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TIPOS

SOCIETÁRIOS
AUTOR: JOÃO MANOEL DE LIMA JUNIOR

GRADUAÇÃO
2019.2
Sumário
Tipos Societários

1. ABERTURA.......................................................................................................................................................3

1.1 AULA 1 – APRESENTAÇÃO DO CURSO..................................................................................................................3

2. TIPOS SOCIETÁRIOS............................................................................................................................................6

2.1 AULAS 2 E 3 – CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES.....................................................................................................6

2.2 AULAS 4 E 5 – TIPOS SOCIETÁRIOS MENORES EXISTENTES NO DIREITO BRASILEIRO.......................................................14

2.3 AULA 6 – TIPOS DE SÓCIO..............................................................................................................................16

3. INTRODUÇÃO ÀS SOCIEDADES LIMITADAS EMPRESÁRIAS............................................................................................18

3.1 AULA 7 – SOCIEDADE LIMITADA – ORIGEM, OBJETIVO E CARACTERÍSTICAS..................................................................18

3.2 AULAS 8 E 9 – SOCIEDADE LIMITADA – CARACTERÍSTICAS E DELIBERAÇÕES SOCIAIS.......................................................21

3.3 AULAS 10 E 11 - SOCIEDADE LIMITADA – ADMINISTRAÇÃO......................................................................................31

3.4 AULA 12 – SOCIEDADE LIMITADA – COLIGAÇÃO SOCIETÁRIA, CONSELHO FISCAL, PREPOSTOS...........................................38

3.5 AULA 13 – SOCIEDADE LIMITADA – CONCENTRAÇÃO E DESCONCENTRAÇÃO SOCIETÁRIA..................................................44

4. REGIME JURÍDICO DA EIRELI...............................................................................................................................51

4.1 AULA 14 – FORMAS DE EXERCÍCIO SINGULAR DA ATIVIDADE ECONÔMICA ORGANIZADA..................................................51

4.2 AULA 15 – REGIME JURÍDICO DA EIRELI.............................................................................................................53

5. INTRODUÇÃO ÀS SOCIEDADES EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO.........................................................................................56

5.1 AULAS 16 E 17 – INTRODUÇÃO ÀS SOCIEDADES EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO...............................................................56

5.2 AULA 18 – APLICAÇÕES PRÁTICAS DA SCP..........................................................................................................57

6. INTRODUÇÃO ÀS SOCIEDADES ANÔNIMAS...............................................................................................................75

6.1 AULA 19 – SOCIEDADE ANÔNIMA – CONCEITO E ASPECTOS BÁSICOS..........................................................................75

6.2 AULAS 20 A 22 – SOCIEDADE ANÔNIMA – AÇÕES E CAPITAL SOCIAL...........................................................................77

6.3 AULA 23 – SOCIEDADE ANÔNIMA – PRINCIPAIS REGRAS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA DAS COMPANHIAS ABERTAS............82

7. ENCERRAMENTO DA ATIVIDADE EMPRESARIAL........................................................................................................88

7.1 AULA 24 – BAIXA DO REGISTRO DO EMPRESÁRIO INDIVIDUAL E PROCEDIMENTOS DE DISSOLUÇÃO, LIQUIDAÇÃO E EXTINÇÃO DA
SOCIEDADE EMPRESÁRIA...................................................................................................................................88
TIPOS SOCIETÁRIOS

1. ABERTURA

1.1 AULA 1 – APRESENTAÇÃO DO CURSO

APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR

OBJETIVO GERAL DO CURSO

Capacitar os(as) estudantes para reconhecer e buscar soluções para os


principais problemas jurídicos decorrentes do exercício de uma atividade
econômica organizada por sociedades empresárias.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Conhecer os aspectos legais, principais mecanismos de governança e as


controvérsias relacionadas ao exercício da atividade empresária segundo
os modelos e regimes jurídicos societários disponíveis no direito brasileiro
(tais como as sociedades limitadas, sociedades anônimas e as sociedades em
conta de participação).
Analisar o regime jurídico das sociedades limitadas e anônimas.
Desenvolver o raciocínio jurídico com a análise de casos práticos e,
sempre que possível, a realização de atividades em sala de aula.

MÉTODO

O método preponderante do curso será o de encontros expositivos-


dialogados. Contudo, poderão ser adotados outros tipos de encontros
ou dinâmicas de grupo por ventura considerados mais adequados aos
objetivos específicos de cada aula.

AVALIAÇÃO

A avaliação do curso será realizada por meio de duas provas e da nota


de participação.

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TIPOS SOCIETÁRIOS

Cada prova valerá até 10.00 pontos, a nota final da disciplina será (a) a
média aritmética das notas obtidas pelo(a) aluno(a) nas duas provas.
Caso algum(a) aluno(a) perca uma das provas, poderá realizar a
segunda chamada.
Os(as) alunos(as) que obtiverem média final maior ou igual à 4.00 e
menor ou igual à 7.00, deverão realizar a prova final da disciplina.

NOTAS INTRODUTÓRIAS

O presente material didático foi elaborado (e está em constante


reelaboração) com base na modestíssima premissa de funcionar como uma
primeira leitura, básica e deveras introdutória, de direito empresarial. A
presente apostila terá atingido seu objetivo se conseguir levar o(a) seu(sua)
leitor(a) a buscar o estudo e a análise detida do ordenamento jurídico
comercial brasileiro, da doutrina jurídica comercialista nacional e da
jurisprudência pátria sobre as atividades econômicas organizadas.

Com base na premissa acima identificada vale a pena colacionar,


pela pertinência e atualidade, a seguinte lição do Prof. Theophilo de
Azeredo Santos:

“PALAVRAS INICIAIS
Os Manuais Jurídicos, de largo uso na França (Précis, Leçons,
Cours) e na Itália (Lezioni, Corso, Appunti) são textos reduzidos
e sistematizados dos conceitos fundamentais em que se inspira a
disciplina versada.
Nos países em desenvolvimento, é patente a dificuldade de
os alunos adquirirem as obras reclamadas pelos professores, em
face do preço sempre crescente das obras didáticas, em função
do custo do papel.
Além do mais, a extensão da disciplina, o despreparo, a falta
de intimidade com o termos técnico-jurídicos, a ausência de estudos
sistemáticos por parte dos alunos tornam o ensino difícil, sem
objetividade e, para alguns, pode-se dizer, inútil, em virtude da
impossibilidade de a matéria ser assimilada.
A redação deste trabalho tem por escopo levar ao corpo discente
os princípios fundamentais, as noções básicas da disciplina que
lecionamos, iniciar os alunos no estudo do Direito Comercial,
abrindo-lhes perspectivas para estudo mais aprofundado.

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TIPOS SOCIETÁRIOS

Temos sustentado – e o correr dos anos aprofunda nossa convicção


– que as Faculdades de Direito não têm por finalidade formar
juristas, mas ajudar os alunos a estudar, a compreender os diversos
ramos da ciência jurídica, facilitando-lhes a percorrer, no futuro,
com maior profundidade, os mais diversos e complexos problemas
que a vida profissional lhes possa apresentar.
Este Manual – singelo no fundo e na forma – não tem a pretensão de
fazer de cada aluno um comercialista. Trata-se de esforço pedagógico
que tem por destinatário os alunos das Faculdade de Direito e por
finalidade oferecer, de maneira metódica e em linguagem acessível,
as noções básicas do Direito Comercial brasileiro, sem a pretensão se
inovar ou levantar novas teorias.
Não compreendemos ensino jurídico divorciado da realidade,
razão pela qual a parte prática (formulários, problemas, sínteses da
jurisprudência de nossos tribunais) há de contribuir para a melhor
compreensão dos ensinamentos teóricos.
A apreensão da legislação em vigor evitará, por parte dos alunos,
a procura, às vezes difícil, do texto legislativo vigente.
É óbvio que o estudo deste Manual não implica no abandono,
dos excelentes trabalhos de J. X. Carvalho de Mendonça,
Waldemar Ferreira, João Eunápio Borges e muitos outros, pois
traçamos, tão somente, um roteiro, a fim de facilitar os estudos e
pesquisas posteriores.
E dos Mestres e comercialistas aguardamos as sugestões para
tornar nosso trabalho à altura de suas finalidades. ” (Destaques
no original)

SANTOS, Theophilo de Azeredo (1970) Manual de


Direito Comercial. 3ª Edição. São Paulo: Forense.

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TIPOS SOCIETÁRIOS

2. TIPOS SOCIETÁRIOS

2.1 AULAS 2 E 3 – CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES

As sociedades reconhecidas pelo direito brasileiro podem ser classificadas


com base em diversos critérios diferentes.

Os principais critérios de classificação são:


1. Quanto à espécie;
2. Quanto à personalidade jurídica;
3. Quanto ao tipo de ato constitutivo;
4. Quanto à pessoa dos sócios;
5. Quanto ao regime de responsabilidade dos sócios;
6. Quanto à nacionalidade; e
7. Quanto ao prazo de duração.

CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES QUANTO À ESPÉCIE:

Segundo este critério de classificação, as sociedades podem ser “simples” ou


“empresárias”. As sociedades simples são aquelas que não detém o elemento
de empresa, ou seja, a consecução de seu objeto social não exige o exercício
de atividade econômica organizada.

OBS.: A distinção entre sociedades simples e empresárias adotada pelo CCB


substituiu a antiga distinção que existia entre as sociedades civis (regidas pelo
direito civil) e as sociedades comerciais (regidas pelo direito comercial) até a
promulgação do CCB.

Nos termos do artigo 982 do CCB, são sociedades:

Sempre são empresárias: as sociedades anônimas (artigos 1.088


e 1.089 do CCB e Lei das S.A.) e as sociedades em comandita
por ações (artigos 1.090 e 1.092 do CCB e Lei das S.A.); e

Sempre são simples: as sociedades cooperativas (art. 982, parágrafo


único, e arts. 1.093 a 1.096 do CCB e art. 3º da Lei 5.764/71) e
quaisquer sociedades que não tenham o elemento de empresa
(sociedade simples pura) ou que sejam consideradas como sociedades
simples por força de lei (sociedade de advogados, por exemplo).

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TIPOS SOCIETÁRIOS

Podem ser sociedades simples ou empresárias: as sociedades em nome


coletivo (arts. 1.039 a 1.044 do CCB), as sociedades em comandita
simples (arts. 1.045 a 1.051 do CCB) e as sociedades limitadas (arts.1.082
a 1.087 do CCB).

Nas sociedades que devem obrigatoriamente adotar a espécie simples


ou empresária, há uma presunção legal absoluta (juris et de jure) quanto
à eventual (in)existência de elemento de empresa.

Os atos constitutivos e demais atos societários das sociedades simples


são registrados perante o Registro Civil das Pessoas Jurídicas – RCPJ e os
atos constitutivos e demais atos societários das sociedades empresárias são
registrados perante a Junta Comercial competente. As Juntas Comerciais
são órgãos da administração pública estadual que estão materialmente
vinculadas à administração pública federal, pois seus procedimentos
devem seguir as diretrizes estabelecidas nas instruções normativas do
Departamento de Registro Empresarial e Integração – DREI, que é uma
repartição vinculada ao Ministério da Indústria, Comércio Exterior e
Serviços – MDIC.

Obs.: As sociedades de advogados são simples por força do artigo 15 da


Lei 8.906/94 e devem ser registradas perante a Seccional da Ordem dos
Advogados do Brasil da localidade da sede da sociedade de advogados. Desde
2016, os advogados podem constituir sociedades unipessoais de advocacia,
conforme as alterações introduzidas pela Lei nº 13.247 na Lei 8.906/94. Esta
inovação é importante porque marca o primeiro tipo de sociedade unipessoal
reconhecida no direito societário brasileiro.

CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES QUANTO À PERSONALIDADE JURÍDICA:

Podem ser personificadas ou despersonificadas. Inicialmente, vale


ressaltar que as sociedades, devidamente registradas perante o RCPJ
ou Junta Comercial, constituem um dos tipos de pessoas jurídicas
reconhecidas pelo direito brasileiro, nos termos do inciso II do artigo
44 do CCB.

As sociedades têm fins econômicos e são formadas por sócios, ao passo


que as associações (artigo 44, inciso I, do CCB) não têm fins econômicos
e são formadas por associados e as fundações (artigo 44, inciso III do
CCB) não têm fins econômicos e são formadas por um instituidor.

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TIPOS SOCIETÁRIOS

As sociedades personificadas têm o seu ato constitutivo registrado e as sociedades


despersonificadas não. O registro empresarial tem natureza jurídica constitutiva
e é essencial para conferir à nova pessoa jurídica a autonomia necessária para
segregar a sociedade das esferas patrimonial, obrigacional e processual de seus
sócios (arts. 45, 985 e 1.150 do CCB). Após o registro, a sociedade adquire a sua
própria autonomia patrimonial, obrigacional e processual.

São sociedades NÃO personificadas, ou seja, que não têm contrato


registrado perante o registro competente:

De modo temporário, as sociedades em comum (arts. 986 a 990 do CCB).


De modo permanente, as sociedades de fato e as sociedades em conta de
participação (arts. 991 a 996 do CCB). As sociedades de fato são aquelas onde
os sócios começam a agir como se tivessem formalizado uma relação societária,
porém não firmam contrato e o levam ao registro competente. Assim, os
sócios aparentam ter uma sociedade (uma relação “fática”, portanto), mas
não a tem formalizada juridicamente (sem uma relação “jurídica”, portanto).
Vale ressaltar que as sociedades de fato não constituem um tipo societário,
pois se trata de uma classificação doutrinária para uma situação observada na
prática empresarial.

Obs.: A sociedade em conta de participação não adquire é personalidade jurídica


nem mesmo se seus atos constitutivos forem levados à registro (art. 993 do CCB) ou
se for registrada perante o Cadastro Nacional das Pessoas Jurídicas – CNPJ para fins
tributários (Inciso XVII do artigo 4º da Instrução Normativa nº 1.634, expedida
pela Secretaria da Receita Federal do Brasil – RFB em 06 de maio de 2016.

CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES QUANTO À PESSOA DOS SÓCIOS:

Segundo este critério as sociedades podem ser classificadas de acordo


com os interesses predominantes dos sócios no momento do ingresso e
permanência na sociedade.

Nas sociedades de pessoas, prepondera o elemento pessoal, ou seja, o


ânimo subjetivo dos sócios de compartilhar os riscos da atividade econômica
entre si (affectio societatis).

Nas sociedades de capitais, prepondera o elemento financeiro, ou seja,


apesar dos sócios também ter affectio societatis, a mera relação patrimonial
que se estabelece entre os sócios e a sociedade é mais importante que qualquer
relação pessoal que eventualmente (in)exista entre os sócios.

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TIPOS SOCIETÁRIOS

A sociedade anônima, cujo capital é constituído por ações e não por


quotas é a sociedade de capitais por excelência. Contudo, a distinção entre
as sociedades de capital e de pessoas vem perdendo força na medida em que
passou a ser admitida a livre circulação das quotas (art. 1.003 do CCB) e,
alguns institutos típicos das sociedades de pessoas vêm sendo admitidos nas
sociedades de capitais. Por exemplo, cita-se a dissolução parcial das sociedades
anônimas fechadas (Vide, o Recurso Especial nº 1.400.264 – RS, julgado
pelo STJ em 24.10.17).

CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES QUANTO AO TIPO DE ATO


CONSTITUTIVO:

As sociedades podem ser contratuais ou institucionais/estatutárias. As


sociedades contratuais são constituídas por meio de contratos privados
mantido entre os sócios, ao passo que as sociedades institucionais a
sociedade é constituída e formalizada por meio de um estatuto. A
distinção básica entre as sociedades contratuais e as institucionais está
na proximidade e vínculo que existe entre os sócios e a sociedade, que
são altos nas sociedades contratuais e podem ser baixos nas sociedades
institucionais/estatutárias. Por exemplo, em uma sociedade contratual
com dois sócios administradores, o falecimento ou a retirada de um terá
um impacto muito grande nos negócios sociais, ao passo que em uma
sociedade institucional constituída por centenas de sócios, o falecimento
ou a retirada de um poderá ter impacto nulo nos negócios sociais.

São contratuais as sociedades simples (art. 997 do CCB), em nome


coletivo (artigos 997 e 1.041 do CCB), comandita simples (artigos 997,
1.040, 1.045, parágrafo único, e 1.046 do CCB) e limitada (artigos 997,
1.053, parágrafo único, e 1.054 do CCB).

São institucionais as sociedades por ações: sociedade anônima e


sociedade em comandita por ações (artigos 87, 94 e 251 da Lei das S.A.).
Estas sociedades são constituídas por meio de decisão em assembleia geral
de constituição e aprovação de um estatuto social.

Obs.: É importante distinguir o instituto (contrato), acordo de


vontades, do instrumento (meio físico) por meio do qual o contrato é
formalizado. Deste modo, os contratos ou estatutos sociais podem ser
firmados por instrumento particular ou por escritura pública.

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TIPOS SOCIETÁRIOS

CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES QUANTO AO REGIME DE


RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS

Para classificação das sociedades em relação ao regime de


responsabilidade dos sócios, deve-se, primeiro, verificar se as sociedades
em questão são personificadas ou não personificadas.

Para as sociedades personificadas, existem os regimes de responsabilidade


ilimitada, limitada ou mista. Nas sociedades cuja responsabilidade dos
sócios seja ilimitada, todos os sócios respondem pela integralidade das
obrigações sociais. Deste modo, a esfera patrimonial de qualquer dos
sócios poderá ser objeto de constrição judicial para cobrir qualquer
passivo à descoberto da sociedade.

Nas sociedades cuja responsabilidade dos sócios seja limitada, os sócios


somente responderão até o limite de sua participação no capital social da
sociedade. Nas sociedades que adotem regime misto de responsabilidade
financeira dos sócios, alguns sócios respondem ilimitadamente e outros
respondem de forma limitada.

Entre as sociedades personificadas, tem responsabilidade ilimitada, os


sócios da sociedade em nome coletivo (art. 1.039 do CCB) e os sócios das
sociedades simples cujo contrato social seja omisso em relação à limitação
da responsabilidade dos sócios (artigos 997, inc. VIII, 1.023 e 1.024).

Obs.: A regra geral de responsabilidade dos sócios nas sociedades


simples, é de responsabilidade ilimitada e subsidiária (artigos
1.023 e 1.024 do CCB), porém o contrato social pode prever
que a responsabilidade dos sócios é (a) ilimitada e solidária;
ou (b) limitada. É importante diferenciar a previsão da
limitação da responsabilidade dos sócios no contrato social
da adoção do tipo societário da sociedade limitada. No
primeiro caso, a responsabilidade é limitada, mas as regras
aplicáveis à sociedade são os artigos 997 a 1.038 do CCB.
No segundo caso, a responsabilidade é limitada, mas as regras
aplicáveis à sociedade são os artigos 1.052 a 1.141 do CCB
e, supletivamente, as regras aplicáveis às sociedades simples
(regra geral do direito societário brasileiro).

Entre as sociedades personificadas, tem responsabilidade limitada


os sócios da sociedade das sociedades limitadas (art. 1.052 do
CCB) e os sócios das sociedades anônimas (art. 1.088 do CCB).

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TIPOS SOCIETÁRIOS

Também podem ter responsabilidade limitada os sócios das sociedades


simples cujo contrato social preveja expressamente a responsabilidade
limitada dos sócios (art. 997, inc. VIII, do CCB).

Entre as sociedades personificadas, as sociedades em comandita


simples (art. 1.045 do CCB) e as sociedades em comandita por ações
(art. 1.091 do CCB e art. 282 da Lei das S.A.) tem um regime misto
de responsabilidade dos sócios. O regime é misto porque existem duas
categorias diferentes de sócios, os comanditados (com responsabilidade
ilimitada) e os comanditários com responsabilidade limitada ao valor
de suas quotas. O artigo 1.045 do CCB ilustra bem a distinção entre
as categorias:

Art. 1.045. Na sociedade em comandita simples tomam parte


sócios de duas categorias: os comanditados, pessoas físicas,
responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais;
e os comanditários, obrigados somente pelo valor de sua quota.

Obs.: a responsabilidade ilimitada dos sócios comanditados nas sociedades


em comandita simples é solidária e em comandita por ações é subsidiária.
Esta diferença resulta na impossibilidade de recurso aos bens dos sócios
comanditado nas sociedades em comandita por ações sem que antes tenham
sido esgotadas as possibilidades de cobrança judicial dos bens da sociedade.

Entre as sociedades não personificadas, todos os sócios da sociedade


em comum têm responsabilidade ilimitada e solidária (art. 990 do
CCB) e as sociedades em conta de participação têm um regime misto
de responsabilidade (art. 991 do CCB).

Obs.: Com base na regra geral de direito societário brasileiro (a regra


aplicável às sociedades simples), o sócio da sociedade em comum que
contrata pela sociedade fica excluído do benefício de ordem (art. 1.024
do CCB), podendo ser demandando judicialmente ou extrajudicialmente
pelo credor da sociedade independentemente de qualquer cobrança à
própria sociedade.

O regime de responsabilidade dos sócios das sociedades em conta


de participação é misto porque essa sociedade também tem duas
categorias diferentes de sócios: os sócios ostensivos e os sócios ocultos
(ou sócios participantes).

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TIPOS SOCIETÁRIOS

O sócio ostensivo contrata em nome próprio e, por isso, responde


perante terceiros não sócios de forma solidária e ilimitada (art. 991 do
CCB). Por outro lado, os sócios ocultos respondem de forma limitada ao
valor de suas quotas e exclusivamente perante o sócio ostensivo. Ou seja,
os sócios participantes não podem ser demandados por terceiros credores
da sociedade em conta de participação.

CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES QUANTO À NACIONALIDADE

Com base no critério da nacionalidade da sociedade, as sociedades


se dividem em sociedades nacionais (arts. 1.126 a 1.133 do CCB) e em
sociedades estrangeiras (arts. 1.134 a 1.141 do CCB).

Segundo este critério, são consideradas nacionais as sociedades que


tenham sido organizadas em conformidade com a lei brasileira e que
tenham as sedes de sua administração no Brasil.

CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES QUANTO AO PRAZO DE DURAÇÃO

Quanto ao prazo de duração, as sociedades se classificam em sociedades


com prazo determinado ou indeterminado, conforme definido nos seus
atos constitutivos.

A distinção das sociedades quanto ao prazo de duração ganha especial


relevância nas deliberações dos sócios sobre a dissolução, prorrogação
ou retirada do quadro de sócios da sociedade (arts. 1.029 e 1.033, inciso
III, do CCB).

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TIPOS SOCIETÁRIOS

TIPO PODE ATO DE


NÃO PODE
SOCIETÁRIO ADMINISTRAR NOMEAÇÃO
Sócio ou não
Impedidos por lei Contrato/ato
Simples (art. 997, inc. VI +
(art. 1.011, § 1) separado (art. 1.012)
art. 1.013)

Impedidos por lei Contrato/ato


Somente sócios
Nome coletivo (art. 1.011, § 1° + separado (art. 1.040+
(art. 1.042)
art. 1.040) art. 1.012)

Sócios comanditários Contrato/ato


Sócios comanditados (art. 1.047) separado (art. 1.040
Comandita simples
(art. 1.046 +1.047) Impedidos por lei + art. 1.012 + art.
(art. 1.011, § 1°) 1.046)

Conselho de
Administração –
Acionista ou não (art. Impedidos por lei
Sociedade Anônima AGE (art. 140, LSA)
146, LSA) (art. 147, § 1°, LSA)
Diretoria – AGE ou
CA (art. 143, LSA)

Acionistas Não acionistas


comanditados (art. (art. 280, LSA) / Estatuto social
Comandita por ações
1.091 do CCB + art. impedidos por lei (art. 282, § 1°, LSA)
282, LSA) (art. 147, § 1°, LSA)

Sócio ou não Contrato/ato


impedidos por lei
(conforme definido separado (art. 1.053
Limitada (art. 1.053 + art.
no contrato) (art. + art. 1.060 + art.
1.011, § 1°)
1.060 + art. 1.061) 1.061)

LEITURA SUGERIDA

BORBA, José Edwaldo Tavares (2011) Sociedade simples e sociedade


empresária. A nova classificação das sociedades. A teoria da empresa.
Sociedades simples e sociedades empresárias. O sistema de registro.
(Parecer) Disponível em: http://www.tavaresborba.com.br/wp-content/
uploads/2011/11/artigo02.pdf. Data de acesso: 28 de fevereiro de 2018.

MARCONDES, Sylvio (1970) Problemas de direito mercantil. 2ª Tiragem.


São Paulo: Max Limonad.

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TIPOS SOCIETÁRIOS

2.2 AULAS 4 E 5 – TIPOS SOCIETÁRIOS MENORES EXISTENTES NO


DIREITO BRASILEIRO

O objetivo das destas aulas é discutir as principais características gerais,


diferenças e semelhanças entre os tipos societários que estão previstos no
Código Civil de 2002, mas são menos comuns na prática das sociedades
empresárias.

A proposta desta análise comparativa é identificar quais seriam, nos


dias atuais, as vantagens e desvantagens da utilização de cada um destes
tipos societários como veículo jurídico para o desempenho de atividades
econômicas.

Resumo das principais características dos tipos societários menores:

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Tipo societário / Sociedade Sociedade Sociedade
características em nome coletivo em comandita simples em comandita por ações

Lei 6.404/76 e artigos 1.090


Regulamentação principal Artigos 1.039 a 1.044 do CCB Artigos 1.045 a 1.051 do CCB
e 1092 do CCB

Regras das sociedades simples Regras das sociedades simples


Regras supletivas Código civil
(artigos 997 a 1.038 do CCB) (artigos 997 a 1.038 do CCB)

Natureza Simples/Empresária Simples/Empresária Empresária

Regime de responsabilidade Único Misto Misto

Sócios Pessoas naturais Pessoas naturais ou jurídicas Pessoas naturais ou jurídicas

Comanditado – Ilimitada Comanditado – Ilimitada


Responsabilidade dos sócios Ilimitada
Comanditários – limitada Comanditários – limitada

Administração Somente sócios Somente comanditados Somente acionistas

Identificação Firma Firma Firma/Denominação

FGV DIREITO RIO


Constituição Privada Privada Pública/Privada
TIPOS SOCIETÁRIOS

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TIPOS SOCIETÁRIOS

2.3 AULA 6 – TIPOS DE SÓCIO

Em primeiro lugar é importe diferenciar a figura do sócio e da figura


empresário. O empresário analisado anteriormente é o titular da empresa
(atividade), ao passo que o sócio é membro de uma sociedade empresária,
essa sim é a titular da empresa. Essa distinção é importante porque delimita
o regime de responsabilidade do empresário e o regime de responsabilidade
da sociedade empresária.

Um bom exemplo da diferença entre um sócio e um empresário é que


pessoas impedidas de exercer a atividade empresária podem vir a ser sócias
de sociedade empresárias. Vide, por exemplo, o disposto no artigo 974 do
CCB que obriga as juntas comerciais a registrarem os atos societários das
sociedades que tenham pessoas incapazes integrantes de seu quadro de sócios,
desde que o incapaz: (1) não exerça a administração da sociedade; (2) o
capital esteja totalmente integralizado; e (3) o sócio incapaz (relativamente ou
absolutamente) seja assistido ou representado por seus representantes legais.

Uma vez feita a breve introdução acima, é importante destacar que


do ponto de vista jurídico doutrinário não existe propriamente uma
classificação rígida entre os sócios de sociedades empresárias. O que existe são
características típicas de cada sócio definidas pelo tipo societário da sociedade
em questão (como, por exemplo, as sociedades em conta de participação e
em comandita simples ou por ações – que têm dois tipos de sócios diferentes.
Respectivamente, os sócios ostensivos e ocultos e os sócios comanditados e
comanditários) ou agrupamentos de sócios com base em comunidades de
interesses próximos, por exemplo:

• sócios controladores – que tem a prerrogativa de eleger a maioria dos


administradores da sociedade e a sua vontade prevalece nas deliberações.

• sócios integrantes de acordos de sócios ou de bloco de controle – sócios


que se reúnem em contrato parassocial com a finalidade de exercer
conjuntamente o poder de controle social. Estes sócios, mesmos
reunidos contratualmente, podem ter interesses bastante divergentes
entre si. Por exemplo, um investidor de private equity pode adquirir
uma participação minoritária no capital social de uma sociedade
investida e exigir participar do bloco de controle para conseguir exercer
influência na administração da sociedade.

• sócios-administradores – os sócios que participam do capital


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TIPOS SOCIETÁRIOS

social e que exercem atividades na administração das sociedades.


Nas sociedades limitadas, costumam ser os sócios controladores,
inexistindo separação efetiva entre a titularidade do capital social e
o exercício do poder de controle.

• sócios que sejam membros de um grupo familiar – sócios que sejam


integrantes de uma mesma família e, portanto, tem, no mínimo,
três feixes de interesses que se intercruzam e devem ser balanceados,
os interesses pessoais do próprio sócio, os interesses familiares de
preservação do patrimônio e continuidade da família e os interesses
de geração de caixa e administração da sociedade.

• sócios minoritários – sócios titulares de parcelas do capital social


que são insuficientes para lhes assegurar a participação efetiva na
tomada das decisões sociais e na administração da sociedade.

• sócios de serviço – sócios cuja a contribuição para a sociedade se dá apenas


com o fator de produção trabalho e, por isso, não aportam recursos para
a formação do capital social da sociedade. No direito societário vigente,
somente sociedades simples podem ter sócios de serviço.

• sócios de capital ou rentistas – sócios que aportam recursos


financeiros na sociedade, mas não participam da administração,
podem ter interesses financeiros de curto prazo que se contrapõem
aos interesses de longo prazo da sociedade.

• A classificação didática indicada acima foi feita com base no


pertencimento familiar e na participação no capital social ou na
administração da sociedade. Porém, existem outros critérios para
identificar os tipos de sócios de uma determinada sociedade que são
relevantes para a identificação da dinâmica interna de funcionamento
da sociedade. A dinâmica interna de funcionamento da sociedade
depende fundamentalmente (1) dos interesses pessoais e profissionais
de cada sócio e (2) dos alinhamentos e desalinhamentos de interesses
entre os sócios e a sociedade.

LEITURA SUGERIDA

SZTUTMAN, Henry (2013) Quem tem sócio tem patrão. In. Revista
Capital Aberto. Disponível em: https://capitalaberto.com.br/temas/
captacao-de-recursos/quem-tem-socio-tem-patrao/#.W1up29VKi00.
Data de acesso: 25 de julho de 2018.

FGV DIREITO RIO 17


TIPOS SOCIETÁRIOS

3. INTRODUÇÃO ÀS SOCIEDADES LIMITADAS EMPRESÁRIAS

3.1 AULA 7 – SOCIEDADE LIMITADA – ORIGEM, OBJETIVO


E CARACTERÍSTICAS

As sociedades contratuais por quotas de responsabilidade limitada


tiveram origem na Alemanha no final do século XIX, mais especificamente
em 1892, por meio da criação das Gesellschaft mit beschränkter Haftung
(GmbH). Na Inglaterra, as sociedades de responsabilidade limitada tiveram
origem em 1907 com a criação das Limited Partnerships por meio do
Limited Partnerships Act de 1907.

No direito brasileiro, as sociedades por quotas de responsabilidade


limitada foram criadas em 1919, por meio do Decreto 3.708, de 10 de
Janeiro (o “Decreto das Limitadas”). Esse decreto fez com que o Brasil fosse
o primeiro país das América Latina a ter uma legislação própria para as
sociedades por quotas de responsabilidade limitada (Salama, 2014, O Fim
da Responsabilidade Limitada no Brasil, p. 59).

Vale ressaltar, porém, que apesar da recorrente menção à GmbH alemã


como inspiração para a sociedade por quotas de responsabilidade limitada
brasileira, o debate sobre a introdução no direito brasileiro de um tipo societário
de responsabilidade limitada teve início, pelo menos, a partir de 1865, com
o projeto de lei apresentado pelo Ministro da Justiça Nabuco de Araújo.
Esse novo tipo societário teria as seguintes vantagens (a) sobre as sociedades
anônimas, não precisaria de autorização administrativa; (b) sobre a sociedade
em nome coletivo, nenhum sócio teria responsabilidade ilimitada; e (c) sobre
a sociedade em comandita, não teria nenhum sócio impedido de participar da
administração da sociedade ou administrador solidariamente responsável.

O Decreto 3.708/19 foi revogado apenas com a entrada em vigor do atual


Código Civil Brasileiro, em 2003.

Obs.: Tanto a Inglaterra, quanto a França já haviam adotado um regime
próprio de limitação da responsabilidade dos sócios das sociedades anônimas
(institucionais e que dependiam de autorização administrativa para a sua
constituição e funcionamento). Na França, este regime de limitação foi previsto no
Code de Commerce de 1807 e, na Inglaterra, a limitação da responsabilidade
teve origem no Limited Liability Act de 1855.

FGV DIREITO RIO 18


TIPOS SOCIETÁRIOS

A criação das sociedades limitadas visou oferecer aos comerciantes


uma opção de tipo societário onde os sócios tivessem limitadas as suas
responsabilidades e riscos patrimoniais, mas sem as desvantagens burocráticas
das sociedades anônimas que prevaleciam à época.

As atuais sociedades limitadas, que substituíram as “sociedades por quotas


de responsabilidade limitada” apresentam as seguintes características:

• A sociedade limitada pode ser constituída por uma ou mais pessoas.


Caso seja constituída por uma pessoa, as disposições sobre o contrato
social (artigo 997 do CCB) se aplicam ao documento de constituição
firmado pelo sócio único.

• Seus procedimentos de formação e organização são mais simples do


que os exigidos para as sociedades anônimas, nos termos do artigo 997
do CCB em contraposição aos artigos 80 a 99 da Lei das S.A.;

• A responsabilidade dos sócios é restrita ao valor das suas quotas (art.


1052 do CCB);

• Apesar da limitação da responsabilidade citada acima, os sócios


respondem solidariamente pela integralização do capital social (art.
1.052 do CCB);

• Os sócios têm flexibilidade para escolher o regime jurídico supletivo


ao contrato social, podendo escolher entre as regras aplicáveis às
sociedades simples (artigos 997 a 1.038 do CCB) ou as regras aplicáveis
às sociedades limitadas (artigos 1.052 a 1.141 do CCB), conforme
previsto no artigo 1.055, caput e parágrafo único, do CCB.

• A sociedade limitada tem feições híbridas entre sociedades de pessoas e


sociedades de capitais (art. 1.057 do CCB);

• Os sócios não podem contribuir para a formação do capital social com


serviços (art. 1.055, parágrafo 2º, do CCB);

• A sociedade limitada pode conduzir seus negócios (“girar”) sob firma


ou denominação (art. 1.158 do CCB), desde que conste ao final a
palavra “limitada” ou sua abreviatura “Ltda.”;

• As demonstrações contábeis das sociedades limitadas não precisam ser


publicadas em jornal de grande circulação ou na imprensa oficial da
localidade da sede da sociedade (artigos 1.179, 1.188 e 1.189 do CCB);

FGV DIREITO RIO 19


TIPOS SOCIETÁRIOS

Obs.: Atualmente existe controvérsia quanto à necessidade de


publicação das demonstrações contábeis elaboradas pelas sociedades
limitadas de grande porte, nos termos do artigo 3º da Lei 11.638/07.
Pois a Lei 11.638/07 menciona a obrigatoriedade das sociedades de
grande porte seguirem as regras sobre a escrituração e a elaboração das
demonstrações contábeis e a auditoria por auditor registrado perante
a CVM, mas não menciona expressamente sobre a necessidade de
publicação das demonstrações contábeis.

A discussão gira em torno de uma leitura literal do artigo 3º da Lei


11.638/07 (que não contém a palavra “publicação”) e as normas
administrativas elaboradas pelas Juntas Comerciais que obrigam
a publicação das demonstrações contábeis (Especialmente a
Deliberação nº 2/2015 expedida pela Junta Comercial do Estado
de São Paulo – JUCESP e Enunciado nº 39 expedido pela Junta
Comercial do Estado do Rio de Janeiro – JUCERJA).

• Os sócios das sociedades limitadas têm flexibilidade na escolha do


regime de circulação das quotas sociais. Assim, as quotas poderão
ou não ser cedidas para os demais sócios ou para terceiros conforme
previsto no contrato social. Caso o contrato social seja omisso, incidirão
as seguintes regras: (a) cessão para sócio - pode ceder para outro sócio
independentemente da autorização dos demais sócios (art. 1.057,
caput, primeira parte); ou (b) cessão para terceiros – pode ceder para
terceiros desde que mediante autorização de sócios representando 25%
(1/4) do capital social (art. 1.057, caput, in fine).

LEITURA SUGERIDA

CAMPINHO, Sérgio (2014) O direito de empresa à luz do novo código


civil. 13ª Edição. Rio de Janeiro: Renovar.

BORBA, José Edwaldo Tavares (2017). Direito Societário. 15ª Edição. São
Paulo: Atlas.

FGV DIREITO RIO 20


TIPOS SOCIETÁRIOS

3.2 AULAS 8 E 9 – SOCIEDADE LIMITADA – CARACTERÍSTICAS


DELIBERAÇÕES SOCIAIS

A principal característica das sociedades limitadas é o fato de se tratarem


de sociedades contratuais, em contraposição às sociedades institucionais.
Como uma sociedade contratual a sociedade limitada se constitui por meio
da assinatura de um contrato social firmado entre os sócios fundadores
da sociedade e o seu posterior registro perante o órgão competente (Junta
Comercial, quando o objeto social tem elemento de empresa, e RCPJ,
quando não o tem).

Assim, como todos os contratos firmados no Brasil, o instrumento


particular de constituição de uma sociedade limitada deve, em primeiro lugar,
obedecer aos requisitos de validade, existência e eficácia jurídica (a “escada
ponteana”) previstos na legislação brasileira (art. 104 do CCB): objeto lícito,
partes capazes e legítimas e forma prevista ou não proibida em lei.

No caso da constituição das sociedades limitadas, o CCB determina que


sejam ainda observados alguns requisitos básicos previstos especialmente
no artigo 997 do código, na Lei 8.934/94 e no Decreto 1.800/96 e,
secundariamente, as disposições previstas na regulação administrativa prevista
expedidas pelo Departamento de Registro Empresarial e Integração – DREI.
No caso das sociedades limitadas, especialmente o Regulamento constante
como Anexo II à Instrução Normativa nº 38, expedida pelo DREI em 02 de
março de 2017 (“Regulamento das Sociedades Limitadas”).

Os principais requisitos do contrato social da sociedade limitada são:

1 – Partes obrigatórias: (a) Título (Contrato Social); (b) preâmbulo; (c) corpo
do contrato contendo, no mínimo, as cláusulas obrigatórias e o fecho (item
1.2.1 do Regulamento das Sociedades Limitadas).

2 – Requisitos e conteúdos legais mínimos (artigo 104 do CCB, Incisos I a


VIII do artigo 997 do CCB e mais regras específicas do tipo societário):

PLURALIDADE DE PARTES (INC. I);

No Brasil, as sociedades são consideradas como de natureza


contratual ou institucional, por isso a sua constituição depende
necessariamente do concurso de duas ou mais partes.

FGV DIREITO RIO 21


TIPOS SOCIETÁRIOS

Obs: Em relação às sociedades simples, a única exceção a esta


regra é a sociedade unipessoal de advocacia, introduzida no
direito brasileiro pelos artigos 15, 16 e 17 da Lei no 8.906, de
4 de julho de 1994 (Estatuto da Advocacia), conforme alterado
pelo artigo 2º da Lei nº 13.247, de 12 de janeiro de 2016.
Em relação às sociedades empresárias, a única exceção à regra
da pluralidade de sócios é a “subsidiária integral” (prevista no
artigo 251 da Lei das S.A.).

Uma sociedade constituída por duas pessoas pode, ao


longo de sua existência jurídica, vir a ter apenas um único
sócio (por exemplo, em caso de falecimento de um dos
sócios). Configurando uma hipótese de “unipessoalidade
superveniente”, neste caso a pluralidade de sócios deve ser
reconstituída dentro dos seguintes prazos:

(a) Para as sociedades em geral, regidas pelo CCB,


em até cento e oitenta dias após a data em que a
unipessoalidade superveniente se manifestou (inciso
IV do artigo 1.033 do CCB); e

(b) Para as sociedades anônimas e sociedades em comandita


por ações, regidas pela Lei das S.A., até a data da
realização da próxima assembleia geral ordinária (AGO)
da sociedade (alínea “d)” do inciso I do artigo 206).

Obs.: A data da reconstituição da pluralidade de sócios não


necessariamente é até o ano seguinte em que se verificou
a unipessoalidade superveniente, pois podem existir casos
onde o exercício social da sociedade não coincida com o
calendário civil.

Obs.: Nos termos do parágrafo único do artigo 1.033 do CCB,


o sócio que tenha se tornado o único titular da integralidade do
capital social de uma determinada sociedade poderá requerer
a ‘transformação’ do registro da sociedade perante a Junta
Comercial em um registro do próprio ex-sócio como empresário
individual ou como Empresa Individual de Responsabilidade
Limitada (EIRELI).

FGV DIREITO RIO 22


TIPOS SOCIETÁRIOS

QUALIFICAÇÃO DOS SÓCIOS;

Sócio pessoa natural – Nome, nacionalidade, naturalidade,


estado civil, profissão, residência e domiciliado.

Sócio pessoa jurídica – denominação, tipo societário,


nacionalidade, sede da sociedade.

DENOMINAÇÃO, OBJETO, SEDE, PRAZO (INC. II);

CAPITAL SOCIAL (INC. III);

O capital social deve ser expresso em moeda corrente nacional e


pode ser formado por contribuições em dinheiro ou bens (artigos
1.005 e 1.006 do CCB)

QUOTA DE CADA SÓCIO (INC. IV);



Obs.: O CCB admite que sejam constituídas sociedades limitadas
com quotas de valores diferentes (artigo 1.055 do CCB).

PRESTAÇÕES DO SÓCIO DE SERVIÇO (INC. V);



Nas sociedades simples é possível que a contribuição de um
sócio para a formação da sociedade seja realizada por meio da
prestação de serviços para a sociedade (artigo 1.006 do CCB).
Nas sociedades empresárias é vedada a contribuição do sócio
por meio da prestação de serviços (artigo 7º da Lei das S.A. e
parágrafo 2º do artigo 1.055 do CCB).

Obs.: até a entrada em vigor do CCB, havia no Brasil um tipo


societário onde um dos sócios contribuía com recursos para a
formação do capital social e tinha responsabilidade solidária
com a sociedade (sócio de capital) e um dos sócios contribuía
exclusivamente com a prestação de serviços para a sociedade
(sócio de serviços). Este tipo societário – Sociedade de Capital e
Indústria – estava previsto no artigo 317 do Código Comercial,
na parte que foi revogada pelo CCB.

FGV DIREITO RIO 23


TIPOS SOCIETÁRIOS

PESSOAS NATURAIS ADMINISTRADORAS (INC. VI);

Obs.: No direito brasileiro somente pessoas naturais podem figurar


como administradores de sociedades, porém esta possibilidade
existe em outras jurisdições (como os EUA, por exemplo).

PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E PERDAS (INC. VII); E

Independentemente de seu objeto social as sociedades


empresárias são unidades que visam a produção de lucro. Por
isso, nas sociedades com fins lucrativos, o direito ao recebimento
de lucros é um direito essencial do sócio e não pode excluído por
deliberação social ou pelos atos constitutivos.

Como regra geral, os sócios que contribuem para a formação


do capital social participam dos lucros e perdas na proporção
de suas quotas e o sócio de serviço participa dos lucros na
proporção média do valor das quotas (art. 1.007 do CCB).
Porém, nas sociedades simples e limitadas, é admitida a
distribuição desproporcional de lucros, conforme previsão em
contrato social. A previsão de distribuição desproporcional dos
lucros também pode estar expressa em acordo de sócios, caso
a sociedade limitada tenha regência supletiva pela Lei das S.A.
(artigo 1.053, parágrafo único, do CCB).

O artigo 1.008 do CCB veda a constituição de “sociedades


leoninas”, ou seja, de sociedades onde um ou alguns dos sócios
são excluídos da participação nos lucros ou nas perdas.

RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA OU NÃO DOS SÓCIOS (INC. VIII).

Além das regras indicadas acima, é importante verificar no momento da


constituição de cada sociedade a lei de registro de comércio (Lei 8.934/94),
a Instrução Normativa nº 38/17 do DREI e os posicionamentos jurídicos
adotados nos pareceres ou orientações divulgadas pela Junta Comercial
competente no local da sede da sociedade. Para a constituição de sociedades
simples, fundações e associações é importante analisar o disposto na lei
6.015/73 (Lei de registros públicos), uma vez que a constituição destas
sociedades depende de registro perante o Ofício de Registro Civil de
Pessoas Jurídicas – RCPJ.

FGV DIREITO RIO 24


TIPOS SOCIETÁRIOS

DELIBERAÇÕES SOCIAIS

O ato de deliberar significa chegar coletivamente a uma decisão após


uma discussão informada e circunstanciada sobre um determinado tema. As
deliberações dos sócios devem sempre ocorrer no interesse da sociedade.

O direito de participar da deliberação advém da condição de sócio da


sociedade (status socii).

Tendo em vista que a deliberação é o ato necessário para a formação da


vontade da sociedade, podem-se destacar duas linhas de pensamento sobre a
sua natureza jurídica:

(a) a primeira, que considera o ato de deliberar como um ato


institucional (deliberação majoritária); e

(b) a segunda, que considera o ato de deliberar como uma espécie


de negócio jurídico entre os sócios (deliberação contrato).

A diferença entre as duas teorias é que na primeira – deliberação


majoritária – inspirada na teoria institucionalista das sociedades – todos os
sócios (inclusive os ausentes e os dissidentes) se vinculam à decisão tomada
pela maioria na deliberação. Na segunda teoria – deliberação contrato – cada
sócio se vincula nos termos de sua própria manifestação na deliberação.

O direito brasileiro adotou a teoria da deliberação majoritária, nos termos


do parágrafo 5º do artigo 1.072 do CCB.

Dois pontos sempre controverso são (1) como se chegar a decisão da sociedade
em casos de empate na deliberação; e (2) a legalidade do voto em branco e da
abstenção de voto. No caso de empate, o CCB determina que será escolhida a
decisão aprovada pela maioria dos sócios (voto por cabeça) e, se o embate persistir,
a questão deverá ser levada à conhecimento do Poder Judiciário.

Nos termos do artigo 1.072, o CCB prevê três formas de deliberação


nas sociedades limitadas: (1) por reunião, (2) por assembleia, e (3) por
instrumento deliberatório.

Para que as deliberações tomadas em reunião sejam eficazes perante


terceiros, a forma de convocação, instalação e condução dos trabalhos da
reunião deverá ser regida expressamente pelo contrato social. Caso o contrato
social seja omisso, a reunião será realizada com base nas regras aplicáveis às
assembleias (artigo 1.072, parágrafo 6º, do CCB).

FGV DIREITO RIO 25


TIPOS SOCIETÁRIOS

A assembleia é obrigatória nas sociedades limitadas que tenham


número de sócios superior à 10 (dez), nos termos do parágrafo 1º do
artigo 1.072 do CCB.

A deliberação por meio de instrumento deliberatório formalizado pode


ser realizada quando todos os sócios da sociedade limitada se manifestarem
por escrito sobre a matéria objeto da deliberação.

As matérias previstas nos incisos I a VIII do artigo 1.071 do CCB são


matérias de deliberação obrigatória pelos sócios. Além disso, o contrato
social pode prever outras matérias para deliberação obrigatória dos sócios.

A convocação para que os sócios participem da reunião ou assembleia é


regida pelos artigos 1.010, 1.072, 1.073 e 1.152 do CCB. O ato jurídico
de convocação deve ser feito:

(1) Pelos administradores, nos casos previstos na lei ou no


contrato social (art. 1.072 do CCB);

(2) Por sócio, caso os administradores atrasem por mais


de sessenta dias para convocar a reunião ou assembleia
ordinária (art. 1.073, inciso I, do CCB);

(3) Por sócio(s), que represente(m) mais de um quinto (20%)


do capital social da sociedade caso os administradores
atrasem mais de oito dias para realizar a convocação à
pedido de sócio(s) (art. 1.073, inciso I, do CCB);

(4) Pelo Conselho Fiscal, caso os administradores atrasem


mais de trinta dias para convocar uma reunião ou
assembleia ordinária ou caso ocorra motivo grave e
urgente para a sociedade (art. 1.069, inciso V, do CCB).

A convocação da reunião ou assembleia deve obrigatoriamente conter


a descrição da pauta constante da ordem do dia para ser deliberada
(artigos 1.072, parágrafo 2º, e 1.078, inciso III). Segundo Rubens
Requião, a descrição da ordem do dia é importante porque ela delimita a
responsabilidade e vinculação dos sócios sobre as matérias nela constantes.
Assim, os eventuais dissidentes ou ausentes da deliberação não podem
ser responsabilizados por deliberações tomadas sobre matérias que não
estiveram expressamente indicadas na ordem do dia para a deliberação.

FGV DIREITO RIO 26


TIPOS SOCIETÁRIOS

O instrumento de convocação para a assembleia deve ser publicado


três vezes no diário oficial do estado e em jornal de grande circulação no
local da sede da sociedade.

A primeira publicação do anúncio de convocação para a realização


da assembleia deve ser realizada com oito dias de antecedência da data
prevista para a realização da assembleia em primeira convocação. Para a
realização da assembleia em segunda convocação, a antecedência mínima
para a realização da assembleia após a primeira publicação do anúncio de
convocação é de cinco dias.

A instalação da assembleia, a ser realizada em primeira convocação,


depende da presença de sócios representando, no mínimo, três quartos do
capital social (75%), conforme o artigo 1.074 do CCB. A assembleia realizada
em segunda convocação pode ser instalada com qualquer número de sócios.

A mesa da assembleia é composta pelo presidente e pelo secretário. O


presidente deve ser escolhido entre os sócios presentes na assembleia e o
secretário poderá ser um sócio ou terceiro não sócio presente na assembleia.
A principal responsabilidade do presidente da mesa é conduzir os trabalhos
no conclave e ser o fiscal da legalidade das deliberações tomadas e aprovadas
na assembleia. O secretário tem como principal responsabilidade auxiliar o
presidente e lavrar a ata da assembleia.

A administração da sociedade deve proceder o registro da ata da assembleia


perante a Junta Comercial competente e, para tal finalidade, devem ser
lavradas duas versões da ata com conteúdo idêntico: a versão que será
registrada no livro de registro de atas da sociedade (assinada pelos integrantes
da mesa e pelos sócios presentes) e a versão que será levada a registro perante
a Junta Comercial (assinada pelos integrantes da mesa da assembleia).

Obs.: a ata da assembleia é um documento de descrição e não de


invenção. Deste modo, o conteúdo da ata deve refletir fielmente o
que foi discutido e deliberado pelos sócios. Caso algum sócio considere
que a ata da assembleia não corresponde ao que foi deliberado pelos
sócios (ata infiel), poderá lavrar um instrumento de protesto por
escrito e leva-lo a registro perante a Junta Comercial.

Nas sociedades limitadas cujo contrato social preveja a regência supletiva


pelas regras das sociedades simples, estarão impedidos de participar
das deliberações sociais os sócios que apresentem interesse pessoal
contrário ao interesse da sociedade (artigo 1.010, parágrafo 3º, do CCB).

FGV DIREITO RIO 27


TIPOS SOCIETÁRIOS

Por outro lado, nas sociedades limitadas cujo contrato social preveja a
regência supletiva pelas regras das sociedades anônimas, estarão impedidos de
participar das deliberações sociais os sócios que apresentem interesse contrário
ao da sociedade (artigo 115 da Lei das S.A.). Os sócios que participam
da administração ou do conselho fiscal da sociedade estão impedidos de
participar (“tomar parte”) nas assembleias que deliberem sobre a aprovação
das contas da administração (artigo 1.078, parágrafo 2º, do CCB).

Obs.: Nas sociedades regidas pela Lei das S.A., merecem destaque
duas correntes sobre a possibilidade de voto de sócios em reuniões/
assembleias de sócios: a teoria do conflito material e a teoria do
conflito formal. Para os defensores da teoria do conflito formal, o
sócio que tenha interesse pessoal potencialmente contrário ao interesse
da sociedade não pode votar nas deliberações das matérias que
apresentem hipóteses de conflitos de interesse pessoal e da sociedade.

Para os defensores da teoria do conflito material, o sócio que apresenta


interesse pessoal potencialmente contrário ao interesse da sociedade
pode votar nas deliberações das matérias que apresentem hipóteses
de conflitos de interesse pessoal e da sociedade, porém a eficácia do
seu voto está condicionada à confirmação posterior da inexistência
de verificação de conflito de interesses. Ou seja, para esta segunda
teoria, o acionista vota, mas o eventual interesse pessoal do sócio em
detrimento do interesse da sociedade deve ser verificado em momento
posterior à realização da assembleia.

Para que as decisões tomadas pelos sócios nas reuniões e assembleias das
sociedades limitadas sejam válidas, devem ser atendidos os seguintes quóruns
para deliberação:

FGV DIREITO RIO 28


TIPOS SOCIETÁRIOS

Fundamento Legal Fundamento Legal


Matéria Quórum
(art. do CCB) (art. do CCB)

Modificação do
1.071, inc. V 3/4, no mínimo 1.076, inc. I
contrato social

Incorporação,
fusão, dissolução
1.071, inc. VI 3/4, no mínimo 1.076, inc. I
e cessação do estado
de liquidação

Remuneração do
1.071, inc. IV 50% + 1 quota 1.076, inc. II
Administrador

Falência,
recuperação judicial
1.071, inc. VIII 50% + 1 quota 1.076, inc. II
ou recuperação
extrajudicial

Aprovação Maioria dos


1.071, inc. I 1.076, inc. III
das contas presentes*

Nomeação/
Maioria dos
destituição de 1.071, inc. VII 1.076, inc. III
presentes*
liquidante
Nomeação de VER
1.076, inc. I e II +
administrador 1.071, inc. II FLUXOGRAMA
1.061
(ato separado) DA AULA 12
VER
Destituição de 1.076, inc. I e II +
1.071, inc. III FLUXOGRAMA
administrador 1.063, parágrafo 1º
DA AULA 12
* Salvo disposição diferente no contrato social.

FGV DIREITO RIO 29


TIPOS SOCIETÁRIOS

Algumas das principais causas de impugnação de deliberações sociais são:

a) Ausência de convocação;
b) Convocação irregular;
c) Irregularidade da instalação ou funcionamento da reunião ou
assembleia;
d) Deliberação sobre matérias fora da ordem do dia;
e) Deliberação sobre matérias que dependiam de designação específica na
ordem do dia sob o item “assuntos gerais”;
f) Violação de direitos essenciais dos sócios ou de terceiros (por exemplo, o
direito do sócio de ser acompanhado por um advogado e a prerrogativa
do advogado de acompanhar o seu assistir ao seu cliente);
g) Deliberações aprovadas com simulação, erro, dolo ou coação;
h) Abuso do direito de voto (por exemplo, nas situações de voto proferidos
por pessoas impedidas de votar);
i) Destituição de administradores;
j) Assembleia realizada fora da sede da sociedade;
k) Exclusão de sócio (Nas sociedades com mais de dois sócios, dissolução
parcial da sociedade em relação à um sócio por justa causa, artigo 1.085
do CCB);
l) Falecimento posterior de um sócio;
m) Deliberação social tomada sem a disponibilização dos documentos
necessários para a análise das matérias constantes da ordem do dia pelos
sócios; e
n) Irregularidades no balanço aprovado.

LEITURA SUGERIDA

COSTA, Ari Boemer Antunes da (2013) Deliberações dos sócios nas sociedades
limitadas. In: Revista JurisFIB, volume IV, ano IV. Bauru: FIB.

REQUIÃO, Rubens (2015) Curso de direito comercial. Volume 1. 34ª


Edição. São Paulo: Saraiva.

FGV DIREITO RIO 30


TIPOS SOCIETÁRIOS

3.3 AULAS 10 E 11 - SOCIEDADE LIMITADA – ADMINISTRAÇÃO

O administrador é a pessoa natural que recebe a prerrogativa de


representar legalmente a sociedade para o exercício dos atos da vida
civil a que as sociedades têm legalmente a capacidade e a legitimidade
para praticar.

Por meio dos atos regulares praticados pelos seus administradores,


as sociedades (dotadas de personalidade jurídica, nos termos do artigo
44, inciso II, do CCB) manifestam e expressam a sua tripla autonomia
(obrigacional, patrimonial e processual) realizando atos e negócios
jurídicos e econômicos.

Os atos regulares de gestão ordinária e extraordinária tomados


pelos administradores das sociedades obrigam a sociedade, nos
termos do artigo 47 do CCB. Serão considerados regulares os atos
úteis, necessários e suficientes para a consecução do objeto social da
sociedade (art. 1.015 do CCB).

Os administradores são os responsáveis pelo exercício no dia-a-dia da


sociedade do poder de controle da sociedade, ou seja, pela tomada das
decisões necessárias para o exercício dos direitos e uso, gozo, fruição,
reivindicação, e disposição dos bens e patrimônio social.

Vale ressaltar que o administrador funciona como um órgão necessário


e vital para que a sociedade funcione e exerça as suas atividades, assim
Pontes de Miranda defende que a relação existente entre o administrador
e a sociedade é de presentação e não de representação (algo posto diante
de). Ou seja, o administrador faz presente a sociedade, sendo dela um
órgão interna corporis, e não um representante externo ao corpo social.
Em decorrência da relação de presentação e não de representação, é
incorreto analisar a relação entre o administrador e a sociedade com
base nos institutos do mandato, onde há um principal (mandante) e um
mandatário (agente).

Nas sociedades limitadas, podem ser administradores as pessoas


naturais, sócias ou não da sociedade, conforme for expressamente
definido no contrato social (artigos 1.060 e 1.061 do CCB). Por
outro lado, não podem ser administradores as pessoas impedidas por
lei de administrar sociedades limitadas, nos termos dos artigos 1.011,
parágrafo 1º, e 1.053 do CCB:

FGV DIREITO RIO 31


TIPOS SOCIETÁRIOS

a) as pessoas impedidas por lei especial; e

b) enquanto perdurarem os efeitos da condenação, as pessoas


condenadas:

a. a pena que vede, ainda que temporariamente, o


acesso a cargos públicos;

b. por crime falimentar, de prevaricação, peita ou


suborno, concussão, peculato;

c. por crimes contra a economia popular, contra


o sistema financeiro nacional, contra as normas
de defesa da concorrência, contra as relações de
consumo, a fé pública ou a propriedade.

Obs.: as pessoas naturais nomeadas para exercer cargos de


administração nas sociedades limitadas devem firmar declaração
de desimpedimento atestando que não incorrem em nenhuma
das situações listadas acima previamente à assinatura do ato de
posse na administração da sociedade.

Tendo em vista que os atos regulares dos administradores vinculam


a sociedade é importante destacar que os administradores respondem
pelos atos irregulares praticados na administração das sociedades. Duas
importantes teorias sobre a vinculação ou não da sociedade pelos atos
irregulares praticados pelos administradores são (1) a teoria dos atos
ultra vires; e (2) a teoria da aparência. A teoria dos atos ultra vires foi
originada na Inglaterra no Séc. XIX e resulta na impossibilidade de
responsabilização da sociedade por um ato praticado pelo administrador
com excesso dos poderes que lhe foram expressamente atribuídos pelo
contrato social, ato de nomeação ou pela lei. Um ato irregular, portanto.

Segundo a teoria ultra vires, adotada no direito brasileiro, um ato


praticado pelo administrador com excesso de poderes é um ato nulo
em relação a terceiros, nos termos dos artigos 47 e 1.015 do CCB,
ensejando ação de ressarcimento de danos contra os administradores
que agiram irregularmente. Ressalta-se que os administradores das
sociedades regidas pelo CCB respondem por culpa pelos atos praticados
no desempenho de suas funções (art. 1.016).

FGV DIREITO RIO 32


TIPOS SOCIETÁRIOS

Neste sentido, vale citar o Enunciado nº 219 aprovado na III Jornada de


Direito Civil:

219 – Art. 1.015: Está positivada a teoria ultra vires no Direito


brasileiro, com as seguintes ressalvas: (a) o ato ultra vires não produz
efeito apenas em relação à sociedade; (b) sem embargo, a sociedade
poderá, por meio de seu órgão deliberativo, ratificá-lo; (c) o Código
Civil amenizou o rigor da teoria ultra vires, admitindo os poderes
implícitos dos administradores para realizar negócios acessórios
ou conexos ao objeto social, os quais não constituem operações
evidentemente estranhas aos negócios da sociedade; (d) não se aplica
o art. 1.015 às sociedades por ações, em virtude da existência de
regra especial de responsabilidade dos administradores (art. 158, II,
Lei n. 6.404/76).

Pela teoria da aparência, são reconhecidos os poderes implícitos


do administrador para praticar atos e negócios jurídicos em nome da
sociedade. Assim, se a atuação do administrador demonstrar uma aparência
de licitude, por exemplo, se é ele quem regularmente pratica atos em
nome da sociedade perante terceiros – os atos irregulares praticados pelo
administrador vincularão a sociedade.

A questão da responsabilidade do administrador pelos atos potencialmente


irregulares praticados expressa uma tensão existente entre a proteção de
direitos e interesses igualmente válidos e juridicamente relevantes (de terceiros
contratantes, da sociedade, dos sócios minoritários, dos consumidores, etc.

A responsabilidade subjetiva do administrador pode decorrer de:

a) Infrações contra a ordem econômica (artigo 37, inciso II, da Lei


12.529/11);

b) Descumprimento de seus deveres de cuidado, diligência,


vigilância, lealdade e evitar situações de conflitos de interesse
com a sociedade (artigos 1.011, 1.016 e 1.017 do CCB);

c) Confusão patrimonial entre o patrimônio pessoal do


administrador e da sociedade (artigo 50 do CCB);

d) Na esfera penal, de crimes praticados contra as relações de


consumo (artigo 75 da Lei 8.079/90, o Código de Defesa do
Consumidor – CDC);

FGV DIREITO RIO 33


TIPOS SOCIETÁRIOS

e) Não pagamento de tributos em decorrência de atos praticados


com excesso de poderes ou infração de lei ou contrato social
(artigo 135, inciso II, da Lei nº 5.172/66, o Código Tributário
Nacional – CTN); e

f) Qualquer uma das infrações indicadas acima que tenha sido


apurada no processo falimentar (artigo 82 da lei 11.101/05)

Além dos casos citados acima, também pode ocorrer hipóteses de


responsabilização pessoal do administrador de sociedades empresárias
previstas na legislação trabalhista, ambiental ou previdenciária.

A administração da sociedade limitada, quando atribuída a todos


os sócios no contrato, compete separadamente a cada sócio (art. 1.013
do CCB) e não é atribuída automaticamente aos sucessores (art.
1.060, parágrafo único). A administração da sociedade é uma função
individual e personalíssima. Deste modo, mesmo quando existem
vários administradores nomeados no contrato social, estes diretores
não compõem um órgão colegiado, mas cada diretor é responsável por
uma área ou escopo de atuação. Por exemplo, uma sociedade limitada
pode funcionar com três diretores nomeados no contrato: um diretor
presidente (representante legal da sociedade) e responsável pela condução
dos negócios, um diretor financeiro (responsável pela tesouraria e
planejamento financeiro da sociedade) e um diretor operacional
(responsável pela governança e funcionamento interno da sociedade).
Cada um responde por uma área específica e tem uma alçada decisória
delimitada e independente dos demais.

Obs.: em órgãos colegiados de administração (como o Conselho de


Administração nas sociedades anônimas, previsto no art. 140 da
Lei das S.A.) membros se reúnem para chegar a uma decisão única
que vincula a todos igualmente (princípio majoritário).

Vale ressaltar que a responsabilidade dos diretores entre áreas específicas


não se confunde com o seu regime de responsabilidade civil por culpa no
desempenho de suas funções, o qual prevê a responsabilidade solidária
entre os administradores (art. 1.016 do CCB). Para que um determinado
diretor não venha a ser responsabilizado por uma decisão da sociedade,
é necessário que o diretor em questão deixe consignado por escrito a sua
discordância em relação à decisão tomada.

FGV DIREITO RIO 34


TIPOS SOCIETÁRIOS

O uso da firma ou denominação da sociedade é privativo dos diretores com


os poderes expressamente atribuídos no contrato social (art. 1.064 do CCB).
Os diretores podem ser nomeados no contrato social ou em ato separado.
A nomeação do administrador nomeado no contrato social depende de
uma alteração do contrato social (quórum de 75% do capital social para
deliberação), para a nomeação e destituição do administrador nomeado em
ato separado, devem ser observados os seguintes procedimentos:

Nomeação do administrador em ato separado (artigo 1.062 do CCB)

a) Assinatura do termo de posse no livro de atas da administração;

b) Termo de posse deve ser assinado em até trinta dias após a


nomeação, sob pena de perda de ineficácia da nomeação;

c) O ato de nomeação deve ser registrado perante a Junta Comercial


competente em até dez dias;

d) O ato de nomeação levado à registro deve conter a nacionalidade, o


estado civil, a residência e ter como o anexo a cópia do documento
de identidade do diretor nomeado (parágrafo 2º do art. 1.062).

Obs.: Segundo o Enunciado 66 da I Jornada de Direito Civil da


Justiça Federal, o pré-requisito indicado na letra “d)”, acima, é
o que obriga que somente pessoas naturais sejam nomeadas como
administradoras de sociedades no Brasil. Veja-se:

66 – Art. 1.062: a teor do § 2º do art. 1.062 do Código


Civil, o administrador só pode ser pessoa natural.

A nomeação e o tempestivo registro do termo de posse do administrador


é importante porque marca o início do tempo de responsabilidade do
administrador nomeado perante a sociedade e perante terceiros e serve para
identificar claramente a presentação da sociedade.

O encerramento do período da administração se dá por (1) fim do prazo;


destituição a qualquer tempo; ou renúncia do administrador (art. 1.063 do
CCB). A destituição do administrador nomeado no contrato social depende
de deliberação aprovada por sócios representado a maioria absoluta do capital
social da sociedade (art. 1.063, parágrafo 1º, do CCB).

A renúncia do administrador gera efeitos perante a sociedade a partir do


momento em que a sociedade toma conhecimento e, perante terceiros, a partir do
registro perante a Junta Comercial competente e da publicação do ato de renúncia.

FGV DIREITO RIO 35


TIPOS SOCIETÁRIOS

Fluxograma 1 – Quórum para nomeação de administrador

* Nomeado no contrato ou em ato separado

Fluxograma 2 – Quórum para destituição de administrador

* Obs.: O quórum para destituição do administrador nomeado no contrato é


menor do que o quórum para alteração do contrato social.
*1
O quórum vigente entre a data da entrada em vigor do CCB e 03/01/19 era
de 2/3 do capital social.
*2
Conforme e redação introduzida pela Lei nº 13.792, de 2019

FGV DIREITO RIO 36


TIPOS SOCIETÁRIOS

LEITURA SUGERIDA

CRUZ, Gisela Sampaio; LGOW, Carla Wainer Chalréo (2014) Notas da


administração das sociedades limitadas. In: PERES, Tatiana Bonatti
(Org.) Temas Relevantes de Direito Empresarial. Rio de Janeiro:
Lumen Juris.

MENDES, Rodrigo Octávio Broglia (2014) Administração da sociedade


limitada. In: COELHO, Fábio Ulhoa (Org.) Tratado de Direito
Comercial. Volume 2. São Paulo: Saraiva.

FGV DIREITO RIO 37


TIPOS SOCIETÁRIOS

3.4 AULA 12 – SOCIEDADE LIMITADA – COLIGAÇÃO SOCIETÁRIA,


CONSELHO FISCAL, PREPOSTOS

A condução das atividades empresárias no mundo moderno (especialmente,


após o surgimento dos grupos empresariais transnacionais e conglomerados
financeiros) adotar uma forma de organização jurídica que pode vir a reunir
mais de uma sociedade integrante de um mesmo grupo societário.

Ou seja, várias sociedades, com personalidades jurídicas distintas, mas sob


o controle comum de um mesmo grupo de pessoas (sócio controlador ou
beneficiário final. Existe uma diferença relevante na organização da atividade
econômica executada por uma ou várias sociedades: a relação entre o sujeito
da atividade (a sociedade, sujeito de direitos e obrigações) e o seu objeto (a
empresa, atividade econômica organizada). Isso por que o direito positivo
brasileiro privilegia a atuação individual das sociedades para uma mesma
finalidade. Apesar do fenômeno dos grupos societários ser mais aplicáveis
à realidade das grandes empresas composta por uma ou várias sociedades
institucionais, o código civil (que trata das sociedades contratuais) apresenta
alguns dispositivos sobre a coligação societária por meio de participação de
uma ou várias sociedades no capital social de outra(s) sociedade(s), conforme
previsto nos artigos 1.097 a 1.101 do CCB.

Deste modo, o CCB, apesar de não trazer o conceito de grupo de


sociedades (o que é feito no artigo 265 da Lei das S.A.), elenca quatro
espécies de participação de uma sociedade no capital social de outra para fins
de estudo do gênero coligação. As formas de participação reconhecidas pelo
CCB, são as relações de (1) controle, (2) filiação, (3) simples participação
e (4) participação recíproca.

Na relação de controle, tem-se a presença de uma sociedade


controladora e uma sociedade controlada (art. 1.098, inc. I e II, do
CCB). Haverá uma relação de controle toda vez que uma sociedade (a
controladora) possuir a maioria dos votos nas deliberações dos quotistas
ou da assembleia geral e o poder de eleger a maioria dos administradores
de outra sociedade (a controlada).

Obs.: o artigo 1.098 define os elementos necessários para


identificação da relação de controle e, especificamente, da
existência de uma sociedade controlada. Contudo, o conceito de
poder de controle está definido no artigo 116 e tratado nos artigos
117 e 246 da Lei das S.A.

FGV DIREITO RIO 38


TIPOS SOCIETÁRIOS

Haverá uma relação de filiação (ou coligação em sentido estrito) sempre


que uma sociedade for titular de mais de dez por cento do capital social de
outra sociedade, mas sem controlá-la (art. 1.099 do CCB).

Sociedade controlada (artigo 1.098, inc. I e II) é a sociedade cuja maioria


de votos nas deliberações de seus sócios e o poder de eleger a maioria
dos seus administradores é de titularidade de outra sociedade (poder de
controle). A relação de controle pode se estabelecer de modo direto ou
indireto. Na relação de controle direto, a sociedade controladora (holding)
exerce o seu poder de controle por que a titularidade das ações ou quotas
da sociedade controlada integra o seu patrimônio. Na relação de controle
indireto, a sociedade controladora exerce o poder de controle na sociedade
controlada por meio de outras sociedades que funcionam como veículos de
investimento da sociedade controladora na sociedade controlada.

Como exemplo, pode-se citar (1) controle direto – o caso de uma


sociedade (sociedade controladora) cujo objeto social seja exclusivamente
adquirir participações no capital social de outras sociedades que exercem
atividades econômicas organizadas ou não (sociedades operacionais) e (2)
controle indireto – o caso de uma sociedade que sociedade constituída para
gestão de um patrimônio familiar (sociedade controladora) que é titular
da maioria das quotas representativas do capital social de uma sociedade
veículo de investimentos (holding pura) que, por sua vez, é titular da maioria
do capital social de outras sociedades que exercem atividades econômicas
organizadas ou não (sociedades operacionais).

Na outra ponta da relação de controle, considera-se sociedade


controladora a sociedade que direta ou indiretamente tem o direito de
exercer a maioria dos votos nas deliberações sociais e de eleger a maioria
dos administradores da sociedade controlada.

Duas ou mais sociedades são afiliadas (ou coligadas em sentido estrito)


quando uma sociedade é titular de dez por cento ou mais do capital social
de outra(s) sociedades sem que isso resulte na constituição de uma relação
de controle societário entre ambas (art. 1.099 do CCB).

Tem-se uma relação de simples participação quando uma sociedade


participa do capital social de outra sociedade em percentual inferior a dez
por cento da parcela do capital social com direito de votar nas deliberações
sociais (art. 1.100 do CCB).

FGV DIREITO RIO 39


TIPOS SOCIETÁRIOS

Participação recíproca é quando duas sociedades que são sócias entre si


participam do capital social uma da outra. Para as sociedades contratuais
regidas pelo código civil esta participação mútua no capital social entre
sociedades que mantém uma relação de sociedade somente pode ocorrer até
o limite de suas próprias reservas de lucros (excluindo-se as reservas legais),
conforme o artigo. 1.101 do CCB.

Obs.: O direito positivo brasileiro adota a participação no capital


social para identificação dos potenciais inter-relacionamentos e
formação de grupos societários e para a identificação do poder de
controle. Contudo, é possível observar na prática empresarial da
organização da atividade econômica outras formas de atuação
conjunta entre sociedades empresárias. Porém, existe, ainda, uma
série de conceitos jurídicos, econômicos ou contábeis relevantes para
a identificação de formas de atuação concertada entre sociedades
para a formação de grupos societários, econômicos ou empresariais.
Tais como os conceitos de grupo econômico, conglomerado
financeiro, sociedades sob controle comum, bloco de controle e
controle externo.

Alguns exemplos de conceitos relevantes para a definição de uma relação


de controle empresarial/societário:

GRUPO DE CONTROLE: “pessoa, ou grupo de pessoas vinculadas por


acordo de votos ou sob controle comum, que detenha direitos de sócio
correspondentes à maioria do capital social de sociedade anônima ou a 75%
(setenta e cinco por cento) do capital social de sociedade limitada.” (Art
6°, inciso II, da Resolução Nº 4.122/12 expedida pelo Conselho Monetário
Nacional, que regula a constituição de instituições financeiras)

PARTICIPAÇÃO QUALIFICADA – “a participação, direta ou indireta,


detida por pessoas naturais ou jurídicas, equivalente a 15% (quinze por cento)
ou mais de ações ou quotas representativas do capital total das instituições do
grupo de controle. (Res. CMN 4122/12, art. 6°, Inc. I).

INFLUÊNCIA SIGNIFICATIVA – Presume-se a partir de 20%, parágrafo


5º do artigo 243 da Lei das S.A., participação no capital que não caracteriza
controle nem é especulativo, porém a sociedade detentora da participação
participa das decisões de política financeira ou operacional da investida.

PODER DE CONTROLE – “poder de eleger a maioria dos administradores


e de determinar a orientação dos negócios da companhia”.

FGV DIREITO RIO 40


TIPOS SOCIETÁRIOS

VINCULO DE INTERESSE – “Verifica-se integração de atividade ou


vinculo de interesse, quando as pessoas jurídicas referidas neste artigo
[sociedades relacionadas com a instituição sob o regime de RAET, intervenção
ou liquidação], forem devedoras da sociedade sob intervenção ou submetida
liquidação extrajudicial, ou quando seus sócios ou acionistas participarem do
capital desta importância superior a 10% (dez por cento) ou seja cônjuges,
ou parentes até o segundo grau, consanguíneos ou afins, de seus diretores ou
membros dos conselhos, consultivo, administrativo, fiscal ou semelhantes”
(Art. 51, parágrafo único, Lei 6.024/74 – intervenção e liquidação de
instituições financeiras.

PARTICIPAÇÃO ACIONÁRIA RELEVANTE – “controladores, diretos


ou indiretos, e os acionistas que elegerem membros do Conselho de
Administração, bem como qualquer pessoa natural ou jurídica, ou grupo
de pessoas, agindo em conjunto ou representando um mesmo interesse, que
atingir participação, direta ou indireta, que corresponda a 5% (cinco por
cento) ou mais de espécie ou classe de ações representativas do capital de
companhia” (Art. 12, Instrução CVM 358/02 – divulgação de informações
ao mercado por companhias abertas)

CONSELHO FISCAL

O Conselho Fiscal é o órgão da sociedade responsável por fiscalizar as


contas apresentadas pelos administradores da sociedade.

O Conselho Fiscal é um órgão de instituição facultativa e deve ser composto


por, no mínimo, três membros e seus respectivos suplentes. Os membros do
Conselho Fiscal não precisam obrigatoriamente ser sócios da sociedade.

Por ser tratar de um órgão de controle da administração, a instalação e


funcionamento do Conselho Fiscal pode ser um importante aliado dos sócios
minoritários da sociedade no acesso e controle das informações financeiras
da sociedade elaboradas e disponibilizadas pela administração da sociedade.
Deste modo, sócios minoritários titulares de 1/5 (20%) do capital social da
sociedade têm o direito de eleger separadamente um membro do Conselho
Fiscal e seu respectivo suplente (art. 1.066, § 2º, do CCB).

O Conselho Fiscal é um importante órgão colegiado de controle e


governança interna da sociedade. Por ser um órgão colegiado, os membros
do Conselho Fiscal respondem solidariamente perante a sociedade e perante
terceiros (nos termos dos artigos 1.016 e 1.070 do CCB).

FGV DIREITO RIO 41


TIPOS SOCIETÁRIOS

Segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - IBGC1 (2007,


p. 9), as principais vantagens para os sócios da existência de um Conselho
Fiscal são:

É órgão independente da administração;


É uma instância de conforto para os administradores (por que os
administradores dissidentes podem encaminhar suas queixas para o
Conselho Fiscal);
Contribui para o valor da sociedade por meio do monitoramento dos
processos de gestão dos riscos e da criação de condições mais propícias
à redução do custo de capital da sociedade; e
Pode dedicar-se, com maior profundidade, ao exame de detalhes de
matérias de interesse da sociedade

Os prepostos da sociedade são aqueles profissionais que, não sendo sócios


da sociedade, exercem atividades auxiliares para o seu funcionamento e
necessárias para que a sociedade exerça a sua atividade econômica organizada.

Como regra geral, os prepostos das sociedades regidas pelo código civil
exercem as suas atividades em caráter personalíssimo (art. 1.169 do CCB)
e têm dever de lealdade para com a sociedade para a qual exercem as suas
atividades. Assim, os prepostos não podem exercer atividades concorrentes às
da sociedade que representam (art. 1.170 do CCB).

O CCB trata especificamente de dois tipos de prepostos da sociedade: o


gerente e o contabilista.

O gerente é aquele empregado da sociedade que está encarregado do


exercício da empresa (art. 1.172 do CCB). Ou seja, é responsável pelas
atividades de planejamento, organização, direcionamento e controle da
execução do trabalho pelos demais empregados da sociedade.

O contabilista por sua vez é o profissional, devidamente capacitado e


habilitado tecnicamente para o exercício profissional da atividade de contador
(nos termos do Dec.-Lei nº 9.295/46) que é responsável pela escrituração
contábil e financeira da sociedade. Os registros realizados por esse preposto,
mesmo que seja um prestador de serviços contratado pela sociedade e não
um empregado da sociedade (o que é de praxe) produzem efeitos jurídicos 1
Instituto Brasileiro de Governança
Corporativa (2007, p. 9) Cadernos
como se tivessem sido feitos pela própria sociedade (preponente), conforme Governança Corporativa: Guia de
Orientação para o Conselho Fiscal. São
o artigo 1.177 do CCB. Paulo: IBGC. 2ª Edição.

FGV DIREITO RIO 42


TIPOS SOCIETÁRIOS

Os prepostos têm responsabilidade pessoal subjetiva perante a sociedade


(preponente) por atos culposos e, perante terceiros, respondem de forma
solidária com a sociedade por atos dolosos.

Obs.: A regra de responsabilidade dos prepostos está prevista no


parágrafo único do artigo 1.177 do CCB. Apesar desta regra estar
na Seção III (Do contabilista e outros auxiliares) do Capítulo III
(Dos Prepostos) do Título IV (Dos Institutos Complementares) do
Livro II (Do direito da Empresa) do CCB, é a mesma regra de
responsabilidade aplicável à todos os prepostos por atos culposos
cometidos contra a sociedade e dolosos cometidos contra terceiros.

A identificação do regime de responsabilidade da sociedade preponente


pelos atos praticados pelos prepostos depende da identificação do local onde
o ato foi praticado. Caso o ato que enseja a responsabilização tenha sido
praticado pelo preposto dentro do estabelecimento da sociedade, a sociedade
preponente responde por todos os atos praticados pelo preposto. Caso o ato
tenha sido praticado pelo preposto fora do estabelecimento da sociedade, a
sociedade preponente responde pelos atos praticados pelo preposto de acordo
com os limites dos poderes outorgados ao preposto (Inciso III dos artigos
932 e 1.178, caput e parágrafo único, do CCB).

LEITURA SUGERIDA

ABRAÃO, Eduardo Lysias Maia (2011) Acordo de Acionistas: típicos e


atípicos. Curitiba: Juruá.

EIZIRIK, Nelson Laks (2011) A lei das SA comentada. Volume III. São
Paulo: Quartier Latin.

FGV DIREITO RIO 43


TIPOS SOCIETÁRIOS

3.5 AULA 13 – SOCIEDADE LIMITADA – CONCENTRAÇÃO


E DESCONCENTRAÇÃO SOCIETÁRIA

O objetivo da presente aula é analisar as operações, reorganizações ou


mutações societárias que têm como resultado (1) a mudança no tipo societário
de uma determinada sociedade (empresarial ou não); ou (2) a combinação ou
separação da estrutura patrimonial, societária e econômica de uma ou várias
sociedades.

Como exemplo do primeiro caso citado no parágrafo anterior, tem-se o


instituto jurídico da transformação societária e como exemplo do segundo
caso, têm-se as operações societárias que resultam em (2a) “aglutinação”
(Borba, 2017, p. 481) ou concentração ou em (2b) cissiparidade (Borba,
2017, p. 481) ou desconcentração societária ou patrimonial total ou parcial
de uma ou de algumas das sociedades envolvidas na operação (art. 2.033 do
CCB).

É possível incluir na segunda subcategoria citada acima as operações de


cisão (art. 229 da Lei das S.A.).

TRANSFORMAÇÃO

Na transformação societária os sócios de uma sociedade inicialmente


constituída como um tipo societário (por exemplo, uma sociedade em
nome coletivo) deliberam para que a sociedade havida entre eles passe a
funcionar com base nas regras de um outro tipo societário (por exemplo,
uma sociedade limitada). Assim, há uma conversão do tipo legal societário
e, consequentemente, de regime jurídico aplicável à sociedade após a
transformação. A transformação não é suficiente para afetar negativamente
os eventuais direitos de crédito ou de qualquer outra natureza (fazer ou não
fazer) contra a sociedade existentes no momento da transformação.

Em termos práticos, a transformação societária pode ser interessante ou


necessária para readequar as regras de funcionamento interno ou externo
(governança) da sociedade ou de relacionamento entre os sócios a uma nova
configuração patrimonial, societária ou obrigacional da sociedade.

Por exemplo, uma sociedade que tenha experimentado valorização e


crescimento de suas atividades econômicas, e, consequentemente, atraído
o interesse de um novo sócio investidor, pode precisar ter alterado o seu

FGV DIREITO RIO 44


TIPOS SOCIETÁRIOS

tipo societário para conferir maior proteção ao investimento a ser realizado


pelo novo sócio. Neste sentido é comum que as sociedades limitadas se
transformem em sociedades anônimas fechadas para observar regras mais
detalhadas de governança corporativa.

As regras aplicáveis à transformação das sociedades contratuais estão


previstas nos artigos 1.113 a 1.115 do CCB e as regras aplicáveis à
transformação das sociedades institucionais (por ações) estão previstas no
artigo 220 da Lei das S.A.

Salvo previsão expressa em contrato social, a deliberação para a


transformação do tipo societário depende de consenso unânime entre os
sócios (art. 1.114 do CCB). Caso a transformação esteja expressa em contrato
social e possa ser aprovada com quórum menor do que a unanimidade, os
sócios dissidentes da deliberação tem direito de se retirar da sociedade. O
valor das quotas de titularidade do sócio dissidente/retirante será apurado
com base na situação patrimonial da sociedade na data da deliberação de
transformação e do exercício do direito de retirada. O valor patrimonial da
sociedade deverá ser verificado em balanço contábil levantado especialmente
para essa finalidade, nos termos dos artigos 1.031 e 1.115 do CCB.

Obs.: Na formalização do ato jurídico de transformação, devem ser


seguidas as regras aplicáveis para a constituição de sociedades do tipo
societário a ser adotado (art. 1.113 do CCB).

Segundo o parágrafo 3º do artigo 968 do CCB, incluído pela Lei


Complementar nº 128/2008, é possível que o empresário individual “aceite
sócios” e, assim, transforme o seu registro como empresário individual em
registro como sociedade contratual.

Nesta hipótese de transformação atípica, que Borba (2017, p. 470)


chama de “transformação imprópria”, não se está trata tecnicamente de
uma transformação societária. Pois, em uma sociedade necessariamente os
elementos para a configuração de uma relação societária estão presentes
(capital social, pluralidade de sócios, autonomia patrimonial, obrigacional
e processual, etc.), mas sim da constituição de uma nova sociedade cujo o
fundo social será formado a partir da parcela patrimonial e obrigacional
do empresário que estava vinculada às atividades anteriormente exercidas
diretamente pelo empresário individual.

Alternativamente, pode-se considerar que a transformação realizada nos

FGV DIREITO RIO 45


TIPOS SOCIETÁRIOS

termos do parágrafo 3º do artigo 968 do CCB não é um subtipo “impróprio”


de transformação societária, mas uma transformação de outra natureza
jurídica: registral em vez de societária, em linha com a posição manifestada
pelo Departamento de Registro de Empresas e Integração – DREI por meio
do inciso II do artigo 1º da Instrução Normativa nº 35 de 03.03.17.

INCORPORAÇÃO

Na operação societária de incorporação, uma ou mais sociedades são


totalmente absorvidas por outra (a sociedade incorporadora).

Após a incorporação, as sociedades incorporadas se extinguem e a


sociedade incorporadora sucede integralmente as sociedades incorporadas
em todos os seus direitos e obrigações de qualquer natureza (civil, trabalhista,
previdenciária, tributária, etc.). Os sócios da antiga sociedade incorporada
passam a ser sócios da sociedade incorporadora.

Para a formalização da operação de incorporação a administração das


sociedades incorporadora e incorporada(s) precisam aprovar um documento
denominado “protocolo da incorporação” onde estão detalhadas todas as
potenciais vantagens de desvantagens da operação, bem como os parâmetros
negociais e administrativos para a realização prática da incorporação as regras
aplicáveis à e as sociedades. O valor da sociedade incorporadas deverá estar
fundamentado em um laudo de avaliação elaborado por peritos contábeis,
nos termos do parágrafo 2º do artigo 1.117 do CCB.

FUSÃO

Na operação societária de fusão duas ou mais sociedades se unem para


formar uma nova sociedade. Com a fusão há extinção das sociedades
fusionadas e, assim como na incorporação, há a sucessão universal de sociedade
resultante da fusão em todas as obrigações das sociedades fusionadas. Antes
da constituição da nova sociedade deve ser realizado laudo de avaliação e
submetido para a aprovação dos sócios da nova sociedade, nos termos do
parágrafo 1º do artigo 1.120 do CCB.

Para a realização da fusão, todos os sócios das sociedades envolvidas na


fusão devem aprovar em reunião ou assembleia individual: (1) a realização da
fusão; (2) o projeto de ato contrato social ou estatuto da nova sociedade; (3)

FGV DIREITO RIO 46


TIPOS SOCIETÁRIOS

o plano de distribuição do capital social da nova sociedade; e (4) o laudo de


avaliação da(s) outra(s) sociedade(s) participante(s) da fusão (Parágrafos 1º e
3º do artigo 1.120 do CCB).

Obs.: Caso a fusão envolva uma sociedade anônima, os acionistas


da S.A. deverão aprovar um quinto documento além dos indicados
acima: o protocolo da fusão (artigo 224 da Lei das S.A.).

CISÃO

Na operação societária de cisão o patrimônio da sociedade cindida é total


ou parcialmente transferido para o patrimônio de outras sociedades novas ou
existentes.

Na cisão total, a sociedade cindida se extingue o as duas ou mais parcelas


do seu patrimônio são transferidas para outras sociedades (as sociedades
receptoras). Caso as sociedades receptoras sejam novas, será necessário
observar os procedimentos para constituição das novas sociedades de acordo
com o seu tipo societário.

Na cisão parcial, há a responsabilidade solidária entre a sociedade cindida


que permaneceu existente após a cisão e a(s) sociedade(s) receptora(s) de
parcela do patrimônio da sociedade cindida. Na cisão total, as sociedades
novas ou existentes que receberem parcelas do patrimônio da sociedade
cindida respondem solidariamente pelas obrigações da sociedade cindida que
se extinguiu. (art. 233 da Lei das S.A.).

Na cisão com versão do patrimônio para sociedades já existentes devem


ser observadas as regras da incorporação (art. 229, parágrafo 3º, e art. 227
da Lei das S.A.). É possível realizar a cisão de sociedades com a versão de
patrimônio para sociedades de tipos societários, natureza jurídica (simples ou
empresária) ou objetos sociais diferentes.

Obs.: Os atos societários que aprovaram a cisão podem estipular


limitações na regra geral de responsabilidade solidária entre as
sociedades sobreviventes da cisão, porém os credores da antiga
sociedade cindida poderão se opor à operação societária em até
noventa dias após a publicação dos atos da cisão (parágrafo único do
art. 233 da Lei das S.A.).

FGV DIREITO RIO 47


TIPOS SOCIETÁRIOS

Obs.: As regras sobre a cisão de sociedades previstas na Lei das S.A.


(art. 229) são aplicáveis às sociedades contratuais regidas pelo CCB
porque o CCB não trata sobre o tema da cisão de sociedades.

Os atos de fusão, transformação, cisão e incorporação precisam ser


registrados perante a Junta Comercial competente e publicados, nos termos
da Instrução Normativa DREI nº 35/2017.

A realização de mudanças na estrutura societária de uma ou várias


sociedades por meio de operações de transformação, fusão, cisão ou
incorporação não afetam, per se, a continuidade ou o funcionamento dos
estabelecimentos (art. 1.142 do CCB) onde as atividades econômicas
organizadas são desempenhadas.

Os credores das sociedades envolvidas em processos de fusão, cisão


ou incorporação podem se opor à realização da reestruturação societária
pretendida. Para tal finalidade, os credores afetados negativamente – dentro
do prazo de noventa dias após a publicação dos atos relativos à fusão, cisão ou
incorporação – pleitear judicialmente a anulação da reestruturação societária
(art. 1.122 do CCB). Por exemplo, um credor poderia vir a ser prejudicado
por uma operação de fusão, cisão ou incorporação se o seu risco de crédito
for aumentado por conta da reestruturação societária.

FGV DIREITO RIO 48


Conteúdo / Instituto Transformação Fusão Cisão Incorporação

Duas sociedades se unem Uma sociedade se separa total ou Uma sociedade existente é
Conteúdo Mudança do tipo
para originar uma nova parcialmente em duas ou mais sociedades adquirida por outra
do ato societário (art. 1.113)
(art. 1.119) novas ou existentes (art. 229, LSA) (art. 1116)
Unânime, salvo previsão
Quórum de aprovação 75% (art. 1071, VI+1076, I) 75% (art. 1071, V+1076, I) 75% (art. 1071, VI+1076, I)
no contrato (art. 1.113)
Direito de retirada se
Proteção Direito de retirada em Direito de retirada em D+30 / Ltda. Direito de retirada em
aprovada por maioria
minorias D+30 (art. 1077) (art. 1077), S.A. (art. 137+136, IX) D+30 (art. 1077)
(art. 1.114)

Ltda. / credor pode questionar judicialmente


em D+90 (art. 1122)
SA / Cisão total – sucessão universal
Sucessão universal / Sucessão universal /
(art. 229, §1º, LSA)
credor pode questionar credor pode questionar
Proteção Direitos permanecem Cisão parcial – responsabilidade solidária
judicialmente em D+90 judicialmente em D+90
credores inalterados (art. 1.115) (art. 233, LSA)
(art. 1122), se Ltda., e (art. 1122), se Ltda., e
Direito de contestar judicialmente em D+60
D+60 (art. 232, LSA, se SA. D+60 (art. 232, LSA, se SA.
(art. 232, LSA)
Direito de oposição em D+90
(art. 233, parágrafo único, LSA)

Deliberação dos sócios em


Deliberação dos sócios
ambas as sociedades
Deliberação dos sócios em ambas as em ambas as sociedades/
Deliberação dos sócios (art. 1120), se SA,
Formalização sociedades/ aprovação do protocolo de cisão aprovação do protocolo
(art. 1.113+1.071) aprovação do protocolo
(art. 1.117) de incorporação
de fusão
(art. 1.117)
(art. 228, par. 1º, LSA)

Não é tratada no CCB


Providências complementares
Providências
(RGI, transferências de bens) Providências
Observações Estabelecimentos complementares
Tipos de cisão (parcial ou “falsa cisão”/ total complementares (RGI,
Adicionais permanecem inalterados (RGI, transferências
ou “cisão pura” / cisão-absorção(cinde para transferências de bens)

FGV DIREITO RIO


de bens)
sociedades existentes) / cisão holding
(cisão para formação de grupo societário);
TIPOS SOCIETÁRIOS

49
TIPOS SOCIETÁRIOS

LEITURA SUGERIDA

SADDI, Jairo (Org.) (2002) Fusões e aquisições: aspectos jurídicos e


econômicos. São Paulo: IOB.

BORBA, José Edwaldo Tavares (2017). Direito societário. 15ª Edição. São
Paulo: Atlas.

FGV DIREITO RIO 50


TIPOS SOCIETÁRIOS

4. REGIME JURÍDICO DA EIRELI

4.1 AULA 14 – FORMAS DE EXERCÍCIO SINGULAR DA ATIVIDADE


ECONÔMICA ORGANIZADA

O objetivo das aulas X a Y é compreender como se dá o exercício da


atividade empresária por apenas um empresário assumindo todo o risco da
atividade empresária. No direito positivo brasileiro existem três modalidades
de organização jurídica desta modalidade de atuação empresarial: o
Empresário Individual – EI, o Microempreendedor Individual e a Empresa
Individual de Responsabilidade Limitada – EIRELI.

As principais regras aplicáveis a tais modalidade de exercício da


atividade empresária estão dispostas (1) nos artigos 966 a 980 do CCB
para o EI, (2) na Lei Complementar nº 123/06 para o MEI; e (3) na Lei
12.441/11 para o EIRELI.

O Microempreendedor individual foi introduzido no ordenamento


jurídico brasileiro em 2006, por meio do artigo 18-A da Lei Complementar
nº 123, que trata do regime jurídico tributário conhecido como “Simples
Nacional”. Neste regime facilitado de tributação os empresários individuais
(pessoas naturais) e as sociedades empresárias (Microempresas ou Empresas
de Pequeno Porte), podem exercer suas atividades com menor ônus tributário,
tanto em termos de valor das alíquotas incidentes sobre as atividades
econômicas organizadas exercidas, quanto em termos da burocracia necessária
para o cumprimento das obrigações tributárias.

Isso porque, as sociedades empresárias integrantes dos Simples


Nacional podem arrecadar uma série de impostos (IRPJ, IPI, ICMS, ISS)
e contribuições (CSLL, COFINS, PIS/Pasep, CPP) em um Documento
Único do Arrecadação – DAS (art. 13 da LC 123/06).

No caso do MEI que esteja devidamente enquadrado dentro do limite


máximo de faturamento anual de R$81.000,00 (R$ 6.750,00 por mês), além
de recolher os impostos e contribuições por meio de um documento único, o
DAS, também existe a vantagem de pagar um valor fixo mensal independente
do faturamento (Artigo 18-A, parágrafo 2º, Inciso V, da Lei complementar
nº 123/06): (1) R$ 49,902 de INSS e (2a) R$ 1,00 (um real) de ICMS e/ou 2
Valor atualizado para o salário
(2b) R$ 5,00 (cinco reais) de ISS (conforme o caso). mínimo vigente em 2019.

FGV DIREITO RIO 51


TIPOS SOCIETÁRIOS

A criação do regime jurídico do Microempreendedor Individual - MEI


teve como foco principal, além de aumentar a arrecadação pelo fisco, reduzir
a informalidade na condução da atividade empresarial na base da pirâmide
econômica e social brasileira.

Inicialmente é importante destacar que o MEI é uma espécie do gênero


empresário definida nos termos do artigo 966 do CCB, nos termos dos artigos
3º e 18-A do Lei Complementar nº 123/06. Esse destaque é importante
porque, no Brasil, por fatores culturais e sociais, é comum identificar a
separação das figuras do “Empreendedor” e do “Empresário”. Assim, quando
se pensa em empreendedor, especialmente no microempreendedor, é comum
vermos referências positivas ao brasileiro trabalhador (hipossuficiente) –
logo, demandante de cuidados e auxílios – e quando se pensa em empresário
é comum vermos referências negativas ao capitalista explorador e inimigo
social. Uma análise “sociológica” das concepções sobre o empreendedorismo
no Brasil está fora dos objetivos da aula, porém o destaque é relevante para
identificar que, apesar das diferenças sociais e culturais, a diferença entre o
empresário individual e o microempreendedor é de grau. Pois, na essência,
do ponto de vista empresarial, ambos organizam a atividade econômica,
assumem todos os riscos da atividade econômica na busca pelo lucro.

Apenas as atividades previamente definidas na tabela constante como


Anexo XI da Resolução nº 140 expedida em 22 de maio de 2018 pelo Conselho
Gestor do Simples Nacional podem se formalizar por meio da figura jurídica
do MEI. Alguns exemplos de atividades (ocupações) permitidas são: comércio
varejista, comércio de produtos farmacêuticos, fabricação de produtos para o
consumo, assistência técnica, locação de maquinário e prestação de serviços,
diversos (tais como artesanato, barbearia, entregas, comunicação, etc.)

FGV DIREITO RIO 52


TIPOS SOCIETÁRIOS

4.2 AULA 15 – REGIME JURÍDICO DA EIRELI

O instituto jurídico da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada


- EIRELI foi criado em 2011, por meio da lei 12.441, de 11 de julho, que
introduziu o artigo 980-A no CCB.

Com a introdução da EIRELI no ordenamento jurídico brasileiro passou


a ser possível a criação de um veículo jurídico que permitisse a limitação da
responsabilidade do empresário e a segregação patrimonial, obrigacional e
processual entre o empresário individual e a parcela de seus bens, patrimônio,
estabelecimentos e obrigações referentes à sua atividade econômica.

A EIRELI representou uma inovação no direito empresarial brasileiro


por que foi a primeira vez em que se reconheceu a própria empresa como
sujeito de direitos e não como objeto da atividade da atividade exercida pelo
empresário individual ou pela sociedade empresária (titular da empresa).

A discussão sobre a possiblidade de limitação da responsabilidade do


titular da empresa pelos riscos da atividade econômica é antiga e encontra
formas similares em outros países. Por exemplo, em Portugal existe tanto
o instituto do Estabelecimento Individual de Responsabilidade Limitada –
EIRL, quanto a sociedade unipessoal por quotas (Número 5 do artigo 270º-
A). Contudo, o EIRL não tem personalidade jurídica.

A principais características da EIRELI são:

• A EIRELI tem personalidade jurídica própria, constituindo um


novo tipo de pessoa jurídica no direito brasileiro (inciso VI do
artigo 44 do CCB);

OBS.: A maioria da jurisprudência e doutrina considera que a


EIRELI constitui um novo tipo de pessoa jurídica. Vide, por exemplo,
o Enunciado nº 3 da I Jornada de Direito Comercial, realizada em
2003: “3. A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada –
EIRELI não é sociedade unipessoal, mas um novo ente, distinto da
pessoa do empresário e da sociedade empresária”. Porém é possível
defender que se trata, na verdade de uma sociedade unipessoal. Neste
sentido, veja-se o seguinte posicionamento do Professor da Faculdade
de Direito da USP Erasmo Valladão Azevedo e Novaes França: “O
nosso fértil legislador pátrio pode já ter criado muitas coisas, mas
seguramente não conseguiu engendrar uma nova modalidade de
organização finalística privada, o sempre conveniente tertium genus...

FGV DIREITO RIO 53


TIPOS SOCIETÁRIOS

Se assim é, por qual razão o nosso legislador não afirmou claramente


tratar-se de sociedade unipessoal? Possivelmente, não o fez por
conta de conhecido e ultrapassado constrangimento ou prurido
jurídico em consagrar que, mesmo sendo a sociedade legalmente
qualificada como contrato e resultar da reunião de pessoas (CC,
art. 981), pode haver sociedade com um só sócio – questão essa,
de resto, de há muito resolvida, e muito bem resolvida, no direito
europeu continental através da 12ª Diretiva da CEE sobre Direito
das Sociedades de 30.12.1989: a sua constituição pode se dar por
ato unilateral e a sua arrumação dogmática é hoje dada pela teoria
do contrato plurilateral associativo através do qual se constitui e se
regra a organização.”

• Necessidade de capital social em valor no mínimo igual a cem vezes


o maior salário mínimo vigente no Brasil. Em 2018, o capital social
mínimo para a constituição da EIRELI é R$ 95.400,00 considerando
o salário mínimo de R$ 954,00 (artigo 1º do Decreto 9.255/17);

• O titular da EIRELI pode ser pessoa física ou jurídica (artigo 980-


A do CCB e item 1.2 do Regulamento constante como Anexo V à
Instrução Normativa nº 38, expedida pelo DREI em 02 de março de
2017);

• O titular de uma EIRELI somente pode participar de uma única


EIRELI (parágrafo 2º do artigo 980-A do CCB);

• A EIRELI pode resultar de um caso se unipessoalidade superveniente


(parágrafo único do artigo 1.033 do CCB) (Vide aula 10, abaixo);

• A EIRELI pode ser cessionária de direitos patrimoniais de autor


atribuíveis ao seu titular; e

• Exceto em casos de fraude, o patrimônio próprio da empresa individual


de responsabilidade limitada responde pelas dívidas assumidas pela
EIRELI e não se confunde com o patrimônio do seu titular.

A EIRELI, na forma como positivada no Brasil, pode ser criticada


por exigir um capital social mínimo considerado elevado para os padrões
das pequenas e médias sociedades empresárias brasileiras. Por exemplo,
segundo o Prof. Mattos Filho et al. (2014, p. 2), 77,9% das sociedades
limitadas ativas registradas no Estado de São Paulo têm capital social de até
R$ 50.000,00 cinquenta mil reais.

FGV DIREITO RIO 54


TIPOS SOCIETÁRIOS

Logo, é possível afirmar que a instituição de um capital social tão elevado,


por um lado, contribui para reduzir o número de “sociedades de fachada”
(onde um sócio tem 99,99% do capital social e o outro tem 0,01%), por
outro, se mostra ineficiente para aumentar a formalização de pequenos
empreendimentos e fomentar a organização de pequenos e médios negócios.

LEITURA SUGERIDA

FRANÇA, Erasmo Valladão Azevedo e Novaes (2012) Empresa individual


de responsabilidade limitada (lei 12.441/11): Anotações. In: Revista de
Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro, ano LI, nº 163.
São Paulo: Malheiros.

LAGASSI, Verônica; JACOB, Paola Domingues (2016) EIRELI: tensões


e perspectivas. In.: Anais do XXV ENCONTRO NACIONAL DO
CONPEDI - BRASÍLIA/DF. Organização CONPEDI/UnB/UCB/
IDP/UDF. Florianópolis: CONPEDI.

FGV DIREITO RIO 55


TIPOS SOCIETÁRIOS

5. INTRODUÇÃO ÀS SOCIEDADES EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO

5.1 AULAS 16 E 17 – INTRODUÇÃO ÀS SOCIEDADES EM CONTA DE


PARTICIPAÇÃO

As sociedades em conta de participação surgiram na idade média como


uma forma de viabilizar a participação dos membros da monarquia em
atividades empresariais típicas da burguesia ascendente e, portanto,
consideradas indignas para membros da nobreza.

Como os sócios participantes e investidores não queriam ter divulgada


a sua participação em uma sociedade empresária, foi criada a figura do
sócio oculto.

Ou seja, um sócio que contribui financeiramente para a formação do


fundo social, mas, por não participar na gestão e condução diárias das
atividades sociais, não aparece publicamente como integrante da sociedade
em conta de participação e tem o risco financeiro de seu investimento
limitado ao valor aportado na sociedade em conta de participação. Por
outro lado, o sócio ostensivo - empresário responsável pelo exercício da
atividade econômica - responde ilimitadamente perante terceiros e expõe
todo o seu patrimônio ao risco do negócio conduzido pela sociedade.

A sociedade em conta de participação é regulada pelo direito brasileiro


desde o antigo Código Comercial (Lei 556/185, artigos 325 a 328 -
REVOGADOS) e atualmente é regulada principalmente pelos artigos
991 a 996 do CCB.

Assim, a sociedade em conta de participação chegou até os dias atuais


como sendo uma sociedade com regime misto de responsabilidade dos sócios.
Pois, de um lado, há o sócio ostensivo, empresário e com responsabilidade
patrimonial ilimitada, e, de outro, os sócios ocultos (ou “participantes”),
com responsabilidade patrimonial limitada ao valor investido.

A sociedade em conta de participação é uma sociedade despersonificada


e, portanto, não tem personalidade jurídica própria e não adquire a
autonomia patrimonial, obrigacional e processual (decorrentes da aquisição
da personalidade jurídica) nem mesmo se os seus atos constitutivos forem
arquivados perante qualquer tipo de registro público.

FGV DIREITO RIO 56


TIPOS SOCIETÁRIOS

Por ser uma sociedade despersonificada, a sociedade em conta de


participação gera efeitos entre os seus sócios e não perante terceiros. De modo
que todas as obrigações sociais devem ser assumidas pelo sócio ostensivo em
seu nome próprio. A sociedade em conta de participação, inclusive, é proibida
de adotar qualquer forma de nome empresarial (art. 1.162 do CC/2).

Como as obrigações da sociedade em conta de participação são assumidas


exclusivamente pelo sócio ostensivo, em seu próprio nome, a relação que se
forma entre ele e os sócios participantes tem forte caráter pessoal e é fundada
na confiança que existe entre eles e no mútuo interesse em compartilhar
riscos (affectio societatis).

Neste sentido é que o sócio ostensivo é proibido de admitir o ingresso de


novos sócios participantes sem o prévio e expresso consentimento dos demais
sócios participantes (art. 995 do CCB).

O fundo social da sociedade em conta de participação compõe um


segmento especial do patrimônio do sócio ostensivo, este segmento
patrimonial especial forma a “conta” no qual participam os sócios ocultos
da sociedade em conta de participação e no qual devem ser escrituradas e
registradas todas as obrigações sociais da sociedade em conta de participação.

Os sócios ocultos têm o direito de fiscalizar e exigir a prestação das contas


sociais pelo sócio ostensivo, porém não podem participar ativamente da
gestão da sociedade em conta de participação ou representar a sociedade
perante terceiros, sob pena de perderem a proteção jurídica conferida aos
sócios ocultos por meio do direito à limitação de sua responsabilidade pelas
atividades sociais (arts. 992 e 993 do CCB).

LEITURA SUGERIDA

RAMIRES, Rogério. A Sociedade em Conta de Participação no Direito


Brasileiro. 2ª Ed. São Paulo: Almedina, 2013.

FGV DIREITO RIO 57


TIPOS SOCIETÁRIOS

5.2 AULA 18 – APLICAÇÕES PRÁTICAS DA SCP

O objetivo desta aula é discutir alguns casos práticos de utilização das


sociedades em conta de participação.

Ver anexos I, II e III.

LEITURA SUGERIDA

RAMIRES, Rogério. A Sociedade em Conta de Participação no Direito


Brasileiro. 2ª Ed. São Paulo: Almedina, 2013.

FGV DIREITO RIO 58


TIPOS SOCIETÁRIOS

Sétima Câmara Cível


Embargos de Declaração na Apelação Cível
Processo nº 0114926-11.2008.8.19.0001
Embargante (1): Domus Empreendimentos Imobiliários Ltda.
Embargante (2): VB Engenharia, Empreendimentos e Participações Ltda.
Relatora: Des. Maria Henriqueta Lobo

DUPLOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO – OMISSÃO –
OCORRÊNCIA – JUROS DE MORA
– TERMO INICIAL – CITAÇÃO.

Os juros de mora devem incidir a


partir da citação, por se tratar de
relação de natureza contratual.
Inteligência do artigo 405 do Código
Civil.

Desprovimento dos primeiros


embargos e provimento parcial dos
segundos embargos para, em decisão
de natureza integrativa, fixar a data da
citação como termo inicial dos juros
de mora.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Embargos de Declaração na


Apelação Cível – processo nº 0114926-11.2008.8.19.0001 - em que figuram
como embargantes Domus Empreendimentos Imobiliários Ltda. e VB
Engenharia, Empreendimentos e Participações Ltda..

Acordam, por unanimidade de votos, os Desembargadores que


compõem a Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro, em negar provimento aos primeiros embargos e dar parcial
provimento aos segundos embargos para, em decisão de natureza
integrativa, fixar a data da citação como termo inicial dos juros de mora.

Rio de Janeiro, 25 de abril de 2012.

DES. MARIA HENRIQUETA LOBO


PRESIDENTE E RELATORA

FGV DIREITO RIO 59


TIPOS SOCIETÁRIOS

Sétima Câmara Cível


Embargos de Declaração na Apelação Cível
Processo nº 0114926-11.2008.8.19.0001
Embargante (1): Domus Empreendimentos Imobiliários Ltda.
Embargante (2): VB Engenharia, Empreendimentos e Participações Ltda.
Relatora: Des. Maria Henriqueta Lobo

Cuida-se de duplos embargos de declaração, com fins explícitos de


prequestionamento e pedido de atribuição de efeitos modificativos, opostos
contra o acórdão de fl. 492/498, assim ementado:

“INDENIZATÓRIA - SOCIEDADE EM
CONTA DE PARTICIPAÇÃO -
INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA -
OBRIGAÇÃO DE DAR CIÊNCIA MENSAL
AOS SÓCIOS DE TODAS AS ATIVIDADES
SOCIAIS - DESCUMPRIMENTO - ILÍCITO
CONTRATUAL CONFIGURADO -
FRACASSO DO EMPREENDIMENTO -
DEVER DE REPARAÇÃO DO DANO -
INAPLICABILIDADE DA TEORIA DO
RISCO DO NEGÓCIO ANTE O
ALIJAMENTO INFORMAL DOS
AUTORES DA CONDUÇÃO DA
SOCIEDADE – TEORIA DA PERDA DE
UMA CHANCE.

Sociedade em conta de participação


constituída com a finalidade específica de
promover a incorporação e a construção de
condomínio residencial.
Pedido indenizatório ajuizado por sócios
contra outros, um deles o ostensivo, pela perda
do aporte inicial feito quando da constituição
da sociedade.
Preliminares de ilegitimidade passiva ad
causam e de interesse processual rejeitadas.
Quando as partes optam por constituir
determinada sociedade, é evidente o interesse
de todos os seus sócios em participar ou, ao
menos, ter ciência de tudo o quanto ocorre na
consecução do objeto social
Se os sócios, fazendo ou não o aporte de verba

FGV DIREITO RIO 60


TIPOS SOCIETÁRIOS

para dar início aos trabalhos, são alijados


informalmente das atividades sociais, não é
possível opor-lhes a tese do “risco do negócio”
como justificativa para que suportem,
exclusivamente, o ônus pelo fracasso do
empreendimento.
Aplicação da teoria da perda de uma chance,
porém, com redução do valor arbitrado pela
sentença.

Rejeição das preliminares com o provimento


parcial do primeiro recurso e desprovimento
do segundo apelo.”

Sustenta o primeiro embargante – Domus Empreendimentos


Imobiliários Ltda. - em seu recurso (fl. 500/502), a ocorrência de omissão
no acórdão que não teria analisado o fato de que a recorrente não era
proprietária do terreno vendido, nem tampouco participou ou lucrou com a
alienação ocorrida, inexistindo, assim, nexo de causalidade.

Alega a segunda embargante - VB Engenharia, Empreendimentos e


Participações Ltda., em suas razões (fl. 503/507) – que o acórdão é omisso,

a) ao deixar de examinar a alegação de


que a embargante não pode ser
responsabilizada pela devolução de verba que
não teria sido paga para ingresso na referida
sociedade;

b) ao deixar de apontar qual teria sido a


“falta de transparência no relacionamento com
os autores”;

c) quanto ao termo a quo de incidência


dos juros de mora e da correção monetária
sobre a verba indenizatória.

Busca, ainda, o prequestionamentos dos artigos 3º, 333, inciso I, 914,


e 919 do Código de Processo Civil e 186, 265, 398, 403, 955 e 966 do
Código Civil para fins de acesso aos Tribunais Superiores.

É o breve relatório.

Sem qualquer razão, todavia, o primeiro embargante.

FGV DIREITO RIO 61


TIPOS SOCIETÁRIOS

O acórdão embargado não padece de quaisquer das máculas


previstas no artigo 535 do Código de Processo Civil, tendo apreciado a
demanda em sua integralidade, utilizando-se de fundamentos suficientes ao
deslinde da controvérsia.

Inexiste o vício alegado se houve, no acórdão embargado,


pronunciamento explícito sobre a questão apontada como não enfrentada.

Conforme expressamente asseverado no acórdão recorrido,

“(...) merece especial destaque o disposto na


cláusula 5.2 do contrato social, verbis:

“Os serviços acima descritos serão prestados


pelo sócio ostensivo, em conjunto com o
sócio participante Domus
Empreendimentos Imobiliários Ltda.”

Assinale-se que a especial parceria


estabelecida entre os apelantes foi reconhecida
pela Domus às fls. 317, não apenas quando
confirma o recebimento do aporte feito pelos
autores, mas, também, quando informa o
repasse de parte desta verba à 1ª apelante, VB
Engenharia.” (fl. 497)

tendo sido ressaltado que

“(...) restando caracterizada a culpa das rés na


inexecução do contrato, como dispõe o artigo
392 do Código Civil, há que se reconhecer sua
responsabilidade de onde advém o dever de
indenizar.” (fl.498)

Resta evidente, na hipótese, que os embargos de declaração têm


como único objetivo a revisão do que já foi decidido à unanimidade.

Os embargos declaratórios têm lugar nas estritas hipóteses arroladas


nos itens I e II do artigo 535 da lei processual civil.

Consequentemente, se eles visam a rediscussão de matéria já


apreciada, devem ser desacolhidos, por sua manifesta impropriedade.

Passa-se, então, à análise do segundo recurso interposto.

FGV DIREITO RIO 62


TIPOS SOCIETÁRIOS

Relativamente ao item a, constou do aresto hostilizado que, “não só


a VB Engenharia, mas também a Domus se beneficiaram com o aporte de
capital feito pelos autores, cuja conduta em nada contribuiu para o
insucesso.” (fl.496)

A omissão pressupõe falta, lacuna, hipótese inocorrente.

No que toca ao item b, o acórdão salientou que

“As sucessivas tentativas dos autores em obter


informações sobre o desenvolvimento dos
trabalhos (fls. 110/119) expõem, por si só, a
prática reprovável das ora apelantes em alijá-
los informalmente da sociedade, recusandolhes
a oportunidade de atuar como legítimos
interessados em alcançar pleno êxito na
empreitada a que se propuseram.” (fl. 495/496)

Verifica-se não existir no aresto examinado omissão sobre matéria


que merecesse pronunciamento específico.

Quanto ao item c, não há como prevalecer o pedido formulado no


sentido de que a correção monetária incida a partir da data da alienação do
imóvel (14/05/2007) a terceiro.

A perda da chance deve ser identificada a partir do momento em que


os réus começaram a descumprir com suas obrigações, gerando prejuízo
para a parte decorrente de legítima expectativa que ela possuía em obter
ganhos com o empreendimento convencionado, na data projetada para
consecução.

Conforme se verifica, a cláusula nº 7 dispunha que

“As unidades dadas como pagamento serão


entregues livres e desembaraçadas de todo e
qualquer ônus judicial ou extrajudicial,
hipoteca legal ou convencional, no prazo de
24 (vinte e quatro) meses a contar da data
da assinatura do contrato de financiamento
com a CEF ou qualquer outro agente
financeiro, sendo certo que todas as despesas
com escrituras, registros de imóveis impostos
e taxas serão de inteira responsabilidade das
OUTORGADAS.” (fl.82)

FGV DIREITO RIO 63


TIPOS SOCIETÁRIOS

Neste cenário, ressaltou o aresto recorrido que

“não há nenhum documento nos autos


evidenciando que os autores teriam tido
conhecimento de qualquer impedimento para
execução da avença ou da superveniente
pretensão da VB Engenharia de vender o
terreno destinado à construção do referido
condomínio.” (fl.493)

Assim, não merece acolhimento o pedido de reforma do termo inicial


da correção monetária.

Acresce que o juiz não está obrigado a responder todas as alegações


das partes quando já tenha encontrado motivo suficiente para fundamentar a
decisão.

Nesse sentido a Súmula nº 52 deste Tribunal

"Inexiste omissão a sanar através de embargos


declaratórios, quando o acórdão não enfrentou
todas as questões argüidas pelas partes, desde
que uma delas tenha sido suficiente para o
julgamento do recurso."

Por fim, assiste razão ao embargante quanto ao termo inicial para o


cômputo dos juros de mora, que devem incidir, efetivamente, a partir da
citação, por tratar-se de relação de natureza contratual, a teor do disposto no
artigo 405 do Código Civil.

Nesse sentido a jurisprudência:

“AGRAVO INTERNO. DECISÃO


MONOCRATICA EM APELAÇÃO CÍVEL
QUE DEU PARCIAL PROVIMENTO AO
RECURSO DO RÉU, NA FORMA DO
ARTIGO 557, § 1º-A, DO CPC, APENAS
PARA FIXAR A DATA DA CITAÇÃO
COMO O TERMO INICIAL DOS JUROS DE
MORA. RESPONSABILIDADE CIVIL. (...)
(...). TRATANDO-SE DE RELAÇÃO
CONTRATUAL, O TERMO INICIAL DA
FLUIÇÃO DOS JUROS DE MORA É A
CITAÇÃO. NÃO DEMONSTRADO O

FGV DIREITO RIO 64


TIPOS SOCIETÁRIOS

DESACERTO DA DECISÃO IMPUGNADA,


NÃO HÁ COMO PROSPERAR A
IRRESIGNAÇÃO, TANTO MAIS QUANDO
NADA DE NOVO É TRAZIDO QUE
JUSTIFIQUE SUA REFORMA. MATÉRIA
EXPRESSAMENTE ANALISADA NO
DECISUM IMPUGNADO. DECISÃO QUE
SE MANTÉM. IMPROVIMENTO DO
RECURSO.”
(TJRJ – 16ª C.C.- Apelação Cível – processo
0002347-46.2010.8.19.0003 – Rel. Des. Marco
Aurélio Bezerra de Melo, julg. 06/09/11)

Por tais motivos, nega-se provimento aos primeiros embargos e dá-


se parcial provimento aos segundos embargos para, em decisão de natureza
integrativa, fixar a data da citação como termo inicial dos juros de mora.

MARIA HENRIQUETA LOBO


DESEMBARGADORA RELATORA

Certificado por DES. MARIA HENRIQUETA LOBO


A cópia impressa deste documento poderá ser conferida com o original eletrônico no endereço www.tjrj.jus.br.
Data: 27/04/2012 15:44:54 Local: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Processo: 0114926-11.2008.8.19.0001 - Tot. Pag.: 7

FGV DIREITO RIO 65


TIPOS SOCIETÁRIOS

Cosit
Fls. 1

Coordenação-Geral de Tributação

Solução de Consulta nº 139 - Cosit


Data 3 de junho de 2015
Processo
Interessado
CNPJ/CPF

Assunto: Simples Nacional


SOCIEDADE DE PROPÓSITO ESPECÍFICO (SPE). VEDAÇÃO À
PARTICIPAÇÃO NO CAPITAL DE OUTRA PESSOA JURÍDICA.
SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO (SCP).
EQUIPARAÇÃO À PESSOA JURÍDICA.
Para fins tributários, as SCP equiparam-se a pessoas jurídicas. Sendo
assim, as microempresas ou empresas de pequeno porte integrantes de
SPE, que seja sócia ostensiva de SCP não poderão beneficiar-se do
tratamento jurídico diferenciado previsto na LC nº 123, de 2006, o que
implica a exclusão do Simples Nacional.
Dispositivos Legais: Lei Complementar nº 123, de 2006, arts. 3º, §§ 4º,
VII, 5º e 6º, e 56, § 5º, III; Código Civil, de 2002, arts. 991 a 993; Decreto-
Lei nº 2.303, de 1986, art. 7º.

Relatório

Em processo protocolizado em 13/08/2014, a pessoa jurídica acima identificada,


por intermédio de seu representante legal, formula consulta acerca da interpretação Da
legislação tributária federal.

2 A consulente informa estar constituída sob a forma de Sociedade de Propósito


Específico (SPE), composta por pessoas jurídicas “do ramo de comércio de produtos
farmacêuticos (farmácias)”, que tem por objeto a compra de produtos farmacêuticos para
revenda às microempresas ou empresas de pequeno porte que sejam suas sócias, nos termos do
art. 56, § 2º, II, da Lei Complementar nº 123, de 2006.

3 Aduz que “outras farmácias têm buscado a presente consulente no sentido de


também usufruir da vantagem competitiva na aquisição de produtos para revenda”. Alega,
porém, que “como o procedimento de inclusão de novos sócios na SPE demanda grande
burocracia e custos financeiros elevados, cogitou-se utilizar a Sociedade em Conta de

FGV DIREITO RIO 66


TIPOS SOCIETÁRIOS

Solução de Consulta n.º 139 Cosit


Fls. 2

Participação (SCP), a qual poderia reduzir o tempo de associação da nova microempresa, bem
como reduzir os custos a patamares aceitáveis à característica da sua ocupação”.

4 Aponta que, consoante o art. 991 do Código Civil, “na SCP apenas o sócio
ostensivo, no presente caso a ora consulente, ficaria obrigada perante terceiros e RFB”.
Entretanto, alega haver “dúvida razoável quanto à utilização da SCP pela SPE (...) em virtude
de omissão na Lei Complementar nº 123/2006 quanto às hipóteses restritivas de direito”. Por
esse motivo, formula os questionamentos abaixo reproduzidos:

“1. A SPE (Sociedade de Propósito Específico) regida pelo art. 56 e seguintes da


Lei Complementar nº 123/2006, pode ter sócia ostensiva uma SCP (Sociedade em
Conta de Participação), que contenha no quadro societário (da SCP) somente
optantes pelo regime simplificado?

2. Em caso afirmativo, poderão as sócias da SCP usufruir das aquisições da SPE


(central de compras), tendo em vista o disposto na supracitada legislação?”

Fundamentos

5 Inicialmente, convém esclarecer uma possível impropriedade na forma pela qual


a consulente formula sua consulta. Pelo que relata ao longo de sua petição, pretende ver
esclarecido se uma sociedade de propósito específico (SPE), formada apenas por pessoas
jurídicas optantes pelo Simples Nacional, forma jurídica da qual se reveste, pode, sem que isso
implique a exclusão do Regime, ser sócia ostensiva de uma sociedade em conta de participação
(SCP) cujos sócios participantes também sejam exclusivamente pessoa jurídicas enquadradas
no regime tributário favorecido. Dessa forma, a questão posta seria saber se a SPE pode ser
sócia ostensiva de uma SCP e não (como aponta a consulente em sua pergunta de nº 1) se a
SPE pode ter uma SCP como sócia ostensiva.

6 Feita essa ressalva, cumprir destacar que a Lei Complementar (LC) nº 123, de
14 de dezembro de 2006, instituiu o Estatuto Nacional da Microempresa (ME) e da Empresa de
Pequeno Porte (EPP), por meio do qual estabeleceu normas gerais relativas ao tratamento
diferenciado e favorecido a ser dispensado a essas pessoas jurídicas. A vertente tributária está
presente no contexto do tratamento mais benéfico conferido pela LC nº 123, de 2006, conforme
preconiza seu art. 12, o qual institui o Simples Nacional - Regime Especial Unificado de
Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno
Porte.

7 No art. 3º da LC nº 123, de 2006, constam as hipóteses, as quais uma vez


incorridas, implicam a exclusão da ME ou EPP do tratamento diferenciado previsto nessa Lei:
“Art. 3º

(...)

§ 4º Não poderá se beneficiar do tratamento jurídico diferenciado previsto nesta


Lei Complementar, incluído o regime de que trata o art. 12 desta Lei
Complementar, para nenhum efeito legal, a pessoa jurídica:

(...)

VII - que participe do capital de outra pessoa jurídica;

FGV DIREITO RIO 67


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Solução de Consulta n.º 139 Cosit


Fls. 3

(...)

§ 5o O disposto nos incisos IV e VII do § 4o deste artigo não se aplica à


participação no capital de cooperativas de crédito, bem como em centrais de
compras, bolsas de subcontratação, no consórcio referido no art. 50 desta Lei
Complementar e na sociedade de propósito específico prevista no art. 56 desta
Lei Complementar, e em associações assemelhadas, sociedades de interesse
econômico, sociedades de garantia solidária e outros tipos de sociedade, que
tenham como objetivo social a defesa exclusiva dos interesses econômicos das
microempresas e empresas de pequeno porte.

§ 6º Na hipótese de a microempresa ou empresa de pequeno porte incorrer em


alguma das situações previstas nos incisos do § 4o, será excluída do tratamento
jurídico diferenciado previsto nesta Lei Complementar, bem como do regime de
que trata o art. 12, com efeitos a partir do mês seguinte ao que incorrida a
situação impeditiva.”

8 Como se vê, o art. 3º, § 4º, VII, impede que pessoa jurídica que participe do
capital de outra pessoa jurídica beneficie-se do tratamento jurídico favorecido de que trata a LC
nº 123, de 2006, inclusive o Simples Nacional disposto em seu capítulo IV. Por outro lado, o
art. 3º, § 5º, estabelece exceções a essa vedação, permitindo a participação no capital de
determinadas pessoas jurídicas, entre elas a SPE prevista no art. 56 do mesmo diploma legal.
Significa dizer que a ME ou EPP que participar do capital da SPE de que trata o art. 56 da LC
nº 123, de 2006, desde que em harmonia ao que disciplina este comando legal, não estará
impedida, por essa razão, de usufruir das vantagens decorrentes do Estatuto Nacional da ME e
da EPP, dentre as quais a opção pelo Simples Nacional.

9 O art. 56 mencionado dispõe da seguinte forma:


“Art. 56. As microempresas ou as empresas de pequeno porte poderão realizar
negócios de compra e venda de bens e serviços para os mercados nacional e
internacional, por meio de sociedade de propósito específico, nos termos e
condições estabelecidos pelo Poder Executivo federal.

§ 1º Não poderão integrar a sociedade de que trata o caput deste artigo pessoas
jurídicas não optantes pelo Simples Nacional.

§ 2º A sociedade de propósito específico de que trata este artigo:

I - terá seus atos arquivados no Registro Público de Empresas Mercantis;

II - terá por finalidade realizar:

a) operações de compras para revenda às microempresas ou empresas de


pequeno porte que sejam suas sócias;

(...)

§ 5º A sociedade de propósito específico de que trata este artigo não poderá:

(...)

III - participar do capital de outra pessoa jurídica;”

10 Nos termos do dispositivo transcrito, a SPE composta exclusivamente por


pessoas jurídicas optantes pelo Simples Nacional e constituída para realizar as operações

FGV DIREITO RIO 68


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Solução de Consulta n.º 139 Cosit


Fls. 4

admitidas no art. 56, § 2º, II, da LC nº 123, de 2006, não pode participar do capital de outra
pessoa jurídica. Caso essa situação se configure, estará sendo descumprida a disciplina do art.
56, a qual é condição para que as ME e EPP possam manter seu enquadramento no Simples
Nacional a despeito da participação no capital de outra pessoa jurídica, conforme estabelece a
exceção do art. 3º, § 5º. Não custa frisar que este dispositivo admite a manutenção no regime
de tributação favorecido na hipótese de participação “na sociedade de propósito específico
prevista no art. 56 desta Lei Complementar”. Caso a regulamentação do art. 56 não seja
observada, estar-se-á diante de participação no capital de SPE qualquer e não naquela aludida
no art. 3º, § 5º, acarretando a exclusão do Simples Nacional de todas as pessoas jurídicas
participantes da SPE em questão.

11 A consulente pretende, com vistas à exploração de seu objeto social, utilizar-se


de SCP na qual ingressaria como sócia ostensiva, atraindo para o seu empreendimento, na
qualidade de sócias participantes, outras pessoas jurídicas, todas optantes pelo Simples
Nacional. Impende verificar, se a participação da consulente (SPE) em uma SCP configura
efetivamente a participação no capital de outra pessoa jurídica, fato esse que daria ensejo à
exclusão do Simples Nacional de todas as pessoa jurídicas que integram a consulente.

12 A Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil) dispõe sobre a SCP


nos seguintes termos:

“Art. 991. Na sociedade em conta de participação, a atividade constitutiva do


objeto social é exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em seu nome individual
e sob sua própria e exclusiva responsabilidade, participando os demais dos
resultados correspondentes.

Parágrafo único. Obriga-se perante terceiro tão-somente o sócio ostensivo; e,


exclusivamente perante este, o sócio participante, nos termos do contrato social.

Art. 992. A constituição da sociedade em conta de participação independe de


qualquer formalidade e pode provar-se por todos os meios de direito.

Art. 993. O contrato social produz efeito somente entre os sócios, e a eventual
inscrição de seu instrumento em qualquer registro não confere personalidade
jurídica à sociedade.

(...)”

13 Conforme se pode observar, de acordo com a disciplina conferida pelo Código


Civil a essa espécie societária, a SCP é constituída por duas qualidades de sócios: o sócio
ostensivo e o sócio participante. O primeiro é quem exerce, em seu nome e sob sua exclusiva
responsabilidade, a atividade que constitui o objeto social da sociedade, enquanto o segundo
apenas participa dos resultados gerados. Essa realidade deriva em grande medida da ausência
de personalidade jurídica que o Código Civil imprime à SCP. É o sócio ostensivo quem se
obriga perante terceiros (e não a sociedade), relacionando-se os demais sócios participantes tão
somente com o sócio ostensivo.

14 No âmbito da legislação tributária, a principal inovação deu-se com o advento


do Decreto-Lei (DL) nº 2.303, de 21 de novembro de 1986, cujo art. 7º equiparou as SCP, para
os efeitos da legislação do imposto de renda, às demais pessoas jurídicas. Em que pese a
legislação empresarial ter definido a SCP como uma sociedade sem personalidade jurídica, a
lei tributária definiu efeitos tributários gerados a partir do exercício das atividades da SCP
equiparando-a, para esse fim, à uma pessoa jurídica. A legislação do imposto de renda

FGV DIREITO RIO 69


TIPOS SOCIETÁRIOS

Solução de Consulta n.º 139 Cosit


Fls. 5

determina que a renda produzida seja tributada na figura da SCP e não nas figuras dos seus
sócios (ou de seu sócio ostensivo).

15 Tendo em vista o disposto no art. 7º do DL nº 2.303, de 1986, que equipara as


SCP às pessoas jurídicas em geral, o Decreto 3.000, de 26 de março de 1999 (Regulamento do
Imposto de Renda – RIR/1999), regulamentou essa matéria, evidenciando o caráter autônomo
da SCP em relação a seu sócio ostensivo, para fins de apuração e recolhimento do IRPJ:

“Art. 148. As sociedades em conta de participação são equiparadas às pessoas


jurídicas (Decreto-Lei nº 2.303, de 21 de novembro de 1986, art. 7º, e Decreto-
Lei nº 2.308, de 19 de dezembro de 1986, art. 3º).

Art. 149. Na apuração dos resultados dessas sociedades, assim como na


tributação dos lucros apurados e dos distribuídos, serão observadas as normas
aplicáveis às pessoas jurídicas em geral e o disposto no art. 254, II (Decreto-Lei
nº 2.303, de 1986, art. 7º, parágrafo único).

(...)

Art. 254. A escrituração das operações de sociedade em conta de participação


poderá, à opção do sócio ostensivo, ser efetuada nos livros deste ou em livros
próprios, observando-se o seguinte:

I - quando forem utilizados os livros do sócio ostensivo, os registros contábeis


deverão ser feitos de forma a evidenciar os lançamentos referentes à sociedade
em conta de participação;

II - os resultados e o lucro real correspondentes à sociedade em conta de


participação deverão ser apurados e demonstrados destacadamente dos
resultados e do lucro real do sócio ostensivo, ainda que a escrituração seja feita
nos mesmos livros;

III - nos documentos relacionados com a atividade da sociedade em conta de


participação, o sócio ostensivo deverá fazer constar indicação de modo a
permitir identificar sua vinculação com a referida sociedade.

(...)

Art. 515. O prejuízo fiscal apurado por Sociedade em Conta de Participação -


SCP somente poderá ser compensado com o lucro real decorrente da mesma
SCP.

Parágrafo único. É vedada a compensação de prejuízos fiscais e lucros entre


duas ou mais SCP ou entre estas e o sócio ostensivo.” (grifou-se)

16 Posteriormente, a Instrução Normativa SRF nº 31, de 29 de março de 2001,


dispôs sobre a opção das SCP pelo lucro presumido, ressaltando a segregação da apuração do
IRPJ incidente sobre a SCP e sobre seu sócio ostensivo:
Art. 1º A partir de 1º de janeiro de 2001, observadas as hipóteses de
obrigatoriedade de observância do regime de tributação com base no lucro real
previstas no art. 14 da Lei nº 9.718, de 27 de novembro de 1998, as sociedades
em conta de participação podem optar pelo regime de tributação com base no
lucro presumido.

FGV DIREITO RIO 70


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Solução de Consulta n.º 139 Cosit


Fls. 6

§ 1º A opção da sociedade em conta de participação pelo regime de tributação


com base no lucro presumido não implica a simultânea opção do sócio ostensivo,
nem a opção efetuada por este implica a opção daquela.”

17 Deve-se notar, em adição, que a equiparação das SCP às pessoas jurídicas


estende-se também à legislação que trata da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins por
expressa previsão legal. É o que se extrai da Lei Complementar nº 70, de 1991, que instituiu a
Cofins, e da Lei nº 9.715, de 1998, que dispõe sobre a Contribuição para o PIS/Pasep:
Lei Complementar nº 70, de 1991:

Art. 1° Sem prejuízo da cobrança das contribuições para o Programa de


Integração Social (PIS) e para o Programa de Formação do Patrimônio do
Servidor Público (Pasep), fica instituída contribuição social para financiamento
da Seguridade Social, nos termos do inciso I do art. 195 da Constituição Federal,
devida pelas pessoas jurídicas inclusive as a elas equiparadas pela legislação do
imposto de renda, destinadas exclusivamente às despesas com atividades-fins das
áreas de saúde, previdência e assistência social. (grifou-se)

Lei nº 9.715, de 1998:

Art. 2o A contribuição para o PIS/PASEP será apurada mensalmente:

I - pelas pessoas jurídicas de direito privado e as que lhes são equiparadas pela
legislação do imposto de renda, inclusive as empresas públicas e as sociedades
de economia mista e suas subsidiárias, com base no faturamento do mês; (grifou-
se)

18 Por essa razão, o Ato Declaratório Interpretativo SRF nº 14, de 2004, disciplina,
no § 1º de seu artigo único, que:

“§ 1º As SCP são equiparadas às pessoas jurídicas pela legislação do Imposto de


Renda, e, como tais, são contribuintes do Imposto de Renda das Pessoas
Jurídicas (IRPJ), da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), da
Contribuição para o PIS/Pasep e da Contribuição para o Financiamento da
Seguridade Social (Cofins).”

19 Com base na disciplina legal atinente ao imposto de renda, e tendo em vista a


interpretação/aplicação sistemática da legislação tributária, constata-se que a equiparação das
SCP às pessoas jurídicas possui um alcance mais amplo, devendo ser compreendida para fins
tributários, de forma geral. Nesse sentido, a equiparação em questão deve subsistir também no
âmbito do Simples Nacional, que representa regime especial de tributação para ME e EPP.

20 Como conseqüência desse fato, tem-se que para uma SPE que pretenda
enquadrar-se na hipótese do art. 56 da LC nº 123, de 2006, e, portanto, legitimar a manutenção
de suas sócias no Simples Nacional, é vedada sua participação no capital de SCP, nos termos
do disposto em seu § 5º, III. Em se verificando o descumprimento dessa vedação, as pessoas
jurídicas sócias da SPE não poderão beneficiar-se do tratamento jurídico diferenciado previsto
na LC nº 123, de 2006, o que implica a exclusão do Simples Nacional.

Conclusão

FGV DIREITO RIO 71


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Solução de Consulta n.º 139 Cosit


Fls. 7

21 Ante o exposto, propõe-se seja solucionada a consulta declarando-se à


consulente que para fins tributários, a SCP equipara-se às pessoas jurídicas. Sendo assim, as
ME e EPP integrantes de SPE que seja sócia ostensiva de uma SCP não poderão beneficiar-se
do tratamento jurídico diferenciado previsto na LC nº 123, de 2006, o que implica a exclusão
do Simples Nacional.

À consideração superior.

(assinado digitalmente)
ANDERSON DE QUEIROZ LARA
Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil

De acordo. Encaminhe-se à Coordenadora da Copen.

(assinado digitalmente)
KARINA ALESSANDRA DE MATTERA GOMES
Auditora Fiscal da Receita Federal do Brasil
Chefe da Disit08

De acordo. Ao Coordenador-Geral da Cosit para aprovação.

(assinado digitalmente) (assinado digitalmente)

MIRZA MENDES REIS CLÁUDIA LÚCIA IMENTEL MARTINS


Auditora Fiscal da Receita Federal do Brasil DA SILVA
Coordenadora da Copen Auditora Fiscal da Receita Federal do Brasil
Coordenadora da Cotir

Ordem de Intimação

Aprovo a Solução de Consulta. Publique-se e divulgue-se nos termos do


art. 27 da IN RFB nº 1.396, de 16 de setembro de 2013. Dê-se ciência ao interessado.

(assinado digitalmente)
FERNANDO MOMBELLI
Coordenador-Geral da Cosit

FGV DIREITO RIO 72


TIPOS SOCIETÁRIOS

Ato Declaratório Interpretativo SRF nº


14, de 4 de maio de 2004
DOU de 5.5.2004

Dispõe sobre a tributação das atividades do sistema de locação


conjunta de unidades imobiliárias denominado de pool hoteleiro.

O SECRETÁRIO DA RECEITA FEDERAL , no uso da atribuição que lhe confere o


inciso III do art. 209 do Regimento Interno da Secretaria da Receita Federal, aprovado
pela Portaria MF nº 259, de 24 de agosto de 2001 , tendo em vista o disposto nos arts.
148, 149, 254, 654, 662 e 666, do Decreto nº 3.000, de 26 de março de 1999 -
Regulamento do Imposto de Renda ( RIR, de 1999 ), o disposto no caput do art. 57 da
Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995 , com a redação dada pelo art. 1º da Lei nº 9.065,
de 20 de junho de 1995 , o disposto nos arts. 2º e 3º da Lei nº 9.718, de 27 de novembro
de 1998 , com as alterações do art. 2º da Medida Provisória nº 2.158-35, de 24 de agosto
de 2001, no art. 1º da Lei nº 10.637, de 30 de dezembro de 2002 , com as alterações do
art. 25 da Lei nº 10.684, de 30 de maio de 2003 , e no art. 1º da Lei nº 10.833, de 29 de
dezembro de 2003 , e o que consta do processo no 19615.000103/2003-21, declara:

Artigo Único. No sistema de locação conjunta de unidades imobiliárias denominado de


pool hoteleiro, constitui-se, independente de qualquer formalidade, Sociedade em Conta
de Participação (SCP) com o objetivo de lucro comum, onde a administradora (empresa
hoteleira) é a sócia ostensiva e os proprietários das unidades imobiliárias integrantes do
pool são os sócios ocultos.

§ 1º As SCP são equiparadas às pessoas jurídicas pela legislação do Imposto de Renda,


e, como tais, são contribuintes do Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ), da
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), da Contribuição para o PIS/Pasep e
da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins).

§ 2º Na apuração das bases de cálculo do imposto e das contribuições referidas no § 1o,


devidas pela aludida sociedade, bem como na distribuição dos lucros, serão observadas
as normas aplicáveis às pessoas jurídicas em geral.

§ 3º São receitas ou resultados próprios da SCP, exemplificativamente, sujeitando-se às


normas de tributação específicas do IRPJ, da CSLL, da Contribuição para o PIS/Pasep e
da Cofins: as diárias, semanadas ou aluguéis, relativos às unidades integrantes do pool
hoteleiro, inclusive de áreas de restaurantes, salão de convenções, lojas, etc., também
integrantes do sistema de locação conjunta; os preços dos serviços prestados, os
impostos e taxas incidentes sobre os imóveis, e os demais encargos locatícios, se
cobrados, pela administradora, destacadamente das diárias, semanadas ou aluguéis; as
indenizações recebidas por extravios e danos causados às unidades; as multas e juros de
mora; o resultado das aplicações dos saldos financeiros da sociedade.

§ 4º É a administradora (empresa hoteleira), na qualidade de sócia ostensiva, a


responsável pelo recolhimento do imposto e das contribuições devidas pela SCP, sem

FGV DIREITO RIO 73


TIPOS SOCIETÁRIOS

prejuízo do recolhimento do imposto e das contribuições incidentes sobre suas próprias


receitas ou resultados.

§ 5º Deverão ser observadas as demais normas específicas da legislação do imposto de


renda e das contribuições sociais, aplicáveis às SCP.

JORGE ANTONIO DEHER RACHID

http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/AtosInterpretativos/2004/SRF/ADISRF014.htm

FGV DIREITO RIO 74


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6. INTRODUÇÃO ÀS SOCIEDADES ANÔNIMAS

6.1 AULA 19 – SOCIEDADE ANÔNIMA – CONCEITO E ASPECTOS BÁSICOS

A sociedade anônima, regida pela Lei nº 6.404/76, é uma sociedade:

(a) de caráter institucional (caráter estável, existência para além da figura


dos sócios);

Existe divergência doutrinária quanto à natureza jurídica do ato de


constituição

• Maurice Hauriou defende que as SA’s são constituídas por um ato


jurídico complexo” composto por várias adesões à um fato jurídico
precedente (a adesão anterior). Este ato é a base da teoria da institucional
de M. Hariou.

• Tullio Ascarelli defende que o ato de constituição de uma sociedade


anônima tem natureza jurídica de contrato plurilateral, ou seja, um
contrato com multiplicidade de “partes” independentes entre si e
com centros de interesses e direitos próprios. Não necessariamente
conflitantes ou sinalagmáticos.

Ao contrário dos contratos bilaterais que, mesmo tendo vários “sujeitos”


em cada polo da relação contratual, tem apenas duas “partes”. Exemplo: um
contrato de compra e venda com 2 vendedores e 2 compradores do bem tem
vários sujeitos, mas apenas duas partes. Uma compradora e outra vendedora.

(b) de capitais (o quesito da participação financeira no empreendimento


é mais relevante que o quesito da affectio societatis entre os sócios);

(c) estatutária, regidas por um estatuto social;

(d) pessoa jurídica de direito privado;

(e) pode ser constituída por subscrição pública ou particular;

(f) tem natureza empresária por força de lei, independentemente de seu objeto;

FGV DIREITO RIO 75


TIPOS SOCIETÁRIOS

(g) gira obrigatoriamente sob denominação social;

(h) a responsabilidade de seus acionistas é limitada ao montante de suas


respectivas participações no capital social.

LEITURA SUGERIDA

LAMY FILHO, Alfredo; PEDREIRA, José Luiz Bulhões. Direito das


Companhias. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.

FGV DIREITO RIO 76


TIPOS SOCIETÁRIOS

6.2 AULAS 20 A 22 – SOCIEDADE ANÔNIMA – AÇÕES E CAPITAL SOCIAL

DEFINIÇÃO LEGAL - São subdivisões do capital social (art. 1º Lei 6404/76).

CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA

Segundo José Engrácia ANTUNES (2009; pag. 74),

“o termo ‘ação’ constitui um vocábulo polissémico, sendo utilizado


tradicionalmente pela lei, doutrina e jurisprudência em três sentidos diferentes.
Desde logo, por ação entende-se a participação social ou ‘socialidade’, ou seja,
o conjunto unitário de direitos e obrigações (mas também ónus, expectativas,
faculdades, e sujeições) de que uma pessoa singular ou coletiva é titular na sua
qualidade de sócio de uma sociedade anónima (v.g. arts. 272º, a) 276º, 302º do
CSC). Outras vezes, fala-se de ação para designar cada fração do capital social
das sociedades anónimas e comanditárias por ações: esta aceção transparece
exemplarmente do art. 271º do CSC, segundo o qual ‘na sociedade anónima,
o capital está dividido em ações’ (cf. também os arts. 272º, a), 276º e 465º, nº
3 do CSC). Finalmente, o termo ação é também frequentemente usado para
designar a particular forma de representação da participação social, abrangendo
simultaneamente a representação cartular (titulo ou documento de papel) e
escritural (registro em conta em suporte informático) (v.g., arts. 274º, 301º,
304º do CSC). (...) Mas as ações foram ganhando progressivamente um quarto
e importantíssimo significado – justamente acolhido no art. 1º, a) do CVM:
o de “produto financeiro”, ou seja, de instrumento financeiro negociável no
mercado de capitais. (itálicos no original, negritou-se)

CLASSES - As ações podem ser ordinárias (art. 16 da Lei 6404/76) ou


preferenciais (art. 17 da lei 6404/76).

Companhia pode emitir ações preferenciais sem direito a voto até o limite
de 50% do capital social total (art. 15, parágrafo 2º - Lei 10.303/01 restaurou
regra que existia no revogado Decreto-Lei 2.627/40)

Para ações emitidas com valor nominal, esse deve ser o mesmo para todas
as ações da companhia.

Ações emitidas com valor nominal têm diferença no momento da redução


do capital social, especialmente quando a redução é na quantidade de ações
e não no valor.

FGV DIREITO RIO 77


TIPOS SOCIETÁRIOS

CAPITAL SOCIAL.

2.1. CONCEITO

Miranda Valverde – “capital de uma sociedade anônima é o total em dinheiro,


fixado nos estatutos, das contribuições que os subscritores devem verter para
a sociedade”

Tullio Ascarelli – “Entidade jurídica cuja importância (expressão numérica


indicada no estatuto) corresponde ao produto do número de ações pelo valor
nominal de cada uma” - aqui está definindo o capital social em sua acepção
de cifra formal prevista no estatuto social.

OBSERVAÇÃO – É importante não confundir o capital social com (1) o


modo de representá-lo; (2) com alguma de suas funções específicas; (3) com
o seu modo de formação; e (4) com o “fundo social”.

Ocupa lugar central no sistema jurídico das companhias. Pois tem funções
interna corporis e externa corporis à companhia. É importante conhecer suas
características para saber exatamente o que será aumentado ou diminuído.

CARACTERÍSTICAS DO CAPITAL SOCIAL

O capital social é “estático”, pois é definido no estatuto no momento da


constituição da companhia ou alterado posteriormente em casos específicos. Ao
contrário do patrimônio da companhia que é “dinâmico” e fluído por excelência.

Segundo LAMY FILHO e BULHÕES PEDREIRA, Interna Corporis –


O capital social define condições para o exercício do poder de controle na
sociedade.

Ao passo que, Externa Corporis, o capital social tem característica de


garantia patrimonial dos credores.

Segundo Tullio Ascarelli O capital social representa uma “margem


mínima de solvabilidade” da companhia.

Segundo Mauro Penteado O capital social tem a característica de “cifra


de retenção”. Ou seja, o capital social está sempre indicando a parcela do
patrimônio que não pode ser distribuída pela companhia aos acionistas,
exceto quando da dissolução da sociedade, depois de pagos os credores.

FGV DIREITO RIO 78


TIPOS SOCIETÁRIOS

ACEPÇÕES DO CAPITAL SOCIAL

1ª ACEPÇÃO

Capital social como CIFRA FORMAL E ABSTRATA indicada no


projeto de estatuto na companhia constituída por subscrição pública (artigo
82 e seguintes da Lei 6404/76).

Neste caso, o procedimento de constituição tem três etapas bem


demarcadas: (a) emissão das ações; (b) busca por subscritores; e (c)
homologação da deliberação.

A constituição pode, ainda, se dar por subscrição particular, neste caso o


capital pode ser constituído conforme aprovado em assembleia geral ou na
escritura pública (artigo 88 e seguintes da Lei 6404/76).

CRÍTICA DA ACEPÇÃO DO CAPITAL SOCIAL COMO CIFRA


ABSTRATA – esta visão do capital social é reducionista, pois o capital social
não pode ser visto de forma descolada e inalterável da realidade

OBSERVAÇÃO – Existe possibilidade de o capital social ser alterado sem a


alteração da cifra formal e abstrata indicada no estatuto social. São elas:

(A) aumento dentro do limite do capital autorizado (art. 166, inciso II, e
art. 168 da lei 6.404/76)

(B) conversão das debêntures ou partes beneficiárias (art. 166, inciso III
da lei 6.404/76)

O inciso I, é inaplicável tendo em vista que a lei 9.249/95 proibiu a


correção monetária do capital social. Esta lei veio na esteira do Plano Real
(lei 9.069/95).

2ª ACEPÇÃO

Capital social como cifra CONTÁBIL.

Uma vez cumpridas as formalidades de constituição o capital social


indicado no estatuto passará a constar do balanço patrimonial da companhia
(art. 178, parágrafo 2º, e artigo 182 da Lei 6.404/76)

FGV DIREITO RIO 79


TIPOS SOCIETÁRIOS

3ª ACEPÇÃO

Capital social como a soma das contribuições dos acionistas. Nesta


acepção, é como se o capital social correspondesse e se vinculasse a cada
uma das contribuições dos acionistas.

CRÍTICA – imagine uma sociedade cuja sede fique em imóvel utilizado


por acionista para integralizar o capital, caso o imóvel fosse vendido e a sede
transferida a companhia seria uma hipótese de redução do capital social?

CRÍTICA – Possibilidade de integralização do capital social com bens


diversos do direito de propriedade coloca em questão a igualdade entre a
“soma das entradas” e o “valor do capital social” por que os bens conferidos
precisam ser avaliados.

Lei 6.404/76 não determina como deve ser avaliado e atribuído valore
ao bem conferido ao capital social, mas determina que (1) subscritor aceita
o valor atribuído pela Assembleia Geral (AG); e não pode ser incorporado
ao patrimônio social valor maior do que o atribuído pelo subscritor (art.
8º, parágrafo 4º da Lei 6.404/76)

CRÍTICAS – Ignora a ordem cronológica em que capital social é definido


e subscrito e desconsidera a possibilidade de realização de entradas pelos
acionistas para além do capital social.

EXEMPLOS:
(1) ágio na emissão de ações
- Com valor nominal
- Sem valor nominal (diferença entre o preço de emissão e o valor pago
pelos acionistas)

(2) pode ter juros, multas, correção, etc. decorrentes de atraso na


integralização de ações (art. 106, parágrafo 2º, da LSA)

Considerar o capital social como uma espécie de soma das contribuições


dos acionistas não faz sentido porque os recursos aportados pelos acionistas
na companhia não são guardados e mantidos imobilizados para futura
devolução aos acionistas. Em uma versão mais moderada desta corrente
o capital social seria uma representação em dinheiro da soma das entradas
feitas pelos acionistas.

FGV DIREITO RIO 80


TIPOS SOCIETÁRIOS

LEITURA SUGERIDA

LAMY FILHO, Alfredo; PEDREIRA, José Luiz Bulhões. Direito das


Companhias. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.

PENTEADO, Mauro Rodrigues. Aumentos de capital das sociedades


anônimas. 2ª. Ed. São Paulo: Quartier Latin, 2012.

FGV DIREITO RIO 81


TIPOS SOCIETÁRIOS

6.3 AULA 23 – SOCIEDADE ANÔNIMA – PRINCIPAIS REGRAS DE


GOVERNANÇA CORPORATIVA DAS COMPANHIAS ABERTAS

1. CATEGORIAS DE COMPANHIA ABERTA

a) As sociedades anônimas podem se registrar como companhia aberta


nas categorias A e B. As sociedades registradas na categoria A podem
emitir títulos de capital (ações) e de dívida (debêntures) para negociação
pública no mercado de valores mobiliários. As sociedades registradas
na categoria B podem emitir apenas títulos de dívida (debêntures)
para negociação pública no mercado de valores mobiliários (Art. 2º da
Instrução CVM nº 480/09).

2. EMISSÃO DE TÍTULOS

a) As companhias abertas são proibidas de emitir partes beneficiárias (art.


47, parágrafo único, da Lei 6.404/76)

3. ESTRUTURA INTERNA DA SOCIEDADE

a) As companhias abertas devem obrigatoriamente ter Conselho de


Administração (CA) instalado e em funcionamento. O CA deve ter no
mínimo três membros que não precisam ser acionistas da sociedade (art.
138, § 2º, e art. 140 da Lei 6.404/76); e

b) As companhias abertas devem ter um Diretor de Relações com Investidores


responsável divulgação de informações relevantes sobre a companhia para
os seus acionistas, para a CVM e para o mercado em geral (art. 3º da
Instrução CVM nº 358/02).

4. PRESTAÇÃO DE INFORMAÇÕES

As companhias abertas devem enviar para a CVM e, conforme o caso,


simultaneamente para a instituição administradora do mercado organizado
de valores mobiliários onde os títulos de sua emissão são admitidos para
negociação, informações periódicas e eventuais.

FGV DIREITO RIO 82


TIPOS SOCIETÁRIOS

As companhias abertas registradas na categoria A devem manter as


informações periódicas e eventuais divulgadas em página específica
na rede mundial de computadores por 3 (três) anos, contados a partir
da data de divulgação (Art. 13, caput e §§ 2º e 3º, da Instrução
CVM nº 480/09).

As informações periódicas devem ser enviadas em períodos específicos


de todos os exercícios sociais depois da concessão do registro de companhia
aberta. As informações eventuais devem ser enviadas sempre que houver
qualquer ato ou fato relevante sobre a companhia aberta.

a) Informações periódicas

(i) Formulário Cadastral, documento eletrônico elaborado na forma


do Anexo 22 à Instrução CVM nº 480/09 que deve ser atualizado
anualmente até o dia 31 de maio de cada ano e, em caso de alteração
nos dados cadastrais, em até 7 dias úteis contado do ato ou fato que
deu origem à alteração;

(ii) Formulário de Referência, documento eletrônico elaborado na forma


do Anexo 24 à Instrução CVM nº 480/09 que deve ser atualizado
anualmente em até cinco meses após o encerramento do exercício
social e, em caso de alteração nas informações, em até 7 dias úteis
contado do ato ou fato que deu origem à alteração (Artigo 24, caput
e §§ 3º e 4º, da Instrução CVM nº 480/09);

(iii) As companhias abertas deverão elaborar e publicar (no Diário Oficial


– DO e em jornal de grande circulação na sede da companhia aberta)
as suas demonstrações financeiras auditadas. As demonstrações
financeiras das companhias abertas devem ser elaboradas com base nas
regras expedidas pela CVM e auditadas por auditores independentes
registrados perante a CVM (Art. 177, § 3º da Lei 6.404/76);

(iv) As demonstrações financeiras das companhias abertas devem ser


acompanhadas de notas explicativas; relatório da administração;
parecer da auditora independente e especializada da companhia;
declaração de concordância dos diretores; e conforme o caso, parecer
do conselho fiscal, proposta de orçamento de capital e relatório anual
do comitê ou conselho de auditoria;

FGV DIREITO RIO 83


TIPOS SOCIETÁRIOS

(v) Formulário de Demonstrações Financeiras Padronizadas – DFP,


documento eletrônico preenchido com base nas demonstrações
contábeis da companhia aberta e entregue em até 3 (três) meses após
o encerramento do exercício social ou na mesma data da entrega das
demonstrações financeiras, o que ocorrer primeiro (Artigo 28 da
Instrução CVM nº 480/09);

(vi) Formulário de Informações Trimestrais – ITR, documento eletrônico


preenchido com base nas demonstrações contábeis da companhia aberta
e entregue em até 45 (quarenta e cinco) dias após o encerramento dos três
primeiros trimestres do exercício social. O ITR deve ser acompanhado
de relatório de revisão especial elaborado pela auditora especializada da
companhia e pela declaração de concordância dos diretores (Artigo 29
da Instrução CVM nº 480/09); e

(vii) Informe sobre o Código Brasileiro de Governança Corporativa -


Companhias Abertas, documento eletrônico obrigatório para as
companhias abertas registradas na categoria A que deve ser elaborado na
forma do Anexo 29-A à Instrução CVM nº 480/09 e entregue em até
7 (sete) meses após o encerramento do exercício social (Artigo 29-A da
Instrução CVM nº 480/09);

b) Informações Eventuais que devem ser prestadas pelas companhias


abertas listadas nas categorias A e B (Artigos 30 e 31 da Instrução CVM
nº 480/09);

(i) editais de convocação de assembleias gerais extraordinárias, especiais e


de debenturistas, no mesmo dia de sua publicação;

(ii) todos os documentos necessários ao exercício do direito de voto nas


assembleias gerais extraordinárias, especiais e de debenturistas, nos
termos e prazos estabelecidos em lei ou norma específica;

(iii) sumário das decisões tomadas na assembleia geral extraordinária, especial


ou de debenturistas, no mesmo dia de sua realização;

(iv) atas de assembleias gerais extraordinárias, especiais e de debenturistas,


em até 7 (sete) dias úteis contados de sua realização, acompanhadas das
eventuais declarações de voto, dissidência ou protesto;

FGV DIREITO RIO 84


TIPOS SOCIETÁRIOS

(v) atas de reuniões do conselho de administração, desde que contenham


deliberações destinadas a produzir efeitos perante terceiros, acompanhadas
das eventuais manifestações encaminhadas pelos conselheiros, em até 7
(sete) dias úteis contados de sua realização;

(vi) comunicação sobre ato ou fato relevante, nos termos e prazos estabelecidos
em norma específica;

(vii) política de divulgação de informações, nos termos e prazos estabelecidos


em norma específica;

(viii) relatórios de agências classificadoras de risco contratadas pelo emissor e


suas atualizações, se houver, na data de sua divulgação;

(ix) termo de securitização de direitos creditórios e eventuais aditamentos,


em 7 (sete) dias úteis contados de sua assinatura;

(x) escritura de emissão de debêntures e eventuais aditamentos, em 7 (sete)


dias úteis contados de sua assinatura;

(xi) comunicações do agente fiduciário elaboradas em cumprimento ao art.


68, § 1º, alínea “c” da Lei nº 6.404, de 1976, e à norma específica que
trata do exercício da função de agente fiduciário;

(xii) petição inicial de recuperação judicial, com todos os documentos que a


instruem, no mesmo dia do protocolo em juízo;

(xiii) plano de recuperação judicial, no mesmo dia do protocolo em juízo;

(xiv) sentença denegatória ou concessiva do pedido de recuperação judicial,


com a indicação, neste último caso, do administrador judicial nomeado
pelo juiz, no mesmo dia de sua ciência pelo emissor;

(xv) pedido de homologação do plano de recuperação extrajudicial, com


as demonstrações contábeis levantadas especialmente para instruir o
pedido, no mesmo dia do protocolo em juízo;

(xvi) sentença denegatória ou concessiva da homologação do plano de


recuperação extrajudicial, no mesmo dia de sua ciência pelo emissor;

(xvii) pedido de falência, desde que fundado em valor relevante, no mesmo


dia de sua ciência pelo emissor;

FGV DIREITO RIO 85


TIPOS SOCIETÁRIOS

(xviii) sentença denegatória ou concessiva do pedido de falência, no mesmo dia


de sua ciência pelo emissor;

(xix) decretação de intervenção ou liquidação, com a indicação do interventor


ou liquidante nomeado, no mesmo dia de sua ciência pelo emissor;

(xx) comunicação sobre a instalação de comitê de auditoria estatutário, da


qual deve constar, no mínimo, o nome e o currículo de seus membros,
em até 7 (sete) dias úteis contados de sua instalação;

(xxi) comunicação sobre mudança na composição ou dissolução do comitê de


auditoria estatutário, em até 7 (sete) dias úteis contados da data do evento;

(xxii) regimento interno do comitê de auditoria estatutário e eventuais


alterações, em até 7 (sete) dias úteis contados de sua instalação ou da
aprovação das alterações pelo conselho de administração;

(xxiii) comunicação sobre a adoção do processo de voto múltiplo em assembleia


geral, imediatamente após o recebimento do primeiro requerimento
válido nos termos do art. 141 da Lei n° 6.404/76;

(xxiv) estatuto social consolidado, em até 7 (sete) dias úteis contados da data
da assembleia que deliberou a alteração de estatuto;

(xxv) sumário das decisões tomadas em assembleias gerais extraordinárias,


especiais e de debenturistas, no mesmo dia da sua realização;

c) Informações Eventuais que devem ser prestadas somente pelas


companhias abertas listadas na categoria A (Artigo 30 da Instrução
CVM nº 480/09)

(i) comunicação sobre aumento de capital deliberado pelo conselho de


administração, com exceção dos realizados mediante subscrição em
oferta pública registrada na CVM, nos termos do Anexo 30-XXXII da
Instrução CVM nº 480/09, na mesma data da divulgação da ata da
reunião do conselho de administração ou em até 7 (sete) dias úteis da
data da reunião do referido órgão, o que ocorrer primeiro;

(ii) comunicação sobre transações entre partes relacionadas, em conformidade


com o disposto no Anexo 30-XXXIII da Instrução CVM nº 480/09, em
até 7 (sete) dias úteis a contar da ocorrência;

FGV DIREITO RIO 86


TIPOS SOCIETÁRIOS

(iii) mapas sintéticos finais de votação relativos à assembleia geral


extraordinária, na forma estabelecida por norma específica; e

(iv) comunicação sobre aprovação de negociação, pela companhia aberta,


de ações de sua própria emissão, nos termos do Anexo 30-XXXVI da
Instrução CVM nº 480/09, na mesma data da divulgação da ata da
reunião do conselho de administração ou em até 7 (sete) dias úteis, o
que ocorrer primeiro.

(v) atas de reuniões do conselho fiscal que aprovaram pareceres,


acompanhadas das eventuais manifestações encaminhadas pelos
conselheiros, em até 7 (sete) dias úteis contados da data de divulgação
do ato ou fato objeto do parecer;

(vi) laudos de avaliação exigidos pelo art. 4º, § 4º; art. 4º - A; art. 8º, § 1º;
art. 45, § 1º; art. 227, §1º; art. 228, § 1º; art. 229, § 2º; art. 252, §
1º; art. 256, § 1º; e art. 264, § 1º, da Lei nº 6.404/76, bem como pela
regulamentação emitida pela CVM, nos prazos estabelecidos em normas
específicas a respeito do assunto;

(vii) acordos de acionistas e outros pactos societários arquivados no emissor,


em até 7 (sete) dias úteis contados de seu arquivamento;

(viii) convenção de grupo de sociedades, em até 7 (sete) dias úteis contados de


sua assinatura;

(ix) política de negociação de ações, nos termos e prazos estabelecidos em


norma específica;

(x) material apresentado em reuniões com analistas e agentes do mercado,


no mesmo dia da reunião ou apresentação;

(xi) atos de órgãos reguladores que homologuem atos mencionados nos


incisos I, IV, V, VIII, IX do artigo 30 da Instrução CVM nº 480/09, no
mesmo dia de sua publicação; e

(xii) informações sobre acordos de acionistas dos quais o controlador


ou controladas e coligadas do controlador sejam parte, a respeito do
exercício de direito de voto no emissor ou da transferência dos valores
mobiliários do emissor, contendo, no mínimo, data de assinatura, prazo
de vigência, partes e descrição das disposições relativas ao emissor, em
até 7 (sete) dias úteis contados da ciência, pelo emissor, de sua existência.

FGV DIREITO RIO 87


TIPOS SOCIETÁRIOS

7. ENCERRAMENTO DA ATIVIDADE EMPRESARIAL

7.1 AULA 24 – BAIXA DO REGISTRO DO EMPRESÁRIO INDIVIDUAL E


PROCEDIMENTOS DE DISSOLUÇÃO, LIQUIDAÇÃO E EXTINÇÃO DA
SOCIEDADE EMPRESÁRIA

EXTINÇÃO DAS SOCIEDADES EMPRESARIAIS

A extinção das sociedades empresárias personificadas é um procedimento


composto por três etapas: (1) dissolução da sociedade – marcada pela
declaração do fim da affectio societatis; (2) liquidação – onde é feita a apuração
dos haveres com a alienação dos ativos para o pagamento dos passivos; e (3)
a extinção da pessoa jurídica com o registro do ato societário que aprovou
a dissolução, liquidação e extinção da sociedade perante a Junta Comercial
competente (a “baixa” do registro).

Após a extinção da pessoa jurídica com a baixa do registro perante a Junta


Comercial (art. 51 do CCB) é necessário realizar o cancelamento dos registros
até então mantidos pela sociedade perante todas as demais repartições públicas
necessárias para o exercício da sua atividade empresarial. Por exemplo,
cancelamento (a) do registro do alvará de funcionamento perante a prefeitura
municipal, (b) os registros perante a Secretaria da Receita Federal do Brasil
– RFB, (c) o registro perante as secretarias de fazenda estaduais e municipais,
(d) o registro perante o Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, (e) o
registro perante o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS, (f) o
registro perante o Corpo de Bombeiros, (g) o registro perante eventual(ais)
órgão(s) de classe, etc.

O conceito de “dissolução” da sociedade pode ser compreendido em dois


sentidos: o amplo e o restrito. Em sentido amplo, significa todo o processo
necessário para o encerramento da sociedade (e, consequentemente, da
atividade) empresária. Neste sentido amplo, o conceito de dissolução se
refere às três etapas mencionadas acima. Em sentido estrito, significa o ato
societário que aprovou o fim da sociedade.

O processo de dissolução das sociedades está tratado nos artigos 1.033


a 1.038 do CCB. Estes artigos se situam topologicamente na seção VI do
Capítulo I do Subtítulo II do Título II do Livro II do CCB. Na parte
dedicada às sociedades simples e que funciona como regra geral de direito
societário brasileiro.

FGV DIREITO RIO 88


TIPOS SOCIETÁRIOS

A dissolução pode ocorrer em três formas: judicial, extrajudicial e convencional.

A dissolução judicial, tratado no artigo 1.034 do CCB, será requerida por


sócio(s) em caso de anulação da constituição da sociedade, exaurimento do
fim social ou caso a sociedade se torne inexequível (por exemplo, pela falta
de affectio societatis).

A dissolução extrajudicial da sociedade pode ocorrer nas hipóteses


previstas no artigo 1.053: (a) vencimento do prazo previsto no contrato
social; (b) consenso unânime entre os sócios; (c) nas sociedades com prazo
indeterminado, deliberação dos sócios aprovada por sócios representando ¾
do capital social (art. 1.076, inciso I, e art. 1.071, inciso VI); (d) perda da
autorização para funcionar; (e) unipessoalidade superveniente que perdure
por mais de cento e oitenta dias3.

A dissolução convencional ocorre quando a hipótese que originou a


dissolução esteja prevista em contrato social e ocorrerá de modo extrajudicial.
A dissolução convencional deverá ser feita judicialmente sempre que algum
dos sócios se manifestar de modo contrário a dissolução (art. 1.035 do CCB).

Obs.: Em relação à hipótese de dissolução extrajudicial indicada


na letra “(d)”, acima, o Poder executivo pode cassar a autorização
de funcionamento concedida a sociedade que praticar atos
contrários a ordem pública ou aos fins declarados nos seus atos
constitutivos. Havendo cassação da autorização para funcionar, o
Ministério Público poder requerer, dentro do prazo de trinta dias,
a liquidação judicial da sociedade (inciso V do artigo 1.033 e art.
1.037 do CCB).

Obs.: O Enunciado nº 67 da Primeira Jornada de Direito Civil,


dispõe que “A quebra do affectio societatis não é causa para a exclusão
do sócio minoritário, mas apenas para dissolução (parcial) da
sociedade”. O propósito deste enunciado é pacificar um entendimento
no sentido que a eventual desarmonia entre os sócios de sociedades
limitadas pode resultar na dissolução judicial da sociedade (inciso
II do art. 1.033 e artigo 1.034 do CCB), mas é insuficiente para
ensejar a exclusão extrajudicial de um sócio minoritário (artigos
1.030, 1.053 e 1.085 do CCB).

A segunda fase do processo de dissolução (em sentido amplo) da sociedade 3


Em caso de unipessoalidade super-
é a liquidação, a qual se processará nos termos dos artigos 44, 1.038, parágrafo veniente, o sócio remanescente pode
requerer a alteração do registro de socie-
2º, 1.102 a 1.112, 2.033 e 2.034 do CCB. dade para a EIRELI (Vide aula 7, acima).

FGV DIREITO RIO 89


TIPOS SOCIETÁRIOS

A primeira providência obrigatória para o processamento da liquidação


da sociedade é a nomeação e investidura do liquidante. O liquidante será
responsável por presentar a sociedade liquidanda em todos os atos e negócios
inadiáveis e necessários para a alienação dos ativos e pagamento dos passivos da
sociedade. Não é permitida a realização de novas operações para a consecução
do objeto social da sociedade pelo liquidante (art. 1.036 do CCB).

Caso o liquidante realize novos negócios sociais em nome da sociedade, os


administradores da sociedade responderão solidária e ilimitadamente com o
liquidante pela prática destes atos.

O liquidante pode ser nomeado pelos sócios no contrato social da


sociedade ou no ato societário que aprovou a dissolução, liquidação e extinção
da personalidade jurídica.

Os administradores da sociedade não podem oferecer oposição à


investidura no cargo pelo liquidante. O liquidante que não for administrador
da sociedade será investido no cargo por meio do registro do ato de sua
nomeação e do seu termo de posse perante o órgão de registro competente
(art. 1036 do CCB).

Após a aprovação da liquidação, a denominação da sociedade passará a


conter a expressão “em liquidação” (artigo 1.103, parágrafo único do CCB). A
expressão “em liquidação” deverá constar na denominação social da sociedade
liquidanda em todos os atos realizados a partir da aprovação da liquidação.

A fase final do processo de dissolução (em sentido amplo) é a extinção


da pessoa jurídica, a qual se opera por meio do cancelamento do registro da
sociedade perante o registro de comércio (no caso das sociedades empresárias)
ou perante o ofício de registro civil das pessoas jurídicas (no caso das
sociedades simples), nos termos dos parágrafos 1º e 3º do artigo 51 do CCB.
Regularizar a extinção das pessoas jurídicas é um marco importante para
a delimitação temporal da responsabilidade da sociedade e dos sócios pela
prática de todos os atos necessários para formalizar regularmente a dissolução
da sociedade. Vale ressaltar que a dissolução irregular pode ser considerada
como um indício de má utilização da sociedade e do patrimônio social e,
portanto, uma das hipóteses de desconsideração da pessoa jurídica caso se
comprove que a irregularidade da dissolução (art. 50 do CCB) tenha sido
motivada por ato doloso dos sócios (Resp. 1.395.288 – SP, julgado pela 3ª
Turma do STJ em 11.04.14, Relatora Min. Nancy Andrighi).

FGV DIREITO RIO 90


TIPOS SOCIETÁRIOS

JURISPRUDÊNCIA

Neste sentido, vale ressaltar que em 16 de maio de 2017, a Terceira


Turma do STJ, no julgamento do REsp 1.526.287 / SP, Ministra relatora
Nancy Andrighi, decidiu que a dissolução irregular per se não é suficiente
para ensejar a responsabilidade dos sócios.

“EMENTA: PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AÇÃO DE


INDENIZAÇÃO DE LUCROS CESSANTES. POSSE
INDEVIDA DE IMÓVEL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.
ART. 50 DO CC/02. TEORIA MAIOR. ATUAÇÃO
DOLOSA E INTENCIONAL DOS SÓCIOS. UTILIZAÇÃO
DA SOCIEDADE COMO INSTRUMENTO PARA O
ABUSO DE DIREITO OU EM FRAUDE DE CREDORES.
COMPROVAÇÃO CONCRETA. AUSÊNCIA. 1. O propósito
recursal é definir se, na hipótese em exame, estão presentes os
pressupostos para a desconsideração da personalidade jurídica,
segundo a teoria maior, prevista no art. 50 do CC/02. 2. Nas
relações jurídicas de natureza civil-empresarial, adota-se a teoria
maior da desconsideração da personalidade jurídica, segundo a qual
a desconsideração da personalidade é medida excepcional destinada
a punir os sócios, superando-se temporariamente a autonomia
patrimonial da sociedade para permitir que sejam atingidos os bens
das pessoas naturais, de modo a responsabilizá-las pelos prejuízos que,
em fraude ou abuso, causaram a terceiros. 3. Para a aplicação da
teoria maior da desconsideração da personalidade jurídica exige-se a
comprovação de que a sociedade era utilizada de forma dolosa pelos
sócios como mero instrumento para dissimular a prática de lesões aos
direitos de credores ou terceiros – seja pelo desrespeito intencional à
lei ou ao contrato social, seja pela inexistência fática de separação
patrimonial –, o que deve ser demonstrado mediante prova concreta e
verificado por meio de decisão fundamentada. 4. A mera insolvência
da sociedade ou sua dissolução irregular sem a devida baixa na
junta comercial e sem a regular liquidação dos ativos, por si sós,
não ensejam a desconsideração da personalidade jurídica, pois não
se pode presumir o abuso da personalidade jurídica da verificação
dessas circunstâncias. 5. In casu, a Corte estadual entendeu que a
dissolução irregular da sociedade empresária devedora, sem regular
processo de liquidação, configuraria abuso da personalidade jurídica
e que o patrimônio dos sócios seria o único destino possível dos bens
desaparecidos do ativo da sociedade, a configurar confusão patrimonial.

FGV DIREITO RIO 91


TIPOS SOCIETÁRIOS

Assim, a desconsideração operada no acórdão recorrido não se


coaduna com a jurisprudência desta Corte, merecendo reforma. 6.
Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, provido.”

Apesar da decisão acima, nos termos do verbete número 435 da Súmula do


STJ, caso a sociedade empresária deixe de funcionar em seu domicílio fiscal
sem as devidas comunicações aos órgãos registrais competentes, presumir-
se-á a dissolução irregular.

O liquidante da sociedade tem os seguintes deveres (art. 1.103 do CCB):

• Registrar e rubricar a ata, sentença ou instrumento que tenha aprovado


a liquidação da sociedade;

• Arrecadar todos os bens, livros e documentos da sociedade necessários


para identificação do acervo social durante a liquidação;

• Em até quinze dias após a sua investidura no cargo, realizar um


inventário do acervo social e levantar um balanço geral identificando
os ativos e passivos sociais;

• Apurar os haveres por meio da prática de todos os atos e negócios


jurídicos necessários para tornar líquidos os ativos da sociedade;

• Exigir dos sócios remissos a total integralização das quotas emitidas


pela sociedade;

• Semestralmente, convocar uma assembleia para prestação de contas


sobre o estado da liquidação aos antigos sócios;

• Requerer a falência, recuperação judicial ou extrajudicial da sociedade


liquidanda;

• Apresentar um relatório final da liquidação; e

• Registrar a ata do encerramento da liquidação perante a Junta Comercial


competente.

Obs.: Para fins tributários, o registro da ata de encerramento da


liquidação da sociedade é o ato jurídico que marca a extinção da
personalidade jurídica (artigo 240 da Instrução Normativa nº
1.700 expedida em 14 de março de 2017 pela Secretaria da Receita
Federal do Brasil - RFB);

FGV DIREITO RIO 92


TIPOS SOCIETÁRIOS

Mediante autorização expressa no contrato social ou conferida pela


maioria dos sócios, o liquidante da sociedade somente pode (1) contrair
empréstimos em nome da sociedade ou constituir ônus reais sobre
ativos da sociedade se forem indispensáveis ao pagamento de obrigações
inadiáveis; e (2) prosseguir a atividade econômica organizada que era
conduzida pela sociedade (Parágrafo único do art. 1.105 do CCB).

O liquidante deve observar a seguinte ordem de pagamento das


dívidas da sociedade em liquidação: Primeiro, pagar os credores titulares
de créditos preferenciais – conforme definido nos artigos 955 a 965 do
CCB; segundo, pagar proporcionalmente os credores quirografários,
sem distinção entre dívidas vencidas e vincendas. Caso o ativo da
sociedade em liquidação seja superior ao passivo, o liquidante pode
pagar todas as dívidas vencidas integralmente. O liquidante responde
pessoalmente pelo pagamento integral dos credores quirografários
(art. 1.106 do CCB).

Obs.: Nos termos do artigo 7-A da Lei 11.598/07, que


estabeleceu procedimentos para a simplificação do processo de
registro de empresários e de pessoas jurídicas e da Instrução
Normativa nº 25 e da Instrução Normativa nº 26, expedida
pelo DREI em 11 de setembro de 2014, é possível obter a
baixa no registro de empresas e empresários individuais sem
a apresentação das certidões negativas de débitos trabalhistas,
tributários (Certidão Negativa de Débitos – CND emitida
pela RFB) e previdenciários. A opção por encerrar o registro
sem a apresentação das certidões negativas de débitos importa
responsabilidade solidária dos titulares, dos sócios e dos
administradores do período de ocorrência dos respectivos fatos
geradores (parágrafo 2º do artigo 7-A da Lei 11.598/07) e
configura uma hipótese de sucessão tributária (artigos 134 e
135 do Código Tributário Nacional – CTN).

Baixa do registro do empresário individual e da EIRELI

Nos termos do artigo 37 da Lei 8.934/94 e do item 9.3.2.1 do


Regulamento constante como Anexo V à Instrução Normativa nº 38,
expedida pelo DREI em 02 de março de 2017, para o cancelamento do
registro como empresário individual e da EIRELI deverão ser apresentados
principalmente os seguintes documentos:

FGV DIREITO RIO 93


TIPOS SOCIETÁRIOS

• Requerimento de cancelamento do registro assinado pelo titular


da EIRELI por procurador devidamente identificado (art. 1.151 do
Código Civil);

• Deliberação do titular da EIRELI aprovando o encerramento da


liquidação;

• Se o requerimento ou a deliberação for assinada por procurador,


original ou cópia autenticada de procuração com poderes especiais;

• Se o titular da empresa for analfabeto, a procuração deverá ser passada


por instrumento público.

FGV DIREITO RIO 94


TIPOS SOCIETÁRIOS

JOÃO MANOEL DE LIMA JUNIOR


Doutor em Direito de Empresa e Atividades Econômicas pela
UERJ, com bolsa da CAPES/MEC. Mestre em Direito Econômico
e Financeiro pela USP, com bolsa do International Fellowship
Programs/Ford Foundation. Bacharel em Direito pelo IBMEC/RJ.
Membro das Comissões de Direito Empresarial do IAB e da OAB/
RJ. Professor da Graduação da FGV Direito Rio. Pesquisador do
Centro de Pesquisa em Direito e Economia (CPDE). Foi professor
substituto de direito comercial da FND/UFRJ e pesquisador
visitante na Georgetown Law, EUA.

FGV DIREITO RIO 95


TIPOS SOCIETÁRIOS

FICHA TÉCNICA

Fundação Getulio Vargas

Carlos Ivan Simonsen Leal


PRESIDENTE

FGV DIREITO RIO


Sérgio Guerra
DIRETOR
Antônio Maristrello Porto
VICE-DIRETOR
Thiago Bottino do Amaral
COORDENADOR DA GRADUAÇÃO
André Pacheco Teixeira Mendes
COORDENADOR DO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
Cristina Nacif Alves
COORDENADORA DE ENSINO

FGV DIREITO RIO 96

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