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1. Introdução
Art. 130. “Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato
libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está
contaminado: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.
§ 1º. Se é intenção do agente transmitir a moléstia: Pena – reclusão, de 1 (um)
a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 2º. Somente se procede mediante representação.
Conceito: Consiste em submeter alguém ao risco de contrair moléstia
venérea por meio de relação sexual, tendo consciência e vontade, sabendo, ou
devendo saber, que é portador da doença.
Objeto jurídico: SAÚDE, isto é, o ser humano, do ponto de vista da sua
incolumidade fisiológica.
O que é “moléstia venérea?” O art. 130 é norma penal em branco cuja
complementação deve ser buscada nos regulamentos de saúde pública, que
arrolam as seguintes doenças venéreas: sífilis, blenorragia, cancro mole ou
cancro venéreo simples, linfogranuloma inguinal ou adenite inguinal
superaguda. AIDS não é moléstia venérea, mas doença sexualmente
transmissível (DST).
Sujeito ativo: Homem ou mulher portador de moléstia venérea. O
exercício da prostituição não exclui o crime, porque a saúde é bem
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procedibilidade.
Art. 131: “Praticar, com o fim de transmitir moléstia grave de que está
contaminado, ato capaz de produzir contágio: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4
(quatro) anos, e multa”.
Conceito, ação física e elemento subjetivo. Distingue-se do tipo anterior
porque só admite modalidade dolosa, ou seja, deve necessariamente estar
presente o dolo específico de contagiar (dolo de dano). Portanto, é, de fato,
crime de dano e não de perigo. Abrange moléstias venéreas, quando
transmitidas por outro meio fora o contato sexual direto, e outras enfermidades
graves e contagiosas, tais como tuberculose, tifo, lepra, sarampo, febre
amarela, hepatite, entre outras.
A tipicidade configura outra hipótese de norma penal em branco, pois
sua descrição exige a complementação por normas de saúde pública, que
definem as doenças venéreas, doenças graves e contagiosas, exigindo a
notificação obrigatória do médico às secretarias estaduais de saúde. A
transmissão pode ocorrer de forma direta (aperto de mão, beijo, aleitamento,
etc.) ou indireta (por meio de utensílios, roupas, vasilhames, instrumentos,
objetos, etc.). Nesse ponto, difere do art. 130, que só se configura com o
contato direto. Se culposa a transmissão, há lesão ou homicídio culposo,
conforme o caso.
5. Abandono de Incapaz
“Art. 133. Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou
autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos
resultantes do abandono”. Pena: detenção, de seis meses a três anos.
Objeto jurídico: A norma visa proteger menores, anciãos, incapazes e
todas as demais pessoas com menores possibilidades de se defender
sozinho dos perigos da vida.
Sujeitos da infração:
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Sujeito ativo: todo aquele que tem o dever de zelar pela vítima. É,
portanto, crime próprio, porque exige essa qualidade especial do agente, que
é a relação de dependência com a vítima e o garante ou garantidor. Tal dever
de garantia decorre de:
1) lei;
2) contrato ou convenção (enfermeiros, médicos, babás, diretores de
colégio, guias de excursão, etc);
3) qualquer fato, lícito ou ilícito, capaz de gerar a dependência
(recolhimento de pessoa abandonada, condução de incapaz em viagem,
carona, caçada, etc).
O que se deve entender por cuidado, guarda, vigilância ou autoridade?O
que diz a doutrina? Nelson Hungria, “cuidado significa assistência a pessoas
que, de regra, são capazes de valer a si mesmas, mas que, acidentalmente,
venham a perder essa capacidade (Ex. o marido é obrigado a cuidar da
esposa enferma e vice-versa). Guarda é a assistência a pessoas que não
prescindem dela, e compreende, necessariamente, a vigilância. Essa pode
ser alheia (ex. guia alpino vigia a segurança de seus companheiros de
ascensão, mas não os tem sob sua guarda). Finalmente, a assistência
decorrente da relação de autoridade é a inerente ao vínculo de poder de uma
pessoa sob a outra, quer a potestas, seja de direito público, quer de direito
privado”.
Sujeito passivo: pessoa incapacitada para enfrentar sozinha os riscos do
abandono; quem não tem condições físicas ou psíquicas de cuidar de si. Não
é incapacidade civil, mas aquela decorrente da menoridade ou de outras
circunstâncias que inabilitem a vítima, total ou parcialmente, temporária ou
permanentemente, para defender-se, sozinha, do estado de abandono, tais
como menores, doentes físicos e mentais, velhos, ébrios, entre outros.
Eventual consentimento da vítima não exclui antijuridicidade ou culpabilidade,
pois a vida e a saúde são indisponíveis.
Tipo objetivo (ação física): abandonar, descuidar, largar ou desassistir.
Geralmente, é conduta omissiva (deixar de prestar cuidados indispensáveis),
mas admite forma comissiva, como ocorre se a vítima é levada para local
determinado para então ser colocada em situação de risco. É crime de perigo
concreto.
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7. Omissão de Socorro
8. Maus-tratos
9. Conclusão
subsidiária é de menor grau que a principal, ficando, pois absorvida por esta.
Tal raciocínio deve ser feito no caso concreto, nunca em abstrato.
A subsidiariedade pode ser:
a) expressa – quando a norma subordina, no próprio corpo da lei, sua
aplicação à não-aplicação de outra, de maior gravidade punitiva.
b) tácita – quando, segundo Damásio de Jesus, "uma figura típica
funciona como elementar ou circunstância legal específica de outra, de maior
gravidade punitiva, de forma que esta exclui a simultânea punição da primeira
(...)”
Voltemos, agora, ao conflito normativo proposto no início, analisando
primeiramente a aplicação do art. 132 do CP, antes da edição da Lei nº
9.437/97 , e em segunda análise, as alterações trazidas por esta à aplicação
daquele tipo penal.
O Código Penal brasileiro trata em seu art. 132 do crime de periclitação
da vida ou saúde de outrem, que consiste em "expor a vida ou saúde de
outrem a perigo direto e eminente", tendo como objeto jurídico o direito à vida e
à saúde das pessoas humanas.
O delito tipificado no art. 132 do CP tem como sujeito passivo qualquer
pessoa, sendo exigido apenas que este seja determinado, pois se trata de
crime de perigo individual, e não de perigo comum descrito nos arts. 250 e ss.
do CP. De acordo com o tipificado neste artigo, vários fatos poderiam ser
enquadrados no tipo penal, entre eles, o disparo de arma de fogo a pessoa
determinada, com o qual o agente tinha apenas a vontade livre e consciente de
expor a vida ou a saúde desta a perigo direto e eminente (elemento subjetivo
do tipo, representada pelo dolo de perigo). Situação diferente se fosse o
disparo feito a esmo, incidindo, pois o art. 28 do Decreto-Lei n.º 3.688/41 (Lei
das Contravenções Penais), que tratava da contravenção de disparo de arma
de fogo, rezando "Disparar arma de fogo em lugar habitado ou em suas
adjacências, em via pública ou em direção a ela: Pena – prisão simples, de 1 a
6 meses, ou multa." Funciona este dispositivo apenas como tipo subsidiário da
figura principal do art. 132 do CP. Assim entendiam nossos tribunais: TAPR:
"Comprovando-se, estreme de dúvidas, ter o réu voluntariamente disparado
seu rifle na via pública e local habitado, deve ser condenado como incurso no
art. 28 da Lei das Contravenções Penais, desclassificando-se a imputação
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inicial por crime de perigo, CP, art. 132"(RT 633/333); TJSC: "Se o disparo de
arma de fogo não foi dirigido contra a vítima, mas de forma tal que constitua
perigo comum, em local em que se encontravam diversas pessoas, justifica-se
a desclassificação do delito do art. 132 do CP para o art. 28 da Lei das
Contravenções Penais" (RT, 544/424).Em relação ao disparo de arma de fogo,
a situação sofreu alterações com a edição da Lei n.º 9.437 de 20 de fevereiro
de 1997, com a qual foi introduzido no nosso ordenamento jurídico um novo
delito – DISPARO DE ARMA DE FOGO, previsto no art. 10, § 1º, III do
seguinte teor: "III- disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado
ou em suas adjacências em via pública ou em direção a ela, desde que o fato
não constitua crime mais grave". Como efeito imediato da referida lei, tem-se a
criminalização da conduta de disparo de arma de fogo, com a revogação do
citado art. 28 do Estatuto das Contravenções Penais.
O crime de disparo de arma de fogo tem como objeto jurídico à
incolumidade pública; seu sujeito passivo seria um número indeterminado de
pessoas. Trata-se, assim como o tipo do art. 132 do CP, crime de perigo
presumido.
Acerca da problemática sobre o conflito aparente de normas, após a
edição da Lei n.º 9.437/97, deparou-se com a situação do agente que dispara
uma arma de fogo com a intenção de expor sua vida ou saúde a um risco
eminente de lesão, tendo o intérprete a dúvida quanto à adequação típica deste
fato – se estaria tipificado no art. 132 do CP, por se tratar de pessoa
determinada ou encontra o fato tipificado na conduta descrita na Lei em análise
no seu art.10, § 1º, III?
A questão se resolve pelo princípio da subsidiariedade, o sujeito da
situação descrita, apesar de praticar a ação nuclear contra pessoa
determinada, enquadra-se perfeitamente no art.10, § 1º, III da Lei 9.437/97,
pois o tipo se contenta com a produção do disparo para sua consumação,
sendo, segundo Fernando Capez, "presumido jure et de jure o perigo". Além,
deve o intérprete seguir a regra expressa de aplicação prevista no art. 132 do
CP – "(...) se o fato não constitui crime mais grave.", ou seja, sendo ao fato
"aparentemente" aplicado duas normas, uma delas a prevista art. 132 do
Código Penal, deve verificar a gravidade do delito a fim de se nortear sua
aplicação, como já decidiu o TJSP – "O crime de perigo de vida ou saúde de
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13.Referência