Sunteți pe pagina 1din 27

Batismo com o Espírito Santo experiência única no ato da

conversão
Marcos Roberto Dutra
Introdução
Pretendemos com este trabalho, estudar a questão do batismo com o Espírito Santo como experiência única no ato
da conversão, analisando o assunto a partir de uma perspectiva bíblica, histórica e teológica.
O que nos motiva a trabalhar sobre o assunto são as várias controvérsias que tem surgido através dos tempos em
nossas igrejas a respeito da doutrina do Espírito Santo devido às influências pentecostais. Entre essas influências
está a doutrina do assim chamado Batismo com/no Espírito Santo, bem como, as condições para o referido batismo.
Tal doutrina sustenta que após a conversão todo crente deve experimentar uma segunda obra de graça, com
evidência de falar em línguas, mediante o preenchimento de alguns requisitos. Logo os crentes que não tiveram a
referida experiência com o Espírito Santo certamente porque não haviam preenchido os requisitos necessários. Nesta
perspectiva como podemos entender o batismo com o Espírito Santo? Ele promove a fé em Cristo simultaneamente
à conversão, ou é uma segunda bênção?
Objetivando uma análise mais pormenorizada do problema, observaremos algumas definições que nos ajudarão
como ponto de partida para nossa pesquisa:
O termo batizar significa mergulhar, ocorre no sentido de imergir desde os tempos de Hipócrates, em Platão e em
escritos antigos. É visto também como um simples ritual ou um símbolo. O sentido de batismo foi ocasionalmente
encontrado no helenismo, geralmente nos contextos religiosos. O Novo Testamento usa somente no sentido literal, é
também usado no sentido cúltico nas cerimônias judaicas de purificação.
O batismo em nome de Jesus consiste em ser subordinado a Cristo, o vocábulo "batizar em nome de Jesus ou em
Cristo" significa concretamente a entrega total da pessoa batizada a Cristo. Esta entrega é proclamada na invocação
do nome de Jesus sobre o candidato, a anexação a Cristo significa ao mesmo tempo a volta a Deus, o Pai. Tudo isto
se torna possível no batismo por meio do Espírito.( At. 2:38; 1Co 6:11; 12:13; Ef. 11:13; Ti 3:5; Jo 3:5s)
Batismo com o Espírito Santo pode ser descrito desde o Antigo Testamento, quando o Espírito de Deus nos tempos
messiânicos vai ser o princípio da Salvação, sua efusão acha-se ligada à purificação dos pecados, suas imagens são
descritas como a da água que lava, cura e dá vida. A purificação era necessária para que o povo participasse da nova
Aliança e Deus tira os pecados do povo justamente por meio do Espírito Santo. Por esta razão, a conversão no
Antigo Testamento significa "voltar atrás" "retornar" ou "voltar", e no Novo Testamento está relacionada com
renovação da mente e coração, o arrependimento do fundo do coração; portanto é tanto um evento quanto um
processo. Significa a atuação do Espírito Santo sobre nós por meio do qual somos movidos a responder a Jesus
mediante a fé, inclui também a obra do Espírito Santo dentro de nós purificando-nos e remodelando-nos à imagem
de Cristo.
Para uma melhor compreensão do assunto dividimos este trabalho em duas partes ,sendo que a primeira compreende
uma análise exegética do texto de Atos 19: 1-7, texto que é geralmente utilizado para a defesa da doutrina
pentecostal da segunda bênção. A segunda parte, uma reflexão teológica do tema proposto, é composta de um
panorama bíblico sobre o Espírito Santo; as perspectivas históricas que influenciaram as diferentes doutrinas sobre o
Espírito Santo, e finalmente uma comparação que pretende analisar se de fato existe diferença entre Batismo e
Plenitude do/com Espírito Santo.
Desenvolveremos este assunto de maneira a estabelecer uma comparação entre os conceitos em suas semelhanças e
divergências, buscando uma abordagem equilibrada e enriquecedora, como o propósito de oferecer uma contribuição
para a resolução dos problemas que a igreja tem enfrentado neste particular.
1 – Exegese de Atos 19:1-7
1.1. Texto Original
Atos 19:1 VEge,neto de. evn tw/| to.n VApollw/ ei=nai evn Kori,nqw| Pau/lon dielqo,nta ta.
avnwterika. me,rh ÎkatÐelqei/n eivj :Efeson kai. eu`rei/n tinaj maqhta,j 2 ei=pe,n te pro.j
auvtou,j( Eiv pneu/ma a[gion evla,bete pisteu,santejÈ oi` de. pro.j auvto,n( VAllV ouvdV eiv
pneu/ma a[gion e;stin hvkou,samenÅ 3 ei=pe,n te( Eivj ti, ou=n evbapti,sqhteÈ oi` de.
ei=pan( Eivj to. VIwa,nnou ba,ptismaÅ 4 ei=pen de. Pau/loj( VIwa,nnhj evba,ptisen ba,ptisma
metanoi,aj tw/| law/| le,gwn eivj to.n evrco,menon metV auvto.n i[na pisteu,swsin( tou/tV
e;stin eivj to.n VIhsou/nÅ 5 avkou,santej de. evbapti,sqhsan eivj to. o;noma tou/ kuri,ou
VIhsou/( 6 kai. evpiqe,ntoj auvtoi/j tou/ Pau,lou Îta.jÐ cei/raj =lqe to. pneu/ma to. a[gion evpV
auvtou,j( evla,loun te glw,ssaij kai. evprofh,teuonÅ 7 h=san de. oi` pa,ntej a;ndrej w`sei.
dw,dekaÅ
1.2. Tradução Literal
1-Estando Apolo em Corinto, Paulo atravessando um pedaço de terra chegou em Éfeso e encontrou alguns
discípulos e 2- disse então a eles. Certamente oEspirito Santo recebestes quando tivestes fé? Eles disseram para ele,
certamente não sabemos que é o Espirito Santo. 3- Disse então, por quem fostes batizados? Eles disseram, em o João
batismo 4- Disse Paulo, João batizou o batismo de arrependimento de pecados o povo, falou aos que apareceram
após ele, então creram nele estar em o Jesus, 5- receberam mas Batizados em o nome do Senhor Jesus, 6 – e
tomaram eles o Paulo as mãos recebeu o Espirito Santo sobre eles, falaram então línguas e proclamaram a palavra de
Deus. 7- Estiveram ao todo aproximadamente doze homens.
1.3. Análise da Variante
No versículo dois, encontramos a palavra e;stin (está) que é de confiabilidade média segundo o original
grego que a classifica como {B}, é encontrada no Papiro 74 que corresponde ao século VII, no Uncial Sinaítico do
século IV, no alexandrino do século V, no do Vaticano do século IV, no Palimpsexto do século VI, no Uncial do
século VI e IX, nos Unciais dos séculos V, VI e de X a XIV, também encontrada na maioria dos manuscritos
Bizantinos Sinaxarion e Menologion, na versão do Latim Antigo do século IX e XIII, na Vulgata do século V, na
versão Siríaca do século V e VII, na versão Copta do século IV, na Armeniana do século V e na versão Georgiana do
século V.
Como variante temos a palavra lamba’,nousi,n tinej (receberam alguém) que é
encontrada no Papiro 38 correspondente ao século IV, e no Papiro 41 que corresponde ao século VIII, no
Palimpsesto do século VI, em uma leitura original do manuscrito. Também é encontrada na versão do Latim Antigo
do século V na leitura original do manuscrito, na versão Siríaca do século VII, e na Cópta do século III.
1.4. Contexto Sócio-Histórico
Pretendemos apresentar este tópico fazendo um estudo que aborda a situação vigente no Império Romano
observando seu contexto econômico, social, religioso e específico que procura descrever de forma mais precisa a
situação onde os fatos estudados em nossa perícope aconteceram.
1.4.1 No Império Romano
No século VIII a C. ocorreu a fundação de Roma, e no século V a C. a sua organização política de forma republicana
de governo. Roma conseguiu várias conquistas na extremidade oriental da bacia do mediterrâneo, com o comando
de Pompeu, assim também sucedeu na Galiléia, por Júlio César. O domínio romano se expandiu. Júlio César foi
assassinado e Otávio que mais tarde passou a ser conhecido por Augusto, derrotou as forças de Antônio e Cleópatra
em 31 a C e tornou-se o Imperador de Roma. Esta medida salvou o reino de Herodes sendo Cleopátra e Antônio
mortos por ordens de Otávio. Assim o império passou de um período de expansão territorial para outro, de paz o que
o tornou conhecido como Pax Romana. No entanto esta tranqüilidade teve fim mediante as grandes revoltas na
Palestina, que os romanos esmagaram nos anos 70 e 135 d C., prevalecendo ainda a unidade e estabilidade política
do mundo civilizado sob a hegemonia de Roma, o que facilitou a propagação do Cristianismo quando de seu
aparecimento.
O Império era dividido em províncias, que eram governadas por governadores instituídos por Roma, através do
imperador ou pelo senado. Nas regiões mais distantes, alguns reis permaneciam no trono, possuindo grande
limitação em seu poder, eram imediatamente substituídos por um funcionário imperial diante de qualquer indício de
tentativa de independência.
Acima, apresentamos um breve relato sobre o surgimento e a organização do Império Romano, foi neste contexto
em que viveu Jesus, Drane, nos mostra que este contexto era marcado pela violência, opressão, discriminação racial,
totalitarismo, exploração, ditadura e injustiça social, o que era muito comum dentro do Império Romano.
A época do nascimento de Jesus foi marcada pelo governo de Herodes o Grande que no momento governava a
Palestina. Herodes foi nomeado rei pelos romanos, sua política ficava quase que toda restrita a um único conceito,
manter-se nas boas graças de Roma, pode-se considerá-lo como um príncipe vassalo a quem os grandes poderes
usam e toleram, a história de sua ascensão ao poder foi vista como sendo um clássico relato de intriga e brutalidade,
aqueles que por algum motivo se opusessem a sua política certamente sofreriam morte violenta. Como tirano que
era, não hesitava em matar, mesmo que fossem pessoas de sua própria família. Com sua morte, seu reinado foi
dividido em três partes, uma para cada filho. Arquelau ficou com a Judéia e parte da Palestina, a que incluía
Jerusalém, seu Reinado durou dez anos pois foi removido pelos romanos. Antipas herdou a Palestina Setentrional,
que incluía Nazaré, cidade onde cresceu Jesus, Antipas seguiu a linha de seu pai, sendo um homem astuto e devasso.
Filipe ficou com o nordeste da Palestina, dos três irmãos somente ele manteve um governo equilibrado e humano.
Arquelau foi substituído por um governador romano, iniciaram-se revoltas na Judéia contra os romanos. Os judeus,
não tinham mais poder de decisão e orientação em seus assuntos. Os romanos cada vez mais se mostravam
insensíveis. Para um povo outrora livre, torna-se difícil aceitar um jugo opressor e desumano como o imposto pelos
romanos, daí o fato de tal resistência. Os judeus tinham sua identidade em sua religião, o judaísmo era o símbolo da
nação judaica, este povo considerava-se o povo escolhido por Deus e tinham em mente que viriam a governar o
mundo direcionados pelo que havia de ser o enviado por Deus, o Messias.
O Império Romano procurou estabelecer a paz entre os povos, paz esta que só servia para aqueles que viviam na
riqueza, pois para os pobres era uma paz imposta que se concretizava pelo sangue e tristeza do povo oprimido. O
Império Romano abrangia uma vasta área que ia muito além de suas fronteiras originais e as pessoas que estavam
sob seu jugo eram tomadas de grande pavor pela brutalidade cometida pelos romanos. Os romanos por sua vez,
procuravam cada vez mais expandir seu Império sem se preocupar com a dor e o sofrimento dos outros povos. Todos
os povos que não se submeteram ao Império eram considerados inimigos e assim abatidos e submetidos a paz
armada imposta por Roma. O povo era submetido à escravidão e obrigado a acatar leis e decretos em benefício dos
governantes. No entanto a Pax Romana chegou ao seu fim quando Roma entrou na decadência monetária no terceiro
século da era cristã, quando a anarquia política e a inflação monetária provocaram um verdadeiro colapso na
economia do Império.
1.4.2. Contexto Econômico Social na Palestina
A situação social também era difícil, distinguiam-se três camadas nesta época, a classe rica e poderosa a qual
pertenciam os príncipes e membros da família real de Herodes, os alto dignitários da corte, as famílias da
aristocracia sacerdotal e leiga, a dos latifundiários, dos grandes comerciantes e cobradores de impostos. A classe
média era muito pequena e praticamente só existia em Jerusalém devido a procedência de suas fontes de riquezas
serem do templo e dos peregrinos, era composta por pequenos comerciantes, artesãos proprietários de suas oficinas,
por donos das hospedarias e pelo baixo clero, por último encontramos a classe pobre que constituía a maior parte da
população, era constituída pelos assalariados, operários e camponeses, os pescadores, os inúmeros mendigos e os
escravos.As classes média e pobre mantinham certa solidariedade e relacionamento, possibilitando mobilidade de
classe. Apenas alguns escribas conseguiram de certa maneira adentrar à classe alta, isto devido ao saber que
possuíam e que os levou a serem membros do Sinédrio, por isso podemos algumas vezes encontrá-los como porta
vozes da "classe alta". A vida para a classe baixa da época era difícil, e não propiciava muitas esperanças como
comenta Mateos:
A enorme distância existente entre a classe rica e a
humilde, e o porte reduzido da classe média faziam
que não existisse para os pobres esperança de
promoção humana, nem tivessem meios para mudar
sua situação dependendo sempre da vontade dos
poderosos.
Na opinião de Balancim ainda existia alguma chance de crescimento, da classe baixa para a média e da média para
alta, no entanto Mateos demonstra a impossibilidade de crescimento da classe pobre para a média, o que nos leva a
crer que Balancim tem uma visão mais otimista e Mateos uma mais pessimista ou talvez realista o que aceitamos
com maior facilidade devido ao contexto que nos é apresentado no decorrer deste trabalho.
1.4.3. Contexto Religioso
A religião no Império Romano era caracterizada pelos mais diversos cultos, isso em decorrência da interpenetração
de várias culturas dentro do império, muitas religiões locais se espalharam por todo o território imperial sendo que o
centro direcional de todos os cultos é Roma sua capital. Os romanos eram tolerantes em relação aos cultos e somente
poucas religiões tiveram seus cultos proibidos, as que exigiam sacrifícios humanos e as que permitiam orgias. Sob a
influência do helenismo as religiões desapareceram passando assim a ceder espaço para a difusão dos cultos de
mistério, se sobressaindo os cultos de mistério do Oriente. Após Alexandre Magno ocorreu uma invasão de cultos
egípcios e orientais na Grécia, como também a crença nas estrelas com todos os mistérios da astrologia, o que
também provocou o surgimento da magia com sua origem no Oriente. Com a sucessão dos gregos pelos romanos,
surgem os cultos a Cibele, Íris e Osiris. No final do século I, após Cristo ter nascido, o culto a Mithras alcança seu
auge, chegando a concorrer fortemente com a fé cristã. Este era o culto dos soldados romanos, sua origem era da
Ásia menor. Além de todos esses cultos já mencionados ainda surgia o culto ao imperador, sendo ele praticado de
duas formas, ao imperador morto e ao imperador reinante. Dreher explica o seu surgimento e forma de expressão da
seguinte forma:
Essas duas formas têm, novamente, suas raízes no
Oriente, mas precisamente na veneração do
governante. Foi este o caso no Egito, na Babilônia e
na Pérsia. O livro do profeta Daniel apresenta,
claramente, o protesto do povo judeu contra esse
tipo de culto. No Império Romano, oficialmente só
se admitia o culto ao imperador morto, mas houve
imperadores que também favoreceram a
religiosidade popular que se expressava em
adoração ao imperador reinante. É o caso de
Calígola e Domiciano.
Na época de Herodes, Jerusalém há muito deixara de ser o Sião de Deus, a vida religiosa estava dividida em
partidos, toda a Palestina desta época deve ser vista como um país ocupado, a dominação romana deve ser entendida
no sentido mais pleno da palavra, no entanto seguiam seus costumes e permitiam que o povo dominado continuasse
sob o regime a que estavam habituados o que significava a organização da comunidade judaica conforme estruturada
depois da volta do exílio, surgia assim uma sobreposição de autoridade o que provocava inúmeras complicações. Os
romanos como também os gregos achavam que o Estado representava o princípio governante essencial, e por assim
pensarem acreditavam que tinham o direito de impor regras sobre a vida dos súditos, segundo seus interesses, a
religião e a nacionalidade eram reconhecidas enquanto instrumento do Estado, religião e adoração religiosa eram
dever cívico. Notamos então que César controlava Deus, no entanto entre os judeus, ocorria o contrário, Deus
controlava tudo inclusive a César. O Estado em si próprio não existia, todo ele era subordinado a religião em Israel,
pois foi através da religião que o povo escolhido sobreviveu em uma época que não tinham pátria nem Estado. Para
o judeu não existe distinção entre lei civil e mandamento religioso, desde que a lei civil fosse subordinada ao
mandamento, nem entre poder político e autoridade espiritual. Notamos que dois sistemas operam conjuntamente,
ou se sobrepunham, sistemas de bases filosóficas diretamente opostas.
1.4.4. Contexto Específico
O Livro de Atos descreve o ministério da igreja primitiva, que com sua mensagem concernente a Jesus, propagou-se
de Jerusalém até Roma, considerada na época o centro do mundo ocidental. Atos também nos mostra a expansão da
igreja em Jerusalém, e dali para a Judéia, Samaria, e regiões vizinhas como Antioquia e até Roma. No livro de Atos
encontramos também a experiência dos discípulos de Jesus em Jerusalém e a forma e o empenho que os mesmos
divulgavam as notícias a respeito de Jesus. O título "Atos dos Apóstolos", acrescentado no II século, não combina
bem com o conteúdo. De fato, Lucas não pretende contar a história de todos os apóstolos. O próprio Paulo, a quem
dedica metade do livro (At 13–28), nem é apóstolo, título reservado por Lucas somente aos Doze. Os fatos aduzidos
da vida de Pedro e de Paulo de modo algum constituem uma biografia. Apesar de Lucas se concentrar nas atividades
missionárias de Pedro e Paulo, na realidade descreve a ação misteriosa do Espírito Santo. Por seu impulso a
trajetória do Evangelho se desloca aos poucos de Jerusalém para Roma, conforme a ordem dada pelo Ressuscitado:
"Sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, até os confins da terra"(At 1,8; Lc 24,47). A
partir desta frase pode-se compreender a estrutura e a intenção teológica de Lucas. Ele quer mostrar como o
Evangelho se propagou no mundo, deslocando-se do mundo judaico para o mundo pagão, não por vontade humana
mas por ordem divina. Este universalismo da salvação perpassa toda a dupla obra lucana (Lc 3,6; At 28,28). A
salvação, contudo, é oferecida primeiro aos judeus (At 1–12), depois aos pagãos (13–28), norma seguida também
por Paulo nas pregações (At 13,46; 17,1s; 18,6; 3,26). Primeiro o Evangelho é pregado aos judeus de língua
aramaica e grega em Jerusalém (1:1–7,60).
Gonzales nos afirma que os primeiros cristão não acreditavam pertencer a uma nova igreja, eram judeus como antes,
sua fé não dependia da negação do judaísmo, mas sim aceitar que a idade messiânica tão esperada pelo povo judeu
havia chegado. Aí encontramos o motivo da perseguição por que Paulo e os outros cristãos passaram, ou seja, não
eram perseguidos por se oporem ao judaísmo mas sim por crerem e pregarem que em Jesus cumpriram-se as
promessas feitas a Israel. Por esta razão os cristãos de Jerusalém não deixaram de guardar o sábado nem de assistir o
culto no templo. Tudo indica que as pessoas que se espalharam por causa da perseguição eram judeus e que também
seus convertidos eram judeus. Não podemos, no entanto, pensar que só os judeus eram batizados ou aceitavam o
novo tempo; é o que Pedro nos mostra quando tem a visão que o ordena batizar o gentio Cornélio e "muitos que se
haviam reunido" com ele. Por este ocorrido, Pedro é questionado pela igreja de Jerusalém e lhes conta a respeito de
sua visão e de como Cornélho havia recebido o Espírito Santo, com tal explicação os de Jerusalém "glorificam a
Deus dizendo: De maneira que também aos gentios Deus concedeu arrependimento para a vida" (At. 11:18).
Entendemos então que embora a primeira expansão do cristianismo tenha sido efetuada através de cristãos de
tendência helenizante que fugiram de Jerusalém, a igreja da cidade Santa deu sua aprovação à missão entre os
gentios.
Como o nosso relato acontece em Éfeso, conforme Atos (19:10) achamos relevante apontarmos ainda alguns fatos
históricos que ocorreram enquanto Paulo por lá estava a pregar o Evangelho, e isto se deu em sua terceira viagem
missionária por volta de 54-57 d. C.
Éfeso era uma das cidades mais antigas da colônia na costa ocidental da Ásia Menor como também a principal
cidade da província romana da Ásia. No oitavo século era um centro populacional importante,. Situava-se a quatro
quilômetros do mar e no rio Causter que era navegável, de forma que Éfeso era um porto marítimo, pelo vale do
Causter que era muito extenso, se constituía uma rota de caravanas para o Oriente. De Éfeso partiam estradas
estabelecendo a comunicação com todas as outras grandes cidades daquela província, fazendo uma ligação
comercial desde o norte até ao oriente. Éfeso por assim ser, se constituía em ponto estratégico para o Evangelho
devido a facilidade de se manter contato com todo o interior asiático. Não podemos esquecer de mencionar que em
Éfeso existia um grande templo de Artemes, que era uma figura feminina de muitos seios, identificada com Artemis
dos gregos e a Diana dos romanos, seu templo não era lugar só de adoração mas também de refúgio para os
oprimidos, e um depósito de fundos. Além do culto a Artemes, a Roma e ao imperador, Éfeso acolhia bem os deuses,
Apolo, deus do sol e considerado esposo de Artemes, e Dionísio, deus da bebedeira e do êxtase, que tinha em sua
honra uma grande procissão. Isis, deusa egípcia da medicina, protetora dos marinheiros, favorável às prostitutas e
aos encontros amorosos, tinha um templo na área sagrada do grande santuário de Artemes. Em Éfeso ainda existiam
os exorcistas judeus que eram itinerantes. Acrescentando a isso o clima de comércio dos exorcismos e da magia que
reinava em torno do templo de Ártemis, pode-se deduzir que esta gente cobrava pelo que fazia. Sabe-se também que
os exorcistas judeus gozavam de grande prestígio por causa de suas fórmulas que atribuíam a Salomão.
Éfeso era uma cidade livre e mantinha governo próprio, lá Paulo encontrou alguns problemas dentre os quais o
primeiro foi a permanência dos ensinos de João Batista, sendo seus discípulos ainda ativos após sua morte. Apolo já
pregara em Éfeso acerca de Jesus "conhecendo somente o batismo de João", sabia que o Messias viria e que a
preparação para o seu ministério deveria incluir o arrependimento e a fé. Seus conhecimentos não eram falsos porém
parciais. Através de Priscila e Áquila sua compreensão foi ampliada. Apolo partiu de Éfeso antes de Paulo chegar
mas ainda permaneceram ali outros como ele. Esses homens, discípulos de João Batista não possuíam ainda uma
experiência espiritual, fato óbvio pois quando Paulo entra em contato com eles e lhes pergunta acerca do Espirito
Santo a resposta deles é de desconhecimento a respeito do mesmo. Paulo lhes fala da insuficiência do batismo de
João para a produção da experiência cristã completa. Assim sendo o primeiro problema de Paulo em Éfeso era de
atualizar crentes sinceros mas imaturos. O segundo era o ocultismo, que após uma demonstração do poder do
Espirito Santo as pessoas relacionadas ao assunto queimaram seu livros de magia em que confiavam. Paulo pode
pregar sem impedimentos nas sinagogas e na escola de Tirano, operou milagres e teve contato direto com a
população de Éfeso e da província em geral. A igreja de Éfeso tornou-se um centro missionário e durante séculos foi
um bom baluarte do cristianismo na Ásia Menor.
1.5. Análise Literária
O autor de Atos logo no início de seu prólogo Lc – At (Lc 1:1-4) e (At. 1:1ss) deixa claro que utilizou ampla
informação para assim compor esta obra tão rica de conteúdo histórico e doutrinário, se o livro for percorrido de
forma atenta poderá ser encontrada nele a contribuição de uma diferenciada documentação. Esta documentação
percorre todo o livro, tanto em partes narrativas como nos discursos, sendo que nos discursos nota-se a arcaicidade e
a dependência de fontes preexistentes.
No livro de Atos podemos encontrar duas divisões, os capítulos 1-12 tratam da divulgação da palavra em Jerusalém
e na Palestina, enquanto que os capítulos 13-28 narram a divulgação da palavra no mundo helenista chegando até
Roma. Assim sendo, para falarmos das fontes de Atos, temos de fazer uma abordagem de forma separada para cada
uma das partes principais. Algumas partes da Segunda metade de Atos falam na primeira pessoa do plural, temos
então uma fonte que fala "nós" como por exemplo em 16:10, depois existe uma longa pausa e acontece novamente
em 20:5-15, em 21:1-18 e em 27:1-28 o que levanta a suspeita de estas passagens serem anotações do companheiro
de viagem, mas estas passagens não se distinguem por linguagem e estilo da parte restante de Atos o que resulta em
que as partes em "nós" pertencem ao mesmo autor da obra toda. Portanto o "nós" não da margens para a inferência
de uma fonte de Atos, mas foi utilizado pelo autor para dar um aspecto mais vivo à sua descrição da atividade de
Paulo. Já na segunda parte, acredita-se que o autor tenha possuído apenas um índice das estações visitadas por Paulo
e que ele pode utilizar não apenas material isolado, mas um breve relatório de viagem. Nota-se que a segunda parte é
mais unitária, enquanto que a primeira é mais fragmentária, no entanto, não se pode questionar a mão atuante de
Lucas a qual imprime a todo o material reunido a mesma elaboração lingüística e literária. Em geral, pode-se afirmar
que a primeira parte é mais arcaica e aramaizante, enquanto a segunda é mais grega e desembaraçada.
Como já falamos no início, o autor de Atos recorre a uma ampla variedade de fontes que podem ser tanto escritas
como orais, mas o importante é que elas ofereciam consistência e autoridade muito grande tendo em vista que são
elas que explicam a diversidade das duas partes do livro, a despeito de um trabalho redacional cuja importância é
atestada pela unidade literária do conjunto. No entanto, é muito difícil isolar e delimitar tais fontes com segurança,
mesmo no caso do "itinerário" ou "diário" de viagens que como já mencionamos a existência é postulada para
passagens em "nós" sem que se possa traçar os limites exatos. Em contrapartida, podemos nos situar melhor no que
se diz respeito a vida da igreja primitiva, a origem dessas fontes ( As igrejas da época provável), como nos explica o
relato a seguir:
Cada igreja devia conservar lembranças de sua
função e da sua história ( 1Ts 16:2; 1Cor. 2:1-5, 3:5-
6) e conhecer certos episódios da vida do seu
fundador ( 1Ts 2:2; 3:1-2, 2Cor. 11:22; 12:10; Gal.
1:15 – 3:14), edificantes, admiráveis ou pitorescas
essas informações podiam passar de uma igreja a
outra ( 1Ts 1:8; 2:14; 1Cor. 8:5 etc.) E centros
importantes com Jerusalém ou Antioquia eram
certamente favorecidos neste particular e deviam
conservar, por escrito ou oralmente, numerosas
informações desse gênero. É preciso enfim
acrescentar que se o autor de "diário de viagem" e o
dos Atos são o mesmo, este personagem
companheiro de Paulo, dispunha também de
lembranças pessoais.
1.5.1. Autor e Data
O autor do segundo século em diante tem sido identificado corretamente e com toda a probabilidade com Lucas,
médico e companheiro de viagem de Paulo conforme Cl. 4:14; Fm 24; 2Tm 4:11.
Cullmann também concorda com a autoria de Lucas e data o livro entre 80 e 90, dando a seguinte explicação:
Admitamos pois que o autor dos Atos é Lucas,
companheiro de Paulo e autor do terceiro
Evangelho. Sendo o livro dos Atos a continuação do
Evangelho de Lucas e datando este do ano 80,
aproximadamente, o livro dos Atos dos Apóstolos
pode ter sido redigido entre 80 e 90.
1.5.2. Destinatários e Propósito
O próprio conteúdo do livro e a fé nele expressa, como também os problemas tratados nele indicam que o autor
escreve sobre tudo para um público cristão como nos demonstra melhor a explicação; "Lucas escreve os Atos antes
de mais nada bem como seu Evangelho para a instituição e edificação dos Cristãos" ,e Auneu possui ainda uma
idéia mais abrangente em relação aos destinatários e comenta:
A convicção cristã de Lucas confere à sua obra
extrema ambição. Essa mesma ambição torna
impossível a delimitação dos destinatários. Sem
dúvida o prólogo dirige-se a Teófilo, mas não deixa
de ser uma convenção literária. Além dele Lucas
espera outros leitores. Em primeiro lugar, cristãos
que poderão aprofundar a sua fé. Outros homens e
mulheres deveriam depois ter a atenção atraída pela
qualidade literária e interesse da obra.
Quanto ao propósito, Atos exprime a nova tomada de consciência do círculo dos discípulos vendo-se como igreja,
como realidade dentro deste mundo que vai ocupar um lugar próprio na história da humanidade. A descrição da
ascensão tem por fim encerrar definitivamente a atividade histórica de Jesus, prolongada para o autor nas aparições.
Segundo Tenney, o Evangelho de Lucas é predominantemente histórico e nenhum outro escritor apresenta datas para
sua narrativa como o faz Lucas como também nenhum outro faz tão completo esboço da carreira de Cristo, desde o
nascimento até a morte o que nos leva a concluir que Lucas além de tentar marcar o final das atividades de Jesus,
também tenta dar a seu leitor uma documentação histórica do início das atividades da igreja, desde os seus
primórdios como também do início até o fim das atividades de Cristo enquanto encarnado.
1.5.3. Delimitação e estrutura da perícope
Quando Paulo chegou a Éfeso encontrou doze homens que receberam o batismo de João mas não o batismo de
Jesus. Ele já havia encontrado anteriormente esta mesma situação em conexão com Apolo antes em Atos 18:24-28 e
a considerou com a mesma intensidade. Podemos considerar isto como uma controvérsia sobre os dois batismos na
igreja primitiva, isto nos faz entender que desde o início não houve unanimidade entre os cristãos, sempre houve
diferenças de opiniões e práticas. Assim o autor de Atos em busca da unidade vai abordar esta questão controvertida,
e é o que acontece em Atos 19:1-7. Entendemos então aceitável a delimitação da perícope dos versículos 1 a 7, pois
constitui uma unidade coesa e completa do assunto do batismo.
Diante do texto gostaríamos de propor a seguinte estrutura:
versículo 1 a – Paulo chega a Éfeso
versículos 1b a 3 – Questionamento de Paulo aos discípulos em relação ao Espírito Santo.
versículos 4 a 7 – Paulo fala a respeito dos dois batismos e os discípulos são batizados no nome de Jesus e recebem
o Espírito Santo.
1.5.4. Gênero e Estilo Literário
Podemos considerar o estilo de Lucas em Atos como uma narrativa técnica que é caracterizada pela estrutura de
dois volumes em uma única narrativa. Para Tenney este estilo também inclui o Evangelho que é caracterizado como
o mais literário de todos; "as suas histórias, saídas dos lábios de Jesus ou contadas por êle próprio, são jóias de
expressão e o seu vocabulário é rico e variado."
1.6. Análise Semântica
Para nossa análise semântica escolhemos algumas palavras e expressões que acreditamos ter sentido relevante para
uma melhor compreensão do texto em estudo.
1- pneu/ma a[gion, passaremos a analisar esta expressão a partir do Antigo Testamento e depois
passaremos ao seu significado no Novo Testamento. No Antigo Testamento, a primeira compreensão do Espírito é
através da experiência do vento, que é uma força atribuída a Javé e está a sua disposição. Javé é visto como Senhor
do vento, sendo a palavra "rûah jâhweh" a palavra que indica esta realidade, esta mesma expressão mais tarde,
designará o "Espírito de Deus". Por isso o vento constitui a imagem fundamental para indicar a experiência do agir
divino. O Espírito também é entendido como sendo o hálito, um elemento vital dado por Deus, ele é a condição de
vida, "quem respira esta vivo, quem não respira esta morto". As imagens de "vento" e "hálito" correspondem a
descrição daquilo que age com potência na vida do ser humano, como o Espírito de Deus, do sopro do vento e do
hálito de vida, como instrumento de potência de Deus se chegará ao Espírito de Deus.
Para as pessoas do antigo Oriente, existe um grande temor reverencial diante do vento. O vento tem significado
mesmo que a força misteriosa e poderosa que era adorada pelos pagãos como sendo um deus da natureza, mas que
os israelitas, graças ao seu monoteísmo superior, consideravam como instrumento das intenções histórico-salvíficas
de Deus. O rûah representa uma grandeza natural e poderosa da qual o Senhor se serviu em todos os momentos da
história da salvação para a execução de seus planos. Ao vento também é atribuído em uma época mais tardia a
capacidade criadora, como por exemplo, a ação do vento que traz as nuvens de chuva que faz com que a terra seja
fecundada no deserto seco (1Rs 18:45; 3:17; Os 13:15; Jo 1:19). Nos tempos messiânicos derrama-se um "rûah do
Alto" que transformará a terra num jardim do paraíso ( Is 32:15) etc. .O vento não é visto como força independente
mas um poder dominado e dirigido por Deus a serviço da criação e da história da salvação. Deus "criou os
ventos"(Am 4:13) o vento é "um sopro de Javé" (Ex 15:8; Is 40:7; Sl 18:16 etc.) .
O hálito também tem um sentido já encontrado nos textos mais antigos (Gen. 45:27; Jz 15:19). Ele é força
vivificante, enquanto o ser humano o respira, se torna sede portadora da vida, ele é fonte de vida para os seres
humanos e animais (Gen. 7:22; Num 16:22 etc.). Deus soprou no nariz do primeiro homem o "hálito da vida" (Gen.
6:77) de modo que ele se tornou um ser vivo, e toda a duração depende desse hálito "rûah" (Jo 27:3s; 34:14s; Sl
104:29s; 146:4, Ec 3:18-21; 12:1-6). Resumindo, rûah designa primeiramente o vento, força misteriosa e irresistível,
que Javé usa para executar seus planos na criação e na história, no ser humano é a respiração com todos os
fenômenos que a acompanham e que impregna os seres humanos e os animais, desde o seu primeiro momento até o
fim.
Não poderíamos deixar de mencionar o sentido de rûah como sendo lugar de sentimentos e pensamentos, visto que a
respiração está intimamente relacionada com as emoções. Assim sendo o rûah é considerado como lugar dos
sentimentos, pensamentos e decisões da vontade (Ex 35:21;29; Is 19:3; Jer 51:11, Ez 11:19; 36:26; Sl 51:12; Prov.
16:12; 21:2) e de mesmo modo como o coração ou alma, não sendo aceitável no sentido filosófico que não tem
espaço no Antigo Testamento.
Passaremos agora a estudar o sentido de pneu/ma a[gion no Novo Testamento, correspondente a rûah
do Antigo Testamento. Aqui o sentido de "vento" desaparece quase por completo. Encontramos os sinóticos e Atos
dos Apóstolos dando uma maior ênfase aos efeitos físicos do Espírito (At 1:2-3,Lc 24:50-53, Jo 17:17-19) e as cartas
e o evangelho de João alcançam com o mistério da nova criação e do novo nascimento (Jo 3:5-7, 6:63, 14: 15, 17) o
ápice na teologia do Novo Testamento sobre o Espírito Santo. O sentido antropológico é pouco mencionado,
principalmente em Paulo.
Para uma descrição mais detalhada do Espírito no Novo Testamento, devemos recorrer a Marcos e Mateus que o
apresentam como a força de Deus que capacita para realizar ações extraordinárias, e cuja atuação assegura a
proximidade de Deus e sua intervenção no mundo dos seres humanos. Lucas e Atos, revelam especificamente o
sentido neotestamentário do Espírito, assim como em Paulo. Lucas entende que Jesus não é alguém possuído pelo
Espírito, mas o Senhor que possui o Espírito, isto é o tem de forma estável. Jesus não é objeto mas sujeito do
Espírito. Não é levado pelo Espírito mas faz seu caminho no Espírito (Lc 4;14).
O batismo de João Batista era a preparação para a vinda daquele que havia de batizar com o Espírito (Mt 3:11) e que
havia de realizar a purificação messiânica e esta seria feita pelo Espírito, a força divina que pela condenação dos
pecadores havia de purificar o povo do mau (Is 4:4) e recriar moral e religiosamente o povo da nova aliança. Assim
o Espírito é uma força santificadora, como princípio da vida eterna (1Co 6:11; Jo 3:5-8; 6:63; 7:37-39) e a força
divina "da vida em Cristo". O ser cristão é possuir o "espírito de Cristo" (Rm 8:9) ou o Espírito (Rm 5:5), é estar no
Espírito (Rm 8:9) pois é o Espírito que garante ao fiel a filiação divina e a redenção do corpo da escravidão da
corrupção (Rm 8:20-22). A nova vida em Cristo ou no Espírito o cristão a recebe no batismo, no qual pelo Espírito
nasce a vida divina, a unidade com Cristo e a dos fiéis entre si (Rom 6:3s e 12, Gal 3:27; 1Co 6:11; 12:13). O ser
humano deve nascer da água e Espírito, do batismo que é o banho do renascimento e da renovação pelo Espírito(Jo
3:5; Ti 3:5; At 2:38; 19:2-16).
2- ba,ptw , bapti,jw, que acreditamos ser importante analisá-la para uma melhor compreensão do
texto, esta palavra tem como primeiro sentido o significado mergulhar, em Josefo é utilizado somente neste sentido.
A intenção ocorre no sentido de imergir desde os tempos de Hipócrates, em Platão e em escritos antigos. É visto
também como um simples ritual ou um símbolo. O sentido de batismo foi ocasionalmente encontrado no helenismo,
geralmente nos contextos religiosos. O Novo Testamento usa somente o significado literal ( Lc 16:24; Ap. 19:13), é
também usado no sentido cultico nas cerimônias judaicas de purificação (Mc 7:14; Lc 11:38). Este uso mostra que o
batismo é entendido as vezes como algo novo e estranho. Nas cerimônias de purificação do helenismo eram usado
como banhos sagrados, encontrados na cultura grega, na religião egípcia e nas celebrações de Isis fora do Egito, nos
jogos de Apolinário e no festival de Pelusium. Por essas e por outras razões é impossível traçar, dentre todos estes
costumes, uma única fonte para a tradição do batismo dentro do helenismo. Existia também o batismo no contexto
sacro ou similar, este uso não é freqüentemente encontrado no helenismo por essa razão o mesmo não adquire um
sentido tecnicamente sacro. Segundo Kittel, no helenismo, o significado cúltico do batismo é muito pequeno.
Enfatiza que para Philo e Josefo o batismo aceitável por Deus, significa não a purificação da alma mas a santificação
da vida por que a alma já está limpa. Portanto, no helenismo não existe muita conexão entre purificação e
vivificação.
No Antigo Testamento e no Judaísmo a palavra é lbj. Na Septuaginta LXX, é usado com o sentido de imergir só
uma parte em vinho e Juizes 2:14, de pé no rio, em Js 3:15, do dedo em sangue na Torá de sacrifícios em Lv 4:6 e
17, etc., do mergulhar de utensílios impuros na água nas leis de purificação de Lv. 11:32. No período do judaísmo
antigo lbj. e bapti,jein se tornam termos técnicos para a purificação das impurezas dos levitas. A
purificação de prosélitos pertencem a este contexto, portanto o batismo de prosélitos é anterior ao batismo Cristão. A
origem dessas cerimônias de purificação são difíceis de fixar, uma vez que em primeira instância parece não diferir
de outros banhos e também não se parece com nenhum ritual especial. Genealogicamente os banhos judaicos
incluindo prosélitos, estão vinculados aos já existentes ritos de purificação. Consequentemente, no entanto, a
concepção judaica fortemente transcendental de Deus fez com que o conceito de batismo se desenvolvesse
exclusivamente por linhas legalistas. Sua única meta era a pureza ritual. O significados de "encobrir", "mergulhar" e
"perecer" parecem estar quase que ausente do hebraico e aramaico. Após esta descrição do sentido de Batismo tanto
no Antigo como no novo Testamento, passaremos a observar o pensamento de Lucas acerca do batismo, tendo em
mente ele ser o autor de nosso texto em estudo. Para Lucas, a descida do Espírito Santo no Batismo é mais
importante que o próprio batismo. Em At. 1:5 observamos o fim do batismo de João, o que Lucas considera como
sendo o fim da época véterotestamentária e a história da salvação como o começo do ministério de Jesus (At. 1:22;
10:37; 13; 21) e espera também a descida do Espírito Santo pelo Dom escatológico dos últimos tempos. Lucas se
sente surpreendido quando houve a exortação de Pedro dirigida aos que se sentiam compungidos pela dor do
arrependimento (At. 2:37) e exorta-os a se batizarem, com vistas na pregação de Jesus que havia dado esta tarefa
para que recebessem o perdão dos pecados e o Dom do Espírito Santo como também fossem incorporados na
comunidade cristã. Desta forma o batismo se torna o símbolo do movimento de conversão que se põe em marcha,
este movimento pelo qual o Senhor faz com que os indivíduos se incorporem a comunidade diante do progresso da
fé que haviam aceito.
Como podemos observar Lucas dá mais importância na descida do Espírito Santo no batismo do que no próprio
batismo, supomos que isto é devido ao fato de que para se receber o batismo como símbolo de entrada na
comunidade de Jesus, é preciso antes ter fé e saber o significado deste símbolo o que só será possível após ter
recebido o Espírito que é o que nos proporciona esta fé. Bonhoeffer, tem o seguinte pensamento acerca do batismo
em comunhão com o Espírito:
O Batismo obriga o homem a uma atitude passiva;
isso não significa que ele é um processo mecânico;
isso fica evidente na relação Batismo-Espírito (Mt
3:11; At. 10:47; Jo 3:5; 1Co 6:11-13). A dádiva do
Batismo é o Espírito Santo. Este, porém, é o próprio
Cristo tomando morada no coração dos fiéis (2Co
3:17; Rm 8:9-11, 14ss; Ef 3:16s). Os batizados são a
casa na qual o Espírito Santo tomou morada (oikei).
O Espírito Santo garante a permanente presença de
Cristo e sua comunhão, dá-nos verdadeiro
conhecimento de seu ser (1Co 2:10) e de sua
vontade, ensina e faz lembrar tudo o que Cristo nos
dissera (Jo 14:26); conduz a toda verdade (Jo
16;13), para que não falte conhecimento de Cristo,
que possamos saber o que nos é dado por Deus
(1Co 2:12; Ef 1:9). O Espírito Santo produz certeza
e não incerteza. Por isso podemos nós viver no
Espírito (Gl 5:16, 18:25; Rm 8:1 e 4) e dar passos
seguros.
Com o pensamento acima podemos ter uma maior certeza em nossa suposição, pois nele podemos observar a
necessidade de se ter recebido o Espírito para assim ter a plena convicção de querer fazer parte do corpo de Cristo
em sua estrutura física aqui na terra, a saber a igreja.
Ainda no sentido de batismo, encontramos VIwa,nnou ba,ptisma, João Batista que batizava com
o batismo de arrependimento. As analogias próximas ao batismo de João foram o batismo oficial do judaísmo e
especialmente o batismo prosélito. Assim como este batismo de João é um e é para todos. Em contraste com o
batismo prosélito, sua orientação não é política ou ritualista mas distintivamente ética, com uma relação muito
próxima da escatologia. Desta forma para João o relacionamento entre as pessoas é essencial e urgente pois visa
preparar o povo para a iminente vinda de Jesus. É portanto uma prática de iniciação para a comunidade messiânica
em conecção com passagens proféticas como Is 1:15ss e Ez 36:25, o batismo de João pode ser visto como um novo
desenvolvimento. Sua concepção básica permanece no sentido de banhos de purificação acrescentando a confissão
de pecados, o batismo é em primeira instância uma expressão de repetição, de tristeza pelo pecado e o desejo de se
ver livre dele. Todavia em comparação com o batismo cristão o batismo de João é um mero batismo de água. O que
se diz a respeito do batismo com o Espírito Santo (Mc 1:8; Jo 1:26; At 1:5, 11:16 19:2ss e batismo com fogo, Mc
3:11; Lc 3:16 e At 2:3) nos mostra que no batismo de João há pelo menos a influência do conceito de batismo já
presente no helenismo. O que não é completamente conhecido no antigo judaísmo. O contexto Escatológico nos
impede de assumir que a noção individualista de regeneração exposta no sincretismo pudesse ter penetrado nos
círculos de idéias do Batista, ou ainda ter dado contribuição essencial ao seu batismo; o que João concebeu do seu
batismo como o morrer voluntário não pode ser deduzido das correntes de imersões no judaísmo.
João entendia que seu batismo era único por imersão e implicava em engajamentos morais (Lc 3:1-18). Para tanto a
explicação mais próxima é encontrada na idéia rabínica aludida por Paulo de que para receber a lei de Deus e atingir
a terra prometida, o povo foi "batizado no mar, com respeito a Moisés" (1Co 10:1ss). Os prosélitos eram batizados
provavelmente para que após a passagem do Mar Vermelho também lhes fosse aplicada. Conforme a tradição
judaica, os acontecimentos do Êxodo prefiguram eventos finais, tem como função anunciar o que acontecerá ao
advento da salvação eterna. Assim sendo, foi a fim de "habilitar para o Senhor, cuja vinda era iminente" que João
batizou, reunindo no deserto o povo messiânico (Mt 3:1) mediante batismo de arrependimento (Mt 3:6; At. 19:4) e
de perdão que realizou na travessia do Mar Vermelho. Este batismo foi de água, o que quer dizer que purifica (Ez
36:25), julga (Gn 7ss) e infunde esperança (Is 35:7), prepara para a salvação sem ainda a conhecer; somente dá
conhecimento ao estado de coisas reprovadas por Deus, mesmo sem substituí-las pelo Reino de Deus, tem
significado do fim do século presente mas ainda não suscitou o vindouro, mostrando assim que João Batista ainda
não fazia parte da nova aliança (Mt 11:9-15).
3- Na seqüência encontramos ainda uma palavra bastante significativa, palavra esta que praticamente diferencia o
batismo de João do batismo cristão que é metanoi,aj ,como um sentimento, na verdade uma tristeza de
coração por causa dos pecados cometidos, de parceria com a resolução de não mais cometê-los. No Novo
Testamento, não é apenas uma mudança no comportamento moral mas também na iniciação de uma nova realidade,
de perspectivas escatológicas. O arrependimento produz uma completa alteração da motivação básica e da direção
da vida da pessoa arrependida. Lucas vê o arrependimento vinculado com o perdão de pecados ou com o batismo e a
recepção do Espírito da salvação (At. 2:38; 19; 5:31; 8:22; 11; 18). Esta relação é definida da seguinte forma: o
arrependimento é a condição para o perdão, e este por sua vez é requisito prévio para receber a salvação (At. 2:38;
3:19). Lucas segue fielmente a herança bíblica tradicional que considera o arrependimento como um ato único (Lc
17:3 ss.).É importante também levar em conta a compreensão ética de Lucas dentro de sua perspectiva histórico-
salvífica, em sua concepção é preciso afastar-se da vida pecadora a fim de conseguir o perdão dos pecados e a
salvação que há no nome de Jesus.
4- evbapti,sqhsan eivj to. o;noma tou/ kuri,ou Vihsou
""receberam o batismo em nome do Senhor Jesus", na comunidade cristã o batismo foi praticado desde o início (At
2:38, 41; 8:12; Rm 6:3, 1Co 12:13). Seria errado atribuir a isto exclusivamente a uma influência dos discípulos de
João. A comunidade certamente recebeu informações de que a prática do batismo realizaria a intenção do Senhor. A
característica distintiva do batismo cristão é então administrada em nome de Jesus ou em Cristo. Esta forma de
batismo significa a união com Cristo em sua morte e ressurreição, ou seja a participação em sua forma de vida, é o
momento em que o poder do Espírito se torna mais evidente na vida do crente, com resultados a longo prazo, este
batismo espiritual é a "realidade simbolizada" da qual o batismo em água é o "sinal" ou símbolo externo e físico.
Quem se faz batizar passa a fazer parte da força do nome de Jesus, por meio do qual o Senhor ressuscitado é
exaltado e está presente na igreja. O nome de Jesus é essencialmente salvífico, por uso com o batismo dado ao fiel,
ele recebe uma participação direta e imediata na salvação que o nome de Jesus contém e pode desprender justamente
por que o fiel é batizado sob o poder deste nome. Assim sendo, o batismo é uma separação radical onde Cristo
intervém no reino de Satanás, liberta os seus e cria sua igreja, neste momento o passado e o presente são separados,
aqui a pessoa é privada das relações com o mundo pois Cristo, o Mediador e Senhor se interpôs entre a pessoa
batizada e o mundo. "Quem é batizado já não pertence ao mundo, já não lhe serve, já não lhe é subordinado.
Pertence unicamente a Cristo e relaciona-se com o mundo somente através de Cristo".
5- evpiqe,ntoj auvtoi/j tou/ Pau,lou Îta.jÐ cei/raj ou seja "Paulo impôs as
mãos sobre eles". Sobre este termo, o Novo Dicionário da Bíblia nos diz:
Ações com as mãos eram uma parte importante do
antigo ritual religioso como, por exemplo, na oração
(1Rs 8:54; 1Tm 2:8), na invocação da bênção divina
(Lv 9:22; Lc 24:50). Jacó abençoou os filhos de
José impondo-lhes as mãos sobre suas cabeças (Gn
48:8-20). Jesus semelhantemente abençoou as
crianças que lhe foram trazidas (Mc 10:16; Mt 19:
13-15) Jesus também tocou ou impôs suas mãos
sobre os infermos (Mc 5:23; 6:5; 7:32; 8:23-25; Mt
9:18; Lc 4:40; 5:13; 13:13), como fizeram-no
igualmente os apóstolos (AT 9:12,17; 28:8).
Este rito tem seu fundamento no Antigo Testamento, onde simbolizava o recebimento de algum poder vital como a
transferência do poder de uma pessoa para a outra, como quando Moisés impõe as mãos sobre Josué (Num 27:18 e
Dt 34:9). Esta transferência da parte de Deus, é de responsabilidade e do Espírito de sabedoria conferido por Deus.
Existe também um rito no dia da expiação em que Arão coloca suas mão sobre a cabeça de um bode, que era
enviado ao deserto e sobre ele confessava os pecados do povo assim transferia-os para o animal (Lv 16:21),
semelhantemente ocorria um rito que acompanhava as ofertas queimadas pacíficas, pelo pecado e de ordenação (Lv
1:4; 3:2; 4:4; Nm 8:12) que indicava a "identificação do povo com sua oferta". Podemos observar ainda este ato no
sentido representativo, quando os levitas e sacerdotes representavam o povo perante Deus. Eles foram ordenados
quando o povo impôs as mãos sobre eles (Nm 8:10).
No Novo Testamento o sentido é o mesmo, por meio do qual Deus pretende conferir seu Espírito e certos Dons, este
gesto é eficaz mas de maneira alguma é mágico, na medida em que é instrumento da ação de Deus, do Cristo. Em
relação ao batismo, existem dois lugares no livro de Atos (8:14-17 e 19:1-7) que mostram claramente que o gesto da
imposição de mãos é concomitante ao batismo, ou seja ao mesmo tempo, durante o qual a imersão realiza a
purificação dos pecados e a imposição visivelmente transmite o Espírito Santo. Seguindo as analogias do Antigo
Testamento, a imposição de mãos era também o rito da ordenação para o serviço cristão. Após ter escolhido os sete
diáconos a congregação ou provavelmente os apóstolos oraram e impuseram as mãos sobre eles (At. 6:5ss)
semelhantemente a igreja em Antioquia orou e impôs as mãos sobre Barnabé e Saulo para a obra missionária (At.
13:3).
Jesus também curava através da imposição de mãos ( sem ficar preso ao gesto), freqüentemente Ele impunha as
mãos em seus milagres de cura (Mc 6:5; Lc 13:13) onde a imposição de mãos é um sinal, e meio da ação da palavra.
Jesus não era um curandeiro, mas sim agia em nome de Deus e pleno de seu Espírito, transmitia aos enfermos o
Espírito de vida, do qual a cura é uma das manifestações. A ação de Jesus é prolongada por seus discípulos e de sua
igreja, segundo a ordem e promessa do Cristo ressurrecto "... se impuserem as mãos sobre os enfermos eles ficarão
curados" (Mc 16:18).
6- Ainda encontramos algumas expressões bastante interessantes como evla,loun te glw,ssaij
kai. evprofh,teuonÅ " "e puseram-se a falar em línguas e a profetizar". No grego "glossai".
Diante da lista de dons espirituais de I Co. 12:4-11 esse é o oitavo dos nove dons do Espírito Santo. Esta lista está
exposta em outros lugares no Novo Testamento em forma levemente diferente. A primeira e também mais clara
evidência deste dom é encontrado em Atos, entre os acontecimentos do dia de pentecostes e fundação da igreja.
Podemos ver o significado das línguas estranhas da seguinte forma, esta é uma linguagem que não é compreensível
pelos ouvintes exceto em Atos 2:4-11, é a expressão de desabafo do Espírito, em algumas igrejas tornou-se parte
normal do culto, que deve ser controlada (1Co 14). É uma linguagem dirigida não a homens mas a Deus (1Co 14:2),
edifica mais ao que fala do que os ouvintes (1Co 14:4), deve ser interpretada (1Co 14:5,19:27) é um sinal para os
que não crêem (1Co 14:22). Paulo indica que pode haver línguas celestiais (1Co 13:1), mas também parece ter
havido certa espécie de êxtase, em que é proferido algo que não representa qualquer idioma, mas que pode ser
constituído apenas de "sons" (1Co 14:10-12). No livro de Atos, as línguas têm por propósito transmitir a mensagem
cristã aos incrédulos. O alvo final de toda ação da comunidade é a edificação do corpo de Cristo .
Podemos também encontrar evidências extrabíblicas em que pessoas falavam em línguas. No mundo antigo, profetas
pagãos eram comumente associados com exclamações extáticas, arrebatamentos e comportamentos frenéticos,
existem ainda registros de fala extática e de coisas semelhantes no Egito, no século XI a C. No mundo helênico a
profetisa de Delfos e a sacerdotisa sibilina falavam em linguagem desconhecida ou inteligível, também os ritos
dionisianos continham um estado como de êxtase, bem como glossolalia. Ainda os magos e feiticeiros do mundo do
século I demonstravam fenômenos semelhantes como no caso do "espírito adivinhador" em Filipos (At. 16:16-18).
Na religião grega existe uma série de fenômenos comparáveis do culto entusiástico de várias divindades. Existem
listas inteligíveis de nomes de letras mágicas que eram usados para invocar e conjurar deuses e espíritos, os quais
podem ser análogos a este obscuro e incompreensível falar em línguas. Paulo sabendo da similaridade entre o
helenismo e o cristianismo em respeito a este fenômeno místico e extático, em 1Co 12:2ss trata de distinguir. Ele
pode aceitar falar com línguas como um trabalho do Espírito Santo, como um carisma (1Co.14:39), mas ele
recomenda que esta prática deve ser subordinada aos princípios gerais que exorta a ordem, limitação e prova ( 1Co
14:26ss e 40). Maior que o dom de línguas, o qual na visão do contexto pagão dos habitantes de Corinto que
estavam inclinados a vê-lo como um dom de profecia, e superior a todos os dons do Espírito, nos quais em si
mesmos não tem valor e são transitórios (1Co 13).
Quanto a profecia, encontramos que seu papel principal está relacionado com o profeta, no Novo Testamento, sua
função era a de comunicar revelações divinas de significação temporária que mostrava a igreja o que deveria fazer
em determinadas circunstâncias. Sua mensagem era de edificação, exortação e consolação e em certos casos incluía
declarações sobre a vontade de Deus (At 13:1), como também podiam ser profecias acerca de acontecimentos
futuros (At 11:28; 21:10s). O ministério do profeta esta voltado para a igreja (1Co 14:4, 22).
Devemos estar atentos também para a questão dos novos convertidos que recebem o Espírito Santo, e profetizam ao
confessar sua fé e participam a seus irmãos a revelação que os acaba de iluminar (At 19:6).
1.7. Síntese do Significado
Nesta passagem Paulo chega a Éfeso onde encontra pessoas que tinham sido batizadas no batismo de João Batista
mas ainda não sabiam que Jesus Cristo, aquele que João havia predito que viria já havia se manifestado.
Paulo então tem a missão de atualizá-las e lhes trazer o batismo cristão. Paulo explica o sentido do batismo de João e
fala de Jesus. Aquelas pessoas aceitam que Cristo havia chegado como também o seu senhorio em suas vidas, são
batizados em água e no nome de Jesus e recebem o batismo com o Espírito Santo e começam a profetizar e a
falarem em línguas.
Esta passagem então nos mostra a necessidade de sermos cristãos autênticos tendo como objeto de fé somente nosso
Senhor Jesus Cristo como também que não existem regras para recebê-lo juntamente com seu Espírito, basta crer em
seu nome e confessá-lo como Senhor e assim seu Espírito que é o motivador desta confissão se apodera de nosso ser
nos imergindo em sua pessoa purificando nossos pecados, ainda podemos observar que as pessoas ao receberem o
Espírito Santo, podem entrar em êxtase e não se contendo em si mesmas profetizam, ou seja falam a todos o que lhes
aconteceu e ainda se expressam de forma inteligível sendo de forma extática ou em línguas celestiais.
1.8. Releitura
Quando Paulo chegou a Éfeso, encontrou lá pessoas que ainda não tinham recebido o Espírito Santo, devido as
mesmas não terem sido batizadas no nome de Jesus para assim passarem a fazer parte de sua igreja, Paulo então
questiona essas pessoas a respeito de qual batismo haviam recebido, e elas respondem que havia sido o batismo de
João Batista, que não tinha o propósito nem o poder de salvação mas sim o de arrependimento, ou seja propunha
uma mudança radical de vida, como também trazia tristeza e uma proposta de não mais pecar aos pecadores. Bem
como podemos ver este batismo tinha mais implicações morais do que salvíficas, por isso era necessário o novo
batismo que iria produzir nova vida, salvação e o engajamento daquelas pessoas na igreja do Senhor Jesus Cristo.
Paulo então fala do poder de Jesus e atualiza aquelas pessoas a respeito da vinda do Senhor e elas recebem o batismo
no qual são purificadas, deixando para traz sua vida antiga, e recebendo através do Espírito Santo a salvação e a
transformação de suas vidas, passam a pertencer a Jesus Cristo devido a terem sido batizadas em seu nome e terem
recebido seu Espírito através da imposição de mãos durante o batismo com a água que seria a representação
simbólica e externa da purificação de seus pecados enquanto que o batismo com o Espírito Santo ou Espírito do
Senhor que são ambos os mesmos, segundo 2Co 3:17, lhes dá a vida eterna e a regeneração de seus pecados. Esta
recepção do Espírito do Senhor e o batismo acontecem em um único momento, onde o primeiro momento como já
falamos é o simbólico e o segundo, e pertencente a um só batismo, é aquele que produz a vida eterna e o perdão dos
pecados daqueles que receberam o batismo.
Hoje em dia, nós podemos observar que no meio religioso existem várias interpretações do que seja o batismo com o
Espírito Santo, e isto tem causado até mesmo várias controvérsias, provocando a divisão do corpo de Cristo. O nosso
texto tem servido de base para afirmações de certas denominações que defendem o batismo com ou no Espírito
Santo como sendo uma segunda bênção, mas passaremos agora a ver que não é uma interpretação correta por parte
destas pessoas.
Podemos observar no texto, que Paulo quando toma conhecimento de que aquelas pessoas ignoravam a existência do
Espírito Santo, passa então a lhes falar de Jesus Cristo, ou seja a solução para os que não sabem nada ou pouco
conhecem a respeito do Espírito Santo não é uma instrução especial sobre Ele ou conhecimento sobre o acesso ao
Espírito Santo, ou até mesmo uma porção de regras e condições para dEle se aproximar, mas sim o conhecimento a
respeito de Jesus Cristo, era necessário a fé no Senhor Jesus Cristo e o batismo em seu nome.
O fato do texto citar que as pessoas em questão eram "discípulos" tem dado margem para se pensar que eles já
conheciam a Cristo e portanto no momento recebiam uma segunda benção. É inquestionável que aquelas pessoas
receberam o Espírito Santo, mas a pergunta é: será que eram cristãos antes disso? Podemos questionar o fato de que
eles nunca ouviram falar ou até mesmo tinham pouco conhecimento a respeito do Espírito Santo, e não foram
batizados no nome de Jesus, como também provavelmente nem criam em Jesus, então como eram discípulos
cristãos? Que eram discípulos o texto deixa claro, mas certamente não eram de Cristo e sim de Apolo e João Batista.
Não eram cristãos claramente convertidos.
Paulo percebe de forma bem clara esta verdade e então passa a lhes ensinar a respeito de Cristo, Paulo não está
"avançando" para coisas mais elevadas, mas sim, está voltando para o fundamental, para o princípio onde todo o
crente recebe o Espírito Santo, de conformidade com o modo apostólico de entender o caso, ao crer em Jesus e no
batismo cristão subseqüente. Para Paulo e Lucas, a única ocasião para um batismo espiritual é o batismo cristão. O
Espírito, nunca vem a parte de Jesus Cristo. Observamos aqui, que o que faltava na formação espiritual dos efésios,
não era o ensino sobre como ser batizado no Espírito Santo, mas sim a fé e o batismo em Jesus. E quando foram
dados esta fé e este batismo, assim também gratuitamente o Espírito Santo.
2. Reflexão Teológica
2.1 - O Espírito Santo
No Evangelho de João 7:39 encontramos o relato sobre o Espírito que afirma que o mesmo ainda não havia sido
enviado devido ao fato de Jesus ainda não ter sido glorificado. Porém, no mesmo Evangelho, João Batista viu o
Espírito descer sobre Jesus (Jo 1:32) e em Atos 1:32 encontramos a afirmação de que o Salmo 2 foi inspirado pelo
Espírito. Pois bem, estas aparentes contradições encontradas nas Escrituras que possuem um caráter mais aparente
do que real, provém do fato de que o Espírito não agia de mesma forma e com o mesmo objetivo dentro de todos os
momentos históricos. Assim sendo, torna-se necessário observar o desenrolar desta história para compreender
coerentemente a unidade e ação do Espírito na história da salvação.
2.1.2 - No Antigo Testamento.
No Antigo Testamento raramente encontra-se o termo "Espírito Santo", o termo mais freqüente é "O Espírito de
Deus". Esta expressão poderia ser compreendida como referência a vontade, mente ou atividade de Deus, no entanto
existem casos no Novo Testamento que deixam claro que uma referência do Antigo Testamento ao Espírito de Deus
é uma referência ao Espírito Santo. A que mais se destaca é a de Atos 2:16-21, onde Pedro explica que o que está
acontecendo no Pentecostes é o cumprimento da profecia de Joel que diz:...derramarei o meu Espírito sobre toda a
carne (2:28). entre outros textos como At.18 por exemplo. Em suma, o "Espírito de Deus do Antigo Testamento é
sinônimo de Espírito Santo, no entanto, devemos atentar para o fato de que o Espírito Santo neste momento da
história, apenas repousa sobre determinadas pessoas em caráter temporário em vista da missão a ser realizada. Este
tempo foi marcado pela esperança de que Deus derramaria seu Espírito sobre todos os seres humanos. João Batista
representa a expressão final desta mensagem dos profetas quando anuncia que seu batismo de água seria seguido
pelo batismo do Espírito Santo dado pelo Messias revestido do Espírito de Deus (Mc 1:8; Lc 4:18)
Estatisticamente falando, a palavra "espírito" "ruah" é encontrada 389 vezes no Antigo Testamento, sendo que em
113 delas tem o significado de vento, 136 significa Espírito de Deus, em 116 significa o espírito do ser humano, 10
vezes refere-se a animais e 3 vezes a ídolos. Com relação ao ser humano, ruah significa a respiração, portanto a vida,
vida esta que não pode ser entendida senão como dádiva de Deus pois a respiração viva no ser humano é o "vento
mandado por Deus e em sua morte é novamente retirado por Deus". Esta afirmação esta mais clara em Jó que nos
diz: Se Ele retomasse seu hálito, toda a carne morreria, ao pó voltaria também o Homem" (34:14s) ou em Salmos
104:29s que diz: Envias teu ruah e serão criados. O sentido de ruah, não é esgotado aqui como respiração, mas deve
também ser compreendido como o poder criador da vida, o ruah é mais do que algo "espiritual", Ele contém o
elemento do pleno poder de Deus que se apossa e transforma todo o ser humano, Ele o transforma em outro ser
humano (1Sm 10:6).
O Espírito de Deus é então entendido como poder divino universal que tudo vivifica (Sl 139:7), devendo-se sempre
observar a íntima conexão entre vento-respiração (sopro vital).
No início, eram atribuídas ao Espírito de Deus ações quase sempre repentinas e momentâneas de ordem físico-
psíquica (Jz 13; 25; 14:6; 1Rs 18:12, 2Rs 2:16) No tempo dos juízes concede força física para salvar o povo (Jz
13:25; 14:6; 19; 15:14), capacita para a guerra (Jz 3:10; 6:34; 11:29); como também o carisma e inspiração
proféticos, o poder de operar milagres, profecias e interpretação dos sonhos (Nm. 11:25-29; 27:18; 1Sm 10:6-10;
16:14; 2Sm 23:2, 2Cr 20:14); Podemos ainda observar o Espírito presente na unção de reis dotando-os com
capacidades especiais como na (1Sm 16:13) unção de Davi. O Espírito capacitou pessoas com dons artísticos, como
Bezalel para construir e mobiliar o Tabernáculo e outras obras de arte (Ex 31:3-5).
Os profetas testemunham a ação do Espírito Santo sobre eles. Em Ezequiel diz: Então, entrou em mim o Espírito
quando falava comigo e me pos em pé e ouvi o que me falava.( 2:2, cf. 8:13, 11:1 e 24).
O Espírito Santo é aquele que falou pela "boca dos profetas", proclamando a Palavra de Deus para cada momento
histórico em Israel. Desta forma, devemos entender os profetas não como operadores de milagres ou
prognosticadores. Pelo contrário, usados pelo Espírito Santo, interpretavam o momento histórico e proclamavam a
Palavra. Os profetas também interpretavam o passado em relação ao Espírito (Is 63:10-11) mostrando ali sua obra. O
Espírito agiu historicamente de acordo com a confissão do povo de Israel onde o sopro de Deus os libertara do
Egito, o "ruah" de Deus destruiu os egípcios e fez as águas retrocederem (Ex 15:8-16). Observamos também a ação
no presente (Ez 37:9-10), em um momento de profunda crise o Espírito de Deus através da pregação profética para
restaura a esperança do povo. Finalmente podemos observar sua ação no futuro (Is 11:1-4) onde é anunciada a vinda
de um rei que iria estabelecer o reino de justiça governado pelo Espírito de Deus com sabedoria e conhecimento.
O Espírito age como Criador, e sua ação é entendida como pneumática em seu resultado. Moltmann escreve o
seguinte: É sempre o Espírito que leva ao seu objetivo o agir do Pai e do Filho. E acrescenta: Toda a realidade criada
tem de ser compreendida de forma energética e entendida como possibilidade realizada do Espírito divino.
Desta forma segundo Moltmann o próprio Criador se faz presente em sua criação, Ele entra nela e nela está de forma
imanente; Biblicamente falando encontramos o fundamento para estas afirmações no Salmo 104:29-30 que diz: "Se
ocultas o teu rosto, eles se perturbam; se lhes cortas a respiração, morrem, e voltam ao seu pó. Envias o teu Espírito,
eles são criados, e assim renovas a face da terra."
Podemos observar que tanto Moltmann como Johanes e Magnus enfatizam a ação criadora do Espírito Santo, o
primeiro fala do Espírito como energia e sujeito fundamentador das atitudes de Deus e o segundo fala de dom de
amor na ação criadora. Preferimos ver o Espírito como o poder do amor de Deus que age em função de uma única
vontade estabelecida pela trindade gerando assim o dom eterno da vida e da criação como um todo. Observamos,
portanto que desde o princípio o Espírito Santo estava atuante tanto na criação como na salvação dos ungidos do
Senhor trazendo esperança e coragem aos filhos de Deus.
2.1.3 - No Novo Testamento.
Nos Evangelhos existem três centros de linguagem a respeito do Espírito Santo. O primeiro e mais antigo é o
batismo de Jesus, onde os quatro evangelhos são unânimes em descrevê-lo como uma descida do Espírito. Em
segundo lugar está a narrativa que liga o Espírito com o nascimento de Jesus. Em terceiro as obras de Jesus mais
especificamente as de cura doadoras de vida que são feitas no Espírito de Deus (Mt 12:28; Mc 3:29-30).
Na primeira coleção, a descida do Espírito é descrita apontando para a finalidade de construir um profeta,
inaugurando assim a missão proclamadora de Jesus (Mc !:12-15). O fato da narração do batismo de Jesus assume
grande importância por ter sido ele introduzido unicamente na tradição com o testemunho de João Batista (Mc 1:7-
8) e também por demonstrar que Jesus não é apenas o portador do Espírito para seu próprio revestimento de poder
mas Ele é o portador do Espírito para concedê-lo sendo esta dádiva escatológica um batismo com o fogo do juízo. O
segundo grupo que narra o nascimento de Jesus através do Espírito é muito antiga tanto em Mateus como em Lucas.
Embora haja diferença nas duas narrações (Mt1:18-20; Lc 1:35). Em Mateus a gravidez de Maria é "no Espírito",
em Lucas o Espírito "descerá’ sobre Maria para criar a criança aludindo a forma que os profetas eram tomados, aqui
Maria dará a luz de mesma forma que os profetas produziam suas palavras. Na terceira, esta relacionado
explicitamente com à aproximação do "reino de Deus" (Mt 12:28), na versão de Lucas é o "dedo de Deus"(Lc
11:20). Nesta missão é impossível distinguir a capacitação profética de Jesus e o poder escatologicamente
vivificador de Deus.
No Novo Testamento ressalta que Jesus era cheio do Espírito Santo, agia e falava por Ele, apontando para o
derramamento sobre seus discípulos. É muito comum no quarto evangelho a menção da palavra ""Parakletos",
palavra esta que é utilizada para nomear a ação do Espírito Santo. Esta palavra é derivada do verbo parakleto que
dá ao Espírito a função de "consolador", "ajudador", "alguém para ficar ao lado" entre outros. Deste modo o Espírito
é definido como o ajudador das pessoas para que assim possam ser fiéis e aprovadas testemunhas de Cristo. Jesus
promete seu Espírito (Jo 14:16,26; 15:26; 16:17) justamente com o propósito de confrontar e preparar seus
discípulos para este grande momento. Antes de ser assunto aos céus, Jesus deixa bem claro esta afirmação dizendo
"...recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo..." (At. 1:8).
Aqui nós observamos uma das principais funções do Espírito Santo, capacitar os fiéis a serem testemunhas de
Cristo. Não podemos negar que para tal é necessário que haja a presença do mesmo junto ao fiel e quem envia o
Espírito par estar junto a ele não é ninguém mais senão o próprio Senhor Jesus conforme João 14:16; 15:26. Desta
forma Jesus batiza o ser humano com seu Espírito e o torna seu templo de habitação. Em Paulo observamos o
seguinte ensinamento "Vós, porém, não estais na carne, ma no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em
vós."(Rm 8:9) e ainda: "Não sabeis vós que vós sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?"
(1Co 6:19).e também o apóstolo João nos fala "E a unção que vós recebeste dEle, fica em vós (1Jo 2:27), "Nisto
conhecemos que estamos nEle, e Ele em nós; por Ele nos ter dado do Espírito." (1Jo 4:13). Com este último
versículo citado, podemos notar que é impossível estar em Cristo se não for por meio do Espírito Santo pois é
unicamente por Cristo ter nos batizado com seu Espírito é que podemos afirmar que somos seus.
De mesma forma é este mesmo Espírito que testifica que somos filhos e herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo
segundo Paulo quando diz; "O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Ora se
somos filhos, somos também herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo..." ( Rm 8:16-17).
Assim sendo, no Novo Testamento notamos claramente que a encarnação de Jesus tem como principal função a
salvação do ser humano proporcionando a ele a salvação eterna e o Espírito tem a missão de objetivar a aplicação
desta salvação na vida do ser humano. Isto fica mais claro nas palavras de Jesus: "Quando vier, convencerá o mundo
do pecado, da justiça e do juízo." (Jo 16:16) e ainda Paulo quando disserta acerca da salvação "... mediante o lavar
regenerador e renovador do Espírito Santo, que Ele derramou sobre nós ricamente... a fim de que, justificados por
graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna."(Tt. 3: 4-7).
Berkhof fazendo menção a Ezequiel diz que em sua visão nos últimos dias Deus executará um novo ato criador,
semelhante ao que realizou com Adão. Ele Dará uma nova vitalidade ao povo que encontra-se morto por seus
pecados. Isto será através do don escatológico do Espírito que significa o milagre da recreação e regeneração do
povo escolhido. E isto acontecerá por meio de alguém que seja capaz de atuar como parceiro de Deus e representá-lo
diante do povo como também o povo diante de Deus, surgindo daí a figura do Messias como o grande portador do
Espírito fazendo com que o derramamento do mesmo sobre toda a carne comece. Assim, no Novo Testamento,
existe uma predominância que descreve o Espírito como tendo prioridade divina sobre Jesus e a este como o
portador do Espírito sendo que esta descrição vem a concordar com as profecias de que o Espírito repousará sobre o
Messias. É por isso que o Messias é chamado de ungido, por que o Senhor o ungiu com seu Espírito. Isto se deu em
seu batismo nas águas do Jordão que sem dúvida traça uma nova revelação e afirmação do segredo espiritual da vida
de Jesus. O Espírito desceu sobre Ele como pomba, como o Espírito que no começo se movia sobre as águas do
caos, como a pomba que prenunciou a Noé a nova criação desde as águas do Juízo. Segundo ainda Berkhof, este
aspecto, domina os evangelhos sinóticos, mas também é encontrado em Paulo e João. Paulo diz que Cristo "é o
Espírito vivificante". O Espírito é descrito como o Espírito de Cristo, o Espírito do Filho (Rm. 8:9; 2Co 3:17; Gl.
4:6). João também se expressa a este respeito, e é neste ponto em que Cristo fala do Espírito "a quem o Pai enviará
em meu nome"(Jo. 14:26), e ainda em João1:33, encontra-se outra passagem significante que diz; "...Aquele sobre
quem vires descer e pousar o Espírito, esse é o que batiza com o Espírito Santo". Jesus pode ser o que batiza com o
Espírito por que antes Ele é o portador do mesmo. Isto nos leva a conclusão de que é possível que a Cristologia seja
desenvolvida a partir de um ponto de vista pneumatológico, a saber: conceber a pessoa e obra de Cristo como
resultado e ponto de partida, como centro da presença vivificante de Deus, da obra do Espírito entre os seres
humanos. Não se pode conceber a obra do Espírito separada da obra de Cristo, pois esta distinção corre o risco de
diminuir a obra de Cristo retirando-O gradualmente do centro e de objeto único da fé transformando-O em um
indicador histórico de um princípio religioso.
2.2 – Perspectivas Históricas
Depois de termos estudado as várias formas de manifestação do Espírito Santo no Antigo e no Novo testamento,
passaremos agora a observar como os movimentos religiosos tratam destas manifestações através dos tempos como
também a compreensão dos mesmos a este respeito e sua relação com a salvação que é tratada em dois estágios. A
compreensão da salvação em dois estágios foi rejeitada pela teologia reformada e emergiu novamente com o
puritanismo que acreditava que a segurança da salvação era uma obra secundária e subsequente do Espírito Santo no
cristão. Mas foi Wesley quem deu forma doutrinária a essa compreensão. Procuraremos agora observar o desenrolar
do metodismo e sua ramificações posteriores e a ênfase dada na doutrina de Wesley.
2.2.1 Metodismo
Em tratando-se de metodismo, podemos dizer que foi este o terreno em que floresceu o pentecostalismo. O
revivalismo era parcialmente, e cada vez mais a prática norte-americana da teologia metodista, Finney foi o
indivíduo chave, e o movimento de santidade o veículo coletivo daquela teologia. Para se explicar as origens do
metodismo, deve-se considerá-lo como um ramo tardio da reforma. A reforma dos séculos XVI e XVII ficou mais
restrita às elites, sendo necessário ser completada. O metodismo foi o representante da penetração dos valores da
reforma na cultura popular, e como tal receberia a influência deste meio. John Wesley era pastor anglicano e como
tal faleceu. O pai do metodismo não foi quem o fundou oficialmente enquanto denominação/instituição. A Igreja
Metodista surge posteriormente à sua morte. Mas sua contribuição foi grande devido ao seu rigor ético,
personalidade rigorosa e assiduidade nos exercícios espirituais como também os encontros do "clube dos santos".
Wesley precisou de alguns anos de peregrinações até se deparar com uma experiência muito importante em sua vida
"coração aquecido" Ele escreve em seus diários sobre sua vida angustiada devido ao fato de ser um pastor cristão e
não ter tido ainda uma experiência de absoluta convicção de ser salvo e amado por Deus. Esta experiência
revolucionou sua vida e ministério e também seria comum no meio pentecostal: convicção de ser pecador, choro,
contrição, gozo, alegria, etc.. Wesley acreditava que era impossível uma pessoa receber no mesmo momento, a
remissão dos pecados, o testemunho permanente do Espírito, e um coração novo. Para ele, a remissão dos pecados e
o novo coração são dois momentos distintos na vida do cristão. Uma operação paulatina de graça constantemente
antecede tanto a obra instantânea da justificação quanto da santificação. A maioria do pentecostalismo absorveu da
sua descendência metodista as convicções da experiência subseqüente e instantânea e as transferiu integralmente da
santificação, para o Batismo no Espírito Santo segundo o pentecostalismo. Para Wesley, o que o cristão recebe
inicialmente é a justificação e a santificação parcial, uma primeira mudança em sua relação com Deus. Segundo
Wesley somente uma experiência distinta e subsequente a esta, na qual o cristão recebe o dom divino da santificação
completa ou a perfeição cristã que traz consigo mudanças internas no ser do cristão.
Deste modo, o metodismo não foi outra coisa, senão a tentativa de uma renovação espiritual que, constituem o gênio
e a potência do cristianismo. Assim sendo, encontra-se vinculado aos demais movimentos de reforma cristã que têm
surgido no decorrer da história. Como eles (os movimentos de reforma), procurou retornar às fontes originais e à
experiência autêntica do cristianismo evangélico apostólico. Este movimento recebeu dos historiadores o título de
"Avivamento evangélico do século XIX" devido a Wesley não ter tido a intenção de fundar uma nova igreja ou
denominação mas sim as circunstâncias históricas forçaram o desmembramento e posterior surgimento de uma nova
instituição religiosa. Cada passo dado por Wesley em direção a separação foi lhe imposto em sua maioria pela
atitude intolerante e perseguidora das autoridades anglicanas da época.
As dificuldades dos inconformados com a Igreja Anglicana levaram muitos ingleses a verem nas terras além-mar
possibilidades de construir o tipo de cristianismo tão desejado, mas impossível de ser realizado em sua pátria. O
próprio Wesley viajou aos Estados Unidos em missão. Quando Wesley e os avivalistas em geral não tinham mais seu
espaço na igreja oficial, passaram a pregar em outros lugares distantes tanto geográfica como socialmente. Este
parece ser o melhor contexto para se compreender a famosa frase de Wesley: "O mundo é minha paróquia". As
pregações dos avivalistas, na Inglaterra e em outros lugares atraíam multidões que permaneciam ouvindo os
pregadores por horas. Muitas pessoas se convenciam, outras questionavam, mas o importante é que os avivalistas
conseguiam reunir milhares de pessoas ao ar livre. Um fato que contribuiu para estas manifestações foi a proibição
de pregar em certas paróquias, caso acontecido com o próprio Wesley que deu uma grande contribuição para a
expansão do avivalismo. Proibidos de falarem nas paróquias, os pregadores encaminhavam-se para outros países ou
ainda para ambientes onde o povo marginalizados se encontrava, e assim a Palavra de Deus ia sendo pregada e
acolhida pelos mesmos. Em seu tratado "O caráter de um metodista (1742), Wesley escreveu:
É o simples e antigo cristianismo o que eu prego,
renunciando a todas as outras marcas de distinção, e
detestando-as. Mas dos verdadeiros cristãos
qualquer que seja sua denominação, desejamos
ardentemente não distinguir-nos em nada...Por
questão de opiniões e de termos não destruamos a
obra de Deus. Amas e temes a Deus? Isso é
bastante! Te estendendo a mão direita do
companheirismo.
Para Bruner, o avivalismo contribuiu de forma fundamental com a religião norte-americana e, consequentemente
com o pentecostalismo que da destaque à "individualização e à emocionalização da fé cristã". Bruner ainda nos
chama a atenção para Charles. Finney, a maior influência depois de Wesley sobre o pentecostalismo. Sua
metodologia reavivalista foi influência moldadora da teologia nas igrejas pentecostais dando forma juntamente com
o movimento de santidade a principal ponte histórica entre o wesleyanismo primitivo e o pentecostalismo
moderno .Finney, embora presbiteriano, enfatizava uma "experiência subseqüente à conversão que tinha o nome de
batismo no Espírito Santo" e também utilizava-se de "técnicas de incitação emocional". Finney rejeitava a
justificação forênsica e acentuava a santificação real como a base final da posição do ser humano diante de Deus
Para Freston, uma das contribuições importante do metodismo foi o conceito de "segunda graça distinto da salvação,
a qual Wesley chamava de perfeição cristã", sendo que este conceito se popularizou no século XIX através dos
movimentos de santidade.
2.2.2 Avivamentos
O avivamento norte-americano, marcado pelos despertamentos sucessivos, especialmente sob a liderança de Finney
e Moody no início e fim do século XIX, pode ser caracterizado como a prática norte-americana da teologia
metodista.
O avivamento segundo D.M Lloyd Jones constitui-se na experiência na vida da igreja realizada pelo Espírito Santo
de uma maneira incomum. Esta obra é realizada primeiramente nos membros da igreja; é um reviver dos crente, uma
vivificação, um revigoramento ou mesmo um despertamento dos membros da igreja que encontram-se inertes,
moribundos. Subitamente o poder do Espírito vem sobre eles, e são levados a uma nova e mais profunda consciência
das verdades que antes sustentavam intelectualmente. São levados a humilhar-se diante de Deus e são convencidos
do pecado ,são cheios do temor por si mesmos, como no caso de Wesley, muitos acham que nunca tinham sidos
cristãos de fato. E daí em diante passam a ver a salvação de Deus e sentir o seu poder. Como resultado despertam
para a oração, um novo poder entra na pregação e os que estavam fora da igreja são convertidos e ingressam nela.
Assim sendo, duas das principais características do Avivamento são o extraordinário revigoramento do membros da
igrejas e a conversão de multidões que antes estavam fora dela indiferentes ao pecado, entre outras que não nos
convém citar no momento.
2.2.3 Movimento de Santidade
O movimento de santidade enfatizava o ensino do perfeccionismo entre os protestantes, sendo suas raízes ligadas a
Wesley e sua preocupação com a santificação dos crentes. . O metodismo, os avivamentos e os movimentos de
santidade deram uma grande contribuição para o surgimento do pentecostalismo. Estes movimentos não podem ser
considerados pentecostais, mas forneceram o "know how" que em muito ajudou o pentecostalismo a nascer. O
movimento de santidade enfatiza também o ensino "Higher Life" no qual a justificação pela fé era distinta da
segunda benção divina de santificação, também recebida pela fé. Um dos mais rigorosos eventos do movimento de
santidade foi a convenção de Keswick (1875), usado para o ensino da segunda benção como também para sua
divulgação. O Exército da Salvação é conhecido como fruto desse movimento. Foi o movimento de santidade que
tornou a compreensão do batismo no Espírito Santo como uma doutrina distinta.
O reavivamento promoveu uma ideologia comum nas igrejas protestantes, o que acarretou a ênfase no batismo do
Espírito Santo e sua santidade tornou-se familiar às pessoas dos Estados Unidos. No ano de 1867, organizou-se a
Associação Nacional de Acampamentos que tinha como fim promover a Santidade. A ênfase no batismo do Espírito
Santo teve um grande aumento, surgiram várias publicações a respeito. D. L. Moody, o grande avivalista deu uma
grande ajuda na divulgação desta ênfase. Ao passar dos anos, este movimento sofre uma grande mudança. Seu
ensino sobre a perfeição cristã transformou-se no ensino do batismo com o Espírito Santo o que acarretou uma
grande transformação na pregação das igrejas. A centralidade de Cristo no teor das pregações passa agora a dar lugar
a centralidade do Espírito Santo. O perfeccionismo da lugar ao perfeccionismo instantâneo que é obtido através do
batismo do Espírito Santo, o que promoveu um grande interesse pelo livro de Atos e pelas narrativas do Pentecostes
e textos de teor escatológico citados por Lucas.
Bruner aponta para as prováveis causas do surgimento deste movimento :
Parece que o movimento de santidade surgiu de
uma variedade de causas sendo as principais entre
elas os efeitos desmoralizantes da Guerra Civil
norte-americana, a insatisfação dentro das igrejas
metodistas com a "santidade" ou aderência à
doutrina perfeccionista wesleyana da Igreja
Metodista, e uma preocupação correspondente por
causa do avanço dos conceitos liberais e da riquezas
e do mundanismo na igreja como um todo.
A parte fundamental da teologia do movimento é a segunda experiência, especificamente uma conversão para a
santidade bíblica, a santificação ou, como era freqüentemente chamada o perfeito amor. Foi do movimento de
santidade por exemplo, que o pentecostalismo adotou o uso da expressão "batismo no Espírito Santo" para sua
segunda ou terceira experiência cristã. Foi neste movimento que a frase bíblica "Batismo no Espírito Santo" que
haveria de ter significado tão importante no movimento pentecostal , foi popularizada como sendo o nome para a
experiência da santificação ou "segunda benção"
2.2.4 O movimento Pentecostal
O início do pentecostalismo está relacionado à pessoa de Charles Fox Parham. Ele era pastor metodista, sua carreira
ministerial teve início em Linwood, sua congregação era radical no que se diz respeito a defesa da segunda bênção,
posterior à salvação e a experiência de santificação. Parham era discípulo de A B. Simpson, um pregador de cura
divina. No final do século XIX Parham fundou o lar de Curas Betel e o Colégio Bíblico Betel, em Topeka, Kansas. A
discussão fundamental destas instituições entre os alunos era acerca de qual fator deveria evidenciar, sob o ponto de
vista bíblico, o Batismo com o Espírito Santo. A resposta surge após algum tempo de pesquisa: o falar em línguas
deveria evidenciar a existência de uma experiência de Batismo com o Espírito Santo. Não basta descobrir
intelectualmente a descoberta do batismo, era necessário o falar em línguas. Isto veio a acontecer em uma vigília
onde uma aluna de Parham, Agnez Ozman, sentiu a necessidade de receber oração por imposição de mãos, fato que
a fez orar em línguas. Vejamos o seu relato:
"Foi quando suas mãos foram postas na minha
cabeça que o Espírito Santo caiu sobre mim e
comecei a falar em línguas, glorificando a Deus...
Fui a primeira a falar em línguas na escola bíblica...
Disse-lhes que deviam buscar, não as línguas, mas
sim o Espírito Santo."
Parham ainda influenciou William Seymour, negro que permitia que assistisse suas aulas em sala separada por uma
cortina. Tendo assimilado os ensinamentos de Parham, Seymor deslocou-se para Los Angeles onde pregou na igreja
dos Nazarenos, foi expulso devido ao teor de sua pregação. Deslocou-se para o norte de Los Angeles onde passando
a pregar em uma casa. Em 1906 algumas pessoas que lá se reuniam, falaram em línguas, daí em diante o movimento
começa a crescer transferindo-se para um antigo templo metodista na rua Azuza.
Em uma das reuniões presididas por Seymor, vindo de Chicago estava W. H. Durham, pastor batista, que
experimenta o Batismo com o Espírito Santo, com evidência do falar em línguas. Durham divergia de Seymor, ao
afirmar que o Batismo com o Espírito Santo seguido pelo falar em línguas era uma segunda bênção e não uma
terceira como pensava Seymor. Chicago, transforma-se em um centro de difusão do pentecostalismo .
2.2.5 Pentecostalismo no Brasil.
Como observamos o movimento pentecostal não é originário do Brasil.. Os primeiros missionários fundadores das
igrejas pentecostais brasileiras, sequer falavam a nossa língua. Luigi Francescon, italiano, de origem, convertido ao
pentecostalismo nos Estados Unidos, aqui chegaram em 1910 com a intenção de pregar a seus compatriotas italianos
residentes no Brasil.
A Congregação Cristã no Brasil fundada por Francescon em 1910 que vinha de uma passagem pelas Igrejas
Valdense e Presbiteriana Italiana em Chicago. É importante ressaltar que a influência reformada permaneceu através
da doutrina da predestinação, fato que esta igreja não enfatiza a evangelização nos moldes tradicionais.
Outro ramo do pentecostalismo no Brasil foi a Assembléia de Deus que nasceu de um cisma na Igreja Batista de
Belém, liderados por Daniel Berg e Gunnar Vingren, suecos de nascimento e que haviam aderido ao pentecostalismo
na igreja de Durham em Chicago. O processo de implantação da Assembléia de Deus no Brasil passou por quatro
fases sendo elas 1) de 1911 a 1924, divisão e construção do primeiro templo; 2) de 1924 a 1930, expansão pelo
estado do Pará; 3) de 1930 a 1950, evolução no Estado do Pará e estados vizinhos como Ceará, Amazonas e
Maranhão; 4) de 1950 a 1990, crescimento com ênfase no trabalho missionário. É importante ressaltar que somente
a partir de 1950 um pastor brasileiro passou a dirigir as Assembléias de Deus de Belém. Até então os líderes
pentecostais tinham sido suecos..
O primeiro ramo brasileiro do pentecostalismo, a Igreja Evangélica o Brasil para Cristo, que nasce sob a liderança
de Manoel Mello, um pedreiro pernambucano que migrou para São Paulo. Na Assembléia de Deus e da Igreja do
Evangelho Quadrangular, por onde passou, aprendeu a utilizar a técnica itinerante das pregações de curas divina em
tendas. Sua igreja traz resíduos doutrinários das igrejas a que pertenceu seu líder/fundador, no entanto não enfatiza o
dom de falar em línguas
Como levantamento histórico, é importante não esquecermos da Igreja do Evangelho Quadrangular. Esta igreja
chegou ao Brasil como fruto de uma "Cruzada Nacional de Evangelização", promovida pelos pregadores de cura
divina H Williams e R Bootright. Algumas igrejas protestantes tradicionais, dentre elas uma igreja da I.P.I. em São
Paulo, abriram suas portas à Cruzada Nacional, causando muitos problemas e divisões no seio da igreja originando a
Igreja do Evangelho Quadrangular. Em seu início, esta igreja teve um grande crescimento, sobretudo a partir da
adesão de membros de igrejas tradicionais. Seu "slogan" consiste de quatro ênfases; Jesus salva, batiza no Espírito,
cura e voltará. Alguns estudiosos acreditam que esta é uma excelente síntese da teologia pentecostal, não apenas da
Igreja do Evangelho Quadrangular, mas do pentecostalismo em geral. A supremacia da cura a partir da implantação
da Igreja do Evangelho Quadrangular no Brasil tem levado autores como Mendonça a chamar estas denominações
de "agências de cura divina" devido ao enfraquecimento do vínculo eclesiástico nestas igrejas e o despertamento de
uma relação utilitarista entre fiel e igreja e ao nascimento de lideranças autoritárias e centralizadoras.
Assim, podemos perceber que o surgimento dos movimentos de santidade e posteriormente como desencadeamento
do mesmo o pentecostalismo na sua maioria deu-se com o combate ao Iluminismo que enfatiza somente a razão e
deixa de lado manifestações atribuídas a Deus que não podem ser explicadas. Daí por diante como na questão da
reforma que se tornou anti-católica, os avivalistas e pentecostais tiveram o mesmo sentimento em relação ao estudo
técnico e científico da Bíblia o que os tem prejudicado ao extremo. Juntamente com John Leith, concordamos que
hoje o pentecostalismo clássico não difere tanto do protestantismo, a não ser na sua insistência na repetição da
experiência do Pentecostes que o protestantismo recusa. O pentecostalismo posterior, cuja explosão e expansão se
deu nos anos 50, enfatizou a cura divina, o que o afastou ainda mais do protestantismo. Os posteriores movimentos,
que têm recebido o nome genérico de neopentecostalismo, representam uma ruptura final com o protestantismo.
Qualquer observador atento e conhecedor do protestantismo sabe que nesses movimentos a Bíblia foi relegada a
espaço secundário, o "livre exame" cedeu lugar ao uso mágico da mesma e assim por diante. Surgiram práticas
mágicas, objetos com poderes especializados, correntes espirituais e mesmo alguns deuses estranhos ao cristianismo
como, por exemplo, o "deus da corda", ou do "nó", especializado em amarrar ou neutralizar os poderes malígnos ( os
demônios ). A teologia reformada insiste em que o objeto de fé é o Deus Trino. Esta teologia tem tido pouca
paciência com qualquer tipo piedoso de Jesusologia, como se pode ver em uma hinologia sentimental e auto-
orientada. Da mesma forma tem tido pouca simpatia para com os assim chamados movimentos carismáticos que se
absorvem na análise introspectiva da psique. A teologia reformada, continua Leith, fundamenta-se no tríplice aspecto
da Trindade: o Deus criador, o Espírito confortador e o Jesus redentor. Qualquer unitarismo, como o do Filho que
conduz ao sentimentalismo da Jesusologia e o do Espírito que produz irresponsabilidade emocional, destrói a fé
trinitária.
2.3 –Batismo e Plenitude : Realidades distintas ou idênticas
Neste capítulo passaremos a estudar as diferenças entre batismo e Plenitude do Espírito Santo, onde faremos uma
análise da doutrina pentecostal em comparação com a doutrina reformada e daí procuraremos tirar algumas
conclusões a respeito das mesmas.
2.3.1 O Batismo com / no Espírito Santo.
A base da doutrina pentecostal sobre o batismo do Espírito Santo como segunda bênção é o livro de Atos, onde
existem registros históricos que indicam a existência de experiências importantes do Espírito Santo na vida dos
crentes, subseqüentes à fé inicial ou salvífica. Entender Atos dos Apóstolos é vital para entender a experiência
pentecostal. A doutrina pentecostal depende fundamentalmente da exegese das passagens sobre o Espírito Santo em
Atos, como já vimos, esta doutrina também teve seu caminho desenvolvido pelo movimento metodista e reavivalista
penetrando no pentecostalismo do século XIX e XX. Conforme estes ensinos, além da experiência de Cristo na
conversão deve haver também o batismo com o Espírito Santo uma segunda bênção.
Para os pentecostais, o batismo com o Espírito Santo se diferencia da conversão pelo fato de que todo cristão ao ser
batizado na conversão é batizado pelo Espírito como agente, no entanto, para se receber o batismo real e
subseqüente a conversão, quem deve batizar o crente é Cristo, sendo este o agente, ou seja, os pentecostais
acreditam que o Espírito batizou todo crente em Cristo (a conversão), mas que Cristo não batizou todo crente no
Espírito (o pentecostes). Para uma melhor compreensão de ser ou não batizado, os pentecostais dizem ser necessário
para todo crente batizado algumas características que são: 1 º O evento ocorre após a conversão, 2 º a evidência inicial
é o falar noutras línguas, 3 º que deve ter sido buscado com sinceridade. No entanto, para o recebimento do batismo,
além destas características ainda existem certas condições a serem cumpridas e somente após isto feito é que se
torna possível ao crente recebê-lo, sendo elas: a-) conversão, é a condição prévia e indispensável para se receber o
batismo, b-) A obediência, sendo que esta se subdivide em duas: 1 º obediência ativa que é vista como a separação do
pecado que é entendido como algo que pode e deve ser removido pelo crente com a ajuda de Cristo e 2 º A obediência
passiva que implica ao crente tornar-se completamente submisso aos impulsos do Espírito e entregar-se inteiramente
a Deus. Dentre estas, existem ainda outras condições que não serão aqui mencionadas devido ao espaço proposto em
nosso trabalho.
Se faz necessário também, observarmos algumas passagens utilizadas pelos pentecostais para firmarem sua doutrina
referente ao batismo com o Espírito Santo como pós conversão as quais passaremos a apresentar neste momento a
partir de um resumo da obra de Bruner:
1º Atos 2:1-4: Esta passagem é tida como a principal referência dos pentecostais como exemplo do batismo do
Espírito Santo subsequente a conversão, para isso sustentam que os discípulos eram cristãos antes do Pentecostes e
que receberam o Espírito de forma parcial e primária, tendo um recebimento subseqüente e pleno do Espírito em
Pentecostes.
2º Atos 8:4-25: Para os pentecostais esta passagem significa que como a maioria dos cristãos, não pentecostais, os
samaritanos não tinham ido além do batismo e do perdão, para o Espírito e a plenitude, para os pentecostais ter sido
batizados na água a partir deste texto não é suficiente para ter sido batizado no Espírito Santo, sendo o batismo
espiritual completamente diferente ao batismo com água, por isso existe a necessidade de o cristão avançar além da
conversão para a experiência pentecostal, se de fato este cristão deseja ser espiritualmente completo.
3º Atos 10-11: Esta passagem é vista com dificuldades, aqui os pentecostais admitem que o batismo ocorre no
momento da conversão com a evidência de línguas (At. 10:43-48) mas alegam que a experiência de Cornélio e os de
sua casa era a ideal, pois todos os crentes deveriam receber o batismo no Espírito Santo no momento da conversão,
porém a maioria dos cristãos têm uma fé fraca ou sua instrução incompleta o que impossibilita o recebimento do
batismo espiritual no ato da conversão.
Hoekema comenta o seguinte: É minha convicção que não há base bíblica para a doutrina pentecostal do batismo
com o Espírito Santo dessa forma. E fazendo uma alusão ao texto de I Coríntios diz:
Concorda Paulo, em 1Coríntios 12:13, com o ensino
pentecostal de que o "batismo com o Espírito" é
uma experiência distinta e subsequente à
regeneração, que deveria ser buscada por todo
cristão ? Nada poderia estar mais distante da
verdade. Para provar que o corpo é um, Paulo
afirma "...Em um só Espírito, todos nós fomos
batizados em um só corpo..." O que isso quer dizer,
é claro como a luz do dia: todos os cristãos já tem
sido batizados. Ser batizado com o Espírito é
descrito aqui como idêntico à regeneração (...) Você
não precisa buscar um "batismo do Espírito Santo"
como uma experiência pós-conversão, diz Paulo aos
coríntios e a nós; se você está em Cristo, você já foi
batizado com o Espírito!
Na questão de Atos 2:1-4, devemos observar que todas as pessoas que estavam presentes no momento ficaram
cheias do Espírito Santo, não há nenhum registro em Atos de uma ou várias pessoas serem deixadas de lado no
referente ao dom pleno do Espírito Santo devido a não terem cumprido suficientes condições, nota-se ainda que
quando o Espírito vem, não se registra que vem parcialmente aplicando apenas a justificação, deixando para voltar
na plenitude, santificação ou no poder num tempo posterior quando a pessoa justificada estiver mais digna, vazia ou
pura, notamos então que o dom do Espírito Santo no que diz respeito aos crentes não é seletivo, não é parcial, sendo
o mesmo a plenitude do Espírito, quando o Espírito vem, Ele vem para encher, não somente para efetuar, habitar,
não somente visitar e como pessoa, onde Ele estiver está plenamente e não em partes.
Atos 8:4-25 se observado superficialmente pode apresentar problemas, no entanto, fazendo-se uma observação mais
detalhada do fato logo entende-se o acontecido. A resposta mais provável, é que não foi a primeira vez que o
Evangelho havia sido pregado fora de Jerusalém (vv. 1,4) mas sim que estes convertidos eram samaritanos
.Certamente encontra-se aqui a importância da história no relato de Lucas sobre o desenrolar da missão cristã. Ele
esta descrevendo como a ordem pré –pentecostal esta se cumprindo (1:8). A decisão de Felipe de proclamar a
palavra de Deus aos samaritanos (8,5) foi corajosa, pois durante séculos houve uma rivalidade entre judeus e
samaritanos, e ainda no tempo de Jesus "os judeus não se davam com os samaritanos"(Jo 4:9). No entanto um judeu
havia pregado a samaritanos e os mesmos haviam aceito a mensagem do judeu. O momento era perigoso. Será que
os crentes samaritanos de fato haviam aceito ao evangelho? Será que os crentes judeus aceitariam os samaritanos?
Acredita-se que por este motivo, Deus reteve de forma intencional o dom do Espírito dos crentes samaritanos até
que dois dos principais apóstolos viessem investigar, reconhecer e confirmar, com imposição de mãos a veracidade
da conversão dos samaritanos. Notamos então que a razão pela qual o Espírito não lhes foi dado no momento parece
estar na situação histórica para a prevenção de um cisma no trabalho cristão. Sendo este um incidente anormal, é
difícil de entender a explicação pentecostal acerca desta passagem de que o Espírito Santo é concedido depois da
conversão.
O episódio de Atos 10-11, tem o propósito de ensinar a igreja de forma dramática que Deus aceita a todos os seres
humanos sem exigir deles qualquer disposição legal, ao dar gratuitamente o dom do Espírito Santo mostrando que os
gentios não estavam numa posição de desigualdade, num nível inferior na igreja, do que os judeus. Aqui as línguas
eram um sinal, não por que eram esperadas, exigidas, mas exatamente porque eram inesperadas não exigidas e
incomuns, semelhantemente ao Pentecostes, e convenceu até os de mais dura cerviz de que Deus queria ter também
os gentios e não somente os judeus. Este evento, não pode ser interpretado por meio das doutrinas pentecostais ou do
batismo subsequente à conversão, nem através de condições cumpridas antes de sua incidência. Ocorrem no
momento da conversão. O dom do Espírito Santo aqui, é a conversão não a experiência posterior.
Além das passagens já citadas, os pentecostais usam ainda como base exegética para fundamentar sua doutrina a
passagem de Atos 19:1-7, a qual nós estamos utilizando para estudo neste trabalho, e sobre ela os pentecostais
argumentam que a mesma possibilita uma compreensão de se ter a fé sem o recebimento do Espírito Santo
referindo-se à pergunta de Paulo "Recebestes, porventura, o Espírito Santo quando Crestes?". Alguns pentecostais
perguntam "Se todos os discípulos recebem a experiência do Espírito Santo quando crêem, por que Paulo perguntou
a estes discípulos se a receberam? Sua própria pergunta dá a entender que é possível crer sem receber a plenitude do
espírito Santo".
John Stott nos dá uma valiosa contribuição para respondermos a esta pergunta e salienta que a vida cristã é vida no
Espírito pois todos os cristãos possuem o Espírito habitando em si. Ser cristão sem o Espírito seria impossível pois o
cristão só é cristão através do ministério gracioso Espírito de Deus, e sendo assim cada cristão tem uma experiência
do Espírito Santo desde os primeiros momentos da sua vida cristã. Para o cristão a vida tem seu início através do
novo nascimento e este nascimento é um nascimento "no Espírito" (Jo 3:3-8). O Espírito é o Espírito da vida e é Ele
quem vivifica às nossas almas mortificadas pelo pecado e além disto, passa a habitar em nós de forma pessoal. Desta
maneira, a presença do Espírito é o privilégio que todos os filhos de Deus têm em comum. Deus nos faria filhos e
depois nos daria de seu Espírito ou nos daria de seu Espírito e depois nos faria filhos? Segundo Stott, Paulo nos
ensina as duas coisas: Por um lado , "por que vós sois filhos, enviou Deus aos nosso corações o Espírito de seu
Filho"(Gl 4:6) e por outro "todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Por que não
recebestes o espírito de escravidão para viverdes outra vez atemorizados, mas recebestes o Espírito de adoção"(Rm
8:14-15). Sobre esta questão Stott comenta:
Não importa como você encara a questão: o
resultado é o mesmo, Todos os que têm o Espírito
de Deus são filhos de Deus e todos os que são filhos
de Deus têm o Espírito de Deus. É impossível, até
inconcebível, ter o Espírito sem ser filho, ou ser
filho sem ter o Espírito.
Sobre a passagem em questão, Bruner comenta que aqueles homens não eram verdadeiramente convertidos e
enfatiza que Paulo percebe de forma bem clara esta verdade e então passa a lhes ensinar a respeito de Cristo, Paulo
não está "avançando" para coisas mais elevadas, mas sim, está voltando para o fundamental, para o princípio onde
todo o crente recebe o Espírito Santo, de conformidade com o modo apostólico de entender o caso, ao crer em Jesus
e no batismo cristão subseqüente. Para Paulo e Lucas, a única ocasião para um batismo espiritual é o batismo
cristão. O Espírito, nunca vem a parte de Jesus Cristo.
Observamos aqui, que o que faltava na formação espiritual dos efésios, não era o ensino sobre como ser batizado no
Espírito Santo, mas sim a fé e o batismo em Jesus. E quando foram dados esta fé e este batismo, assim também
gratuitamente o Espírito Santo.
Bruner entende esta passagem. da seguinte forma:
O ensino de Atos 19:1-7 é que os efésios estavam
sem o Espírito Santo, não devido à falta de pedir
deliberadamente, ou apóstolos, ou entrega completa,
ou as línguas mas, não intencionalmente, por terem
sido batizados no batismo de João ao invés daquele
de Jesus Cristo (...) Poucas passagens ensinam a
união essencial da fé, do batismo e do Espírito
Santo tão claramente quanto Atos 19: 1-7.
Para Bonhoeffer o batismo e sua dádiva é acontecimento único. Com o batismo de Cristo, ninguém pode ser
batizado duas vezes. Quem foi batizado tem parte na morte de Cristo e através desta morte morreu também. Como
Cristo morreu de uma vez por todas (Rm 6:10) e como não há repetição do sacrifício de Cristo, o batizado sofre em
Cristo uma única e definitiva morte. O morrer diário do cristão é apenas a conseqüência daquela morte de batismo, e
a respeito dos batizados passa a vigorar: "Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para
Deus em Cristo Jesus."(Rm 6:11)
Billy Graham em um relato particular de sua vida, nos conta que certa vez foi questionado por um pastor itinerante
se havia recebido o batismo com o Espírito Santo, e que o pastor ficou surpreso e até duvidou de sua resposta
quando disse que sim, e havia sido no momento de sua conversão. Como dissemos logo no início do capítulo, isto é
devido ao fato de os pentecostais acreditarem que o batismo é uma segunda benção. Quanto a isto Billy Graham
também tem sua opinião e relata:
...durante os anos estudando a Bíblia, cheguei à
conclusão que só há um batismo com o Espírito
Santo durante a vida de cada crente, e que ocorre no
momento da conversão. Este batismo com o
Espírito Santo começou no dia de Pentecostes, e
todos que conhecem a Jesus Cristo como Salvador
experimentam isto, foram batizados com o Espírito
no momento em que foram regenerados.
Para todos os pentecostais, a condição indispensável para receber o batismo com o Espírito Santo é a conversão. No
entanto, Jesus ensinou que a atividade do Espírito é essencial na conversão sendo ela o início da vida cristã. A
conversão é a volta do ser humano para Deus tendo duas conseqüências, uma positiva e outra negativa:
arrependimento, que é o abandono do pecado; e fé que implica em aceitar as promessas e a obra de Cristo. Jesus
falou especialmente do arrependimento e, de modo específico, da convicção do pecado, que é pré-requisito do
arrependimento. Ele disse "Quando ele (o consolador) vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo: do
pecado, porque vou para o Pai, e não me vereis mais; do juízo porque o príncipe deste mundo já está julgado"(Jo
16:8-11) Sem esta obra do Espírito Santo, não pode haver conversão. Nesta passagem, Jesus de maneira clara
mostra-nos que a convicção do pecado, que é pressuposta pelo arrependimento, é obra do Espírito Santo.
Paulo, aponta para o fato de que Deus nos salva, não por que merecemos mas sim através do "lavar regenerador e
renovador" do Espírito Santo (Tt3:5); O papel principal do Espírito Santo no processo de nossa salvação é fazer-nos
um em Cristo (1Co 12:13).
Observando a nomenclatura bíblica acerca do Espírito Santo, notamos que Ele é chamado de o Espírito do Senhor
(2Co 3:19) ou de Espírito de seu Filho (Gl 4:6). Quando alguém participa de Cristo, portanto ele está também
participando do Espírito Santo. Paulo mostra claramente este ponto de vista em Romanos 8:9 quando diz: "Vós
porém, não estais na carne, mas no Espírito, se de fato o Espírito de Deus habita em vós. E se alguém não tem o
Espírito de Cristo, esse tal não é dele". Os maiores elementos da salvação, são atribuídos à autoria do Espírito Santo.
Regeneração ou novo nascimento é obra do Espírito Santo "Em verdade, em verdade te digo quem não nascer da
água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus" (Jo 3:5). De mesma forma o ensinamento de Paulo em Tito 3:5,
de que Deus nos salva "mediante o lavar regenerador e purificador do Espírito Santo" igualmente atribui ao Espírito
a regeneração ou novo nascimento.
Diante de nosso estudo, concluímos que realmente não existem bases bíblicas para uma teologia que defenda o
batismo com o Espírito Santo como segunda bênção, mas sim pelo contrário existe o claro ensino de que todo aquele
que crê em Jesus já possui o dom gratuito do Espírito Santo e que é o próprio Espírito Santo através de seu batismo
que nos capacita a crer. Devemos no entanto, considerar o fato de todos o cristãos serem batizados com o Espírito
Santo não significar que já estejam sempre entregues plenamente ao Espírito ou cheios do Espírito. Em Romanos
8:9 Paulo descreve os cristãos como pessoas em quem o Espírito está vivendo; no mesmo capítulo ele alerta a seus
leitores (as) que pelo Espírito deviam fazer morrer as obras de seu corpo (v. 13). Em 1Co 12:13 Paulo afirma que
todos os cristãos , incluindo todos os crentes de Corinto, tenham sido batizados com o Espírito Santo, em 3:1 ele
chama esses mesmos coríntios de "carnais" devido ao fato de encontrar neles grande inveja e muitas brigas. Existem
várias evidências também de que mesmo recebendo o Espírito Santo na regeneração, os cristãos não permanecem
necessariamente cheios do Espírito. Tornam-se em certos casos orgulhosos, sem amor, auto suficientes etc. Sendo
assim, acreditamos que muitos de nós, ainda que todos tenhamos o Espírito, não tenhamos o Espírito inteiramente. O
que os cristãos precisam então, ao invés de buscar o "batismo com o Espírito Santo" numa experiência pós-
regeneração ou pós-conversão, buscar o enchimento com o Espírito ou seja a plenitude .
2.3.2 A plenitude do Espírito
No dia de Pentecostes, Jesus derramou o seu Espírito do céu e batizou as cento e vinte pessoas e depois as três mil.
Consequentemente, todos ficaram "cheios do Espírito Santo" (At. 2:4) Observamos que a plenitude do Espírito foi
então uma conseqüência do batismo do Espírito. O batismo é o que Jesus fez (derramou o Espírito do céu), a
plenitude foi o que eles receberam. O batismo foi uma experiência inicial e única. A plenitude, Deus desejava que
fosse contínua e permanente. Como acontecimento inicial, não existe a possibilidade de haver uma repetição do
batismo como também não há como perdê-lo, mas o ato de ser enchido pode ser repetido e deve ser conservado.
Quando a plenitude não é conservada, ela se perde e se for perdida pode ser recuperada.
O Novo Testamento nos ensina que a expressão "ser cheios do Espírito" ocorre em três diferentes formas. Na
primeira delas, o ser cheio do Espírito é uma experiência momentânea que tem por função capacitar alguém para
uma tarefa especial, como em Atos 4:8 onde Pedro discursa no sinédrio depois de ter curado um homem coxo. Neste
caso, o derramamento do Espírito foi específico e tinha a função de fazer com que Pedro falasse com ousadia sobre
Cristo em cujo o nome aquele homem havia sido curado. Na segunda vez, a expressão "cheio do Espírito" é
empregada como descrição de certos tipos de pessoas, como no caso de Jesus. Foi dito que Ele estava "cheio do
Espírito Santo" quando retornou do Jordão (Lc 4:1), ou quando os sete homens são escolhidos para a distribuição
diária de alimento (At. 6:3), no caso de Estevão em particular (At. 6:5; 7:55), e Barnabé (At 11;24). Nas passagens
referidas, o enchimento do Espírito não é momentâneo mas sim uma característica permanente da vida da pessoa. E
em terceiro lugar, há no Novo Testamento duas passagens onde "encher" tem por função caracterizar um enchimento
contínuo e não um enchimento momentâneo. A primeira delas é Atos 13:52 "Os discípulos, porem transbordavam de
alegria e do Espírito Santo". Aqui o tempo do verbo "encher" é imperfeito e implica que esses discípulos
continuamente eram cheios do Espírito. A segunda passagem Efésios 5:18 traz o verbo "encher" no tempo presente,
dando o significado de que necessitamos estar continuamente cheios do Espírito.
Não se pode negar, conforme as Escrituras nos ensinam, que todos os que se arrependem e crêem em Cristo são
batizados com o Espírito Santo, e o batismo de água significa e sela este batismo, mas a questão é: será que estamos
cheios do Espírito? Várias pessoas não sabem dizer, não sabem nem se estão cheias e nem como é possível saber e
quando se deparam com o ensino de que o "dom de línguas" é o sinal indispensável de ter recebido o Espírito Santo,
acabam concluindo que nunca o receberam, ou, pelo menos em sua plenitude. No entanto, não existem provas
concretas nas Escrituras de que isso seja verdade. Entre todas as menções encontradas no livro de Atos que afirmam
o recebimento do Espírito Santo, somente três "falaram em línguas" (2:1-4; 10:44-46; 19:1-6), nos outros lugares
mencionados, não é afirmado que houve o "falar em línguas’ portanto seria pura especulação dizer que falaram.
Além disso, Paulo quando escreve aos coríntios, ensina categoricamente que o "dom de línguas" é apenas mais um
dom entre muitos dons, que não é dado a todos os cristãos. Portanto, não existem bases sólidas para a distinção que
algumas pessoas tentaram fazer entre as referências a "línguas" em Atos e em 1 Coríntios 12 e 14, no sentido de que
a primeira referia-se ao "sinal de línguas, que todos devem apresentar, e as outras o "dom" de línguas, que somente
alguns recebem.
Em Efésios 5:18 encontramos um ensinamento bíblico sobre o que evidencia o estar cheio do Espírito e, segundo
alguns autores, esta passagem é uma "injunção apostólica normativa para nós hoje", que diz:
E não vos embriagueis com vinho, no qual há
dissolução, mas encheivos do Espírito, falando entre
vós com salmos, entoando e louvando de coração ao
Senhor com hinos e cânticos espirituais, dando
sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em
nome do Senhor Jesus Cristo, sujeitando-vos uns
aos outros em temor de Cristo.
Portanto, a evidência de estar cheio com o Espírito não é emocionalismo excessivo ou fenômeno espetacular,
(devemos observar que nada é dito aqui sobre o falar em línguas ou dons de cura). Hoekema nos dá um breve
resumo do que seria a evidência do enchimento com o Espírito segundo Efésios 5:18-21, da seguinte forma:
Os impressionantes resultados da plenitude do
Espírito estão agora expostos. As duas esferas nas
quais se manifesta essa plenitude são adoração e
comunhão. Se estamos cheios com o Espírito,
estaremos louvando a Cristo e agradecendo ao
nosso Pai, e estaremos falando e nos submetendo
uns aos outros. O Espírito Santo coloca-nos num
relacionamento certo com Deus e com o homem.
Assim, são nessas qualidades e atividades, e não nos
fenômenos espirituais, que devemos procurar por
evidências primárias da plenitude do Espírito Santo.
Sobre esta passagem, comenta Billy Graham, que Paulo no original grego, está usando a ordem "enchei-vos do
Espírito" e esta ordem transmite a idéia de ser continuamente enchido. Apenas uma vez não é suficiente. Devemos
nos encher constantemente. Literalmente, esta passagem quer dizer "continuem se enchendo do Espírito". Portanto,
é muito importante ser cheio do Espírito, no entanto não devemos nos confundir com a terminologia. Alguns cristãos
usam termos como "o segundo batismo", "a segunda benção" ou ainda "segunda graça". Não encontramos nenhum
destes termos na Bíblia. O nome que se dá ao fato é menos importante que sermos realmente cheios do Espírito.
Batismo, uma vez – Cheio, muitas!
Lloyd-Jones salienta que através desta passagem somos exortados a ser cheios. E esta ordem tem a finalidade de que
nossas graças venham a crescer e o fruto do Espírito Santo venha a se desenvolver em nós e seja evidente a todos e
comenta que "É quando nos enchemos com esta vida que o fruto e a graça desta vida se manifestarão. Alias, o
enchimento do Espírito é essencial a um genuíno ato de culto." Diante disto, continua Lloyd-Jones para se saber se
estamos cheios do Espírito é necessário notar o seguinte:
Portanto o modo de testar se estamos cheios do
Espírito é perguntar: estamos cheios de gratidão?
Estamos cheios de louvor? Cantamos para nós
mesmos e uns aos outros em salmos e hinos e
cânticos espirituais? Fazemos melodias em nossos
corações? Louvamos a Deus quando estamos a sós?
Deleitamo-nos em louvá-lo juntamente com outros?
Deleitamo-nos em louvá-lo em público da mesma
forma em privativo? Estamos cheios do espírito de
louvor, de gratidão, de culto e adoração? Essa é uma
conseqüência inevitável de se estar cheio do
Espírito. Isto é algo que pode ocorrer muitas vezes.
O batismo, como o entendo, é a experiência inicial:
o enchimento é uma experiência que pode ser
repetida com freqüência.
Concluímos portanto que a Plenitude do Espírito não é apenas uma questão de título ou nome diferenciado, uma vez
que não podemos nos esquecer de que no Novo Testamento esses títulos expressam uma compreensão do Espírito e
sua ação que não se enquadram na perspectiva da pneumatologia pentecostal da segunda experiência. É claro que o
Novo Testamento mostra também que existem várias experiências autênticas pós-conversão do Espírito na vida do
cristão e da igreja – confiança, capacitação, inspiração, exultação, etc.- mas se nós desejamos apenas um nome para
descrevê-las devemos falar em plenitude do Espírito Santo, estar sendo cheio dEle e não uma segunda experiência
isolada da primeira.
Conclusão
No decorrer deste trabalho procuramos observar os diferentes argumentos tanto na perspectiva reformada quanto na
pentecostal. Como cristãos protestantes que primam pela autoridade da Escritura, nossos posicionamentos teológicos
necessitam constantemente serem confrontados com a Escritura buscando coerência com o seu ensino. A ação
salvífica do Espírito Santo, testificada pela Escritura, mostra-nos de fato o que ocorre quando uma pessoa se
converte, ou melhor, é convertida através do Espírito Santo. O estudo exegético de Atos 19:1-7 nos ajudou a obter
subsídios necessários para clarear o assunto em pauta, mostrando que, de fato, aqueles discípulos receberam o
batismo com o Espírito Santo no momento de sua conversão pois ainda não possuíam o conhecimento suficiente a
respeito de Cristo. Não ocorreu ali a chamada "segunda bênção" como reivindicam os pentecostais.
Portanto, biblicamente falando, a doutrina mais coerente é aquela que de fato aponta para o batismo no momento da
conversão pois como já vimos, em 1Co 12:13, nós não precisamos buscar um batismo adicional pós conversão.
Paulo afirma que se temos Cristo já fomos batizados. Enfatizamos ainda que é impossível ser cristão sem ter tido um
contato pessoal com o Espírito, pois o cristão só é cristão através do novo nascimento que faz parte do ministério do
Espírito Santo (Jo 3:3-8). Em Jo 16:8-11 observamos de maneira clara que a convicção do pecado e arrependimento
são obras do Espírito Santo e sem o qual não pode haver conversão. Paulo adverte-nos que a salvação não é por
merecimento mas sim pelo lavar regenerador e renovador do Espírito Santo (Tt 3.5). O papel do Espírito Santo é
fazer-nos um em Cristo (1Co 12:13). Sem a atuação do Espírito no ser humano, é impossível que o mesmo venha a
conhecer a Cristo.
Alguns cristãos usam termos como "segunda bênção" ou "segunda graça" para definir o batismo com o Espírito
Santo, no entanto, não encontra-se em toda a Bíblia nenhum desses termos nem tampouco a recomendação que os
que agora são convertidos devam se esmerar na busca dessa "segunda bênção." A ordem bíblica clara e específica
para todos os crentes é que devemos ser cheios do Espírito (Ef 5:8) e não apenas buscar uma segunda experiência.
Como já afirmamos anteriormente: "batismo uma vez, cheio, muitas!".
Devemos atentar ainda para o fato de que o livro de Atos, base fundamental para a doutrina da "segunda bênção",
não pode ser entendido como fundamento doutrinário por se constituir essencialmente livro histórico, não estando
no mesmo pé de igualdade com as epístolas nesse objetivo.
O batismo com/no Espírito deve ser concebido de forma que não depende do ser humano para sua realização pois
Deus em sua soberania é quem o opera. A ênfase bíblica é bem clara ela recai sobre aquele que concede os dons e
não sobre aqueles que o recebem.
No entanto, acreditamos que se faz necessário uma maior abertura por parte dos reformados para a ação posterior ao
batismo do Espírito Santo, ou seja a plenitude. A negligência deste assunto por muitos anos e os preconceitos contra
os pentecostais têm a tendência de rejeitar quase todas as manifestações espirituais ou ensinos sobre esse assunto,
tanto nos cultos, como na vida, redundando em prejuízo. Deve-se ainda haver uma maior ênfase na busca do
enchimento do Espírito, a motivação para que os mesmos procurem agir segundo o Espírito pois na maior parte das
vezes acaba-se por cair no esquecimento esta ordem bíblica cedendo lugar para os conflitos e mal entendidos entre
cristãos não-pentecostais e pentecostais. Tais conflitos e divergências acabam valorizar aspectos secundários
esquecendo-se de ouvir a voz daquele que tem nos chamado a realizar sua obra no poder do Espírito, testemunhando
tanto em Jerusalém, Judéia, Samaria e confins do mundo.
Bibliografia
ANTONIAZZI, A. et. all Nem Anjos nem Demônios. Petrópolis: Vozes, 1994.
AUNEU, J Bovon; F. Gourges, M. Evangelhos Sinóticos e Atos dos Apóstolos.
São Paulo: Paulinas, 1986.
_____________________; et al. Introdução à Bíblia com Antologia Exegética.
Petrópolis: Vozes, 1974. Vol. 1.
BALANCIM, Euclides Martins. História do Povo de Deus. 3 ed. São Paulo:
Paulinas, 1989.
BALLARINI, Teodorico; et. al. Introdução a Bíblia com Antologia Exegética.
Petrópolis: Vozes, 1974. Vol. 2.
BALZ, Hoerst & SCHEIDER, Gerhard (ed.) .Diccionario exegetico del nuevo
Testamento. :Sala Manca, 1998. Vol. 2.
BERKHOF, Hendrikus. La Doctrina del Espiritu Santo. Buenos Aires: La Aurora.
1969
BIBLIA VIDA NOVA. Shedd, Russell, ed., São Paulo: Vida Nova, 1995.
BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. São Leopoldo: Sinodal, 1995.
BUTTRICK, Georg Arthur .The Interpreter’s Bible. New York: Abingdon Press,
1954.
BRAATEN, Carl & JENSON, Robert, W. (eds) Dogmática Cristã. São Leopoldo:
Sinodal. 1995. Vol II.
BRUNER, Frederick Dale. Teologia do Espírito Santo. São Paulo: Vida Nova, 1986.
CAMARGO, Baéz. Gênio e Espírito do Metodismo Wesleyano. São Bernardo do
Campo: Imprensa Metodista, 1986.
CAMPOS, L. C. Pentecostalismo. São Paulo: Ática, 1995.
CHANPLIM, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia: Teologia e Filosofia. São
Paulo: Candeia, 1991 Vol. 1 e 3.
________________________ O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. São Paulo; Milenium, 1983.
Vol. 3.
COMBY, Jean. Para Ler a História da Igreja I: das origens ao século XV. São
Paulo: Loyola, 1993.
CULMMANN, Oscar. A Formação do Novo Testamento. 4. ed. São Leopoldo:
Sinodal, 1984.
DOUGLAS, J. D.(ed.) O Novo Dicionário da Bíblia. 2. ed. São Paulo: Vida Nova,
1995.
DRANE, John Jesus Sua Vida, seu Evangelho para o Homem de Hoje. São Paulo:
Vida Nova, 1988.
DREHER, Martin N. A Igreja no Império Romano. Porto Alegre: Sinodal, 1993.
DUNN, James. D. G. The Christ & The Spirit – Pneumatology. Grand Rapids: William B.
Eerdmans Publishing Company, 1998. Vol. 2.
ELWELL, Walter A. Enciclopédia Histórico Teológica da Igreja Cristã. São
Paulo: Vida Nova 1990. Vol. 2.
FREEDMAN, David Noel. The Anchor Bible Dictionary. New York: Doubleday.
1992.Vol. 2.
FRIES, Heinrich. Dicionário de Teologia. 2. ed. São Paulo: Loyola, 1993.
_____________ Dicionário Enciclopédico da Bíblia. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1977.
GONZALES, Justo L. A Era dos Mártires. São Paulo: Vida Nova, 1984.
GRAHAM, Billy. O Espírito Santo. São Paulo; Vida Nova, 1992.
GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1985.
HOEKEMA, Anthony. Salvos Pela Graça. Cambuci: Editora Cultura Cristã, 1997.
KITTEL, Gerhard (ed.) Theological Dictionary of the New Testament. Grand Rapids:
Eerdmans, 1991.Vol. 1.
LOHSE, Eduard. Introdução ao Novo Testamento.4. ed. São Leopoldo: Sinodal, 1972.
LEITH, John H., A Tradição Reformada, São Paulo: Pendão Real, 1997.
LlOYD-JONES, D. M. Os Puritanos: Suas Origens e Seus Sucessores. São Paulo:
Imprensa da Fé, 1993.
___________________. Deus o Espírito Santo. Grandes Doutrinas Bíblicas. São Paulo:
Imprensa da Fé, 1998.Vol. 2.
MATEOS, Juan, & CAMACHO, Fernando. Jesus e a Sociedade de seu Tempo. São
Paulo: Paulinas, 1992.
MKENZIE, John L. S. J. Dicionário Bíblico 2. ed.. São Paulo: Paulinas, 1978.
PACKER, J.L., (et. al.) O Mundo do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1982.
POWER, David R.(ed.) Nuevo Diccionario Biblico. 1. ed. Buenos Aires: Morgan
Internacional, 1982.
ROLIM, Francisco C. Pentecostalismo: Brasil e América Latina. Petrópolis: Vozes, 1995.
ROPS-Daniel, Henri. Vida Judaica nos Tempos de Jesus. São Paulo: Vida Nova, 1983.
SIMON, Helmuth Alfredo Dicionário de Teologia 3.ed. São Paulo: Loyola, 1984.
SOBRINHO, Antônio de Godoy (ed) A Doutrina do Espírito Santo. São Paulo: Pendão
Real, 1997.
STOTT, John, R. W. Batismo e Plenitude do Espírito Santo. São Paulo: Vida Nova, 1993.
SAOÛT, Yves. Atos dos Apóstolos. São Paulo: Paulinas, 1991.
TENNEY, Merril C. O Novo Testamento: sua Origem e Análise. São Paulo: Vida Nova,
1995.
Tradução Ecumênica da Bíblia. São Paulo: Loyola, 1994.
Van Den BORN, A. Dicionário Enciclopédico da Bíblia. Petrópolis: Vozes, 1985.
Von ALLMEN, Jean-Jacques.(ed.) Vocabulário Bíblico. 2.ed. São Paulo: ASTE, 1972.
WENGST, Klaus. Pax Romana. São Paulo: Paulinas, 1991.

S-ar putea să vă placă și