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Sumário:
1 Introdução
Nesse sentido, o tempo do processo deve se ater às exigências de tempo para garantir a
participação das partes, do tempo para a produção da prova e do tempo da
argumentação das partes.
Crê-se que, para se aferir o tempo no processo, não se pode estabelecer um critério
exclusivamente cronológico, pela contagem dos dias por meio de um prazo, mas
também não se pode deixar de fixar o parâmetro do prazo razoável, a partir,
exclusivamente, da construção da “teoria do não prazo” para se definir o tempo devido
no processo. Em especial, quando se analisa o tempo necessário para garantia dos
direitos fundamentais como liberdade, saúde e educação, é ainda mais perverso. Nesse
caso, discute-se o tempo de duração do processo, de forma reflexa, pois o que está em
jogo diretamente é a urgência em garantir os direitos fundamentais em risco.
2 Desenvolvimento
2.1 Tempo
Com relação ao tempo exigido pela própria razão de ser do processo, colacionamos em
razão de sua incomensurabilidade, o interessante magistério abaixo dos Professores
Flaviane de Magalhães Barros e Marcelo de Andrade Cattoni em exarado supracitado
artigo:
desde os gregos pela diferença entre Chronos e Aión, e que retorna na modernidade
através de um golpe de cena do tempo Kairológico, entendido como o tempo devido
(MARRAMAO, 2005a).
Nesse sentido, o tempo do processo deve se ater às exigências de tempo para garantir a
participação das partes, do tempo para a produção da prova e do tempo da
argumentação das partes. A tentativa de redução de complexidade do processo por meio
de um discurso de efetividade neoliberal (MARTINS, 2010, p. 70) desconhece justamente
que ao se concentrar todo um processo em um ato único e complexo como a audiência
de instrução e julgamento, se está reduzindo ou mesmo retirando o tempo devido da
argumentação (BARROS, 2009). Passa-se a exigir das partes e do juiz uma rapidez e
fluidez dos atos que segue a flecha do tempo em um sentido único, desconsiderando a
relatividade do tempo de reflexão, necessário para que se volte ao passado que se
discute e se reconstrói no processo.
Não são apenas as partes que são contaminadas pelo discurso de eficiência, celeridade,
de uma sequência temporal que não leva em conta o tempo devido, mas também a
decisão sem reconhecer que ela precisa de tempo, pois aqui se discute os direitos
fundamentais, a partir de uma estrutura dialógica que se constrói em contraditório, com
o debate das partes, e que se expressa na decisão, pela construção participada de
terceiro imparcial. Essa então seria uma segunda característica do tempo do processo,
em seu aspecto Kairológico.
Mas estudar tempo não é algo fácil, simples, seja para os físicos, para os filósofos ou
para os juristas. Em especial, é importante perceber, a partir da análise de Resta
(2008), que o processo jurisdicional e a decisão se voltam a dois tempos diferentes: o da
legislação e o da jurisprudência. Ou seja, o caso concreto que se discute e se reconstrói
no processo se submete a duas temporalidades que são paradoxais. A primeira que é o
tempo da legislação, que se pretende estático, pois pensado como o tempo
monologante, quer se voltar para o futuro para estabelecer novas previsões de
comportamento social, em um futuro pode ser visto como passado. Ou nas palavras de
Eligio Resta: “O direito regula o tempo sendo por ele regulado” (RESTA, 2008, p. 178).
Logo, no processo legislativo pode-se estar olhando para o passado para regular uma
questão de experiência ou se voltar para o futuro para tentar regular uma questão de
expectativa. Mas certo que o que é futuro para uma geração, e, portanto, expectativas,
será passado para outra, ou seja, experiência como propõe Resta (2008, p. 190), ao
interpretar Koselleck. Paradoxalmente, o tempo do legislador se conjuga e contamina
com o tempo da jurisprudência. Jurisprudência que se pretende atual, mas não vive
exclusivamente do presente, se volta para o passado e para o tempo do legislador,
olvidando-se de seu caráter hermenêutico de revisitação do direito a partir de uma
comunidade de princípios.
Crê-se que para se aferir o tempo no processo não se pode estabelecer um critério
exclusivamente cronológico, pela contagem dos dias por meio de um prazo, mas
também não se pode deixar de fixar o parâmetro do prazo razoável a partir
exclusivamente da construção da “teoria do não prazo” para se definir o tempo devido
no processo. Em especial, quando se analisa o tempo necessário para garantia dos
direitos fundamentais como a liberdade, saúde, educação, é ainda mais perverso. Nesse
caso, discute-se o tempo de duração do processo, de forma reflexa, pois o que está em
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jogo diretamente é a urgência em garantir os direitos fundamentais em riscos.
2.2 Processo
A primeira questão colocada pelo Ilustre Professor Mineiro Aroldo Plínio Gonçalves, na
crítica ao instrumentalismo, foi justamente a impossibilidade de se agregar uma ideia de
contraditório, como posição de simétrica paridade entre as partes que serão afetadas
pelos provimentos jurisdicionais, contrapondo a posição hierarquizada de um sujeito que
tem poder e outro que deve sujeição. Assim, a adoção e o desdobramento feitos por
Gonçalves da obra de Elio Falazzari, permitiu a revisão da teoria da relação jurídica
processual. Fazzalari, a partir de apropriações de teorias do direito público e processual
(fortemente influenciado por teorias do direito público, por administrativistas e também
por processualistas como Goldschmidt-1936), revisitou o conceito de processo e
procedimento, para estabelecer por meio de um critério lógico de inclusão, que o
processo é uma espécie de procedimento, que se especifica em virtude da posição dos
afetados em relação à construção do provimento final, que assim se realizaria em
contraditório, isto é, com a garantia de participação em simétrica paridade dos afetados
na construção do provimento. Sendo assim, é possível fazer uma crítica à teoria do
processo como relação jurídica, justamente em razão do lugar do juiz como
“super-parte”; e ao instrumentalismo, em virtude do solipsismo do juiz e dos escopos
metajurídicos do processo jurisdicional.
O processo para além da jurisdição faz com que a noção de teoria geral do processo,
sustentada nos institutos da jurisdição, ação e processo, pelo consagrado Professor
Cândido Rangel Dinamarco, em sua obra A instrumentalidade do processo, São Paulo:
Malheiros Editores, 1998, mostre-se não mais condizente com a atual evolução do
processo civil, principalmente ao se tomar como base a noção do processo como
garantia de direitos fundamentais, bem como por não percebermos mais essa tríade
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Reflexão entre tempo e processo
A noção de processo como garantia tem sua base na Constituição, sendo codependente
dos direitos fundamentais. Assim, atualmente o que sustenta a noção de processo como
garantia são os princípios constitucionais do processo.
Como mais uma vez ressaltam os Professores Italo Andolina e Giuseppe Vignera, na obra
acima mencionada, à página 11, sobre a compreensão de um modelo constitucional de
processo, “de modelo único e de tipologia plúrima ” , adequa-se à noção de que, na
Constituição, se encontra a base uníssona de princípios que definem o processo como
garantia, mas que, para além de um modelo único, ele se expande, aperfeiçoa e
especializa, exigindo do intérprete compreendê-lo tanto a partir dos princípios bases
como, também, de acordo com as características próprias daquele processo. Não se
trata de apenas de uma diferença entre procedimentos, no sentido de uma sucessão de
atos e fases processuais. Mais do que isso, é preciso perceber que, por mais que todo
processo tenha por base os princípios constitucionais – do contraditório, da ampla
argumentação, da fundamentação das decisões e da existência de terceiros imparciais –,
há diferenças entre processos, seja em razão do provimento pretendido, seja em razão
dos direitos fundamentais a serem garantidos.
participativa da decisão. Assim, o contraditório não é mais uma mera ação e reação das
partes, mas sim o espaço procedimentalizado para garantia da participação dos afetados
na construção do provimento. Assim, o contraditório, à luz do princípio colaborativo, tem
como característica o princípio da influência pautado na lealdade e boa-fé processual, no
sentido de que as partes têm direito e o dever de colaborar e influir argumentativamente
nas decisões do processo, ou seja, influir no desenvolvimento e no resultado do
processo. A colaboração e a influência geram a garantia de não surpresa, ou seja, de
não ser afetado por uma decisão sem participar de sua construção. Nesse sentido, a não
surpresa só pode ser retirada em casos excepcionais, mas o contraditório não é
suprimido e sim postergado, como ocorre nos casos excepcionais da Tutela Provisória,
que, por uma análise sistemática, histórica e teleológica, acreditamos que o art. 10, do
CPC (LGL\2015\1656), deveria ter previsto essa ressalva, como não o fez, esta talvez
seja a única interpretação viável deste, sob pena de desnaturar totalmente o instituto da
Tutela Provisória.
Pela interpretação que se pretende dar ao modelo constitucional de processo, fica fácil
aqui redefinir a própria compreensão do papel do terceiro imparcial, não como “super
parte”, ou “terceiro imparcial”, mas como uma figura que está no centro, não mais
acima das partes. Não se discute mais em termos de neutralidade ou mesmo das
implicações de suas escolhas de vida na formação do seu convencimento ou na dicção do
direito, pois, pela perspectiva do atual CPC (LGL\2015\1656), o juiz não é o único
valoroso intérprete do direito. A máxima do “me deem os fatos que lhe darei o direito”
está sendo revista, principalmente com a fusão entre civil law e commom law, ademais o
juiz reflete a própria argumentação e provas trazidas pelas partes. No caso, a
imparcialidade se garante pela exigência do esforço argumentativo das partes, que será
a base para se construir a decisão presente na fundamentação. Por isso que quando uma
decisão judicial permite uma abertura para a discricionariedade e para o subjetivismo do
juiz se afeta não só o contraditório, a fundamentação da decisão e a imparcialidade do
juiz, mas todo o processo.
Sendo assim, passamos agora a analisar a duração temporal do processo com especial
destaque sobre a tutela de urgência. Percebe-se que, no atual CPC (LGL\2015\1656), o
tema é tratado em dois artigos. O primeiro capítulo denominado “Normas fundamentais
do processo civil” trata da garantia da duração razoável do processo. O art. 4º dispõe
que: “As partes têm direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito,
incluída a atividade satisfativa”. Um pouco depois, o art. 8º dispõe que: “Todos os
sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha em tempo razoável
decisão de mérito justa e efetiva”, sendo que a primeira parte do art. 4º estabelece uma
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Reflexão entre tempo e processo
Isto posto, parece que a resposta ao bom uso da tutela de urgência reside nos termos
da jurisdição convencional da teoria do não prazo, já que ela poderia ser reconhecida
como um critério mais voltado a uma busca do tempo devido do processo. Para as cortes
de direitos humanos, inicialmente na Corte Europeia de Direitos Humanos e
posteriormente na Corte Interamericana de Direitos Humanos, a análise do prazo
irrazoável não se faz por um marco métrico específico, como dois anos, cinco anos etc.,
mas sim por critérios definidos com conceitos abertos que precisam ser concretizados
em cada caso concreto. Nas decisões mais recentes da Corte Europeia de Direitos
Humanos, como no Caso Mcfarlane vs Irlanda, decidido em 2010, confirmou-se o
entendimento, já consolidado desde a década de 1980, que pauta o prazo razoável pelos
seguintes critérios: complexidade do caso, comportamento da parte, comportamento das
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autoridades que diligenciam para tutelar os direitos em jogo no processo .
Chamamos atenção do perigo dos critérios formados por conceitos abertos definidos
pelas cortes internacionais de direitos humanos, que podem ser utilizados
argumentativamente em sentido contrário à pretensão de tais cortes que visam punir
violações de direitos humanos pelos Estados Membros. Ademais, percebe-se que a
demora em tempo irrazoável no processo é uma consequência do desrespeito aos
princípios do modelo constitucional do processo. Logo, o tempo devido deve se pautar
pelo respeito aos princípios do contraditório, da ampla defesa, fundamentação da
decisão e imparcialidade, com especial destaque para a tutela provisória, que muitas
vezes terá seu contraditório diferido em razão da medida de urgência ou evidência,
ademais, a própria lei processual prevê sua reversibilidade, responsabilização pelo uso
indevido das medidas, entre outros mecanismos para sua boa operacionalidade para
realização de um processo justo, eficaz e em tempo razoável, mas frisamos novamente,
que tais ideais só serão atingidos através de uma reflexão, reeducação e mudança de
postura de juízes, advogados, promotores, professores, para que a atual lei processual
possa refletir positivamente para as futuras gerações, sem continuar cometendo os erros
do passado, mas aperfeiçoando para abraçar o futuro com a devida cautela inerente a
que toda grande mudança pode infringir.
3 Síntese conclusiva
Vem à luz o novo Código de Processo Civil (LGL\2015\1656), Lei 13.105/15, observando
os princípios e novas tendências do processo civil moderno, no almejar de um processo
justo e eficaz conforme prelecionam os processualistas modernos, bem como mais
célere, como já previsto em nossa CF (LGL\1988\3), art. 5º, LXXVIII.
Percebe-se, com o advento do CPC de 2015, que o mesmo prima pela duração razoável
do processo, já respaldado na CF (LGL\1988\3), art. 5º, inc. LXXVIII, bem como no
Pacto de San José da Costa Rica, nos artigos, 7º, 5 e 8º, 1. Percebemos que o CPC
(LGL\2015\1656) não define um prazo mínimo ou máximo para a conclusão do processo,
que é algo elogiável, pois não cai na armadilha da medida do tempo cronológico, mas
isso não significa que o CPC (LGL\2015\1656) não está imune de se ater ao fator
temporal, visto que os Ilustres Professores, em artigo já citado, alertam sobre os males
da “síndrome da pressa”, que possa refletir negativamente na atuação jurisdicional. Haja
vista que o CPC (LGL\2015\1656) não impõe prazos pelo juiz de observância da duração
razoável do processo, fazendo apenas demarcações genéricas quanto ao tema, apesar
de isso ser um aparente contrassenso, uma vez que um dos critérios para a promoção
dos juízes, está diretamente vinculado a sua produtividade, medida entre outros critérios
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Reflexão entre tempo e processo
pelo tempo médio de duração do processo, conforme resolução n. 106 do CNJ, publicada
em 06.04.210. O que nos leva a refletir se as medidas de urgências podem ser usadas
desmesuradamente por juízes com propósitos de ascensão na carreira, e não de
prestação jurisdicional justa e eficiente.
Isto posto, parece que a resposta ao bom uso da tutela de urgência reside nos termos
da jurisdição convencional da teoria do não prazo já que ela poderia ser reconhecida
como um critério mais voltado a uma busca do tempo devido do processo. Para as cortes
de direitos humanos, inicialmente na Corte Europeia de Direitos Humanos e,
posteriormente, na Corte Interamericana de Direitos Humanos, a análise do prazo
irrazoável não se faz por um marco métrico específico, como dois anos, cinco anos etc.,
mas sim por critérios definidos com conceitos abertos que precisam ser concretizados
em cada caso concreto. Nas decisões mais recentes da Corte Europeia de Direitos
Humanos, como no Caso Mcfarlane vs Irlanda, decidido em 2010, confirmou-se o
entendimento, já consolidado desde a década de 1980, que pauta o prazo razoável pelos
seguintes critérios: complexidade do caso, comportamento da parte, comportamento das
autoridades que diligenciam para tutelar os direitos em jogo no processo.
4 Bibliografia
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 4. ed. ver. atual.
São Paulo: Malheiros, 2004. v. I.
GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. São Paulo: Ed. Saraiva, 2000.
v. 1, 2, e 3.
REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. 24. ed. 2. tir. São Paulo: Saraiva, 1999.
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Reflexão entre tempo e processo
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. 27. ed. São Paulo:
Saraiva, 2011.
1 Publicado emFUX, Luiz Fux; FREIRE, Alexandre Dantas Bruno; NUNES, Dierle; DIDIER
JR., Fredie; MEDINA, José Miguel Garcia; CAMARGO, Luiz Henrique Volpe; OLIVEIRA,
Pedro Miranda de (Org.). Novas Tendências do Processo Civil: Estudos Sobre o Projeto
de Novo Código de Processo Civil. Salvador: JusPodivm, 2014. v. 2. p. 567-581.
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