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Para iniciar este trabalho de forma franca, há de ser deixado aqui bem nítido qual o
sentido de Educação do Campo que será utilizado. Não estarei me referindo simplesmente a
uma educação que ocorre no território rural, mas sim a uma educação protagonizada pelos
sujeitos do campo, sendo o campo mais do que um perímetro não-urbano, este será visto como
um espaço de possibilidades, local de vida, de cultura. Neste conceito, o sujeito do campo não
será definido somente pelo espaço geográfico que habita ou pela produção de seu trabalho, este
sujeito terá sua identidade definida pelo sentimento de pertença e de um conjunto de fatores
que levem a construção de uma identidade coletiva, ou seja, sua vinculação com a realidade
(WANDERLEY, 2013).
Este pensamento de Educação do Campo tem tido ascenso nos estudos e pesquisas
atuais principalmente devido a um problema estrutural da nossa sociedade moderna em que,
segundo Martins (2008), se constitui em um caráter excludente e desigual da questão agrária
que concebe um sujeito camponês, expropriado, desvinculado da terra. De fato, a concepção
de educação rural predominante põe o campo como uma instância inferior de vida, rudimentar
e atrasada, em relação ao meio urbano (Ver figura 1). Essa questão da terra tem tido cada vez
mais evidência devido às problemáticas como: concentração de terras por meio de latifúndios,
desemprego, grandes plantações a base de monocultura que levam a degradação dos solos,
alterações climáticas, uso excessivo de agrotóxicos (só esse ano o Ministério da Agricultura já
aprovou o registro de 262 pesticidas), perda da biodiversidade, perda da soberania nacional
(tanto por conta da dependência tecnológica, como também pela entrega dos recursos naturais),
além de também conduzir a uma mudança de hábitos alimentares de toda a população levando
a problemas de saúde, etc. É um problema em cadeia, e a Educação do Campo pode ser a luz
no final do túnel, pois traz em seu âmago a crítica ao sistema atual e a esperança de que as
novas gerações de camponeses tenham perspectiva de vida no campo, assim, este pode ser o
começo de uma mudança, afinal usando uma frase muito conhecida de Paulo Freire: “A
educação sozinha não muda a sociedade, porém tampouco sem ela a sociedade muda”.
Figura 1: Reportagem do site G1, realizada em 2015, sobre a educação rural.