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John Baines
Auyantepuy Editores S.A. – 1987
ÍNDICE
Prólogo
Palavras de Isis
O Anticristo
Vivisseção do Sapiens
A Alma Coletiva da Espécie
Os estados orgiásticos – A conformidade com o grupo – A atividade criadora –
A união pelo amor
Ser ou Não Ser?
A Ilusão do Conhecimento Verdadeiro
A Ilusão da Liberdade
O Hermetismo
Os Buscadores
O poder do homem estelar não emana de seu “terceiro olho”, nem de “chakras”
ou “kundalini”. Tão pouco possui qualidades parapsicológicas. Como já o dissemos
antes, o hermetista sustenta que as qualidades parapsicológicas representam somente o
“deslocamento e projeção da energia da massa, pelo qual, quanto mais bestial seja o
sujeito, maiores serão as possibilidades de êxito. É por esta razão que as qualidades
parapsicológicas “funcionam melhor” quando o sujeito está experimentando fortes
estados passionais de tipo instintivo ou emocional, os quais intensificam ou multiplicam
a irradiação da energia da massa. Não existe nenhum mérito espiritual nisso, é apenas
uma feitiçaria inconsciente. O poder do hermetista emana de sua força espiritual, de sua
pureza, do domínio de suas paixões, da sublimação de sua energia animal, e da retidão
de suas intenções.
O homem estelar pode ter grandes problemas materiais em sua vida terrena, já
que sua enorme diferença de nível com a gente faz com que esta o olhe, instintivamente,
com desconfiança e temor, ao perceber um poder estranho que não sabe como
classificar. Perseguições e fracassos econômicos podem converter-se em obstáculos
sérios para o hermetista, cujo “reino não é deste mundo” e cujas habilidades não são as
que se destacam nessa terra em que o êxito social e econômico corresponde àqueles que
possuem uma conformação psicológica especial para isso. Não obstante, apesar de o
hermetista poder fracassar em algo, jamais dita experiência o abaterá e, se se empenhar
o suficiente, sempre terminará por vencer.
O homem estelar faz o bem, mas “olha muito bem a quem”. Presta sua ajuda na
medida de suas forças, mas somente a quem, segundo sua análise, efetivamente o
merece. Considera que ajudar a quem não tem o mérito é na verdade fazer-lhe um mal.
Se o apoio que oferece é mal utilizado ou nem aproveitado, volta a oferecê-lo duas ou
três vezes, mas não mais.
O homem estelar pode ser uma pessoa muito difícil de tratar, ou melhor, a mais
agradável do mundo. Acostumados a viver em um mundo de mentiras, hipocrisias,
enganos e falsidades, é um choque para alguns indivíduos estabelecer trocas com o
homem estelar, já que este é absolutamente genuíno, natural e autêntico, sem pregas
nem esconderijos de qualquer tipo. Sua sinceridade pode resultar insuportável para a
pessoa que se esconde atrás de incontáveis máscaras de personalidade. Tentou-se
explicar a simplicidade natural das ações do homem estelar dizendo que “quando come,
come; se pensa, pensa; quando fala, fala; se descansa, descansa”.
Não é um ser perfeito nem tem essa aspiração; como já dissemos antes, trata-se
de alcançar apenas uma “perfeição relativa” já que a perfeição absoluta não existe.
Apesar disso, ao conseguir sua mutação de homem estelar, terminou sua
ascensão ao Olimpo e é mais um habitante do monte sagrado; Semideus que não deseja
porém a divindade absoluta. No entanto, jamais terminará de estudar os mistérios do
Universo, os quais nunca poderá conhecer de maneira completa.
Talvez se pense que este é um caminho demasiado individualista em uma época
em que o mundo se volta cada vez e de maneira mais acelerada para uma estruturação
coletiva. Àqueles que tenham essa opinião, devemos observar que, se uma pessoa não
adquire primeiro a sua individualidade, ele é na realidade apenas um apêndice da
multidão, nada mais que um dos elementos formativos de um circuito, que por sua vez é
parte de uma grande máquina.
Compreendemos que existam indivíduos que, por haver fracassado no pessoal,
pretendam fundir seu eu indesejável com o coletivo das multidões, mas também tem
que existir a oportunidade de emancipar-se e desenvolver um eu superior até levá-lo ao
amadurecimento e realização plena. É preciso, para entender isso, diferenciar entre o
sujeito cujo egoísmo simples o leva a um individualismo cego e pernicioso para a
sociedade, e aquele que, havendo conseguido ser individual, tem muito claros seus
deveres para com a humanidade. Só quem chegou a ser livre pode ter uma consciência
coletiva verdadeira, mas conservando sua liberdade e autonomia plenas, sem ceder seu
cérebro a nenhum conquistador. Que diferença existe entre estar integrado à
humanidade por incapacidade de ser livre e unir-se a ela após haver alcançado a
liberdade!
Seria interessante considerar que o sapiens teme a liberdade justamente porque
esta envolve, precisamente, aquilo que não pode ter um animal que vive em rebanho:
individualidade inteligente. Pelo mesmo motivo, procura agrupar-se em movimentos
que não lhe exijam pensar ou tomar decisões. Ao contrário, o caminho hermético obriga
o sujeito a tomar em suas mãos a responsabilidade de sua própria vida, em vez de
transferi-la aos grupos sociais.
Do ponto de vista filosófico, podemos afirmar que “nada pode fazer pelo mundo
nem pelas pessoas aquele que não consegue primeiro sua própria existência individual”.
Aquele que “não é”, nada tem para dar. Pelo contrário, quando o hermetista chegou à
sua plena estatura individual, está em condições de ajudar a humanidade da única
maneira verdadeiramente eficaz: ensinando-lhe a viver sabiamente.
VISÃO GERAL
Podemos ver, através do estudo do hermetismo, como o sapiens perde o melhor de sua
vida não podendo obter para si mesmo os valores realmente perduráveis.A felicidade
que busca escapa-lhe das mãos e fica somente o gozo passageiro de um instante de
prazer. A compreensão deste fenômeno converte em geral o indivíduo em um
materialista cínico, cuja principal crença é que “tem que passar bem enquanto puder,
porque depois desta vida não tem outra”. Esta é, na verdade, a meta mais perseguida
pelas pessoas: “passar bem”. Apesar disso, pouco a pouco, ao avançar nos anos e em
experiência, a pessoa se dá conta de que não conseguiu de maneira nenhuma a
felicidade já que, se “passou bem”, estes momentos foram sucedidos por outros de dor,
sofrimento e vazio interior. Em geral, a pessoa pensa que lhe falta algo específico em
sua vida para ser feliz e que, ao consegui-lo, logrará sua ventura. Quando conseguem a
realização de seu desejo e continuam tão infelizes quanto antes, tornam-se a cada dia
mais materialistas e insensíveis, ou melhor, entregam-se a um misticismo religioso ou
filosófico irreal.
Nada é pior do que fazer um balanço daquilo que conseguiu da vida, além de
subsistir, sofrer ou gozar, ou o que conseguiu fazer pelos outros. O ingênuo pode
facilmente preencher sua coluna do haver com seus títulos profissionais, suas posses
materiais, seu dinheiro, sua família, ou os conhecimentos que conseguiu obter. Apesar
disso, a realidade é que o indivíduo não é dono de nada, a não ser que tenha a segurança
de que aquilo que possui perdurará. Somente pode, nas condições normais, fazer uma
lista das coisas que a vida lhe entregou para administrar e, mesmo assim, ignora o prazo
de expiração do dito mandado.
Na realidade, a pessoa obtém da vida, para si mesmo, apenas aquilo que pode
conservar indefinidamente, para além da morte. Isto (o obter algo para si) significa dar
um sentido individual à vida; representa ser dono de algo íntimo e pessoal que constitui
afinal o fruto da vida.
Cada um deve perguntar-se sobre qual o fruto que conseguiu obter da vida. Ou
será suficiente conformar-se com o viver? O que eu acho que consegui, será que
realmente o tenho? Ou pode desaparecer amanhã mesmo como uma bolha de sabão?
Muitos pensarão que este modo de refletir é muito egoísta, mas devemos pensar
que muito pior é não conseguir nada para si mesmo. Entregar tudo em troca do ar que
respiramos, do alimento e comodidade necessários para manter o corpo com vida, pode
ser muito romântico e poético, mas tremendamente inconveniente já que representa a
escravidão eterna. Ao dizer eterna, usamos essa palavra no sentido do tempo cósmico,
que comparado ao terrestre, é realmente interminável. Isso pode ser comprovado nos
sonhos, já que nesse instante o indivíduo tem acesso ao tempo cósmico e é por isso que
em trinta segundos terrestres pode sonhar o argumento de uma vida inteira, desde o
nascimento até a morte. Este mesmo conceito pode ser aplicado ao “tormento eterno do
inferno”.
Muitas pessoas zombam do hermetismo, ocultismo e tudo que é esotérico, mas
geralmente nenhuma delas teve uma experiência direta no assunto e falam somente pelo
que ouviram ou por preconceitos. Alguns se sentem orgulhosos de seu intelecto e se
apóiam em sua razão para desqualificar o hermético. É de esperar que aquele que o faz,
esteja absoluta e completamente seguro de que raciocinam efetivamente e que não caem
em alguma destas classificações do pensamento crítico:
1. Os que crêem estar despertos, sonham.
2. Os que imitam cegamente, depositando uma fé implícita em outras pessoas,
sistemas ou instituições, para libertar-se do trabalho de pensar por si mesmos.
3. Aqueles cujas paixões ocupam o lugar da razão. Se traçam uma linha com
antecedência e não dão atenção a qualquer raciocínio alheio nem próprio que
esteja fora desta linha, ou que acaricie seu estado de ânimo, vaidade ou interesse.
4. Aqueles que adoram suas próprias idéias como imagens sagradas. Nossas idéias
nos pertencem desde tempos imemoriais e ignoramos como se insinuaram
sutilmente em nosso cérebro. Não permitem jamais que alguém as profane ou
discuta.
Não podemos esquecer que em geral a maior parte do raciocínio do indivíduo
consiste em encontrar argumentos para continuar crendo no que já crê.
Outros negarão cegamente sua possível dependência de um “computador
central”, argumentando que “fazem o que querem” (não se dão conta de que querem
o que o computador central faz com que queiram). Basta analisar a fundo as
motivações individuais para compreender que tudo é feito sob uma pressão interna
ou externa. Idéias, sentimentos, impulsos ou ações são sempre compulsivas, jamais
nascem de um ato supremo de raciocínio superior e livre.
Uma razão geral para sustentar uma idéia da própria liberdade é o argumento de
mostrar uma grande lista de todas as coisas que foram realizadas na vida. Sem
embargo, cabe perguntar-se: fizemos verdadeiramente pelo nosso próprio desejo ou
nos obrigaram a fazê-las apesar de nós mesmos? Desejamos tal coisa, ou nos
obrigaram a desejá-la?
Tem algumas reflexões muito simples que deveriam levar qualquer um que
medite sobre elas à conclusão de que a escala de valores do sapiens está
tremendamente distorcida. Vejamos algumas:
1. A ciência não traz a verdadeira felicidade ao ser humano; só lhe traz
comodidade, prazer e técnica.
2. A inteligência não desenvolve nem forma “conteúdo” na pessoa.
3. A natureza interna do ser humano não evolui notavelmente no curso da
história.
4. O homem ignora a maior parte do que está relacionado à sua natureza
interior.
5. A espécie humana não tem com quem comparar-se, a não ser com os
animais, e por isso faltam-lhe pontos de referência com relação ao seu
próprio valor ou à sua verdadeira posição na escala cósmica.
Cada pessoa deve tirar suas próprias conclusões desses pensamentos.
É preciso considerar que o hermetismo não se dedica puramente a mostrar o
“quão mal” está o sapiens, nem o “pouco” que é, mas tem um plano bem definido para a
raça humana. O fato de assinalar que a verdadeira posição do sapiens como “um
animalzinho de pouco importância” diante da grandeza universal, e cujo único valor
reside na posse da chispa divina, tem um objetivo criativo e não destrutivo. Trata-se de
que a pessoa, através da reflexão, perceba a cela sem barras em que se encontra, já que
este é o único modo de nascer nela o desejo de escapar. Enquanto uma pessoa acreditar
que “está tudo bem” e que ele mesmo “está muito bem”, não haverá qualquer
possibilidade de que realmente evolua. Esta é a causa de muitos místicos terem sentido
nascer repentinamente sua inquietação espiritual, em geral depois de haver atravessado
experiências tremendamente dolorosas que funcionaram neles como um choque
positivo, despertando-os de sua letargia sonambúlica. O objetivo do sofrimento é fazer
com que desperte a consciência do indivíduo. Não obstante, há tantos que estão de tal
modo adormecidos que o sofrimento apenas os embrutece ainda mais, resultando
absolutamente improdutivo.
Há muitas pessoas que têm uma atitude puramente devocional com relação ao
hermetismo, pensando que basta “ser muito espiritual” para progredir no caminho e que
estas pessoas “espirituais” (de acordo com seu próprio conceito) seriam os mais
preparados para ascender a níveis superiores. Pensam que o avanço se consegue por
uma espécie de “contato” com o céu ou com “os poderes ocultos”, ou que basta
sacrificar-se servindo à humanidade para conseguir tudo.
Na verdade, a grande desvantagem do hermetismo está no fato de ser o caminho
da inteligência pura e se o estudante não desenvolve sua inteligência e consciência aos
níveis necessários, não há evolução possível. Outro obstáculo enorme para as pessoas
consiste na necessidade de trabalhar muito, já que o hermético é o caminho da “auto-
salvação” e ninguém quer salvar-se a si mesmo, seguramente por fraqueza ou preguiça.
Preferem ser “salvos por Cristo”, embora isto só se verifique em seus cérebros
alucinados; ser “salvos pela magia” ou pelos tripulantes de “discos voadores”. Um dos
motivos por que as pessoas não tomam a decisão de salvar-se é que não sabem do que
precisam salvar-se, pensando que tudo na terra é como efetivamente parece ser.