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DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
Resenha da unidade V
Rio de Janeiro
2019
Resenha de obra da unidade V
GARCIA, Elisa. “Trocas, guerras e alianças na formação da sociedade colonial”. In:
FRAGOSO, J.; GOUVEA, Maria de Fátima. (orgs) O Brasil Colonial, volume I. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2014.
1. Sobre a autora
Elisa Fruhauf Garcia, historiadora brasileira doutorada pela Universidade
Federal Fluminense (UFF), atua como professora e pesquisadora no curso e no
programa de pós-graduação em História da mesma instituição. Debruçando-se nas
dinâmicas da América Colonial, a autora discorre principalmente sobre as
movimentações e a situação indígenas que vão além do recorte temporal em
questão, tendo publicado artigos como “O Projeto Pombalino de imposição da língua
portuguesa aos índios e a sua aplicação na América Medional” 1 (2007) e
“Identidades e políticas coloniais: guaranis, índios infiéis, portugueses e espanhóis
no Rio de Prata, c. 1750-1800” 2 (2011). Ambos procuram defender, além das outras
considerações, a atuação ativa dos indígenas no Sistema Colonial, reconfigurando a
errônea ideia de que esses grupos foram passivos e ingênuos durante o período.
É incontestável que Garcia integra o grupo daquelas que lutam, através da
historiografia, para dar um ressignificado à identidade indígena. Seus escritos
buscam destrinchar a história dos índios, tornando-os protagonistas e afastando-os
de um papel coadjuvante, que por sua vez muito impera nos livros didáticos no
Brasil.
2. A Obra e sua problemática
O capítulo aqui tratado, “Troca, guerras e alianças na formação da sociedade
colonial”, integra o livro organizado por João Fragoso 3 e Maria de Fátima Gouvêa4 “O
Brasil Colonial (1443-1580)” (2014). A obra pretende fazer uma leitura do período a
partir de sua relação com a Europa Moderna e Medieval e também por meio da
dinâmica interna do que hoje chamamos de Brasil. Nesse meio, o capítulo em
questão bebe muito da proposta do livro, uma vez que, a partir da análise das
1 Disponível em: <”http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-
77042007000200003&script=sci_abstract&tlng=pt “>.
2 Disponível em: <https://seer.ufrgs.br/anos90/article/view/26263>.
3 Professor-doutor em História Social do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro e
pesquisador na área de Brasil Colônia e História Moderna.
4 Falecida em 2009, foi Doutora em História Social e pesquisadora das instituições do Brasil Imperial.
movimentações tanto econômicas quanto políticas e sociais as quais os nativos
estavam inseridos, observamos influências dos projetos políticos europeus
modernos misturados com uma dinâmica própria aqui estabelecida durante o Antigo
Sistema Colonial.
Como anteriormente mencionado, o esforço da autora para dar o
protagonismo aos mais diversos e diversificados grupos indígenas é observado, num
primeiro momento, quando ela desloca o eixo de percepção das invasões. Partindo
do fato de que os europeus precisavam, sem dúvida, não somente da mão-de-obra
indígena como também das informações possíveis por conta do conhecimento do
território, ela enxerga os empreendimentos portugueses, franceses, ingleses e
holandeses a partir da situação do indígena, sendo essa, por sua vez, não através
do viés de uma passividade ou ingenuidade, e sim pelo entendimento de que os
índios são dotados de vontades, resistência e inteligência perante o estrangeiro.
Diante disso, coube aos portugueses arquitetarem uma legislação para moldarem
sua relação com os nativos.
No esforço de destrinchar uma legislação portuguesa que pretendia
incorporar a atuação indígena mediante aos interesses ibéricos e nativos, nos é
mostrado que havia um duplo viés: o entendimento desses grupos como uma peça-
chave para a mão-de-obra ao mesmo tempo em que esses não deixaram de serem
enquadrados como subalternos. Dessa maneira, houve uma política indigenista
aplicada principalmente por Tomé de Souza 5 que procurou dividi-los entre amigos e
hostis, numa forma de manter o controle sobre suas atividades. Garcia nos atenta ao
fato de que aqueles considerados amigos e que passaram pelo processo de
aldeamento tiveram seus interesses evidenciados, já que se adequar aos moldes
portugueses deve ser considerado tanto quanto uma forma de resistência quanto
uma escolha própria. Partilhando das ideias de Maria Regina Celestino de Almeida 6,
há a necessidade da “quebra da dualidade entre o mundo dos brancos e o mundo
dos índios, e as relações de contato e as mudanças culturais vividas pelas
populações indígenas[...]” (p. 259).