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Faculdade de Educação e Meio Ambiente

FAEMA
Instituto Superior de Educação
ISE
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Portaria MEC de Credenciamento Nº. 483, de 21/05/2007, D.O.U. de 22/05/2007.

PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM: A INTERIORIZAÇÃO DOS AFETOS NA


COMPLEXIDADE DO VERDADEIRO EU.

Alexandrina Alves Machado*; Ana Cristina da Silva*; Camila Moreira


Kaepp*; Lilian Leticia Rodrigues Ribeiro* e Simone Regina da Silva Santos*.

RESUMO

Neste ensaio propomos a reflexão a respeito das vivencias da


personagem do romance escrito por Clarice Lispector, colocando-as em nossas
próprias vivencias. Assim como a personagem, temos uma consciência
angustiante ao tratarmos nossas vidas de forma que o outro possa ver uma
angústia de se descobrir totalmente ao se comparar com o outro e não aceitar
esse papel imposto. Através dessa história podemos redescobrir as próprias
emoções, processar os próprios sentimentos, mesmo que de forma fantasiosa,
explorando o mundo e a vida.

Palavras Chave: Consciência, Fantasia, Fluxo de Pensamento,


Silêncio.

INTRODUÇÃO

Ao nos depararmos com a trajetória do romance escrito por Clarice


Lispector “Perto do Coração Selvagem”, percebemos a personagem um tanto
quanto complicada de se compreender o que por muitas vezes também o somos,
tal complexidade se apresenta em certa inquietação, as experiências trágicas
vividas a partir de perdas e o recorrente sentimento de vazio. Trata-se de uma
menina sonhadora e carente, oscilando entre o ódio de tudo, e ao mesmo tempo,
uma mulher que espera mais da vida e se recusa a aceitar a rotina. O fluxo de
consciência faz com que a personagem exija mais dos sentidos do que da razão
objetiva, o silêncio, a angustia em desejar descobrir por inteiro, os conflitos
vivenciados em tentativa de autoafirmação, são aspectos marcantes de sua
personalidade. Há na personagem uma necessidade de modificar-se, recriar-se
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para o mundo, e, para isso, é preciso “uma maneira emancipada de lidar com o
passado a partir das necessidades do presente”.

O romance escrito por Clarice Lispector no qual nos baseamos nos faz
refletir e nos colocarmos no lugar da personagem protagonista e dessa forma
compreender as nossas próprias vivencias. Conforme a ideia do narrador, há
uma união que determina a história que pode se prolongar, e que por meio dela,
somos capazes de nos conectar ao pensamento do outro por reconhecer nossos
próprios pensamentos, esses pensamentos se desenvolvem de maneira
continua, sem essencialmente haver uma conexão entre eles. A forma como a
história é narrada permite que nos encontremos diante das diversas situações.

Ao tomar o fluxo de pensamento ou de consciência como base, podemos


pensar na ambiguidade que sentimos e vivemos em nosso cotidiano, onde
muitas vezes sentimos o oposto do que expressamos por entendermos que
dentro de nós há uma procura por resgate pessoal o que pode excluir o outro.
Esse resgate pessoal é adaptável e totalmente mutável, e a cada dia é mais
comum nos depararmos com pessoas que se desenvolvem de maneiras
diferentes, nos fazendo pensar até em um tipo de multi personalidades.

Notamos o fluxo de consciência como uma busca em descobrir a razão


de ser e de sua existência e a relação do eu e do outro, como nas diversas vezes
em que somos solicitados para nos apresentar para alguém, nós nos
apresentamos diante das construções amparadas no outro. Somos o que somos
na expectativa inconsciente de mostrar ao outro.

A personagem do romance em diversos momentos reflete e ao mesmo


tempo relembra situações com temporalidades distintas, isso é perceptível
quando a mesma fala de sua vida adulta, mas ao mesmo tempo se remete à sua
infância. Tal situação é comum vivenciarmos também na vida real, fora da ficção,
pois não raramente enquanto estamos realizando algo nos remetemos quase
que instantaneamente a memórias de outras fases de nossas vidas, memorias
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que acreditávamos que não existiam e que surgem a partir de pequenos


momentos que nos desprendemos ou esquecemo-nos dos moldes formalistas
do cotidiano. Dessa forma podemos ser levados há tempos anteriores a partir de
um retrato, uma música ou qualquer outro tipo de representação que nos afete.
Essa forma de sermos afetados a todo e qualquer momento pelas nossas
memórias nos leva a uma indagação: Nós construímos essas memórias ou
somos continuamente construídos e modificados por elas?

Para Winnicott (1945 d, p. 275 apud Luz, 2002) esse movimento


oscilante entre vida adulta e infância é algo natural aos seres humanos
saudáveis, e esse movimento é o que concebe a identidade do sujeito. Nós
vivemos essa inconstância continua, e para que isso ocorra basta sentirmos um
cheiro ou comer uma comida e logo nos vem como cena de filme todo o enredo
em que o protagonista outrora fôssemos nós mesmos. Esse movimento nos faz
sentir que estamos vivos, e nos permite que sintamos através dos sentidos que
algo nos toca o mais íntimo capaz de produzir lembranças boas ou trágicas que
modifique ou redirecione nossa conduta diante de situações diversas.

Freud (1950[1895]/1980 apud Zavaroni et al, 2007) atribui às


experiências infantis valor determinante e fundante do psiquismo, portanto
podemos nos deparar em algum momento de nossas vidas com a necessidade
de lembrarmos de acontecimentos originais de nossa infância para que
saibamos como agir em uma nova situação, pode ainda ocorrer de precisarmos
nos recordar para que alcancemos uma elaboração de situação ou sentimentos
atuais ou até mesmo para resgatarmos quem realmente somos, visto que a cada
dia que se passa mais nos desenvolvemos aos moldes dos outros e nos
afastamos de nós mesmos.
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Estar vivendo na vida adulta e lembrar-se de quando criança é tão


importante quanto defender a si próprio diante dos haters1 constantes na
sociedade que cultiva a individualidade e a concorrência massacrante.

Assim como a personagem, temos uma consciência angustiante ao


tratarmos nossas vidas de forma que o outro possa ver uma angústia de se
descobrir totalmente ao se comparar com o outro e não aceitar esse papel
imposto. Através dessa história podemos redescobrir as próprias emoções,
processar os próprios sentimentos, mesmo que de forma fantasiosa, explorando
o mundo e a vida.

A fantasia pode ser considerada como uma forma de desejo, de não


conseguir algo, então fantasiamos com isso: revelando a relação com o objeto,
ou ainda se esquivando da realidade, como um suporte construído pelo sujeito
na medida em que ele se apaga, tentando agregar consciência onde à
inconsciência se instaurou na estrutura, como se a fantasia velasse sua
realidade.

Podemos perceber esses pensamentos desfocados através do sonho


como algo que o inconsciente está processando para revelar, mesmo que
destorcido algo que geralmente não queremos tomar consciência, ter acesso ao
conhecimento do interior oculto da mente. Para que a realidade da vida não seja
extremamente perturbadora, buscamos algumas maneiras de fuga seja na
fantasia ou através do sonho.

A consciência individual nos permite vivenciar, experimentar e perceber


diversos aspectos e até mesmo a totalidade do nosso mundo interior e, a partir
disso perceber o mundo ao nosso redor. Nela está depositada a nossa
característica psíquica, bem como a nossa consciência grupal, que gera o fator
social e o modo de se relacionar com esse grupo. Sendo assim a consciência

1 Haters, palavra de origem inglesa que significa "os que odeiam" ou "odiadores" na tradução
literal para a língua portuguesa.
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está espalhada em toda a sociedade, não se baseando no pensamento deste ou


daquele indivíduo, pois não se relaciona às manifestações individuais.

No entanto, entendemos que a sociedade é formada por indivíduos e


que cada um possui a sua própria consciência, todavia, a consciência grupal é
capaz de refrear as consciências individuais levando os indivíduos a proceder
como os demais. Observa-se que a personagem do romance por muitas vezes
mantem-se em silêncio, contanto afirma que sua mente continua em um fluxo
incessante de pensamentos.

O silêncio está encoberto por trás da palavra elaborando um fluxo


intenso e em constante movimento, pensamentos que nem sempre são
externados, mas o que está por trás desse silencio é uma vontade enorme de
gritar ao mundo toda a realidade e de alguma forma elaborar e transpor limites
através das palavras, colocadas em ação como na escrita ou através de pinturas
sendo uma forma de expressar-se socialmente.

Assim, deixamos nossos pensamos fluir, buscando captar os


pensamentos e transpor através da escrita tentando ser mais rápido que o
próprio pensamento, vencendo a barreira do tempo. Nessa fração de segundos
esperamos perceber a nós mesmos, como algo raro e sutil da vida experiênciada
nesse instante, já que na vida existem momentos incontáveis e que no fluxo do
pensamento o tempo é incontrolável sendo impossível alcançar o domínio do
pensamento.

Nessa tentativa de colocarmos o pensamento em palavras escritas


mesmo quando não queremos colocamos um pouco de nós mesmos, assim
como a personagem Joana que se mistura em alguns momentos com as
vivências da autora Clarice Lispector. Essa entrega é dolorida, pois tememos a
opinião alheia, ao nos revelarmos somos transformados, libertados e não só nós,
mas também e o outro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
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O narrador do romance nos aproxima da personagem de modo que


possamos nos assemelhar a ela, e ao mesmo tempo nos identificar na história o
que nos aproxima de nós mesmo. A técnica de escrita utilizada apresenta uma
personagem que traz os traços da autora e ao mesmo tempo dá luz à infinita
personalidade.

Sentir o romance nos permitiu descobrir o que temos em nós mesmos que
muitas vezes não vivenciamos como essa inconstância entre vida adulta e
infância, e o ambíguo sentimento de amor e ódio por um mesmo objeto. A
reflexão sobre quem somos e o que damos valor se fazem importante, pois não
raramente anulamos a nós para privilegiar o outro afim de inconscientemente
alcançarmos um status ou simples admiração. Não só a personagem, mas nós
também vivemos esse fluxo constante de pensamentos que nem sempre
permitem uma elaboração, as palavras que fogem rapidamente deixando o
silêncio dominar a cena enquanto o pensamento continua a fluir como um
oceano.

REFERÊNCIAS

LISPECTOR, Clarice. Perto do coração selvagem. São Paulo: Rocco, 1998.

BERTONI, Paulo Gilberto. Filosofia e Psicologia na obra de William James:


uma nota introdutória sobre o problema do sujeito. Anais do X Colóquio do
Museu Pedagógico e III Colóquio Internacional do Museu pedagógico. Vitória da
Conquista – BA, 28 a 30 de agosto de 2013.

BERTONI, Paulo Gilberto; MORATO PINTO, Débora Cristina. Mudança e


continuidade: a formulação jamesiana do pensamento como fluxo.
Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 20, n. 2, 2007, pp. 205-211.
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DE OLIVEIRA, Ângela Francisca Almeida. Fluxo de consciência, psicologia,


literatura, teatro: um início de conversa. Cena em Movimento, v. 1, p. 11,
2009.
MAGGI, Noeli Reck; DE MORALES, Renata Santos. A leitura como caminho
para a alteridade. Cerrados, n. 40, ano 24, 2015, pp. 277-287

LUZ, Rogerio, Uma breve menção de Winnicott a Leonardo da Vinci.


Natureza Humana 4(2): 293-314, jul.-dez. 2002.

THIMÓTEO, Saulo Gomes; TEIXEIRA, Níncia Cecília Ribas Borges. A técnica


narrativa em Clarice Lispector e James Joyce. Anais do Colóquio de Estudos
Linguísticos e Literários, v.3, 2009, pp. 931-939.

ZAVARONI, Dione de Medeiros Lula; VIANA, Terezinha de Camargo; CELES


Luiz Augusto Monnerat. A constituição do infantil na obra de Freud. Estudos
de Psicologia 2007, 12(1), 65-70.

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