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Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade

O FILME COMO RECURSO DIDÁTICO PARA A IMPLEMENTAÇÃO DA LEI


10639/03

Mário Cézar Alves Ferreira


Universidade Tecnológica Federal do Paraná- Câmpus Londrina (UTFPR)
Zenaide de Fátima Dante Correia Rocha
Universidade Tecnológica Federal do Paraná- Câmpus Londrina (UTFPR)
Marilu Martens Oliveira
Universidade Tecnológica Federal do Paraná- Câmpus Cornélio Procópio (UTFPR)

RESUMO

Pretende-se expor, neste trabalho, algumas reflexões sobre uma investigação em


andamento, que tem como objetivo geral realizar uma análise sobre as apropriações de
representações do negro em filmes. A pesquisa foi realizada em uma escola pública de
Londrina/Paraná, com uma turma de trinta e cinco estudantes do terceiro ano do Ensino Médio.
De natureza qualitativa, nesta pesquisa-ação os dados foram coletados mediante
questionário semiestruturado e videogravação das aulas. Em seguida, um dos
pesquisadores deste trabalho realizou uma intervenção pedagógica, utilizando o filme
como recurso principal de uma sequência didática acompanhada de demais materiais de
apoio. As discussões foram fundamentadas em pressupostos teóricos da interface
educação e cinema. Para isso escolheu-se o filme “Besouro” (2009), partindo-se dos
seguintes problemas: Como trabalhar as questões étnicas e as apropriações das
representações do negro em filmes, com estudantes do Ensino Médio, na disciplina de
História? O trabalho com filmes pode desconstruir representações racistas e
estereotipadas referentes ao negro, além de promover a reflexão crítica sobre os
conteúdos veiculados pelas mídias? O fulcro das atividades, portanto, foi desvelar as
origens das estereotipias sobre o negro, aprimorar o olhar crítico dos estudantes sobre os
discursos midiáticos e promover a discussão e a leitura histórico-social da contribuição
dos negros para a cultura brasileira. Espera-se que esta investigação, ao ser concluída,
possa contribuir para o combate ao racismo e para a implementação da Lei 10 639/03 no
Brasil, podendo ser utilizada por professores e outros agentes sociais tanto como
material de apoio quanto para instrumento de reflexão sobre as práticas pedagógicas
referentes à temática racial no ambiente escolar.

Palavras-chave: Ensino. Relações Étnicas. Representações Fílmicas.

Introdução

Este trabalho foi motivado por uma pesquisa exploratória que mostrou
concepções estereotipadas e racistas dos estudantes sobre os afro-brasileiros.
Vinculados a essas concepções, consideraram-se também os recentes estudos de

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intelectuais ligados ao Movimento Negro, que constataram o lugar que o negro ocupa
no sistema de representações midiáticas, e de como elas são responsáveis por sustentar
uma visão racista e etnocêntrica, entre brancos e negros: o branco representa a
civilização e o negro a barbárie (BORGES, RCS; BORGES R., 2012, p. 188).
Mocellin (2009) afirma que boa parte da visão que se tem da realidade é
construída com base nas mensagens que recebemos dos meios de comunicação, as quais
muitas vezes não oferecem margem para a reflexão, sugerindo representações e
conclusões preconcebidas o que colabora para a assimilação passiva e acrítica dos
conteúdos veiculados pelas mídias.
A coleta dos dados foi realizada mediante questionário semiestruturado e grupo
focal a fim de identificar nos estudantes as seguintes questões: possíveis estereotipias e
visões racistas sobre o negro e os afro-brasileiros; o perfil dos estudantes quanto ao
gosto cinematográfico e títulos de filmes que tratam das questões étnico-raciais a que
eles já haviam assistido; com que frequência os professores utilizavam tais filmes em
sala de aula e como era feita a mediação. Ainda: questões que tratavam do
conhecimento sobre a lei de cotas para estudantes negros nas universidades públicas; a
Lei 10 639/03, que estabeleceu a obrigatoriedade da inclusão da temática "História e
Cultura afro-brasileira" no currículo de ensino das escolas públicas e privadas; o que
eles pensavam sobre essas leis; se já haviam presenciado ou sofrido racismo; e se os
professores já tinham trabalhado essas questões em sala aula.
O grupo focalizado foi selecionado mediante entrevista, para averiguar o
interesse dos estudantes em participar do projeto e sua disponibilidade, visto que a sua
aplicação ocorreria no período da tarde e muitos estudantes frequentavam cursinhos pré-
vestibulares e/ou trabalhavam nesse horário.
Diante da entrevista, 30% dos estudantes mencionaram não existir racismo no
Brasil, e muitos afirmaram que as leis federais elaboradas para combatê-lo são
desnecessárias; 20% dos entrevistados mostraram-se contraditórios em suas respostas,
alegaram que existe sim o racismo no país, mas que as oportunidades, em geral, são
iguais para todos, e que resta aos indivíduos “correrem atrás dos seus sonhos” para
conseguirem realizá-los.
Do total de entrevistados, 25% sequer conheciam as leis mencionadas; 35%
disseram ter ouvido falar, mas desconheciam o seu teor; em ambos os casos, foram
informados sobre elas e as suas especificidades. Quando questionados sobre terem
presenciado ou sofrido racismo, 20% dos discentes foram contraditórios em relação às

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respostas anteriores (questões em que negaram a existência do racismo), ao exporem


situações em que sofreram e que presenciaram racismo.
Essa visão apresentada pelos estudantes mostra que o mito da democracia
racial ainda se encontra extremamente arraigado no imaginário social. Construído pelo
sociólogo Gilberto Freire na década de 30, do século XX, o mito considerava que não
havia racismo no Brasil e a prova cabal dessa afirmação seria o resultado de meio
século de miscigenação pela qual passara a sociedade brasileira. A teoria de Freire seria
descontruída a partir da década de 1950, quando uma nova geração de cientistas sociais,
dentre eles Florestan Fernandes, constataram, mediante análise de dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a discriminação racial claramente
demonstrada nas estatísticas oficiais. Esses estudos revelaram a existência de sutis
formas de discriminação que dificultavam o acesso de negros e mulatos às escolas e
universidades e a precária condição do negro no Brasil.
Apesar da desconstrução do mito a partir de metade dos anos de 1950, seus
ecos ainda se perpetuam nos dias atuais, como pode ser constatado na fala dos
estudantes. Para a historiadora Emília Viotti da Costa (1999), o mito da democracia
racial mascarou por muito tempo a real condição das relações raciais no Brasil, na
medida em que contribuiu para dissimular a discriminação e o preconceito e inibir o
confronto racial e o desenvolvimento de uma consciência negra. A existência e a
aceitação desse conceito pela sociedade brasileira, em geral, teria ajudado a eximir a
classe política de tomar providências quanto à inserção do negro no mundo capitalista,
marginalizando-o.
Diante de tal problemática, buscou-se analisar a visão dos estudantes do
terceiro ano do ensino médio sobre como o negro era representado nos filmes
selecionados. Essa meta geral desdobrou-se em dois objetivos específicos: 1)
compreender como os estudantes se apropriam dos conteúdos étnicos sobre o negro,
veiculados pelos filmes; 2) discutir a importância da utilização de filmes nas aulas para
a desconstrução de mensagens racistas e estereotipadas, veiculadas pela indústria
cinematográfica.

A sequência didática

Para a execução da proposta foi selecionado o filme “Besouro”. Os estudantes


foram divididos em grupos e avisados sobre o objetivo geral do projeto, e de que este

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faz parte do conteúdo República Velha, da disciplina de História. Foram informados


também sobre a fita a que iriam assistir e receberam a sinopse, a ficha técnica e um
roteiro de análise que serviu para estabelecer parâmetros de observação sobre questões
informativas e interpretativas do filme que foram discutidos ao final das atividades.
Feito isso, iniciou-se a apresentação fílmica.
Para afastar os estudantes de qualquer possibilidade de assimilação direta do
filme, enquanto verdade inquestionável, foram apresentados excertos da literatura de
cordel de Antônio Vieira e Victor Alvim, bem como a narrativa biográfica de Marco
Carvalho Feijoada no paraíso: a saga de Besouro, o capoeira (ambas inspiradas na
textualidade popular sobre o capoeirista Besouro Mangangá) e dados historiográficos de
sua vida baseados na história oral, em registros policiais e no seu atestado de óbito.
Nessa fase do trabalho, a intenção foi articular as abordagens literária, fílmica e
histórica para que os estudantes tivessem acesso ao material original que inspirou o
filme, pois acreditamos que mediante uma visão holística de tal conhecimento, estes
sujeitos poderão estabelecer uma análise crítica das diferentes abordagens da mesma
história, em linguagens distintas.
Os textos escritos têm como objetivo situar os estudantes no contexto da
República Velha, onde os negros, apesar de libertos, encontravam-se oprimidos por uma
situação pouco diferente da condição escrava, sob os mandos e desmandos do poder
político da região Nordeste representado na figura dos coronéis. As atividades propostas
vinculam-se ao estudo das diferenças textuais e do letramento crítico sobre a História e
a Cultura Afro-Brasileira e Africana, conforme a Lei 10.639/2003.
Em um terceiro momento da atividade, chamou-se a atenção dos estudantes
para elementos da linguagem cinematográfica como veículo de mensagens. Destacou-se
a análise de movimentos de câmera, trilha sonora, fotografia e figurino como
componentes de intencionalidade na representação do contexto, grupos e personagens.
Para concluir esta etapa da atividade, os estudantes apresentaram os resultados
da análise fílmica em grupos, no formato de seminários, nos quais todos os membros do
grupo tiveram oportunidade de expor partes das apreciações sobre o filme. O professor
fez as intervenções necessárias quanto aos eventuais equívocos de leitura fílmica e
avaliou se houve mudanças nas concepções estereotipadas e racistas externalizadas
pelos estudantes no início dos trabalhos.

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Considerações Finais

A presente proposta encontra-se em fase de execução. Nela busca-se


compreender como os estudantes se apropriam dos conteúdos étnicos sobre o negro
veiculados por filmes, e discutir a importância do seu uso em sala de aula, levando em
consideração a similaridade da escola e do cinema enquanto recintos de socialização.
Nesse sentido, o professor deve estar atento ao fato de que a escola não é o único local
onde se ensina História, e que as mídias também sugerem informações sobre fatos,
contextos e personagens as quais incitam a se pensar sobre diferentes espaços e culturas.
Espera-se que, a partir desta prática, os estudantes desenvolvam a capacidade
de reflexão sobre as informações veiculadas pelas mídias, dando-lhes a oportunidade de
observar que os filmes são construções e que, por conseguinte, veiculam, muitas vezes,
informações que contradizem as pesquisas historiográficas. Dessa forma, será possível
extrair das produções cinematográficas mensagens explícitas e implícitas mediante a
aquisição de um domínio prévio da linguagem cinematográfica, que permitirá a
desconstrução das mensagens preconceituosas, racistas e estereotipadas. Neste sentido,
esta proposta contribui, enquanto material pedagógico, para a promoção de discussões e
reflexões sobre as relações raciais no ambiente escolar, podendo servir como um
produto educacional potencializador para o processo de ensino e aprendizagem, tendo
em vista a melhoria da prática docente na implementação da Lei Federal 10.639/03.

Agradecimento: à Universidade Tecnológica Federal do Paraná- Câmpus Londrina,


pelo apoio à divulgação do trabalho.

Referências

BESOURO. Produção de João Daniel Tikhomiroff Brasil, Mixer e Buena Vista


Internacional, 2010. 1 DVD (95min):NTSC, son., color.
BORGES, Roberto Carlos Silva; BORGES, Rosane (orgs.). Mídia e racismo.
Petrópolis, RJ: DP et Alii; Brasília, DF, 2012.
COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república: momentos decisivos, 5ª ed. Brasiliense:
São Paulo, 1999.
MOCELLIN, Renato. História e cinema: educação para as mídias. São Paulo: Ed. do
Brasil, 2009.
NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema em sala de aula. 5ª ed. São Paulo:
Contexto, 2011.

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