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dimensão trágica da vida Evangelho do domingo - 28 de setembro de


2014
19/5/2011 17:54:27 | Já leram (1378) Por Harold Segura
A religiosidade nos converte, em muitas ocasiões,
Por Júlio Zabatiero em pessoas autossuficientes.
+ detalhes

6:10 A tudo que aconteceu já se lhe deu o nome, e o caminho do


ser humano é conhecido, e eles não podem contender com quem
Eleições, voto e o esvaziamento da
é mais forte. 11 Palavras demais aumentam a nulidade, mas que democracia representativa
proveito há nisto para o ser humano? 12 Pois quem sabe o que é Por Ronilso Pacheco
bom para o ser humano durante os poucos dias da sua vida vã, os Este artigo trata de refletir sobre a urgência de
quais passam como a sombra? Quem pode declarar ao ser nossa democracia se reinventar, pensá-la para além
humano o que virá depois dele debaixo do sol? das eleições.
+ detalhes

7:1 Melhor a boa fama do que o unguento precioso, e o dia da


morte, melhor do que o dia do nascimento. 2 Melhor ir à casa do
A teologia e o público
luto do que à casa da festa. Este é o fim de todas as pessoas.
Por Nicolás Panotto
Quem está vivo, reflita sobre isto. 3 Melhor a angústia do que o A teologia tem lugar no espaço público, isto é,
riso; o rosto enlutado alarga o coração. 4 O coração da pessoa como um marco para analisar, compreender,
sábia está na casa do luto, mas o das insensatas, na casa da questionar e refletir os processos sociais, políticos,
festividade. 5 Melhor ouvir a repreensão do sábio do que atentar econômicos e culturais de um grupo?
+ detalhes
à canção do insensato. 6 Pois, qual o crepitar dos espinhos debaixo do caldeirão, tal é a risada do insensato.

Isto também é nulidade. 7 Ora, a opressão enlouquece a pessoa sábia, e o suborno corrompe a inteligência.

8 Melhor o fim das palavras do que o seu princípio; melhor a perseverança do que a arrogância. 9 Não te MAIS LIDOS
apresses em irar-te, porque a ira habita no coração dos insensatos. 10 Não digas: “por que os dias de outrora
eram melhores do que os de agora?” Não é sábia essa pergunta. 11 Boa é a sabedoria, como a herança, e Reino de Deus e espaço público
proveitosa para quem vê o sol. 12 A sabedoria é sombra em dia ensolarado, assim também o dinheiro; todavia, Por Júlio Zabatiero
o conhecimento é proveitoso, a sabedoria dá vida ao seu possuidor. + detalhes

13 Vê a obra de Elohim-Deus, quem poderá endireitar o que ele entortou? 14 No dia bom, desfruta do bem; no
dia da adversidade, reflete. Elohim-Deus fez tanto este como aquele, a fim de que o ser humano não consiga A reconciliação cósmica e o diálogo inter-
antecipar o que há de vir depois dele. religioso
Por Júlio Zabatiero
+ detalhes
Como ser simultaneamente otimista e trágico? (1) Acredito que este é um dos convites de Qohelet, um dos mais
enigmáticos livros da Escritura. Escolhi refletir um texto do Eclesiastes por duas razões: a primeira, por que é o
livro bíblico que me assombra desde tempos antigos, sobre o qual poucas vezes falei ou escrevi; a segunda, por Opostos que se atraem: Marco Wyllys e Jean
que a proposta de Eclesiastes, de uma visão otimisticamente (2) trágica da vida, pode ser de grande relevância Feliciano
para a atividade teológica em nossos dias. Se olharmos apenas com olhos trágicos para a nossa realidade, Por Clemir Fernandes
poderemos cair em profunda depressão diante de tanta violência, corrupção, falta de esperança e ausência de + detalhes
sentido nas práticas religiosas cristãs. Aceitaremos a derrota para o consumismo que, enfim, trouxe o fim da
história tão pregado e esperado por muitos. Se assim fosse, para que fazer teologia?
ELEIÇÕES | Democracia Versus Iniquidade: O
Entretanto, mesmo nos piores dias, um ínfimo raio de sol pode atravessar as densas nuvens tenebrosas que nos purismo religioso à disposição do retrocesso
deprimem e oferecer um pequeno sopro de esperança. É sobre este pequeno sopro de esperança que desejo democrático
refletir – a pequenina esperança de fazer teologia em dias tão obscuros. Pequenina, mas não por isso, Por Manoel Ribeiro de Moraes Jr.
+ detalhes
desesperadora. Pequenina, como o grão de mostarda da parábola de Jesus. Pequeno otimismo que, dialogando
com Leibniz, acredita que vivemos no melhor dos mundos possíveis; e trágico otimismo que, dialogando com
Nietzsche, não se aventura além do niilismo diante de tão inseguro mundo de conhecimentos e valores que
temos produzido. Talvez fosse melhor trocar a palavra otimismo pela pequenina palavra fé, de pedigree
teológico bem mais aceitável; mas, no caos religioso em que vivemos, porventura achará o Filho do Homem fé RECEBER Newsletter
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1. Prestando atenção ao texto

O livro de Eclesiastes é notoriamente difícil e complexo. Não é necessário ser um acadêmico da exegese para
perceber o quão desafiador é este livro. Não é à toa que é um livro pouco utilizado como base para sermões,
estudos bíblicos ou obras devocionais. Uma interessante e bem feita exceção é o livro de Ed René Kivitz, O livro
mais mal-humorado da Bíblia. A acidez da vida e a sabedoria do Eclesiastes (São Paulo: Mundo Cristão, 2009).
Quando voltamos a atenção aos comentários acadêmicos, o quadro é diferente. Não há falta de obras, mas as
hipóteses interpretativas são tão variadas que o usuário da bibliografia pode se desesperar diante da aparente
inviabilidade da tarefa de entender o Qohelet.

Algumas informações sobre a forma do livro podem ser úteis para nossa tarefa. O livro é de estruturação
complexa, aparentemente há mais de uma lógica estrutural regendo o texto: (a) uma lógica poética, que
constrói estruturalmente o texto a partir das assonâncias, aliterações, associações de vocábulos, similaridades
semânticas, contrastes, arranjos quiásticos, transições abruptas. Mesmo no Texto Massorético a orientação
estrutural (divisão em versos e capítulos, notação tônica e rítmica para a leitura, indicações numéricas sobre
versos e vocábulos) não é plenamente satisfatória para se captar os sentidos possíveis do texto. (b) Há outra
lógica, filosófica ou teológica, que atravessa a lógica poética, a desloca, se sustenta nela, mas não corresponde
ao seu projeto. Uma lógica eivada de contrapontos, tensões e contradições (“cruz, credo! que heresia!”), que
obrigam leitores de Eclesiastes a exercícios intelectuais desafiadores.

O trecho que serve de base para nossas reflexões é um bom exemplo dessas tensões. Seu início é 6.10 e seu
final (aparentemente) é 7.14. Os massoretas notaram que o verso 6.9 está exatamente na metade do livro –
verso que se encerra com um dos refrões trágicos do Qohelet: “Também isto é nulidade, e correr atrás do

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vento”, como que nos avisando “o risco é seu, se continuar lendo o autor não se responsabiliza por eventuais
danos”. À introdução em 6.10-12 corresponde, quiasticamente, uma conclusão em 7.13-14 – embora na
introdução não se mencione Deus (sua identidade está oculta nas formas passivas de alguns dos verbos), e na
conclusão o termo relativamente abstrato Elohim (e não YHWH, o nome pessoal do deus dos judeus, que não é
usado no livro) apareça duas vezes. O miolo da perícope, porém, pode ser analisado de duas maneiras, pelo
menos: podemos seguir o uso repetido da fórmula tov- (Melhor ...), que aparece sete vezes nos versos 1-8 e
dividir a seção em duas partes (1-8, 9-12), ou, unir o refrão trágico “isto também é nulidade” do verso 6b com o
verso 7, e notar uma estruturação também quiástica do miolo: 1-6a que têm como contraponto 8-12, com 6b-7
ocupando o centro estrutural da perícope como que nos avisando: não há nada melhor do que a sabedoria, mas
esta também é nulidade, os sábios também enlouquecem e o seu bolso também vale mais do que sua razão.

Filosofia/Teologia em linguagem poética de alta qualidade, que Haroldo de Campos se esforçou para recriar em
sua tradução e que vale a pena ser aqui lida, em busca da sensação estética do poema teológico de Qohelet:

Aquilo que foi já se proclamou o seu nome


E é sabido do húmus o homem
E não pode litigar
Com força maior do que a dele
Pois palavras demais névoa-nada demais
Que vantagem para o homem?
Pois quem sabe do bom para o homem na vida
Essa quota de números seus dias de vida-névoa-nada
E ele os passara feito sombra
Então ao homem quem lhe anunciará
aquilo que será no após-ele sob o sol?
Melhor um bom nome que um perfume nobre
E o dia de morrer que o dia de nascer
Melhor ir a uma casa onde há luto
Do que ir a uma casa onde há festa
Eis que esse é o fim de toda gente
E o vivente que o tenha presente no coração
Melhor sofrimento que riso
Pois em todo rosto amargo há coração largo
Coração de sábio na casa do luto
E coração de estulto na casa do prazer
Melhor escutar reprimenda de sábio
Que alguém dar escuta a cantilena de estulto
Pois como a urtiga estala sob o tacho quente
Assim estridula o riso do estulto
E também isto névoa-nada
Pois a opressão enlouquece o sábio
E suborno corrompe o coração
Melhor a palavra final
Que a primeira palavra
Melhor fôlego paciente que fôlego veemente
Não haja pressa em teu fôlego em se dar à cólera
Pois a cólera nas entranhas do estulto resta
Não digas como é
Que os dias de outrora
Eram melhores dos que o de agora
Pois não é sabedoria perguntares por isso
Bom o saber quando vem com posses
E aproveita a quem vê o sol
Pois à sombra do saber à sombra do dinheiro
E proveito da ciência
O saber dá vida ao seu sabedor
Vê a obra de Elohim
Pois quem poderá endireitar
O que ele entortou?
Em dia benéfico vive a benesse
E em dia adverso adverte
Tanto este como aquele Elohim os fez
Para um fim
Que o homem não devasse no após-ele nada.

2. Lutando contra o texto em busca de uma teologia da vida

Apesar do título pomposo desta seção, trato apenas de passos iniciais, pequenas pistas, busca das pegadas a
seguir. Interpretar Eclesiastes é combate, verdadeira agonia, fardo que aqui reparto.

2.1. Pensando contra a nulidade

Iniciemos com o centro estrutural da perícope: “Isto também é nulidade. Ora, a opressão enlouquece a pessoa
sábia, e o suborno corrompe a inteligência” (v 6c-7). Uma leitura universalista, abstrata, definiria o Qohelet
como um trágico pessimista (um pleonasmo?). Mas o texto só pode ser entendido se perguntarmos pelo seu
contexto, pelas questões que ele tenta responder. Assim, devemos perguntar: “Em que condições a reflexão
sapiencial é, ela também, apenas nulidade (névoa-nada)?” Em uma sociedade na qual a opressão e a corrupção,
daquela derivada, enlouquecem o sábio íntegro e patrocinam o sábio ínfimo. Qohelet escreve seu texto nos
tempos iniciais da dominação de Judá pelos helenistas. Tempo em que Judá experimenta uma das mais terríveis
crises de sua história. A opressão político-econômica não era nova, os judeus já a conheciam e até sabiam como
lidar com ela. O problema era outro: uma nova cultura se impunha ao povo dominado – cultura que anulava a
sabedoria dos sábios e transtornava a identidade dos entendidos. Esta nova opressão enlouquecia os sábios:
como refletir andando sobre areia movediça? Como discernir tateando em trevas assombrosas? Como manter a
integridade da reflexão, se a sábia função deveria ser comprada ao novo patrão? Nulidade. Niilismo (palavra de
nobre pedigree filosófico). Trágicos tempos, trágica vida a vida vivida na pós-modernidade helenista.

Qohelet faz sua filosofia/teologia em um tempo que decretara o fim das metanarrativas tradicionais israelitas.
Não mais Israel, e, sim, Yehud (província do Império Persa), não mais os eleitos de YHWH, mas meros bárbaros
que, enfim, receberam a dádiva da verdadeira sabedoria – a luz do helenismo e sua fatalista (relativamente)
filosofia. Não mais YHWH somente, criador e libertador; mas uma pluralidade de deusas e deuses
estranhamente humanos, ímpios, desconcertantes em sua ânsia dominadora ridicularizada pelos sábios saberes,
mas celebrada pelos podres poderes. Não mais justiça e solidariedade, a vida passa a ser vivida sob o signo da
opressão de governantes déspotas e da corrupção de elites locais sedentas de poder. No mundo helenista,
cargos eram comprados por dinheiro, desde os cargos de escribas almejados pelos sábios, até o cargo de sumo-
sacerdote, o dirigente maior da nação – que também seria o chefe da arrecadação de tributos religiosos. Em um
mundo tão estranhamente novo, os marcos de compreensão firmados pela tradição já não tinham mais valor. As

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certezas antigas da instrução de YHWH, ao invés de serem relidas e renovadas em seu novo ambiente, eram
substituídas por novas e helênicas normas e estatutos.

Isto, sim, isto é nulidade, afirmava o Qohelet – abandonar nossa história em favor dessa nova moda! Então
Qohelet ressignifica a tradição, a torá: seu texto (v. 7) é uma releitura de Êx 23.8 (Também suborno não
aceitarás, porque o suborno cega até o perspicaz e perverte as palavras dos justos) e Dt 16.19 (Não torcerás a
justiça, não farás acepção de pessoas, nem tomarás suborno; porquanto o suborno cega os olhos dos sábios e
subverte a causa dos justos) – em sua exegese, ele desloca o contexto jurídico de suas fontes e as aplica para o
contexto mais amplo da cultura e da política. Ao fazer isso, Qohelet nos oferece uma pista significativa para a
atividade teológica: trata-se de ressignificar a tradição, de efetuar deslocamentos e movimentos ousados, para
que o antigo tenha não só uma roupagem nova, mas se torne, efetivamente, novo! Trata-se de abraçar a
nulidade niilista e pensar à sombra da morte!

Em nossos dias é comum vermos dois tipos de respostas aos sinais dos tempos: (1) respostas conformistas,
desanimadas, pessimistas diante dos avanços do consumismo, do egoísmo, da pseudo-prosperidade. Já que
“tudo é vaidade”, vamos seguir a maré, aceitar a derrota e tocar a vida. Ou, então, (2) respostas militantistas,
já que o mundo vai de mal a pior, vamos arregaçar as mangas e trabalhar, vamos seguir a Bíblia de verdade –
mesmo que façamos pouco, esse pouco será transformador. É claro que esta segunda resposta é bem mais
interessante do que a primeira. Mas, se não acompanhada de profunda reflexão e ponderação sobre os caminhos
de Deus em nossos dias maus, a militância não passará de ativismo vazio. Quando não sabemos bem o que fazer,
é hora mais do que apropriada para pensar, refletir, para fazer teologia (3). É hora de não aceitar a nesciedade
da situação, nem a tentação da acomodação ao status quo. É hora de ser criativo, como diria, talvez,
Nietzsche. Hora de transvalorar os valores, de transtornar o mundo – não com as armas da hiper-ação, mas com
as da reflexão.

Hora para uma reflexão escatológica não apocalíptica, mas niilista. Não se trata de adivinhar o futuro, ou
prever os passos concretos para a realização da utopia. Trata-se, mais simplesmente, de discernir o que Deus
está fazendo aqui e agora, de notar a sua presença na névoa-nada do hoje que parece não ter mais fim. Hora de
encher de densidade o presente vazio da condição pós- ou hiper-moderna. Hora de voltar os olhos para a
tradição e ressignificá-la à luz do presente, abraçando a sua nulidade. Não é hora de meramente repetir os
acertos do passado ou fugir de seus erros. É hora de recriar o passado, reinventar o pensamento, renovar a
reflexão. É hora das pessoas sábias e inteligentes não abrirem mão da sabedoria e da inteligência, não
abandonarem a coragem de refletir, de pensar, de meditar, de dialogar, de discutir, de escrever, de fazer a
mente trabalhar intensamente. É hora de abraçar a nulidade com sagacidade. É hora de incorporarmos as
virtudes de pombas e serpentes, ou seremos meras ovelhinhas devoradas por famintos lobos depredadores. É
hora da Fraternidade Teológica ser ousadamente teológica – não somos guardiães de tradições ou de velhas
identidades. Somos criadores do novo, seguindo os passos do Deus que renova todas as coisas, mas não nos
entrega um mapa seguro e detalhado do caminho a seguir. Nossa vocação é fazer teologia, não reproduzir
teologias já feitas (mesmo que sejam as nossas ...).

2.2. Pensando a partir da morte

Mantenhamos o pensamento em movimento paradoxal. Paradoxos são a alma e o espírito do livro do Eclesiastes.
São a alma e o espírito da reflexão teológica. São o corpo da fé e da vida cristãs. Eis mais um paradoxo a que
Qohelet nos convida: se queremos compreender a vida, se desejamos fazer uma teologia em defesa da vida, a
partir do reino do Deus da vida, precisamos nos encantar com a morte. A convocatória do CLADE V nos convida a
teologizar sobre a vida, a partir da noção do reino de Deus. Convocação pertinente, desafiadora. Devemos
cuidar, porém, de não cair em uma armadilha teórica perigosa: pensar a vida a partir da vida, tentar
compreender a vida a partir daquilo que podemos ver a respeito da vida – ou parafraseando Heidegger, não
podemos fazer uma teologia da vida se pensarmos com meros instrumentos – se pensarmos com os critérios da
tecnociência que tem se tornado um saber dominador da vida.

Voltemos nossos olhos ao texto de Eclesiastes:

7:1 Melhor a boa fama do que o unguento precioso, e o dia da morte, melhor do que o dia do nascimento.
2 Melhor ir à casa do luto do que à casa da festa. Este é o fim de todas as pessoas. Quem está vivo, reflita
sobre isto.
3 MELHOR A ANGÚSTIA DO QUE O RISO; O ROSTO ENLUTADO ALARGA O CORAÇÃO.
4 O coração da pessoa sábia está na casa do luto, mas o das insensatas, na casa do prazer.
5 Melhor ouvir a repreensão do sábio do que atentar à canção do insensato. 6 Pois, qual o crepitar dos espinhos
debaixo do caldeirão, tal é a risada do insensato.

Vejamos novamente o que Qohelet nos ensina, desta vez focando em 7.1-6. Apesar de na introdução à perícope
(6.10-12) Qohelet afirmar que ninguém sabe, na vida, o que é bom, neste trecho ele nos confunde com a
repetição quíntupla do advérbio melhor. Paradoxo, talvez mesmo uma antinomia, uma contradição (que
pecado! Contradição na Bíblia!). Deixemos por um pouco em suspenso o paradoxo. Concentremos nossa reflexão
no que é melhor. O trecho é quiasticamente organizado. A chave está no verso 3: melhor a angústia do que o
riso: o rosto entristecido alarga o coração. Dois termos demandam nosso trabalho exegético de forma mais
intensa: angústia e coração. A maior parte das traduções tem, ao invés de angústia, o termo tristeza. Mas
tristeza é uma palavra pobre demais para dar conta do sentido do texto de Qohelet: estamos na casa do luto,
em pleno velório ou já no funeral – não é momento apenas de tristeza, é hora de angústia, é a hora em que nos
defrontamos com a única realidade efetivamente certa da existência humana, de nosso dasein no mundo, para
brincar com Heidegger – a morte, o fim, a extinção, a perda irreparável.

Ficamos tristes quando algo nos atrapalha a vida, mas não produz uma condição definitiva. A tristeza pode durar
a noite toda, mas a alegria vem ao amanhecer, diz um ditado bíblico. Não é este o caso aqui. Trata-se
efetivamente de angústia (4) – da sorge heideggeriana – trata-se do momento mais declaradamente niilista da
vida: a morte, que produz uma perda irreparável, irrecuperável. O termo hebraico ocorre poucas vezes na
Escritura: oito, para ser exato (se as concordâncias estiverem certas!). Em algumas vezes, se traduz por ira,
pois, nesses textos, a palavra se refere ao que provoca a ira – seja de Deus, seja de pessoas – daí o dever de
pensarmos a relação entra angústia e ira, talvez a ira como a angústia despejada sobre a causa dela mesma. Mas
os textos que nos interessam apontam mais claramente para a noção de angústia: “O filho insensato é angústia
para o pai e amargura para quem o deu à luz” (Pv 17.25); “Porque na muita sabedoria há muita angústia; e
quem aumenta ciência aumenta desilusão” (Ec 1.18); e “Remove, pois, do teu coração a angústia e remove da
tua carne o mal, porque a juventude e a primavera da vida são vaidade” (Ec 11.10).

A outra palavra importante aqui é coração. Para nós, coração tem a ver com sentimento, paixão, amor, amizade
etc. Para os antigos hebreus, porém, o coração é metáfora para o pensamento, não para o sentimento. As
metáforas corpóreas para sentimento são os rins, os intestinos, estômago, as entranhas. O coração na Escritura
judaica é intelecto, pensamento, reflexão, meditação. Daí a junção entre angústia e inteligência: quem medita
sobre a morte alarga o conhecimento, a visão intelectual da realidade. E, continuando com o paradoxo, é só
com as lágrimas do luto que o intelecto se humaniza. Habermas, grande intelectual da razão moderna, vez por
outra se lembra da religião e da fé, e afirma: a religião tem o potencial que nada mais tem na modernidade, o
potencial de nos fazer levar a sério o fracasso, a vida malograda. Ou, na linguagem bíblica, a lágrima nasce
quando o clamor de quem sofre nos atinge o ouvido e o coração. Isto a modernidade racional sufocou e nós

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7/10/2014 Novos Diálogos
precisamos trazer de volta ao centro da teologia: a lágrima e a oração.

Não se trata, é claro, de masoquismo, muito menos de sadismo. Trata-se de colocar as situações da vida em seu
devido lugar: o riso é importante, mas não pode ser mais importante do que a lágrima na busca do sentido do
existir humano no mundo criado por Deus. Viver é um direito inalienável, mas só entendemos a vida a partir da
morte – que não é um mero cessar de viver. A morte não é um vazio-vazio, é um vazio-cheio, é presença, talvez
a única onipresença que efetivamente exista. Mas a morte, aqui, é evocação de solidariedade, de lágrimas
identificadas com a dor do outro que morreu. O luto é o enfrentamento da morte, sem negá-la, mas abraçando-
a como parte da vida. Abraçar a morte nos faz pensar. Abraçá-la nos faz entender a condição humana – somos
criaturas, mortais, finitos. Abraçar a morte é sinônimo de abraçar a angústia que conduz ao cuidado de si
mesmo e do próximo, e este é um abraço que liberta, liberta do autoengano egocêntrico para o cuidado do
próximo.

Conclusão

Temos sido convocados para fazer teologia da vida, em adoração ao Rei da vida. Qohelet nos ensina a teologizar
a vida a partir das lágrimas e da oração (ambas companheiras do vazio niilista). Teologizar a vida em meio aos
seus conselhos para viver intensamente a vida, para aproveitar o dia bom, para abraçar o dia mau, para
experimentar a intensidade da vida em sua pluriformidade. Sabedoria e teologia, saber e conhecimento, não se
produzem sem oração e lágrimas. Sem abraçar o vazio, o niilismo tragicamente otimista de Qohelet, não
construímos saber teológico impactante. Abraçar o vazio, pois é nesse espaço indescritível que a
presençausente de Deus se manifesta para quem crê. Vazio que nos liberta da violência metafísica da presença-
onipresente, olho permanentemente vigilante que nos impede de viver intensamente a vida sem medo. Viver
intensamente a vida, refletindo à sombra da morte, eis o caminho otimisticamente trágico de Qohelet.

Notas
(1) Não entendamos tragédia, aqui, como acontecimento infeliz, desastroso. Pensemos no trágico como tropo
literário, como modo de entender a vida, de descrever a existência humana.
(2) Penso, por exemplo, na descrição que Juan Luis Segundo fez da vida em Fé e Ideologia, usando metáfora
gramatical: otimista é a pessoa que pontua a vida com vírgulas e não com pontos finais.
(3) O que não significa paralisação da atividade missional da igreja, nem cessação da espiritualidade. Reflexão
em meio à ação, reflexão durante a caminhada.
(4) Isto nos obriga a focar corretamente a questão, e não nos perdermos em uma inútil discussão sobre a
tristeza versus a alegria. No Eclesiastes, e na Bíblia em geral, a alegria é apresentada como sentimento positivo,
como força de vida, até mesmo como fruto do Espírito, segundo Paulo. Não se trata, então, de contrapor alegria
e angústia, mas de situar essas paixões adequadamente. Abraçar a angústia, o vazio existencial, é indispensável
para se compreender a vida. Tão indispensável quanto é a alegria para se viver intensamente a vida.

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Júlio Zabatiero
Júlio é Professor da Escola Superior de Teologia, em São Leopoldo-RS e Coordenador de Pós-Graduação e
Pesquisa da Faculdade Unida de Vitória. Participa do Conselho Editorial de revistas acadêmicas e também
atua como tradutor e revisor de tradução. É membro da Fraternidade Teológica Latino-Americana-Brasil.

Tags: Eclesiastes Bíblia teologia morte angústia vida alegria

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6 COMENTÁRIO(S)
20/5/2011 17:14:21
Fábio
Esste artigo tá mais para um livro. O louco! Quando ví o tamanho desanimei...não é preguiça não. Penso que os textos
aqui deveriam ser menores.

20/5/2011 18:28:52
Geraldo Magela de Oliveira-Silva
Júlio!!! Grata satisfação de ler sua reflexão! Ousada e intrigante! Pertinaz, pois não se acomoda com as meras exposições
já existentes sobre o texto... resignificou e deu sentido ao texto, evocando pensadores que o ambiente religioso
evangélico desconhece ou hostiliza. Convoca ao fazer teológico criativo (pleonasmo?), em meio a imensidão de
reprodutibilidade anacrônica e sem sentido tão marcante hoje. Tive esse sentimento, de prazer, ao ouví-lo na Consulta
teológica-2011 da FTL-Nordeste, em São Luís-MA. Agora, lendo, vejo a riqueza de sua exposição. Abração. Magela Oliveira
[Fortaleza-CE]

21/5/2011 15:59:59
Augusto
Concordo que o texto está grande demais.

http://www.novosdialogos.com/artigo.asp?id=567 4/5
7/10/2014 Novos Diálogos

21/5/2011 23:52:09
RICHARD ROGGE COÊLHO DOS REIS
Professor - Dr. Zabatieiro, das duas aulas de um verão em Natal/RN, apreendi tanto quanto em muitas noites nos bancos
de salas de aula. É preciso como dizes: "...de fazer a mente trabalhar intensamente". Fico até com medo de copiar e
colar, pois tem gente morrendo de medo de ousar construir novas opiniões e conceitos. De gastar e se deixar gastar em
meio a reflexão teológica, de ser riacho que corre fora do turbilhão da águas, é fácil se entregar a preguiça. Abração.
Richard Rogge [Recife/PE

22/5/2011 18:19:10
Joselito
Uma sugestão: Que tal publicarem uma versão "junior" dos textos aos leitores que reclamam tanto que eles são grandes? E
outra: tem outros textos mais curtos, tipo gibi, pra quem busca leituras do tipo "fast-food". Difícil agradar esses leitores
da era pós-livro...

22/5/2011 22:46:01
Fábio
Um texto para ser bom não precisa ser grande.

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