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Questões e discussões
Castelfranchi (2008) fala de dois tipos de fazer ciência no mundo atual. De um lado, a
ciência pública e acadêmica, em que o objetivo principal do cientista é ganhar
reconhecimento de seus pares por meio de descobertas. Do outro lado existe uma
prática de pesquisa para a produção de um conhecimento mercadoria, não
necessariamente algo que está disponível para o público e que pode gerar ao
pesquisador prestígio e dinheiro. A tecnociência, por sua vez, a junção de tecnologia,
ciência e técnica é um modo de fazer ciência que tem relações, de acordo com
Castelfranchi (2008) com o mundo dos negócios e da indústria, com a mídia e a
política. É uma ciência midiática, proprietária e voltada para o lucro e para a busca do
conhecimento, com produção de informações importantes, mas também para
utilidades “socialmente robustas”. O autor ainda afirma que existem alguns
pesquisadores que interpretam essa ciência como estado de exceção, um desvio
neoliberal do tipo ideal de ciência, mas segundo ele, quem faz isso tem “que admitir
que tal estado parece hoje um estado de exceção permanente. O ‘desvio’ está
passando a ser a norma e, aos poucos, a normalidade.” (CASTELFRANCHI, 2008, p.
28).
2. Por que o autor diz que analisa a tecnociência como dispositivo recombinante?
Para Castelfranchi (2008) essa pode ser uma análise confusa, do ponto de vista
marxista, porque implica “um achatamento das diferenças hierárquicas entre a esfera
econômica e a cultural.” (CASTELFRANCHI, 2008, p. 47). O autor, porém, afirma
que mesmo para as pessoas que não acham que a ciência deve ser analisada num nível
ideológico, sabe que ela faz parte de uma superestrutura muito especial. Ele cita
Gramsci (1991) para mostrar que além de uma superestrutura, a ciência é também
uma ideologia e ocupa um lugar privilegiado nesse estudo, especialmente por causa
da maior extensão e continuidade no conhecimento da mesma, especialmente depois
do século XVII. Castelfranchi (2008) afirma em sua tese que ler a tecnociência como
um dispositivo recombinante é o mesmo que entendê-la como algo “que é construído
e programado dentro das possibilidades, das condições de existência, dos objetivos da
racionalidade neoliberal, mas que, ao mesmo tempo, reage, retroalimenta e também
contribui para ressignificar e modular tal racionalidade.” (CASTELFRANCHI, 2008,
p. 8).
Vannevar Bush era um dos defensores do modelo “cowboy da ciência”, uma visão
que foi proeminente durante o século XX e se consolidou após a Segunda Guerra
Mundial. Nesse modelo, cabe ao Estado “estimular a abertura de novas fronteiras do
conhecimento científico, enquanto a iniciativa privada tem o papel de colonizar os
novos faroestes cognitivos e torná-los produtivos. Um modelo em que a tecnologia é
pensada como aplicação da ciência.” (CASTELFRANCHI, 2008, p. 29). Com a
construção do differential analyzer, uma máquina que podia fazer as operações do
cálculo infinitesimal por meio de movimentos mecânicos, auxiliando na solução de
equações diferenciais, Bush foi o expoente inicial da chamada Big Science, um
sistema complexo que precisava “da aliança e de equilíbrios entre setores públicos e
privados, militares e industriais” (CASTELFRANCHI, 2008, p. 29) para funcionar,
além de políticas específicas.
A Big Science surge quase que junto com o Estado de Bem Estar Social de Keynes,
em que o Estado toma conta do campo social e econômico, promovendo tanto a vida
social quanto a econômica, como uma tentativa de combater às desigualdades sociais.
Foi um sistema adotado por Franklin Roosevelt em 1930, como parte do New Deal,
programa de recuperação econômica. Para Capshew e Rader (1992), o grande
crescimento é a característica mais notável da ciência, que passou a ser ocupação de
vários milhões de especialistas. “Não é por acaso que a existência da Big Science foi
reconhecida primeiramente nos Estados Unidos, onde crescimento é um estilo de
vida, e maior é freqüentemente visto como melhor (CAPSHEW; RADER, 1992 apud
CASTELFRANCHI, 2008, p. 55). Para Castelfranchi (2008), tudo parece indicar que
“com a crise do fordismo, a grande era da Big Science institucional, impulsionada
principalmente pelos governos nacionais e cristalizada no modelo linear de Vannevar
Bush, esteja chegando a seu fim.” (CASTELFRANCHI, 2008, p. 68). Essa virada é
uma grande característica da tecnociência para o autor, que é a maior dependência do
financiamento privado.
9. Analisar.
Castelfranchi (2008) fala nesse trecho sobre autores que analisam a tecnologia como
uma
Um bem não-rival, do ponto de vista econômico é quando "o consumo de um bem por
um indivíduo não reduz a quantidade a ser potencialmente consumida por outros
indivíduos." (CASTELFRANCHI, 2008, p. 42). Apesar de ser considerada um bem
não-rival, a partir da crise do fordismo-keynesianismo, o conhecimento deixa de ser
visto como um bem comum e passa a ser tratado como passível de apropriação, por
meio das chamadas patentes e registros, ou seja, passa a ser uma mercadoria.
Castelfranchi (2008) afirma que “o discurso de que o conhecimento e mercadoria, de
que a ciência deve ser competitiva e de alta performance, de que deve prestar conta
para a sociedade do dinheiro que e gasto com ela, foi publicizado de forma crescente
e incorporado no discurso governamental e empresarial.” (CASTELFRANCHI, 2008,
p. 42).
REFERÊNCIAS: