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CAMPUS ARAPIRACA
ADMINISTRAÇÃO
ARAPIRACA
2018
ANA PAULA LIMA SANTOS
ARAPIRACA
2018
À toda comunidade Surda.
AGRADECIMENTOS
Helen Keller
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo examinar a inserção das pessoas surdas no
mercado de trabalho na cidade de Arapiraca – Alagoas, verificando se as empresas
enquadradas na Lei Nº 8.213, de 24 de julho de 1991 proporcionam um ambiente
inclusivo ou apenas cumprem com a cota estabelecida por Lei. Para tanto, foi
realizada uma pesquisa bibliográfica e de campo com funcionários surdos e
profissionais responsáveis pelo recrutamento e seleção em empresas da cidade, a
pesquisa foi classificada quanto aos seus fins como exploratório, de caráter
qualitativo. Os resultados do estudo apontam que as empresas realizam ações para
a inserção dos colaboradores surdos na empresa, contudo ainda não compartilham
de um ambiente inclusivo (comunicativo linguístico). Este Trabalho tem como
principais bases referenciais autores como: Chiavenato (2010), Gesser(2009),
Ludwis(2016), Sassaki(2010), Silva(1987) e Strobel (2009).
The present study aims to examine the insertion of deaf people into the labor market
in the city of Arapiraca - Alagoas, verifying if the companies included in Law Nº 8213,
of July 24, 1991, provide an inclusive environment or only comply with the
established quota by law. For this purpose, a bibliographical and field research was
carried out with deaf and professional personnel responsible for recruitment and
selection in companies of the city, the research was classified for its purposes as
exploratory of a qualitative nature. The results of the study indicate that the
companies take actions to insert deaf collaborators in the company, yet they do not
yet share an inclusive (linguistic communicative) environment. This work has as main
reference bases authors such as: Chiavenato (2010), Gesser (2009), Ludwis (2016),
Sassaki (2010), Silva (1987) and Strobel (2009).
1 INTRODUÇÃO
A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos
de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio
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2 ACESSIBILIDADE
A forma como a deficiência era vista e tratada pela sociedade foi mudando ao
longo da história, por muito tempo foi alimentada a visão negativa e discriminatória
sobre as pessoas deficientes por, acreditarem serem castigos divinos e pesos na
vida das famílias, dessa forma muitos eram abandonados e mortos, inclusive
apoiados por Leis, como ocorria em Esparta e Roma que permitia os pais matarem
os filhos que nascessem deficientes (SILVA, 1987).
Na Europa Medieval, como afirma Teixeira (2010), os povos atenienses e
romanos tinham um sentimento de acolhimento para com os deficientes, não tinha
claro ainda qual a melhor forma de amparar essa parcela da população se de forma
assistencialista, promovendo o sustento ou pelo viés da reabilitação, apresentando
meios para inserir os indivíduos. A visão assistencialista também era compartilhada
pela Igreja que incentivava os senhores feudais a amparar os deficientes.
Com o Renascimento e uma visão mais científica acerca da sociedade é que
surgem alguns inventos com o objetivo de integrar os deficientes, como cadeiras de
rodas e bengalas. Todavia, essa ideia de integrar estava direcionada a tornar os
indivíduos pessoas produtivas e de adaptá-las ao formato social existente, diferente
da ideia de inclusão que vamos tratar mais adiante.
Ainda segundo Teixeira, a ideia de reabilitação ganhou mais força depois da
Segunda Guerra Mundial, quando o povo se deparou com um grande número de
homens mutilados, além de psicologicamente, fisicamente. Por serem considerados
heróis da Pátria, o Estado se percebeu na obrigação de auxiliar aqueles que o
serviram e diversos profissionais eram investidos em “recuperar estes homens”.
Apesar do rompimento da visão de segregação para a assistencialista, a
deficiência ainda era tida como um problema do indivíduo e ele que tinha que se
adequar ao ambiente, esta realidade só começa a ser modificada a partir da década
15
3 A SURDEZ
3.1 Terminologia
1 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Aurélio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. 873 p.
18
Se for atribuído valor zero ao ambiente por ele não oferecer nenhum
obstáculo ou barreira, e multiplicado por qualquer que seja o valor atribuído
à limitação funcional do indivíduo, a deficiência terá como resultado zero.
Por óbvio não quer esta teoria dizer que a deficiência desaparece, mas sim
que deixa de ser uma questão problema, e a recoloca como uma questão
resultante da diversidade humana. A fórmula traduz a ideia de que a
limitação do indivíduo é agravada ou atenuada de acordo com o meio onde
está inserido, sendo nula quando o entorno for totalmente acessível e não
apresentar nenhuma barreira ou obstáculo [...] (MEDEIROS, apud DIAS
2014, p.30)
vocais, traquéia, pulmões e diafragma) que possuem outras funções primárias como, respirar,
mastigar, engolir, cheirar, mas que em conjunto são responsáveis pela produção da voz. (SEARA;
NUNES;LAZZARATTO-VOLCÃO, 2011)
19
Assim, adotaremos neste trabalho o termo Surdo por julgar ser mais adequado
e acreditar que o povo surdo se sente melhor representado por tal. Destacamos que
ao longo do texto a expressão deficiente auditivo pode está presente, uma vez que
iremos utilizar como referência textos legais e a legislação faz uso, tanto da
expressão deficiente auditivo como Surdo. Abordaremos de forma mais detalhada
outros conceitos sobre a surdez no item 1.2, quando trataremos da cultura surda.
Não é só de surdos, já que têm sujeitos ouvintes junto, que são família,
intérpretes, professores, amigos e outros que participam e compartilham os
mesmos interesses em comuns em uma determinada localização que
podem ser as associações de surdos, federações de surdos, igrejas e
outros (STROBEL, 2009. p.6).
Como já foi explicitado existem diversas culturas, cada uma com suas
características e particularidades, as comunidades também irão apresentar seus
aspectos de acordo com o que compartilham. Dessa forma, a cultura e as
comunidades surdas apresentam alguns elementos que as caracterizam como tal,
segundo Strobel (2008, apud NAKAGAWA, p.61, 2012), são: “experiência visual, a
língua de sinais, o artefato cultural familiar, a literatura surda, a vida social e
desportiva, as artes visuais, a política e os materiais.”
Como já foi citado, o povo surdo percebe o meio a sua volta pela visão, uma
vez que esta substitui a audição, por isso a experiência visual é um elemento da
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LUFT, Celso Pedro. Minidicionário Luft. São Paulo: Afiliada, 2000. 686 p.
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3.3.1. Libras
linguagem, uma vez que a confusão entre os dois termos é recorrente, interferindo
inclusive no entendimento das Línguas de sinais como língua. A linguagem é tida
num sentido mais amplo, engloba todas as formas de comunicação utilizadas para
expressar ideias e sentimentos, sejam expressões corporais, mímicas, gestos, fala
(QUADROS 2004. p. 8); ou seja, a língua está contida na linguagem, mas não
somente ela. A língua, por sua vez, é um conjunto de signos compartilhados
socialmente por comunidades linguísticas comuns e que apresentam algumas
propriedades como: a criatividade, a flexibilidade, a produtividade e a arbitrariedade
(QUADROS 2004. p. 8) Além de possuir uma estrutura quanto a sua construção
fonológica, morfológica, sintática e semântica, ou seja é uma língua com estrutura
gramatical própria. Como dispõe a Lei 10.436 de 2002.
Dessa forma, “a língua de sinais é língua porque apresenta
características presentes em outras línguas naturais e, essencialmente, por que é
humana” (GESSER, 2009, p.27). Apesar disso, ainda existe muito preconceito e
mitos envolvendo a língua de sinais, isso decorrente de todo o contexto histórico,
social e educacional envolvendo a surdez, os quais já debatemos neste trabalho. O
Congresso de Milão foi um grande empecilho no desenvolvimento das línguas de
sinais o que repercute até hoje na aceitação e entendimento social da importância
das línguas espaço-visuais. Contudo, a proibição do uso das línguas de sinais,
felizmente não foi suficiente para aboli-las, visto que mesmo após o congresso os
surdos ainda conversavam de forma secreta utilizando as línguas de sinais e
passavam para as novas gerações.
Conforme Bogas(2016) e Strobel(2009) no Brasil, a língua brasileira de sinais
(LIBRAS) nasceu sob influência e mistura da Língua Francesa de Sinais já utilizada
pelos surdos no país, após a chegada do professor Francês Eduardo Huet e da
Fundação do Instituto Nacional de Educação de Surdos - INES, em 1857. Como em
todo o mundo, a Libras sofreu com os desajustes causados pelo Congresso de
1880, prejudicando o seu desenvolvimento e consequentemente o crescimento
social dos indivíduos surdos. Foram décadas de muitas discussões e lutas para o
reconhecimento da cultura surda, apenas na década de 90 começaram a surgir as
primeiras conquistas no âmbito legal, com aprovações de leis municipais e estaduais
que reconheciam a Língua Brasileira de Sinais e um projeto de Lei para
reconhecimento da LIBRAS a nível Nacional. Projeto este que só veio ser aprovado
em 2002, com a LEI Nº 10.436 que reconhece a Língua Brasileira de Sinais como
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E neste código binário citado por Canotilho que está inserida a discussão
surdo/ouvinte, relações conflitantes nascidas no contexto social e que se modificam
conforme a sociedade se transforma. Uma das ferramentas que dirigem a vida em
sociedade e que trabalham ou deveriam trabalhar para a eliminação das dicotomias
negativas existentes, são as leis.
No Brasil somente após a nova Constituição, em 1988 e o Estado
Democrático de direito, que surgiram legislações abordando a acessibilidade e
inclusão nos mais diversos setores da sociedade e também leis específicas de apoio
a comunidade surda.
Apesar da Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º prever que: ”Todos
são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade” (BRASIL, 1988), a
desigualdade e o preconceito sempre estiveram presentes para aqueles que não se
encaixam na perspectiva hegemônica do que é ser normal.
Diante da necessidade de reforçar a ideia de igualdade, legislações foram
aprovadas, tais como;
● Lei Nº 7853 de 24 de outubro de 1989, visa garantir às pessoas deficientes os
direitos básicos, auxiliando na remoção das discriminações e preconceitos
27
cultura visual que precisa ser respeitada e ter o ambiente e sociedade preparados
equitativamente, principalmente de forma lingüística.
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4 RECRUTAMENTO E SELEÇÃO
4.1 Recrutamento
Quando se fala em buscar e atrair as pessoas certas para uma organização
parece ser um processo relativamente simples, contudo existe uma série de fatores
que muitas vezes são esquecidos ao se iniciar um processo de recrutamento. Para
Chiavenato (2010), recrutamento de pessoal é um processo que atua como ponte
entre as empresas e as pessoas, divulgando as oportunidades de emprego no
mercado de trabalho, ao mesmo tempo que atrai para o processo seletivo.O
recrutamento pode ser interno, quando busca dentro dos funcionários da própria
organização; e externo quando busca fora. As duas formas possuem vantagens e
limitações, a escolha pelo recrutamento mais adequado vai depender de fatores
como o porte da empresa, o cargo para qual está se recrutando e até mesmo a
dinâmica do mercado.
O recrutamento interno, de forma geral, é realizado em empresas que
possuem um quadro de colaboradores grandes, que já possuem um plano de cargo
e carreiras ou que pretendem implantar. O recrutamento interno tem como
benefícios; o conhecimento dos indivíduos que estão sendo avaliados, visto que a
empresa já conhece seu trabalho; o menor custo de recursos temporais e
financeiros para a organização, tendo em mente que o recrutamento será voltado
pra um nível limitado e pré-definido de indivíduos. Este último fator, pode ser visto
por outra perspectiva como desvantagem, no sentido de que o número limitado de
indivíduos pode significar também o número restrito de competências.
O recrutamento externo, como já mencionado está voltado a captar pessoas
externas a organização, ou seja, que estão no mercado. O que engloba uma gama
enorme de possibilidades, com características, perfis, qualificações e competências
diferentes. Tornando o recrutamento externo um tanto quanto mais complexo que o
recrutamento interno, visto que o público a ser atingido é N-vezes maior. Como
explicita Chiavenato:
Assim, as técnicas para recrutar devem ser escolhidas de acordo com o perfil
que se deseja atingir, como ainda confirma Bohlander e Sneel (2009, p. 159) que “as
fontes externas a partir das quais as companhias fazem seu recrutamento irão variar
conforme o cargo que precisa ser preenchido”.
Para tanto tem-se como meios mais comuns para recrutamento externo, de
acordo com Bohlander e Sneel (2009).:
• Anúncios - um dos meios mais comuns, divulgar vagas de emprego em
anúncios em jornais, boletins, revistas;
• Solicitações e currículos não solicitados - diz respeito as pessoas que
chegam até as organizações mesmo quando não estão com o processo de
recrutamento em execução;
• Recrutamento pela internet – via mais utilizada para atrair os candidatos, a
internet tornou-se uma forma acessível de chegar a um grande número de
pessoas e de perfis diferentes, sejam pelas redes sociais, site da própria
empresa ou sites especializados para recrutamento e seleção de pessoal;
• Indicação de funcionários - ocorre quando um colaborador da empresa indica
uma pessoa, este tipo de recrutamento é positivo para o clima
organizacional, pois envolve toda a instituição. Contudo, é necessário ter
cuidado para não gerar confusões de favoritismo ou práticas de nepotismo na
organização;
• Instituições educacionais – canal para grupo de jovens qualificados, porém
com poucas experiências práticas profissionais;
• Associações de profissionais - Excelente ponte para estabelecer relações
das empresas com indivíduos que já possuem experiências, mas que por
vezes não estão ativos no mercado;
• Sindicatos de trabalhadores – Os sindicatos terão uma representação
equivalente ao das associações de profissionais, atuando como elo;
• Escritórios públicos de colocação - são instituições públicas que trabalham
na comunicação das empresas e o mercado de trabalho local, agindo como
facilitadores na geração de emprego; e
• Agências privadas de emprego - realizam trabalho semelhante ao escritórios
públicos de colocação, contudo estão voltados mais a atender as demandas
das empresas, ou seja, as organizações que não se sentem capazes ou
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4.2 Seleção
Como Lopez (2016) esclarece competência é formada por 3 pilares que são
conhecimentos, habilidade e atitudes. Onde, Conhecimento diz respeito aos saberes
adquiridos por meio de observação, leitura, treinamentos, formação acadêmica que
levam a compreensão de conceitos, ideias e técnicas que permitirão a atingir
determinados objetivos. Habilidade está ligada a possibilidade de produzir a partir de
um conhecimento adquirido, ou seja, a capacidade de transformar teoria em prática.
E Atitude é como a pessoa decidi agir em relação a acontecimentos e pessoas no
ambiente em que se encontra.
Essas são as competências mais conhecidas, contudo o conceito de C.H.A.
vem sendo abordada de outras formas pelas empresas, o mais importante é
conhecer e adaptar de acordo com a realidade, cultura organizacional e as
necessidades de cada cargo.
O conhecimento a cerca das competências também é diretriz para o gestor
saber quais as técnicas mais adequadas a serem utilizadas no processo de seleção.
Para Bohlander e Sneel (2009, p. 209) “o número de etapas no processo de seleção
e sua sequência irão variar, não somente com a organização, mas também com o
tipo e o nível dos cargos a serem preenchidos.”
As etapas mais usadas na seleção de pessoal segundo Chiavenato (2010)
são: entrevistas, provas de conhecimento ou capacidade, testes psicológicos, testes
de personalidade e técnicas de simulação.
• Entrevista – é método mais utilizado nos processos seletivos, constitui-se
basicamente pela comunicação entre duas ou mais pessoas com o objetivo
de extrair informações e assim chegar a conclusões a cerca do perfil do
candidato. As entrevistas podem ser padronizadas ( quando existe um roteiro
de perguntas que devem ser seguidas, este roteiro pode ser mais flexível
permitindo que as respostas sejam mais abrangentes ou mais rígido onde as
repostas serão mais limitadas); entrevistas diretivas onde o entrevistador tem
em mãos assuntos que pode abordar na entrevista, mas sem perguntas
previamente definidas; e a entrevista não- diretiva onde o entrevistador tem
total liberdade para conduzir a entrevista, o que pode significar um risco visto
que informações importantes podem ser suprimidas.
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5 METODOLOGIA DA PESQUISA
Este estudo tem como objetivo principal examinar a inserção das pessoas
surdas no mercado de trabalho na cidade de Arapiraca, Alagoas, para a partir disso
ser possível responder os seguintes questionamentos: Qual a realidade das pessoas
surdas inseridos no mercado de trabalho na cidade de Arapiraca, Alagoas? As
empresas proporcionam um ambiente inclusivo que permite uma comunicação
eficaz ou apenas cumprem com as cotas estabelecidas por lei?
Empregando como suporte os conceitos de Vergara (2011), classificou-se a
pesquisa quanto aos seus fins como exploratória, de caráter qualitativo. Exploratória
porque, embora tanto a temática de recrutamento e seleção quanto o povo surdo
serem alvos de pesquisas por diversas perspectivas, verificou-se poucos trabalhos
que abordem o recrutamento e seleção pela expectativa da inclusão dos surdos.
Descritiva, porque almeja descrever a percepção dos surdos acerca da inclusão no
mercado de trabalho.
Quanto aos meios a pesquisa foi bibliográfica, documental e de campo.
Bibliográfica, devido a fundamentação teórica do trabalho a ser realizada a partir da
investigação sobre os assuntos: acessibilidade, história e cultura surda, inclusão,
recrutamento e seleção. O estudo também foi documental, por utilizar de legislações
específicas ao assunto. A pesquisa foi de campo, pois levantou informações com
funcionários surdos e gestores das empresas participantes do estudo por meio de
entrevistas semi-estruturadas.
Após o levantamento bibliográfico e o estudo sobre história e cultura surda,
recrutamento e seleção e das análises documentais, tendo como estímulo a LEI Nº
8.213, DE 24 DE JULHO DE 1991, mais conhecida como lei de cotas, que em seu
artigo 93 estabelece que:
6
O auxílio de uma pessoa proficiente em LIBRAS no lugar de uma intérprete/tradutora foi uma das
problemáticas que envolveram a pesquisa, a qual iremos detalhar melhor no próximo item.
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empresa B). E na Empresa “C”, afirmaram que sim, 3 intérpretes que atuam em
outras funções e realizam o trabalho de intérprete quando necessário. Além disso, a
empresa promove cursos, ano passado 30 funcionários fizeram curso de Libras.
Apesar da empresa “C” afirmar possuir intérprete, com a visita e as
entrevistas realizadas com os surdos foi possível entender que a empresa não
possui intérprete, mas assim como nos outras empresas estudadas, são
funcionários com um conhecimento básico de Línguas de Sinais e que realiza a
tradução/interpretação quando necessário. Ou seja, falta clareza quanto ao
profissional intérprete, de acordo com a Lei Nº 12.319 de 1º de setembro de 2010,
no seu artigo 2º esclarece: “O tradutor e intérprete terá competência para realizar
interpretação das 2 (duas) línguas de maneira simultânea ou consecutiva e
proficiência em tradução e interpretação da Libras e da Língua
Portuguesa.”(BRASIL, 2010).
EC2 CASADO 1
EC3 SOLTEIRO 0
Fonte: A autora (2018)
Como podemos visualizar no gráfico abaixo, 55,6% dos entrevistados
possuíam apenas ensino fundamental incompleto, tal índice retrata o que
abordamos no capítulo 2, ao tratar do contexto histórico dos surdos e das
dificuldades educacionais enfrentadas.
Gráfico 01 – Nível de Escolaridade dos funcionários entrevistados.
porcentagem alta (75%) do uso do aparelho auditivo, uma das entrevistadas afirmou
que só usa por conta do filho.
Vale destacar que, mesmo sendo válidos quaisquer meios que venham fazer o
indivíduo se sentir melhor e tornar mais fácil a comunicação, não anula o fato de que
o coletivo é que deve trabalhar de forma conjunta para um ambiente acessível e não
um indivíduo se adequar ao estipulado.
apenas 18 anos e ensino médio incompleto, o que nos leva a considerar que
abandonou os estudos para trabalhar informalmente, visto que a idade não permitia
um emprego regular.
Sobre as dificuldades enfrentada para conseguir uma oportunidade de
trabalho, 4 afirmaram ser muito difícil, precisando de auxílio da família para
conseguir, como falou o Entrevistado 2 da empresa B: “Difícil, minha mãe que
ajudou a conseguir” (EB2). 4 disseram ser normal, ou enfrentou uma dificuldade
mediana.
Foi verificado também as funções dos surdos entrevistados, na empresa A
houve uma variação, onde teve uma auxiliar administrativa, uma auxiliar de
produção e auxiliar de serviços gerais. Na empresa B, um repositor e dois
empacotadores. Na empresa C todos os entrevistados possuem a mesma função de
auxiliar de expedição. Ou seja, refletindo também as informações da escolaridade
coletadas no início das entrevistas, a maioria dos cargos ocupados pelos surdos em
questão são os que não exigem alta qualificação.
que os surdos são bobos, porque não conhecem” (Entrevistado 3, da empresa B).
“Mais ou menos, porque alguns não falam (comigo)” (Entrevistado 3, empresa C).
Ou seja, percebe-se que a ausência de incentivos por falta das empresas em
auxiliar na comunicação de seus funcionários interfere na relação grupal, na auto-
estima dos funcionários e consequentemente na sua motivação e desempenho.
Apesar desses gargalos existentes na comunicação, cem por cento dos
entrevistados se sentem bem nas atividades que realizam e participam dos
momentos de integração da empresa, como reuniões. Contudo, faz-se necessário
destacar que essa “participação”, consiste em está fisicamente presente, pois, por
vezes a participação é limitada ou impossibilitada pela falta de intérpretes. Como
podemos comprovar na fala do entrevistado 3, da empresa B: “Mas é difícil porque
não escuto nada e não tem intérprete, como vou saber se vou progredir.” Realidade
já mencionada na entrevista da gestora da mesma empresa.
Tendo em vista, essas dificuldades apresentadas indagamos o que as
empresas poderiam implementar para melhorar a integração dos funcionários e as
sugestões foram bem próximas umas das outras, tanto manter os treinamentos e
palestras no caso da empresa A, como terem um profissional intérprete para auxiliar
nas reuniões e na comunicação de forma geral. A necessidade de um ambiente em
que se use mais a sinalização é perceptível para que haja a inclusão, um dos
funcionários da empresa B, sugeriu algo diferente das demais conversas e que casa
diretamente com nossa última questão da entrevista, ele cita: “Poderia ter um grupo
de surdos, os gerentes, RH, se comunicar melhor. Conhecerem nossa lei, surdos e
deficientes. Os ouvintes não conhecem a lei, acabam zombando, se conhecessem ia
melhorar”(Entrevistado 3, da empresa B).
De fato a lei tem contribuído para que surdos ( e pessoas deficientes) tenham
acesso ao mercado de trabalho, contudo somente a lei, no contexto em que ela é
tratada hoje não coopera de forma total para uma sociedade inclusiva, como explica
Sassaki sobre a lei contribuir para a inclusão:
Não, não acredito porque o percentual estipulado é muito pequeno. Pela lei,
uma empresa com 100 empregados é obrigada a empregar 2% de pessoas
com deficiência, o que significa somente duas pessoas. A lei é
discriminatória e não resolve, porque impõe, obriga. Mesmo que a empresa
não queira, muitas vezes contrata por medo, pela obrigação, porque não
quer ser "fora da lei". A empresa inclusiva contrata mais do que a lei a
obriga, e contrata entendendo que não é obrigada, mas porque tem provas
científicas que a diversidade humana enriquece seu ambiente, em termos
de experiência, e enriquece as análises de problemas, gerando soluções
mais criativas, tornando-se mais competitiva. Há harmonia e respeito.”
(SASSAKI, [200-?])
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pela percepção dos surdos foi possível averiguar que eles percebem a
importância do trabalho para a inclusão social e que se sentem motivados por
estarem inseridos no mercado de trabalho. Contudo, fica claro a consciência de que
falta interesse por parte de todos os colaboradores das empresas em conhecerem a
cultura surda, aprenderem a Língua de sinais ou se empenharem em ações que
melhorem a convivência no dia a dia. Apesar das dificuldades enfrentadas, têm a lei
de cotas como instrumento essencial para a garantia de seus direitos.
Por isso tudo, considera-se que o objetivo central do trabalho foi alcançado,
examinar a realidade da pessoas surdas inseridas no mercado de trabalho na cidade
de Arapiraca, AL. Uma vez que depreende-se que os surdos participantes da
pesquisa estão ainda inseridos num processo de integração, ou seja, existe um
esforço maior de forma unilateral, onde eles precisam superar diariamente a barreira
da comunicação no ambiente organizacional. Percebe-se que existe um esforço por
parte das empresas em amenizar tal situação, ao disponibilizar cursos, oficinas de
LIBRAS, mas falta ainda diálogo e conscientização para que exista envolvimento de
todas as partes integrantes do ambiente.
Reconhecendo as limitações da pesquisa e a aproximação com os assuntos
abordados, surgiu novos questionamentos que podem ser estímulos para
pesquisas futuras. Dessa forma, sugere-se um aprofundamento na pesquisa onde
pudesse ser realizado um mapeamento do quantitativo geral de surdos inseridos no
mercado de trabalho em Arapiraca. Outro ponto importante, seria analisar a relação
do Estado com as empresas e como esse vínculo pode ser ativo na efetivação da
inclusão dos surdos no mercado de trabalho.
Diante disso, espera-se que o estudo venha contribuir para uma maior
visualização e entendimento sobre a surdez e da importância de se discutir e
trabalhar a acessibilidade e inclusão nas organizações. Acredita-se que a
Universidade tem papel fundamental na disseminação da inclusão, não apenas no
âmbito da pesquisa, mas também por meio de conscientização fazendo um elo entre
a academia e o mercado de trabalho. Ações que poderiam ser realizadas por meio
de palestras e/ou projetos de extensão.
Almeja-se também que este trabalho seja estímulo para novas pesquisas e
coopere para o entendimento do valor de se debater sobre acessibilidade e inclusão
na Administração, tendo em mente que gestores conscientes de suas
55
REFERÊNCIAS
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Políticas Sociais e Serviço Social. 2009. 127 p. Monografia (Bacharel em Serviço
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disposition=inline%3B%20filename%3DESTADO_DE_DIREITO.pdf>. Acesso em:
18 jan. 2018.
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Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.
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61
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QUADROS, Ronice Müller de(Org.). Estudos Surdos I. Petrópolis: Arara Azul, 2006.
324 p
SANTOS, Wesley Luis Nunes dos. Matemática e surdez: um estudo sobre o uso
dos recursos visuais como estratégia no ensino da matemática aos alunos surdos.
62
SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: Construindo uma sociedade para todos. 8ª. ed.
Rio de Janeiro: WVA, 2010. 180 p.
VIEIRA, Sonia. Como elaborar questionários. São Paulo: Atlas, 2009. 159 p.
QUESTIONÁRIO FUNCIONÁRIO
Dados gerais
SEXO:
( )Feminino
( )Masculino
IDADE: ___________
Cor/Raça/Etnia
( )Branco(a)
( )Pardo(a)
( )Negro(a)
( )Indígena
( )Outro
ESCOLARIDADE
( )ENSINO FUNDAMENTAL INCOMPLETO
( )ENSINO FUNDAMENTAL COMPLETO
( )ENSINO MÉDIO INCOMPLETO
( )ENSINO MÉDIO COMPLETO
( )ENSINO SUPERIOR INCOMPLETO
( )ENSINO SUPERIOR COMPLETO
( )outros
FAZ FONOAUDIOLOGIA?_____________________________
USA LIBRAS?______________________
CAUSA DA SURDEZ:___________________
De forma geral, como você se sente na atividade que realiza dentro desta
empresa?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Que medidas você acha que a empresa poderia implementar para melhorar a
sua integração na organização/
_______________________________________________________________________
66
QUESTIONÁRIO EMPRESA
Cargo (área):