Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
As matérias extraídas
de exposições verbais de Dr. Plinio
Na capa, Cristo Rei, — designadas por “conferências” —
Igreja Nossa Senhora são adaptadas para a linguagem
Jesus Cristo, Rei da Glória, Juiz de Fora. escrita, sem revisão do autor
Preços da Hagiografia
assinatura anual 26 Invencibilidade de quem
Comum. . . . . . . . . . . . . . . R$ 200,00 se abre para a graça
Colaborador. . . . . . . . . . . R$ 300,00
Propulsor. . . . . . . . . . . . . . R$ 500,00 Luzes da Civilização Cristã
Grande Propulsor. . . . . . . R$ 700,00 31 Igreja perfeita e alegria do
Exemplar avulso. . . . . . . . R$ 18,00
mundo inteiro
Serviço de Atendimento
ao Assinante Última página
editoraretornarei@gmail.com 36 Sacrário de Nosso Senhor
3
i t o r i a l
Ed
Guerreiro justíssimo, defensor
de uma causa santíssima
N osso Senhor Jesus Cristo é Rei, tanto em virtude do poder espiritual quanto do temporal. A
coroa que Ele usa simboliza a plenitude de seu poder. Não o domínio necessariamente limi-
tado de um monarca terreno, mas o poder ilimitado de Deus.
Isto significa que a mais alta figura da organização humana não é um rei ou qualquer outro chefe
de Estado, nem um papa, mas é Cristo Rei.
A doutrina da realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo é própria a despertar uma profunda adoração
a Ele, inclusive no referente ao poder temporal, considerado como mero instrumento do Homem-
-Deus, Senhor de todas as coisas e dominando tudo: Rex regum et Dominus dominantium.
Esta concepção de que o cetro global do poder encontra-se nas mãos divinas de Nosso Senhor Je-
sus Cristo eleva tanto a ideia sobre a sociedade temporal, que daí decorre a noção de sacralidade.
Por outro lado, Nosso Senhor, enquanto presente na Sagrada Eucaristia, tem um título de pecu-
liar presença entre os homens e, portanto, também na História, na qual Ele é especialmente atuante
a partir do Santíssimo Sacramento. Porque Jesus na Eucaristia é, por assim dizer, Nosso Senhor que
desce do Céu à Terra e, como Homem-Deus, continua ao lado dos homens a luta que Ele começou
por ocasião da Encarnação do Verbo.
Assim, seria preciso acrescentar a Nosso Senhor, ao lado de Sacerdote, Pontífice e Rei, o título de
Guerreiro no exercício da realeza. Atributo que não se confunde com a realeza, mas lhe é inerente.
Cristo Gladífero e Cristo Eucarístico estão, pois, na mesma linha, intervindo dentro da História, mas
morando entre os homens.
Enquanto Eucarístico, Ele é o Bom Pastor; enquanto Gladífero, seria mais o Deus do Apocalipse, que
nos apresenta Nosso Senhor Jesus Cristo como um cavaleiro que avança terrível, montado num cavalo
branco com uma espada na boca, para batalhar1. Portanto, o símbolo do cavaleiro mais do que armado.
Nós, como cavaleiros católicos, devemos querer imitar o Divino Mestre, que tem bondades inima-
gináveis, mas também severidades terríveis. Este é o verdadeiro cavaleiro: bondoso, misericordioso,
paciente, mas que em certo momento recebe um sinal de Deus, por onde acaba a hora da misericór-
dia e começa a da justiça. Com este olhar devemos considerar aqueles que nos atacam e nos perse-
guem, perseguindo a Santa Igreja Católica Apostólica Romana.
Se a Sagrada Escritura apresenta Jesus Cristo assim, é porque Ele tem também este aspecto, en-
quanto paradigma do cavaleiro. Nessas condições, Ele deve ser admirado e amado por nós como um
guerreiro justíssimo, defensor de uma causa santíssima que é a Causa d’Ele, pois Ele é a própria Ino-
cência e Justiça, que investe indignado contra aqueles que recusam a sua misericórdia e insistem em
destruir a obra d’Ele. Visto deste ângulo, o Apocalipse é a narração das intervenções divinas na His-
tória, ou seja, Cristo Rei intervindo na História e vencendo.
Como corolário disso, temos a realeza de Maria Santíssima. Porque todo o poder d’Ele sobre os
homens passa antes por Nossa Senhora. Ela é, por assim dizer, a Rainha-Mãe regente da Terra.2
1) Cf. Ap 1, 16; 6, 2.
2) Cf. Conferências de 2/9/1982, 10/9/1989 e 30/4/1993.
Declaração: Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontífice Urbano VIII, de 13 de março de 1625 e
de 5 de junho de 1631, declaramos não querer antecipar o juízo da Santa Igreja no emprego de palavras ou
na apreciação dos fatos edificantes publicados nesta revista. Em nossa intenção, os títulos elogiosos não têm
outro sentido senão o ordinário, e em tudo nos submetemos, com filial amor, às decisões da Santa Igreja.
4
Piedade pliniana
Arquivo Revista
Nossa Senhora Rainha
Igreja de Santo Alberto, o
Grande, Pensilvânia, EUA
5
Dona Lucilia
Fé, objetividade
e resignação
Dona Lucilia possuía uma grande seriedade de alma que se refletia
até mesmo no trato com as crianças. Ao contar-lhes histórias, colocava
sempre uma nota de seriedade, explicando o sentido moral e religioso
daquela narração. Ainda quando a história não fosse religiosa, ela
fazia uma crítica com muita paz, serenidade e objetividade, indicando
como deveria ser aquele conto dentro de um contexto religioso.
6
Carinho com um mana. Não lembro que tenha aconte- na Lucilia? Antes de tudo, era uma
cido eu encontrar o túmulo sem nin- grande seriedade de alma que se refle-
fundo de seriedade guém presente junto a ele. Nos dias tia até mesmo no trato com as crianças.
Nota-se também esse ambiente de em que há muito tempo livre – sába- Ela era muitíssimo carinhosa com mi-
paz e tranquilidade nas pessoas que vi- dos, domingos, feriados nacionais – nha irmã e comigo. Mas o carinho de-
sitam a sepultura dela. Habitualmen- enche-se de pessoas ao seu redor. la tinha sempre um fundo de seriedade.
te, vou ao cemitério uma vez por se- Chama-me a atenção ver muitas Mamãe contava, por exemplo, his-
mana, mas em horas variadas. Às ve- pessoas rezarem, mas outras quietas, tórias como a do Gato de Botas. Em-
zes vou mais do que uma vez por se- num estado de alma como quem está bora ela só tivesse dois filhos, na fa-
sorvendo aquela tranquilidade, abe- mília éramos muitas crianças, pois
berando-se dela no intuito de que al- havia muitos parentes, e formáva-
gum tanto dessa serenidade seja colo- mos uma roda enorme em torno de-
cado em sua alma. Assim, noto uma la, e todas as crianças sorviam as nar-
analogia ou uma identidade entre rações com muito gosto.
os efeitos que as pessoas sentem ho- Entretanto, apesar de fazer des-
je, junto à sepultura dela, e os experi- crições inteiramente adaptadas pa-
mentados outrora por quem frequen- ra crianças, ela colocava sempre uma
tava nossa casa quando ela estava vi- nota de seriedade, quer dizer, expli-
va. Essa identidade me comove. cava no mais fundo o sentido moral
Qual era o fundo dessa tranquilida- e religioso daquela narração. Ainda
de, dessa serenidade, dessa paz de Do- quando a história não fosse religiosa,
7
Dona Lucilia
Conforme conta o médico que a as-
Flávio Lourenço
Gabriel K.
Aparição do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida
Maria Alacoque - Igreja de Santa Eulália, França
ela fazia uma crítica com muita paz, gostos enormes, a respeito
serenidade e objetividade, indicando dos quais não é o momen-
como deveria ser aquele conto dentro to de tratar, mas ela sofreu
de um contexto religioso. Aliás, a ob- muito, inclusive do ponto
jetividade era uma das características de vista da saúde, pois foi
do espírito dela. Ela queria ver todas sempre bastante doente.
as coisas como eram, sem se iludir so-
bre os lados bons, nem sobre os ruins. Resignação haurida
De outro lado, precisamente por na devoção ao
causa dessa serenidade e objetivida-
de, ela demonstrava uma grande re- Sagrado Coração
signação. Dona Lucilia era muito de- de Jesus
vota do Sagrado Coração de Jesus e
de Nossa Senhora, e nessas devoções Tudo isso ela recebia
hauria uma conformidade com todos com tal serenidade que Santíssimo Cristo da
os aborrecimentos que a vida traz. esta se verificou até no Expiração
Sevilha, Espanha
Com efeito, a vida trouxe-lhe des- momento de sua morte.
8
tão pouco amado por eles.” Mas Nos- ocasião da visita de alguém da família, dos saíamos, ela ficava em casa, ia para
so Senhor Jesus Cristo fez essa la- ou por uma criada que viesse pedir ins- a sala de visitas onde se encontra uma
mentação com resignação divina da truções a respeito da direção da casa. imagem do Sagrado Coração de Jesus,
qual nos deu exemplo até na hora de O resto do tempo ela passava em ora- e retomava a oração. Depois ia cuidar
morrer na Cruz, quando Ele disse: ção, recitando serenamente um eter- dos seus deveres de dona de casa, dos
“Meu pai, em vossas mãos entrego o no rosarinho, uma ladainha ao Sagrado quais, aliás, ela cuidava muito diligen-
meu espírito” (Lc 23, 46). E expirou! Coração de Jesus, alguma outra prece temente. À noite, terminado o jantar,
Essa resignação haurida na de- assim. Chegada a hora do almoço, ela mamãe conversava com o meu pai, co-
voção ao Sagrado Coração de Jesus se levantava e tomava a refeição com migo e com quem houvesse em casa. A
traz consigo uma doçura extraordi- meu pai, comigo e mais alguma pessoa certa altura nos retirávamos e ela vol-
nária. Ainda mais quando é acom- da família que aparecesse. Quando to- tava a rezar ao Sagrado Coração de Je-
panhada pela devoção a Nossa Se-
nhora, que seguiu todos os passos da
Flávio Lourenço
vida, Paixão e Morte de Nosso Se-
nhor Jesus Cristo, o nascer da Igre-
ja, e que era Ela mesma a Rainha da
paz, da serenidade, da tranquilidade,
mesmo nas situações mais dolorosas.
Por exemplo, quando os Apósto-
los abandonaram o Divino Mestre, em
certo momento eles começaram a vol-
tar. São João Evangelista foi o primei-
ro. Depois que Nosso Senhor Jesus
Cristo foi sepultado, Ela dirigiu-Se para
o Cenáculo e os Apóstolos foram, aos
poucos, reunindo-se junto a Ela. Nós
podemos imaginar toda a bondade e a
doçura d’Ela recebendo-os, perdoan-
do-os, estimulando-os, e sendo a Rai-
nha da paz, mas também da resignação.
O homem moderno não é resigna-
do. Quando quer algo, deseja aquilo
ferozmente; um emprego, um passeio,
um automóvel, enfim, seja o que for,
ele quer de tal maneira que, se não ob-
tiver aquilo, fica dilacerado na sua al-
ma. A alma católica não é assim. Ela
deseja, mas se não puder receber, se
Deus dispôs que as coisas sejam de ou-
tra maneira, aceita na paz e continua
a viver tranquilamente. Eu creio que
com essas disposições nós podemos
obter verdadeiramente a paz de alma.
9
Dona Lucilia
mesa com doces e outras gulo-
Luis C.R. Abreu
Arquivo Revista
minha irmã e eu passamos por todos fiança em mim,
os perigos espirituais pelos quais se mas muita! Entre-
passa na vida moderna. No que me tanto, ao mesmo
diz respeito, eu notava que ela rezava tempo tinha uma
muito, pois tinha grande medo de que vigilância da qual
eu me perdesse, porque no meu tem- um sintoma inte-
po era muito mais difícil um homem ressante é este:
perseverar na Fé do que uma mulher. Houve uma oca-
Essas orações por minha perse- sião em que tive de
verança ela as fazia, por exemplo, no fazer uma viagem
fim da Missa. Há um altar na Igreja do à Europa. No dia
Coração de Jesus, onde existe um gru- de meu retorno,
po de esculturas representando Nos- já tendo calculado
so Senhor Jesus Cristo discutindo com a hora em que eu
os doutores no Templo, com Nossa Se- deveria chegar, ela
nhora e São José que chegam para en- ficou esperando
contrá-Lo. Ela rezava muito lá; não sentada no hall de
me dizia, mas eu percebia que orava entrada, em frente
para eu ter bons argumentos, boa for- à porta do aparta-
mação para resistir aos argumentos mento, toda arran-
errados que quisessem me dar, e ela jada, tendo deixa-
Hall de entrada do apartamento de Dr. Plinio
pedia ao Menino Jesus um pouquinho do preparada uma
10
Dr. Plinio comenta...
Alvesgaspar (CC3.0)
O ideal de
Pedro K.
Cavalaria,
plenitude do espírito católico - II
O que diferencia o cavaleiro das outras vocações existentes
na Igreja? Missionários dos bons tempos se expunham
à morte pelo contágio de doenças ou se arriscavam a
serem comidos pelos selvagens. São pessoas admiráveis,
dentre as quais muitas morreram mártires e foram
canonizadas. Entretanto, o cavaleiro representa a Deus
a um título especial ao lutar por Ele e pela Santa Igreja,
caminhando com entusiasmo de encontro à morte.
11
Dr. Plinio comenta...
Flávio Lourenço
Samuel Holanda
Abadia de São Maurício, Ebermunster, França
no de Deus, deve ser morto, exerce Há certos trovões que se pro- com gosto sua harmonia cheia de es-
uma prerrogativa divina. pagam por várias séries de explo- tampidos.
Por exemplo, um homem é um as- sões até uma plenitude final. O tro- Esta é a alma do guerreiro quan-
sassino e deve ser morto num ato de vão é lindo porque dá a impressão do ele, movido por uma cólera santa,
legítima defesa ou porque a lei man- de uma divina vontade de arrasar o mata um, outro e, ao fim do dia, ma-
dou que fosse executado. O Estado que não deve existir, e que vai der- tou muitos. Ele está como uma trovo-
tem o direito de mandar matar, nas rubando obstáculo por obstáculo até ada que descarregou toda a sua eletri-
ocasiões em que é justo, bem como destruir tudo. É uma sinfonia! Para cidade, e repousa plácido depois por-
qualquer pessoa possui o direito de mim, mais bonito do que o trovão, só que a sua ira santa foi preenchida. É
matar na sua própria defesa ou de ter- o órgão. São as duas supremas bele- o repouso de um guerreiro depois de
ceiros. Assim, tem-se o direito de ma- zas em matéria de sons. Sou um en- ter combatido, ter raspado pela morte,
tar na defesa da Santa Igreja Católi- tusiasta da trovoada. Qualquer tro- na véspera de outra batalha onde ele
ca Apostólica Romana, nos casos em vãozinho que eu ouça, acompanho poderá morrer. Ele está continuamen-
que a Moral católica permite1. Portan-
to, quando se combate em nome da ira
Arquivo Revista
de Deus e movido por uma cólera ins-
pirada pela graça, há uma beleza espe-
cial no exercício dessa justiça. Então, o
cavaleiro que vai à guerra não só dis-
posto a morrer, mas a matar para que
a vida espiritual, sobrenatural se espa-
lhe sobre a Terra, também representa
a Deus a um título especial, e exerce
uma missão divina.
Compreende-se por que os nossos
antepassados julgavam uma tal mara-
vilha um cavaleiro entrar, por exem-
plo, num lugar onde havia cinquen-
ta maometanos e, com várias espada-
gadas, decapitar a todos. Por que era
uma beleza? Porque os maometanos
estavam atacando terras católicas ou
Santa Teresinha do Menino Jesus
impedindo a pregação do Evangelho.
12
te com esta familiaridade com a morte ta, anseia por ela. Esse é o cavaleiro, dor, como foi São Miguel Arcanjo no
que faz a beleza da vida do guerreiro, aquele que, na hora do risco e da bata- Céu. Esta alegria, este entusiasmo, es-
porque é a familiaridade com Deus. lha, como que sente a ebriedade santa ta espécie de senso artístico da luta, do
Então, o que diferencia o cavaleiro do contato com Deus e se lança. risco e da morte caracteriza o verdadei-
das outras vocações que há na Igreja? Em certo sentido, o cavaleiro po- ro cavaleiro.
Tomem, por exemplo, padres, freiras de ser considerado o artista da luta, Compreende-se, então, porque o
dos bons tempos que se expunham à pois gosta da pugna bela, nobre, eleva- cavaleiro era alçado, habitualmente,
morte com contágio de doenças; ou- da. Por isso ele se orna para o comba- à condição de nobre, pois é incom-
tros que, fazendo as missões, se arris- te, segue belas regras para lutar e mor- paravelmente mais elevado e dig-
cavam a serem comidos pelos selva- re sentindo ter feito uma obra de arte. no quem possui esse espírito do que
gens. Todas essas pessoas são admirá- Na canção de gesta, Roland, morren- quem se entrega a outras ativida-
veis, dentre as quais muitas morrem do, sabe que no horror de sua morte es- des lícitas, necessárias, mas que não
mártires e são canonizadas. Que o tá realizando algo que despertará uma têm esse contato com o Divino, co-
sangue delas se levante e peça ao Céu página de literatura para todos os tem- mo, por exemplo, o comércio. Ven-
perdão e graças para nós. pos. E, antes de ele morrer, aparece der cebolas ou tamancos é uma coi-
São Miguel Arcanjo a quem o cavaleiro sa indispensável para a boa ordena-
Desponsório com o risco, moribundo estende a sua luva em sinal ção do mundo; fabricar vassouras ou
o esforço e a morte de vassalagem, porque São Miguel é o esparadrapos é muito bom, sobre-
chefe do que eles chamavam a Cavala- tudo, pode ser muito lucrativo, não
Entretanto, o cavaleiro não é o que ria Celeste, composta pelos Anjos que contesto. Mas contabilizar grandes
se resigna à morte, mas aquele que ca- expulsaram os demônios, lançando-os lucros, embora seja bom e honesto,
minha de encontro a ela com entusias- no Inferno. Roland se sente um com os não é o mais alto modo de se unir
mo; não se resigna com o perigo, mas espíritos celestes, seus irmãos. Ele é, na a Deus. Essa espécie de desponsó-
tem fome dele; não se resigna à lu- Terra, o grande exterminador e ordena- rio com o risco, com o esforço extre-
Luis Samuel
13
Dr. Plinio comenta...
mo e com a morte é o que mais une a pa Oriental? Foi mediante concessões zados contra os maometanos que bran-
Deus. Isto é a Cavalaria. vergonhosas de Roosevelt, no Tratado diam sabres. Os maometanos não usa-
de Yalta. Como o comunismo conse- vam sabres e lanças? Nossos antepassa-
Se ultrajado pelo inimigo, o guiu conquistar a China e depois o Vie- dos também. O comunismo usa ideias,
cavaleiro mantém a cabeça tnã? Foram concessões que Marshall nós usamos ideias. Ele faz a Revolução,
fez aos comunistas chineses, entregan- nós fazemos a Contra-Revolução.
alta, revida e continua a luta do a China numa bandeja. Como o co- Digo agora uma palavra sobre o ris-
Em nossa época, a luta não se dá só munismo vai se difundindo pelo mun- co. Há uma coisa que é para o homem
nem principalmente no campo físico. O do? Através da conquista das almas por como a morte, e às vezes ele enfren-
principal da guerra não é o esforço ma- meio do processo revolucionário des- ta a morte para evitar isso: é o descré-
terial, mas o intelectual. Atualmente se crito em meu livro Revolução e Contra- dito no meio dos seus. Deixar de ser
conquistam mais povos pela guerra psi- -Revolução. considerado, benquisto, admirado, ser
cológica do que pela guerra militar. As Contra essas formas de conquistas odiado, perseguido, desprezado exige
maiores conquistas que o comunismo psicológicas, ou há uma conquista tam- muitas vezes mais coragem do que a
fez não foram pelas armas, mas pela ve- bém psicológica ou não adianta nada. luta armada. Quando há uma guerra,
lhacaria. Por exemplo, como o comu- Então, nós somos contra o comunismo muitos vão para frente combater de
nismo se introduziu em toda a Euro- que brande ideias, como eram os cru- medo que, se recuarem, na retaguarda
riam deles e digam que são covardes.
Isso quer dizer que o sujeito enfren-
IABI (CC3.0)
14
“Eu vou para a frente porque que-
U.S. National Archives (CC3.0)
Helio G.K.
Eu me lembro de que pensava com tinuamente. Mes-
meus botões: “Mas que coisa horrí- mo quando caiu
vel ser desconsiderado assim! Veja sob o peso da Cruz,
tal menino de boca porca, de maus foi para levantar de
costumes que empolga a aula dizen- novo e poder che-
do palavrões, e como eu faço um pa- gar até o alto do
pel apagado, mole, bobo, com a mi- Calvário; não teve
nha perpétua observância da pu- uma hesitação.
reza, das boas maneiras, da distin- Eu tenho a im-
ção.” Mas eu refletia: “A pureza, as pressão de que se
boas maneiras, a distinção valem is- devêssemos olhar,
to; assim eu quero ser, ainda que me numa Via Sacra, as
rachem.” Eu era, assim, uma espé- pegadas sangrentas
cie de bichinho se agarrando à tá- de Nosso Senhor
bua de salvação a todo custo. Ainda no chão, um dos
não percebia que essa tábua de sal- aspectos por onde
vação tinha um nome, era a Cruz de Ele poderia ser vis-
Nosso Senhor Jesus Cristo. Quando to era cambalean-
mais tarde percebi, fiquei maravilha- te, fazendo um zi-
do, mas o passo estava dado, eu ti- gue-zague, quase
nha entrado na luta. caindo ao peso da
Nosso Senhor Jesus Cristo nos é Cruz, mas não lar-
apresentado sempre enquanto pade- gando. Outro se-
cendo, suando Sangue no Horto das ria, pelo contrá- Jesus com a Cruz às costas
Catedral de Astorga, Espanha
Oliveiras, caminhando para a mor- rio, em linha reta:
15
Dr. Plinio comenta...
Cavaleiros conscientes de
todo o esplendor que o
martírio trazia consigo
Entretanto, havia duas espécies
Prisão de Nosso Senhor - Museu de São Marcos, Veneza de mártires. Estive no Coliseu, em
Roma, onde me mostraram o lugar
O mais belo de todos Do nosso lado há Cavalaria, do lado do cárcere no qual ficavam os cató-
deles há assassinatos. Todas essas lu- licos a noite inteira, perto de outro
os martírios zes são da Igreja Católica e de mais compartimento onde estavam as fe-
Terminada esta exposição, pode- nada no mundo. Mas, enfim, o Rei ras rugindo. Os cristãos sabiam que,
ria surgir a pergunta: “Tudo isso é da França, Henrique IV, entrou nu- quando amanhecesse, tinham raiado
bonito, mas como me portar quando ma batalha com muito medo e sen- para eles as últimas horas, e seriam
chegarem para mim o risco e a mor- tia até seu esqueleto tremer. Então levados para a arena onde aquelas
te? Não posso fazer uma espécie de de espada na mão ele gritou: “Treme feras iam devorá-los.
injeção de tudo quanto ouvi e me- velha carcaça...”, mas ele não que- Imaginem, às três horas da ma-
ter dentro de mim para sair um he- ria ceder e lutou durante a batalha nhã, solidão no Coliseu, aquele már-
rói. O que vou fazer para ser fiel a inteira. Quiçá na hora do medo te- more muito branco, resplandecen-
essas ideias?” nhamos que dizer “treme velha car- te, de uma alvura que para quem vai
Aqui vem a doutrina da verdadei- caça”, mas nós vamos para a frente. morrer tem quase o aspecto de um
ra vida espiritual. Se eu, no meu ide- É preciso confiar em que a graça nos esqueleto ressequido, sobre o qual
al, sinto-me chamado para isso, mas ajude nesse momento. o trágico luar derramava uma tênue
na realidade não tenho forças, devo O martírio mais belo que conheço luminosidade; a sós, numa gaiola,
pedi-las para estar à altura do meu – depois de Nosso Senhor Jesus Cris- os futuros mártires se preparam pa-
ideal. Para isto temos a oração, os
Sacramentos, a meditação que nos
Divulgação (CC3.0)
16
ra morrer e têm pânico de apostatar
Gabriel K.
na hora, porque era só fazer um sinal
nesse sentido para serem salvos.
De repente, uma hiena uiva e a
pessoa pensa: ela está com fome de
mim, esse bicho amanhã vai devorar
as minhas entranhas. Quando che-
ga a manhãzinha, as feras vão acor-
dando e uivando mais. O circo vai se
enchendo de gente, muitos passam
perto dos católicos, cospem neles,
atiram pedras, dão risadas dizendo:
“Vocês vão morrer mesmo...”
A certa hora, o Sol já está todo le-
vantado e entram os barulhos familia-
res da cidade de Roma: os vendedores
que oferecem suas mercadorias, car-
ros que passam, é a vidinha de todos
os dias que está ao alcance deles. É só
dizer “eu quero apostatar” para terem
tudo aquilo que eles estão prestes a O Coliseu, Roma, Itália
deixar para entrar na arena e morrer.
Alguns soluçavam de medo, iam Conto-lhes um fato extremamen- graça responderia dentro da alma de-
para a arena tremendo. Jogavam- te gracioso. Havia uma jovem roma- le: “Tu não tens coragem porque não
-se e as feras caíam em cima deles. na que foi condenada à morte por ser chegou a hora de morrer. Tu deves ter
Eram heróis tanto quanto Santo Iná- cristã. Mas ela tinha especial pavor de confiança de que não morrerás.” En-
cio de Antioquia, talvez merecendo não sei de que bicho – digamos que tão, ele mete o pé dentro do caldeirão,
menos admiração. fosse hiena –, tinha pânico. Então, ela depois o corpo inteiro, certo de que
Eram cavaleiros verdadeiramen- disse a Deus o seguinte: “Eu consin- não será queimado. Contra o parado-
te, porque sentiam a beleza do seu to em ser morta, mas fazei com que xo, atravessa o caldeirão, apoia-se do
ato e queriam consumá-lo, conscien- não seja por uma hiena.” Os outros outro lado e sai.
tes de todo o esplendor que o mar- cristãos, católicos, que estavam assis- Manter esta confiança dentro do
tírio trazia consigo. Evidentemente, tindo ao martírio nos bancos do Co- caldeirão não é uma força de alma
para isto é preciso receber uma gra- liseu, viram entrarem também hienas talvez maior do que a do martírio?
ça especial. Sem essa graça a pessoa no circo, mas nenhuma delas atacou a Em nossa vida a virtude da confian-
não enfrenta. Mas é preciso pedi-la jovem, que foi morta por um tigre ou ça tem um papel extraordinário. Mui-
desde já. Por isso, em todas as Ave- um leão. Quer dizer, foi uma condes- tas vezes nós estamos como que der-
-Marias há esse pedido final: “Rogai cendência da Providência. rotados e liquidados e temos que fa-
por nós, pecadores, agora e na hora Termino com um caso para verem zer como São João: confiar que saire-
de nossa morte. Amém”. Quem vai como esse conceito de luta e de mar- mos do outro lado do caldeirão sem
ter coragem nessa hora? Sem uma tírio é complexo. São João Evange- nos acontecer nada. Este é um outro
graça especial não se tem. lista não foi mártir. Levado para ser lado do heroísmo e de coragem terrí-
morto num caldeirão de azeite em vel. Às vezes, confiar é mais duro do
Papel extraordinário da ebulição – uma morte tremenda! –, que se entregar. Mas não temos o di-
virtude da confiança entrou no caldeirão e saiu do outro reito de ceder, e é preciso confiar. v
lado ileso, e por vontade de Deus o
Há graças especiais de luta e de deixaram ir para casa. (Extraído de conferência de
morte também, mas peçamos essa Imaginemos que São João tenha 3/8/1974)
graça, tenhamos a intenção de dar à ido para o caldeirão com algo da gra-
nossa vida e à nossa morte esse sen- ça que dizia dentro dele: “Tu não vais 1) Cf. Suma Teológica, II-II q. 40, a. 1; q.
tido de beleza, e nós obteremos. Por- morrer.” E ele pensasse: “Mas não te- 64 a. 2-3. Catecismo da Igreja Católi-
que quem pede alcança. nho coragem de morrer agora.” E a ca, n. 2264-2265.
17
De Maria nunquam satis
Simbolismo
da Medalha
Milagrosa
Greg O’Beirne and Donna Barber
C omemora-se a 27 de novem-
bro a festa da Bem-aventurada
Virgem Maria da Medalha Mi-
lagrosa, dia em que, no ano de 1830,
Nossa Senhora calca aos pés
o mundo e uma serpente
Quando esta revelação foi divul-
Nossa Senhora apareceu a Santa Ca- gada, verificou-se que a Medalha Mi-
tarina Labouré, em Paris, e revelou- lagrosa era ocasião para um núme-
-lhe o desenho da medalha milagrosa. ro enorme de graças de conversão,
18
das mais extraordinárias. Com o que mente essa a doutrina da realeza de sos. São as graças e os favores que
se patenteou ou se documentou mais Nossa Senhora, lembrada em Fátima por suas mãos – pela ação, por meio
uma vez que esta devoção era mui- e afirmada como uma vitória sobre a d’Ela – descem sobre o mundo.
to desejada por Maria Santíssima. Por Revolução: o comunismo espalhará os
causa disso, estabeleceu-se o excelen- seus erros por toda parte, o Papa terá Visão grandiosa da vitória
te costume de colocar no ponto de en- muito que sofrer, a Igreja será perse- de Maria Santíssima
troncamento das contas do Rosário a guida, “por fim o meu Imaculado Co-
Medalha Milagrosa; de fato seu culto ração triunfará”. Quer dizer, a Revo- Temos, assim, algo que faz pensar
é cercado de toda espécie de graças. lução será derrotada, e na Contra-Re- na verdade de Fé da mediação uni-
Essa devoção preparou as almas volução nós teremos, então, a vitória versal de Maria. As graças passam
muito poderosamente para a defi- do Coração Imaculado de Maria. pelas mãos de Nossa Senhora – elas
nição de um dos mais importantes Nossa Senhora aparece calcando são as distribuidoras dos dons divi-
dogmas de Nossa Senhora: a Ima- aos pés não só o mundo, mas também nos – e numa quantidade enorme se
culada Conceição. Vale a pena, por- uma serpente, o que é inteiramen- precipitam sobre a Terra.
tanto, fazermos uma análise da me- te coerente com o resto, porque nes- Segundo diversas revelações, a vi-
dalha e de tudo quanto ela simboliza se mesmo lado da medalha está escri- tória sobre a Revolução dar-se-á no
para compreendermos o que a Pro- to: “Ó Maria concebida sem pecado, momento culminante dos castigos
vidência Divina teve em vista quan- rogai por nós que recorremos a vós!” descritos de vários modos. Ana Ca-
do favoreceu com tantas graças essa É, portanto, a Imaculada Concei- tarina Emmerich, por exemplo, em
devoção que a própria Mãe de Deus ção, mas com um atributo que não uma de suas descrições narra a vitória
revelou a Santa Catarina Labouré. se encontra nas imagens dessa invo- de Nossa Senhora no Vaticano. Ela
Vemos numa face da medalha a cação como tal: Nossa Senhora es- vê Maria Santíssima entrando na Pra-
Santíssima Virgem pousando os pés tá com as mãos abertas em sinal de ça de São Pedro – dado muito curio-
sobre o mundo, na afirmação de sua aquiescência, de atendimento, e de- so, porque dá a ideia de que Ela não
realeza sobre toda a Terra. É exata- las partem fachos luminosos imen- estava presente no Vaticano –, ele-
Da
nie
lA
.
19
De Maria nunquam satis
20
numerosos os demônios que pairam Senhora, é um dos penhores da alian-
Escudo contra todas as
pelos ares para a perdição das almas ça d’Ela conosco. É um dos meios,
tentações do demônio que, se pudessem ser vistos, obscure- uma espécie de escudo que Ela nos
Vamos pedir a Nossa Senhora o fa- ceriam até o Sol, pois formariam uma dá para a luta contra todas as tenta-
vor de, pelas graças da Medalha Mi- espécie de capa em torno da Terra. ções do demônio.
lagrosa, apressar o dia de sua vitória. Esses são os demônios, os quais, A invocação de Nossa Senhora
E também de nos ajudar a sermos fi- segundo Ana Catarina Emmerich, das Graças ou da Medalha Milagro-
éis durante todas as tormentas que se atuam sobre as almas não direta- sa, por tudo quanto ela contém e, so-
aproximam. Porque devemos nos lem- mente para levá-las ao pecado, mas bretudo, pela Imaculada Conceição
brar bem disto: a perseverança é uma para criar um clima que torna depois que está esmagando a cabeça do de-
graça inestimável. Do que adianta a tentação dos outros demônios qua- mônio, é particularmente eficiente
uma pessoa ter Fé, virtudes, se depois se irresistível, avassaladora. Se o mal nessa luta contra o poder das trevas,
vai cair no pecado? Essa perseverança em nossos dias tem tanta possibili- que tanto e tanto nós devemos con-
não é fruto de nossas qualidades pesso- dade de progressão é porque ele en- duzir nos dias de hoje.
ais, mas da graça que se trata de pedir contra em toda parte o clima psico- Eis uma razão a mais para nos
humildemente, de implorar com insis- lógico preparado. aferrarmos a esses símbolos, a essa
tência, e à qual é necessário correspon- A meu ver, muitas vezes por dia o medalha, ao escapulário do Carmo,
der. Portanto, precisamos pedir as gra- demônio tenta as pessoas. Nem sem- ao Rosário. Devemos ter sempre co-
ças que nos assegurem a perseverança. pre serão tentações sensíveis, é evi- nosco esses objetos de piedade, co-
Há, hoje em dia, tantas almas ten- dente. Mas é uma ação quase imper- mo meio de luta contra o demônio.
tadas levadas pelo o demônio para os ceptível. Há também demônios que Essa é uma consideração que me pa-
rumos mais execráveis! Talvez nem to- fazem assaltos violentos; estes, po- rece particularmente importante nos
do mundo tenha a ideia de qual é a rém, não são os mais perigosos. dias em que vivemos. v
ação, a força do demônio na época em Então nós devemos compreender
que nós estamos. Um Santo, cujo no- que essa medalha, com todos os seus (Extraído de conferência de
me não me lembro, afirmou serem tão símbolos e recomendada por Nossa 27/11/1964)
Arquivo Revista
21
Reflexões teológicas
Jesus na Via Sacra
Gabriel K.
U
m tema muito bonito é Nos- da a Criação. Como tal é Ele quem Então, Nosso Senhor Jesus Cris-
so Senhor na tríplice quali- manda na História dos homens. to é Rei até quando os homens se
dade de Rei, Pontífice e Pro- Ele quis dar aos homens a facul- revoltam contra Ele, porque foi Ele
feta. dade de fazerem o bem e o mal, o quem os dotou dessa liberdade. No
poder de agirem contra ou a favor fundo, no zigue-zague de toda a
Rei, Sacerdote e Profeta do Direito. De maneira que, quan- História, Ele faz acontecer o que
Rei é aquele que está no alto de do os homens fazem o mal, eles vão Ele quer. Assim como Nosso Se-
uma certa ordem e a governa, a or- contra a vontade divina, mas Deus nhor é o Rei da História, é também
dem lhe obedece. Nosso Senhor Je- quis que eles tivessem essa facul- Rei de todo o universo, do curso
sus Cristo, como Homem-Deus, é dade, para depois exercer a Justi- dos astros, de tudo quanto se passa
Rei de toda a humanidade e de to- ça sobre eles. na natureza.
22
Jesus Cristo é Sacerdote Nosso Senhor Jesus Cristo
porque oferece a Deus to- conhecia tudo isso e, do fun-
da a Criação no auge da do de sua dor e de sua humi-
qual Ele está, mas, sobre- lhação, carregava a majes-
tudo, porque é o Reden- tade da vitória que have-
tor do gênero humano. ria de vir.
Ele é Vítima e Sacerdo- Mutatis mutandis,
te, pois Se ofereceu a Si Gabriel K. com todos nós, católi-
próprio para expiar por cos, é assim também.
toda a humanidade. Ele Podemos ser humilha-
é, pois, Sumo Sacerdo- dos, espezinhados, cal-
te, o Pontífice que possui cados aos pés, mas sabe-
um pontificado universal. mos que raiará o dia do
Os outros pontífices, o cle- Reino de Maria, e que os
ro, são pontífices por partici- homens do futuro invejarão
pação d’Ele. O Pontífice é Ele. as humilhações pelas quais pas-
Cristo Juiz - Catedral
Ele é o Profeta porque predisse samos. Quando as pessoas se lem-
de Orvieto, Itália
o que faria e realizou sua profecia. brarem de um jovem casto, atraves-
Os outros profetas previram coisas sando essas cidades impuras, pre-
que outros se incumbiram de cum- Aquela túnica de bobo tinha diver- gando o nome de Nossa Senhora,
prir, eles não cumpriram. Jesus pre- sos significados místicos, teológicos, cortando essas poluições, se ajoelha-
viu e fez. Portanto é profeta numa sobre os quais os maiores espíritos rão ao pensar nisso.
plenitude especialíssima do termo. haveriam de escrever enlevados, cer- Portanto, na nossa situação deve-
tos de não chegarem até o fundo do mos carregar com dignidade suprema,
Os homens do futuro tema. E aquela coroa de espinhos ha- como Nosso Senhor carregou, os em-
invejarão as humilhações veria de ser de tal maneira venerada blemas da irrisão, da humilhação e do
que o maior rei da Cristandade, no ódio que caem em cima de nós. v
pelas quais passamos seu tempo, São Luís IX, haveria de
A cada passo da sua Paixão, com a construir uma Sainte-Chapelle para (Extraído de conferência de
majestade infinita d’Ele, ao mesmo abrigar um dos espinhos dessa coroa. 26/11/1982)
tempo em que estava sendo escarneci-
do, humilhado, sentindo todas as dores
23
C alendário dos
1. São Nuno de Santa Maria, reli-
gioso (†1431). Condestável do Reino
4. São Carlos Borromeu, bispo
(†1584).
Santos – ––––––
Samuel Holanda
de Portugal. Após vencer muitas bata- Beata Francisca de Amboise, religio-
lhas, abandonou o mundo e ingressou sa (†1485). Duquesa da Bretanha, que
na Ordem dos Carmelitas. após ficar viúva, fundou em Vannes o
primeiro Carmelo feminino da França.
2. Comemoração dos Fiéis Defuntos.
5. São Donino, mártir (†307). Jo-
São Malaquias, bispo (†1148). Re-
vem médico, condenado na persegui-
novou a vida de sua Igreja na diocese ção de Diocleciano a trabalhar nas
de Down e Connor, na Irlanda. Fale- minas da Mísmiya, na Cesareia da Pa-
ceu no mosteiro de Claraval, em pre- lestina, e depois queimado vivo por
sença de São Bernardo. permanecer cristão.
24
––––––––––––––– * Novembro * ––––
17. XXXIII Domingo do Tempo Santo Agápio, mártir (†306). Após 28. Santo André Tran Van Trong,
Comum. ser preso e submetido a suplícios na mártir (†1835). Por se recusar a pi-
Santa Isabel da Hungria, religiosa Cesareia Marítima, foi lançado no Me- sar na Cruz, foi preso e após inúme-
(†1231). diterrâneo, com pedras atadas aos pés. ras torturas, foi degolado em Kham
São Gregório Taumaturgo, bispo Duong, Vietnã.
(†c. 270). 22. Santa Cecília, virgem e mártir
(†s. inc.). 29. São Saturnino, bispo e mártir
18. Dedicação das Basílicas de São São Pedro Esqueda Ramírez, pres- (†s. III). Enviado para a evangeliza-
Pedro e São Paulo, Apóstolos. bítero e mártir (†1927). Sacerdote ção das Gálias, fundou a diocese de
São Romão, mártir (†303). Diáco- preso e fuzilado em Teocaltitlan, du- Toulouse. Ver página 2.
no da Cesareia, que ao ver os cristãos rante a perseguição mexicana. Beata Maria Madalena da Encar-
da Antioquia, Turquia, se aproxima- nação, virgem (†1824). Fundadora
rem dos ídolos, os exortavam a perse- 23. São Clemente I, Papa e mártir do Instituto das Irmãs da Adoração
verar na Fé Católica. Por isso foi tor- (†s. I). Perpétua do Santíssimo Sacramento.
turado e estrangulado. São Columbano, abade (†615). Morreu em Roma.
Beata Henriqueta Alfiéri, virgem
(†1951). Religiosa das Irmãs da Cari- 30. Santo André, Apóstolo.
dade de Santa Joana Antida Thouret, Beato Luís Roque Gientyngier,
exerceu seu apostolado junto aos en- presbítero e mártir (†1941). No tempo
carcerados, em Milão, Itália. da ocupação militar na Polônia duran-
te a guerra, foi vítima de crimes come-
24. Solenidade de Nosso Senhor tidos pelos inimigos da Igreja, martiri-
Jesus Cristo, Rei do Universo. zado perto de Munique, Alemanha.
Flávio Lourenço
25
Hagiografia
Divulgação (CC3.0)
Invencibilidade de quem
se abre para a graça
São Bernardo, Bispo de Hildesheim, era
descendente de bárbaros, mas modelou-
se de tal modo pelo espírito da Santa
Igreja que realizou maravilhas espirituais
e materiais em sua diocese. Para uma
alma aberta à ação da graça absolutamente
nada é impossível! E nada é tão forte como
o enlevo, a veneração e a ternura, forças
espirituais incomparavelmente mais fortes
do que todas as potências materiais.
V
amos considerar alguns dados o aperfeiçoamento da pintura,
biográficos sobre São Bernar- do mosaico, da serralharia, da Manuela Gößnitzer (CC3.0)
do, bispo, tirados da obra Vi- ourivesaria, recolhendo cuidado-
da dos Santos, do Padre Rohrbacher1. samente os trabalhos curiosos que os
estrangeiros enviavam ao rei. E man-
Realizador de dando jovens de bom comportamento
inúmeros benefícios serem educados para exercitá-los nes-
sas artes.
São Bernardo foi Bispo de Hil- Embora muito dedicado às fun-
desheim, no Sacro Império, no sécu- ções eclesiásticas, não se cansava de
lo X. Sendo muito dotado em relação prestar serviços ao rei e ao Estado. E
às artes, cultivou-as com cuidado en- tão bem se saía, que chegava a desper-
quanto bispo. tar a inveja de outros fidalgos.
Reuniu uma grande biblioteca, Havia muito tempo que Saxe per-
composta tanto de obras eclesiásti- manecia bastante exposto às incur-
cas quanto filosóficas. Incrementava sões de piratas e de bárbaros. O san-
Chr95 (CC3.0)
A Santa Igreja é como a pedra fi-
losofal de que falavam os medievais.
Segundo uma lenda da Idade Média,
havia uma pedra que tinha o condão
de transformar em ouro tudo aquilo
em que ela tocava. Então, os alqui-
mistas procuravam encontrar o se-
gredo do fabrico da pedra filosofal,
pois assim ficariam prodigiosamen-
te ricos.
Pois bem, a Igreja Católica é a ver-
dadeira pedra filosofal. Tudo aquilo
em que ela toca e que se abre à sua
influência se transforma em ouro, fi-
ca esplêndido.
Quem seria São Bernardo? Este
Rio Elba
homem viveu no século X. Ora, es-
27
Hagiografia
Divulgação (CC3.0)
Friedrichsen (CC3.0)
28
bem, e que confere aos homens toda to, Homem-Deus, a mais bela cria- mos ter à Santa Igreja Católica consis-
espécie de fortaleza: a graça de Deus. tura de todo o universo, a Igreja Ca- te em ter em relação a ela uma ternu-
A essa graça ele se abriu e, a partir do tólica Apostólica Romana é admi- ra e uma veneração sem medida.
momento em que ele se abriu para rável nos seus Santos. É neles que
ela, dele nasceu todo gênero de ma- compreendemos a Igreja. Olhan- Fidelidade à Igreja
ravilhas. do para aqueles que são conformes a Que este Santo tão glorioso, Ber-
Ora, a sede, o veículo, a Esposa Igreja entendemos como ela é. nardo, reze por nós e nos obtenha
verdadeira e única do Autor dessa Então com-
Thangmar (CC3.0)
graça, Nosso Senhor Jesus Cristo, é a preendemos que
Santa Igreja Católica Apostólica Ro- devemos aplicar
mana da qual não pretendemos ser ao amor, à vene-
senão uma célula, um pequeno mem- ração e à ternura
bro vivo, uma emanação, uma cente- que temos para
lha, um elemento integrante; e cada com a Santa Igre-
um de nós coloca toda a sua ufania ja aquelas pala-
apenas neste ponto: ser um homem vras de São Fran-
católico na força do termo e mais na- cisco de Sales: “A
da. Podem dizer o que quiserem, ca- medida de amar
luniar como entenderem, até matar, a Deus consiste
se desse homem se pode afirmar que em amá-Lo sem
ele foi um varão católico, nele o espí- medida.” A medi-
rito da Igreja viveu, dele se disse tudo da de amar a San-
quanto de bom, de grande e de admi- ta Igreja Católi-
Tilman2007 (CC3.0)
rável se pode afirmar de um homem. ca Apostólica Ro-
É assim que nós devemos enten- mana, nossa mãe,
der e amar a Santa Igreja Católi- consiste em amá-
ca Apostólica Romana. Diz-se que -la sem medida.
Deus é admirável em seus Santos. A A medida da ve-
Igreja, que é o espelho de Deus e a neração e da ter-
Esposa de Nosso Senhor Jesus Cris- nura que deve-
Lenkerbruch (CC3.0)
29
Hagiografia
pelo menos a raiz dessa forma de A Santa Igreja Católica: Jerusa- remos maravilhas. E não haverá na-
amor para com a Igreja que é a coi- lém celeste, cidade perfeita, com da que consiga impedir que nós ven-
sa mais forte que há no universo. Fa- muralhas de brilhantes e pérolas, çamos a Revolução. Porque nós ve-
la-se hoje em dia em forças mate- vias cobertas de safiras e esmeraldas, mos, pelo exemplo dele e de tantos
riais enormes, organizadas, encade- torres revestidas de rubis, e as ruas outros Santos, que para uma alma
adas e desencadeadas pelo homem. calçadas de ouro e prata. A Igreja, aberta à ação da graça absolutamen-
Nada disso é forte como o enlevo, a minha mãe, onde está ela? te nada é impossível.
veneração e a ternura, forças espiri- Essa pergunta causa uma dor que O Hino das Congregações Maria-
tuais incomparavelmente mais for- constringe o coração e o coroa de es- nas cantava: “De mil soldados não te-
tes do que todas as potências mate- pinhos em toda a sua superfície. En- me a espada quem pugna à sombra
riais. Que Nossa Senhora implan- tretanto, além de despertar esta dor, da Imaculada.” A espada poderá pa-
te em nossas almas essa disposição, suscita uma alegria: Nosso Senhor recer uma arma bem anacrônica. Pois
essa veneração e ternura pela Santa disse que o Reino de Deus está den- bem, de mil bombas atômicas, ain-
Igreja Católica Apostólica Romana. tro de nós (cf. Lc 17, 21). O Reino da que todo o universo se desagre-
Santa Igreja Católica… como não de Deus é a Igreja Católica, nós so- gasse em explosões atômicas, a alma
soltar um “ai” depois de dizer isto? mos os filhos da Igreja, fiéis a ela. Is- que se abre à influência de Nossa Se-
Como não olhar para as ruínas que so se manifesta na nossa fidelidade nhora na Igreja não temeria, porque,
fumegam, para os corpos que en- à Doutrina que ela ensina e que não se fosse esse o desígnio da Santíssima
chem as ruas, para o sangue que se foi inventada por nós, aos Sacramen- Virgem, depois dessas explosões se-
verte de todos os lados, para os cor- tos por ela administrados, à Tradi- guiria o Reino de Maria num univer-
vos que se abatem sobre os cadáve- ção gloriosa de dois mil anos que nos so renovado. Porque o que Nossa Se-
res, para os tremores de terra que vem em documentos inconcussos e nhora quer, isso se faz irrecorrível e
abalam aquilo que os incêndios ain- nos explicam como é verdadeiramen- invencivelmente. É o desígnio d’Ela
da não consumiram? Como não ter te a Igreja, e aos quais nos conforma- que manda em tudo. E nós devemos
um gemido pensando nisso? mos. Nossas ideias não são um capri- ter mil vezes mais medo de despertar
cho, nossa orientação uma expressão de tristeza na face au-
não é um ato de prefe- gusta de Maria, do que da cólera de
Arquivo Revista
30
Luzes da Civilização Cristã
Flávio Lourenço
31
Luzes da Civilização Cristã
Sebastião C.
Pedro Morais
32
e sugando o mel não pode deixar de sorrir. Mas se ele
pensa que está quite com Deus a propósito do beija-flor
porque sorriu enternecido, não compreendeu. O sorriso
é uma das fases do pensamento humano, mas de fato es-
te voa mais alto, é mais sério, mais profundo. O sorriso é
um dos aspectos panorâmicos do nosso itinerário para o
Daniel A.
Absoluto, mas não é a razão do nosso olhar para a coisa.
Por esse motivo, a própria Sainte-Chapelle tem uma
unção régia, uma gravidade divina, uma seriedade ma-
jestosa e composta, dentro da qual o sorriso é um aspec-
to. Por mais que se glorifique esse aspecto, ele não deixa
de ser colateral que não pode ser transformado no prin-
cipal. Pelo contrário, é uma espécie de momento em que
Deus faz o homem descansar um pouco. Não é descansar
Leandro W.
d’Ele, mas é mostrar n’Ele e nas suas criaturas aspectos
feitos para aliviar o homem neste vale de lágrimas.
Por exemplo, os esquilos. A conduta deles, como pa-
recem compreender as brincadeiras que fazemos e qua-
se brincar conosco! Vê-se que esse animalzinho foi fei-
to por Deus para que uma alma se deleitasse, sorrisse,
mas depois subisse ainda mais alto e pensasse: “Como
Deus é grande. Entretanto, na grandeza d’Ele cabe tan-
ta bondade que, ao dar aos homens todas essas magni-
ficências, ainda deixou uma ‘caixa de bombons’ para os
homens se deliciarem. Essa ‘caixa de bombons’ é o con-
Gabriel K.
33
Luzes da Civilização Cristã
que ela é uma das melhores expressões de Vós mesma
nesta terra de pecado.”
Gabriel K.
Termômetro da extrema
decadência da sociedade
J.P. Castro
Nas vésperas da Revolução, a França chegara a tal de-
cadência que o Conselho de Estado, sob a presidência do
Rei, tinha assinado uma resolução para demolir a Cate-
dral de Notre-Dame como igreja antiquada, não corres-
pondendo mais aos anseios estéticos dos tempos novos,
para ser construído em seu lugar um templo grego inspi-
rado nos templos da antiguidade pagã.
Por aí vemos, num lance só, a que extremos chegara a
decadência daquela sociedade. Os homens eram tão re-
junto de coisas encantadoras da Criação, das quais o ho- volucionários que os nobres, cujas cabeças a Revolução
mem pode usar de vez em quando.” cortou, queriam derrubar a Catedral de Notre-Dame,
essa igreja medieval que todos os povos da Terra que-
Uma das melhores expressões rem contemplar quando vão a Paris, símbolo perfeito da
de Nossa Senhora Contra-Revolução, para substituir por um templo que
representava perfeitamente a Revolução daquele tempo.
Há um monumento que exprima o espírito francês no Seria a implantação dos restos do paganismo – derruba-
seu equilíbrio, na sua plenitude, onde o sorriso está pre- do, escangalhado, rejeitado, pisado aos pés pelos séculos
sente como elemento colateral, mas não é a nota domi- – que deveria ser restaurado em Paris. Compreende-se a
nante? desordem, o caos e a decadência da França que isso re-
Esse monumento – a meu ver, perfeito – é a Catedral presentava. v
de Notre-Dame de Paris, a propósito da qual me lembro
das palavras da Escritura sobre Jerusalém, chamando- (Extraído de conferência de 31/10/1994)
-a de cidade perfeita, a alegria do mundo inteiro (cf. Lm
2, 15). Parece-me que Notre-Dame é a igreja perfeita e a
Samuel Holanda
34
J.P. Castro
35
Ped
oM r
ora
is
J.P. Castro
A Virgem e o Menino - Museu de
São Marcos, Florença, Itália
Rodrigo Q.
Sacrário de Nosso Senhor
N ossa Senhora é o sacrário onde está Nosso Senhor Jesus Cristo e o santuário de dentro do qual to-
das as graças se difundem para o gênero humano. Devemos rezar a Jesus enquanto vivendo em
Maria porque Ele quer ser invocado dentro do seu templo, que é a Santíssima Virgem. Peçamos
que Ele viva em nós como vive n’Ela.
Jesus Cristo viver em nós significa termos o espírito da santidade d’Ele, que é o espírito da Santa Igreja Ca-
tólica Apostólica Romana. Portanto, o espírito contrarrevolucionário, expressão mais característica do espírito
da Santa Igreja. Eis o que devemos pedir a Jesus, por meio de Nossa Senhora, enquanto vivendo n’Ela.