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Poder Judiciário
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO
APELAÇÃO/REMESSA NECESSÁRIA Nº 5000224-90.2018.4.04.7203/SC
RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL ROGER RAUPP RIOS
APELANTE: UNIÃO - FAZENDA NACIONAL (INTERESSADO)
APELADO: CLINICA CATARINENSE DE DERMATOLOGIA S/S LTDA (IMPETRANTE)
RELATÓRIO
"Ante o exposto, concedo a segurança, resolvendo o mérito, nos termos do art. 487, I, do CPC/2015, para
autorizar a impetrante a recolher o IRPJ e a CSLL incidentes sobre os serviços prestados, equiparados a
serviços hospitalares (à exceção das consultas médicas), tendo por base de cálculo 8% (oito por cento) e 12%
(doze por cento) da receita bruta, respectivamente, na forma dos arts. 15, § 1º, inciso III, alínea "a", e 20, da
Lei n. 9.249, de 1995, bem como para determinar à autoridade coatora que se abstenha de exigir a tributação
sob o percentual geral de 32% (trinta e dois por cento) e não obste o direito da Impetrante à compensação
dos valores recolhidos indevidamente àqueles títulos, respeitada a prescrição quinquenal, nos termos da
fundamentação, após o trânsito em julgado da sentença e seja observado o devido processo administrativo.
As importâncias recolhidas indevidamente deverão ser atualizadas monetariamente desde a data de cada
pagamento, segundo os índices de variação da SELIC, nos termos do § 4º do art. 39 da Lei nº 9.250/95.
Apela a União defendendo que, para fins do pagamento dos tributos com as alíquotas
reduzidas, a expressão "serviços hospitalares", constante do artigo 15, § 1º, inc. III, da Lei 9.249/1995,
deve ser interpretada de forma objetiva, já que o intuito da lei foi considerar a natureza do próprio serviço
prestado. Aduz que as modificações introduzidas pela Lei11.727/2008 não se aplicam às demandas
decididas anteriormente à sua vigência. Embora a impetrante tenha sido constituída sob a forma de
sociedade empresária, não comprovou o antedimento das normas da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária – ANVISA, ônus que cabia à parte autora, sobretudo levando em conta a impossibilidade de
dilação probatória no procedimento. Pugna pela denegação da segurança.
É o relatório.
VOTO
https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=1&numero_gproc=40000707947&versao_gproc=5&crc_gproc=4eb6fdb6&termo… 1/6
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Recebo o recurso de apelação interposto pela União, visto que adequado, tempestivo e
dispensado de preparo recursal.
A tributação favorecida no que toca ao IRPJ e à CSLL incidentes sobre receitas de prestação
de serviços hospitalares justifica-se pelo custo diferenciado de tais atividades, dada sua complexidade e
necessidade de alto investimento tecnológico e de pessoal.
Esta interpretação restritiva da norma foi afastada pela 1ª Seção do STJ, a partir do
julgamento do REsp n. 951.251/PR (DJe 03/06/2009), de Relatoria do Ilustre Ministro Castro Meira, que
firmou entendimento sobre a abrangência da expressão "serviços hospitalares", de que trata o art. 15, § 1º,
III, "a", da Lei nº 9.249/95, de modo que abrangessem aquelas atividades voltadas à promoção da saúde e
que tivessem custo diferenciado das simples consultas médicas, independentemente de serem
desenvolvidas dentro de instalações hospitalares ou de possuírem capacidade de internação de pacientes.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 535 e
468 DO CPC. VÍCIOS NÃO CONFIGURADOS. LEI 9.249/95. IRPJ E CSLL COM BASE DE CÁLCULO
REDUZIDA. DEFINIÇÃO DA EXPRESSÃO "SERVIÇOS HOSPITALARES". INTERPRETAÇÃO OBJETIVA.
DESNECESSIDADEDE ESTRUTURA DISPONIBILIZADA PARA INTERNAÇÃO. ENTENDIMENTO
RECENTE DA PRIMEIRA SEÇÃO. RECURSO SUBMETIDO AO REGIME PREVISTO NO ARTIGO 543-C
DO CPC.
2. Por ocasião do julgamento do RESP 951.251-PR, da relatoria do eminente Ministro Castro Meira, a 1ª
Seção, modificando a orientação anterior, decidiu que, para fins do pagamento dos tributos com as alíquotas
reduzidas, a expressão "serviços hospitalares", constante do artigo 15, § 1º, inciso III, da Lei 9.249/95, deve
ser interpretada de forma objetiva (ou seja, sob a perspectiva da atividade realizada pelo contribuinte),
porquanto a lei, ao conceder o benefício fiscal, não considerou a característica ou a estrutura do contribuinte
em si (critério subjetivo), mas a natureza do próprio serviço prestado (assistência à saúde). Na mesma
oportunidade, ficou consignado que os regulamentos emanados da Receita Federal referentes aos dispositivos
legais acima mencionados não poderiam exigir que os contribuintes cumprissem requisitos não previstos em
lei (a exemplo da necessidade de manter estrutura que permita a internação de pacientes) para a obtenção do
benefício. Daí a conclusão de que "a dispensa da capacidade de internação hospitalar tem supedâneo
diretamente na Lei 9.249/95, pelo que se mostra irrelevante para tal intento as disposições constantes em atos
regulamentares".
3. Assim, devem ser considerados serviços hospitalares "aqueles que se vinculam às atividades desenvolvidas
pelos hospitais, voltados diretamente à promoção da saúde", de sorte que, "em regra, mas não
necessariamente, são prestados no interior do estabelecimento hospitalar, excluindo-se as simples consultas
médicas, atividade que não se identifica com as prestadas no âmbito hospitalar, mas nos consultórios
médicos".
4. Ressalva de que as modificações introduzidas pela Lei 11.727/08 não se aplicam às demandas decididas
anteriormente à sua vigência, bem como de que a redução de alíquota prevista na Lei 9.249/95 não se refere
a toda a receita bruta da empresa contribuinte genericamente considerada, mas sim àquela parcela da receita
proveniente unicamente da atividade específica sujeita ao benefício fiscal, desenvolvida pelo contribuinte, nos
exatos termos do § 2º do artigo 15 da Lei9.249/95.
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5. Hipótese em que o Tribunal de origem consignou que a empresa recorrida presta serviços médicos
laboratoriais (fl. 389), atividade diretamente ligada à promoção da saúde, que demanda maquinário
específico, podendo ser realizada em ambientes hospitalares ou similares, não se assemelhando a simples
consultas médicas, motivo pelo qual, segundo o novel entendimento desta Corte, faz jus ao benefício em
discussão (incidência dos percentuais de 8% (oito por cento), no caso do IRPJ, e de 12% (doze por cento), no
caso de CSLL, sobre a receita bruta auferida pela atividade específica de prestação de serviços médicos
laboratoriais).
6. Recurso afetado à Seção, por ser representativo de controvérsia, submetido ao regime do artigo 543-C do
CPC e da Resolução 8/STJ.
A partir desses precedentes, o critério eleito passou a ser objetivo e concerne tão-somente à
natureza do serviço prestado, bastando que seja voltado à promoção da saúde e que possua custo
diferenciado de atividades de simples consultas médicas, não havendo necessidade de comprovar
internação de pacientes.
Com o advento da lei nº 11.727/2008, foi alterada a redação dos arts. 15 e 20 da Lei nº
9.249/95 que passaram a viger com a seguinte redação, in verbis:
Art. 15. A base de cálculo do imposto, em cada mês, será determinada mediante a aplicação do percentual de
oito por cento sobre a receita bruta auferida mensalmente, observado o disposto nos arts. 30 a 35 da Lei nº
8.981, de 20 de janeiro de 1995
[...]
b) para as pessoas jurídicas a que se refere o inciso III do art. 36 da Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995,
observado o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 29 da referida Lei;
[...]
Art. 20. A base de cálculo da contribuição social sobre o lucro líquido, devida pelas pessoas jurídicas que
efetuarem o pagamento mensal a que se referem os arts. 27 e 29 a 34 da Lei no 8.981, de 20 de janeiro de
1995, e pelas pessoas jurídicas desobrigadas de escrituração contábil, corresponderá a doze por cento da
receita bruta, na forma definida na legislação vigente, auferida em cada mês do ano-calendário, exceto para
as pessoas jurídicas que exerçam as atividades a que se refere o inciso III do § 1o do art. 15, cujo percentual
corresponderá a trinta e dois por cento.
O artigo 29 da Lei 11.717/2008 passou a vigorar a partir de 01/01/2009, nos termos do artigo
41, VI, do mesmo diploma.
Quanto à sua constituição, cabe salientar que Código Civil de 2002 trouxe distinção
essencial entre sociedade simples e sociedade empresária. A sociedade simples foi introduzida em
substituição às sociedades civis, constituindo pessoa jurídica que realiza atividade intelectual, de natureza
científica, literária ou artística, ainda que com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o
exercício da profissão constituir elemento de empresa (artigo 966, § único), contrapondo-se às atividades
empresárias, as quais se enquadram no conceito de empresa - conjunto organizado de meios com vista a
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exercer uma atividade quer produz e oferece bens/serviços, visando atender alguma necessidade humana.
As sociedades empresárias devem ter seu ato constitutivo inscrito no Registro Público das empresas
Mercantis (Junta Comercial) do Estado em que se encontram estabelecidas.
Restou comprovado nos autos que a parte autora está constituída na forma de "Sociedade
Empresária Limitada", com registro na Junta Comercial do Estado de Santa Catarina, desde
15/12/2017 (Evento 1, CONTRSOCIAL3).
No que diz respeito ao segundo requisito, a saber, a atenção às normas expedidas pela
ANVISA, tenho que deve ser flexibilizado. É que a regra constante da nova redação do artigo 15 da Lei nº
9.249/95 foi redigida de forma geral, deixando de especificar a quais normas está se referindo. Assim,
deve o julgador interpretar essa exigência levando em conta a finalidade da norma que consiste em
garantir tributação privilegiada aos estabelecimentos que, em razão da natureza dos serviços prestados
voltados à promoção da saúde, incorrem em maiores custos na sua atividade.
Nesse contexto, não é legítimo exigir que a empresa comprove atender às normas da
ANVISA. Uma vez que está em exercício regular de sua atividade e detém o alvará de funcionamento, há
presunção relativa de que está adequada às regras da vigilância sanitária. Caberia, desta forma, ao Fisco
trazer elementos que indiquem o descumprimento de tais regras.
No mesmo sentido, tem decidido a 2ª Turma desta Corte Regional: APELREEX 5003004-
65.2011.404.7003, 2ª T., Relatora p/ Acórdão Luciane Amaral Corrêa Münch, D.E. 29/06/2012;
APELREEX 5004670-86.2011.404.7105, 2ª T., Relator p/ Acórdão Rômulo Pizzolatti, D.E. 07/11/2012.
Repetição do indébito
Reconhecida a ocorrência de indébito tributário, faz jus a parte autora à compensação dos
tributos recolhidos a maior desde 15/12/2017 , conforme postulado na inicial.
Em face das alterações promovidas pela Lei n.º 10.637, de 30/12/2002, e legislação posterior
(Leis n.ºs 10.833/2003 e 11.051/2004), na redação do art. 74 da Lei n.º 9.430/96, a compensação de
indébitos tributários em geral deverá ocorrer (a) por iniciativa do contribuinte, (b) entre quaisquer
tributos administrados pela Secretaria da Receita Federal, exceto contribuições previdenciárias ou
destinadas a terceiros e precatórios, (c) mediante entrega de declaração contendo as informações sobre os
créditos e débitos utilizados, cujo efeito é o de extinguir o crédito tributário, sob condição resolutória de
sua ulterior homologação.
Da atualização monetária.
A atualização monetária do indébito pela SELIC, nos termos do art. 39, § 4º da Lei nº.
9.250/95, a qual engloba juros e correção monetária.
Dispositivo.
Documento eletrônico assinado por ROGER RAUPP RIOS, Desembargador Federal Relator, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei
11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do
documento está disponível no endereço eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código
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Informações adicionais da assinatura:
Signatário (a): ROGER RAUPP RIOS
Data e Hora: 30/1/2019, às 14:31:29
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RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL ROGER RAUPP RIOS
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EMENTA
2. A Lei nº 11.727/2008 impôs alterações ao artigo 15, § 1º, III, "a", da Lei nº 9.249/1995,
que passaram a viger a partir de 01-01-2009. Além do enquadramento da atividade como de natureza
hospitalar, outros dois requisitos passaram a ser exigidos, a saber: i) estar constituída como sociedade
empresária; ii) atender às normas da ANVISA.
4. Não é legítimo exigir que a empresa comprove atender às normas da ANVISA. Uma vez
que está em exercício regular de sua atividade e detém o Alvará de funcionamento, há presunção relativa
de que está adequada às regras da vigilância sanitária. Caberia, desta forma, ao Fisco trazer elementos que
indiquem o descumprimento de tais regras. Precedentes desta Corte Regional.
5. No caso dos autos, a impetrante presta serviços ligados à dermatologia, fazendo jus às
alíquotas reduzidas de IRPJ e CSLL nos percentuais respectivos de 8% e 12% sobre a receita bruta
(excluídos os serviços de consulta médica e atividades de cunho administrativo), nos termos dos arts. 15, §
1º, III, 'a', e 20, ambos da Lei n. 9.249/95.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, a Egrégia 1ª Turma do
Tribunal Regional Federal da 4ª Região decidiu, por unanimidade, negar provimento à apelação e à
remessa necessária, nos termos do relatório, votos e notas de julgamento que ficam fazendo parte
integrante do presente julgado.
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Documento eletrônico assinado por ROGER RAUPP RIOS, Desembargador Federal Relator, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei
11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do
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TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO
Certifico que este processo foi incluído na Pauta do dia 30/01/2019, na sequência 776, disponibilizada no DE de
15/01/2019.
Certifico que a 1ª Turma , ao apreciar os autos do processo em epígrafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a
seguinte decisão:
A 1ª TURMA , DECIDIU, POR UNANIMIDADE, NEGAR PROVIMENTO À APELAÇÃO E À REMESSA
NECESSÁRIA.
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