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Confissões da Independência

PRÓLOGO

Queridos leitores, me propus escrever em forma de livro os relatos das


minhas vivências enquanto padre em um difícil período de esperanças e
desilusões (1820-1840) que acompanhei durante parte da minha vida em Lima,
como pároco da Igreja de São José, onde realizei minha pastoral, na cidade,
onde fica a sede paroquial, e nas dependências da paróquia1 nas áreas rurais.

Deixei registrado nos papeis de um diário, que recebi de um querido


amigo padre, que trouxe da Europa e me presenteou na data de meu 10º
aniversário de sacerdócio. Anotei as coisas que vi, ouvi e tudo o que pude
analisar da realidade em que estava inserido os povos das áreas em que atuei
e de quem cuidei espiritualmente, não deixando de perceber o fator político e
social que tanto se mostravam como imperativos que interviam sobre a
conjuntura e a situação daqueles a quem tanto me dediquei a acompanhar. O
olhar atento a todas as situações de vida dos pequeninos aos privilegiados,que
estavam inseridos no mesmo meio social, surgiu do meu ofício sacerdotal.
Enquanto ouvi confissões de índios, mestiços, negros, pobres e
desamparados, seus relatos me sensibilizaram e meu refúgio para descarregar
a lamúria de tantos relatos tristes foi o papel, pois a missão de escutar todas as
mágoas e dores dos pecadores as vezes sobrecarrega o sacerdote, que é um
homem limitado como eu, que precisa as vezes de um suporte para esvaziar
tanta dor e sofrimento. Como homem de importância, pelo valor que me dão
pelo ministério que ocupo, sempre estive no meio dos poderosos celebrando
junto a eles os cerimoniais e me envolvendo também em ocasiões que não
dispensavam minha presença e aproximação.

Para tanto, ninguém melhor que eu pude entender tudo o que estava
acontecendo nesses anos que sucederam a Independência por estar envolvido
e acompanhando todos os setores da sociedade, entre o povo e a elite
1correspondia na época por 36 comunidades rurais além da sede na cidade. Para poder
administrá-las tinha comigo o pároco auxiliar, o vigário Vicentino Hernandez.
econômica e política. O motivo que me leva a compilar todos os meus escritos
até este momento é para que nada das coisas que presenciei caia em
esquecimento prematuro sem que seja transformado em memória, e sirva de
alguma maneira para meus alunos seminaristas que me pediram uma versão
em obra das histórias que tanto falo em sala de aula, no seminário de Santo
Inácio de Loyola, sobre as dificuldades da vida pastoral, a que eles se
propõem, em uma sociedade marcada por um conjunto de fatores históricos, os
quais eu fui capaz de perceber através da observação e experiência.

O dever de um padre é guiar os homens ao caminho da salvação em


Cristo Jesus, onde estão as benesses da liberdade, da fraternidade entre os
irmãos e a solidariedade entre os povos, e nesses princípios me adaptei a
certas ideias correntes nos tempos ou delas fui crítico quando avaliava sua
eficácia para o bem de todos e da Santa Igreja.

O juiz interior que há em mim não me deixa chegar a velhice sem fazer
um exame de consciência apurado de tudo aquilo que vivi e das coisas que fiz
ou deixei de fazer e que hoje me arrependo ou me orgulho de ter feito. Aqui
estão críticas a todo o período compreendido da Era do Caos que vivenciou os
americanos dessas terras e de toda América, até as mais aguçadas
esperanças de superação da nossa situação de dependência e fragmentação
política e que repercute na nossa organização enquanto sociedade tão
sonhada por líderes políticos como Bolívar. Então conto a vocês como ato de
confissão sobre as coisas todas que supracitei e das que me arrependo pelo
envolvimento ou adesão que tive; me contrito com minha própria consciência
para não padecer na culpa dos erros do passado.

Pe. JulliusFernadez, Lima, 13 de setembro de 1864.


Capítulo 1

O Mundo de Caos

Ministrando aulas para jovens seminaristas sempre utilizei a experiência


de uma longa estrada percorrida para me ajudar a explicá-los os desafios da
carreira que pretendiam seguir. Os tempos que eu vivi e os que eles viverão
são outros, mas a sociedade que irão evangelizar é a mesma que evangelizei.
É um povo marcado com as mesmas marcas, possuem todos as mesmas
raízes históricas (dentro da separação de classes, claro) e se faz
imprescindível, creio eu, entender muito mais que a teologia, sobre as coisas
dos espíritos para ser padre, é preciso entender a alma do povo para salvá-las,
é preciso estudar a formação de suas almas que de modo algum escapa de
uma longa trajetória de luta histórica que envolve processos sociais únicos e
indeléveis. Por tanto, aqui vão considerações que podem guiar a vocês, meus
alunos, sobre as dificuldades da prática da missão social devido as barreiras
presentes no seio da própria realidade social americana.

Concomitante ao período das guerras de independência que envolveu a


luta entre os nativos americanos e os espanhóis, se deu aqui na América as
origens de uma nova forma de organização, desta vez, sem a tutela do Império
Espanhol sobre os modos políticos e econômicos da sociedade hispano-
americana. As implicações destas mudanças foram perceptíveis pelos mais
atenciosos como eu, que estava inteirado sobre os processos sociais que
ocorriam devido meu trabalho dirigido diretamente à sociedade. Por essa
posição de ser um homem bem quisto do povo e compartilhar de todas as
vivências do que se passava após a Independência considero-me como um
observador privilegiado, como uma águia que tem o olha panorâmico sobre as
coisas que acontecem por baixo de suas asas.

Em toda minha vida pastoral, que começou desde os meus vinte e


quatro anos, estive sempre cumprindo as obrigações do meu ofício de celebrar
missas pelas comunidades tão carecidas de sacerdotes. Nas minhas idas
semanais, as vezes quinzenais ou mensais para comunidades distantes, pude
perceber diferenças no estilo e na organização do povo. O isolamento em
muitas áreas deste país e de muitos outros que pude visitar, me deixaram a
impressão de que a aproximação entre os povos irmãos era frágil. Acredito
profundamente e, assim, atribuo este fator ao isolamento geográfico e político
que possuem suas explicações históricas, que têm sua raíz nos períodos da
administração colonial, em que enquanto povo éramos compelidos por
determinações maiores a não fazer intercâmbios de qualquer vertente com
nenhuma outra colônia do Império Espanhol, mesmo que fossemos filhos de
uma mesma cultura e estivéssemos sob uma mesma lei divina e política única.

Uma vez fui convidado à Caracas, em ocasião da ordenação do novo


bispo diocesano, Dom Aristides de Castilho, que conheci no seminário quando
estávamos no primeiro ano da teologia aqui mesmo em Lima e após sua
ordenação foi enviado a servir na cidade em que há anos atrás se tornou
dirigente da diocese. Compartilhamos de muita simpatia um pelo outro, e em
15 de junho de 1824 numa janta antes do dia da cerimônia de posse
conversávamos a mesa sobre como seria o novo desafio para ele, o novo
bispo, de administrar uma diocese enorme quanto aquela e ele me disse uma
coisa que me fez pensar mais sobre nossa missão: que seus diocesanos e os
povos da América, de um forma ampla, possuem por determinação histórica
um gene comum, pois todos tínhamos um passado colonial e os nossos
desejos e anseios eram os mesmos em grande medida, porém que por
determinações geográficas e pelo fator da própria administração colonial no
passado, os povos latinos não reconheciam esse imperativo que em termos de
consciência histórica e cultural nos aproximaria e para cumprimento de uma
ordem religiosa nos faria mais irmãos.

Aquela breve conversa com Dom Aristides tinha me aberto os olhos para
coisas que pensei ser um problema particular de Lima e suas proximidades, até
ele me ressaltar que a compreensão do problema exigia uma revisão naquilo
que é histórico e que acompanhávamos os desdobramentos no tempo presente
A divisão não somente estava entre o grosso do povo por falta de uma
consciência política, mesmo nas elites que faziam a política estavam num
acirramento medonho entre si. No seio da elite estava a semente da divisão na
qual toda origem era o poder. A vontade de dominação com objetivos de
interesse próprio não faltou às disputas políticas. Os destinos dos povos
estavam nas mãos dos donos do poder e orientados pelos chamados
conservadores, ou federalistas, e centralistas. Os primeiros vinculavam suas
práticas e ideias ao passado colonial, querendo fazer de suas haciendas uma
unidade política pelo exercício da economia e da política em suas regiões de
influência e por isso detestavam a ideia da formação de um poder central que
destituísse esses grupos locais de seus poderes privilegiados, sua autonomia.
Os outros grupos da elite eram os chamados centralistas, com ideias políticas
mais liberais, que queriam copiar o exemplo de federalismo a lá Estados
Unidos da América, inspiradas pelas ideias de legislação e fraternidade de
Montesquieu, e promulgar uma constituição nacional, propunham também a
separação entre Igreja e Estado, influenciados pelas ideias diabólicas que
vieram da Europa com a justificação da promoção da autoridade civil. Essa
elite liberal estava localizada nas cidades e envolvidas com o comércio e seus
interesses eram óbvios, apesar de implícitos: o estabelecimento de uma
conexão entre o mercado interno junto aos setores de influência financeira
internacional.

Sempre disse aos meus jovens discípulos, que numa sociedade


marcada pelos conflitos de poderes não vai ser fácil impor as ideias de
fraternidade pregadas pela santa Mãe Igreja. A condição material do povo é um
fator que se apresenta como mais um problema que vem ao padre. Enganam-
se os jovens padres que pensam que cuidar do povo é apenas cuidar da alma.
O corpo as vezes sente mais carência da nossa ajuda do que qualquer
conselho espiritual. Os pobres não foram inclusos em nenhum projeto político
desde a fase de nossa independência política. O jogo político da troca das
hierarquias espanholas pelas locais privilegiou os interesses econômicos das
nossas elites que formou uma nova instância de poder chamado caudilho,
grandes proprietários de terras a quem os trabalhadores pobres lhes devem
toda fidelidade e obediência. Os anos de guerra de independência gerou fome
na população e o apoio estratégico foi dado pelos oligarcas com a finalidade de
obtenção de controle sobre os de avantajados. As desigualdades existentes
entre o povo é devido a concentração de renda e concentração de terra que
explica a origem da miséria do povo que não tem onde plantar nem com o quê
e se torna cada vez mais sujeito a dominação desses patrões que pagam com
insumos seus trabalhadores e que os endividam da maneira que der para
garantir mais ainda sua dependência, além, de forma desgraçada, tomar a
posse dos terrenos dos seus peões pela falta de comprovação cartorial. Essas
condições são fatores que nenhum jovem e inexperiente missionário deve
deixar de lado quando se pretende trabalhar com essa realidade, aliás, é nosso
papel com Igreja prezarmos na preciosa ideia de São Paulo, na sua carta aos
Romanos, capítulo 13, “omnis anima potestatibus sublimioribus subdita sit non
est enim potestas nisi a Deo quæ autem sunt a Deo ordinatæ sunt” (Cada qual
seja submisso às autoridades constituídas, porque não há autoridade que não
venha de Deus; as que existem foram instituídas por Deus)

Experiência na Cidade: Conhecendo a “Urbis”

Após o breve relato de minhas motivações e observações mais gerais,


começo contando-lhes os detalhes do que vivi, primeiro, em meio à grande
cidade e depois nocampo, para isso demonstrarei o dia em que mais percebi o
funcionamento do ambiente ao meu redor.

Tudo começou numa manhã, ainda com olhos entreabertos e


sonolentos. Quando inicio meu dia, organizo minha cama, faço minha oração e
desjejum caminhando sempre com calma, contando sempre com o poderoso
auxílio de Deus, dos santos e anjos, entre uma atividade e outra. Em minha
classe, os jovens aspirantes ao sacerdócio hora me pareciam mais
entusiasmados, hora um pouco mais dispersos, entretanto, seus olhos, em
geral, passavam-me um sentimento de tranquilidade, no qual eu me apoiava
quando as noites não haviam sido boas comigo.

-- A Santa Eucaristia contém todo o bem espiritual da Igreja, o próprio


Cristo, o Pão vivo. Através da Eucaristia, entramos em comunhão com Deus,
com a Igreja e com nossos irmãos. A Eucaristia é o sacrifício do Corpo e do
Sangue do Senhor Jesus, que Ele institui para que fosse celebrado até o fim
dos tempos – Enquanto proferia cada palavra eles observavam cada vez mais
atenciosos, buscando compreender os mínimos detalhes daquilo que lhes era
passado.
-- Alguém poderia me dizer quando a Santa Eucaristia foi instituída
como um ritual da missa? – Perguntei em tom severo, para instigar a resposta.

-- Na Quinta-Feira Santa, senhor, no dia em que Cristo foi entregue,


durante a Última ceia. – Respondeu seguro.

-- Muito bem! “Tomai todos e comei...”,“Tomai todos e bebei...”, “Fazei


isto em memória de mim”, com essas palavras, Jesus quer que esse sacrifício
seja perpetuado até a sua volta, a Comunhão é feita em todos os lugares do
mundo, para que Cristo se faça presente entre os católicos. Representando
também a unidade da Igreja.

Encerrada a aula, encaminho-me até o refeitório do seminário, onde


sentamos todos juntos conversando sobre às dúvidas que surgem durante o
dia, normalmente, o Latim é um pouco mais difícil para os novatos, vindo deles
mais perguntas sobre o assunto. Os outros quase concluintes, sentam e
conversam sobre as igrejas que visitaram, o missionarismo por eles praticado e
algumas discussões teológicas, as vezes estas acabam em pequenos
confrontos, nada grave, apenas caras feias que logo são esquecidas e
perdoadas.

-- Que Deus ponha juízo na cabeça desses garotos – Disse um colega


professor ao meu lado, sorrindo de satisfação ao ver o fim da briga.

Também, dei-me por satisfeito, não valeria a pena continuar aquela


pequena briga por mais tempo, além disso, anoite eu deveria presidir uma
missa, sendo assim, os preparativos deviam ser todos finalizados para que a
mesma acontecesse sem nenhum problema.

Chegada à noite, com auxilio do sacristão de minha paróquia, tudo


estava pronto para a ocasião, naquela grande cidade, as coisas deviam
acontecer no momento marcado, por vezes, principalmente por parte da elite
local, as coisas eram feitas as pressas, o grande interesse daqueles homens
se dava na reunião das confrarias que aconteciam após as missas.

A missa ocorre sem problemas, os pobres, coitados, davam pequenas


doações durante o ofertório, enquanto os ricos, uns motivados pela fé, e outros
motivados pelos interesses nas benéficas que poderiam ser realizadas para
eles, entregando-se aos olhares do mundo, davam grandes quantias de
dinheiro.

Um deles, senhor Carlos Arroyo, um comerciante e exportador local,


veio até mim ao fim da missa, tomou-me a mão e pediu a benção. Queria
conversar, sondar a possibilidade de sua mãe, que estava moribunda, ser
enterrada na igreja, coisa que poucas pessoas eram naquela época, logo
adiantei-lhe que aquele assunto não deveria ser tratado ali, primeiro era o fim
da missa, muitas pessoas ainda viriam, e segundo, não ficava bem, planejar o
enterro da mãe, enquanto a mesma ainda não havia descansado. O rapaz
rapidamente entendeu a situação na qual me colocou, se desculpou e foi
embora marcando para outro dia o assunto.

Assim seguiu-se, vários cumprimentos, algumas conversas ocasionais


sobre o funcionamento da cidade, as disputas de poder que aconteciam, as
conversas sobre as exportações e até mesmo, o interesse internacional em
ampliar a capacidade produtiva daquela região. Naquele momento, havia
pensado que os pobres teriam muita vantagem nessa situação podendo ter
mais acesso aos produtos, entretanto, o eu que vos fala, percebe que não era
bem desse jeito, a ampliação que aconteceria era para fora.

As camadas médias e altas se mostraram sempre interessadas nessa


ideia beneficiando-se da expansão do comércio externo, e a partir disso
utilizaram do seu potencial hegemônico para criar infraestruturas que
favorecessem essa situação, exportando os bens produzidos no país e
adquirindo os manufaturados do exterior. Assim acabamos presos numa
relação de dependência, “presos” aos interesses estrangeiros através da
incorporação tecno-econômica, ideológica e política que não só nos afastam de
uma dignidade física, do coletivo, mas nos afastam até mesmo da salvação de
nossas almas, já que essas ideias nos afastam da Verdade divina, que
encontramos em Cristo, nosso senhor, nos levando aos caminhos dos vícios e
das mentiras de satanás, que nos mostra o caminho largo para que nos leve
longe do caminho da salvação

.
Experiência no Campo

Em minha ida para uma cidade pequena no interior, deparei-me com


uma situação completamente diferente do que costumava vivenciar em meio à
cidade grande. Enquanto na cidade havia uma Oligarquia Urbana liberal que
pretendia atrair a imigração e um processo de interação cultural, a elite rural
era mais conservadora e tentava defender de mais formas e proteger as
instituições criadas ali que garantiam seu poder, criando uma ilusão de
nacionalismo, inclusive em muitos momentos, utilizando-se de sacerdotes que
renegam sua vocação para ludibriar as pobre almas já ludibriadas.

Todavia a elite rural tinha em seu interesse a ampliação da sua


produtividade, mesmo que notadamente percebendo que em muitos momentos
esses investimentos não fossem para muito modificar o sistema (já conversei
com irmãos meus e para eles essa lógica pareceu-lhes um pouco absurda,
estou começando a acreditar nessa mesma hipótese).

Outro fato sobre esses senhores é que esses mesmos tendo boas vidas
no campo, ao mesmo tempo, muito desses possuíam o desejo de migrar para o
mundo urbano. Percebi isso durante as conversas após o fim da missa, pois
muitos vinham até mim com o interesse de saber mais sobre Lima e como a
mesma funcionava, falavam sobre uma ou outra viagem que já tinham feito até
lá e coisas do gênero.

Ainda, enquanto conversava com essas pessoas, entre elas o senhor


Eduardo Rangel, pude perceber de modo geral, naquela cultura campesina
havia uma grande manutenção das classes sociais, pobres nascem pobres e
morrem pobres e ricos nascem ricos e morrem ricos, situação essa criada pelo
próprio modelo estrutural por eles definido e que de maneira geral, não
mudaria, por não apresentar nenhuma vantagem para aqueles no topo dessa
escada social.
As Missões e o Trabalho com os Pobres

Aquela foi minha primeira viagem a zonas mais pobres da região em que
morava. De maneira geral, as missas e rituais realizados por mim,
majoritariamente, eram frequentadas por pessoas ricas, tanto do meio urbano,
quanto do meio rural, o que por vezes me afastava do trabalho pastoral, que eu
deveria realizar, com as pessoas menos abastadas, entretanto, que
necessitavam de mim.

Naquele dia de sol, cheguei bem cedo à comunidade de São Roque


Gonzaléz, onde meu trabalho seria realizado. Ali era perceptível a
humildadedos moradores que viviam em pequenas casas, entretanto, não
deixavam de oferecer a mim e aos outros que comigo vieram em comitiva, tudo
que lhes estivesse ao alcance.

O instante de chegada foi apenas a primeira parte de uma


transformação no meu pensamento e em minha vida, ali me deparei com
anseios totalmente diferentes do que os que até então eu tive contato. Aquelas
pessoas sim, gostariam de encontrar uma nova profissão em uma grande
cidade e com isso, promover uma mudança de vida, provavelmente, devido a
insatisfação com a estratificação social do meio na qual estavam submetidos,
devido ao fato da região campesina apresentar menos possibilidades de
ascensão, lembrando os velhos campos da antiga Europa na qual venho a
saber pela sabedoria dos antigos que, seguindo o conselho do sábio no livro de
Provérbios, capítulo 4, “sapientiaforisprædicat in plateis... (A Sabedoria clama
nas ruas)”.Entretanto, esse sentimento de insatisfação não eranorteador ou até
espontâneos em suas vidas, mas sim, algo que de fato surgiu como
contraponto à submissão as elites que, de modo geral, se aproveitava dessa
condição para suprimir sua capacidade de articulação exercendo com cada vez
mais força uma ideia de segregação.

Durante o dia, conversei com vários habitantes daquele povoado, com a


intenção de descobrir como empreender a minha Missão e acima de tudo,
entender quais as necessidades daquela população, a qual eu devia minha
dedicação e serventia, na esperança de que pudesse-lhes causar uma
transformação, ou ao menos, a esperança na justiça de Cristo, que de uma
forma ou de outra lhes salvaria. Os assuntos ora transitavam sobre a fé, em
outros momentos viam-me confessar pecados ou contar dos problemas que
lhes afligiam, conflitos nas relações com seus senhores e patrões eram
comuns.

A primeira missa que rezei ali nunca pensei que iria celebrar, ocorreu em
meio a uma pequena praça, cercados pela noite, e com algumas velas para
iluminar e ambientar nossa cerimônia, com alguns idosos sentados em
cadeiras e os mais jovens ficam de pé a observar. Subi em um púlpito
improvisado e rezei a missa, iniciando o maior período de aprendizado, no que
diz respeito a realidade na qual eu me inseria até então.

Uma esperança desamparada...

Com todas as essas coisas fui percebendo a nítida ausência de uma


consciência verdadeiramente coletiva entre os povos latino americanos após
estas coisas era óbvia,como evidenciado pelos exemplos que dei.Este foi um
fator não apenas observado por mim, que apesar de ter interesse em
entenderas causas, percebi que nunca houve, depois da independência, um
verdadeiro movimento que pensasse a concretização dessas ideias (que na
época, em partes, já que a origem de algumas delas são anticristãs) e que,
portanto, não há nenhum verdadeiro interesse por solucionar este problema,
mas também poralguns poucos homens dispostos na reversão desse quadro
da realidade social e política.

Opresidente Bolívar que governou a Grã-Colômbia (que posteriormente,


em 1831, dividiu-se emtrês Estados, mostrando assim maior fissão na unidade
latino-americana e o distanciamento do desejo dos libertadores) tinha esse
sonho deconciliar os interesses de todos os povos dos estados hispano-
americanos. Digo sonhoporque nesse difícil quadro da realidade o inverso é
quase ideal, se não todo ideal. Aproposta se baseava em criar uma única
organização política, regida pelos mesmosobjetivos e determinações para que
toda América alçasse um avanço com a força decoalizão, libertando as tardias
colônias espanholas de suas dominações ainda vigorantes ecessar o domínio
da interferência estrangeira sobre os países americanos.
De todos esses assuntos políticos a nível internacional eu fiquei
conhecedor pelos encontros paraconversa que tive com Juan Muníz, um velho
proprietário de negócios na cidade que vivia aviajar, e dentro dos ciclos de
pessoas de alta estirpe a quem teve o contato, dizia quetratavam do tema com
total zombaria.

Quem se determina a ser padre, dizia eu sempre aos meus jovens, está
munido das maisbelas crenças e dos mais altivos desejos de levar aos quatro
cantos a beleza da Boa Nova,de anunciar que o tempo de paz está vindo, de
pregar a união de todos para as causas quesão válidas e que dignificam. "Isso
não deve e não irá faltar a vocês", lembrava eu sempre,acreditando na
indubitável premissa de que quem quer o bem das pessoas, que enxergasua
realidade e se compadece da situação deve agir, e age sempre guiado por
nortes, sejana verdade libertadora do Evangelho ou em um ideal que proponha
o bem comum e ajustiça social.

Me pus a pensar a respeito desta objetividade e me confrontei com o


pensamento de que odever de pensar na coletividade que sempre preguei aos
aspirantes a padre não é tarefaoficiosa de quem é padre, cheguei à conclusão
de que sempre os ensinei errado. Hoje vejoque deveria encorajá-los a esta
prática do bem não pelo dever missionário que a ordemreligiosa lhes imputa,
mas devia dizer-lhe que toda prática do bem é consubstancial a todoaquele
que quer o bem, ou seja, dentro ou fora de qualquer ministério os homens
assumemesta responsabilidade por arbítrio, primeiramente, mas antes de tudo
por desígnio moral.

Houve umcongresso no ano de 1826 que se chamou Congresso do


Panamá em ocasião de ter havido nopaís américo-central foi pensado e
organizado com este desejo que, segundo leguei aosseminaristas, a um bom
padre não deve faltar. Bolívar teve um desejo digno de todo bompadre, o de
unir, de tentar celebrar a união, de convencer que as aproximações nos
tornammais fortes, mais irmãos e nos fortalecem. Com certeza não deixaria
este episódio passardespercebido porque enxergo nele, na intenção com que
foi criado, uma tentativa dacriação de um espírito solidário entre as nações tão
separadas e tão incongruentes entre si,mas que na essência possuem em suas
almas a irmandade lhes atribuída por Deus, nossoPai, e a todo processo
histórico que Bolívar tanto queria ser o conciliador.

Porém, esse desejo de muitos também não era o de muitos. O sonho da


união havia-se fechado para quem os idealizava. Muitos países que vi nascer e
que poderiam muito bem estarem reunidos como irmãos que nascem sob um
mesmo lar e que praticam a caridade mútua preferiram olhar para seus
próprios interesses, de seus vícios, e querendo ou não se jogaram em suas
próprias mazelas. Porém, acredito que seja necessário deixar um fato sob a luz
da verdade, que como sacerdote vivenciei, foram as mudanças ocorridas
dentro da própria Santa Igreja nesse período de tempo, que ao meu ver pode
após a consumação de muitos movimentos humanos tanto eclesiásticos quanto
políticos.

A situação de nós, servos de Deus, nessa nova situação

A primeira coisa que devo falar é das fontes que cheguei ao dessas
coisas que irei narrar. Quando cheguei em Lima em 1820 preocupei-me logo
de ir saber com outros sacerdotes com mais tempo no serviço eclesiástico na
cidade. Contei nisso com a com a ajuda de Juan Marcos, que era um homem
simples, mas nobre sacerdote que participou ativamente comigo no meu inicio
de caminhada na cidade nas celebrações da Santa Missa. Também tive o
auxílio de pessoas da própria santa Igreja, em Roma, que contactei através de
correspondências e estes servos de Deus comprometeram-se em servir ao
desejo de conhecer de um simples padre, mesmo que essas informações
demorassem meses para serem transmitidas. Acredito que com isso posso dar
prosseguimento disso. Outras informações eu mesmo vivenciei e tomei notas
para que agora eu pudesse colocar nesses escritos.

A Santa Sé aqui instituída desde a colonização também se perturbou


com o caos do pós-independência, muitas ideias vieram a esta terra desde a
muito tempo consagrada a Deus e desviaram os homens do caminho da
salvação, porém, com o passar dos tempos percebi que a algumas realidades
que surgiram nesse período só foram a continuação de algo que já se existia.
Bom, nesse meio de confusão de ideias e poderes que se instauraramno
meio da américa latina recém livre, a Igreja ali estava presa de alguma forma
ao mais forte de organização desse poder, para a infelicidade de muitos
sacerdotes que criam na possibilidade de um novo mundo, sem desigualdades
e explorações do homem pelo homem. Se no início, como disse antes, cri em
um partido e suas ideias, percebi que os homens, todos os homens, utilizam-se
dessas mesmas ideias para promoverem-se no poder e realizarem aquilo de
mais miserável possuímos por causa da mancha do pecado.

Em Lima, no caso do Peru,a Igreja teve um processo parecido ao da


Grande Colômbia de Bolívar e de algumas outras localidades dentro do vasto
território hispano-americano. Certamente a demora na provação das dioceses
peruanas se deu a demora em fazer chegar a Roma as informações e também
a mudança política verificado no Peru em 1827 durante o governo de Bolívar.

O congresso constituinte da nação anulou as designações que o


libertador havia feito para a arquidiocese de Lima nem manteve a petição oficial
da Santa Sé que se providenciam bispos as sedes de Lima, e nem apresentou
novos candidatos. As dificuldades políticas peruanas de 1827 não impediram
que existisse comunicação oficial com a Santa Sé em assuntos referentes ao
uso do padroado. Em Roma, nada sabia a sede dos propósitos do governo
aqui instaurado em Lima com respeito aos nossos bispos e sobre a igreja em
geral (já que após as revoluções tudo se tornou possível). Então, a favor de
nós, o papa decide romper o silencio entrando em comunicação com os bispos
e com o próprio vigário de Lima, com o fim de preparar ao terreno para a
provisão das sedes peruanas. Deste modo, a chegada a presidência de Luis
José em 1833 se entrando na negociação oficial para a nominação.

Um juízo geral sobre a atuação de Gregório XVI com respeito a Igreja


americana em geral, que pude vivenciar isso com grande orgulho,é a
concepçãodos antigos monarquistas que sempre teve o papel da religião e da
organização eclesiástica em meio dos conflitos políticos do século XIX. O
pontífice procedeu dentro do critério de que a revolução independente em
hispano-americana era um fato consumado e irreversível e de que seguir
insiste nos argumentos legitimistas não só era utópico sim que prejudicava a
causa religiosa nas novas nações, sem a religião estava em perigo e os
americanos queriam ser fieis a Igreja, o papa tinha que atrai-los e ajudá-los
evitando haurir suas ideias nacionais que estavam centrados na formula
republicana, sendo assim, o Papa sabiamente escolheu apoiar os novos
países, escolhendo a paz (mesmo que acredite que a Igreja precise modificar
muitas coisas).

Com isso, Gregório XVI proclama na Constituição


“SollicitudeEcclesiarum”, em 1831 que as vicissitudes políticas dos Estados
não podiam impedir nunca a Santa Sé de necessidades espirituais das almas e
especial a criação de novos bispos, com isso reconhecendo as várias nações
que aqui estavam, mesmo elas separadas pelo egoísmo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

KAPLAN, Marcos. Formação do Estado Nacional na América Latina. Rio de


Janeiro: Eldorado, 1974.

Lopez, Luiz Roberto. História da América Latina. Porto Alegre: Mercado


Aberto, 1998.

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