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Luís Vaz de Camões

(1524/1525 - 1580)

Vida e obra

 A sua biografia é ainda hoje dificílima de traçar, visto que as informações sobre a sua biografia são pouco seguras, apoiando-se num

número limitado de documentos e breves referências dos seus contemporâneos; a primeira biografia do poeta só aparece trinta e três

anos depois da sua morte, inserta na edição de 1613 d’Os Lusíadas; factos certos ou prováveis – verificados através de documentos

oficiais, memórias conservadas pelos primeiros biógrafos que conheceram o poeta ou contemporâneos dele, alusões autobiográficas

na sua própria obra; várias lendas consagradas pela tradição literária.

 Teria nascido por volta de 1524/1525, não se sabe exatamente onde (talvez Lisboa), e morreu a 10 de junho de 1580 (ou 1579), em

Lisboa; filho de Simão Vaz de Camões e de Ana de Sá e Macedo; fazia parte de uma família provavelmente originária da Galiza e

tudo parece indicar que pertencia à pequena nobreza; Camões pertence a uma aristocracia empobrecida, que procura no serviço das

armas um modo de vida.

 Teria vivido algum tempo em Coimbra, onde teria frequentado aulas de Humanidades (Literatura e Filosofia) no Mosteiro de Santa

Cruz, tendo tido como protetor o seu tio paterno, D. Bento de Camões, frade de Santa Cruz e chanceler da Universidade; não se

conserva qualquer registo comprovativo de que tenha frequentado a Universidade.

 Quando novo, frequentou centros aristocráticos (talvez mesmo a corte) e, ao mesmo tempo, a boémia de Lisboa; levou uma vida

desassossegada e aventurosa, sendo envolvido em brigas noturnas entre bandos; esteve fora do círculo dos letrados, especialmente do

dos discípulos de Sá de Miranda.

 Atribuem-se-lhe vários desterros; um biógrafo, Severim de Faria (1624), servindo-se de ecos biográficos encontrados na poesia de

Camões, infere que ele esteve em África, em Ceuta, entre 1547-1552, onde se bateu como soldado e em combate com os mouros

perdeu o olho direito - perda referida na Canção Lembrança da Longa Saudade; outro desterro para Constância (Santarém), entre

1547 e 1550, obrigado, diz-se, por ofensas a uma certa dama da corte; faltam os dados concretos sobre estes desterros e as suas

causas;

 Sabe-se que, depois de regressado a Lisboa, foi preso por causa de uma briga em que feriu com um golpe de espada um funcionário

da Corte, e metido na cadeia do Tronco; acabou por ser perdoado pelo agredido e pelo rei e obteve a liberdade com a promessa de

embarcar para a Índia, para onde partiu em 1552 como simples soldado; segundo algumas teorias, Camões escolheu voluntariamente

o exílio, quer para mais facilmente obter perdão quer para se libertar da vida lisboeta, que o não contentava.

 Segundo alguns autores, teria sido por essa altura que compôs o primeiro canto de Os Lusíadas.

 Na Índia parece não ter sido feliz; Goa dececionou-o, como se pode ler no soneto Cá nesta Babilónia donde mana; enredou-se em

complicações que o levaram de novo à cadeia, por dívidas.

 Nos dezassete anos seguintes, serviu no Oriente, ora como soldado, ora como funcionário; estadia no Oriente – cheia de atribulações;

viajou para Goa, o Golfo Pérsico, Ternate (Indonésia), Macau, a costa da Cochinchina (sul do atual Vietname, na Indochina); teria

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chegado até à África, onde teria tomado parte em várias expedições militares, descritas nos seus versos; no Cabo Guardafui

(Somália), teria escrito a canção Junto dum seco, fero e estéril monte.

 De seguida teria viajado para Macau, onde teria exercido o cargo de provedor-mor de defuntos e ausentes a partir de 1558, e teria

escrito, na gruta hoje reconhecida pelo seu nome, seis Cantos do poema épico.

 Em data que é impossível precisar, Camões naufragou nas costas de Camboja, o atual Vietname, na foz do Rio Mecom; episódio

assinalado no Canto X de Os Lusíadas, segundo o qual se teria salvado nadando com um braço e erguendo com o outro, acima das

ondas, o manuscrito da epopeia; nesse naufrágio teria visto morrer a sua "Dinamene" (Tin-Nam-Men), uma rapariga chinesa que

estava apaixonada por ele; a esta morte dedicou os famosos sonetos do ciclo Dinamene, entre os quais se destaca Ah! Minha

Dinamene! Assim deixaste.

 Em 1560 estava de novo em Goa, convivendo com algumas das figuras importantes do seu tempo; procurou a proteção do

governador Francisco Barreto e do vice-rei Constantino da Bragança, dedicando-lhes as suas obras, e teve relações amistosas com o

vice-rei Francisco de Sousa Coutinho; um deles o nomeou para a feitoria de Chaul (Índia), mas não chegou a ocupar o cargo.

 Relações de camaradagem com Diogo do Couto, o continuador das Décadas, e com o Dr. Garcia de Orta.

 Em 1567, quando as dificuldades económicas o afligiam mais do que nunca, um amigo nomeado como capitão para Moçambique

prometeu-lhe um emprego ali e adiantou-lhe o pagamento das passagens; Diogo do Couto encontra-o em Moçambique, em 1568,

"tão pobre que comia de amigos", trabalhando n'Os Lusíadas e na sua coletânea de poemas líricos, o Parnaso Lusitano, "livro de

muita erudição, doutrina e filosofia", segundo o mesmo autor; a estadia moçambicana serviu-lhe de escala de regresso a Lisboa –

cerca de 1569, um grupo de amigos, em trânsito para a Metrópole, paga a dívidas de Camões e a sua viagem até Lisboa, onde

regressa em após 16 anos de desterro.

 Ao chegar, trazia na bagagem Os Lusíadas, que logo tratou de editar; entretanto o Parnaso Lusitano fora-lhe roubado, segundo

Diogo do Couto; só em 1572 conseguiu obter a publicação da primeira edição de Os Lusíadas, dedicada ao rei D. Sebastião, que lhe

concedeu uma tença (pensão dada em remuneração de serviços) anual de 15 000 réis pelo prazo de três anos (aliás modesta e nem

sempre paga com regularidade); segundo um documento de 1585, o rei Filipe I conferiu à mãe do poeta - Ana de Sá - a tença do filho

falecido;

 As suas composições líricas e cartas começaram a ser recolhidas em cancioneiros particulares manuscritos, mas serão publicados
apenas depois da sua morte (no Cancioneiro de Luís Franco Correia, em 1580); em vida, Camões viu publicada apenas s uma ode a
apresentar Garcia de Orta em Colóquios dos Simples e Drogas (1563), o soneto "Vós, ninfas da gangética espessura", a elegia
"Depois que Magalhães teve tecida", ambos dedicados a D. Leonis Pereira, insertos no livro de Magalhães Gândavo: História da
Província de Santa Cruz (1576).

 Os últimos anos de Camões foram de miséria, segundo os testemunhos mais próximos; reza a tradição que se não morreu de fome foi
devido à solicitude de um escravo Jau, indiano ou javanês, que ia de noite, sem o poeta saber, mendigar de porta em porta o pão do
dia seguinte; morreu a 10 de junho de 1579 ou 1580 e o seu enterro foi pago por uma instituição de beneficência, a Companhia dos
Cortesãos; a 10 de junho, comemora-se o Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas.

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 É difícil distinguir aquilo que é certo, e aquilo que é mito e lenda romântica, criados em torno da sua vida; Em alguns passos da sua

obra Camões atribui a responsibilidade dos seus desastres a amores infelizes; romance biográfico sem fundamento imaginado desde

o século XVII até ao nosso século - desterros ou perseguições devidos a amores infelizes por uma alta dama do Paço (Catarina de

Ataíde ou a infanta D. Maria).

 Se a escassez de documentos e os registos autobiográficos da sua obra ajudaram a construir uma imagem lendária de poeta

miserável, exilado e infeliz no amor, que foi exaltada pelos românticos (Camões, o poeta maldito, vítima do destino,

incompreendido, abandonado pelo amor e solitário), uma outra faceta ressalta da sua vida; Camões teria sido de facto um homem

determinado, humanista, pensador, viajado, aventureiro, experiente, que se deslumbrou com a descoberta de novos mundos e de

"Outro ser civilizacional"; segundo Jorge de Sena, "Se pouco sabemos de Camões, biograficamente falando, tudo sabemos da sua

persona poética, já que não muitos poetas em qualquer tempo transformaram a sua própria experiência e pensamento numa tal

reveladora obra de arte como a poesia de Camões é."

 Em Portugal, a glória do poeta, mal reconhecida em sua vida, não tardou a irradiar logo após a sua morte, e foi crescendo em
prestígio e influência; a qualificação de Camões como o príncipe dos poetas não se fez esperar e, tal qual sucede na Espanha, são os
seus versos glosados, imitados, citados; a exasperação nacionalista, provocada pela união em monarquia dual de Portugal à Espanha,
faz d'Os Lusíadas o Evangelho nacional.
 É considerado o maior poeta português, a sua obra situando-se entre o Classicismo e o Maneirismo e abrangendo diversas correntes
artísticas e ideológicas do século XVI; Camões foi capaz de dar forma lapidar e definitiva a um conjunto de ideias, valores e tópicos
característicos da sua época, realizando a síntese entre a tradição literária portuguesa e as inovações introduzidas pelos italianizantes;
foi o melhor poeta português de escola petrarquista e, ao mesmo tempo, o mais acabado artífice da escola do Cancioneiro Geral; foi
o poeta que, finalmente, produziu uma epopeia, aspiração literária do Renascimento português, com os tópicos que os outros
criadores contemporâneos apenas fragmentariamente formularam; de entre os principais géneros clássicos, só não cultivou a
tragédia.

 Obras: Os Lusíadas (1572), Rimas (1595), comédias: El-Rei Seleuco (1587), Auto de Filodemo (1587) e Anfitriões (1587).

A lírica

 Problemas editoriais: a primeira edição das Rimas data de 1595, feita por F. Rodrigues Lobo Soropita, a partir de cancioneiros
manuscritos; contém imperfeições graves e encontra-se incompleta; o desaparecimento do Parnaso autorizou os editores - e acima de
todos Manuel de Faria e Sousa (1685) - a incorporar no espólio camoniano quanto lhes parecia ele pudesse ter escrito, o que deu
lugar à incorporação em Rimas de poesias que certamente não lhe pertencem (ex. obras de Sá de Miranda, Diogo Bernardes, etc.);
por falta dum critério seletivo, as Rimas foram crescendo, de editor para editor; se nas edições de 1595, 1598, 1616 e 1663 se
publicaram 304 poemas, nas edições publicadas entre 1668 e 1880 o conjunto de poemas atribuídos a Camões ascendeu a 646; no
século XIX ainda o Visconde de Juromenha juntou à sua edição da obra camoniana (1861), não apenas inéditos que não lhe
pertenciam, mas até poesias já publicadas com outras atribuições: Teófilo Braga, em sua edição de 1873, aumentou-a com um
apócrifo e, na edição do centenário de 1880, julgou enriquecê-la com mais 42.

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 Nos finais do século XIX e no início do século XX começaram a ser feitas seleções mais rigurosas; a edição da Lírica de Camões de
José Maria Rodrigues e Afonso Lopes Vieira (1932) já pôde aproximar-se do limite ideal, que se compreende jamais se possa atingir,
dado que se perderam muitos dos documentos que o poderiam facilitar; foram dela eliminados 183 sonetos, 22 composições em
redondilhas, 10 canções, 18 elegias, 4 composições em oitavas, 8 églogas e 3 sextinas; o cânone da lírica continua ainda por
estabelecer; o critério para conseguir este objetivo consiste no estudo dos cancioneiros manuscritos já conhecidos e na procura de
outros para determinar a autoria das composições e fixar uma norma editorial fidedigna; em todo o caso, costuma atribuir-se-lhe: 125
redondilhas, 204 sonetos, 8 éclogas, 13 odes, 1 sextina, 5 oitavas, 10 elegias e 11 canções.

 Quanto à restituição do texto, não faltam problemas, visto que no próprio poema épico, publicado em vida do Autor, alguns ainda
estão à espera de solução definitiva; é sabido que a edição princeps, de 1595, apresentava erros que Soropita se recusou a melhorar,
porque não sabia como; alguns deles foram corrigidos na edição seguinte, de 1598; muitas edições modificaram o texto original,
sobretudo depois da edição de 1685 de Faria e Sousa;

 Seguindo Sá de Miranda, Camões cultivou igualmente a escola tradicional em redondilha maior e menor e os géneros em
hendecassílabo (canções, elegias e sonetos); num e noutro metro escreveu em português e em castelhano; desta maneira, ele constitui
uma ponte entre certa tradição peninsular representada pelo Cancioneiro Geral e os seiscentistas; atingiu uma mestria do verso que
deixa para trás os seus antecessores em redondilha ou em decassílabo; a diversidade do registo, o poder de síntese, a fluência e a
harmonia entre pensamento e emoção fazem de Camões o maior poeta português antes de Fernando Pessoa.

 Na obra lírica de Camões confluem três correntes líricas:

o a da poesia peninsular, constituída por vilancetes, cantigas, esparsas, endechas, cartas, trovas e outras longas composições
(poemas em redondilha);

o a corrente italiana, realizada em sonetos, canções, composições em oitava rima e sextinas (são poemas da medida nova ou
decassílabos);

o a corrente greco-latina é composta por éclogas (segundo o modelo de Virgílio e de Sannazzaro), odes (segundo o modelo de
Horácio) e elegias; há ainda as sátiras e as cartas, moldadas em metro tradicional.

 Manifestam-se no lirismo camoniano dois tipos de estilo:

o o estilo engenhoso, na tradição do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, presente em quase todas as redondilhas e em
alguns sonetos, que se fundamenta na coisificação das palavras e das realidades sensíveis e manifesta subtileza e
imaginação; insistência no formalismo das antíteses, paradoxos e comparações;

o o estilo clássico, em que as palavras pretendem captar uma realidade externa ou interna, com existência independente das
mesmas.

 É no soneto que o poeta atinge uma admirável e rara variedade. Pela sua brevidade e pela sua estrutura, o soneto presta-se a
exercícios de engenho, embora, por outro lado, a sua disposição em duas quadras e dois tercetos favoreça um discurso em tese e
antítese, seguidas de conclusão e desfecho sentencioso. Por outro lado ainda, essa mesma brevidade é apropriada a uma grande
concentração emocional. Camões usa largamente esta disponibilidade, variando imensamente o registo fraseológico. Utiliza muitas

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vezes o esquema geral, aparentemente dedutivo, como simples quadro de referência para variações, outras vezes, o quadro lógico
fundamental mantém-se, mas todo o calor emotivo se concentra nos momentos pretensamente preparatórios: é o caso da série de
paradoxos de Amor é fogo que arde sem se ver em que o poeta utiliza as construções seriadas em que cada oxímoron ou paradoxo
frasicamente muito concentrado dilui os seus contornos conceptistas num belo uso do artigo indefinido e do encavalgamento
métrico. O tom confidente e o individualismo exacerbado pela hostilidade do meio, o inconformismo que luta pela sobrevivência,
expressos com uma intensidade que não tem paralelo em qualquer outro escritor clássico, conferem ao Camões de algumas canções e
sonetos um carácter congénere daquele a que se convencionou chamar romântico. Mas, no meio deste desabafo, o poeta conserva-se
sempre atento ao desenrolar dos seus estados de espírito, à sucessão de emoções, recordações, desejos, pensamentos, às respetivas
contradições e aparente irracionalidade.

 A temática da obra lírica é variada, podendo afirmar-se que gravita à volta de três eixos:

o o galanteio amoroso, mais ou menos circunstancial;

o os temas psicológicos, quase sempre analisando a paixão amorosa;

o os temas filosóficos, como a desarmonia entre o Merecimento e o Destino, o direito à felicidade e a impossibilidade de a
alcançar; a justiça aparente e a justiça transcendente.

 São temas comuns aos bons escritores renascentistas, mas o tom em que Camões os trata é pessoal, nele transparecendo a aliança
entre a meditação e a experiência; a crítica notou que o poeta articulou a sua experiência em termos filosóficos e religiosos correntes
na época e que sentiu, a fundo, desajustamento entre os ideais da sua formação social, escolar, literária e essa mesma experiência;
desajuste expresso em numerosas composições líricas, servindo de ponto de partida a uma luta íntima em que o poeta tenta
reconstituir numa totalidade harmoniosa, coerente e significativa a confusão fragmentada e contraditória das situações que viveu;
esforço para encontrar uma essência na existência, dominado por várias tensões.

O amor

 Um tema fundamental da lírica é o amor; Camões foi influenciado pela conceção platónica do amor, reformulada pelo cristianismo; a
conceção do amor provençal estava informada de platonismo, por via cristã: a mulher aparece não como uma companheira humana,
mas como um ser angélico que sublima e apura a alma dos amantes --> poetas italianos: Beatriz na poesia de Dante, Laura na de
Petrarca.
 Conceção da mulher e do amor herdada por Camões, em cujos sonetos, odes, canções e redondilhas a mulher amada aparece
iluminada por uma luz sobrenatural que lhe transfigura as feições carnais; toda a sua figura é o revestimento corpóreo de um ideal:
respira gravidade, serenidade, altura; no retrato da amada, Camões não faz mais do que seguir o padrão de Laura.
 No entanto, a sua poesia amorosa ultrapassa as convenções petrarquistas, registando o conflito (e união) entre o desejo carnal e o
ideal do amor desinteressado que consiste só no «fino pensamento»; há uma tensão entre a figura platónica da mulher e o desejo
físico, entre a espiritualidade e a carnalidade que o poeta exprime em várias composições, conseguindo expressar uma idealidade
amorosa mais realista do que em Petrarca ou Dante nas suas raízes instintivas.
 Camões tenta resolver esta tensão pelos próprios meios do platonismo: segundo Platão, as qualidades experimentadas por nós no
mundo em que vivemos são manifestações limitadas e contraditórias de ideias absolutas, isto é, de atributos da divinidade; o amor
carnal e a beleza das coisas terrenas não passam de imitações imperfeitas, de sombras do amor divina e da beleza plena, que só pode

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ser encontrada depois da morte, no paraíso; ideal: transposição do amor humano num plano superior, realizar uma síntese entre
aquilo que há de infinito e de finito na ânsia do amor.

O desconcerto do mundo
 Um outro tema frequente na lírica camoniana é o desconcerto do mundo: a incomensurabilidade ou desajuste entre as exigências
íntimas da vida pessoal e os meios que lhe são dados para as satisfazer, entre o mérito individual e a sorte do indivíduo, entre os
valores e a realidade, entre a razão e o facto, entre as necessidades e a sua satisfação; o mundo aparece como um desconcerto,
produto de um destino confuso e irracional que cria contradições a todo o passo; mundo controlado por entidades como a mudança
(sempre para pior), o tempo, a fortuna, o caso, o acaso; destino humano – dominado por ânsias sem satisfação nem mesmo objeto
definido; felicidade – reduzida à lembrança de outro estado anterior, menos mau.
 Este tema, que poderia estar na origem de uma poesia moralista e satírica (como é o caso de Sá de Miranda ou de Ferreira), torna-se
em Camões numa reflexão filosófica em que o mundo aparece fragmentado, contraditório, problemático, em perpétua ânsia e dor de
negar-se e refazer-se; o lirismo camoniano está mais perto da inquiteção maneirista do que do equilíbrio renascentista.
 Para Camões o problema central não é o das injustiças sociais, mas o da não correspondência entre os anseios, os valores, as razões e
a realidade da vida social e material; o desconcerto do mundo reside na relação entre o indivíduo (representado pelo eu lírico de
Camões), e um destino com que ele se encontra e que, ao mesmo tempo, lhe é opaco.
 Soluções propostas por Camões: o ceticismo e o retiro para a vida bucólica, numa paisagem idílica, para o estudo e a leitura (aurea
mediocritas – Horácio), ou a salvação através da fé e do ascetismo (saudade sentida na terra, aspiração à felicidade – reminiscência
de outro mundo, do paraíso «donde esta alma descendeu»);

Outros temas
 A saudade, tão caracteristicamente portuguesa, isto é, o estado de alma que a um tempo se traduz por aspiração, anseio, tristeza,
nostalgia, isolamento, ausência, abandono nunca deixou de ser sentida por Camões que sempre se refere a tristes lembranças de bens
passados, a nostalgias da felicidade perdida.

 A natureza, geralmente descurada pelos poetas medievais, tornou-se um tema central da lírica camoniana: o poeta sentiu e soube
compreender a natureza na plenitude dos seus aspetos, encontrando nela um manancial de metáforas, imagens, alegorias e
comparações.

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