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O traço mais marcante dos nossos tempos talvez seja a maneira como nos

rendemos todos ao trabalho e a um cotidiano repleto de tarefas tecno-burocráticas:


pagamento de boletos, bancos, formulários médicos, bulas de remédio e manuais de
instalação... estamos afogados num mar de chatice e tédio por todos os lados, e
nosso corpo - em grande parte dos casos - anda amortecido pelo cansaço do
trabalho extenuante e vazio, ou ainda pela sedação (BAITELLO JR.) das telas de
comunicação que capturam nossos sentidos.

As pessoas passam grande parte do tempo isoladas, ligadas aos meios de


comunicação eletrônicos - celulares, tablets, notebooks -, ou excessivamente
próximas a pessoas que não conhecem, incomodadas, tais como nos ônibus e
lotações superlotados das grandes cidades.
A questão é: nada nos convida a sentir, nada nos desperta por meio da beleza que
poderia nos chegar por meio dos sentidos, por uma aisthesis que nos faça sentirmo-
nos vivos e pulsantes.

Esse rebaixamento das vivências sensoriais, que nunca são convidadas para a festa
da produtividade tecno-instrumental, demasiadas vezes tem sido confundido com
depressão. Se pensarmos no sentido da palavra, depressão é uma queda, um
rebaixamento de nível de alguma coisa; falamos de depressão do terreno, de
depressão do nível do mar, etc.
Estaremos, de fato, todos deprimidos?

Sabemos do cuidado que é preciso para o estabelecimento de qualquer diagnóstico,


e como os diagnósticos têm sido apressados e perigosos; quanto antes nomeamos
um sintoma, antes temos a ilusão de que estamos no controle dele e perdemos o
que de fato ele veio nos dizer: seu sentido, sua mensagem para nós. Como
sabemos, a partir da ótica da Psicologia Junguiana, o sintoma é sempre uma parte
de nós mesmos que está sendo negligenciada e que, por isso, sofre. Mas adoramos
pensar em nossas dores como algo que não somos nós, que nos acomete de fora,
que podemos extirpar com medicações e com o efeito tranquilizador dos
diagnósticos.

O homem sempre usou a linguagem não apenas para atribuir significado ao mundo,
mas também para gerar a ilusão de que tem controle sobre aquilo que nomeia. As
artimanhas do Ego para sentir-se no controle da situação são vastas e poderosas, e
a indústria farmacêutica se tornou milionária aproveitando nossa tendência de
preferir maus diagnósticos a termos de lidar com a incerteza e procedermos à
autoanálise.

Sabemos que depressão clínica existe sim e é coisa séria, mas muitas vezes temos
de nos perguntar se o que se está considerando depressão não é depressão neste
outro sentido, que proponho: não estamos de fato sofrendo de um rebaixamento dos
sentidos? De uma desvitalização generalizada por conta de um estilo de vida próprio
das grandes metrópoles, que nos reduz a funcionários de um sistema de produção
(no sentido que propunha V. Flusser), para depois nos oferecer em troca apenas os
maravilhosos privilégios do consumo?

Os ativistas ecológicos, ao sinalizarem a crise dos recursos naturais, já fazem há


décadas o alerta para a impossibilidade de mantermos o estilo de vida consumidor
que, via de regra, considera-se desejado, sinônimo de "sucesso". As consequências
desse consumo desenfreado têm se tornado cada vez mais claras, especialmente se
lembrarmos dos recentes acontecimentos aqui no Brasil, dos crimes ambientais
geradores de catástrofes ecológicas sem precedentes. No entanto, não nos
perguntamos por nosso papel de consumidores-cúmplices e seguimos nas redes
sociais apontando responsabilidades que, podem ser de alguns principalmente, mas
são também um pouco de todos nós.

Afogados todos numa rotina de trabalho, consumo e estresse, refugiamo-nos para


os meios de comunicação eletrônicos, em busca dos paraísos sintéticos, dos
simulacros da vida, que a mídia nos oferece abundantemente, já que esse é seu
produto principal, ainda que disfarçado de notícias, vídeos, memes, e toda a espécie
de coisas.

O fato é que passamos praticamente todo nosso tempo livre conectados aos meios
de comunicação eletrônicos, num processo que faz as metáforas do filme Matrix
parecerem bem reais, principalmente uma das cenas iniciais em que os seres
humanos aparecem em cápsulas conectadas à Matrix, outro nome para a rede.
Recentemente, o termo "bolha" está sendo usado para se referir a esse ambiente de
conexões dentro do qual nos fechamos (ou pensamos nos fechar, enquanto de fato
somos presos).

Enquanto isso acontece, nossos sentidos estão literalmente deprimidos, já que os


meios eletrônicos convocam a participação à distância, apenas por meio dos
sentidos da visão e da audição. O tato, o paladar, o olfato, a propriocepção, os
sentidos de proximidade, que entram em ação nas situações vivenciais concretas,
presenciais, não são convidados para a cena da nossa consciência. Certamente
estão ali, resistem, mas cada vez mais perdemos consciência da vivência desses
sentidos. Comemos comida contaminada, a poluição do ar e o ar condicionado
perturbam o olfato, desaprendemos a dançar (toda criança nasce sabendo), e
desenvolvemos, em várias partes do mundo, uma crescente aversão ao toque, ao
abraço e, consequentemente, a formas mais naturais e espontâneas de
relacionamentos sexuais.
Recentemente, a notícia de que um novo tipo de profissional surgia, o abraçador -
pago para ficar por quanto tempo o cliente quiser abraçando-o e afagando-o
suavemente -, explicitou o grau de depressão dos sentidos que estamos vivendo,
essa baixa das vivências corporais e dos sentidos de proximidade, tão importantes
para a formação do Complexo de Ego estruturante, como aponta a teoria junguiana.

E o quadro vai se complexificando quando pensamos nas pessoas que se casam


com bonecas sexuais, no estrondoso acesso de pornografia pela Internet, na
crescente parcela de adolescentes em crise com seus corpos, devorados pelos
imperativos da imagem corporal, numa sociedade que só se realiza por meio das
imagens mediáticas. A lista de casos é longa e nos ronda nos consultórios, na
família, entre amigos, nas mensagens do Whatsaap.

O corpo não está apenas mortificado, ele está amortecido por um longo trabalho
histórico de sedação e abolição do tempo e do espaço da presença, trabalho que
serve a interesses econômicos e político-ideológicos muito claros, como já apontou
Max Weber (em Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo), ou ainda Dietmar
Kamper (em O Trabalho como Vida). O processo é muito claro, mas ninguém dele
se conscientiza. Saber não é o mesmo que ter consciência; a consciência demanda
vivência, exatamente essa vivência da qual estamos abrindo mão cada vez mais.

Por isso, talvez precisemos alterar o foco de análise acerca dessa onda depressiva
que assola a sociedade contemporânea e ao invés de corrermos para a próxima
medicação ou para a inclusão de uma nova síndrome, que será devidamente
medicada, claro, devamos nos perguntar, seguindo a perspectiva de James Hillman,
sobre como anda a Anima Mundi, e sobre como anda nossa alma, se unida ou
apartada de nosso corpo. Destruir a conexão corpo e alma foi uma das piores
perversões herdadas das religiões monoteístas, geradora de uma situação na qual
nos espelhamos em corpos sem alma - zumbis -, ou em almas sem corpos,
fantasmagorias, nome mais adequado às imagens técnicas da mídia, muito
diferentes das imagens artísticas, das imagens de culto, das imagens oníricas,
potentes e mobilizadoras de energia psíquica, como afirmou C. G. Jung.

Será preciso entender que fantasmagorias midiáticas não têm o potencial das
imagens que nos ativam a imaginação (CONTRERA), o trabalho da alma. São
espectros que nos transformam aos poucos em espectros também, por meio do
corpo cortado, ferido, bulímico, anoréxico, do corpo ferido e oprimido de todos os
modos possíveis.

Se nossa depressão é um rebaixamento aisthésico, dos sentidos corporais,


precisamos retomar essas vivências que, como escadas, nos tirarão desse buraco.
Mover-se, desfrutar, sorver as horas sem pressa, demorar-se nos pequenos e
essenciais prazeres, ter tempo para os estranhamentos, para a beleza das coisas e
das pessoas, para a delicadeza dos gestos. Entregar-se, não a um pseudo-
hedonismo que mais pode ser compreendido como uma simulação desesperada de
prazer, uma dessubjetivação do corpo (como propõe D. Le Breton), mas aos riscos
de estar vivo, e pulsar, e deixar que a vida nos aconteça, como dizia C. Lispector,
em suas crônicas escritas para jornais, nos quais ela bordava cada palavra com o
cuidado de quem pinta as asas de uma borboleta.

E para voltarmos à vida, precisamos encontrar nossa escada, nosso caminho de


volta, que não será feito de súbitas viradas, nem necessariamente de grandes
revelações - muito embora elas aconteçam mais vezes do que percebemos -, mas
de milhares de pequenos e grandes gestos, com o corpo, com a alma, com a
atenção e a fé de um animal que ensaia seus primeiros passos.

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