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Publicação Mensal    Vol.

XXII - Nº 260   Novembro de 2019

Jesus Cristo, Rei


gladífero e vencedor
Mieusement (CC3.0)

José Luis Filpo Cabana (CC3.0)

São Saturnino - Catedral


de Santa Maria de
Pamplona, Espanha

Presença que emudecia os ídolos


S ão Saturnino possuía uma ação de presença pela qual o simples fato de passar diante dos
ídolos, através dos quais os demônios falavam, fazia com que os espíritos maus fugissem e
os falsos deuses emudecessem. Porque em face do varão de Deus o demônio se acovarda e fo-
ge realmente, e os ídolos não falam mais. Peçamos a Nossa Senhora, por intermédio deste San-
to, que nos consiga a abreviação destes dias terríveis nos quais vivemos, para que possamos ter a
alegria de ver os demônios fugirem envergonhados diante dos olhos de Deus.

(Extraído de conferência de 28/11/1968)


Publicação Mensal Vol. XXII - Nº 260 Novembro de 2019
Sumário Vol. XXII - Nº 260   Novembro de 2019

As matérias extraídas
de exposições verbais de Dr. Plinio
Na capa, Cristo Rei, — designadas por “conferências” —
Igreja Nossa Senhora são adaptadas para a linguagem
Jesus Cristo, Rei da Glória, Juiz de Fora. escrita, sem revisão do autor

gladífero e vencedor Foto: Luis Samuel

Dr. Plinio Editorial


4 Guerreiro justíssimo, defensor
Revista mensal de cultura católica, de de uma causa santíssima
propriedade da Editora Retornarei Ltda. Piedade pliniana
ISSN - 2595-1599
CNPJ - 02.389.379/0001-07
5 Inteira e filial confiança
INSC. - 115.227.674.110 em Nossa Senhora
Dona Lucilia
Diretor:
Roberto Kasuo Takayanagi
6 Fé, objetividade e resignação

Conselho Consultivo: Dr. Plinio comenta...


Antonio Rodrigues Ferreira 11 O ideal de Cavalaria,
Carlos Augusto G. Picanço
Jorge Eduardo G. Koury
plenitude do espírito católico - II
De Maria nunquam satis

Redação e Administração: 18 Simbolismo da Medalha Milagrosa


Rua Antônio Pereira de Sousa, 194 - Sala 27
02404-060  S. Paulo - SP
E-mail: editoraretornarei@gmail.com Reflexões teológicas

Impressão e acabamento: 22 Carregar a cruz com


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02911-000 - São Paulo - SP Calendário dos Santos
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24 Santos de Novembro

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assinatura anual 26 Invencibilidade de quem
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Colaborador. . . . . . . . . . . R$ 300,00
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Grande Propulsor. . . . . . . R$ 700,00 31 Igreja perfeita e alegria do
Exemplar avulso. . . . . . . . R$  18,00
mundo inteiro
Serviço de Atendimento
ao Assinante Última página
editoraretornarei@gmail.com 36 Sacrário de Nosso Senhor

3
i t o r i a l
Ed
Guerreiro justíssimo, defensor
de uma causa santíssima
N osso Senhor Jesus Cristo é Rei, tanto em virtude do poder espiritual quanto do temporal. A
coroa que Ele usa simboliza a plenitude de seu poder. Não o domínio necessariamente limi-
tado de um monarca terreno, mas o poder ilimitado de Deus.
Isto significa que a mais alta figura da organização humana não é um rei ou qualquer outro chefe
de Estado, nem um papa, mas é Cristo Rei.
A doutrina da realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo é própria a despertar uma profunda adoração
a Ele, inclusive no referente ao poder temporal, considerado como mero instrumento do Homem-
-Deus, Senhor de todas as coisas e dominando tudo: Rex regum et Dominus dominantium.
Esta concepção de que o cetro global do poder encontra-se nas mãos divinas de Nosso Senhor Je-
sus Cristo eleva tanto a ideia sobre a sociedade temporal, que daí decorre a noção de sacralidade.
Por outro lado, Nosso Senhor, enquanto presente na Sagrada Eucaristia, tem um título de pecu-
liar presença entre os homens e, portanto, também na História, na qual Ele é especialmente atuante
a partir do Santíssimo Sacramento. Porque Jesus na Eucaristia é, por assim dizer, Nosso Senhor que
desce do Céu à Terra e, como Homem-Deus, continua ao lado dos homens a luta que Ele começou
por ocasião da Encarnação do Verbo.
Assim, seria preciso acrescentar a Nosso Senhor, ao lado de Sacerdote, Pontífice e Rei, o título de
Guerreiro no exercício da realeza. Atributo que não se confunde com a realeza, mas lhe é inerente.
Cristo Gladífero e Cristo Eucarístico estão, pois, na mesma linha, intervindo dentro da História, mas
morando entre os homens.
Enquanto Eucarístico, Ele é o Bom Pastor; enquanto Gladífero, seria mais o Deus do Apocalipse, que
nos apresenta Nosso Senhor Jesus Cristo como um cavaleiro que avança terrível, montado num cavalo
branco com uma espada na boca, para batalhar1. Portanto, o símbolo do cavaleiro mais do que armado.
Nós, como cavaleiros católicos, devemos querer imitar o Divino Mestre, que tem bondades inima-
gináveis, mas também severidades terríveis. Este é o verdadeiro cavaleiro: bondoso, misericordioso,
paciente, mas que em certo momento recebe um sinal de Deus, por onde acaba a hora da misericór-
dia e começa a da justiça. Com este olhar devemos considerar aqueles que nos atacam e nos perse-
guem, perseguindo a Santa Igreja Católica Apostólica Romana.
Se a Sagrada Escritura apresenta Jesus Cristo assim, é porque Ele tem também este aspecto, en-
quanto paradigma do cavaleiro. Nessas condições, Ele deve ser admirado e amado por nós como um
guerreiro justíssimo, defensor de uma causa santíssima que é a Causa d’Ele, pois Ele é a própria Ino-
cência e Justiça, que investe indignado contra aqueles que recusam a sua misericórdia e insistem em
destruir a obra d’Ele. Visto deste ângulo, o Apocalipse é a narração das intervenções divinas na His-
tória, ou seja, Cristo Rei intervindo na História e vencendo.
Como corolário disso, temos a realeza de Maria Santíssima. Porque todo o poder d’Ele sobre os
homens passa antes por Nossa Senhora. Ela é, por assim dizer, a Rainha-Mãe regente da Terra.2

1) Cf. Ap 1, 16; 6, 2.
2) Cf. Conferências de 2/9/1982, 10/9/1989 e 30/4/1993.

Declaração:  Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontífice Urbano VIII, de 13 de março de 1625 e
de 5 de junho de 1631, declaramos não querer antecipar o juízo da Santa Igreja no emprego de palavras ou
na apreciação dos fatos edificantes publicados nesta revista. Em nossa intenção, os títulos elogiosos não têm
outro sentido senão o ordinário, e em tudo nos submetemos, com filial amor, às decisões da Santa Igreja.

4
Piedade pliniana

Arquivo Revista
Nossa Senhora Rainha
Igreja de Santo Alberto, o
Grande, Pensilvânia, EUA

Inteira e filial confiança


em Nossa Senhora
P edimos-vos, ó Mãe, que do alto do Céu desçam sobre nós, vossos filhos, as
bênçãos maternais nascidas de vosso inesgotável afeto.
Como os discípulos de Emaús rogaram ao Divino Redentor, nós Vos pedi-
mos que essas bênçãos “permaneçam conosco”, “porque se faz noite” sobre o mundo.
A cada instante, a cada angústia, a cada necessidade, ajudem-nos elas a manter a
mais inteira e filial confiança em Vós.

5
Dona Lucilia

Fé, objetividade
e resignação
Dona Lucilia possuía uma grande seriedade de alma que se refletia
até mesmo no trato com as crianças. Ao contar-lhes histórias, colocava
sempre uma nota de seriedade, explicando o sentido moral e religioso
daquela narração. Ainda quando a história não fosse religiosa, ela
fazia uma crítica com muita paz, serenidade e objetividade, indicando
como deveria ser aquele conto dentro de um contexto religioso.

A presença de minha mãe da-


va sempre a impressão de
uma tranquilidade cheia de
doçura, de afabilidade que tornava
essa presença muitíssimo atraente.
Fotos: Arquivo Revista

Isso faz com que, ainda hoje, quan-


do entro em casa, eu tenha a sensa-
ção de que o ambiente todo está em-
balsamado por aquela tranquilidade.

Dr. Plinio no cemitér


io
da Consolação em 19
81

6
Carinho com um mana. Não lembro que tenha aconte- na Lucilia? Antes de tudo, era uma
cido eu encontrar o túmulo sem nin- grande seriedade de alma que se refle-
fundo de seriedade guém presente junto a ele. Nos dias tia até mesmo no trato com as crianças.
Nota-se também esse ambiente de em que há muito tempo livre – sába- Ela era muitíssimo carinhosa com mi-
paz e tranquilidade nas pessoas que vi- dos, domingos, feriados nacionais – nha irmã e comigo. Mas o carinho de-
sitam a sepultura dela. Habitualmen- enche-se de pessoas ao seu redor. la tinha sempre um fundo de seriedade.
te, vou ao cemitério uma vez por se- Chama-me a atenção ver muitas Mamãe contava, por exemplo, his-
mana, mas em horas variadas. Às ve- pessoas rezarem, mas outras quietas, tórias como a do Gato de Botas. Em-
zes vou mais do que uma vez por se- num estado de alma como quem está bora ela só tivesse dois filhos, na fa-
sorvendo aquela tranquilidade, abe- mília éramos muitas crianças, pois
berando-se dela no intuito de que al- havia muitos parentes, e formáva-
gum tanto dessa serenidade seja colo- mos uma roda enorme em torno de-
cado em sua alma. Assim, noto uma la, e todas as crianças sorviam as nar-
analogia ou uma identidade entre rações com muito gosto.
os efeitos que as pessoas sentem ho- Entretanto, apesar de fazer des-
je, junto à sepultura dela, e os experi- crições inteiramente adaptadas pa-
mentados outrora por quem frequen- ra crianças, ela colocava sempre uma
tava nossa casa quando ela estava vi- nota de seriedade, quer dizer, expli-
va. Essa identidade me comove. cava no mais fundo o sentido moral
Qual era o fundo dessa tranquilida- e religioso daquela narração. Ainda
de, dessa serenidade, dessa paz de Do- quando a história não fosse religiosa,

7
Dona Lucilia
Conforme conta o médico que a as-
Flávio Lourenço

sistiu em seus últimos minutos, eram


por volta das dez horas da manhã
quando ela, percebendo ter chegado
o momento de passar para a eterni-
dade, fez um Nome do Padre muito
grande e tranquilo e expirou. Era o
fim próprio à vida que ela levara. Na
serenidade, ela entregou sua alma a
Deus com toda a doçura e suavida-
de. Era, por assim dizer, a essência
do estado psicológico e moral dela.
Se quisermos gozar dessa paz, fa-
remos muito bem se tivermos muita
devoção ao Sagrado Coração de Je-
sus, lermos alguma coisa sobre essa
devoção, a respeito de Santa Marga-
rida Maria Alacoque, a quem o Sa-
grado Coração de Jesus Se manifes-
tou, e tudo quanto Ele disse de Si
mesmo a essa Santa, e que é uma es-
cola de resignação para os homens.
Numa de suas aparições à Santa
Margarida Maria, Ele mostrou seu
Coração e afirmou: “Este é o Cora-
ção que amou tanto os homens e foi

Gabriel K.
Aparição do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida
Maria Alacoque - Igreja de Santa Eulália, França

ela fazia uma crítica com muita paz, gostos enormes, a respeito
serenidade e objetividade, indicando dos quais não é o momen-
como deveria ser aquele conto dentro to de tratar, mas ela sofreu
de um contexto religioso. Aliás, a ob- muito, inclusive do ponto
jetividade era uma das características de vista da saúde, pois foi
do espírito dela. Ela queria ver todas sempre bastante doente.
as coisas como eram, sem se iludir so-
bre os lados bons, nem sobre os ruins. Resignação haurida
De outro lado, precisamente por na devoção ao
causa dessa serenidade e objetivida-
de, ela demonstrava uma grande re- Sagrado Coração
signação. Dona Lucilia era muito de- de Jesus
vota do Sagrado Coração de Jesus e
de Nossa Senhora, e nessas devoções Tudo isso ela recebia
hauria uma conformidade com todos com tal serenidade que Santíssimo Cristo da
os aborrecimentos que a vida traz. esta se verificou até no Expiração
Sevilha, Espanha
Com efeito, a vida trouxe-lhe des- momento de sua morte.

8
tão pouco amado por eles.” Mas Nos- ocasião da visita de alguém da família, dos saíamos, ela ficava em casa, ia para
so Senhor Jesus Cristo fez essa la- ou por uma criada que viesse pedir ins- a sala de visitas onde se encontra uma
mentação com resignação divina da truções a respeito da direção da casa. imagem do Sagrado Coração de Jesus,
qual nos deu exemplo até na hora de O resto do tempo ela passava em ora- e retomava a oração. Depois ia cuidar
morrer na Cruz, quando Ele disse: ção, recitando serenamente um eter- dos seus deveres de dona de casa, dos
“Meu pai, em vossas mãos entrego o no rosarinho, uma ladainha ao Sagrado quais, aliás, ela cuidava muito diligen-
meu espírito” (Lc 23, 46). E expirou! Coração de Jesus, alguma outra prece temente. À noite, terminado o jantar,
Essa resignação haurida na de- assim. Chegada a hora do almoço, ela mamãe conversava com o meu pai, co-
voção ao Sagrado Coração de Jesus se levantava e tomava a refeição com migo e com quem houvesse em casa. A
traz consigo uma doçura extraordi- meu pai, comigo e mais alguma pessoa certa altura nos retirávamos e ela vol-
nária. Ainda mais quando é acom- da família que aparecesse. Quando to- tava a rezar ao Sagrado Coração de Je-
panhada pela devoção a Nossa Se-
nhora, que seguiu todos os passos da

Flávio Lourenço
vida, Paixão e Morte de Nosso Se-
nhor Jesus Cristo, o nascer da Igre-
ja, e que era Ela mesma a Rainha da
paz, da serenidade, da tranquilidade,
mesmo nas situações mais dolorosas.
Por exemplo, quando os Apósto-
los abandonaram o Divino Mestre, em
certo momento eles começaram a vol-
tar. São João Evangelista foi o primei-
ro. Depois que Nosso Senhor Jesus
Cristo foi sepultado, Ela dirigiu-Se para
o Cenáculo e os Apóstolos foram, aos
poucos, reunindo-se junto a Ela. Nós
podemos imaginar toda a bondade e a
doçura d’Ela recebendo-os, perdoan-
do-os, estimulando-os, e sendo a Rai-
nha da paz, mas também da resignação.
O homem moderno não é resigna-
do. Quando quer algo, deseja aquilo
ferozmente; um emprego, um passeio,
um automóvel, enfim, seja o que for,
ele quer de tal maneira que, se não ob-
tiver aquilo, fica dilacerado na sua al-
ma. A alma católica não é assim. Ela
deseja, mas se não puder receber, se
Deus dispôs que as coisas sejam de ou-
tra maneira, aceita na paz e continua
a viver tranquilamente. Eu creio que
com essas disposições nós podemos
obter verdadeiramente a paz de alma.

Rezava até às três horas


da madrugada
Dona Lucilia rezava muito. Como
eu disse, ela era doente, e por essa ra-
zão, embora acordasse cedo, permane-
cia grande parte da manhã recostada,
Pentecostes - Catedral de Santa María la Real, Pamplona, Espanha
rezando. Só interrompia a oração por

9
Dona Lucilia
mesa com doces e outras gulo-
Luis C.R. Abreu

seimas para eu comer. Quan-


do entrei, fui depressa beijá-
-la. Depois das primeiras carí-
cias, ela se afastou um pouco
de mim e me olhou com toda
a atenção. Não percebi o que
ela estava fazendo, olhei pa-
ra ela e deixei-a olhar, sorrin-
do. Ela teve esse comentário:
“Graças a Deus você é o mes-
mo, não mudou em nada!”
Quer dizer, a viagem à Eu-
ropa, os prazeres do turismo,
etc., podem marcar desfavo-
ravelmente a alma de uma
pessoa. A grande preocupa-
Encontro do Menino Jesus entre os doutores - Santuário ção dela não era saber se eu
do Sagrado Coração de Jesus, São Paulo, Brasil estava com a fisionomia sau-
dável, e sim se a alma estava
sus. Por vezes ela levava a oração até às da Sabedoria infinita de que Ele deu saudável. Ela me fitou com um olhar
duas, três horas da madrugada. Meu provas naquela ocasião, para resistir muito tranquilo, afetuoso, mas que
pai se levantava e a chamava para ir aos inimigos da Fé. ia até o fundo de minha alma.
dormir; e ela com muita doçura fazia Nisto consistia a seriedade dela, cuja
um sinal indicando que já iria, mas ain- Muito vigilante fonte estava no Sagrado Coração de Je-
da demorava um pouco. Essa era a fon- Ela era uma mãe muito vigilante, sus: Fé, objetividade e resignação. v
te dessa resignação doce, dessa tranqui- mas de um modo curioso. Depois que (Extraído de conferência de
lidade em circunstâncias cruéis em que me tornei adulto e dei provas de mi- 7/8/1990)
a vi sofrer. nha fidelidade, ela
No tocante à educação dos filhos, possuía muita con-

Arquivo Revista
minha irmã e eu passamos por todos fiança em mim,
os perigos espirituais pelos quais se mas muita! Entre-
passa na vida moderna. No que me tanto, ao mesmo
diz respeito, eu notava que ela rezava tempo tinha uma
muito, pois tinha grande medo de que vigilância da qual
eu me perdesse, porque no meu tem- um sintoma inte-
po era muito mais difícil um homem ressante é este:
perseverar na Fé do que uma mulher. Houve uma oca-
Essas orações por minha perse- sião em que tive de
verança ela as fazia, por exemplo, no fazer uma viagem
fim da Missa. Há um altar na Igreja do à Europa. No dia
Coração de Jesus, onde existe um gru- de meu retorno,
po de esculturas representando Nos- já tendo calculado
so Senhor Jesus Cristo discutindo com a hora em que eu
os doutores no Templo, com Nossa Se- deveria chegar, ela
nhora e São José que chegam para en- ficou esperando
contrá-Lo. Ela rezava muito lá; não sentada no hall de
me dizia, mas eu percebia que orava entrada, em frente
para eu ter bons argumentos, boa for- à porta do aparta-
mação para resistir aos argumentos mento, toda arran-
errados que quisessem me dar, e ela jada, tendo deixa-
Hall de entrada do apartamento de Dr. Plinio
pedia ao Menino Jesus um pouquinho do preparada uma

10
Dr. Plinio comenta...
Alvesgaspar (CC3.0)

O ideal de

Pedro K.
Cavalaria,
plenitude do espírito católico - II
O que diferencia o cavaleiro das outras vocações existentes
na Igreja? Missionários dos bons tempos se expunham
à morte pelo contágio de doenças ou se arriscavam a
serem comidos pelos selvagens. São pessoas admiráveis,
dentre as quais muitas morreram mártires e foram
canonizadas. Entretanto, o cavaleiro representa a Deus
a um título especial ao lutar por Ele e pela Santa Igreja,
caminhando com entusiasmo de encontro à morte.

H á também outra beleza que


devemos considerar: a da
luta. Morrer é belo. Os már-
tires, as vítimas da Revolução Fran-
cesa morreram. Oferecer-se, portan-
Dois modos pelos quais
Deus associa o homem
à sua obra criadora
ternidade espiritual se dá quando se
gera alguém para a vida eterna; uma
pessoa traz outra pelo apostolado
para ela pertencer a Nossa Senhora
e assim preparar-se para o Céu.
to, como vítima é lindo! Um doente Deus associa o homem à sua obra Há, entretanto, outro modo pe-
na cama pode oferecer-se; Santa Te- criadora de dois modos: um é pe- lo qual Deus nos associa à sua obra
resinha do Menino Jesus ofereceu- la paternidade espiritual ou física. criadora. Cabe a Deus tirar a vida de
-se como vítima expiatória. Contudo, O que é paternidade física todos sa- alguém. Porém, quem legitimamen-
lutar tem uma beleza especial. bem, não é necessário explicar. A pa- te mata outrem que, segundo o pla-

11
Dr. Plinio comenta...
Flávio Lourenço

Martírio de São Maurício e Legião Tebana

Samuel Holanda
Abadia de São Maurício, Ebermunster, França

Mar tírio de Santa Bárbara


Museu Metropolitano de
Arte, Nova Iorque, EUA

no de Deus, deve ser morto, exerce Há certos trovões que se pro- com gosto sua harmonia cheia de es-
uma prerrogativa divina. pagam por várias séries de explo- tampidos.
Por exemplo, um homem é um as- sões até uma plenitude final. O tro- Esta é a alma do guerreiro quan-
sassino e deve ser morto num ato de vão é lindo porque dá a impressão do ele, movido por uma cólera santa,
legítima defesa ou porque a lei man- de uma divina vontade de arrasar o mata um, outro e, ao fim do dia, ma-
dou que fosse executado. O Estado que não deve existir, e que vai der- tou muitos. Ele está como uma trovo-
tem o direito de mandar matar, nas rubando obstáculo por obstáculo até ada que descarregou toda a sua eletri-
ocasiões em que é justo, bem como destruir tudo. É uma sinfonia! Para cidade, e repousa plácido depois por-
qualquer pessoa possui o direito de mim, mais bonito do que o trovão, só que a sua ira santa foi preenchida. É
matar na sua própria defesa ou de ter- o órgão. São as duas supremas bele- o repouso de um guerreiro depois de
ceiros. Assim, tem-se o direito de ma- zas em matéria de sons. Sou um en- ter combatido, ter raspado pela morte,
tar na defesa da Santa Igreja Católi- tusiasta da trovoada. Qualquer tro- na véspera de outra batalha onde ele
ca Apostólica Romana, nos casos em vãozinho que eu ouça, acompanho poderá morrer. Ele está continuamen-
que a Moral católica permite1. Portan-
to, quando se combate em nome da ira

Arquivo Revista
de Deus e movido por uma cólera ins-
pirada pela graça, há uma beleza espe-
cial no exercício dessa justiça. Então, o
cavaleiro que vai à guerra não só dis-
posto a morrer, mas a matar para que
a vida espiritual, sobrenatural se espa-
lhe sobre a Terra, também representa
a Deus a um título especial, e exerce
uma missão divina.
Compreende-se por que os nossos
antepassados julgavam uma tal mara-
vilha um cavaleiro entrar, por exem-
plo, num lugar onde havia cinquen-
ta maometanos e, com várias espada-
gadas, decapitar a todos. Por que era
uma beleza? Porque os maometanos
estavam atacando terras católicas ou
Santa Teresinha do Menino Jesus
impedindo a pregação do Evangelho.

12
te com esta familiaridade com a morte ta, anseia por ela. Esse é o cavaleiro, dor, como foi São Miguel Arcanjo no
que faz a beleza da vida do guerreiro, aquele que, na hora do risco e da bata- Céu. Esta alegria, este entusiasmo, es-
porque é a familiaridade com Deus. lha, como que sente a ebriedade santa ta espécie de senso artístico da luta, do
Então, o que diferencia o cavaleiro do contato com Deus e se lança. risco e da morte caracteriza o verdadei-
das outras vocações que há na Igreja? Em certo sentido, o cavaleiro po- ro cavaleiro.
Tomem, por exemplo, padres, freiras de ser considerado o artista da luta, Compreende-se, então, porque o
dos bons tempos que se expunham à pois gosta da pugna bela, nobre, eleva- cavaleiro era alçado, habitualmente,
morte com contágio de doenças; ou- da. Por isso ele se orna para o comba- à condição de nobre, pois é incom-
tros que, fazendo as missões, se arris- te, segue belas regras para lutar e mor- paravelmente mais elevado e dig-
cavam a serem comidos pelos selva- re sentindo ter feito uma obra de arte. no quem possui esse espírito do que
gens. Todas essas pessoas são admirá- Na canção de gesta, Roland, morren- quem se entrega a outras ativida-
veis, dentre as quais muitas morrem do, sabe que no horror de sua morte es- des lícitas, necessárias, mas que não
mártires e são canonizadas. Que o tá realizando algo que despertará uma têm esse contato com o Divino, co-
sangue delas se levante e peça ao Céu página de literatura para todos os tem- mo, por exemplo, o comércio. Ven-
perdão e graças para nós. pos. E, antes de ele morrer, aparece der cebolas ou tamancos é uma coi-
São Miguel Arcanjo a quem o cavaleiro sa indispensável para a boa ordena-
Desponsório com o risco, moribundo estende a sua luva em sinal ção do mundo; fabricar vassouras ou
o esforço e a morte de vassalagem, porque São Miguel é o esparadrapos é muito bom, sobre-
chefe do que eles chamavam a Cavala- tudo, pode ser muito lucrativo, não
Entretanto, o cavaleiro não é o que ria Celeste, composta pelos Anjos que contesto. Mas contabilizar grandes
se resigna à morte, mas aquele que ca- expulsaram os demônios, lançando-os lucros, embora seja bom e honesto,
minha de encontro a ela com entusias- no Inferno. Roland se sente um com os não é o mais alto modo de se unir
mo; não se resigna com o perigo, mas espíritos celestes, seus irmãos. Ele é, na a Deus. Essa espécie de desponsó-
tem fome dele; não se resigna à lu- Terra, o grande exterminador e ordena- rio com o risco, com o esforço extre-

Luis Samuel

13
Dr. Plinio comenta...

mo e com a morte é o que mais une a pa Oriental? Foi mediante concessões zados contra os maometanos que bran-
Deus. Isto é a Cavalaria. vergonhosas de Roosevelt, no Tratado diam sabres. Os maometanos não usa-
de Yalta. Como o comunismo conse- vam sabres e lanças? Nossos antepassa-
Se ultrajado pelo inimigo, o guiu conquistar a China e depois o Vie- dos também. O comunismo usa ideias,
cavaleiro mantém a cabeça tnã? Foram concessões que Marshall nós usamos ideias. Ele faz a Revolução,
fez aos comunistas chineses, entregan- nós fazemos a Contra-Revolução.
alta, revida e continua a luta do a China numa bandeja. Como o co- Digo agora uma palavra sobre o ris-
Em nossa época, a luta não se dá só munismo vai se difundindo pelo mun- co. Há uma coisa que é para o homem
nem principalmente no campo físico. O do? Através da conquista das almas por como a morte, e às vezes ele enfren-
principal da guerra não é o esforço ma- meio do processo revolucionário des- ta a morte para evitar isso: é o descré-
terial, mas o intelectual. Atualmente se crito em meu livro Revolução e Contra- dito no meio dos seus. Deixar de ser
conquistam mais povos pela guerra psi- -Revolução. considerado, benquisto, admirado, ser
cológica do que pela guerra militar. As Contra essas formas de conquistas odiado, perseguido, desprezado exige
maiores conquistas que o comunismo psicológicas, ou há uma conquista tam- muitas vezes mais coragem do que a
fez não foram pelas armas, mas pela ve- bém psicológica ou não adianta nada. luta armada. Quando há uma guerra,
lhacaria. Por exemplo, como o comu- Então, nós somos contra o comunismo muitos vão para frente combater de
nismo se introduziu em toda a Euro- que brande ideias, como eram os cru- medo que, se recuarem, na retaguarda
riam deles e digam que são covardes.
Isso quer dizer que o sujeito enfren-
IABI (CC3.0)

ta a bomba por medo do riso. Portan-


to, em última análise, a risada dá mais
medo ao homem do que a bomba.
De nós é exigida esta coragem, bela
como a de quem enfrenta a morte. Se
o homem tem mais medo do ridículo
do que da morte, enfrentando o ridí-
culo ele faz uma imolação a Deus mais
preciosa do que entregando a vida. Es-
tar, portanto, continuamente raspan-
do-se no ridículo, não se incomodan-
do com a opinião dos outros, isto é ser
cavaleiro. Quando o homem faz isto e
compreende que se une a Deus extra-
ordinariamente por esta forma, e tem
o gosto de ser vilipendiado, ultrajado,
de manter a cabeça alta, de revidar e
de lutar, ele é um perfeito cavaleiro.

Nosso Senhor não recuou


um instante, mas caminhou
para a frente continuamente
Comecei esta luta em condi-
ções muito desfavoráveis, porque só
vim a compreender que ela era be-
la mais tarde. Era menino e percebi
que, nos ambientes dos outros me-
ninos, o que eu tinha de qualidade
era objeto de sarcasmos, e que bas-
tava assumir certos defeitos que se-
ria causa de admiração. Mas resolvi
Roland na Batalha de Roncesvalles
seguir a mim mesmo, fiel às qualida-

14
“Eu vou para a frente porque que-
U.S. National Archives (CC3.0)

ro!” Uma vontade serena, majesto-


sa, mas inteiramente inquebrantável,
até quando encontrou Nossa Senho-
ra e viu tudo quanto Ela estava so-
frendo pela resolução d’Ele de mor-
rer. Por fim, no alto da Cruz, aquela
palavra de energia suprema: “Con-
summatum est”: foi feito tudo o que
era preciso fazer.
Quando foram prendê-Lo, no
Horto das Oliveiras, Ele perguntou:
— A quem buscais?
— A Jesus Nazareno – responde-
Churchill, Roosevelt e Stalin durante a conferência de Yalta ram os algozes.
— Sou Eu – afirmou Jesus. E to-
des que eu tinha; não compreendia a te com uma tristeza enorme; e assim dos caíram no chão.
beleza que havia nisto. Até me lem- deve ser, porque devemos ter consci- Seu poder e sua majestade eram
bro de ter pensado o seguinte: “Todo ência, tomar na devida conta os so- tais que Nosso Senhor dissera pouco
mundo acha isto feio, quem sabe se frimentos infinitos que Ele padeceu antes a São Pedro que, se quisesse,
é mesmo. Nesse caso, faço uma coi- por nós. mandava vir legiões de Anjos para li-
sa feia, mas enfrento todo mundo e Mas, de fato, há outro aspecto da bertá-Lo (cf. Mt 26, 53), mas Ele não
vou para a frente, porque ser de ou- atitude de alma de Nosso Senhor Je- queria. Portanto, tudo aquilo o Divi-
tra maneira eu não quero.” sus Cristo durante a Paixão, que é no Redentor estava sofrendo porque
No praticar uma coisa que talvez o seguinte: Ele não recuou um mo- Ele queria. Eis o Cavaleiro!
fosse feia por amor a um ideal, eu mento, caminhou
o fazia do modo mais belo possível. para a frente con-

Helio G.K.
Eu me lembro de que pensava com tinuamente. Mes-
meus botões: “Mas que coisa horrí- mo quando caiu
vel ser desconsiderado assim! Veja sob o peso da Cruz,
tal menino de boca porca, de maus foi para levantar de
costumes que empolga a aula dizen- novo e poder che-
do palavrões, e como eu faço um pa- gar até o alto do
pel apagado, mole, bobo, com a mi- Calvário; não teve
nha perpétua observância da pu- uma hesitação.
reza, das boas maneiras, da distin- Eu tenho a im-
ção.” Mas eu refletia: “A pureza, as pressão de que se
boas maneiras, a distinção valem is- devêssemos olhar,
to; assim eu quero ser, ainda que me numa Via Sacra, as
rachem.” Eu era, assim, uma espé- pegadas sangrentas
cie de bichinho se agarrando à tá- de Nosso Senhor
bua de salvação a todo custo. Ainda no chão, um dos
não percebia que essa tábua de sal- aspectos por onde
vação tinha um nome, era a Cruz de Ele poderia ser vis-
Nosso Senhor Jesus Cristo. Quando to era cambalean-
mais tarde percebi, fiquei maravilha- te, fazendo um zi-
do, mas o passo estava dado, eu ti- gue-zague, quase
nha entrado na luta. caindo ao peso da
Nosso Senhor Jesus Cristo nos é Cruz, mas não lar-
apresentado sempre enquanto pade- gando. Outro se-
cendo, suando Sangue no Horto das ria, pelo contrá- Jesus com a Cruz às costas
Catedral de Astorga, Espanha
Oliveiras, caminhando para a mor- rio, em linha reta:

15
Dr. Plinio comenta...

to, que é superexcelso e não compa-


Divulgação (CC3.0)

rável com nada – foi o de Santo Iná-


cio de Antioquia. Ancião, carrega-
do de ferros, entrou na arena e, dian-
te dos leões que rugiam, ele disse:
“Leões, vinde a mim! Triturai-me co-
mo se tritura o trigo para ser como a
Hóstia de Nosso Senhor Jesus Cris-
to. Eu serei triturado e serei um com
Ele.” Os leões vieram e ele foi estra-
çalhado e morreu. Isto, para mim, é a
última palavra, o auge da beleza!

Cavaleiros conscientes de
todo o esplendor que o
martírio trazia consigo
Entretanto, havia duas espécies
Prisão de Nosso Senhor - Museu de São Marcos, Veneza de mártires. Estive no Coliseu, em
Roma, onde me mostraram o lugar
O mais belo de todos Do nosso lado há Cavalaria, do lado do cárcere no qual ficavam os cató-
deles há assassinatos. Todas essas lu- licos a noite inteira, perto de outro
os martírios zes são da Igreja Católica e de mais compartimento onde estavam as fe-
Terminada esta exposição, pode- nada no mundo. Mas, enfim, o Rei ras rugindo. Os cristãos sabiam que,
ria surgir a pergunta: “Tudo isso é da França, Henrique IV, entrou nu- quando amanhecesse, tinham raiado
bonito, mas como me portar quando ma batalha com muito medo e sen- para eles as últimas horas, e seriam
chegarem para mim o risco e a mor- tia até seu esqueleto tremer. Então levados para a arena onde aquelas
te? Não posso fazer uma espécie de de espada na mão ele gritou: “Treme feras iam devorá-los.
injeção de tudo quanto ouvi e me- velha carcaça...”, mas ele não que- Imaginem, às três horas da ma-
ter dentro de mim para sair um he- ria ceder e lutou durante a batalha nhã, solidão no Coliseu, aquele már-
rói. O que vou fazer para ser fiel a inteira. Quiçá na hora do medo te- more muito branco, resplandecen-
essas ideias?” nhamos que dizer “treme velha car- te, de uma alvura que para quem vai
Aqui vem a doutrina da verdadei- caça”, mas nós vamos para a frente. morrer tem quase o aspecto de um
ra vida espiritual. Se eu, no meu ide- É preciso confiar em que a graça nos esqueleto ressequido, sobre o qual
al, sinto-me chamado para isso, mas ajude nesse momento. o trágico luar derramava uma tênue
na realidade não tenho forças, devo O martírio mais belo que conheço luminosidade; a sós, numa gaiola,
pedi-las para estar à altura do meu – depois de Nosso Senhor Jesus Cris- os futuros mártires se preparam pa-
ideal. Para isto temos a oração, os
Sacramentos, a meditação que nos
Divulgação (CC3.0)

elevam até esse ponto. Pode ser que


alguns cheguem entusiasmados à
hora do sacrifício, outros com me-
do, mas vencendo o próprio medo e
compreendendo a beleza de vencê-
-lo para lutar.
Cito um personagem que foi, sem
dúvida, muito corajoso, mas não era
nem de longe um cavaleiro. Basta di-
zer que era um protestante. Protes-
tantismo e Cavalaria são coisas que
se excluem, pois esta é um predica-
Martírio de Santo Inácio de Antioquia - Biblioteca do Vaticano
do exclusivo da Religião Católica.

16
ra morrer e têm pânico de apostatar

Gabriel K.
na hora, porque era só fazer um sinal
nesse sentido para serem salvos.
De repente, uma hiena uiva e a
pessoa pensa: ela está com fome de
mim, esse bicho amanhã vai devorar
as minhas entranhas. Quando che-
ga a manhãzinha, as feras vão acor-
dando e uivando mais. O circo vai se
enchendo de gente, muitos passam
perto dos católicos, cospem neles,
atiram pedras, dão risadas dizendo:
“Vocês vão morrer mesmo...”
A certa hora, o Sol já está todo le-
vantado e entram os barulhos familia-
res da cidade de Roma: os vendedores
que oferecem suas mercadorias, car-
ros que passam, é a vidinha de todos
os dias que está ao alcance deles. É só
dizer “eu quero apostatar” para terem
tudo aquilo que eles estão prestes a O Coliseu, Roma, Itália
deixar para entrar na arena e morrer.
Alguns soluçavam de medo, iam Conto-lhes um fato extremamen- graça responderia dentro da alma de-
para a arena tremendo. Jogavam- te gracioso. Havia uma jovem roma- le: “Tu não tens coragem porque não
-se e as feras caíam em cima deles. na que foi condenada à morte por ser chegou a hora de morrer. Tu deves ter
Eram heróis tanto quanto Santo Iná- cristã. Mas ela tinha especial pavor de confiança de que não morrerás.” En-
cio de Antioquia, talvez merecendo não sei de que bicho – digamos que tão, ele mete o pé dentro do caldeirão,
menos admiração. fosse hiena –, tinha pânico. Então, ela depois o corpo inteiro, certo de que
Eram cavaleiros verdadeiramen- disse a Deus o seguinte: “Eu consin- não será queimado. Contra o parado-
te, porque sentiam a beleza do seu to em ser morta, mas fazei com que xo, atravessa o caldeirão, apoia-se do
ato e queriam consumá-lo, conscien- não seja por uma hiena.” Os outros outro lado e sai.
tes de todo o esplendor que o mar- cristãos, católicos, que estavam assis- Manter esta confiança dentro do
tírio trazia consigo. Evidentemente, tindo ao martírio nos bancos do Co- caldeirão não é uma força de alma
para isto é preciso receber uma gra- liseu, viram entrarem também hienas talvez maior do que a do martírio?
ça especial. Sem essa graça a pessoa no circo, mas nenhuma delas atacou a Em nossa vida a virtude da confian-
não enfrenta. Mas é preciso pedi-la jovem, que foi morta por um tigre ou ça tem um papel extraordinário. Mui-
desde já. Por isso, em todas as Ave- um leão. Quer dizer, foi uma condes- tas vezes nós estamos como que der-
-Marias há esse pedido final: “Rogai cendência da Providência. rotados e liquidados e temos que fa-
por nós, pecadores, agora e na hora Termino com um caso para verem zer como São João: confiar que saire-
de nossa morte. Amém”. Quem vai como esse conceito de luta e de mar- mos do outro lado do caldeirão sem
ter coragem nessa hora? Sem uma tírio é complexo. São João Evange- nos acontecer nada. Este é um outro
graça especial não se tem. lista não foi mártir. Levado para ser lado do heroísmo e de coragem terrí-
morto num caldeirão de azeite em vel. Às vezes, confiar é mais duro do
Papel extraordinário da ebulição – uma morte tremenda! –, que se entregar. Mas não temos o di-
virtude da confiança entrou no caldeirão e saiu do outro reito de ceder, e é preciso confiar. v
lado ileso, e por vontade de Deus o
Há graças especiais de luta e de deixaram ir para casa. (Extraído de conferência de
morte também, mas peçamos essa Imaginemos que São João tenha 3/8/1974)
graça, tenhamos a intenção de dar à ido para o caldeirão com algo da gra-
nossa vida e à nossa morte esse sen- ça que dizia dentro dele: “Tu não vais 1) Cf. Suma Teológica, II-II q. 40, a. 1; q.
tido de beleza, e nós obteremos. Por- morrer.” E ele pensasse: “Mas não te- 64 a. 2-3. Catecismo da Igreja Católi-
que quem pede alcança. nho coragem de morrer agora.” E a ca, n. 2264-2265.

17
De Maria nunquam satis

Simbolismo
da Medalha
Milagrosa
Greg O’Beirne and Donna Barber

Numa face da medalha, a Santíssima


Virgem pousa os pés sobre o mundo
e calca uma serpente, exprimindo
assim a sua realeza, lembrada em
Fátima e afirmada como uma vitória
sobre a Revolução: “Por fim o meu
Imaculado Coração triunfará”. A
Revolução será derrotada, e na
Contra-Revolução teremos a vitória
do Coração Imaculado de Maria.

C omemora-se a 27 de novem-
bro a festa da Bem-aventurada
Virgem Maria da Medalha Mi-
lagrosa, dia em que, no ano de 1830,
Nossa Senhora calca aos pés
o mundo e uma serpente
Quando esta revelação foi divul-
Nossa Senhora apareceu a Santa Ca- gada, verificou-se que a Medalha Mi-
tarina Labouré, em Paris, e revelou- lagrosa era ocasião para um núme-
-lhe o desenho da medalha milagrosa. ro enorme de graças de conversão,

18
das mais extraordinárias. Com o que mente essa a doutrina da realeza de sos. São as graças e os favores que
se patenteou ou se documentou mais Nossa Senhora, lembrada em Fátima por suas mãos – pela ação, por meio
uma vez que esta devoção era mui- e afirmada como uma vitória sobre a d’Ela – descem sobre o mundo.
to desejada por Maria Santíssima. Por Revolução: o comunismo espalhará os
causa disso, estabeleceu-se o excelen- seus erros por toda parte, o Papa terá Visão grandiosa da vitória
te costume de colocar no ponto de en- muito que sofrer, a Igreja será perse- de Maria Santíssima
troncamento das contas do Rosário a guida, “por fim o meu Imaculado Co-
Medalha Milagrosa; de fato seu culto ração triunfará”. Quer dizer, a Revo- Temos, assim, algo que faz pensar
é cercado de toda espécie de graças. lução será derrotada, e na Contra-Re- na verdade de Fé da mediação uni-
Essa devoção preparou as almas volução nós teremos, então, a vitória versal de Maria. As graças passam
muito poderosamente para a defi- do Coração Imaculado de Maria. pelas mãos de Nossa Senhora – elas
nição de um dos mais importantes Nossa Senhora aparece calcando são as distribuidoras dos dons divi-
dogmas de Nossa Senhora: a Ima- aos pés não só o mundo, mas também nos – e numa quantidade enorme se
culada Conceição. Vale a pena, por- uma serpente, o que é inteiramen- precipitam sobre a Terra.
tanto, fazermos uma análise da me- te coerente com o resto, porque nes- Segundo diversas revelações, a vi-
dalha e de tudo quanto ela simboliza se mesmo lado da medalha está escri- tória sobre a Revolução dar-se-á no
para compreendermos o que a Pro- to: “Ó Maria concebida sem pecado, momento culminante dos castigos
vidência Divina teve em vista quan- rogai por nós que recorremos a vós!” descritos de vários modos. Ana Ca-
do favoreceu com tantas graças essa É, portanto, a Imaculada Concei- tarina Emmerich, por exemplo, em
devoção que a própria Mãe de Deus ção, mas com um atributo que não uma de suas descrições narra a vitória
revelou a Santa Catarina Labouré. se encontra nas imagens dessa invo- de Nossa Senhora no Vaticano. Ela
Vemos numa face da medalha a cação como tal: Nossa Senhora es- vê Maria Santíssima entrando na Pra-
Santíssima Virgem pousando os pés tá com as mãos abertas em sinal de ça de São Pedro – dado muito curio-
sobre o mundo, na afirmação de sua aquiescência, de atendimento, e de- so, porque dá a ideia de que Ela não
realeza sobre toda a Terra. É exata- las partem fachos luminosos imen- estava presente no Vaticano –, ele-

Da
nie
lA
.

19
De Maria nunquam satis

des devoções que constituem, no fun-


do, uma só: ao Sagrado Coração de Je-
J.P.Ramos

sus e ao Imaculado Coração de Maria.

Graças concedidas para a


luta contra a Revolução
São graças concedidas nos tempos
modernos para a luta contra a Revo-
lução: o dogma da Imaculada Con-
ceição, que deveria ser definido al-
gumas dezenas de anos depois da
aparição da Medalha Milagrosa; as
devoções ao Sagrado Coração de Je-
sus e ao Imaculado Coração de Ma-
ria, nascidas das revelações de Pa-
ray-le-Monial e dadas para evitar
a Revolução na França; a obra de
São Luís Maria Grignion de Mon-
tfort, também suscitada para impe-
dir aquela Revolução.
De maneira que esses símbolos
todos se conjugam como uma espé-
cie de compêndio dos temas ou dos
pontos mais sensíveis para a piedade
católica, que lembram mais aos cató-
licos o objeto natural de suas inclina-
ções, de sua confiança.
Temos aí a razão pela qual essa
medalha foi objeto de tantas graças.
Lembrem-se que ela não foi com-
posta por ninguém. Toda a sua cons-
Aparição de Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré - Basílica tituição, todos os elementos que ne-
de Nossa Senhora de Nazaré, Belém do Pará, Brasil la se encontram foram indicados por
Nossa Senhora a Santa Catarina La-
vando-se até o alto da cúpula de onde les que, tendo em vista esse conjun- bouré. De maneira tal que isso tem
Ela estende a sua ação sobre o mun- to de fatos, de símbolos, de atributos, um sentido muito profundo, é uma
do inteiro e o cobre com seu manto; de noções, se dirijam confiantes a Ela, espécie de sumário das devoções que
e, então, a Revolução cessou. pedindo as graças de que precisam. nós mais devemos considerar. Por
Nessa face da medalha temos, as- O verso da medalha não é menos essa razão precisamos amar muito
sim, uma série de conceitos que se simbólico. Ele contém os elementos de essa medalha, vendo nela como que
conjugam para dar uma visão grandio- várias devoções conjugados: as doze es- um programa para nós; e usá-la, tê-
sa da vitória de Maria no mundo. Es- trelas lembram aquelas com que a San- -la sempre conosco.
sas graças descem para a conversão tíssima Virgem é representada coroa- Outra devoção esplêndida que os
dos pecadores, dos hereges, mas tam- da no Apocalipse; no centro vemos o católicos sempre tiveram, desde a
bém o castigo dos irredutíveis para a “M”, primeira letra do nome de Nos- Idade Média para cá, foi o Rosário.
proteção daqueles que se mantiveram sa Senhora, sobre o qual está uma cruz. Colocar essa medalha no Rosário é
fiéis até o fim, e os auxílios para que Isso recorda muito tudo quanto ensi- uma ideia felicíssima, muito harmo-
se mantenham na fidelidade. Tudo is- na São Luís Grignion de Montfort, no niosa, lógica, razoável, e constitui
so sai das mãos de Nossa Senhora co- “Tratado da verdadeira devoção” e na um todo de objeto de piedade que
mo de um manancial. Ela está afável, “Carta Circular aos amigos da Cruz”; e, nos deve falar muito à alma e des-
risonha, acolhedora para todos aque- por fim, abaixo do “M”, as duas gran- pertar a nossa devoção.

20
numerosos os demônios que pairam Senhora, é um dos penhores da alian-
Escudo contra todas as
pelos ares para a perdição das almas ça d’Ela conosco. É um dos meios,
tentações do demônio que, se pudessem ser vistos, obscure- uma espécie de escudo que Ela nos
Vamos pedir a Nossa Senhora o fa- ceriam até o Sol, pois formariam uma dá para a luta contra todas as tenta-
vor de, pelas graças da Medalha Mi- espécie de capa em torno da Terra. ções do demônio.
lagrosa, apressar o dia de sua vitória. Esses são os demônios, os quais, A invocação de Nossa Senhora
E também de nos ajudar a sermos fi- segundo Ana Catarina Emmerich, das Graças ou da Medalha Milagro-
éis durante todas as tormentas que se atuam sobre as almas não direta- sa, por tudo quanto ela contém e, so-
aproximam. Porque devemos nos lem- mente para levá-las ao pecado, mas bretudo, pela Imaculada Conceição
brar bem disto: a perseverança é uma para criar um clima que torna depois que está esmagando a cabeça do de-
graça inestimável. Do que adianta a tentação dos outros demônios qua- mônio, é particularmente eficiente
uma pessoa ter Fé, virtudes, se depois se irresistível, avassaladora. Se o mal nessa luta contra o poder das trevas,
vai cair no pecado? Essa perseverança em nossos dias tem tanta possibili- que tanto e tanto nós devemos con-
não é fruto de nossas qualidades pesso- dade de progressão é porque ele en- duzir nos dias de hoje.
ais, mas da graça que se trata de pedir contra em toda parte o clima psico- Eis uma razão a mais para nos
humildemente, de implorar com insis- lógico preparado. aferrarmos a esses símbolos, a essa
tência, e à qual é necessário correspon- A meu ver, muitas vezes por dia o medalha, ao escapulário do Carmo,
der. Portanto, precisamos pedir as gra- demônio tenta as pessoas. Nem sem- ao Rosário. Devemos ter sempre co-
ças que nos assegurem a perseverança. pre serão tentações sensíveis, é evi- nosco esses objetos de piedade, co-
Há, hoje em dia, tantas almas ten- dente. Mas é uma ação quase imper- mo meio de luta contra o demônio.
tadas levadas pelo o demônio para os ceptível. Há também demônios que Essa é uma consideração que me pa-
rumos mais execráveis! Talvez nem to- fazem assaltos violentos; estes, po- rece particularmente importante nos
do mundo tenha a ideia de qual é a rém, não são os mais perigosos. dias em que vivemos. v
ação, a força do demônio na época em Então nós devemos compreender
que nós estamos. Um Santo, cujo no- que essa medalha, com todos os seus (Extraído de conferência de
me não me lembro, afirmou serem tão símbolos e recomendada por Nossa 27/11/1964)

Arquivo Revista

Dr. Plinio em 1983

21
Reflexões teológicas
Jesus na Via Sacra
Gabriel K.

Igreja de Santa Maria


Novella, Florença, Itália

Carregar a cruz com


dignidade suprema
Nós, católicos, podemos ser humilhados, espezinhados,
calcados aos pés, mas sabemos que raiará o dia
do Reino de Maria, e que os homens do futuro
invejarão as humilhações pelas quais passamos.

U
m tema muito bonito é Nos- da a Criação. Como tal é Ele quem Então, Nosso Senhor Jesus Cris-
so Senhor na tríplice quali- manda na História dos homens. to é Rei até quando os homens se
dade de Rei, Pontífice e Pro- Ele quis dar aos homens a facul- revoltam contra Ele, porque foi Ele
feta. dade de fazerem o bem e o mal, o quem os dotou dessa liberdade. No
poder de agirem contra ou a favor fundo, no zigue-zague de toda a
Rei, Sacerdote e Profeta do Direito. De maneira que, quan- História, Ele faz acontecer o que
Rei é aquele que está no alto de do os homens fazem o mal, eles vão Ele quer. Assim como Nosso Se-
uma certa ordem e a governa, a or- contra a vontade divina, mas Deus nhor é o Rei da História, é também
dem lhe obedece. Nosso Senhor Je- quis que eles tivessem essa facul- Rei de todo o universo, do curso
sus Cristo, como Homem-Deus, é dade, para depois exercer a Justi- dos astros, de tudo quanto se passa
Rei de toda a humanidade e de to- ça sobre eles. na natureza.

22
Jesus Cristo é Sacerdote Nosso Senhor Jesus Cristo
porque oferece a Deus to- conhecia tudo isso e, do fun-
da a Criação no auge da do de sua dor e de sua humi-
qual Ele está, mas, sobre- lhação, carregava a majes-
tudo, porque é o Reden- tade da vitória que have-
tor do gênero humano. ria de vir.
Ele é Vítima e Sacerdo- Mutatis mutandis,
te, pois Se ofereceu a Si Gabriel K. com todos nós, católi-
próprio para expiar por cos, é assim também.
toda a humanidade. Ele Podemos ser humilha-
é, pois, Sumo Sacerdo- dos, espezinhados, cal-
te, o Pontífice que possui cados aos pés, mas sabe-
um pontificado universal. mos que raiará o dia do
Os outros pontífices, o cle- Reino de Maria, e que os
ro, são pontífices por partici- homens do futuro invejarão
pação d’Ele. O Pontífice é Ele. as humilhações pelas quais pas-
Cristo Juiz - Catedral
Ele é o Profeta porque predisse samos. Quando as pessoas se lem-
de Orvieto, Itália
o que faria e realizou sua profecia. brarem de um jovem casto, atraves-
Os outros profetas previram coisas sando essas cidades impuras, pre-
que outros se incumbiram de cum- Aquela túnica de bobo tinha diver- gando o nome de Nossa Senhora,
prir, eles não cumpriram. Jesus pre- sos significados místicos, teológicos, cortando essas poluições, se ajoelha-
viu e fez. Portanto é profeta numa sobre os quais os maiores espíritos rão ao pensar nisso.
plenitude especialíssima do termo. haveriam de escrever enlevados, cer- Portanto, na nossa situação deve-
tos de não chegarem até o fundo do mos carregar com dignidade suprema,
Os homens do futuro tema. E aquela coroa de espinhos ha- como Nosso Senhor carregou, os em-
invejarão as humilhações veria de ser de tal maneira venerada blemas da irrisão, da humilhação e do
que o maior rei da Cristandade, no ódio que caem em cima de nós. v
pelas quais passamos seu tempo, São Luís IX, haveria de
A cada passo da sua Paixão, com a construir uma Sainte-Chapelle para (Extraído de conferência de
majestade infinita d’Ele, ao mesmo abrigar um dos espinhos dessa coroa. 26/11/1982)
tempo em que estava sendo escarneci-
do, humilhado, sentindo todas as dores

Ludovico Carracci (CC3.0)


morais e físicas da situação em que Se
encontrava, tendo ciência de que seria
morto, sabia também que aquilo tudo
seria objeto de uma glória como nun-
ca ninguém teve; uma glória rainha e
mestra de todas as outras glórias.
Então, enquanto estava com a co-
roa de espinhos, com a túnica, o man-
to e o cetro de irrisão e, portanto, no
auge do desprezo e do abandono da
parte de todo o mundo, Nosso Senhor
sabia que um dia viria onde o poder
d’Ele seria tão grande que os maiores
reis da Terra se desvaneceriam dian-
te da ideia de poder pôr no respecti-
vo cetro um fragmentozinho daque-
la cana que servia de cetro de irrisão.
Se não se tivesse perdido aquela cana,
ter-se-iam construído catedrais para
Flagelação de Jesus - Museu da Cartuxa de Douai, França
guardar fragmentos dela.

23
C alendário dos
1. São Nuno de Santa Maria,  reli-
gioso (†1431). Condestável do Reino
4. São Carlos Borromeu, bispo
(†1584).
Santos  – ––––––

Samuel Holanda
de Portugal. Após vencer muitas bata- Beata Francisca de Amboise,  religio-
lhas, abandonou o mundo e ingressou sa (†1485). Duquesa da Bretanha, que
na Ordem dos Carmelitas. após ficar viúva, fundou em Vannes o
primeiro Carmelo feminino da França.
2. Comemoração dos Fiéis Defuntos.
5. São Donino, mártir (†307). Jo-
São Malaquias, bispo (†1148). Re-
vem médico, condenado na persegui-
novou a vida de sua Igreja na diocese ção de Diocleciano a trabalhar nas
de Down e Connor, na Irlanda. Fale- minas da Mísmiya, na Cesareia da Pa-
ceu no mosteiro de Claraval, em pre- lestina, e depois queimado vivo por
sença de São Bernardo. permanecer cristão.

3. Solenidade de Todos os Santos 6. São Winoco, abade (†c. 716).


São Martinho de Porres, religioso Discípulo de São Bertino, no mostei-
(†1639). ro de Sithieu. Mais tarde construiu o
São Pedro Francisco Néron, presbí- mosteiro de Wormhout, na França.
Santo Ursino
tero e mártir (†1860). Religioso da So- 7. Beato Vicente Grossi, presbítero
ciedade das Missões Estrangeiras de (†1917). Fundador do Instituto das Fi- 12. São Josafá, bispo e mártir (†1623).
Paris, que depois de preso numa es- lhas do Oratório, em Cremona, Itália. Santo Emiliano, presbítero (†574).
treita gaiola e cruelmente golpeado, Após muitos anos de vida eremíti-
8. São Godofredo, bispo (†1115). ca e algum tempo de ministério cleri-
foi decapitado em Tonquim, Vietnã.
Educado desde os cinco anos na vi- cal, abraçou a vida monástica, em San
da monástica, foi abade beneditino e Millán de la Cogolla, Espanha.
Gabriel K.

Bispo de Amiens, França.


13. Santa Maxelendes, virgem e már-
9. Dedicação da Basílica São João tir (†670). Segundo a tradição, foi mor-
de Latrão ta ao fio da espada de seu pretendente,
Santo Ursino, bispo (†s. III). Pri- em Cambrai, França, por ter escolhido
meiro Bispo de Bourges, França.
a Cristo como esposo e recusado aque-
Transformou em igreja uma casa do-
le ao qual foi prometida por seus pais.
ada pelo senador Leocádio.
14. Beata Maria Teresa de Jesus, 
10. XXXII Domingo do Tempo Co- virgem (†1889). Religiosa carmelita e
mum. fundadora do Instituto das Irmãs de
São Leão Magno, Papa e Doutor Nossa Senhora do Carmo, em Monte-
da Igreja (†461). varchi, Itália.
Santo André Avelino, sacerdote
(†1608). Religioso da Congregação 15. Santo Alberto Magno, bispo e
dos Cônegos Regulares (Teatinos). Doutor da Igreja (†1280).
Fez o voto de cada dia progredir na São Desidério, bispo (†655). Cons-
virtude. Morreu em Nápoles, Itália. truiu muitas igrejas, mosteiros e edifí-
cios de utilidade pública na sua dioce-
11. São Martinho de Tours, bispo se de Cahors, França, não descuidan-
(†397). do, entretanto, de tornar as almas um
Beata Vicenta Maria, virgem verdadeiro templo de Cristo.
(†1855). Juntamente com o Beato Car-
los Steeb, fundou o Instituto das Irmãs 16. Santa Margarida da Escócia, 
da Misericórdia de Verona, Itália, para rainha (†1093).
São Roque González
socorrer os aflitos, pobres e enfermos. Santa Gertrudes, virgem (†1302).

24
–––––––––––––––   * Novembro *   ––––
17. XXXIII Domingo do Tempo Santo Agápio, mártir (†306). Após 28. Santo André Tran Van Trong, 
Comum. ser preso e submetido a suplícios na mártir (†1835). Por se recusar a pi-
Santa Isabel da Hungria, religiosa Cesareia Marítima, foi lançado no Me- sar na Cruz, foi preso e após inúme-
(†1231). diterrâneo, com pedras atadas aos pés. ras torturas, foi degolado em Kham
São Gregório Taumaturgo, bispo Duong, Vietnã.
(†c. 270). 22. Santa Cecília, virgem e mártir
(†s. inc.). 29. São Saturnino, bispo e mártir
18. Dedicação das Basílicas de São São Pedro Esqueda Ramírez,  pres- (†s. III). Enviado para a evangeliza-
Pedro e São Paulo, Apóstolos. bítero e mártir (†1927). Sacerdote ção das Gálias, fundou a diocese de
São Romão, mártir (†303). Diáco- preso e fuzilado em Teocaltitlan, du- Toulouse. Ver página 2.
no da Cesareia, que ao ver os cristãos rante a perseguição mexicana. Beata Maria Madalena da Encar-
da Antioquia, Turquia, se aproxima- nação,  virgem (†1824). Fundadora
rem dos ídolos, os exortavam a perse- 23. São Clemente I, Papa e mártir do Instituto das Irmãs da Adoração
verar na Fé Católica. Por isso foi tor- (†s. I). Perpétua do Santíssimo Sacramento.
turado e estrangulado. São Columbano, abade (†615). Morreu em Roma.
Beata Henriqueta Alfiéri, virgem
(†1951). Religiosa das Irmãs da Cari- 30. Santo André, Apóstolo.
dade de Santa Joana Antida Thouret, Beato Luís Roque Gientyngier, 
exerceu seu apostolado junto aos en- presbítero e mártir (†1941). No tempo
carcerados, em Milão, Itália. da ocupação militar na Polônia duran-
te a guerra, foi vítima de crimes come-
24. Solenidade de Nosso Senhor tidos pelos inimigos da Igreja, martiri-
Jesus Cristo, Rei do Universo. zado perto de Munique, Alemanha.
Flávio Lourenço

Santo André Dung-Lac, presbítero, e


companheiros, mártires (†1625-1886).

Luis C.R. Abreu


São Porciano, abade (†d. 532).
Sendo jovem escravo, procurou refú-
gio num mosteiro da atual Clermont-
-Ferrand, França, no qual se fez mon-
ge e chegou a ser abade.
São Columbano
25. Santa Catarina de Alexandria, 
virgem e mártir (†s. inc.).
19. Santos Roque González, Afonso São Márculo, bispo (†347). Segundo
Rodríguez e João del Castillo,  presbí- a tradição, morreu mártir no tempo do
teros e mártires (†1628). imperador Constante, na Numídia, Ar-
Santa Matilde, virgem (†c. 1298). gélia, sendo lançado de um rochedo.
Mulher de insigne doutrina e humil-
26. São Sirício, Papa (†399). San-
dade, iluminada pelo dom da con-
to Ambrósio o louva como verdadei-
templação mística, foi mestra de San-
ro mestre porque tomou sobre si a
ta Gertrudes no Mosteiro de Helfta,
responsabilidade de todos os Bispos,
Alemanha.
os instruiu com os ensinamentos dos
20. São Bernardo, bispo (†1022). Santos Padres e os confirmou com
Em sua diocese de Hildesheim, Sa- sua autoridade apostólica.
xônia, defendeu os fiéis das incur-
27. Beato Bernardino de Fossa,  pres-
sões inimigas, restaurou a disciplina
bítero (†1503). Religioso franciscano,
do clero e fomentou a vida monástica.
propagou a Fé Católica em muitas regi-
Ver página 26.
ões da Itália. Foi Superior Provincial nos
Santo André Avelino
21. Apresentação de Nossa Senhora. Abruzos, na Dalmácia e Bósnia.

25
Hagiografia
Divulgação (CC3.0)

Invencibilidade de quem
se abre para a graça
São Bernardo, Bispo de Hildesheim, era
descendente de bárbaros, mas modelou-
se de tal modo pelo espírito da Santa
Igreja que realizou maravilhas espirituais
e materiais em sua diocese. Para uma
alma aberta à ação da graça absolutamente
nada é impossível! E nada é tão forte como
o enlevo, a veneração e a ternura, forças
espirituais incomparavelmente mais fortes
do que todas as potências materiais.

V
amos considerar alguns dados o aperfeiçoamento da pintura,
biográficos sobre São Bernar- do mosaico, da serralharia, da Manuela Gößnitzer (CC3.0)
do, bispo, tirados da obra Vi- ourivesaria, recolhendo cuidado-
da dos Santos, do Padre Rohr­bacher1. samente os trabalhos curiosos que os
estrangeiros enviavam ao rei. E man-
Realizador de dando jovens de bom comportamento
inúmeros benefícios serem educados para exercitá-los nes-
sas artes.
São Bernardo foi Bispo de Hil- Embora muito dedicado às fun-
desheim, no Sacro Império, no sécu- ções eclesiásticas, não se cansava de
lo X. Sendo muito dotado em relação prestar serviços ao rei e ao Estado. E
às artes, cultivou-as com cuidado en- tão bem se saía, que chegava a desper-
quanto bispo. tar a inveja de outros fidalgos.
Reuniu uma grande biblioteca, Havia muito tempo que Saxe per-
composta tanto de obras eclesiásti- manecia bastante exposto às incur-
cas quanto filosóficas. Incrementava sões de piratas e de bárbaros. O san-

São Bernardo - Museu de


26 História da Arte, Viena, Áustria
to bispo muitas vezes os repelira, ora se era um século ainda pouco distan- ção comum, mas prepara alta cultu-
com suas tropas, ora com auxílio de te do fim das invasões e, portanto, ti- ra. São livros de Teologia e Filosofia
outras. Mas os assaltantes eram se- nha muito de barbárie. Eram os des- com os quais ele organiza uma gran-
nhores das duas margens do Elba, e cendentes desses bárbaros que go- de biblioteca.
da navegação do mesmo rio. De ma- vernavam a Europa. Vemos toda a De outro lado, ele era um artista
neira que se espalhavam por todo o influência da Igreja na alma de um e incrementava, com o bafejo e se-
território do Saxe e quase chegavam a semibárbaro, de alguém que se abre gundo o espírito da Igreja para a for-
Hildesheim. Para detê-los São Bernar- para ela e imediatamente começa a mação das almas, o aperfeiçoamen-
do mandou construir duas fortalezas fazer tudo quanto há de maior e de to da pintura, dos mosaicos, das ser-
em dois pontos de sua diocese, guar- melhor, realizando toda espécie de ralharias, da ourivesaria. Esses ser-
necendo-as. Não obstante a despesa benefícios, e se põe a civilizar. ralheiros não só tornavam seguras as
acarretada por essa obra, enriqueceu Tudo quanto ele faz é grandioso casas, protegendo a ordem, mas su-
sua diocese com a aquisição de várias do ponto de vista temporal, que visa as obras constituíam adornos para as
terras, cultivou-as e guarneceu-as com servir ao espiritual, destinado a colo- portas e davam decoro à vida.
belos edifícios. car o temporal em ordem ao espiri- As joias, os mosaicos, esse des-
Quanto à catedral, decorou-lhe as tual. Nisso São Bernardo age como cendente de bárbaros amava e pro-
paredes de painéis com maravilhosas um grande príncipe, um grande se- duzia tudo isso. Quão menos bár-
pinturas. Mandou fazer para as pro- nhor, ele que era um grande dignatá- baro era ele do que esses eclesiásti-
cissões nos grandes dias santos um li- rio eclesiástico. cos miserabilistas de nossos dias, que
vro com os Evangelhos trabalhado Em primeiro lugar, notamos o querem esvaziar de todas as obras de
com ouro e pedras preciosas, incensó- amor dele à cultura. Mandou trans- arte os santuários e reduzir a igreja a
rios dos mais altos preços, grande nú- crever livros numa época ainda mui- um local de onde as artes fugiram es-
mero de cálices, sendo um de cristal, to longe de Gutenberg e da tipogra- pavoridas!
um de ouro puro, com peso de vinte fia, de maneira que era preciso co-
libras, uma coroa de ouro e prata de piar manualmente cada livro, tra- Talento e sabedoria imbuídos
prodigioso tamanho, suspensa no cen- balho executado por aqueles famo- do espírito da Igreja
tro da igreja, sem contar uma infinida- sos copistas que transcreviam obras
de de outros objetos do mesmo gênero. enormes. Assim, reuniu ele uma Depois a ficha continua, dizendo
Rodeou de muralhas e torres o claus- grande biblioteca, composta tanto que São Bernardo recolheu cuidado-
tro da catedral, de maneira que servis- de obras eclesiásticas como filosó- samente os trabalhos curiosos que os
sem ao mesmo tempo de adorno e de- ficas. Portanto, é um Santo que não estrangeiros enviavam ao rei. É uma
fesa. Nada havia no Saxe que lhe pu- vai promover apenas uma alfabetiza- praxe natural de todos os tempos os
desse ser comparado.

Um homem “pedra filosofal”

Chr95 (CC3.0)
A Santa Igreja é como a pedra fi-
losofal de que falavam os medievais.
Segundo uma lenda da Idade Média,
havia uma pedra que tinha o condão
de transformar em ouro tudo aquilo
em que ela tocava. Então, os alqui-
mistas procuravam encontrar o se-
gredo do fabrico da pedra filosofal,
pois assim ficariam prodigiosamen-
te ricos.
Pois bem, a Igreja Católica é a ver-
dadeira pedra filosofal. Tudo aquilo
em que ela toca e que se abre à sua
influência se transforma em ouro, fi-
ca esplêndido.
Quem seria São Bernardo? Este
Rio Elba
homem viveu no século X. Ora, es-

27
Hagiografia

Divulgação (CC3.0)
Friedrichsen (CC3.0)

Capa e detalhe interior do Evangeliário de São Bernardo


Museu da Catedral de Hildesheim, Alemanha

eram, ao mesmo tempo, xo que simboliza a virtude e toda es-


o adorno da paisagem. pécie de valores morais e, portanto,
Também nisso nota-se o conduz as almas a Deus.
descortino, o talento des-
se homem; mas uma for- Devemos ter em relação
chefes de Estado trocarem presentes ma de talento própria à sabedoria, à Igreja amor, veneração
ao visitarem outros países. Esses pre- e uma forma de sabedoria própria a
sentes ficavam acumulados nos pa- quem tem o espírito católico. e ternura sem medida
lácios reais e muitos não tinham uso. Quanto à catedral, esse Santo, ca- Nada havia no Saxe que lhe pudes-
São Bernardo mandou recolhê-los nonizado pela Igreja, inaugurou um se ser comparado.
e organizá-los. Assim, talvez um dos verdadeiro luxo eclesiástico. Com Há na Sagrada Escritura uma fra-
mais antigos museus do mundo tenha certeza, havia muita gente pobre na se que diz: “Em toda a Terra não foi
sido esse homem quem mandou fazer. diocese dele. Entretanto, para incu- encontrado alguém semelhante a ele”
Tudo sob o espírito, o bafejo da Igreja. tir respeito ao Santo Evangelho nas (cf. Eclo 44, 20). Isto se pode afirmar
Ademais, mandou educar jovens de procissões solenes dos grandes dias, de cada Santo, porque em toda a Ter-
bom comportamento para exercitá-los mandou elaborar um livro dos Evan- ra não foi encontrado um que fosse se-
nessas artes. Ele organizou, portanto, gelhos trabalhado com ouro e pedras melhante a ele. E aqui nós temos um
uma escola de artistas. Obra magnífica preciosas. E, mais ainda, para dar Santo assim. Em toda a região que ele
a partir da qual saíram iniciativas como glória a Deus, incensórios dos mais conheceu, São Bernardo era a flor, o
essas, multiplicadas por homens desse altos preços, grande número de cá- adorno, a torre, a glória, a sabedoria, a
espírito, mais ou menos pela Europa lices preciosos para a celebração da orientação, a doutrina. Por quê?
inteira, dando origem às inumeráveis Missa. Além disso, continua a ficha: Unicamente por isto: porque nele,
obras de arte cheias de espírito católico ...uma coroa de ouro e prata de pro- criatura miserável, pecadora, conce-
que a Idade Média conheceu. digioso tamanho, suspensa no centro bida no pecado original e, como tal,
O Rio Elba era uma avenida para a da igreja... sujeita a toda espécie de degradações
penetração dos bárbaros que com fre- Com certeza para afirmar a realeza morais, potencialmente um infame
quência chegavam até a sua diocese. de Nosso Senhor e de Nossa Senhora. pelo simples fato de ter nascido – pois
Então ele, que dispunha de tropas – ...sem contar uma infinidade de esta é a condição dos homens conce-
porque os bispos naquele tempo eram objetos do mesmo gênero. bidos no pecado original e que se fe-
por vezes senhores feudais e podiam Ele foi um verdadeiro organiza- cham à graça divina –, nele, entretan-
dispor de tropas –, mandou organizar dor do luxo eclesiástico e civil. Pa- to, pousou esse dom sobrenatural,
torres e fortificações tão bonitas que droeiro do luxo santo, nobre, do lu- admirável, único, do qual nasce todo

28
bem, e que confere aos homens toda to, Homem-Deus, a mais bela cria- mos ter à Santa Igreja Católica consis-
espécie de fortaleza: a graça de Deus. tura de todo o universo, a Igreja Ca- te em ter em relação a ela uma ternu-
A essa graça ele se abriu e, a partir do tólica Apostólica Romana é admi- ra e uma veneração sem medida.
momento em que ele se abriu para rável nos seus Santos. É neles que
ela, dele nasceu todo gênero de ma- compreendemos a Igreja. Olhan- Fidelidade à Igreja
ravilhas. do para aqueles que são conformes a Que este Santo tão glorioso, Ber-
Ora, a sede, o veículo, a Esposa Igreja entendemos como ela é. nardo, reze por nós e nos obtenha
verdadeira e única do Autor dessa Então com-

Thangmar (CC3.0)
graça, Nosso Senhor Jesus Cristo, é a preendemos que
Santa Igreja Católica Apostólica Ro- devemos aplicar
mana da qual não pretendemos ser ao amor, à vene-
senão uma célula, um pequeno mem- ração e à ternura
bro vivo, uma emanação, uma cente- que temos para
lha, um elemento integrante; e cada com a Santa Igre-
um de nós coloca toda a sua ufania ja aquelas pala-
apenas neste ponto: ser um homem vras de São Fran-
católico na força do termo e mais na- cisco de Sales: “A
da. Podem dizer o que quiserem, ca- medida de amar
luniar como entenderem, até matar, a Deus consiste
se desse homem se pode afirmar que em amá-Lo sem
ele foi um varão católico, nele o espí- medida.” A medi-
rito da Igreja viveu, dele se disse tudo da de amar a San-
quanto de bom, de grande e de admi- ta Igreja Católi-

Tilman2007 (CC3.0)
rável se pode afirmar de um homem. ca Apostólica Ro-
É assim que nós devemos enten- mana, nossa mãe,
der e amar a Santa Igreja Católi- consiste em amá-
ca Apostólica Romana. Diz-se que -la sem medida.
Deus é admirável em seus Santos. A A medida da ve-
Igreja, que é o espelho de Deus e a neração e da ter-
Esposa de Nosso Senhor Jesus Cris- nura que deve-
Lenkerbruch (CC3.0)

Aspectos da Catedral de Santa


Maria, Hildesheim, Alemanha

29
Hagiografia
pelo menos a raiz dessa forma de A Santa Igreja Católica: Jerusa- remos maravilhas. E não haverá na-
amor para com a Igreja que é a coi- lém celeste, cidade perfeita, com da que consiga impedir que nós ven-
sa mais forte que há no universo. Fa- muralhas de brilhantes e pérolas, çamos a Revolução. Porque nós ve-
la-se hoje em dia em forças mate- vias cobertas de safiras e esmeraldas, mos, pelo exemplo dele e de tantos
riais enormes, organizadas, encade- torres revestidas de rubis, e as ruas outros Santos, que para uma alma
adas e desencadeadas pelo homem. calçadas de ouro e prata. A Igreja, aberta à ação da graça absolutamen-
Nada disso é forte como o enlevo, a minha mãe, onde está ela? te nada é impossível.
veneração e a ternura, forças espiri- Essa pergunta causa uma dor que O Hino das Congregações Maria-
tuais incomparavelmente mais for- constringe o coração e o coroa de es- nas cantava: “De mil soldados não te-
tes do que todas as potências mate- pinhos em toda a sua superfície. En- me a espada quem pugna à sombra
riais. Que Nossa Senhora implan- tretanto, além de despertar esta dor, da Imaculada.” A espada poderá pa-
te em nossas almas essa disposição, suscita uma alegria: Nosso Senhor recer uma arma bem anacrônica. Pois
essa veneração e ternura pela Santa disse que o Reino de Deus está den- bem, de mil bombas atômicas, ain-
Igreja Católica Apostólica Romana. tro de nós (cf. Lc 17, 21). O Reino da que todo o universo se desagre-
Santa Igreja Católica… como não de Deus é a Igreja Católica, nós so- gasse em explosões atômicas, a alma
soltar um “ai” depois de dizer isto? mos os filhos da Igreja, fiéis a ela. Is- que se abre à influência de Nossa Se-
Como não olhar para as ruínas que so se manifesta na nossa fidelidade nhora na Igreja não temeria, porque,
fumegam, para os corpos que en- à Doutrina que ela ensina e que não se fosse esse o desígnio da Santíssima
chem as ruas, para o sangue que se foi inventada por nós, aos Sacramen- Virgem, depois dessas explosões se-
verte de todos os lados, para os cor- tos por ela administrados, à Tradi- guiria o Reino de Maria num univer-
vos que se abatem sobre os cadáve- ção gloriosa de dois mil anos que nos so renovado. Porque o que Nossa Se-
res, para os tremores de terra que vem em documentos inconcussos e nhora quer, isso se faz irrecorrível e
abalam aquilo que os incêndios ain- nos explicam como é verdadeiramen- invencivelmente. É o desígnio d’Ela
da não consumiram? Como não ter te a Igreja, e aos quais nos conforma- que manda em tudo. E nós devemos
um gemido pensando nisso? mos. Nossas ideias não são um capri- ter mil vezes mais medo de despertar
cho, nossa orientação uma expressão de tristeza na face au-
não é um ato de prefe- gusta de Maria, do que da cólera de
Arquivo Revista

rência arbitrária e pes- todos os ímpios e na explosão de to-


soal, somos os escravos das as bombas atômicas.
da Igreja Católica, que Para isso, temos que abrir as nossas
a seguimos no que ela almas para a graça de Deus. Peçamos,
quer, no que ela ensi- então, à Santíssima Virgem que Ela
na e sempre ensinou e condescenda em ser cada vez mais a
que aí está, apesar de nossa aliada, pois assim faremos tudo.
toda a fuligem das épo- Que Maria Santíssima nos dê
cas, para nos dar a en- aquela abertura de alma que sem
tender como devemos Ela não teríamos. Aquela generosi-
ser. Nós conseguimos dade da qual Ela é a fonte, para que
ser como somos por possamos dizer-Lhe, ligeiramente
sermos filhos dela, por- adaptado, aquilo que foi dito por Ela
que sua graça tocou em ao Anjo quando este Lhe anunciou a
nós. missão: “Eis aqui os escravos de Ma-
ria, faça-se em nós segundo a vonta-
Se nos abrirmos de d’Ela.” v
à ação da graça,
(Extraído de conferência de
venceremos a 25/10/1967)
Revolução
Se nos abrirmos a 1) Cf. ROHRBACHER, René François.
essa graça, como São Vidas dos Santos. São Paulo: Editora das
Dr. Plinio durante um discurso em 1967
Bernardo se abriu, fa- Américas, 1959. Vol. XIX. p. 33-37.

30
Luzes da Civilização Cristã
Flávio Lourenço

São Luís IX aos pés da Santíssima


Virgem - Catedral de Senlis, França

Igreja perfeita e alegria


do mundo inteiro
Feita de cristal, a Sainte-Chapelle é o auge da beleza, da proporção,
da união, da unção régia e da gravidade divina. A Catedral de
Notre-Dame, entretanto, é o monumento que melhor exprime
o espírito francês no seu equilíbrio perfeito. Outrora quiseram
demoli-la: eis o sintoma da decadência extrema da sociedade.

A Sainte-Chapelle, capela mandada construir por


São Luís IX para abrigar um dos espinhos da
coroa de Nosso Senhor Jesus Cristo, está encas-
toada no Palais de Justice do tempo de São Luís – o qual
foi destruído quase completamente – e exprime, a meu
zando seu espírito em Deus e procurando falar com Ele
com a confiança filial, a veneração sem nome, a adora-
ção excelsa.
É uma capela feita de cristal! Ela tem umas colunas
esguias que se levantam até ao teto, separando um vitral
ver, o apogeu do sorriso francês. de outro. Mas entre vitral e vitral só há essas colunas
muito delgadas, muito finas.
Capela feita de cristal Essa obra-prima se manifesta quando os vitrais estão
É uma capela a respeito da qual posso dizer que não bem iluminados em dias de sol. Ali não se espelha só a
conheço coisa mais piedosa do que ela. É admirável. Ex- alma que está rezando, mas há algo que nos fala de Deus
prime a alma de quem reza como se deve rezar, focali- enquanto atendendo a nossa oração. De maneira que te-

31
Luzes da Civilização Cristã
Sebastião C.
Pedro Morais

mos a impressão de estarmos falando e que nossa voz


encontra naqueles cristais uma certa receptividade, co-
mo se a voz batesse numa concha de bronze ou de cristal
e de lá voasse, saindo depurada e mais bela, para cima.
Tem-se a impressão de que do alto vem a resposta, ao
mesmo tempo divina, infinita, grandiosa, mas maternal-
mente tocada não sei de que modo, meio miúda para es-
tar na pequena proporção do homem, que não tem me-
do que Deus tonitrue com ele. Pode-se dizer que o fiel re-
za sorrindo e que Deus sorri quando fala com ele. É um
encontro de dois sorrisos, flores de seriedade, de medita-
ção, de Fé, de graça que se encontram e se fundem num
certo ponto do ar. Esse é o verdadeiro encontro da alma
com Deus quando reza olhando para aqueles cristais.
Gabriel K.

Isso é o auge da beleza, da proporção, da união, mas


não basta o sorriso, por mais que ele seja excelente, pie-
doso. Não é uma atitude que abranja o conjunto de nos-
sas relações com Deus, nem das expressões do universo
criado por Ele.

Unção régia, gravidade divina,


seriedade majestosa
Deus criou coisas lindas que produzem muitas vezes
sorriso. Quem vê um beija-flor passando de flor em flor

32
e sugando o mel não pode deixar de sorrir. Mas se ele
pensa que está quite com Deus a propósito do beija-flor
porque sorriu enternecido, não compreendeu. O sorriso
é uma das fases do pensamento humano, mas de fato es-
te voa mais alto, é mais sério, mais profundo. O sorriso é
um dos aspectos panorâmicos do nosso itinerário para o

Daniel A.
Absoluto, mas não é a razão do nosso olhar para a coisa.
Por esse motivo, a própria Sainte-Chapelle tem uma
unção régia, uma gravidade divina, uma seriedade ma-
jestosa e composta, dentro da qual o sorriso é um aspec-
to. Por mais que se glorifique esse aspecto, ele não deixa
de ser colateral que não pode ser transformado no prin-
cipal. Pelo contrário, é uma espécie de momento em que
Deus faz o homem descansar um pouco. Não é descansar

Leandro W.
d’Ele, mas é mostrar n’Ele e nas suas criaturas aspectos
feitos para aliviar o homem neste vale de lágrimas.
Por exemplo, os esquilos. A conduta deles, como pa-
recem compreender as brincadeiras que fazemos e qua-
se brincar conosco! Vê-se que esse animalzinho foi fei-
to por Deus para que uma alma se deleitasse, sorrisse,
mas depois subisse ainda mais alto e pensasse: “Como
Deus é grande. Entretanto, na grandeza d’Ele cabe tan-
ta bondade que, ao dar aos homens todas essas magni-
ficências, ainda deixou uma ‘caixa de bombons’ para os
homens se deliciarem. Essa ‘caixa de bombons’ é o con-

Gabriel K.

33
Luzes da Civilização Cristã
que ela é uma das melhores expressões de Vós mesma
nesta terra de pecado.”
Gabriel K.

Termômetro da extrema
decadência da sociedade

J.P. Castro
Nas vésperas da Revolução, a França chegara a tal de-
cadência que o Conselho de Estado, sob a presidência do
Rei, tinha assinado uma resolução para demolir a Cate-
dral de Notre-Dame como igreja antiquada, não corres-
pondendo mais aos anseios estéticos dos tempos novos,
para ser construído em seu lugar um templo grego inspi-
rado nos templos da antiguidade pagã.
Por aí vemos, num lance só, a que extremos chegara a
decadência daquela sociedade. Os homens eram tão re-
junto de coisas encantadoras da Criação, das quais o ho- volucionários que os nobres, cujas cabeças a Revolução
mem pode usar de vez em quando.” cortou, queriam derrubar a Catedral de Notre-Dame,
essa igreja medieval que todos os povos da Terra que-
Uma das melhores expressões rem contemplar quando vão a Paris, símbolo perfeito da
de Nossa Senhora Contra-Revolução, para substituir por um templo que
representava perfeitamente a Revolução daquele tempo.
Há um monumento que exprima o espírito francês no Seria a implantação dos restos do paganismo – derruba-
seu equilíbrio, na sua plenitude, onde o sorriso está pre- do, escangalhado, rejeitado, pisado aos pés pelos séculos
sente como elemento colateral, mas não é a nota domi- – que deveria ser restaurado em Paris. Compreende-se a
nante? desordem, o caos e a decadência da França que isso re-
Esse monumento – a meu ver, perfeito – é a Catedral presentava. v
de Notre-Dame de Paris, a propósito da qual me lembro
das palavras da Escritura sobre Jerusalém, chamando- (Extraído de conferência de 31/10/1994)
-a de cidade perfeita, a alegria do mundo inteiro (cf. Lm
2, 15). Parece-me que Notre-Dame é a igreja perfeita e a
Samuel Holanda

alegria do mundo inteiro.


Ela sorri? É evidente. Ela é séria? É evidente. Ela é
heroica? É evidente. Ela é materna? É evidente. Ela é
mimosa? É evidente. Ela é imponente? É evidente. Não
há o que ela não tenha de um modo discretamente evi-
dente.
Há certos monumentos que a mim me desagradam por-
que têm um ar de quem diz: “Olhe, aqui estou eu!” Tem-se
a vontade de responder: “E eu com isso?” A Catedral de
Notre-Dame não é assim, ela está presente em Paris como
uma mãe visitando o seu filho. Enquanto está ali, é a rai-
nha da casa, para ela se voltam as atenções, é o centro de
todos os carinhos, de todas as venerações, de todos os res-
peitos, mas não tira o lugar a ninguém, não empurra nin-
guém com os cotovelos, não olha ninguém de cima para
baixo; ela apenas diz: “Eu sou a mãe.” Essa nota materna
que deve ter feito pulsar o coração de tantos Cruzados de-
fine bem a igreja de Notre-Dame.
Eu venero e quero tanto essa igreja que na orla dos
castigos previstos em Fátima, se Nossa Senhora me per-
mitir, pedirei a Ela: “Minha Mãe, castigai quem e como
quiserdes. Não castigueis a Igreja de Notre-Dame, por-

34
J.P. Castro

35
Ped
oM r
ora
is
J.P. Castro
A Virgem e o Menino - Museu de
São Marcos, Florença, Itália

Rodrigo Q.
Sacrário de Nosso Senhor
N ossa Senhora é o sacrário onde está Nosso Senhor Jesus Cristo e o santuário de dentro do qual to-
das as graças se difundem para o gênero humano. Devemos rezar a Jesus enquanto vivendo em
Maria porque Ele quer ser invocado dentro do seu templo, que é a Santíssima Virgem. Peçamos
que Ele viva em nós como vive n’Ela.
Jesus Cristo viver em nós significa termos o espírito da santidade d’Ele, que é o espírito da Santa Igreja Ca-
tólica Apostólica Romana. Portanto, o espírito contrarrevolucionário, expressão mais característica do espírito
da Santa Igreja. Eis o que devemos pedir a Jesus, por meio de Nossa Senhora, enquanto vivendo n’Ela.

(Extraído de conferência de 23/5/1966)

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