e hipersensibilidade documentada a ou- Stevens-Johnson, necrólise epidérmica tóxica e
tras drogas; história familiar de alergia a drogas; dermatite exfoliativa grave13.
outras drogas usadas no momento da reação; a Os consensos sobre a realização dos tes-
patologia para a qual o paciente estava tomando tes aconselham a realização dos mesmos entre
a medicação; a última vez que o paciente tolerou 6 semanas e 6 meses após a reação aguda de
qualquer tipo de beta-lactâmico; quantos dias de hipersensibilidade, pois o intervalo após a rea-
tratamento e qual a dose que o paciente estava ção permite a resolução dos sintomas clínicos e
tomando antes da reação; qual foi o tratamento o clearance da droga suspeita17.
da reação e a ocorrência de episódios prévios de Algumas medicações devem ser descon-
reação à penicilina e outros beta-lactâmicos6. tinuadas antes da realização dos testes, como
por exemplo: anti-histamínicos, cinco dias, e
β-bloqueadores, 48 horas. Os glicocorticoides,
> TESTES PARA AVALIAÇÃO DE se utilizados em longo prazo, devem ser evita-
ALERGIA À PENICILINA dos por 3 semanas antes dos testes e, se utiliza-
dos por curto prazo, em altas doses, devem ser
A hipersensibilidade IgE-mediada é avalia- evitados por 1 semana. Os pacientes devem es-
da, além da história clínica, por testes diagnós- tar sem febre e sem qualquer doença infecciosa
ticos in vivo, que são os testes cutâneos de leitu- ou inflamatória ativa6, 17.
ra imediata (puntura e intradérmico) e in vitro Os testes cutâneos podem ter resultados
(dosagem de IgE específica sérica e o Teste de falso-positivos, ou seja, a resposta ao teste é in-
Ativação Basofílica). Alguns exames laboratoriais terpretada como positiva, mas o paciente não
como o Teste de Ativação Basofílica (baseado na desenvolve sintomas se reexposto à droga. Entre
quantificação por citometria de fluxo da expres- as possibilidades para ocorrência deste achado
são de CD63 ou CD203c induzida por drogas) temos: (1) o paciente é sensibilizado e pode ter
estão disponíveis apenas em centros especiali- anticorpos IgE específicos de baixa afinidade,
zados. Em casos selecionados, como etapa final que não levam à reação clínica; (2) a droga pode
no processo diagnóstico, o teste de provocação causar degranulação mastocitária espontânea
oral pode ser necessário. Mais frequentemente, (ex. opiáceos ou quinolonas); (3) o reagente do
estes testes são realizados para estabelecer uma teste está muito concentrado; (4) o paciente pos-
alternativa segura de tratamento18. sui dermografismo; (5) interpretação errônea do
teste, com leitura do eritema e não da pápula; (6)
A) TESTES CUTÂNEOS DE LEITURA IMEDIATA ausência de controles negativos e positivos17.
Os testes cutâneos de leitura imediata são Os testes também podem ter resultados fal-
rápidos, de fácil execução, baixo custo e segu- so-negativos. As causas podem ser as seguintes:
ros. Para avaliação de alergia à penicilina é o mé- (1) aplicação de pequena quantidade de antíge-
todo mais conveniente e adequado13. De qual- no, seja por diluição inapropriada ou perda de
quer modo, é essencial que estes testes sejam potência; (2) técnica inapropriada, ex: introdu-
realizados por pessoal treinado e em ambiente ção inadequada de antígeno; (3) efeitos de medi-
com suporte adequado para reversão de uma cações que bloqueiam a resposta, como os anti-
eventual reação anafilática. A incidência de rea- histamínicos; (4) leitura inadequada do teste17.
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É importante lembrar que alguns dos cofa- eleva a sensibilidade para 70%. Por outro lado,
tores presentes no momento da reação, como, a especificidade individual de cada reagente é
por exemplo, infecções virais ou interações com estimada em 98-99%, e de 97% quando utili-
outras drogas, podem não mais estar presentes zados em conjunto6.
no momento do teste17. Estima-se que a penicilina G ou benzilpe-
Atualmente, em nível mundial, somen- nicilina, utilizada como reagente único, é capaz
te dois laboratórios comercializam os reagen- de identificar em torno de 15% dos indivíduos
tes para investigação de hipersensibilidade à sensíveis, sendo estes pacientes mais propensos a
penicilina21,22. O Ministério da Saúde do Brasil desenvolver reações anafiláticas graves à penicili-
(MS) recomenda como alternativa diagnóstica na13. Embora apresente baixa sensibilidade, como
a utilização do teste com penicilina G potássi- os demais reagentes utilizados, a especificidade
ca (benzilpenicilina) na concentração 10.000 dos testes cutâneos com penicilina G potássica
UI/ml, uma vez que os reagentes PPL e MDM é alta, em torno de 95-97%, sendo de grande
não estão disponíveis comercialmente em nosso utilidade na exclusão do diagnóstico de alergia
meio. Outra solução sugerida pelo MS é a mistu- à penicilina23. Assim, na indisponibilidade do PPL
ra de determinantes menores, realizada através e MDM, o teste com penicilina G (10.000 UI/ml)
da mistura de benzilpenicilina e benzilpenicilo- pode ser considerado um teste compensatório24.
ato de sódio. Entretanto, os autores propõem Os testes devem ser realizados na superfície
na prática a realização do teste com penicilina volar do antebraço, iniciando-se com o teste de
G 10.000 UI/ml, pois o preparo desta solução é puntura. Aplica-se uma gota de cada reagente
disponível mesmo em serviços de menor com- com distância mínima de 2 cm. O preparo da so-
plexidade, diferentemente do preparo da MDM lução de penicilina G potássica 10.000 UI/ml está
que necessita de manipulação em laboratório13. descrito nos quadros 1 e 2. Utilizam-se ainda con-
A sensibilidade do teste cutâneo é estima- troles negativo (soro fisiológico) e positivo (clori-
da em 22% para o PPL e 21% para o MDM, drato de histamina - 10 mg/ml). A puntura deve
43% para a amoxicilina, e 33% para a ampi- ser feita com lancetas descartáveis e individuais
cilina. A combinação destes quatro reagentes para cada extrato e leitura após 15-20 minutos.
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São considerados positivos aqueles com pápulas siderado o “padrão-ouro” diagnóstico, porém
≥ 3 mm, na presença de controle negativo igual seu uso é limitado pela possibilidade de reações
a zero. Nos casos em que a puntura é negativa, graves e incontroláveis26.
realiza-se teste intradérmico (TID) com 0,02 ml Todo TPD deve ser precedido de uma ava-
de soro fisiológico e a penicilina G na mesma liação risco versus benefício individualizado. Não
concentração do teste de puntura. O TID é con- deve ser realizado em pacientes de alto risco,
siderado positivo se o tamanho da pápula inicial por exemplo: infecção aguda; asma não contro-
aumenta ≥ 3 mm após 15-20 minutos6,13. lada; comorbidades cardíaca, renal, hepática ou
outras; ou em gestantes. Exceção deve ser dada
B) DOSAGEM DE IgE ESPECÍFICA SÉRICA para pacientes cuja droga suspeita é indispen-
No diagnóstico de reações de hipersensibi- sável para o tratamento, como é o caso da sus-
lidade imediata à penicilina, dispomos ainda dos peita de alergia à penicilina em pacientes com
testes in vitro, como a dosagem de IgE específica neurossífilis ou sífilis gestacional26.
para penicilina G e V. Os métodos mais utiliza- As cinco principais indicações para realiza-
dos são os imunoensaios: ELISA (Enzyme Linked ção de TPD incluem: (1) excluir hipersensibilida-
Immunosorbent Assay), RIA (Radio Immunoassay) de na presença de história não sugestiva e em
ou FEIA (Fluorometric Enzyme Immunoassay), pacientes com sintomas inespecíficos; (2) esta-
e os mais validados são o RIA, principalmente belecer diagnóstico conclusivo na presença de
por RAST (Radio Allergosorbent Test), e o FEIA. história sugestiva, porém com testes diagnós-
Todos são baseados na detecção do complexo ticos negativos, inconclusivos ou indisponíveis,
hapteno-carreador-anticorpo. A desvantagem por exemplo, erupção maculopapular durante
do RIA é a utilização de um isótopo que necessi- tratamento com aminopenicilina; (3) excluir re-
ta de equipamentos laboratoriais especiais6. ação alérgica imediata, exemplo: paciente com
O método FEIA é disponível mundialmente e exantema após aminopenicilina e testes cutâne-
baseia-se no seguinte: a droga de interesse é aco- os e in vitro negativos; (4) fornecer uma alterna-
plada covalentemente ao ImmunoCAP® e reage tiva segura farmacologicamente ou droga não
com a IgE específica do soro do paciente. A con- relacionada na presença de hipersensibilidade
centração da IgE varia de 0,35 a 100 kUA/l, com confirmada, como por exemplo, possibilitar o
valor de corte ≥ 0,35 kUA/l para resultados posi- uso de outros antibióticos nos pacientes alérgi-
tivos e < 0,35 kUA/l para resultados negativos6. A cos aos beta-lactâmicos; (5) excluir reatividade
sensibilidade deste método varia de 37,9% a 54% cruzada de drogas relacionadas na presença de
e a especificidade de 86,7 a 100%7. hipersensibilidade confirmada, por exemplo, ex-
A maioria dos pesquisadores concorda que cluir reatividade à cefalosporina num paciente
os testes in vivo superam os testes in vitro, pois alérgico à penicilina26.
têm maior sensibilidade, menor custo e maior O TPD nunca deve ser realizado em pacien-
disponibilidade25. tes que tiveram reações graves a drogas, como
por exemplo: síndrome de Stevens-Johnson, ne-
C) TESTES DE PROVOCAÇÃO crólise epidérmica tóxica, síndrome de hipersen-
O teste de provocação a droga (TPD) é de- sibilidade induzida por droga (DRESS), vasculite,
finido como a administração controlada de uma nefrite, hepatite, entre outras26.
droga para diagnosticar reações àquela droga, Apenas em casos selecionados, como os
seja de natureza imunológica ou não. A vanta- citados anteriormente, haverá necessidade do
gem é que o TPD permite testar um paciente TPD. O paciente deve estar sob observação ri-
com seu metabolismo individual e respectivos gorosa e a equipe médica e o local devem estar
fatores imunogenéticos. Pode reproduzir sinto- preparados para o tratamento de uma eventual
mas alérgicos e outras reações adversas. É con- reação durante a realização do TPD26.
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