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BOLETIM DE CONJUNTURA

NERINT
As Relações Brasil-EUA no Contexto
-
de Ascensão do Conservadoris-

mo: Implicações Econômicas e Diplomáticas do Governo Trump e Pers-

pectivas para o Novo Governo Brasileiro

Pedro V. P. Brites 1, Júlia Chaves2 e Tiago S. Nogara3

• A Política externa de Trump rejeita a Grande Estratégia dos EUA lastreada no liberalismo
institucional.
• O governo Trump procura reação aos efeitos das alterações geoeconômicas globais,
especialmente desde a crise de 2007-8, aprofundando a pressão sobre as potências regionais.
• A leitura por parte do novo governo brasileiro de que a demonstração unilateral de
subserviência aos Estados Unidos pode colocar o Brasil na condição de parceiro estratégico, não
encontra respaldo na atual conjuntura e momento do Sistema Internacional.
.
Apresentação

A eleição de Donald Trump em 2016 esvaziar as instituições multilaterais que não


trouxe uma mudança significativa na política estão enquadradas aos anseios dos EUA marcam
dos Estados Unidos. Em termos de inserção a administração Trump em seus quase dois anos
internacional, a chegada do novo presidente de governo. Em um quadro mais amplo, pode-
representou uma tendência à ruptura com a se observar que esse novo posicionamento dos
defesa das instituições multilaterais e a busca Estados Unidos trata-se, de um lado, de uma
pela retomada da condição hegemônica dos reação aos efeitos das alterações geoeconômicas
Estados Unidos, que pela interpretação do novo globais, especialmente desde a crise de 2007-8,
governo, estava comprometida. A imposição de e, de outro, uma aceleração de um processo de
retaliação comercial a diversos países, a ameaça busca pela condição imperial (em outros termos, a
de escalada securitária em vários espaços de afirmação da unipolaridade) que marca a atuação
disputa pelo globo (casos do Irã, Venezuela, dos EUA desde o final da Guerra Fria.
Coreia do Norte, Rússia, China) e procura por

1. Coordenador e Professor de Relações Internacionais do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter). Doutor e Mestre em Estudos
Estratégicos Internacionais (UFRGS). Pesquisador Associado Núcleo Brasileiro de Estratégia e Relações Internacionais (NERINT).
Coordenador do Laboratório de Estudos de Defesa e Segurança (LEDS). Contato: pvbrittes@gmail.com
2. Graduanda de Relações Internacionais do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter). Pesquisadora do Laboratório de Estudos de
Defesa e Segurança (LEDS). Contato: juliabchaves1@gmail.com
3. Graduado em Ciências Sociais pela UFRGS. Aluno do curso de Especialização em Estratégia e Relações Internacionais Contemporâneas
(PPGEEI/UFRGS). Contato: tiagosnogara@gmail.com

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Esse quadro incide diretamente sobre a inserção sul-americana, estabelecendo boas relações com
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internacional brasileira. Depois de um período o governo Lula da Silva (2003-2010) e elevando
de estremecimento tênue das relações após os a relação com o Brasil ao nível de Diálogo
casos de espionagem ainda no governo Dilma Estratégico Global em 2011, já no governo
(2011-2016), o governo Temer buscou aproximar- Dilma Rousseff (2011-2016). Em uma segunda
se dos EUA. Entretanto, a perda de importância etapa, entre 2012 e 2016, o governo Obama
estratégica do Brasil para os Estados Unidos tem se aproveitou do vácuo oriundo do retraimento
comprometido essa estratégia. Paralelamente, político do Brasil, afetado pelas múltiplas crises
a postura protecionista, conservadora e de internas, para avançar numa estratégia de maior
esvaziamento das instituições multilaterais por engajamento na política regional, processo que
parte dos EUA afetam o Brasil tanto na esfera contribuiu para o enfraquecimento dos processos
econômica quanto diplomática. O governo eleito de de integração sul-americanos. Essa estratégia
Jair Bolsonaro, entretanto, indicou que irá priorizar de Washington4 atendia a um triplo estímulo,
o alinhamento automático com os Estados Unidos. ampliava a possibilidade de reinserção dos EUA
Esse objetivo, porém, pode encontrar empecilhos na região, ao mesmo passo que buscava conter o
frente aos objetivos de Washington. avanço chinês na região e minava os avanços da
integração sul-americana.
O Governo Obama e o Reposicionamento
Global dos EUA O impeachment de Dilma e a vitória eleitoral de
Maurício Macri reafirmaram a nova conjuntura,
A eleição de Barack Obama (2009-2016) em abrindo espaços para os EUA retomarem
2008 se deu em meio ao auge dos efeitos da crise mercados, com tratados comerciais bilaterais e
financeira iniciada em 2007. Em relação à América multilaterais, e espaço geopolítico, ao sondar a
do Sul, no período Obama, os EUA enfrentavam instalação de bases militares na Tríplice Fronteira
dois processos conjugados e complementares – entre Brasil, Argentina e Paraguai –, no Ushuaia
de ordem geopolítica e geoeconômica: de um e em Alcântara, no norte da Amazônia (Bandeira
lado, o aumento progressivo da penetração 2016). Esse período foi definido pelo Secretário
econômica chinesa nos países latino-americanos de Estado John Kerry como de fim da doutrina
e dos consideráveis avanços nas estratégias de Monroe, ou nos termos de Pecequilo (2017) como
concertação política e integracionistas na região, de mudança tática pró-cooperação, sem alteração
principalmente na América do Sul. do conteúdo estratégico de fortalecimento
geopolítico e geoeconômico dos Estados Unidos
Diante dos obstáculos hemisféricos, a política de no hemisfério.
Obama dividiu-se, conforme Pecequilo (2017),
em dois momentos distintos: um primeiro de A ascensão de Donald Trump ao poder e o
postura reativa, buscando abrir brechas para a Novo bloco de poder no Brasil
recuperação da influência perdida; e um segundo,
de ofensiva, no qual propôs reestruturações do Se a Política Externa dos Estados Unidos
jogo político em voga na região. Nesta primeira durante o governo Obama foi voltada à reafirmação
etapa, Obama fez reconheceu o Brasil como país do multilateralismo institucionalista liderado por
com um status privilegiado, enquanto liderança Washington, em um contexto pós-crise mundial de
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2007-8, a condução de política externa de Trump governo Trump, posicionando-se de maneira
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apresenta, em contrapartida, grande rejeição favorável às suas medidas protecionistas, porém
a uma Grande Estratégia dos EUA lastreada no o distanciamento do multilateralismo e a falta
liberalismo institucional. Nesse sentido, como de uma orientação econômica voltada à América
afirma Posen (2018), o conceito de “America First” Latina por parte do republicano frustraram as
representa a ascensão de uma Grande Estratégia expectativas brasileiras (Küster, s/d). Ainda nesse
baseada no Iliberalismo hegemônico, a partir da sentido, a postura de Trump dificulta o perfil de
qual, os EUA passam a defender uma política ação externa do Brasil. O esvaziamento crescente
externa isolacionista em grande medida, voltada das instituições multilaterais - como exemplificam
ao endurecimento das relações econômicas e a retirada oficial dos EUA do Acordo de Paris; a
securitárias com seus aliados e competidores. saída do Conselho de Direitos Humanos da ONU;
Essa política tem como centro a descrença nas as demonstrações de intenções intervencionistas
instituições, no livre-comércio e nos tratados na América do Sul, como evidenciam a hipótese
internacionais. de “opção militar” na Venezuela; a ameaça de
desfazer o acordo com o Irã; o reconhecimento
Já em janeiro de 2017, Trump retirou os EUA de Jerusalém como capital de Israel, ao optar por
da Parceria Transpacífica (TPP), reafirmando o mover a embaixada de Tel Aviv; impactam sobre
discurso defendido ao longo de toda campanha o histórico perfil da política externa brasileira
eleitoral. O TPP, assinado em 2015, ainda que que é lastreado na atuação ativa nas instituições
não houvesse sido ratificado pelo Congresso multilaterais e na busca por concertação. Outra
americano, reunia 40% da economia mundial ação de Trump que impacta sobre o Brasil é a
em uma complexa zona de regras comerciais, guerra comercial contra a China. A decisão de
composta por doze economias, do Canadá ao impor tarifas a diversos produtos chineses, que
Chile e do Japão à Austrália, e prometia ser o oscilam entre 10% e 25%, empurraram a China em
maior acordo comercial do mundo em termos direção a uma retaliação e corroboram para um
econômicos (Baker 2017). Além disso, era o pilar quadro de queda do comércio internacional. Em
central de contenção econômica da China. Em março, os EUA chegaram a anunciar tarifas sobre
agosto, EUA, Canadá e México negociaram um o produtos brasileiros (hard quotes), incluindo o
novo pacto, o Acordo Estados Unidos-México- aço, que por pressão de alguns setores industriais
Canadá (USMCA), que deve substituir o NAFTA dos EUA, foram revogadas em agosto. Em outubro
se for aprovado pelo Congresso americano, o de 2018, entretanto, Trump voltou a criticar as
qual estabelece novas e mais duras “regras de tarifas brasileiras, o que evidencia que o perfil
origem”, bem como demanda que grande parte de atuação externa do governo americano está
da produção seja realizada em fábricas com centrado na retomada da capacidade produtiva do
remuneração mais alta (Ward 2018). Embora país. É um movimento reacionário após quase três
tais medidas não afetem diretamente o Brasil, décadas de globalização e transnacionalização
demonstram o baixo interesse de Washington em das companhias americanas.
apostar no estabelecimento de grandes acordos
comerciais multilaterais. Essa postura dos EUA atinge mais diretamente
as relações comerciais com a China. As medidas
Michel Temer procurou aproximação com o anti-chinesas, contudo, não se restringem à esfera
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comercial, englobam as esferas securitária e já anunciou que vai procurar o alinhamento aos
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geopolítica. Para o Brasil, trata-se de confrontação Estados Unidos. Em novembro de 2018, Eduardo
entre os dois maiores parceiros comerciais do Bolsonaro, filho do presidente eleito, viajou a
Brasil e geram um quadro de difícil solução no curto Washington em busca de estreitar os laços com
prazo. Por outro lado, a China é a maior produtora de os EUA. Esse é um processo que pode representar
aço e exportadora para os Estados Unidos, porém a maior guinada na política externa brasileira nos
em hipótese de escalação das tensões, o Brasil últimos vinte anos. Ao longo da história brasileira,
poderia ocupar posição central na exportação de desde que os EUA se afirmaram como potência
aço para os norte-americanos (Kuster s/d). Mas hegemônica, todas as tentativas de buscar um
cabe destacar que a China é a responsável por alinhamento automático com os EUA em troca de
absorver grande parte da exportações brasileiras, benefícios acabaram por fracassar, como no caso
principalmente de produtos que dão sustentação dos governos Eurico Gaspar Dutra (1946), Castelo
econômica ao bloco de poder que dá suporte a Branco (1964), Collor (1989) e Fernando Henrique
Jair Bolsonaro - setor minerador e agro-exportador. Cardoso (1994). Assim, a busca por uma adesão
Além disso, o novo governo tem dado indícios de irrestrita aos EUA, através de uma política externa
rivalidade com o setor industrial, o que dificulta ideológica e não pragmática, pode dificultar a
essa hipótese do Brasil ocupar o espaço ocupado capacidade do Brasil de retomar um espaço como
pela China, mesmo que parcialmente. ator relevante no Sistema Internacional.

Além disso, a posição mais assertiva do Estados A orientação da Política Externa do novo governo
Unidos nas relações com a Venezuela, colocam será, novamente, de extrema importância para
o Brasil em uma situação mais delicada. O a inserção econômica internacional do Brasil.
apoio dos EUA a Juan Guaidó, autoproclamado A China tem sido um dos mais importantes
presidente da Venezuela colocam a região mais parceiros comerciais do Brasil e suas exportações
próxima de um cenário de intervenção militar. contribuíram para o crescimento econômico
Dentro do governo brasileiro, existem divergências de ambas as partes, porém o possível
acerca das respostas que devem ser dadas a esse redirecionamento do novo governo à diminuição
cenário, sendo os militares mais resistentes a uma dos acordos com Pequim - os quais haviam
intervenção militar no vizinho. Mais do que isso, asido alvo de críticas por parte do ex-candidato à
situação da Venezuela opôs os interesses, de um presidência - afetaria decisivamente a economia
lado, dos Estados Unidos, e, de outro, da China e da
brasileira. O governo chinês, em comunicado de
Rússia (essas contrárias à intervenção). Ou seja, outubro de 2018, alertou ao futuro presidente
mais uma vez, pode-se observar uma tendência que o rompimento dos acordos comerciais com
de deterioração do cenário externo para o Brasil. Pequim, ao estilo Trump, provocaria altos custos
econômicos para o Brasil. Contudo, a anunciada
Considerações Finais: perspectivas para as adoção irrestrita do ideário neoliberal por parte
relações Brasil-EUA no governo Bolsonaro do governo eleito pode impulsionar a compra dos
ativos nacionais por parte de estatais chinesas -
Ogoverno Bolsonaro, de caráter conservador, que demonstram interesse, especialmente, no
cuja ascensão baseada no apoio das redes sociais setor energético brasileiro.
e no uso de Fake News se assemelha a de Trump,
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Por fim, importa observar que, apesar da
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aparente postura errática do presidente dos
Estados Unidos, há um projeto de reafirmação
nacional conservador, calcado no acirramento
com as potências ascendentes e que contestam
a liderança e posição dos EUA - nos âmbitos
diplomáticos e econômicos - e na busca reacionária
pela retomada da capacidade industrial do país.
Por essa razão, a leitura por parte do novo governo
brasileiro de que a demonstração unilateral de
subserviência aos Estados Unidos pode colocar
o Brasil na condição de parceiro estratégico, não
encontra respaldo na atual conjuntura e momento
do Sistema Internacional. A tendência é que,
em caso de confirmação dessa perspectiva do
governo Bolsonaro, o Brasil não consiga obter
contrapartidas econômicas significativas por parte
dos EUA. Nesse sentido, cabe identificar quem
compõe o bloco de poder que dá sustentação
econômica ao novo presidente e quais seus
interesses. Se realmente o novo governo estiver
apoiado pelos setores ligados à mineração e ao
agronegócio, essa aproximação só contribuirá
para aprofundar a especialização da economia
brasileira no setor primário e consolidar a venda
de setores estratégicos ao capital internacional.
A esse quadro crítico, soma-se o fato de que do
ponto de vista estratégico, a possibilidade do Brasil
apoiar uma eventual política intervencionista na
Venezuela compromete de modo mais efetivo a
integração na América do Sul e afunda o Mercosul
como projeto econômico.

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Notas
-
4 No contexto de acirramento global, Visentini (2015) apontou o processo de pressão sobre as empresas brasileiras de
grande porte enquanto mais um estágio da reação norte-atlântica à ascensão dos países emergentes. Nesse sentido, o
escândalo de espionagem da National Security Agency (NSA) à presidente Dilma, em 2013, que estremeceu as relações
entre Brasil e EUA, corroborou com essa hipótese.

Referências
Baker, Peter. 2017. Trump Abandons Trans-Pacific Partnership, Obama’s Signature Trade Deal. The New York Times, Nova
York, 23 de Janeiro de 2017. https://www.nytimes.com/2017/01/23/us/politics/tpp-trump-trade-nafta.html
Bandeira, Luiz Alberto Moniz. (2016). “Estados Unidos quiere bases em Ushuaia y em la Triple Frontera”. Martín Granovsky.
Página 12. Junho 20, 2016. Buenos Aires.
Chade, Jamil. (2018). Em editorial, China faz alerta a Bolsonaro e diz que ‚custo’ pode ser grande para o Brasil. Estadão, Ge-
nebra, 31 de Outubro de 2018. https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,em-editorial-china-faz-alerta-a-bolsonaro-e-
diz-que-custo-pode-ser-grande-para-o-brasil,70002576662
Kuster, Filipe. O efeito Trump nas relações comerciais do Brasil. s/d. http://www.kustermachado.adv.br/o-efeito-trump-nas-re-
lacoes-comerciais-do-brasil/
Pecequilo, Cristina Soreanu. 2017. Obama e a América Latina (2009-2016): estagnação ou avanços? Monções: Revista de
Relações Internacionais da UFGD, Dourados 6, no.11 (Janeiro/Junho), http://ojs.ufgd.edu.br/index.php/moncoes/article/
view/6936
Posen, Barry R. 2018. The Rise of Illiberal Hegemony. In: Foreign Affairs, New York, (mar./abr. 2018). https://www.foreigna-
ffairs.com/articles/2018-02-13/rise-illiberal-hegemony
Visentini, Paulo Fagundes. 2015. O caótico século XXI. Rio de Janeiro: Alta Books.

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