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ANAGRAMA E IDEOGRAMA NA
ASSOCIAÇÃO E INTERPRETAÇÃO
PSICANALÍTICAS1
Ana Paula Gianesi
(EPFCL-Brasil / FCL-SP)
Conrado Ramos
(EPFCL-Brasil / FCL-SP)

resumo: Partindo da função poética e da lógica paracompleta a ela


correspondente, pretende-se mostrar 1) o quanto o procedimento
freudiano de associação acerca do esquecimento de Signorelli,
baseado na materialidade sonora, corresponde ao empreendimento
saussureano em torno dos anagramas e 2) o quanto o procedimento
freudiano de associação, baseado no valor imagético do material
onírico, encontra homologias com o valor icônico-imagético do
ideograma na poesia chinesa. Ambos procedimentos podem ser
compreendidos sob o conceito de ícone (C. S. Peirce) que mantém em
aberto, numa cadeia associativa, a importância da significância
(enquanto potência aberta de significação) e a indeterminação da
verdade (enquanto valor de juízo decorrente da derrogação do
princípio, fundamental à lógica clássica, do terceiro excluído). Isto
coloca, ao psicanalista, o inconsciente como um saber que opera
poeticamente e espera, como interpretação, uma prática de escuta
capaz de fazer ressoar a dimensão icônica do material significante
apresentado pelo analisante numa cadeia associativa.

abstract: From the poetic function and paracomplete logic


corresponding to it, we aim to show 1) how the Freudian procedure of
association regarding the Signorelli oblivion, based on sound
materiality corresponds to the Saussurean enterprise on the anagram

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Trabalho apresentado no I Simpósio Interamericano de Internacional dos
Fóruns do Campo Lacaniano (IF) e sua Escola de Psicanálise dos Fóruns do
Campo Lacaniano (EPFCL); A outra cena. A voz e o olhar na experiência
analítica e na arte. de 28 a 30 de agosto de 2015.
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and 2) how the Freudian procedure of association, based on the


imagetic value of dream material, finds homologies with the imagetic-
iconic value of the ideogram in Chinese poetry. Both procedures can
be understood under the concept of icon (C. S. Peirce) which keeps
open, in an associative chain, the importance of significance (as
opened possibility to of signification) and the indeterminacy of truth
(as value judgment resulting from the derogation of the principle,
essential to classical logics, of the third excluded). This poses, to the
psychoanalyst, the unconscious as a knowledge that operates
poetically and hopes, as interpretation, a listening practice able to
resonate the iconic dimension of the significant material presented by
the analysand in an associative chain.

Os estudos sobre a função poética possibilitam bons debates acerca


do fundamento do equívoco, d'alíngua e do poema analisante. No
entanto, o grafema e o anagrama Saussuriano podem nos ensinar ainda
mais. Podemos, inclusive, nos perguntar: não seria o saber posto no
lugar da meia-verdade do discurso analítico um saber-poético? Um
saber que é saber fazer com o duplo sentido, por ser mesmo duplo
sentido. Afinal, operar com as figuras de som recorrentes
(JAKOBSON, 2014), fazer hesitar por aí o sentido, tornar o referente
ambíguo, são operações possíveis sobre o significante e o gozo. Isto
pode ser encampado pela paracompletude discursiva.
Nosso discurso é paracompleto (derroga o princípio do terceiro
excluído). O recurso lógico nos possibilita operar em outro campo que
aquele do um ou outro. A aposta lógica-poética nos permite o
decantamento do sentido. O apelo ao equívoco, faz do cúmulo do
sentido, tonel que provoca o deslizar do gozo. O sentido, assim, não se
estabiliza. Dizemos: nem um nem outro.
Para Haroldo de Campos (1977, p. 39), a queda da função
referencial na poesia faz importar descobrir, por exemplo, a palavra
astro no adjetivo desastrado ou mesmo no substantivo desastre. Estes
encontros são muito importantes para um poeta. Não são menos
importantes para um psicanalista.
O mesmo Campos comenta uma interessante articulação entre a
função poética, a poesia chinesa e o que chamou de “vertiginosa
decifração anagramática” de Saussure:
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[...] na poesia das línguas fonéticas, Jakobson perquiria a


recorrência intercambiante das “figuras de som e de sentido”
(como Saussure, antes, na vertiginosa decifração anagramática
cedera ao “furor do jogo fônico”, ao “jogo chinês” – sic – das
palavras ressoando sobre as palavras). (CAMPOS, 1977, p. 32)

Sua hipótese é que Saussure encontrou espaço para o ideofônico


(senão um ideograma, Saussure criaria o ideofônico). Isto abriria,
justamente, uma dimensão grafemática1, de simbólica visual, icônica.
Com a decifração anagramática, Saussure fazia escrever uma
contralinguagem, impressões acústicas fora da ordem temporal linear
e criava um contraponto. Evidenciava, assim, polissemias e polifonias.
Apostando que o sentido das palavras fosse "eminentemente
negativo" (SAUSSURE, 2012, p. 67), que nenhum fato de língua
exista por si mesmo, Saussure nos mostra a variedade de sentido,
aponta-nos o cúmulo de sentido e prova que a decifração mantém o
enigma.
Saussure interessou-se pelos anagramas através dos fonemas, pela
repetição de sons que, combinados, resultam em uma dada palavra.
Formam uma palavra-tema: “assim, no exemplo: Taurasia Cisauna
Samnio cepit, Saussure reconhece o nome de Scipio (Cipião)”
(CAMPOS, 2013, p.112).
Cipião seria um nome-forçamento? Saussure, através da decifração
anagramática, fazia ressoar outra coisa, palavras sob palavras.
Ressonâncias anagramáticas que colocam o sentido em tonel, em
enigma.
A equivalência fônica traz o simultaneísmo da função poética para
a decifração que se opera no texto.
Encontramos em Duplo Canto e outros poemas, de François
Cheng, uma afirmação segundo a qual a poesia, na tradição poética
chinesa, “suscita a ressonância do não-dito, faz viver uma experiência
de vacuidade” (CHENG, 2011, p.19). E sobre o ideograma ele afirma
que não se trata de marcas arbitrárias nem de sinais que visam copiar
as coisas, mas, antes, procura “figurá-las por traços essenciais” (idem,
p. 31). Pelo fato do ideograma ser monossilábico e invariável, isso se
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lho confere “uma grande mobilidade quanto à possibilidade de se


combinar com outros ideogramas” (idem, p. 32).

Nas contribuições de Campos encontramos a tomada da função


poética por uma via que não se reduz à materialidade sonora.
Avançando sobre a lógica desta função por meio do ícone podemos
articular não só o valor sonoro, mas o valor visual da poesia.
Vejamos um exemplo:

Da esquerda à direita são os ideogramas de sol, erguer e leste. A


tradução sugerida é: "O sol se ergue a leste". Campos comenta: "o
pictograma de sol redistribui-se por todos os signos constitutivos do
verso, incidindo no de erguer introjetando-se no de leste, como se um
único harmônico grafemático regesse, com suas figuras de mutação,
toda a cadeia fílmica da frase." (CAMPOS, 1977, p. 47)
Não é este o cerne do procedimento anagramático freudiano diante
do esquecimento de Signorelli?
Freud (1994) operou com anagramas, por exemplo, na sequência
(Bó)snia → (Bo)tticelli → (Bo)ltraffio → Trafoi.
Tomemos um recorte do procedimento freudiano de associação no
sonho da injeção de Irma: "Ela mostrou alguma resistência, como
fazem as mulheres com dentaduras postiças."(FREUD, 1996, p. 145)
Freud associa:

Os dentes postiços levaram-me à governanta que já mencionei;


sentia-me agora inclinado a contentar-me com dentes
estragados. Pensei então numa outra pessoa à qual essas
características poderiam estar aludindo. Mais uma vez, não se
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tratava de uma das minhas pacientes [...]. (FREUD, 1996, p.


145)

Qual a relação entre as imagens das dentaduras postiças e os dentes


estragados da não-paciente e a relação entre Botticelli, Bósnia,
Boltraffio, Trafoi?
Se no procedimento de associação do esquecimento encontramos
relações anagramáticas, na associação do sonho de Irma encontramos
relações grafemáticas. No primeiro caso, entra em jogo a associação
da materialidade sonora; no segundo, o valor associativo é icônico-
visual.
Entre a dentadura postiça da Irma do sonho, a boca da governanta e
os dentes estragados da terceira, o dente-imagem sinalizado por Freud
tem um valor icônico, assim como o ideograma sol no verso chinês de
nosso exemplo e o fonema bo nas associações do esquecimento de
Signorelli.
Se o que entra em jogo nas associações freudianas é o valor
material do som e do ícone-visual, isto se dá porque das coisas vistas e
ouvidas pelo sujeito o que subsiste é o significante em sua dimensão
poética de ícone, em sua significância.
Lembremos o que é um ícone para Peirce: "um signo que possuiria
o caráter que o torna significante, mesmo que seu objeto não existisse,
tal como um risco feito a lápis representando uma linha geométrica"
(PEIRCE, 2012, p. 74); "Ícones e índices nada afirmam. Se um ícone
pudesse ser interpretado por uma sentença, tal sentença deveria estar
num 'modo potencial', isto é, ela simplesmente diria 'Suponhamos que
uma figura tem três lados'" (PEIRCE, p. 70); ou ainda:

[...] uma importante propriedade peculiar ao ícone é a de que,


através de sua observação direta, outras verdades relativas a seu
objeto podem ser descobertas além das que bastam para
determinar sua construção. Dado um signo convencional ou um
outro signo geral de um objeto, para deduzir-se qualquer outra
verdade além da que ele explicitamente significa, é necessário,
em todos os casos, substituir esse signo por um ícone.
(PEIRCE, 2012, p. 65)
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Ao ícone cabe a condição de significância: nada afirmar, manter o


modo potencial da significação e de descoberta de outras verdades
relativas ao objeto, ou seja, a abertura polissêmica do signo.
Os procedimentos freudianos acima exemplificam que, no tocante
à práxis analítica, os materiais sonoro e imagético têm a mesma
natureza icônica. Esta natureza põe como análogas à interpretação
analítica a leitura anagramática de Saussure e a leitura grafemática da
poesia chinesa.

Referências bibliográficas
CAMPOS, H. (1977). Ideograma, anagrama, diagrama: uma leitura de
Fenollosa. In: ____. (Org.) Ideograma: lógica, poesia, linguagem. São
Paulo: EDUSP, p. 9-114.
____. (2013). A reoperação do texto. São Paulo: Perspectiva.
CHENG, F. (2011). Duplo canto e outros poemas. Cotia, SP: Ateliê
Ediorial.
FREUD, S. (1994). O mecanismo psíquico do esquecimento. In: ____.
Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard
brasileira. Vol. III. Rio de Janeiro: Imago, p. 275-284.
FREUD, S. (1996). A interpretação dos sonhos (primeira parte). In:
____. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição
standard brasileira. Vol. IV. Rio de Janeiro: Imago.
JAKOBSON, R. (2014). Linguística e poética. In: ____. Linguística e
comunicação. São Paulo: Cultrix, p. 118-162.
PEIRCE, C. S. (2012). Semiótica. São Paulo: Perspectiva.
SAUSSURE, F. (2012). Escritos de linguística geral. São Paulo:
Cultrix.

Palavras-chave: poesia chinesa, ícone, interpretação.


Keywords: Chinese poetry, icon, interpretation.
1
Cabe destacarmos que Haroldo de Campos remete ao matemático Matila C.
Ghyka, estudioso dos fenômenos de sugestão fônica ou dinâmica das
palavras, o sentido que dá à dimensão grafemática. Numa nota de rodapé,
Campos apresenta a seguinte citação deste autor: "podemos lembrar aqui que,
na escrita chinesa, é a simbólica visual e não a fonética que entra em jogo; a
associação de ideias que deriva dos 'ideogramas' - no caso, as palavras - age
por imagens propriamente ditas." (GHYKA, apud CAMPOS, 1977, p. 105,
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nota 7). Apesar das diferenças entre Lacan e Derrida no que diz respeito às
funções da letra e do escrito, mantivemos o termo grafema conforme citado
por Campos por entendermos que a origem e o contexto aqui presentes não
comprometem seu uso.

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