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CATARINENSE DE
PÓS-GRADUAÇÃO
Revista Leonardo Pós Vol. 1 n.2 - jan.-jun/2003
Órgão de Divulgação Científica e Cultural do ICPG
ICPG
ISSN 1518-230x 75

PARALISIA CEREBRAL E APRENDIZAGEM:


UM ESTUDO DE CASO INSERIDO NO ENSINO REGULAR

Ruth Anklam Hoffmann


Malcon Anderson Tafner
Julianne Fischer
Curso de especialização em Psicopedagogia

Resumo

Objetiva-se fazer, neste artigo, uma explanação sobre a Paralisia Cerebral, sua origem, seus graus, suas seqüelas, bem como relatar
uma experiência de inclusão no ensino regular de uma criança com paralisia cerebral. Objetiva-se mostrar que o papel do
educador, nessa nova perspectiva de ensino, é criar e buscar novas metodologias de ensino e fazer o que não sabe fazer, deixando-
se ensinar através do estranho, do novo, do diferente, bem como é, através da educação, capacitar o portador de Necessidades
Educativas Especiais para o aprendizado e para sentir o mundo verdadeiramente como ele é. Assim será possível romper com os
paradigmas obsoletos relacionados ao Portador de Deficiência, a ele proporcionando a oportunidade de uma participação ativa
no processo sócio-político-histórico-cultural da sociedade vigente e futura.

1. INTRODUÇÃO nossos olhos ou, ainda, a rápida retirada da mão quando tocamos
uma panela muito quente são exemplos de reflexos.
Ao verificar o contexto em que se está inserido, nota-se Toda mensagem nervosa, por mais rápida que seja, leva
que as escolas estão recebendo crianças portadoras de Necessi- um certo tempo para percorrer as neurofibras (fibras nervosas).
dades Educativas Especiais com o objetivo de incluí-las nesse Quanto mais afastado estiver o centro nervoso, mais tempo a
novo espaço social e adaptá-las ao convívio dos ditos normais e informação levará para chegar até ele. O sistema nervoso central,
vice-versa. A partir dessa realidade, cabe à escola promover con- então, pode ser comparado a uma central de comunicações que
dições para acolher essa nova clientela, reorganizando todo o seu recebe informações de todos os pontos e envia mensagens. O
Projeto Político Pedagógico. Principalmente ao educador compe- cérebro é o maior órgão do encéfalo e ocupa toda a caixa craniana.
te aprimorar seus conhecimentos e, conforme a necessidade, Não é constituído por uma massa contínua, mas no seu interior há
colocá-los em prática para propiciar aos educandos condições e cavidades, os ventrículos, que apresentam duas substâncias: uma
possibilidades para um saber/fazer, criativo, capaz de reinventar a branca central e outra cinzenta – o córtex cerebral – que fica na
história, numa nova direção de inclusão: a realização do homem superfície do cérebro.
como agente de transformação. De acordo com Fischinger 1970, a Paralisia Cerebral é um
O indivíduo com Necessidades Educativas Especiais, quan- distúrbio sensorial e senso- motor causado por uma lesão cere-
do estimulado, encorajado e aceito no âmbito social do qual par- bral, a qual perturba o desenvolvimento normal do cérebro. A
ticipa consegue, certamente, atingir resultados progressivos no perturbação é estacionária e não progressiva. O distúrbio do cé-
processo ensino-aprendizagem. Para estimular, faz-se necessário rebro é estacionário, mas o comprometimento dos movimentos é
conhecer a deficiência, garantindo, assim, sucesso em sua traje- progressivo quando não se faz tratamento. Por isso, é muito im-
tória vigente e futura. portante iniciar o tratamento, o qual objetiva corrigir os movimen-
tos executados erroneamente e, assim, obter movimentos mais
precisos e corretos. Esse tratamento é de suma importância nos
2. PARALISIA CEREBRAL
indivíduos com Paralisia Cerebral, pois o tonos dos músculos,
dependendo da complexidade da deficiência, podem apresentar-
O encéfalo e a medula espinhal são chamados, em conjun- se demasiadamente flácidos ou tensos. E o treino/exercício espe-
to, de sistema nervoso central. É ao sistema nervoso central que cífico permite ao indivíduo melhorar sua qualidade de vida.
chegam as informações sensoriais, e é dele que saem as ordens Tabaquim (1996) aborda as idéias de Tabith (1980) sobre o
destinadas aos músculos e às glândulas. envolvimento neuromuscular e apresenta sete categorias neuro-
Músculos como os das pernas, braços ou pálpebras obe- lógicas a ele relacionados. Dentre essas categorias estão a
decem à vontade do ser humano. Se não fosse assim, não poderia Espasticidade, a Atetose e a Ataxia.
se manter em pé nem conseguiria segurar objetos ou fechar os A Espasticidade constitui-se no quadro mais freqüente,
olhos quando desejasse. correspondendo a até 70% dos casos. Na criança espástica existe
Há, porém, situações em que esses mesmos músculos po- um comprometimento do sistema Piramidal com a Hipertonia dos
dem se contrair sem a participação da nossa vontade. Essas res- músculos, caracterizado pela lesão do motoneurônio superior no
postas totalmente automáticas são chamadas de reflexos. O pis- córtex ou das vias que terminam na medula espinhal. Ocorre um
car espontâneo das pálpebras quando um objeto passa perto de aumento de resistência ao estiramento que pode diminuir abrup-
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tamente. A espasticidade aumenta com a tentativa da criança para cerebelares. Manifesta-se por uma falta de equilibro e falta de
executar movimentos, o que faz com que sejam bruscos, lentos e coordenação motora em atividades musculares voluntárias. Há
anárquicos. Os movimentos são excessivos devido ao reflexo de sinais de tremor intencional e disartria. A ataxia pura na Paralisia
estiramento estar exagerado. Os músculos espásticos estão em Cerebral é rara e não é fácil de ser reconhecida no início. Há pouco
contração contínua, causando aparente fraqueza do seu condu- controle de cabeça e do tronco. A fala é freqüentemente retardada
tor antagonista às posições anormais das articulações sobre as e indistinta, havendo caracteristicamente a boca aberta e salivação
quais atuam. As deformidades articulares se desenvolvem e po- considerável. Corresponde a 10% dos casos.
dem com o tempo, se tornarem contraturas fixas. O reflexo tônico Levando-se em conta os membros atingidos pelo compro-
cervical pode persistir além de tempo normal, porém os demais metimento neuromuscular, pode-se ter:
reflexos neonatais, em geral, desaparecem durante o repouso de-
a) Paraplegia : comprometimento dos membros inferiores;
terminando, geralmente, posições viciosas ou contraturas em pa-
drão flexor. b) Triplegia: comprometimento de três membros;
Atetose é o comprometimento do sistema extra-piramidal; c) Quadriplegia: comprometimento de quatro membros;
o sistema muscular é instável e flutuante; numa ação, apresenta d) Hemiplegia: comprometimento de dois membros do mes-
movimentos involuntários de pequena amplitude. Os movimen- mo lado;
tos coréicos são golpes rápidos e involuntários presentes no re- e) Monoplegia: comprometimento de um membro compro-
pouso e aumentam conforme o movimento voluntário. O controle metido;
da cabeça é fraco, e as respostas a estímulos são instáveis e
f) Hemiplegia Dupla: comprometimento de dois membros
imprevisíveis. Os seus portadores apresentam um quadro de
do mesmo lado e de mais um membro superior.
flacidez e respiração anormal. Corresponde de 20% a 30% dos
casos. O grau de incapacidade ligado ao transtorno
neuromuscular pode ser leve, moderado e severo, conforme mos-
Ataxia é o comprometimento do cerébro e das vias
tra a Tabela 1.
Tabela 1 – Graus de incapacidade ligados ao transtorno neuromuscular

Global (grau de Motor Motor Cognição Fala Social


incapacidade) Grosso Fino

Leve Marcha Sem QI + 70 Mais de Independente


independente prejuízo duas palavras

Moderado Marcha Função QI 50-70 Palavras Assistido


com ajuda limitada isoladas

Severo Sem Sem QI 50 Indistinta Dependente


locomoção função
Fonte: Minear (1956).

Indivíduos portadores de Paralisia Cerebral com compro- Em muitos casos de Paralisia Cerebral, há limitação intelec-
metimento global leve movimentam-se com independência, reali- tual em graus variáveis, e a maioria dos que apresentam inteligên-
zam atividades motoras finas, como desenhar, encaixar, recortar cia normal têm dificuldades na vida acadêmica. No entanto, em
etc., constroem frases com mais de duas palavras, e demonstram função de fatores biológicos (processo de maturação do Sistema
uma boa adaptação social. Seu desempenho intelectual favorece Nervoso), fatores ambientais e circunstanciais (estimulação e re-
a aprendizagem acadêmica. cursos), certas características decorrentes da condição física
Sujeitos com quadro moderado apresentam dificuldades limitadora podem se modificar. Quando se ensina a uma criança
na locomoção, sendo necessário suporte material e/ou humano. com desenvolvimento a adquirir o controle das necessidades bá-
A motricidade fina é limitada, executando atividades sem domínio sicas como comer, vestir-se ou lavar-se, é necessária assistência
do freio inibitório. Utiliza palavras - frases na comunicação verbal. durante algum tempo até que ela possa fazê-lo sozinha. O com-
Nas atividades da vida diária, necessitam de manutenção e de portamento reativo de resistência e cooperação pode ser obser-
assistência. Os aspectos cognitivos limitados parecem dificultar vado através dos movimentos de braços, pernas, cabeça e do
o desempenho escolar. próprio tronco. As habilidades para equilibrar-se promovem o
ajustamento de posturas desconfortáveis enquanto está sendo
As pessoas paralíticas cerebrais com dependência total
manuseada.
ao nível da motricidade grossa e fina, com linguagem e fala com-
prometidas, demonstram capacidade intelectual severamente Considerando que a criança adquire o conhecimento atra-
prejudicada.Por capacidade intelectual deve-se entender a pos- vés da exploração do meio, da manipulação de objetos, da repeti-
sibilidade de expressão da capacidade mental. Não existe relação ção de ações e do domínio do próprio esquema corporal com
direta em “quanto maior o transtorno motor, maior o déficit men- relação a situações de perigo, ela necessita do controle
tal”, principalmente porque não é previsto, no quadro da Paralisia maturacional do Sistema Nervoso. Portanto, a criança com Parali-
Cerebral, o déficit mental. Se houver, ele terá patogenias associa- sia Cerebral pode ficar mais limitada ao pensamento e menos limi-
das. tada à execução do mesmo, perdendo oportunidades concretas
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de viabilizar ampliações no seu repertório. 2.1 ESTIGMAS MAIS EVIDENTES DOS PARALISADOS CERE-
A associação, a mielinização e a riqueza de neurônios são elementos BRAIS
que determinam, em parte, a evolução da linguagem e da aprendiza-
gem. A gravidade vai desde uma mínima alteração de pronúncia ou
Um dos principais preconceitos que o Paralisado Cerebral sofre é o
articulação até a ausência de linguagem. Dislexia e disgrafia são
ser confundido com portador de deficiência mental, por ter dificul-
comuns na fase escolar. A Paralisia Cerebral pode dificultar a aqui-
dade de comunicação, descoordenação motora, movimentos
sição da linguagem, embora possa contar com as composições de
involuntários, imagem bizarra pelo tônus muscular anormal, entre
que o Sistema Nervoso seja capaz e com os movimentos automáti-
outras, conforme a região do cérebro afetada. A Paralisia Cerebral é
cos conduzindo à possibilidade de controle, contribuindo para a
conseqüência de uma lesão do cérebro e não da coluna vertebral,
reeducação. (TABAQUIN 1996, p.32) como vimos anteriormente, o que reforça a falsa idéia de que todos
Na linguagem escrita, a recepção dos símbolos gráficos os que portam esse tipo de deficiência são também portadores de
deficiência mental. Além disso, existe uma parcela de paralisados
poderá, teoricamente, não representar dificuldades para o porta-
cerebrais que efetivamente apresentam deficiência mental, o que
dor de Paralisia Cerebral. Entretanto, como toda expressão neces- reforça ainda mais o preconceito. No entanto, essa incidência é
sita do ato motor, a demonstração do aprendizado poderá ficar muito rara. (SATOW, 1995, p. 25)
comprometida. Portanto, é necessária uma revisão contínua dos
Além desse estereótipo, o Paralisado Cerebral é portador
procedimentos de ensino empregados, visando à identificação
de outros significados falsos, como de doença contagiosa e/ou
das variáveis envolvidas no processo da aprendizagem de leitura
portador de alguma anomalia hereditária, o que é uma inverdade,
e escrita.
pois a Paralisia Cerebral é ocasionada por alguma doença, como
Defeitos visuais afetam 50% das pessoas portadoras de visto anteriormente.
Paralisia Cerebral. O Estrabismo, que é a inabilidade de focar os
Há, também, a questão da imagem do Paralisado Cerebral
dois olhos ao mesmo tempo sobre o objeto, é o problema mais
que o torna ainda mais distante dos padrões considerados belos
comum.
ou aceitáveis pela sociedade, provocando certa repulsa e/ou cons-
Convulsões são relativamente comuns, mas não contra- trangimento nas pessoas que com ele se deparam.
indicam a participação em esportes. 25% dos atletas norte-ameri-
O próprio termo “Paralisia Cerebral” dá margem para a atri-
canos tomam medicamentos para controlar convulsões.
buição de identidade errônea a seus portadores. Quem ouve o
A etiologia da Paralisia Cerebral é variada, incluindo tudo termo e não tem informação alguma acerca dessa deficiência pen-
o que possa afetar o cérebro imaturo. Aproximadamente 90% das sa que se a pessoa porta Paralisia Cerebral, ela está com o “cére-
lesões ocorrem durante a gestação ou o nascimento. As causas bro parado” e, conseqüentemente, sem o poder de pensar e agir.
mais comuns são infecções maternais (aids, rubéola, herpes), to-
Não é comum pessoas portadoras de deficiência saírem às
xinas químicas (álcool, drogas, tabaco, drogas não prescritas por
ruas e terem uma vida participante como cidadãs e/ou serem mili-
médicos) e lesões na mãe grávida. A Idade maternal está associa-
tantes pela causa daquele em situação semelhante à delas: em
da à Paralisia Cerebral, com risco aumentado para mães abaixo de
geral faltam-lhes meios ou acesso a tratamento adequado para
20 anos e acima de 34 anos. Prematuridade e baixo peso ao nasci-
enfrentarem seu meio social. Quanto aos que se tornam visíveis,
mento aumentam a incidência de Paralisia Cerebral, como também
freqüentemente, são encarados como “super-homens”, o que não
condições que causam a falta ou insuficiência de oxigênio no
deixa ter um fundo de verdade nas atuais condições de vida no
cérebro durante o nascimento.
Brasil, pois conseguem ganhar a luta cotidiana contra as pres-
Aproximadamente 10% de casos de Paralisia Cerebral ocor- sões sociais, contra a tentativa da negação da identidade
rem após o nascimento: por traumatismo direto ao cérebro causa- preconceituosa que a sociedade tende a lhes imputar e a favor da
dos por acidentes ou violência infantil, infecções do cérebro identidade que eles, portadores de deficiência, querem conquis-
(encefalite, meningite), toxinas químicas (envenenamento do ar), tar para si e para os outros em condições semelhantes, porque só
falta de oxigênio (também conhecida como causa da “morte súbi- assim obterão seu status de pessoa humana.
ta de berço”.)
Além dessa batalha externa há uma outra, interna, que é a
Por ocasião do X Congresso Nacional de Paralisia Cerebral realiza- de se assumir na própria condição de portador de deficiência,
do em São Paulo, uma reportagem de semanário paulista admitindo os “preconceitos” que carrega sobre si mesmo e sobre
(Ortiz,1989), apoiando-se em informações dos especialista presen-
tes, estima que ‘a cada mil crianças que nascem no Brasil, seis são os outros em igual situação de “minoria”, trabalhar pela transfor-
portadoras de Paralisia Cerebral. No total, mais de 17 mil bebês por mação de sua identidade pessoal e pela construção de uma nova
ano têm lesões variadas no cérebro que podem comprometer para identidade social, através da reflexão e ação em busca de sua
sempre partes diferenciadas do corpo’, sendo que, para a América
humanização.
Latina os índices são semelhantes.
Na mesma reportagem, Dr. Ivan Ferraretto, diretor clínico
da Associação de Assistência à Criança Defeituosa – AACD -, 3. UM ESTUDO DE CASO
explica que cerca de 60% dos casos de Paralisia Cerebral seriam
evitáveis, ou diagnosticados mais rapidamente permitindo me- Sabe-se que toda criança tem o direito de freqüentar uma
lhor tratamento, com a presença de um pediatra na sala de parto, escola, na qual seja aceita e tratada com respeito e carinho, po-
além do acompanhamento pré, peri e pós – natal dado à mãe da dendo, assim, desenvolver-se de forma integral. Partindo desse
criança. Aliás, esta é uma das principais recomendações da Asso- princípio, evidenciou-se que isso nem sempre acontece, pois,
ciação de Paralisados do Brasil. Estima–se que apenas 20% dos quando foi criada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, em
Paralisados Cerebrais no país recebem reabilitação através de di- 1996, para incluir no ensino regular crianças com Necessidades
versas instituições; desses, 42% recebem tratamento na AACD. Educativas Especiais, muitos rumores contrários a essa atitude
(SATOW, 1995, p. 22 – 23) surgiram. Certamente, essa repugnância referente à Lei foi ocasi-
onada justamente pela falta de conhecimento dos profissionais
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da área da educação em relação ao trabalho diferenciado que ne- Nada conseguia copiar do quadro para seu caderno. Como
cessitaria ser desenvolvido com essas crianças. usava óculos, aparentemente de alto grau, supôs-se que esse
Percebeu-se então, que o educador e toda a equipe educa- poderia ser o problema. PC foi encaminhada a um oftalmologista.
cional, além de reconhecerem e responderem às necessidades Averiguou-se que somente um olho possuía 60% de visão, e que
diversificadas de seus educandos, assegurando a qualidade da o outro estava praticamente incapacitado. Como forma única de
educação para todos mediante currículos adequados, mudanças tratamento, o oftalmologista prescreveu novos óculos, alterando
organizacionais e estratégias de ensino, precisam, urgentemente, os graus. Por causa do diagnóstico realizado, PC foi colocada
resgatar o AMOR à PROFISSÃO e uma enorme vontade da BUS- mais próxima ao quadro-negro. Transcorridos alguns dias, notou-
CA DE INFORMAÇÕES, objetivando vencer este novo desafio se que esse procedimento de nada adiantara. Resolveu-se trocar
que é dar oportunidades a essas crianças que sempre estiveram à a letra cursiva pela caixa alta. Dividiu-se o quadro-negro ao meio:
mercê da sociedade. num lado anotações com letra cursiva e, noutro, as mesmas ano-
tações em caixa alta. Todas as crianças realizavam atividades se-
O educador encontra-se preocupado em encontrar recei-
melhantes referentes ao tema de estudo, inclusive PC e, noutros
tas educacionais prontas, ignorando sua capacidade de criar e de
momentos, quando essas eram complexas demais para ela, realiza-
descobrir novos métodos, capazes de revolucionar sua práxis, e
va exercícios específicos, procurando desenvolver outras áreas
de possibilitar a si e aos seus educandos, a aquisição de novos
do conhecimento.
conhecimentos. Se esse Espírito de Busca estivesse arraigado em
cada educador e fosse por ele transformado em sua filosofia, em Passadas algumas semanas, notou-se o pequeno progres-
sua vida, certamente, se evitaria tanto a não aceitação do Novo. so de PC, que conseguiu copiar do quadro pequenas linhas em
Sabe-se que a inclusão é de suma importância, pois crianças ditas caixa alta, apresentando muita lentidão e erros gráficos, o que se
normais aprendem muito com os portadores de deficiência e vice- considerou normal, pois até os demais alunos cometiam erros
versa, promovendo assim, uma aceitação maior na sociedade vi- semelhantes. Muitos elogios lhe foram feitos, o que aumentou
gente e, conseqüentemente, na futura. sua auto-estima e a motivou a realizar tarefas posteriores. Segun-
do Fischinger (1970, p.82 – 83), “importante é que a criança seja
Todos os seres humanos têm condições de aprender. O
elogiada para ganhar cada vez mais estímulo. Ao mesmo tempo, é
importante é querer. O objetivo do educador, diante dessa ques-
preciso exigir deveres e severidade, porque essas crianças não
tão, é convencer e converter seu educando para esse aprendiza-
querem ser tratadas como doentes. Todas as exigências devem
do, mostrando-lhe sua capacidade e habilidade interior de conhe-
corresponder à capacidade da criança”.
cer e aprender.
Outro passo importante a ser tomado foi entrar em contato
Tendo em pauta essa afirmação, quer-se descrever um es-
com a família da PC. Percebeu-se que a família não admitia a defi-
tudo de caso ocorrido no ano de 2000, numa sala de aula de 2ª
ciência; a mãe apenas salientou que a mesma apresentava dificul-
série do Ensino Fundamental da Rede Municipal de uma das cida-
dades em reter conhecimentos. Justificou que a má administração
des catarinenses. A aluna aqui enfocada será denominada de PC.
de um medicamento (fortificante) administrado nos primeiros anos
No primeiro dia de aula do ano letivo de 2000, em uma sala de vida da filha era a causa da situação atual. Lembrou, ainda, que
de aula com 10 educandos, dentre eles descobriu-se que uma das realizara todo o pré-natal sem complicações. Porém, no 8º mês de
alunas da classe era portadora de Necessidades Educativas Es- gestação, a gestante sofreu uma queda, e conforme relato da mãe,
peciais. Posteriormente ao contato com o grupo, evidenciaram- sem danos para o bebê.
se, imediatamente, algumas das dificuldades dessa aluna defici-
PC andou normalmente logo após o 1º ano de vida, porém
ente, como a do aspecto fonético-fonológico. Embora a fala tives-
aos dois anos de idade, a família percebeu que caía muito enquan-
se pontos articulatórios comprometidos, algumas palavras fluíam
to caminhava. Conforme relato da mãe, foi conduzida ao médico
com razoável compreensão. PC não apresentava, inicialmente,
que, coincidentemente, prescreveu a mesma medicação que, se-
habilidades de leitura e de escrita. A única forma de escrita que
gundo a mãe, outrora seria a causa do seu atual problema. Sem
executava eram repetidas linhas de letras similares, sem significa-
maiores esclarecimentos, a mãe alegou ter prosseguido com a
do aparente (Figura 1).
mesma medicação.
Notou-se, nesse primeiro contato com a família, que a mes-
ma tentava ocultar informações, contradizendo-se a todo instan-
Figura 1- Escrita executada por PC te. Devido à falta de aceitação e de esclarecimentos, somente
foram possibilitadas alternativas de tratamento a partir dos 5 anos
de idade, quando PC ingressou na Associação de Pais e Amigos
dos Excepcionais (Escola Especial), onde se encontra até hoje.
Contactou-se com uma das profissionais atuantes nessa
Instituição e se descobriu que era realmente um caso de Paralisia
Cerebral, de leve a moderada, ainda sem diagnóstico das reais
causas, pois a não aceitação e a omissão de fatos por parte da
família impossibilitavam um diagnóstico preciso. Segundo a in-
formante, inicialmente, a família relutava inclusive pela permanên-
cia do filho na Instituição. Posteriormente, por causa dos esclare-
cimentos aos pais proporcionados pelos profissionais da Escola
Especial sobre sua filosofia de trabalho e os benefícios que a
Entidade ofereceria, os mesmos compreenderam a valorosa tarefa
executada pela equipe multidisciplinar e o quanto essa poderia
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auxiliá-los. sociabilização. PC somente participava das músicas e cantigas de


Com base nessas informações, compreendeu-se que, para roda após tê-las observado, recusando-se a executar movimentos
auxiliar PC, dever-se-ia romper totalmente com os antigos nos quais apresentava dificuldades. Mas, com o passar do tem-
paradigmas, objetivando o bem-estar e, principalmente, a apren- po, solicitou auxílio aos colegas. O grupo era importante para ela
dizagem, já que ela necessitava de muito mais atenção do que os e, em contrapartida, ela era importante ao grupo. Todos estavam
demais alunos. prontos para atendê-la a qualquer momento, bem como para
repreendê-la em relação a comportamentos não admissíveis pelas
Toda e qualquer atividade inicial que PC tivesse que reali-
regras do grupo, levantadas no início do ano letivo.
zar sozinha, após pequenos comandos, interrompia-as para fazer
desenhos, que eram sem representação significativa. Dizia ela não Evidenciaram-se circunstâncias onde PC repreendia seus
saber o que desenhava. Partiu-se do desenho, pois era algo que colegas dizendo que certa atitude não era permitida. Na realidade,
gostava de fazer. Prosseguiu-se ensinando as cores. Todo o gru- a inclusão estava acontecendo significativamente e, em momento
po participava. Cada vez que um aluno manuseava uma cor dife- algum, as crianças a deixaram excluída de qualquer atividade lúdica.
rente, dizia o nome da mesma e a mostrava ao grupo. Noutro Montou-se uma bandinha rítmica. Foram trabalhados o
momento, os alunos mostravam a cor e, oralmente, expressavam som, os nomes e a escrita dos instrumentos. A cada tema de
sua utilidade no contexto atual. estudo, os instrumentos foram utilizados para musicalizá-lo.
Várias foram as técnicas artísticas e os exercícios utiliza- As gincanas, realizadas com o objetivo de integrar as tur-
dos para possibilitar a memorização das cores e para dar significa- mas, eram uma grande festa. Durante a realização das mesmas,
dos aos desenhos. Para fazerem o exercício de respiração, as cri- vários jogos eram executados com o objetivo de desenvolver a
anças assopravam com canudos tintas líquidas pelo papel, faziam noção de tempo, espaço, respiração: corrida da batata, dança das
bolhas de sabão durante o recreio, brincavam com língua de so- cadeiras, rolar o arco, bater bola, encher o balão, correr até o
gra e faziam pequenas competições, sendo que vencia quem con- colchão e estourá-lo e questões referentes aos temas desenvolvi-
seguisse manter mais tempo uma pena no ar... Brincavam sem dos em sala de aula (desenvolvimento cognitivo).
perceberem que estavam reforçando a musculatura dos lábios e PC participava de todos os jogos. Recusava-se, porém, a
aumentando a capacidade de respiração. PC praticamente recusa- encher o balão, pois ainda não possuía habilidades suficientes
va-se a participar dos exercícios, afirmando a sua incapacidade. para assoprá-lo e segurá-lo ao mesmo tempo. Evidenciou-se que
Permanecia parada, observando os seus colegas. Após diversos atividades de sopro teriam que ser administradas com mais inten-
convites, os colegas conseguiram encorajá-la a participar. Pas- sidade. Sempre era incluída uma questão direcionada a ela e rela-
sou, então, a procurar executar os exercícios, tendo, contudo, cionada à aprendizagem ocorrida em sala de aula. Quase sempre,
pouco sucesso. após várias explicações, PC respondia corretamente ou dizia não
As atividades acima descritas eram realizadas com freqüên- saber.
cia, tentando melhorar a fala de PC e, conseqüentemente, do gru- Nas aulas de Educação Física, realizavam-se atividades de
po. Às vezes, a fala era bem articulada e, noutros momentos, sem rastejar, engatinhar, pular corda, subir e descer bancos e escadas,
compreensão. “A perturbação da fala pode estar localizada em entrar e sair de caixas, rolar... com ou sem auxílio de histórias
determinadas partes do cérebro. Por isso, quando se inicia cedo o contadas. Essas atividades também eram desenvolvidas para es-
tratamento, obtém-se melhores resultados. Portanto, o tratamen- timular áreas do córtex cerebral.
to precoce produz menos defeitos intelectuais”. (Fischinger 1970,
Na criança espástica, existe um comprometimento do sistema pira-
p.66) midal, com a hipertonia nos músculos. É caracterizado pela lesão do
Muitos foram os momentos propiciados durante as aulas motoneurônio superior no córtex ou nas vias que terminam na
em que todos participavam alegremente, favorecendo o desen- medula espinhal. A espasticidade aumenta com a tentativa da crian-
ça em executar movimentos, o que faz com que estes sejam bruscos,
volvimento integral dos alunos. lentos e anárquicos. Os movimentos são excessivos devido ao refle-
À medida que PC desenhava, indiferentemente da técnica xo de estiramento estar exagerado. (TABAQUIN, 1996, p. 27 –
e do material utilizados, detectou-se firmeza em seus traçados, um 28)
real significado dos desenhos e a estruturação espacial. Quanto Todas as atividades executadas tinham seus momentos
mais desenhava, mais melhorava a coordenação visomotora e a específicos, pois o objetivo principal da escola é trabalhar a cons-
habilidade gráfica. trução do conhecimento, agregado ao desenvolvimento global
Segundo Fischinger (1970, p. 75), do educando.
a falta de espaço ou de tempo para brincar pode levar a sensíveis O processo de alfabetização foi direcionado praze-
distúrbios de desenvolvimento. Brincando, a criança desenvolve seu rosamente, o que possibilitou que PC adquirisse a consciência
espírito criador. É favorecida sua habilidade, são exercitados seus fonológica. Consciência fonológica é aquela que o educando
sentidos, sua imaginação é estimulada e sua reflexão é formada em
possui em relação aos sons da fala (fonemas) para com os da
juízo. Virtudes básicas, como sinceridade e sociabilidade, são desper-
tadas. escrita (grafemas). Iniciou-se com a escrita e a leitura do próprio
nome, o qual já era do seu conhecimento. Identificava-o num todo;
Com base nessa afirmação, inúmeras brincadeiras, canti-
as letras isoladas ainda não tinham significado algum. Escreveu
gas de roda, jogos, músicas, danças e dramatizações foram de-
seu nome de várias formas. Uma delas foi com a massa de modelar.
senvolvidas. As cantigas de roda e músicas envolvem a relação
Realizou a modelagem das letras com cores variadas, identifican-
do corpo com os sentimentos, sendo o toque extremamente es-
do-as oralmente (cores e letras).
sencial, pois faz a criança se sentir aceita e amada pelo grupo. As
atividades musicais, além de oferecerem oportunidades de apri- Introduziram-se as vogais e as consoantes. A fase alfabé-
morar habilidades motoras, de controlar os próprios músculos e tica, trabalhada em paralelo com a Escola Especial, foi a mola pro-
de mover-se com desenvoltura, desenvolvem a auto-estima e a pulsora desse trabalho inicial. Tendo adquirido, nesse processo,
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a habilidade de escrever, PC escreveu o alfabeto em caixa alta e integração maior de PC, pois em alguns momentos das aulas par-
desenhou livremente um código (símbolo) para cada letra. Foram ticipava oralmente, expondo situações corriqueiras vivenciadas
usados códigos auxiliadores na memorização das letras durante no seio familiar; como “Meu pai tem dois cavalos. A vaca dá leite.
uma série de exercícios orais e escritos aplicados simultaneamen- Ontem eu pesquei um peixe bem grande.” Tentou-se então, escre-
te (ditados dos códigos obtendo a resposta; o nome da letra e sua ver os nomes dos animais que PC conhecia. Surpreendente foi o
escrita), através dos quais PC decifrou palavras e nome dos cole- resultado. Palavras como vaca, cavalo, rato, boi, pato e outras
gas da classe. Mais tarde, esses mesmos códigos auxiliaram nas com sílabas simples apresentaram acertos. Continuou-se o traba-
palavras e frases-chave retiradas dos temas de estudo escolhidos lho enfatizando as sílabas, pois na Instituição que freqüentava
pelo grupo. três vezes por semana, em horário diferenciado, haviam tentado
alfabetizá-la pelo método de silabação e observado que apresen-
Figura 3- Escrita em códigos tava o domínio das letras.
Com base nessa metodologia, gradativamente foi-se exi-
gindo mais de PC. Em pouco tempo, conseguiu-se que ela elabo-
rasse pequenas frases com auxílio, usando a junção da letra cursiva
e da caixa alta. Começou a usar a letra cursiva sem que alguém
solicitasse. Acredita-se que, pelo fato de ver diariamente a letra
cursiva no quadro (onde estavam escritas as duas formas de es-
critas), tenha se sentido capacitada para experimentá-la. Foi uma
alegria para PC mostrar ao grupo que podia escrever das duas
formas. Não só ela, mas o grupo todo já as dominava bem. Todos
se sentiam à vontade em relação à letra, pois num momento usa-
PC acompanhava o estudo do tema, porém de maneira li-
vam uma e, noutro momento, outra.
gada à questão da alfabetização e à construção de noções bási-
cas inexistentes, mas em processo de aquisição. Foram utilizados A construção do número também foi um processo contí-
quebra-cabeças com palavras dos temas, as quais eram transcri- nuo que acompanhou o da alfabetização. Assim como PC desco-
tas na pasta dos temas e no próprio caderno e representadas por nhecia a existência de letras e que a junção delas formava pala-
desenhos. PC executava a leitura das palavras, bem como das vras, desconhecia a idéia de número e de numeral. Para favorecer
letras que a formavam. Realizava recorte, colagem, pequenos caça- esse conhecimento, buscou-se trabalhar com materiais concre-
palavras, jogos de encaixe. As peças de encaixe compreendiam tos: figuras móveis confeccionadas pela turma (animais), semen-
unidades de várias cores, tamanhos e formas, permitindo-lhe a tes, seu próprio material escolar e dedos das mãos e pés. Após
interação com objetos e jogos diversificados dos habituais en- manuseio das figuras móveis, PC classificou-as por cores, espéci-
contrados em seu cotidiano. Durante a atividade de encaixe, es e tamanhos; colocou-as em séries (do maior para o menor);
oralizava suas invenções, estimulando áreas cerebrais continuou seqüências (duas figuras amarelas e três figuras ver-
melhas); e trabalhou a conservação do número (quantidades iguais
Figura 4 – Jogos de Encaixe de figuras colocadas em duas fileiras, mas o espaço da 2ª fileira
maior que o da 1ª). Então, perguntava-se a ela onde havia mais
figuras; no início costumava dizer que era na mais comprida; pos-
teriormente, a descoberta sucedia-se através da contagem. Com
as figuras móveis executou-se a inclusão dos números: quantida-
des uma dentro da outra. Praticamente realizavam-se as mesmas
atividades envolvendo os dedos e as sementes.
Conforme Finnie (apud TABAQUIM, 1996, p.32),
a criança que apresenta esta deficiência torna-se passiva durante as
atividades, perdendo a oportunidade de realizar os próprios ajusta-
mentos, ajustamentos estes que contribuem na aprendizagem. Por
Na linguagem escrita, a recepção dos símbolos gráficos, poderá isto, faz-se necessária a repetição das atividades, considerando-se
teoricamente, não representar dificuldades para o portador de Para- que o indivíduo não tem a mesma oportunidade de aprender por
lisia Cerebral. Mas como a expressão necessita do ato motor a tentativas e erros e por experimentações.
demonstração do aprendizado poderá ficar comprometida. Portan-
Após esses exercícios, a cada palavra que lia, auto-
to, é necessária uma revisão contínua dos procedimentos de ensino
empregados visando identificar as variáveis envolvidas no processo maticamente solicitou-se que escrevesse o número de letras, fa-
da aprendizagem de leitura e escrita. (TABAQUIN 1996, p.33) zendo comparações com outras palavras em relação à quantidade
Oportunizou-se a PC o acesso a livros de literatura infantil, de letras.
gibis e revistas. Primeiramente, ela manuseava os materiais, num Para KAMMI (1991, p. 24), “o número é a relação criada
segundo momento oralizava o que estava visualizando, desde as mentalmente por cada indivíduo. A criança progride na constru-
gravuras até o reconhecimento de algumas letras. Para estimular a ção do conhecimento lógico-matemático pela coordenação das
atenção, a percepção visual, a rapidez, a memória e a lógica, com a relações simples que anteriormente ela criou entre os objetos.”
classe PC participava de jogos da memória, tira dez, o jogo da A partir do instante em se que presenciou a construção de
bolinha. No caso do jogo da bolinha, os critérios para PC eram número e de numeral por PC, introduziu-se a idéia de adição e
diferentes: PC nomeava as letras que formavam a palavra, o grupo subtração através do jogo “tira dez”. O jogo consistia em tirar
a auxiliava na leitura da palavra, e os demais liam a palavra que algumas figuras móveis de uma caixa. Oralmente, exercitava-se a
acertavam com a bolinha, registrando-a em seu caderno. contagem da quantidade retirada; posteriormente, interrogava-
No desenvolvimento do tema animais, percebeu-se uma se: “Quantas faltam para ter 10? Quantas têm a mais que 10?
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lidade de todas as pessoas e, também, do próprio portador de


Figura 5 – Figuras m óveis
necessidades especiais.
O estilo de vida independente é fundamental no processo
de inclusão, pois, com ele, as pessoas portadoras de deficiências
terão maior participação de qualidade na sociedade, tanto na con-
dição de beneficiários dos bens e serviços que ela oferece como
também na condição de contribuintes ativos do desenvolvimento
social, econômico, cultural e político da nação.
A educação inclusiva é, atualmente, uma realidade em
muitos países e ganha novos adeptos a cada dia. Prova disso são
os dados preliminares do último Censo Escolar, divulgado pelo
Ministério da Educação no final de agosto do ano de 2000, reve-
Essa atividade exigia uma atenção enorme de PC que, com lando a existência de 48,9 milhões de alunos matriculados, inclu-
muita persistência, conseguia realizá-la. Operações de adição sem indo todos os níveis e modalidades do ensino básico. O Censo
reserva e subtração, com manuseio de objetos, sementes e os enfatiza que o processo includente é mais significativo na região
próprios dedos, PC conseguia solucionar, porém sempre com a Sul, onde o crescimento chegou a 41%.
presença de um orientador. Sobre a inclusão, a Declaração de Salamanca, de 1994, (apud
O jogo da bolinha e o bingo envolvendo os números de 01 SASSAKI, 1999, p. 120), diz que:
até 30 foram jogados freqüentemente, objetivando o reconheci- o princípio fundamental da escola inclusiva consiste em que todas as
mento do número. Percebeu-se que PC apresentou um bom de- pessoas devem aprender juntos, não importam quais as dificuldades
ou diferenças elas possam ter. Escolas inclusivas precisam reconhe-
sempenho escolar, pois o seu aprendizado foi superior ao espera- cer e responder as necessidades diversificadas de seus educandos,
do. No término do ano letivo fez-se avaliação descritiva, na qual assegurando educação de qualidade para todos mediante currículos
foram relatados todos os aspectos progressivos atingidos por apropriados, mudanças organizacionais, estratégias de ensino, uso
PC. de recursos e parcerias com suas comunidades.

PC conseguiu: identificar cores, reconhecer as letras do


alfabeto, ler e escrever algumas palavras com sílabas simples, 4.1. BENEFÍCIOS DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA PARA TODOS
formar frases com auxílio, identificar os números até trinta, reco- OS ESTUDANTES
nhecer algumas formas geométricas, identificar noções de tempo
e espaço, solucionar operações simples de adição e subtração
O Programa da Organização das Nações Unidas sobre
(com auxílio), narrar acontecimentos curtos com seqüência de fa-
Deficiências Severas, de 1994, (apud Sassaki, 1999, p. 124 – 125),
tos (principalmente quando vivenciados), opinar em jogos, músi-
menciona que:
cas ou brincadeiras de sua preferência, respeitar e gostar de seus
colegas e, o mais importante, foi respeitada, amada e aceita pelo 1. Os estudantes com deficiência:
grupo. Certamente, PC aprendeu, e muito, com esse grupo maravi- • desenvolvem a apreciação pela diversidade individual;
lhoso no qual ela esteve inserida. O aprendizado do grupo em • adquirem experiência direta com a variação natural das
relação a ela foi superior. capacidades humanas;
A escola não pode continuar a ser uma fábrica de insucessos. Na • demonstram crescente responsabilidade e melhorada
escola a criança deve ser estimulada de forma que se perceba o seu aprendizagem através do ensino entre os alunos;
real problema e que procure ajudá-la a superá-lo, evitando constran-
gimentos e a exclusão social. A razão da escola justifica-se pela • estão melhor preparados para a vida adulta em uma soci-
transformação das crianças em seres autônomos, independentes e edade diversificada através da educação em salas de
pensadores, ou seja, capazes de iniciarem, elaborarem e praticarem
aula diversificadas;
suas idéias. (FISCHER, 2001, p.38).
Ressalta-se que essas crianças portadoras de necessida- • experienciam freqüentemente apoio acadêmico adicio-
des educativas especiais conseguirão tornar-se valiosas na soci- nal da parte do pessoal de educação especial;
edade se os educadores, acreditando no potencial de todos os • podem participar como aprendizes sob condições
seus educandos, permitirem e possibilitarem mudança de instrucionais diversificadas (aprendizado cooperativo,
paradigmas. Pois, afinal todos sãos diferentes... Incluir é o que uso de tecnologia baseada em centros de aprendizagem
aumentará ainda mais a diferença. etc.)

4. INCLUSÃO 2.Os estudantes sem deficiência:


• têm acesso a uma gama mais ampla de modelos de papel
Segundo Sassaki (1999, p.3), “conceitua-se inclusão soci- social, atividades de aprendizagem e redes sociais;
al como o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder • desenvolvem , em escala crescente, o conforto, a confi-
incluir, em seus sistemas especiais gerais, pessoas com necessi- ança e a compreensão da diversidade individual deles e
dades especiais e, simultaneamente estas se preparam para assu- de outras pessoas;
mir seus papéis na sociedade.” • demonstram crescente responsabilidade e crescente
A inclusão social, portanto, é um processo que contribui aprendizagem através do ensino entre os alunos;
para a construção de um novo tipo de sociedade através de trans- • estão melhor preparados para a vida adulta em uma soci-
formações pequenas e grandes nos ambientes físicos e na menta-
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edade diversificada através da educação em salas de 1991.


aula diversificadas; SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade
• recebem apoio instrucional adicional da parte do pesso- para todos. 3ª Edição. Rio de Janeiro: WVA,1999.
al da educação comum; SATOW, Suely Harumi. Paralisado cerebral: construção da iden-
• beneficiam-se da aprendizagem sob condições tidade na exclusão.Cabral Editorial, Robe Editorial, 1995.
instrucionais diversificadas. TABAQUIM, Maria de Lourdes Merighi. Paralisia cerebral: en-
sino de leitura e escrita. Bauru: Edusc, 1996.Cadernos de
4.2. AS MELHORES PRÁTICAS EMERGENTES EM EDUCAÇÃO Divulgação Cultural.

A Instituição Educacional preocupada com a qualidade


do processo ensino-aprendizagem procura concretizar:
• aprendizado cooperativo;
• instrução baseada em projeto/atividade;
• ensino entre alunos de todas as idades;
• educação multicultural;
• educação que reconheça e ensine para inteligências múl-
tiplas e diferentes estilos de aprendizagem;
• “construção do senso de comunidade” nas salas de aula
e escolas.
É tempo de despertar a coragem necessária para repudiar a
integração e aceitar a Inclusão. Aceitar o novo sem medo. Extrair
dos educandos com Necessidades Educativas Especiais suas
potencialidades, aflorar sua auto-confiança e auto-estima , prepa-
rando-os para a empregabilidade. As transformações são rápidas
e necessárias. É preciso que todos cresçam juntos. Crescer com
simplicidade e inquietude, pois quanto mais o ser humano se in-
clinar para o saber, melhor se tornará e melhor será para os
educandos, pois o aprender precede o ensinar.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao refletir sobre a inclusão de crianças portadoras de ne-


cessidades educativas especiais no ensino regular, é possível
reconhecer a importância e a responsabilidade da escola em po-
der atender a esses indivíduos em sua totalidade.
O desafio da escola inclusiva é, justamente, o desafio de
desenvolver uma pedagogia centrada no educando, uma pedago-
gia capaz de educar com êxito todos os seus educandos, incluin-
do aqueles com deficiências e desvantagens severas.
E isso só será possível se o educador tiver o espírito da
busca: busca de conhecimentos com o objetivo de criar, recriar,
planejar, replanejar, descobrir, experimentar, provar e ensinar. Não
apenas seguir receitas, mas modificá-las e adaptá-las de acordo
com a sua realidade. Mudar sua práxis tantas vezes quantas forem
necessárias, sempre almejando o melhor para o grupo. Acreditar
no que faz e, principalmente, acreditar no potencial dos seus
educandos.

REFERÊNCIAS

FISCHER, Julianne. Gênios Perdidos. In: TAFNER, M. A.;


FISCHER, J. Manga com leite mata: reflexões sobre os paradigmas
da educação. Indaial: Editora ASSELVI, 2001.
FISCHINGER, Bárbara Sybille. Considerações sobre a paralisia
cerebral e o seu tratamento. Porto Alegre: Edição Sulina, 1970.
KAMMI, Constance. A criança e o número. Campinas: Papirus,

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