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PORTUGUESA E
LIBRAS
TEORIAS E PRÁTICAS
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LETRAS LIBRAS | 1
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
reitor
RÔMULO SOARES POLARI
vice-reitora
MARIA YARA CAMPOS MATOS
pró-reitor de graduação
VALDIR BARBOSA BEZERRA
Coordenador do UFPBVIRTUAL
LUCÍDIO DOS ANJOS FORMIGA CABRAL
Diretora do CCHLA
MARIA APARECIDA RAMOS
Chefe do Departamento de Letras Clássicas Vernáculas
MÔNICA NÓBREGA
Diretor da Editora Universitária
JOSÉ LUIZ DA SILVA
CDU : 806.9+801
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LÍNGUA
PORTUGUESA E
LIBRAS
TEORIAS E PRÁTICAS
2
Editora da UFPB
João Pessoa
2010
LETRAS LIBRAS | 3
© Copyright by CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS/LIBRAS VIRTUAL, 2010
Capa
ABRAÃO BAHIA LIMA
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................7
FONÉTICA E FONOLOGIA................................................................................................................ 11
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................... 11
FONÉTICA ................................................................................................................................................ 13
FONOLOGIA ............................................................................................................................................. 20
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SOCIOLINGUÍSTICA .......................................................................................................................... 140
ESTUDOS LINGUÍSTICOS SOBRE O TEXTO ............................................................................ 144
LINGUÍSTICA FUNCIONALISTA ................................................................................................... 147
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APRESENTAÇÃO
Neste segundo semestre do Curso de Letras/LIBRAS Virtual, serão ministradas as disciplinas: Libras
I, Teorias Linguísticas, Fonética e Fonologia, Teorias Literárias, Fundamentos Sócio-Históricos da Educação
e Metodologia do Trabalho Científico.
Em, Libras I, vocês serão introduzidos propriamente na estrutura da Língua de sinais. Estudarão a
relação entre cérebro e a língua de sinais, observando os processos cognitivos e linguísticos implicados na
construção dessa língua. Após essa visão macro, terão oportunidade de apreender como se dão os diversos
níveis fonológicos, morfológicos e sintáticos na língua de sinais. De posse dessa base, você poderá avançar
com eficiência numa compreensão mais profunda da estrutura dessa língua e penetrar nos textos com
maior proficiência.
Em Teorias Lingüísticas, aprofundam-se aspectos teóricos das correntes formalistas e
funcionalistas. Serão abordadas questões teóricas desta importante ciência que é a Linguística. Importante
àqueles que trabalham ou pesquisam sobre as ciências humanas e indispensável para os que lidam e
estudam a língua, seja ela qual for, inclusive a Libras. De acordo com a corrente formalista, você conhecerá
concepções que implicam o reconhecimento de que a língua é uma estrutura, ou sistema e que é papel do
estudioso da língua compreender a organização e o funcionamento dos seus elementos constitutivos. Já
nas correntes funcionalista, ganham relevo as relações entre a língua como um todo e as diversas
modalidades de interação social, destacando a importância do contexto social na compreensão da natureza
das línguas.
Em Fonética e Fonologia, você vai penetrar no estudo dos modelos sonoros encontrados na
linguagem humana, não é interessante? Veja que, apesar da imensa diversidade que se verifica na nossa
fala, todos os falantes de uma língua percebem que algumas expressões são idênticas e outras são
diferentes e é justamente a fonologia que vai explicar o porquê. Vai perceber também como a fonologia da
LIBRAS possui características próprias.
Em Teorias Literárias, você vai se deliciar com o texto literário.
Em Fundamentos Sócio-Históricos da Educação, você encontrará subsídios para entender a ligação
entre Educação, História e Sociologia. Perceberá a Educação como um acontecimento histórico
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intrinsecamente ligado às relações sociais. A disciplina está também organizada em unidades. Na primeira,
há a discussão sobre o problema dos fundamentos e a origem da sociedade como objeto de estudo. Na
segunda, será abordada a Educação enquanto fenômeno social. E, na terceira, a escola será objeto de
discussão com os currículos em cena. Em todo o percurso, estão os pressupostos básicos de sustentação da
Educação como fundamento para a cidadania.
Finalmente em Metodologia do Trabalho Científico, você vai dar início a uma longa caminhada de
produção de textos necessários a sua vida acadêmica. O conteúdo encontra-se distribuído em três
módulos. O primeiro explicita o que significa ciência e expõe os diferentes métodos existentes na pesquisa
científica. O segundo aborda diretamente a pesquisa científica com detalhamento de suas partes
constitutivas. O terceiro procura inserir os alunos na vida prática acadêmica de produção dos diversos
trabalhos científicos, já com um direcionamento para a construção da Monografia final de curso.
Esperamos que você encontre, ao longo deste semestre, oportunidades de enriquecimento de
práticas e reflexões sobre a língua, a literatura e a educação. Tal enriquecimento passa pelos caminhos da
pesquisa indicados neste livro, pelas discussões com os professores no Moodle, pelas trocas com os tutores
e com os colegas mas, sobretudo, pela articulação de todo esse processo com sua experiência como
estudante, como profissional e como cidadão.
Queremos concluir lembrando a importância de aproveitar bem cada momento.
As coordenadoras
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FONÉTICA E
FONOLOGIA
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FONÉTICA E FONOLOGIA
INTRODUÇÃO
A linguagem é composta por alguns aspectos gramaticais, como a fonética (estudo da produção e
percepção dos sons da fala), a fonologia (estudo das unidades mínimas da língua), a morfologia (estudo da
composição das palavras), a sintaxe (estudo da frase), a semântica e a pragmática (estudo do sentido). É,
portanto, necessária a observação da relação interativa existente entre esses elementos. Na tentativa de
não se desconsiderar essa relação, esse capítulo mantém o foco sobre os níveis fonético e fonológico.
A fonética e a fonologia, então, fazem parte dos estudos lingüísticos, cujo objeto de estudo é a
estrutura e o funcionamento das línguas. Enquanto a sintaxe e a semântica, por exemplo, se ocupam de
unidades maiores, como a frase e o sentido, a fonética e a fonologia se ocupam de unidades menores – os
sons. A Figura 1 situa esses estudos macro e microlinguisticos de forma mais esquemática:
1
Fonoaudióloga. Doutoranda em Linguística pela UFPB. Professora Assistente do Departamento de Fonoaudiologia da UFPB.
2
Fonoaudiólogo. Doutorando em Linguística pela UFPB. Professor Assistente do Departamento de Fonoaudiologia da UFPB.
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Antes de entrarmos numa discussão mais formal sobre os objetos de estudo da fonética e
fonologia, vale questionar por que estudar esses aspectos. Existem vários interesses nessas áreas, como o
ensino de L1 (língua materna) e de L2 (língua estrangeira), sobre a aquisição fonológica, as atividades
clínicas, como as da Fonoaudiologia (sem esses conhecimentos, as terapias seriam muito demoradas e sem
grandes resultados), o desenvolvimento da escrita (que tem relação com a fonologia), os conhecimentos
dialetais, as análises históricas acerca da mudança sonora, as tecnologias de reconhecimento de fala, como
as utilizadas em softwares e em tecnologias de telefonia, além da perícia.
Esclarecidas as aplicabilidades dessas ciências, é importante destacar o que cada um delas estuda.
Embora a fonética e a fonologia estudem os sons da fala, existem algumas diferenças sobre a forma como
cada uma os observa. A fonética se ocupa das propriedades (físicas) dos sons da fala, em termos de
percepção e produção. Assim, observa o plano concreto, físico e motor da fala. Identifica, descreve e
classifica os sons articulados. Tem como unidade mínima o [fone].
A fonologia trata os sons num plano mais abstrato, no nível da subjacência (inconscientes,
mentais), ou seja, a competência linguistica no uso dos sons. Se ocupa da organização dos sistemas de sons
das línguas através da representação e formalização de modelos/processos sonoros. Dá conta do
conhecimento (implícito) que os falantes têm das unidades mínimas sonoras da sua própria língua e explica
o funcionamento dos sistemas de sons das línguas. Tem como unidade mínima o /fonema/. As diferenças
entre a fonética e a fonologia estão esquematizadas na Figura 2.
Tipicamente, a fonética e a fonologia são entendidas como separadas, como está esquematizado
na Figura 2. Isso porque seus objetos de estudos são distintos. Por outro lado, são duas áreas
interdependentes, pois não se conseguiria fazer um estudo fonológico sem uma descrição fonética, nem de
muito serveria uma descrição fonética, sem fins de análise fonológica.
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1. FONÉTICA
Como já foi dito, a fonética se ocupa em descrever os sons da FALA, considerando como esses sons
são produzidos e percebidos. Assim, a fonética abrange três domínios:
• Fonética articulatória descreve e classifica os sons da fala a partir de como são produzidos;
• Fonética acústica o estudo das propriedades físicas dos sons e do percurso que as ondas trilham;
• Fonética auditiva como os sons são captados pelo aparelho auditivo e interpretados pelo cérebro
humano.
Esses três domínios da fonética funcionam concomitantemente, ou seja, ao mesmo tempo em que
produzimos um som, somos capazes de perceber e interpretar essa informação sonora. Vamos nos deter
agora às propriedades articulatórias dos sons. Como os sons da fala são produzidos?
Os sons da fala resultam da ação de determinados órgãos sobre a corrente de ar que vem dos
pulmões. Para produção dos sons, três condições se fazem necessárias:
i. A corrente de ar;
ii. Um obstáculo encontrado por essa corrente de ar;
iii. Uma caixa de ressonância.
Essas condições são criadas pelos órgãos da fala, que compõem o nosso aparelho fonador, como na
Figura 3.
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O aparelho fonador é constituído das seguintes partes:
a) Sistema respiratório: formado pelos pulmões, brônquios e traquéia – órgãos respiratórios que
fornecem a corrente de ar, matéria prima da fonação;
b) Sistema fonatório: composto pela laringe, onde se localizam as cordas vocais, que produzem a
energia sonora utilizada na fala;
c) Sistema articulatório: cavidades localizadas acima da laringe (faringe, boca e fossas nasais),
que funcionam como caixas de ressonância, sendo que a cavidade bucal pode variar
profundamente de forma e de volume, graças aos movimentos dos órgãos ativos, sobretudo
da língua.
Mas como funciona esse aparelho fonador? O ar expelido dos pulmões, através dos brônquios,
passa pela traquéia e chega à laringe, onde, ao atravessar a glote, costuma encontrar o primeiro obstáculo
à sua passagem. A glote é a abertura entre duas pregas musculares das paredes superiores da laringe,
conhecidas como cordas ou pregas vocais. O fluxo de ar pode encontrá-la fechada ou aberta. Caso as
pregas vocais estejam fechadas, o ar força a passagem através das cordas vocais retesadas, fazendo-as
vibrar e produzir o som musical característico das articulações sonoras. No segundo caso, quando as cordas
vocais estão relaxadas, o ar escapa sem vibrações laríngeas. As articulações produzidas denominam-se
surdas. A distinção entre sonora e surda pode ser claramente percebida na pronúncia de [f] e [v], como em
‘faca’ e ‘vaca’.
Durante a respiração, as pregas vogais ficam abertas. Durante a fonação, que depende da
expiração, ficam fechadas e, com a força da passagem do ar com elas fechadas, provoca vibração e produz
os sons vozeados ou sonoros, como o [v]. Como mostra a Figura 4:
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Essa é uma questão crucial, na classificação dos sons - qual o estado da glote? Assim, dizemos que
os sons sonoros ou vozeados são aqueles produzidos com vibração de pregas vocais, uma vez que, durante
a produção de um som vozeado, os músculos da glote se aproximam e, devido à passagem de corrente de
ar e da ação dos músculos, ocorre a vibração. Enquanto que os sons surdos ou desvozeados são produzidos
sem vibração, ou seja, os músculos da glote encontram-se totalmente separados, de maneira que o ar
passa livremente. Essa diferença apresenta-se entre [v] e [f] (como em vaca e faca), [b] e [p] (como em
bingo e pingo) e [z] e [s] (como em zelo e selo), por exemplo. As vogais, as líquidas (como [l]) e as nasais
(como [m]) sempre são vozeadas, porque sempre provocam vibração de pregas vocais. Desta forma, os
sons [v], [b] e [z] são sonoros porque são resultado de vibração de pregas vocais.
Além disso, outra distinção ocorre entre os sons orais e nasais. Os sons orais, como [a] (como em
água) e [b] (como em bola), ocorrem pela saída do fluxo aéreo pela boca, quando a úvula está levantada,
impedindo a saída do ar pelo nariz (fossas nasais). Enquanto que os sons nasais, como [ã] (como em anão) e
[m] (como em mola), são resultados da passagem pelo nariz, quando a úvula está abaixada, assim, difere-se
o [b] (de bola) do [m] (de mola), como na fala de uma pessoa com congestão nasal, como no resfriado.
Então, a posição do véu palatino é outro critério de classificação dos sons, já que através dele observamos
a oposição entre um segmento nasal e um segmento oral.
Para a classificação dos sons em termos de articulação da fala, uma das questões que devemos
levantar é qual é o modo de saída do ar? Surge aí a primeira distinção básica entre os sons, aquela que diz
respeito às consoantes e às vogais:
Com base nisso, depois, a distinção se dá entre a classe das consoantes. Para facilitar a
compreensão do assunto, serão apenas destacadas as consoantes do Português Brasileiro (PB), em seis
categorias:
1. Completa oclusão – sons oclusivos que saem como uma explosão, de uma só vez: [p, b] (como
em pato e bato); [t, d] (como em tia e dia); [k, g] (como em calo e galo).
2. Com oclusão parcial – sons fricativos, emitidos enquanto há ar nos pulmões, como na produção
de fffffffffffffff. [f, v]; [s,z]; [Σ, Ζ]; [h, ].
3. Com passagem até pelo nariz: provoca sons nasais ([m, n, Ν], como em macaco, navio e
galinha).
4. Com oclusão evoluindo para soltura do ar: provoca sons africados [τΣ,δΖ], como o tSia e dZia
do dialeto carioca.
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5. Após a batida da língua no palato, como o tepe [Ρ] (de barata) e retroflexo [♦] (de alguns
dialetos, como do interior de Minas Gerais, ‘porta’), que é produzido com a língua enrolando
para trás.
6. Com passagem de ar pelas laterais da língua: [l, ×, ℜ]
Como se observou, o articulador ativo nos sons bilabiais, ou seja, aqueles que são produzidos com
os dois lábios, é o lábio inferior, que se movimenta mais em relação ao lábio superior, como no som [b] de
bola. Nos sons labiodentais, como [f] de faca, o lábio inferior é ativo, pois se movimenta em direção aos
dentes superiores, que são os articuladores passivos.
Assim, os sons são classificados quanto ao modo e quanto ao ponto de articulação:
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a) Quanto ao modo de articulação:
Oclusivas – p, t, k, b, d, g
Fricativas – f, s, Σ, v, z, Ζ, h, ÷, Β
Africadas - τΣ,δΖ
Líquidas – Ρ, l, ℜ, ×,♦, ρ(
Nasais – m, n, Ν
b) Quanto ao ponto de articulação:
Bilabiais – p, b, m, ÷, Β Exercício 1. Marque os segmentos consonantais
que tenham a propriedade articulatória listada à
Labiodentais – f, v
esquerda (há 3 em cada):
Alveolares – t, d, n, s, z, l, Ρ,ρ&
a. vozeado βγσφζΣ
Alveolopalatais - τΣ,δΖ b. desvozeado ϖφπΖΡσ
Palatais - ×,Ν,Σ,Ζ c. nasal l µΡπν
d. oclusivo φπτκζµ
Velares – k, g, h e. fricativo γδφσλϖ
f. lateral Ζσλ×ℜµ
Glotal – X
g. bilabial µβγλπΣ
h. alveolar Ρσγ×λ
i. velar σγκβλη
Para unificar essas possibilidades de produção dos sons, de modo que os sons pudessem ser
transcritos em qualquer língua, foi criado o Alfabeto Fonético Internacional (IPA), pela Associação
internacional de Fonética, em Paris (1886). Esse sistema funciona como uma notação padrão para a
transcrição fonética. Ele permite que qualquer falante conhecedor de seus códigos ou símbolos consigam
realizar os sons de qualquer língua.
Seguem, na Figura 6, as representações das consoantes possíveis de serem articuladas com o
aparelho fonador humano, classificados pelo IPA:
Bilabial Labiodental Dental Alveolar Pós- Retoflex Palatal Velar Uvular Faringal Glotal
alveolar a
Plosiva
Nasal
Vibrante
Tepe
Fricativa
Frivativa
Aproximante
Lateral
Aproximante
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Exercício 2. Classifique os segmentos quanto ao modo,
ao ponto de articulação e ao vozeamento:
[p]
[m]
[r]
[h]
[b]
[g]
[f]
[l]
[s]
[t]
As vogais recebem uma classificação diferenciada. Usamos como parâmetros articulatórios, a altura
e a posição horizontal da língua e o arredondamento dos lábios. A Figura 7 mostra esse movimento da
língua, em relação à altura:
Dessa forma, quanto à altura, as vogais podem ser classificadas como altas, médias e baixas.
Altas: a língua atinge maior altura no português, temos as vogais [i] e [u].
Médias: a língua se mantém nem alta, nem em repouso é o que ocorrer nas vogais médias altas
[e] e [o] do português, como nas palavras ‘mesmo’ e ‘bolo’, e nas vogais médias baixas [Ε] e [ ], como nas
palavras ‘fé’ e ‘nó’.
Baixa: a língua se mantém em posição de repouso no português temos a vogal baixa [a], como
de ‘baleia’.
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Quanto ao movimento horizontal, as vogais podem ser classificadas como anterior, posterior e
central. A vogal [i] é a mais anterior, as médias [e], [Ε] também são anteriores, a vogal [u] é a mais
posterior, as médias [o] e [ ] também são posteriores e a vogal [a] situa-se numa posição central.
Essa classificação articulatória permite a disposição das vogais em um sistema triangular em cujo
vértice mais baixo encontra-se a vogal baixa /a/ e, nos vértices mais altos, as vogais altas /i/ e /u/, como
pode ser observado no Quadro 1:
Todas essas informações quanto às classificações dos sons serão importantes para a realização das
transcrições fonéticas. Para fazer a transcrição, lançamos mão desses símbolos do IPA. É importante que
você treine transcrever algumas palavras baseadas na sua produção de fala, prestando bem atenção na
fisiologia dos sons.
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2. FONOLOGIA
A Fonologia (do Grego phonos = voz/som e logos = palavra/estudo) é o ramo da Lingüística que se
ocupa do sistema sonoro de uma língua. Esta é uma área muito relacionada com a Fonética, mas as duas
têm focos de estudo diferentes. Isso porque a língua e a fala não ocorrem separadas, a língua é ao mesmo
tempo o instrumento e o produto da fala.
Então, para descrever a fonologia de uma língua, é preciso considerar o aspecto fonético. Enquanto
a fonética descreve, a fonologia explica, procura valores distintivos. Enquanto a Fonética estuda a natureza
física da produção e da percepção dos sons da fala (chamados de fones), a Fonologia preocupa-se com a
maneira como eles se organizam dentro de uma língua, classificando-os em unidades capazes de distinguir
significados, chamadas fonemas. Além disso, a Fonologia estuda outros elementos distintivos da língua,
como a estrutura silábica, o acento e a entonação.
É necessário, também, fazer uma distinção entre os termos “fonêmico” e “fonológico”. O primeiro
era utilizado nas primeiras investigações ainda eminentemente estruturalistas. O último é utilizado para os
modelos pós-estruturalistas de análise do componente fonológico.
A fonologia é, portanto, a parte da gramática que estuda os sons que compõem a língua. Tem como
objeto de estudo o Fonema, que é a unidade sonora de uma língua, isto é, a menor unidade de som de uma
palavra, servindo como elemento distintivo. Veremos, agora, a classificação desses fonemas, no PB.
Cada língua dispõe de um número de unidades fônicas. A função desses fonemas é determinar
diferença de significado de uma palavra em relação a outra, como nas palavras [‘kasa], do verbo caçar, e
[‘kaza], lugar onde se mora. Essa distinção foi possível pelo contraste entre as duas consoantes [s] e [z],
que, nesse caso, por serem distintivas, podem, com certeza, ser chamadas de fonemas.
IMPORTANTE
Fonemas não são letras!
É fundamental que se diferencie o fonema, uma unidade
sonora, de letra, uma representação gráfica dos fonemas
da fala. Os fonemas não correspondem necessariamente
às letras do alfabeto, havendo a possibilidade de um
fonema ser representado por mais de uma letra, ou
mesmo uma letra representar mais de um fonema. Ex.:
cachorro (letras ch = 1 fonema /S/) e táxi (letra x = 2
fonemas /ks/).
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O objetivo da fonologia é, portanto, estabelecer os sistemas fonológicos das línguas, ou seja, o
conjunto de elementos abstratos relacionados entre si que o falante usa para discriminar e delimitar as
unidades significativas de sua língua. Então, quais os tipos de fonemas? Quais os sistemas de uma língua?
Pelo aspecto físico, é o som produzido por uma corrente de ar que não encontra obstáculos na
cavidade bucal à sua passagem. No aspecto fonológico, constitui a base da sílaba na língua portuguesa, isto
é, cada vogal corresponde somente a uma sílaba. Assim, na palavra ‘cadeira’, temos três sílabas (ca-dei-ra),
porque temos três vogais ( o ‘i’, neste caso, é uma semi-vogal ou glide).
Quanto ao sistema vocálico do PB, Câmara Jr. (1970) classifica as vogais da língua portuguesa
quanto à articulação, em termos de altura da língua, em vogal baixa (a), vogais médias de primeiro grau
(Ε, ), vogais médias de segundo grau (e, o) e vogais altas (i, u). Essa classificação articulatória permite a
disposição das vogais em um sistema triangular, como pode ser observado no Quadro 1, visto
anteriormente, em cujo vértice mais baixo encontra-se a vogal baixa /a/ e, nos vértices mais altos, as vogais
altas /i/ e /u/.
Além desse aspecto, leva-se em consideração o movimento da língua em relação às porções
anterior e posterior da cavidade bucal. Sendo assim, a vogal mais posterior é a /u/, que,
conseqüentemente, é a mais arredondada. Já a vogal mais anterior e menos arredondada é a vogal /i/. A
vogal /a/ fica em uma posição central, enquanto que as médias ficam em uma posição intermediária, tanto
em termos de altura, quanto em relação à anterioridade, o que leva a pensar que, por isso, também, são
alvos comuns de processos e regras fonológicas.
Essa classificação, que apresenta sete vogais, na língua portuguesa, ocorre para a posição tônica,
conforme Câmara Jr. (1970). No contexto de sílaba tônica, no português brasileiro, pode-se encontrar
oposições entre os sons vocálicos /a/, /Ε/, /i/, / / e /u/, como nos vocábulos s[a]co, s[e]co, s[Ε]co, s[o]co,
s[ ]co, s[u]co.
Na posição pretônica, ou seja, no contexto que antecede a sílaba tônica, o sistema vocálico do
português também sofre redução de sete para cinco vogais, havendo, portanto, um processo de neutralização
em sílabas átonas, entre vogais médias, conservando-se as de segundo grau, como na Figura 8.
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Vale ressaltar, ainda, que as vogais médias, em posição pretônica, além de sofrerem redução por
neutralização, sofrem processos de harmonia vocálica, nos quais as vogais médias pretônicas assumem
traços de segmentos vizinhos, ou seja, assimilam a altura da vogal alta da sílaba seguinte, como ocorre em
pepino > pipinu, coruja > curuja (BISOL, 1981).
No Brasil, o quadro das pretônicas não é fixo quando se trata das vogais médias, pois, a depender
da região geográfica em que essas vogais vão ser observadas, a neutralização pode se dar em direção às
médias abertas, como acontece na região Nordeste, por exemplo.
Em posição de sílabas átonas finais, ocorre uma neutralização entre as médias e as altas, restando, no
sistema triangular das vogais do português, apenas três vogais, como em tir[u], tir[i], tir[a], como mostra a Figura 9:
Por neutralização, então, um sistema que apresenta sete vogais em posição tônica (a, e, Ε, i, o, ,
u) se reduz a cinco vogais em posição pretônica (a, e, i, o, u), quatro vogais em posição postônica não final
(a, e, i, u) e a três vogais em posição final de palavra (a, i, u).
Pelo aspecto físico, é o som produzido por uma corrente de ar que encontra algum obstáculo nessa
passagem. Fonologicamente falando, as consoantes sempre formam sílaba com vogais, sem as vogais, as
consoantes são simples ruídos. Então, pelo critério fonológico, veremos que a consoante não aparece, no
português, como núcleo silábico.
O quadro de consoantes no português do Brasil depende da sua posição na sílaba. Em posição
inicial, existem dezoito consoantes. Em posição intervocálica, ou entre vogais, podemos ter dezenove
consoantes. Em posição final, ou pós-vocálica, o quadro apresenta uma diversidade de opiniões. No
entanto, Câmara Jr. (1970) defende que as consoantes em final de sílaba aparecem como uma variante
posicional, podendo o /L/, por exemplo, em muitas regiões, de acordo com os variados registros, pode ser
emitido como semivogal posterior /w/, fato que não traz oposição significativa em português, desfazendo-
se a homonímia no contexto frasal: mal e mau; vil e viu.
Essa variação do quadro de consoantes é importante para o entendimento de diversos pontos do
nosso sistema fonológico.
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Semivogal ou Glide
É o som produzido como vogal, pronunciado de maneira menos intensa, não constituindo sílaba
isoladamente, devendo sempre estar acompanhado por uma vogal.
Como já foi dito, o objeto de estudo da fonologia é a organização mental dos sons da língua, e não
da fala, como a fonética. Colocamos aqui a noção de fonema como unidade contrastiva, como em (1):
[‘faka] [‘vaka]
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Essa análise contrastiva, em termos de oposição, é feita através de pares mínimos. Isso quer dizer
que quando duas palavras se diferenciam pela troca de um único som, e isso gera mudança de significado
estamos diante do que chamamos de pareamento mínimo.
Se essa troca de som não acarretar mudanças de significado, estamos diante de um caso de
variação ou alofonia. Assim, podemos detectar fonemas ou constatar variação, como é o caso de [‘tΣia] e
[‘tia]. Nos dois casos, temos dois sons diferentes e um mesmo significado (a palavra continua significando
a irmã do pai ou da mãe). Esse é um caso de variação.
Então, ao serem definidos os fonemas de uma língua, a partir de uma análise fonológica, também
são definidos os alofones dessa língua. Os fonemas são definidos a partir dos pares mínimos e os alofones
são determinados a partir da distribuição complementar.
Alofones são as possíveis diferentes realizações do mesmo fonema, ou seja, as diferentes
realizacoes fonéticas de um mesmo fonema. E como é que se sabe que é o mesmo fonema? Sempre que
for possível, é necessário extrair uma regra que dê conta dos vários contextos. Isso ocorre através da
distribuição complementar ou da variação livre:
- Variantes livres – variantes dialetais – não há qualquer regra que determine o seu uso (o seu
uso é generalizado).
Ex.: vezgu x veΖgu
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Nesse caso, a consoante /t/, [+anterior], está diante de uma vogal [+alta] e, também, [+anterior],
que provoca uma assimilação entre os dois segmentos. No entanto, é possível, embora raro, acontecer esse
processo quando a consoante /t/ está diante da vogal [u], [+alta] e [+posterior]. Esse caso é mais difícil de
ocorrer, porque um segmento anterior será assimilado por outro posterior, mas, apesar de raras, podem
ocorrer, em algumas regiões, como as formas em (2):
Surge, aqui, outro conceito da fonologia que merece ser destacado – o de classes naturais. Nesse
caso, tanto o /t/, como o /d/ constituem uma classe natural, visto que apenas o traço de vozeamento ou
sonoridade os distingue, sendo então a matriz fonológica dos dois segmentos quase idêntica, se não fosse o
traço distintivo de [-vozeado], para o /t/, e [+vozeado] para o /d/.
De acordo com Hyman (1975), dois segmentos constituem uma classe natural quando sofrem
regras fonológicas juntos, como o caso da palatização apresentado, quando um segmento é convertido no
outro através de regra fonológica e quando funcionam juntos nos ambientes de regras fonológicas. Isso
justifica porque um conjunto de restrições que operam em um determinado grupo. Por exemplo, se /t/ e
/d/ sofrem a mesma regra (de palatalização) juntos, significa que pertencem à mesma classe natural.
Algumas subcategorias, então, emergem como resultado de várias suspeitas, inspeções e analogias.
O resultado final é um conjunto de restrições que operam em um determinado grupo, como ocorre, em
fonologia, quando os processos aplicam-se a todos os elementos que pertencem a uma mesma classe
natural. As regras fonológicas são aplicadas às classes naturais de segmentos, especificadas através dos
traços distintivos. Como exemplo, pode ser citado o fenômeno da palatização descrito anteriormente, no
qual os segmentos /t/ e /d/ tornam-se [τΣ] e [δΖ] antes da vogal alta [i].
É justamente através da combinação de cada um desses sons, chamados fonemas, que são criadas
todas as palavras usadas na nossa língua. Cada palavra, portanto, é formada por um conjunto de vários
fonemas. A simples troca de um dos fonemas de uma palavra irá transformá-la em outra, de significado
completamente diferente. Isso ocorre, por exemplo, com as palavras camelo e cabelo. Assim, com poucos
fonemas, é possível criar milhares de palavras.
A organização da cadeia sonora da fala é orientada, portanto, por certos princípios, que agrupam
segmentos consonantais e vocálicos em cadeia e determinam a organização das seqüências sonoras
possíveis de uma determinada língua. Falantes possuem uma ‘intuição’ sobre as seqüências sonoras
permitidas e proibidas em sua língua. Por exemplo, mesmo sem sabermos o significado da palavra ‘sali’,
sabemos que a cadeia de segmentos é possível, em termos de distribuição e combinação. Dessa forma,
interpretamos como uma palavra possível no português. Diferente de uma palavra como ‘spali’, por
exemplo.
LETRAS LIBRAS | 25
A fonologia de uma língua, então, é estabelecida pelas restrições combinatórias. Ou seja, cada
língua tem sua possibilidade de combinação. Na língua portuguesa, por exemplo, não é possível a sílaba do
tipo ‘spa’. Sabemos isso através desses parâmetros de combinações:
1. Em posição intervocálica (entre vogais) 19 segmentos
2. Em posição absoluta, início de sílaba no início da palavra 16 segmentos (×, e R, não se
aplicam, com exceção de lhama, por exemplo)
3. Em grupo consonantal, existem também restrições: fruta, prato, planta, ...
* C1 – plosiva ou fricativa
* C2 – [l] ou [r]
Existem algumas exceções, como em: Vl – Vladimir (empréstimos), Tl – atlas (derivados do latim),
Vr – vridu (interna à palavra é possível livro).
4. Em final de sílaba (coda) só quatro possibilidades fonológicas são possíveis. Claro que
ortograficamente recebem várias letras, mas fonologicamente são assim representadas:
/S/ - /paSta/
/R/- /toRto/
/L/ - /boLsa/
/N/- /kaNto/
Portanto, as línguas variam quanto aos seus inventários fonéticos e quanto à organização da
estrutura silábica.
• Imagine que você sorteou as seguintes
letras: R, B, A, F, O, L , C, I, D
LETRAS LIBRAS| 26
quer dizer que não importa se eu diga uma forma ou outra, estarei falando da mesma fruta. Esse fenômeno
é um processo fonológico chamado de neutralização.
De acordo com Battisti e Vieira (2005), a neutralização ocorre quando há a perda de um traço
distintivo, reduzindo dois fonemas a uma só unidade sonora. No caso da neutralização vocálica, o traço
distintivo é perdido na posição pretônica. Em outras palavras, não há mais uma divisão entre /e/ e /Ε/ e
entre /e/ e / /, enquanto duas unidades fonológicas distintas, visto que, em posição pretônica, não há
oposições entre esses fonemas.
Junto à noção de neutralização, está a idéia de arquifonema, uma vez que é justamente esse
fonema que permite essa possibilidade de neutralização. No exemplo acima, as vogais médias /e/ e /o/
podem ser consideradas arquifonemas, uma vez que neutralizam duas formas.
Os arquifonemas do PB, além das vogais médias, são justamente aqueles referentes às
possibilidades de consoantes finais, em termos de fonologia: /S/, /R/, /L/ e /N/. Para demonstrar os
alofones relacionados ao arquifonema, segue o exemplo em (3):
O mesmo ocorre em relação ao arquifonema /S/ e suas possíveis variações ou alofones, como
mostra o exemplo em (4):
(4)
LETRAS LIBRAS | 27
Com relação ao arquifonema /N/, a manifestação fonética mais comum é a nasalização da vogal
que o antecede, como no caso da palavra ‘canto’, que fonologicamente a representamos com o
arquifonema /kaNto/, mas foneticamente, ocorre a nasalização da vogal [‘kãtu], embora fosse possível
haver uma produção do tipo [ ‘kãntu], ou até mesmo [‘kantu].
Por isso, Cagliari (2002) destaca que é necessário prestar atenção, ao proceder uma análise
fonológica, para não confundir dados de diferentes sistemas lingüísticos. Um mesmo falante não diz coisas
contraditórias. Porém, se compararmos dois falantes de dialetos diferentes, podemos chegar a regras
contraditórias, que afirmam e negam uma mesma coisa, ao mesmo tempo. Por outro lado, é sempre
possível buscar regras mais abrangentes que envolvem vários dialetos, numa tentativa de caracterizar a
língua como um todo. Mas nem sempre isto é possível.
Atreladas à discussão sobre a sílaba, no português brasileiro, ainda existem os segmentos que nem
são vogais, nem consoantes, são as glides [w e j], que sempre ocorrem nos ditongos, como em [‘paj]. Por
que não são vogais nem consoantes?
a. seqüela
b. quadrado
c. tranqüilo
d. quase
e. aquarela
f. mingua
LETRAS LIBRAS| 28
A LP constitui um sistema de reputa ideal para a aplicação do critério distribucional, uma vez que
suas consoantes não exercem função silábica, pois o núcleo da sílaba sempre é uma vogal. Isso quer dizer
que, na língua portuguesa, o conceito de vogal, fonologicamente, coincide com o de “silábico”. As glides ou
semi-vogais não podem ocupar o núcleo da sílaba, então, não podem ser consideradas vogais. Ao mesmo
tempo, não são consideradas consoantes pelas características fonéticas, em relação à produção
articulatória, visto que a semi-vogal [W] tem pronúncia equivalente à vogal alta posterior [u] e a semi-vogal
[j] tem pronúncia equivalente à vogal alta anterior [i].
Assim, as glides, presentes nos ditongos, como em [‘paj] e [‘paw], são consideradas segmentos não
consonantais e não-vocálicos, pela posição que ocupa na sílaba – a posição que uma consoante pode
ocupar (CVC / CVG), como será descrito a seguir). Dessa forma, estão relacionadas ao estudo da sílaba.
Fonólogos mais atuais, apesar de defenderem posições teóricas diferenciadas, são unânimes em
conceder um espaço privilegiado para a sílaba destacando-a como unidade lingüisticamente significante,
que deve ter o seu lugar na teoria fonológica.
Quando se observa o conjunto de palavras das línguas, é possível perceber que elas seguem
determinados princípios organizacionais, que não são os mesmos para todas as línguas, como já foi dito
anteriormente.
Tome-se como exemplo a seqüência /s1/, que no português não forma sílaba, mas que no inglês é
perfeitamente viável, ex: /sleiv/ - "escravo". De um modo geral, as línguas são regidas por regras
fonotáticas que permitem ou não determinados arranjos ou seqüências sonoras em uma sílaba. Logo,
compreender as restrições que operam em dada língua, permite compreender a organização não só da
sílaba, mas também das palavras.
Uma silaba (σ) pode ser representada por dois ramos, como em (5) e (6). O primeiro, chamado
onset contém até duas consoantes. O segundo, chamado rima, pode ser preenchido por vogais e
consoantes, cujo número e seqüência serão dados por especificidades da própria língua.
(5)
(6)
LETRAS LIBRAS | 29
A sílaba, como mostra a Figura 11, é composta por um núcleo, necessariamente, constituído por
uma vogal. E pode ser composta por onset ou ataque e pela coda:
Como descrito anteriormente, os elementos que constituem a sílaba variam de língua para língua.
Qualquer teoria fonológica que adote a sílaba como base, deve ser capaz de reconhecer as seqüências de
consoantes e vogais características de cada língua e compará-las, a fim de perceber quais as semelhanças e
diferenças da estruturas silábicas entre línguas distintas. Observe as possibilidades de sílabas da língua
portuguesa (LP) no Quadro 2:
Observa-se, portanto, que existe um princípio que governa a formação da sílaba nas línguas, - o
princípio de sonoridade das sílabas. Podemos usar um esquema proposto por Spencer (1996), chamado de
"grid de sonoridade", que nos possibilita a visualização dos segmentos que compõem as sílabas. Observe o
princípio em (7). O = obstruinte, L = líquida, V = vogal, N = nasal, G = glide.
LETRAS LIBRAS| 30
(7)
A constituição das sílabas obedece, então, a uma escala de sonoridade e ao molde silábico de cada
língua. As línguas possuem restrições, capazes de selecionar quais os elementos e a seqüência que eles
podem ocupar numa sílaba. Essas limitações são chamadas de filtros.
Seguindo os princípios de organização de uma sílaba e o Princípio de Sonoridade, é possível fazer à
silabação das palavras nas línguas, exatamente como aquele exercício de separar as sílabas que se faz na
escola. O processo, contudo, não é tão simples. Observem os exemplos de palavras e suas respectivas
divisões silábicas em (8):
(8)
Tijolo ti.jo.lo
Porta por.ta
Noite noi.te
Rubro ru.bro
Atlas a.tlas
Considerando que o estudo da sílaba só foi possível depois de muitas discussões e muitas
mudanças de perspectiva no estudo da fonologia, a partir das críticas aos modelos que viam os segmentos
isoladamente e do surgimento das abordagens que consideravam a posição do segmento na sílaba, os
constituintes da sílaba, a prosódia, dentre outros aspectos importantes que passaram a ser observados
com base nos novos modelos.
Para entender como nossa fonologia se estrutura e funciona, observando essas questões históricas
e teorias, é importante fazermos uma breve retrospectiva desses modelos que acomodam os fatos
fonéticos e os fenômenos fonológicos.
De acordo com Bisol (1981), a tentativa de estabelecer a relação entre os níveis fonético e
fonológico, isto é, a relação entre a produção fonética e o nível subjacente ou abstrato da fonologia e com
LETRAS LIBRAS | 31
o objetivo de descrever e analisar como as diversas línguas do mundo estruturam seus sons, surgiram
diferentes modelos ou teorias fonológicas.
De acordo com Bonilha (2000, p.12), “dos fonemas aos traços distintivos, das regras às restrições, é
inquestionável a evolução que a Fonologia tem apresentado ao longo do tempo”. É inegável, portanto, o
fato de que, ao explicarem o funcionamento da fonologia dos sistemas lingüísticos, as teorias fonológicas
têm ajudado a elucidar o processo de aquisição fonológica.
1. Modelos lineares: que consideram a fala como uma combinação linear de segmentos ou
conjunto de traços distintivos. Na perspectiva da fonologia linear ou segmental, os fonemas são
considerados um conjunto de traços não estruturados ou “feixe de traços”.
2. Modelos não-lineares assumem que os traços são dispostos hierarquicamente em diferentes
camadas (tiers). Podem estender-se além ou aquém de um segmento, ligar-se a mais de uma
unidade, funcionar isoladamente ou em conjuntos solidários.
A Teoria Gerativa Clássica, conhecida como Teoria dos Traços Distintivos, representa o modelo
linear. Para essa teoria, a representação da seqüência de segmentos que formam uma palavra é feita por
uma seqüência linear de matrizes de traços, sem qualquer hierarquia entre os traços que a constituem.
Os traços distintivos são considerados propriedades mínimas, de natureza acústica ou articulatória.
Dessa forma, os segmentos são classificados a partir de uma série de traços primitivos, geralmente binários
- [+presente] ou [-ausente]. Esse sistema de traços serve de entrada para engendrar as regras fonológicas
que se aplicam a classes naturais de sons, como mostra a Tabela 1.
LETRAS LIBRAS| 32
Para esse modelo, não importa saber quais elementos fazem parte do sistema fonológico de uma
língua, mas, sim, como se ‘gera’ uma determinada sequência fônica, como estão organizados os segmentos
fonológicos e qual a representação das operações que subjazem à produção de um dado som ou sequência
fônica.
(9)
As matrizes de traços é um dispositivo que facilita as transcrições. A matriz fonética agrupa todos
os traços distintivos existentes, enquanto que a matriz fonológica agrupa apenas os traços distintivos que
diferenciam os segmentos. Na representação fonética, todos os traços devem ser especificados para um
determinado segmento. Já na representação fonológica, omitem-se os traços redundantes, irrelevantes
para a distinção do segmento.
Assim, temos os traços de classe principal:
Silábico: segmentos [+silábicos] são aqueles que constituem núcleo silábico, ou seja, no português,
as vogais. Todos os outros segmentos são [–silábicos]. Esta característica substitui o traço vocálico e
permite agrupar consoantes e glides em um grupo oposto ao das vogais.
Consonantal: segmentos [+consonantal] são aqueles com obstrução do trato vocal, como as
consoantes plosivas, fricativas, africadas, nasais e líquidas. Apenas as vogais e as glides são [-consonantal].
Soante: vogais, líquidas, glides e nasais são [+soante]. Este traço é definido por uma passagem de
ar relativamente livre através da boca ou do nariz. Essa característica permite agrupar juntas vogais,
líquidas, glides e nasais que sempre compartilham o traço [+vozeado], diferentemente de obstruintes, que
podem ser [+vozeadas] ou [–vozeadas].
Depois dessa distinção básica entre os segmentos, na matriz, vem os traços de cavidade:
LETRAS LIBRAS | 33
Coronal: sons produzidos com a lâmina da língua levantada em relação à posição neutra da
língua. Assim, os sons [+coronais] são os dentais, alveolares, palato-alveolares e palatais.
Anterior: sons produzidos com uma obstrução localizada na frente da região alveo-palatal da
boca. Tem o traço [+anterior] os sons labiais, dentais e alveolares, além das vogais anteriores
[i], [Ε] e [e].
Posterior: sons produzidos pela retração do corpo da língua da posição neutra. Os sons que
tem o traço [+posterior] são os velares, glotais e as vogais posteriores [u], [ ] e [o].
Alto: sons produzidos pelo levantamento do corpo da língua acima do nível ocupado pela
posição neutra. São [+alto] os sons palatais, palato-alveolares e vogais altas [i] e [u].
Baixo: sons produzidos pelo abaixamento do corpo da língua abaixo do nível ocupado na
posição neutra. São [+baixo] os segmentos glotais e a vogal baixa [a].
Arredondado: sons produzidos com o estreitamento do orifício dos lábios. No português, esse
traço é redundante, no sentido de que todas as vogais posteriores são [+arredondada], como
as vogais [u], [ ] e [o].
Nasal: são os sons produzidos com abaixamento do véu palatino, permitindo o escape do fluxo
de ar pelo nariz. São [+nasal] as consoantes nasais, como o [m] e o [n] e as vogais nasais, como
[ã], por exemplo.
Lateral: são os sons produzidos com a elevação da lâmina da língua e o abaixamento do centro
da língua, permitindo o escape do ar por um lado ou por ambos os lados. Nos sons não-
laterais, a passagem do ar não é aberta. A consoante [+ lateral] do português é a [l], e a [-
lateral] é a vibrante [r].
Contínuo: sons contínuos são aqueles cujo estreitamento não ocorre a ponto de bloquear a
passagem do ar, como as fricativas, diferente dos sons não-contínuos, cuja obstrução é total,
como as consoantes plosivas. Assim, são [+ contínuos]: as vogais, as glides, as líquidas e as
fricativas.
Metástase retardada: ocorre nos sons onde a soltura do ar é inicialmente bloqueada e depois
liberada com turbulência. Esse traço é mais usado pra distinguir as plosivas das africadas [t] e
[tS], como em tia e tSia.
LETRAS LIBRAS| 34
Tenso ATR 3: antes chamado como tenso ou não tenso, o traço ATR serve para distinguir as
vogais médias altas [e] e [o] das médias baixas [Ε] e [ ]. Assim, são [+ATR] as vogais médias
altas [e] e [o] e [-ATR] as vogais médias baixas [Ε] e [ ].
Vozeado ou sonoro: presença vs. ausência de vibração de pregas vocais. São [+voz.] os sons
com vibração, como o [b] e [v].
Com base nesses traços, montamos a matriz de traço de cada segmento e observamos como cada
som é produzido. Além disso, esse modelo serviu para entendermos os sons como pertencentes a classes
naturais, que é como perceber uma relação de parentesco entre eles. Ou seja, se o som [t] e [d] tem
matrizes de traços muito semelhantes, como apenas um traço distintivo, podemos dizer que são sons
homorgânicos, pertencentes à mesma classe natural – a classe das plosivas coronais. Isso pode ser
observado a partir das matrizes em (10):
(10)
Como se observam no exemplo (10), os segmentos [t] e [d] pertencem à mesma classe natural,
porque além de serem semelhantes e terem apenas um traço distintivo, sofrem os processos fonológicos
juntos, como a regra de palatalização que ocorre antes de [i], como em tSia e dZia, se a regra afeta um dos
segmentos, deve afetar o outro.
3
ATR (Advanced Tongue Root) é o traço vocálico referente ao avanço ou recuo da raiz da língua e que, geralmente,
está diretamente relacionado com o levantamento do corpo da língua, visto que esses movimentos da língua são
concomitantes.
LETRAS LIBRAS | 35
Esse modelo trouxe grandes contribuições, pois, a partir do modelo linear, proposto por Chomsky e
Halle (1968), na obra Sound Pattern of English (SPE), as análises fonológicas passaram a utilizar, como
unidade mínima, os traços distintivos. Assim, passou a ser defendida a idéia de que a criança adquire
oposições e contrastes, e não sons individuais. Todas as crianças, por exemplo, adquirem os contrastes que
diferenciam as consoantes oclusivas das nasais (papai/mamãe) antes dos contrastes que diferenciam as
fricativas e as líquidas.
As análises por traços, baseadas no modelo linear, permitiram determinar as várias etapas do
processo de aquisição, agrupar os segmentos em classes naturais e verificar que os segmentos que integram
uma mesma classe apresentam um funcionamento muito semelhante.
No entanto, com o tempo, parecia não ser suficiente por conta do fato de que as matrizes de traços
eram incomunicáveis entre si. Assim, as matrizes não garantem uma explicação sobre o funcionamento de
alguns processos fonológicos. Foram, então, desenvolvidos os modelos não-lineares, a partir de estudos
como a Fonologia Métrica; Fonologia Lexical; Fonologia da Sílaba; Fonologia Prosódica e Fonologia Auto-
segmental, que deu base para a Geometria dos Traços.
Goldsmith (1976) desenvolveu esse modelo acreditando na existência de níveis ou camadas, ligados
através de linhas de associação. Nesse modelo, os segmentos são representados de modo multidimensional,
pela estrutura de árvore e os traços estão dispostos em nós hierarquicamente ordenados, formando camadas
(tiers) como se mostra na Figura 9:
A (nó de raiz)
B
C
D ( B, C, D, E nós estruturais)
E
a
b
c
d
e
f
g (valores de traços)
LETRAS LIBRAS| 36
Os traços são ligados aos nós de classe por linhas de associação. Além disso, existe uma relação de
dependência entre os traços, isto é, o traço do nó imediatamente superior domina o nó inferior, e a
mudança no nó de classe superior implica mudança no nó inferior.
As premissas básicas desta teoria são:
Foi baseada na Teoria dos traços que surgiu outra teoria fonológica, a Teoria da Fonologia Natural,
que estuda os processos fonológicos. Isso porque estudos na fonologia clínica observaram que algumas
crianças modificavam os sons modificando os traços, substituindo os sons ou omitindo/ apagando.
Stampe (1973) foi o pioneiro no estudo dos processos fonológicos. Para ele, o processo fonológico
é uma operação mental para substituir classes de sons que o individuo não é capaz de produzir, por uma
opção de classe idêntica, no entanto, desprovida da propriedade que a torna de difícil realização. As
palavras com encontros consonantais, por exemplo, são de maior dificuldade no estágio inicial do
desenvolvimento da linguagem oral, como na palavra fruta.
Apesar de a substituição fonológica ser uma operação mental, ela é motivada pelas características
físicas da fala como neurofisiológicas, morfológicas, mecânicas, temporais e acústicas.
Esses processos de simplificação são naturais porque derivam das necessidades e dificuldades de
articulação e de percepção do ser humano. Além de naturais, são inatos e universais, pois são limitações
com as quais as crianças nascem e vão superando à medida em que vão convivendo com a língua.
Dentre os processos mais comuns, na aquisição fonológica normal, podem ser citados os de
estruturação silábica e os de substituição (HERNANDORENA, 1990; YAVAS; HERNANDORENA; LAMPRECHT,
1991; LAMPRECHT, 2004).
LETRAS LIBRAS | 37
Redução do encontro consonantal Apagamento de sílabas átonas
blusa [∋βυζα] bicicleta [βι∋κΕτα]
Apagamento da fricativa final Apagamento de líquida final
ônibus [∋ονιβΥ] carne [∋κανΙ]
Reduplicação Apagamento de líquida
geléia [λΕ∋λΕ] intervocálica
borboleta [β β ∋ετα]
Apagamento de líquida inicial Metátese
roda [∋ δα] verde [∋ϖΡεδΙ]
Não realização da sílaba Epêntese
dormindo [∋µι)δΥ] brabo [βα∋ΡαβΥ]
LETRAS LIBRAS| 38
Como já foi dito antes, os modelos teóricos da Fonologia podem ser baseados em regras e
baseados em restrições. Até agora, falamos sobre os modelos baseados em regras. Existe também um
modelo baseado em restrições, que é um modelo muito recente. Estamos falando da Teoria da Otimidade
(OT), proposta por Prince e Smolensky (1993).
Por ser um modelo muito teórico, será apenas citado, mas não será aprofundado. O que vale a
pena ser dito, e que muitos estudos na área da Fonologia tem adotado esse modelo nas analises.
Enfim, no campo da Fonologia, muitos têm sido os modelos propostos desde a Fonologia Gerativa
Clássica, até os dias de hoje, com a Teoria da Otimidade e, embora as teorias visem à descrição e à análise
das línguas em seu funcionamento real, nas comunidades que as utilizam, os pesquisadores sempre
questionam sua pertinência para a explicação de fatos relativos aos domínios da aquisição da linguagem,
dos desvios lingüísticos e da mudança histórica.
A língua de sinais (LS) é uma língua natural, uma forma legítima de expressão e comunicação das
comunidades surdas (VALIANTE, 2009), com estrutura lingüística complexa, que dispõe de todos os níveis
lingüísticos necessários, como fonologia, morfossintaxe, semântica e pragmática.
Neste momento, será focada apenas a estrutura fonológica da língua brasileira de sinais, apesar da
grande escassez de estudos na área da LIBRAS sob o ponto de vista fonológico. Dentre estes estudos, pode-
se mencionar Quadros e Karnopp (2004), Karnopp (1999; 2008) e Rabelo (2006).
Segundo Karnopp (1999), os articuladores primários das línguas de sinais são as mãos, que se
movimentam no espaço em frente ao corpo e articulam sinais em determinadas locações neste espaço. Nas
línguas de sinais, um sinal pode ser articulado com uma ou duas mãos e tanto com a mão direita quanto
com a mão esquerda, o que não se configura em uma mudança distintiva. Sinais articulados com uma mão
são produzidos pela mão dominante (em geral, a direita para destros e a esquerda para canhotos). A
LIBRAS, assim como as outras línguas de sinais, é basicamente produzida pelas mãos, embora movimentos
do corpo e da face também desempenhem funções.
Para analisar a formação dos sinais, Stokoe (1960) propôs a decomposição da Língua Americana de
Sinais (American Sign Language – ASL) em três aspectos ou parâmetros simultâneos: o formato (ou
configuração) de mãos, a localização (ou locação) no espaço e a sua movimentação que, analisados
isoladamente, não carregam qualquer significado. Battison (1978) acrescenta um quarto parâmetro: a
orientação da mão. É preciso lembrar que a mudança de apenas um dos parâmetros provoca diferença no
significado do sinal.
LETRAS LIBRAS | 39
Figura 13 – Os parâmetros fonológicos da LIBRAS (FERREIRA-BRITO, 1990, p. 23).
LETRAS LIBRAS| 40
A configuração das mãos se refere ao fato de que para cada sinal feito, uma ou as duas mãos
podem assumir uma forma específica. Pode ocorrer apenas uma mão configurada, uma mão configurada
sobre a outra que lhe serve de apoio e a configuração espelhada das duas mãos. Pesquisas de Ferreira-Brito
e Langevin (1995) mostram que a LIBRAS possui 46 configurações de mão.
LETRAS LIBRAS | 41
A localização no espaço é o local onde a mão já configurada é posicionada. A mão pode tocar,
bater ou ser posicionada em um ponto inicial da qual deslizará para outro ponto do corpo. Pode, ainda, ser
posicionada em um espaço neutro à frente ou ao lado do corpo, seja na direita, esquerda em cima, no meio
ou em baixo. Assim, o sinal pode ser localizado na região superior (cabeça ou pescoço), média (tronco) ou
inferior (da cintura ao meio da coxa), onde serão articulados.
LETRAS LIBRAS| 42
O parâmetro de movimento se refere ao movimento específico que é realizado para expressar o
significado do sinal, podendo ser o bater, o deslizar, o apertar, o girar etc. De acordo com Klima e Bellugi
(1979 apud FERREIRA-BRITO, 1995), este é um parâmetro que envolve os movimentos internos da mão, os
movimentos do pulso, os movimentos direcionais no espaço e conjuntos de movimento de um mesmo
sinal.
As categorias em que se pode descrever o parâmetro movimento na LIBRAS estão dispostas no
Quadro 2 (FERREIRA-BRITO, 1995).
Já a orientação está relacionada à direção da palma da mão durante um sinal: voltada para cima,
para baixo, para o corpo, para a frente, para a esquerda ou para a direita.
Esses quatro parâmetros são considerados as unidades mínimas das línguas de sinais e qualquer
mudança em um deles pode levar a uma modificação do significado do sinal.
LETRAS LIBRAS | 43
Embora a língua de sinais seja produzida basicamente pelas mãos, movimentos do corpo e da face
também desempenham funções. As expressões faciais e corporais são, portanto, consideradas o quinto
parâmetro da fonologia das línguas de sinais.
Estas expressões se referem aos movimentos da face, dos olhos, da cabeça ou do tronco e estão
relacionadas às diferenciações entre itens lexicais e marcações sintáticas, como marcação de sentenças
interrogativas (como “sim-não” e interrogativas QU-), orações relativas, topicalizações, concordância e foco
(QUADROS; KARNOPP, 2004).
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LETRAS LIBRAS | 45
LETRAS LIBRAS| 46
TEORIAS
LITERÁRIAS
LETRAS LIBRAS | 47
LETRAS LIBRAS| 48
TEORIAS LITERÁRIAS
PESQUISE:
Para ampliar seus conhecimentos sobre os
significados da palavra literatura, consulte AGUIAR
E SILVA, Vitor Manuel de. Teoria da Literatura. São
Paulo: Martins fontes, 1976. Disponível em:
http://www.ufrgs.br/proin/versao_1/aguiar/index.
html. Consulte também o verbete Literatura em um
dicionário e/ou um site de busca/pesquisa.
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UNIDADE 1
GÊNERO ÉPICO
LETRAS LIBRAS| 50
Na pintura vê-se uma mulher lendo um livro. O livro apresenta uma história. Esta história é contada
por alguém. O narrador é quem conta uma história.
Atenção: O narrador é responsável pelos valores transmitidos ao longo do enredo. Mas, o narrador
não é o escritor. O narrador não pode ser confundido com quem escreve um texto literário
Das Dores é isso, só isso - boazinha. Não possui outra qualidade. É feia, é
desengraçada, é inelegante, é magérrima, não tem seios nem cadeiras
nem nenhuma rotundidade posterior; é pobre de bens e de espírito; é
filha daquele Joaquim da Venda, ilhéu de burrice ebúrnea - isto é dura
como o marfim. Moça que não tem por onde se lhe pegue fica sendo
apenas isto - boazinha.
Só tem uma coisa a mais que as outras - cabelo. A fita da sua trança
toca-lhe a barra da saia. Em compensação, suas idéias medem-se por
frações de milímetro, tão curtinhas são. Cabelos compridos, idéias curtas
- já o dizia Schopenhauer.
O conto fala de uma moça. Essa moça se chama Das Dores. Ela é a personagem do conto. Quem
fala sobre Das Dores é o narrador. O narrador não participa da história. Mas, dá opiniões sobre Das Dores.
Na teoria Literária classifica-se o narrador que não participa da história de heterodiegético.
Reflita: O narrador diz que Das Dores é uma pessoa sem muita inteligência. Será que ele precisaria
citar Schopenhauer para dizer isso? Schopenhauer é um filósofo. Você sabe o que faz um filósofo? Você
conhece Schopenhauer?
Agora vamos ler um fragmento do romance O triste fim de Policarpo Quaresma do escritor Lima
Barreto:
Como lhe parecia ilógico com ele mesmo estar ali metido naquele
estreito calabouço? Pois ele, o Quaresma plácido, o Quaresma de tão
profundos pensamentos patrióticos, merecia aquele triste fim? (...)
Não estava ali há muitas horas. Fora preso pela manhã, logo ao erguer-
se da cama; e, pelo cálculo aproximado do tempo, pois estava sem
relógio e mesmo se o tivesse não poderia consultá-lo à fraca luz da
masmorra, imaginava podiam ser onze horas
LETRAS LIBRAS | 51
O romance tem muitos personagens. O personagem central é Policarpo Quaresma. A história gira
em torno dele. Ele é o protagonista. O narrador fala sobre o protagonista, o que acontece com ele, sobre
seus pensamentos e etc. O narrador não participa dessa história. O narrador é heterodiegético.
Leiamos outro fragmento. Desta vez do romance São Bernardo do escritor Graciliano Ramos.
O romance São Bernardo fala da vida de Paulo Honório. Paulo Honório é um personagem. Ele é o
protagonista. Ele é quem narra sobre sua vida. Paulo Honório também é o narrador. O narrador, que é
Paulo Honório, participa da história. Na teoria literária, classifica-se o narrador que participa da história e é
protagonista de narrador autodiegético. Se o narrador é uma personagem, mas não é o protagonista a
teoria literária o classifica como narrador homodiegético.
Resumo da lição:
LETRAS LIBRAS| 52
REFLITA
Você já sabe o que é o protagonista. O protagonista é o
personagem principal. Você também já sabe o que é o
narrador. O narrador é quem conta a história. Agora releia
com calma e atenção o fragmento do conto Cabelos
Compridos do escritor Monteiro Lobato. Das Dores é uma
protagonista? Por quê? É Das Dores quem narra a história?
Discuta com os seus colegas.
Agora é
sua vez O Projeto Nupill disponibiliza na internet a íntegra do romance O triste
fim de Policarpo Quaresma. Caro aluno surdo e ouvinte, acesse o link a
seguir e procure ler esta, que é uma obra representativa da literatura
brasileira: http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/quaresma.html. Há
também uma adaptação fílmica deste romance. Você pode assisti-lo no
you tube e, assim, complementar o seu entendimento acerca do
enredo.
PESQUISAR:
O texto de Lima Barreto aborda um período importante da
história do Brasil. O romance O triste fim de Policarpo
Quaresma é uma crítica a esse período histórico brasileiro.
Procure na internet informações a esse respeito e amplie o seu
conhecimento.
LETRAS LIBRAS | 53
UNIDADE 2
GÊNERO DRAMÁTICO
O gênero dramático é feito para ser representado no teatro. Os personagens agem. Os
personagens são responsáveis pelo desenvolvimento da ação. Por isso, o texto dramático não precisa de
um narrador para contar a história. A base do texto dramático é o diálogo. No texto dramático os
personagens dialogam entre si e desenvolvem a ação.
Vamos ler um trecho da peça O pagador de promessas de Dias Gomes.
Zé
Rosa para também, junto dos degraus, cansada, enfastiada e deixando já entrever uma
revolta que se avoluma.
Rosa
Zé
Rosa
Esperar? Aqui?
Zé
LETRAS LIBRAS| 54
Rosa
(Olha com uma raiva e vai sentar-se num dos degraus. Tira o sapato). Estou com cada bolha
d’agua no pé que dá medo.
Zé
Eu também (Num ricto de dor, despe uma das mangas do paletó.). Acho que meus ombros
estão em carne viva.
Zé
(Convicto) Não era direito. Quando eu fiz a promessa. Não falei em almofadinhas.
Rosa
Então: se você não falou, podia ter botado; a santa não ia dizer nada.
Zé
Não era direito. Eu prometi trazer a cruz nas costas, como Jesus. E Jesus não usou
almofadinhas.
Este fragmento que você acabou de ler é um diálogo entre Zé-do-Burro e sua esposa, Rosa. Eles
são personagens. O diálogo entre Zé-do-Burro e Rosa não precisa ser apresentado por um narrador. O que
diferencia o gênero dramático dos demais gêneros é a ação associada à predominância quase que absoluta
de diálogos.
Outra característica do gênero dramático é o conflito. O conflito é a oposição entre forças. Essas
forças/vontades acreditam na legitimidade de suas ações. O gênero dramático se desenvolve a partir do
choque entre duas vontades, gerando o conflito dramático.
No caso da peça O Pagador de Promessas, a vontade de Zé-do-Burro é de cumprir sua promessa. A
promessa é a de colocar uma cruz no altar da igreja de Santa Bárbara. A promessa foi feita em um terreiro
de Candomblé. Para o padre da igreja de Santa Bárbara, a promessa de Zé-do-Burro não é legitima porque
não foi feita de acordo com o ritual católico. O padre representa o ponto de vista da igreja católica.
Percebe-se um conflito: Zé-do-Burro quer colocar a cruz dentro da igreja e o padre não quer deixar.
LETRAS LIBRAS | 55
Zé
(Em desespero.) Mas, padre, eu prometi levar a cruz até o altar-mor! Preciso cumprir a minha
promessa!
Padre
Fizesse-a então numa igreja. Ou em qualquer parte, menos num antro de feitiçaria.
Zé
Eu já expliquei...
Padre
Zé
Padre...
Padre
Um ritual pagão, que começou num terreiro de candomblé, não pode terminar na nave de
uma igreja!
Zé
Padre
Zé
Padre, eu não andei sessenta léguas para voltar daqui. O senhor não pode impedir a minha
entrada. A igreja não é sua, é de Deus!
Padre
Zé
Padre
(Para o Sacristão.) Fecha a porta. Quem quiser assistir à missa que entre pela porta da
sacristia. Lá não dá para passar essa cruz. (Entra na igreja.)
LETRAS LIBRAS| 56
Resumo da lição:
Agora é
com
você
Muitas obras literárias dos gêneros épico e dramático viraram
filme. Pesquise na internet e descubra informações sobre quais
textos literários foram adaptados para o cinema. Afinal, os
filmes que são adaptados podem ajudar o aluno surdo e ouvinte
a conhecer um pouco mais uma determinada obra literária.
ATENÇÃO
Os filmes que se baseiam em uma obra literária nunca são
iguais às obras literárias. As obras literárias sempre passam
por alguma adaptação. Filmes não são iguais a obras
literárias, porque cinema não é literatura. Literatura é um
tipo de arte e cinema é outro tipo de arte.
LETRAS LIBRAS | 57
UNIDADE 3
GÊNERO LÍRICO
O gênero lírico também é chamado de poesia. O gênero lírico se diferencia dos demais gêneros por
uma voz poética que é chamada de eu - lírico. A voz poética do eu - lírico não é a voz do autor/escritor. O
eu - lírico, portanto, não deve ser confundido com o escritor de um poema.
A voz poética do eu - lírico é fictícia/criada. O eu - lírico fala de sentimentos, emoções. Portanto, eu
- lírico é uma voz poética que fala de sentimentos e emoções como amor, ódio, alegria, tristeza, angústia,
prazer, dor e etc., ou seja, tende a manifestar o interior do ser humano.
Vamos ler o poema O que fizeram do Natal do poeta Carlos Drummond de Andrade.
Natal.
O sino longe toca fino,
Não tem neves, não tem gelos.
Natal.
Já nasceu o deus menino.
As beatas foram ver,
encontraram o coitadinho
( Natal)
mais o boi mais o burrinho
e lá em cima
a estrelinha alumiando.
Natal.
As beatas ajoelharam
e adoraram o deus nuzinho
mas as filhas das beatas
e os namorados das filhas,
mas as filhas das beatas
foram dançar black-bottom
nos clubes sem presépio.
LETRAS LIBRAS| 58
O poema fala do Natal. O Natal é uma festa cristã. O dia de Natal é feriado. As pessoas devem
celebrar o nascimento de Jesus. O eu-lírico observa que essa tradição não é seguida pelas novas gerações.
As pessoas mais jovens vão dançar em clubes. Elas esqueceram do nascimento de Jesus. Elas esqueceram o
verdadeiro motivo do Natal.
Você já comemorou o Natal? Você conhece pessoas que se lembram do nascimento de Jesus? Você
conhece pessoas que aproveitam o Natal só para beber e dançar?
A voz poética do eu-lírico não é a voz do escritor, como já falamos. É a representação da
interioridade, de um sentimento. O poema emite a visão individual de mundo do eu-lírico. Ao mesmo
tempo, essa voz é produzida socialmente. Isto significa que os valores são objetivos.
Nesse sentido pense: As pessoas hoje em dia não comemoram mais o Natal como antigamente,
esse fato é determinado historicamente, por motivos diversos. A voz do eu-lírico expressa seus sentimentos
diante deste fato, ao mesmo tempo em que é uma voz que expressa certos valores que são determinados
por questões históricas e sociais.
Agora leia o poema Versos de Natal do poeta Manuel Bandeira.
LETRAS LIBRAS | 59
Resumo da lição:
Você acabou de estudar os gêneros literários. A forma como os textos são apresentados sinaliza a
que gênero literário pertence cada texto. Essas são as formas mais comuns que representam os
textos literários e seus respectivos gêneros. Nem sempre as formas são suficientes para distinguir
um gênero literário de outro. Por isso é muito importante identificar as principais categorias
distintivas entre cada gênero.
LETRAS LIBRAS| 60
UNIDADE 4
MISTURA DE GÊNEROS
Os textos literários são divididos em três gêneros: gênero épico, gênero dramático e gênero lírico.
Essa divisão é uma convenção. Um gênero pode possuir características de outro gênero. Para compreender
à qual gênero literário pertence um determinado texto é preciso identificar a principal característica
distintiva do mesmo.
Leia o conto Nossa amiga do escritor Carlos Drummond de Andrade.
LETRAS LIBRAS | 61
- E a outra de onde você veio?
- Também.
- Quantas casas você tem?
- Esta e aquela.
- De qual você gosta mais?
- Que é que você vai me dar?
- Nada.
- Gosto da outra.
- Tem aqui esta pessegada, esta bananinha...
- Gosto desta casa! Gosto de você!
Não é gulodice nem interesse mesquinho... Será antes prazer de sentir-se cortejada, mimada.
Esquece a merenda para ficar na sala, de mão na boca, olhando os pés estendidos, enquanto
alguém lhe acarinha os cabelos.
Nem tudo são flores, no espaço entre as duas residências. Há Catarina e Pepino.
Catarina foi inventada à pressa, para frustrar certa depredação iminente. Os bichos de cristal
na mesinha da sala de estar tentavam a mão viageira. Pressentia-se o momento em que as
formas alongadas e frágeis se desfariam. Na parede, esquecida, preta, pousara uma bruxa.
- Não mexa nos bichinhos.
Mexia.
- Não mexa, já disse...
Em vão.
- Você está vendo aquela bruxa ali? É Catarina.
- Que Catarina?
- Uma menina de sua idade, igualzinha a você, talvez até mais bonita. Muito mexedeira, mas
tanto, tanto! Um dia foi brincar com o cachorrinho de vidro, a mãe não queria que ela
brincasse. Catarina teimou, mexeu e quebrou o cachorrinho. Então, de castigo, Catarina virou
aquela bruxinha preta, horrorosa. Para o resto da vida.
A mão imobiliza-se. A bruxa está presa tanto na parede como nos olhos fixos, grandes,
pensativos. Entre os mitos do mundo (entre os seres reais?) existe mais um, alado,
crepuscular, rebelde e decaído.
Pepino tem existência mais positiva. Circula na rua - a rua é o espaço entre as duas quadras,
repleto de surpresas - geralmente à tarde. Vem bêbado, curvado, expondo em frases
incoerentes seus problemas íntimos. Pegador de crianças.
- Vou embora para minha casa. Você vai me levar.
- Mas você mora tão pertinho...
- E Pepino?
- Pepino não pega ninguém. Ele é camarada.
- Pega, sim. Eu sei.
- Pois eu vou dar uma festa para as crianças desta rua e convido Pepino. Você vai ver se ele
pega.
- Eu não vou na festa.
- Você é quem perde. Vem Elzinha, Nesinha, Heloísa, Alice, Maria Helena, Lourdes, Bárbara,
Édison, Careca, João e Adão. Pepino vai dançar para as crianças. Você, como é uma boba, não
toma parte.
- Até logo!
Sai voando, a porta fecha-se com estrondo. Da varanda, ainda se vê o pequeno vulto
desgrenhado.
- Espere aí, você não tem medo do Pepino?
- Não. Estou zangada com você.
Com a zanga, desaparece o temor. Seria realmente temor? Gosta de ser acompanhada, para
dizer à mãe, quando chega em casa:
- Espia quem me trouxe.
Volta meia hora depois, penteada, calçada, vestido limpo.
LETRAS LIBRAS| 62
- Espia minha roupa nova. Meu sapato branco.
- Mas que beleza! Onde você vai?
- Vou na festa.
Para tomar banho e trocar de vestido, é necessário que se anuncie sempre uma festa, jamais
localizada ou realizada, mas que opera interiormente sua fascinação. Não há pressa em ir
para ela. A merenda, a conversa grave com pessoas grandes, estranhamente preferidas a
quaisquer outras, o brinquedo personalíssimo com o primeiro encontro do dia - um carretel, a
galinha que salta do carrinho de feira - fazem esquecer a festa, se não a constituem. E resta
saber se o enganado não será o adulto, que sugere terrores ou recompensas fantasiosas. Nas
campinas da imaginação, esse galope de formas - será a verdade?
Senta-se no corredor, e com uns panos velhos, lápis vermelho, pedrinha, qualquer elemento
poetizável, representa para si só a imemorial história das mães.
- Comadre, seu filhinho como vai?
- Tá bom, comadre, e o seu?
- Tá com dedo machucado e dodói na barriga. Vai tomar injeção.
- Então vou dar no meu também.
Perguntas e respostas, recolhidas em conversas de adulto, saem da mesma boca
inexperiente. O objeto que serve de filho é embalado com seriedade. A doença existe,
existem os sustos maternais. Mas tudo se desfaz, se acaso um intruso vem surpreender a
criação, tirada em partes iguais da vida e do sonho, e que os prolonga. Assim pudesse a mãe
antiga tornar invisível seu filho, ante os soldados de Herodes.
O conto Nossa amiga pertence ao gênero épico. O conto tem um narrador que conta a história. O
conto tem uma personagem que é Luci Machado da Silva. Mas, ele possui características do gênero
dramático. Perceba os diálogos entre os personagens.
O narrador relata os acontecimentos. Mas, o narrador também expressa um sentimento. É um
sentimento comum às mães. O amor pelo filho, refletido no desejo de protegê-lo de tudo. Perceba que
para falar do sentimento comum às mães o narrador faz referência a um fato bíblico mencionado no
evangelho de Mateus (Mt 2, 16): o massacre dos meninos de Belém, ordenado por Herodes.
Agora leia o Soneto de luz e treva do poeta Vinicius de Moraes
LETRAS LIBRAS | 63
O poema apresenta um conflito. O conflito é percebido nas oposições luz X treva; Oxalá velho X
Inhansã; signo de capricórnio X signo de libra. O eu-lírico opõe-se a “Ela”. Esta oposição é um traço do
gênero dramático presente no poema.
O eu-lírico fala dEla. Ela é uma personagem. Personagens são característicos do gênero épico.
Portanto, a presença dEla, personagem, é um traço do gênero épico presente no poema.
Resumo da lição
LETRAS LIBRAS| 64
UNIDADE 5
FORMA
A forma do texto literário é muito importante. Na poesia não é diferente. A forma do poema está
ligada ao conteúdo do poema. A forma apresenta /comunica ideias, amplia o sentido do que se quer dizer.
A forma enriquece o significado do conteúdo.
O poema se compõe de estrofes e versos. A estrofe é a reunião de versos.
LETRAS LIBRAS | 65
O poema Retrato de Cecília Meireles apresenta a forma tradicional. É composto de versos e
estrofes. Tem uma linearidade que obedece a sintaxe.
Poesia concreta
A poesia concreta tem sua origem no Brasil. Três poetas iniciaram o movimento concretista. Eles se
chamam Décio Pignatari, Haroldo de Campos e Augusto de Campos.
A poesia concreta propõe o poema-objeto, o que significa que o poema se realiza na sua
construção, no seu modo de fazer. Em outras palavras a forma é que informa.
A poesia concreta utiliza-se de múltiplos recursos: acústico, visual, carga semântica da palavra, o
espaço tipográfico, a disposição geométrica dos vocábulos na página.
A poesia concreta quebra com a tradição da forma poética, ao negar o verso tradicional. A poesia
concreta caracteriza-se pela possibilidade de leituras múltiplas.
Ou seja, a poesia concreta caracteriza-se por inovação formal e maior proximidade com outras
manifestações artísticas.
A poesia concreta busca a essência da palavra, a palavra por si, na sua materialidade.
A poesia concreta aproxima-se do imediatismo da comunicação visual.
Veja o poema
LETRAS LIBRAS| 66
As letras (tipografia) que compõem cada uma das palavras procuram comunicar o campo
semântico dessas palavras. Por isso a letra da palavra luxo é enfeitada (tem curvas) enquanto a letra da
palavra lixo não é enfeitada (sem curvas).
Essas palavras têm significados opostos. Mas, na medida em que o poeta forma a palavra LIXO a
partir da palavra LUXO, esses significados se unem e se complementam. Então, não há lixo sem luxo e
também não há luxo sem lixo. Lixo é um luxo e luxo é um lixo. Se você tira qualquer uma das palavras, a
outra deixa de existir.
Neste poema a forma informa, sendo uma crítica ao consumo excessivo da sociedade. Um
consumo desnecessário e que gera lixo.
O tamanho das palavras também apresenta uma ideia. Pequenos luxos geram um grande lixo.
REFLITA:
A literatura pode levar a pessoa a refletir. A Literatura pode
estimular uma percepção diferenciada da realidade. Diante
das afirmações, você já parou para pensar na relação entre o
luxo e o lixo? Você saberia da um exemplo de um luxo que
gera lixo? Você contribui no seu dia a dia para uma situação
como a que o poema evidencia? Reflita! Discuta com os seus
colegas!
f o r m a
r e f o r m a
d i s f o r m a
t r a n s f o r m a
c o n f o r m a
i n f o r m a
f o r m a
É um poema concreto. Portanto sua forma visual é muito importante. A forma informa.
Se você olhar em um dicionário, vai ler os seguintes significados para as palavras:
Forma: configuração, molde.
Reforma: formar de novo, melhorar, aprimorar, reconstruir.
Disforma: dis = separação, negação (da forma); remete a deforma: alterar uma forma.
Transforma: dar nova forma, modificar.
Conforma: conciliar, harmonizar.
Informa: Comunicar, participar.
As palavras como estão no poema, portanto, apresentam a seguinte ideia:
LETRAS LIBRAS | 67
Uma forma inicial é modificada. Ela é muito modificada. Então, não se reconhece a forma original.
Acontece uma transformação. A transformação/modificação resulta em uma nova forma. Então, a nova
forma passa a ser conhecida.
A nova forma pode significar um novo início. Por isso o poema tem uma forma que se assemelha a
um círculo. O movimento de transformação da forma, que gera uma nova forma, pode se repetir. Ideia
reforçada pela possibilidade de se ler o poema de baixo para cima.
Retrato auto-retrato
Vamos associar esta mensagem que o poema apresenta/mostra a partir de sua forma com obras de
arte. Vamos considerar o retrato.
O retrato ou auto-retrato (self-portrait) tradicionalmente é a pintura que representa as pessoas.
Você vê a pintura e reconhece a pessoa retratada. O retrato ou auto-retrato é considerado uma arte
figurativa.
Veja a seguir uma foto do escritor Mário de Andrade:
LETRAS LIBRAS| 68
A imagem a seguir é uma pintura – retrato – de Mário de Andrade feita pelo pintor Cândido
Portinari.
LETRAS LIBRAS | 69
A pintura a seguir é uma pintura de Salvador Dalí feita por ele mesmo. Veja:
LETRAS LIBRAS| 70
Resumo da lição:
Bem, terminamos por aqui nossos estudos, mas lembrando que na teoria literária, onde se
pretende um estudo sistematizado das obras literárias, há inúmeras abordagens que pressupõem conceitos
e formulações básicas, estabelecendo-se assim, um conhecimento acerca do literário.
LETRAS LIBRAS | 71
LETRAS LIBRAS| 72
METODOLOGIA
DO TRABALHO
CIENTÍFICO
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LETRAS LIBRAS| 74
METODOLOGIA DO
TRABALHO CIENTÍFICO
LETRAS LIBRAS | 75
UNIDADE 1
A produção textual
Se a fala é irreversível,
a escrita pode ser refeita tantas vezes queira o autor,
escavando o impossível em busca do ideal.
Barthes ( apud) Hazin,1993:446
O tempo todo em nossas vidas, estamos a produzir textos orais (visuais/ não verbais) e/ou escritos.
Por meio de textos, curtos ou longos, objetivamos transmitir nossos pensamentos a outrem. A depender de
quem seja nosso interlocutor, o que queremos dizer nessa interação, em que situação encontramo-nos
para dizer, o texto terá uma função social diferenciada, assim como diferentes são os fatores supracitados e
que influenciam a produção textual, permitindo que os textos pertençam a gêneros diferentes.
Nas gravuras abaixo temos produções textuais oral e/ou visual
LETRAS LIBRAS| 76
Disponível no site http://revistaescola.abril.com.br/inclusao/educacao-especial/falar-maos-432193.shtml em 20.042010
Contudo as interações verbais e/ou produções de textos orais ou visuais não são duradouras e, por
isso, incapazes muitas vezes de serem reconstituídas. Na tentativa de tornar mais duradouro ou de
registrar os seus pensamentos e ideias e de poder transmitir estes pensamentos e ideias a quem estava
longe geográfica ou temporalemente de quem fala(va) é que surgem as primeiras escritas. Assim como a
texto oral e/ou visual, a produção escrita acontece em diferentes ambientes onde os interlocutores sintam
a necessidade de interagir com seu semelhantes desde o início da história do humanidade.
Apesar da escrita ser posterior à fala e ou expressão não verbal, ela remonta do início das
civilizações, quando o homem primitivo expunha suas idéias na pedra, por meio de desenhos rudimentares.
Inicialamente a escrita aparece como necessidade para a realização de acordos comerciais entre povos
e se desenvolve, passando das garatujas às letras e aos ideogramas que conhecemos hoje. Se compararmos a
história da humanidade à história individual de cada ser humano, veremos que o processo tem muita
similaridade, pois a criança começa rabiscando garatujas, até chegar a um nível mais elaborado de escrita, no
qual utiliza elementos mais complexos e fundamentais para se fazer compreender pelo seu leitor.
LETRAS LIBRAS | 77
A partir desses primeiros momentos em que a humanidade se viu obrigada a registrar
pensamentos e ideias, todas as formas de escrita vêm sendo aprimoradas, fazendo com que, a cada dia, o
que está escrito seja legivel ao(s) seu(s) interlocutor(es). Esse possível aprimoramento da escrita tem
acontecido principalmente na escola, palco da produção textual escrita.
Nesse sentido, é importante lembrar que embora a produção de texto não esteja restrita à escola,
é a escola o lugar privilegiado para estimular e melhorar leitura e escrita. A variedade de gênero textual
que há entre os textos escolares permite que, muitas vezes o texto, sobretudo, escrito apresente
dificuldade para definir sua elaboração. No Ensino Básico, é comum, sermos convidados a redigir textos nos
mais variados gêneros e tipologias, inclusive textos literários. Ao nos aproximarmos do Ensino Superior, a
prioridade de produzir textos que sirvam para divulgar resultado de estudos e pesquisas e que sirvam para
a orientação de leitura textos técnicos e científicos, voltados para a nossa área de estudo, fazem-nos
alcançar uma maturidade de escritores mais objetivos e metas traçadas previamente.
Entre os textos acadêmicos encontram-se Projeto de Pesquisa, resumos escolares, resenhas
críticas, relatórios, TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), artigos científicos, Monografia, Dissertação, Tese,
entre outros.
Resumindo
1. A comunicação humana dá-se por meio de textos. orais, visuais e/ou escritos.
2. Cada contexto situacional de comunicação textos de gêneros variados.
3. A fala e os desenhos precedem a escrita alfabética.
4. A escola é responsável por aprimorar a produção textual, sobretudo, escrita.
5. Entre os gêneros textuais produzidos no ambiente escolar, merecem destaque os textos
técnicos e científicos.
Refletindo e escrevendo
Agora a
palavra é
sua
Escreva um pequeno texto, expondo os motivos pelos
quais você está fazendo uma graduação em Letras Libras.
Você pode dar um título ao seu texto. Lembre-se o título
deve ser criativo a ponto de motivar o seu leitor a achar
que ler seu texto é interessante. Bom trabalho!!!
LETRAS LIBRAS| 78
UNIDADE 2
O texto científico
Enfim, elaborar uma tese é como exercitar a memória. Temo-la boa quando velhos se a exercitarmos desde a meninice.
(Umberto Eco, 1977)
Você finalizou a unidade anterior com uma pequena produção textual, na qual você é (foi)
convidado(a) a colocar no papel a sua motivação para fazer um curso em Letras Libras. Antes de escrever o
texto, você deve ter pensado um pouco como faria o texto, o que você colocaria nele, ou seja, houve um
planejamento, mesmo que tenha sido apenas mental, para poder chegar ao texto escrito. O planejamento
terá mais clareza à medida que nós, enquanto autores, apropriarmo-nos do assunto sobre o qual
pretendemos falar.
Em caso de texto científico, o planejamento dar-se a partir da apreensão, inicialmente, de alguns
elementos, considerados relevantes nessa modalidade de produção textual, tais como: o tema a ser
tratado, por meio do qual perguntamos ‘’sobre o que vamos falar?’’; os objetivos que pretendemos
alcançar ao produzir o texto, ou seja, pensamos ‘’para que queremos escrever?’’; a justificativa para
produzirmos o texto, perguntamos então, ‘’por que nos sentimos impelidos a escreve sobre tal assunto?’’.
Ao tentarmos responder a tais questionamentos, realizamos uma das fases mais importantes da pesquisa:
a definição do objeto de estudo e as motivações que temos para falar sobre o assunto.
Refletindo e escrevendo
Agora é
sua vez 1. Pense em um assunto sobre o qual você gostaria ou tem interesse de
falar! O tema ou assunto escolhido é interessante que seja relacionado ao
seu curso.
2. Escreva pelo menos uma frase sobre o tema escolhido.
3. Agora reflita sobre a importância do assunto que você escolheu e
responda por que você escolheu esse assunto?
4. Enumere dois ou mais motivos para falar do seu tema no meio científico.
5. O que você deseja fazer ou alcançar ao discutir esta temática?
Além desses três elementos, outros servirão de base para a elaboração de textos científicos
diversos, sobretudo, para o projeto de pesquisa. Ora destacamos a necessidade de reconhecermos a
LETRAS LIBRAS | 79
importância de planejar o trabalho científico a partir do reconhecimento de elementos constitutivos e
estruturas dessa modalidade textual.
Todo trabalho cientifico, como tantos outros textos, possui a seguinte estrutura:
- A introdução deve conter uma formulação clara e objetiva do tema , com sua devida delimitação,
a justificativa para a realização da pesquisa, os objetivos claros e precisos, os procedimentos
metodológicos, ou seja, a maneira como a pesquisa foi ou será realizada a pesquisa. Nesta parte, podemos
também levantar algumas hipóteses que acreditamos que poderão contribuir para novos conhecimentos
sobre o tema e ainda, fazer uma apresentação sucinta desse tema, a partir de um levantamento teórico,
considerando quem discute o assunto;
- O desenvolvimento é a parte do trabalho que contém a fundamentação lógica do trabalho, que
tem como objetivo demonstrar e expor suas principais idéias. Segundo Marconi e Lakatos (2005, p.46), o
desenvolvimento do trabalho apresenta três etapas: a explicação, a discussão e a demonstração e/ou
exemplificação;;
- A conclusão faz um resumo das discussões e argumentações colocadas anteriormente.
Vale ressaltar que no caso do Projeto de Pesquisa não chegamos à conclusão alguma, visto que é
algo no qual pretendemos trabalhar, por isso devemos apresentá-lo numa visão de futuro e que, portanto,
não temos resultados. Retomaremos cada parte dessa em cada uma das produções a seguir.
Refletindo e escrevendo
Agora a
palavra é Reflita!!! Veja se você não o colocou como algo muito
sua amplo!!! Se isso ocorreu, tente reordenar suas ideias e
descrever com precisão o seu possível tema de estudo.
Peça a um colega de curso ou de trabalho, ou mesmo a
alguém em casa para ler a sua proposta e pergunte se ele
compreende o que você almeja, ao descrevê-la. Veja se a
opinião de seu interlocutor está de acordo realmente
como o que você se propunha.
1. Revise seus objetivos e veja se o que você desejaria alcançar está de acordo com o tema.
2. Reveja também se a forma como você justificou a sua pesquisa mostra a relevância da mesma.
3. Descreva abaixo, objetivamente, o tema escolhido, delimitando-o, ou seja, o tema nem pode
ser muito amplo nem muito restrito. Coloque no papel também os seus objetivos e a
justificativa para realizá-la.
LETRAS LIBRAS| 80
Ao escolhermos um tema, objetivos e justificativas para realizarmos o estudo, precisamos
encontrar material que nos dê suporte na nossa produção textual e no desenvolvimento de nossa pesquisa.
Para isso necessitamos realizar leituras na área escolhida.
Onde e/ou como encontrar discussão sobre o tema?
- Nos Programas de Pós-Graduação que tenham linhas e áreas específicas voltadas para o seu tema.
Uma busca acelerada dessas linhas e áreas poderá auxiliar na escolha do tema a ser abordado;
- Pela internet, é possível ter acesso às páginas dos programas de Pós-Graduação na área de
conhecimento em que você atua. Além disso, o site do CNPq, traz grupos de pesquisa e pesquisadores que
discutem o assunto; o PORTAL periódico da CAPES; nos Bancos de Teses das universidades e o Especial de
Teses, disponibilizado pelo Universia (http://www.universia,com,br); na base de dados de pós-graduação
CAPES;
- Fora da internet estão as bibliotecas e livrarias, com acervos muito variados, que podem trazer
uma bibliografia diversificada na área em que você pretende desenvolver a sua pesquisa. É aconselhável
também aproveitar as leituras feitas nas disciplinas do curso de graduação. Você pode recorrer às
referências indicadas em cada disciplina e selecionar fontes bibliográficas que podem ser relevantes para o
seu estudo.
Resumindo o capítulo
Toda produção textual requer um planejamento anterior à escrita do texto.
A necessidade de planejarmos a produção do texto científico acontece de forma mais
sistemática, por isso percebemos a necessidade de elaborarmos um plano de trabalho, o qual
orientará desde o resumo até as teses de doutoramento, passando pelos Projetos de pesquisa.
A produção cientifica escrita possui a estrutura semelhante às demais produções escritas:
Introdução, desenvolvimento e conclusão. Dentro desses itens pertinentes ao texto escrito,
estão elementos necessários à compreensão do texto.
A introdução deve conter: o tema, a justificativa, os objetivos, as hipóteses, a indicação de
procedimentos metodológicos, as teorias que serão usadas no trabalho.
O desenvolvimento traz a fundamentação teórica por meio da explicação, discussão e
demonstração e/ou exemplificação.
A conclusão dá um panorama de todo trabalho de forma resumida e conclusiva sobre o
assunto.
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UNIDADE 3
“Compreender é com-preender (segurar junto, manter ligado) e, para alguns estudiosos, a forma latina legere (ler)
estava ligada ao grego arcaico legin (ligar, montar, dar uma forma significativa) Ler é ligar diferenças, estabelecer
ligações”. (Ana Maria Machado,1999)
Já vimos que para escrevermos um texto científico necessário se faz ter leituras sobre o assunto a
ser tratado. Mas como realizar essa leitura, se, em se tratando de texto científico, a dificuldade de leitura é
grande, pois, a depender do assunto, a complexidade aparece como um impedimento para o leitor e,
sobretudo, para alguém que pretende escrever sobre o assunto?
Na tentativa de resolver esse impasse, podemos pensar em alternativas que nos deem segurança
para realizarmos tais leituras com maior eficácia possível.
Acreditamos que a leitura do texto só se efetiva quando conseguimos escrever outro texto a
respeito do texto que lemos... No caso do texto científico isso é mais latente... pois afinal o que é fazer
todos estes trabalhos científicos, senão um exercício de repensar algo que já havia sido discutido antes?
Assim, feita a escolha do tema sobre o qual queremos dissertar, procedemos à etapa de leitura que
dar-nos-á suporte para escrever sobre o assunto. Necessário se faz ressaltar, porém, que essa é uma leitura
diferente da que realizamos quando lemos um romance ou qualquer outro tipo de texto. Ao lermos um
texto científico, temos propósitos bem definidos: Queremos discutir, enquanto cientistas aquele assunto já
tratado por outro... a nossa postura de leitor muda. Passamos a dialogar com as ideias do texto, pensando
em possibilidades outras de discutir e apresentar o assunto, por isso há uma necessidade de escrevermos
paralelamente à leitura.
Com esse intento é que realizamos diversas vezes a mesma leitura, partindo para a produção
textual. A leitura inicial é apenas aquela de contato por meio da qual o leitor apenas escolhe o que mais
chama a sua atenção e/ou quando toma contato com a forma como aquele assunto é abordado pelo autor.
É o momento de fazer a pesquisa bibliográfica e iniciar o processo de fichar textos que poderão auxiliar a
posteriori na escrita do artigo, da monografia, do TCC, das dissertações e teses.
O fichamento é feito geralmente, quando ao lermos um texto, começamos a assinalá-lo, para
lembrarmos que aquele tópico, ou aquele parágrafo, ou frase pode servir posteriormente. Esse tipo de
‘’texto’’ funciona como apontamento que poderá ser usado num texto mais longo a ser produzido com
perspectiva a apresentar pontos de vistas sobre a temática.
Para melhor orientação, o fichamento pode ser feito em fichas ou catalogados em papel ou mesmo
arquivados no computador. O fichamento pode ser feito através de citação direta ou indireta. O objetivo de
fichar advém da necessidade de retomar o texto na hora de você, pesquisador e produtor de texto,
LETRAS LIBRAS| 82
escrever sobre o assunto escolhido. O fichamento pode ser feito em citação direta ou indireta, que lhe
permitam retomar exatamente o lugar onde você a encontrou. Para isso é importante iniciar o fichamento,
apresentando o material de onde foi retirado o trecho, como podemos ver no esboço de fichamento a
seguir:
FICHAMENTO
(citação indireta) O estudo sobre Língua de Sinais Brasileira é recente, sobretudo, no que concerne
à variação linguística regional e social. (p.51)
(citação direta) “... já existem notáveis pesquisas sobre a linguística da língua de sinais brasileira e
inúmeras outras avançam neste sentido...” (p. 51)
(citação direta) “ A linguagem reflete o cotidiano em que o homem vive e para chegar a transmitir
aquilo que pensa, o surdo tenta fazer uma aproximação com o real durante a comunicação,
principalmente quando está diante de uma pessoa que não domine a sua linguagem natural.’’ (p.55)
Apesar de existir tipos diferentes de fichas (cf. Marconi e Lakatos: 2005, p.56) a depender do que se
pretende alcançar ao redigi-las, priorizamos neste momento apenas o fichamento de citações, por
entendermos a necessidade de iniciar, desde as primeiras disciplinas da graduação, o trabalho de fichar
artigos, livros e demais trabalhos acadêmicos com vistas á elaboração de textos dos graduandos, inclusive o
TCC e artigos a serem publicados em eventos e revistas de circulação da área.
Apesar de existir tipos diferentes de fichas (cf. Marconi e Lakatos: 2005, p.56) a Apesar de
Apesar de existir tipos diferentes de fichas (cf. Marconi e Lakatos: 2005, p.56) a existir tipos
diferentes de fichas (cf. Marconi e Lakatos: 2005, p.56) a depender do que se pretende alcançar ao redigi-
las, priorizamos neste momento apenas o fichamento de citações, por entendermos a necessidade de
iniciar, desde as primeiras disciplinas da graduação, o trabalho de fichar artigos, livros e demais trabalhos
acadêmicos com vistas à elaboração de textos dos graduandos, inclusive o TCC e artigos a serem publicados
em eventos e revistas de circulação da área.
Outra forma de dar sentido e funcionalidade à leitura do texto é a prática de resumir. Pois ao lado
do fichamento, o resumo auxilia na tentativa de explicitar um primeiro entendimento da ideia do autor.
Diferentemente do fichamento, o resumo tem um cunho mais dialógico entre leitor e autor e a escrita
acontece de maneira mais sequenciada e por isso é necessário ter uma visão global do texto em estudo,
dispensando o uso de citação direta na sua escritura.
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Segundo Machado, Lousada e Abreu-Tardelli (2004a, p.25) há processos mentais que são
essenciais na produção do resumo. Merece destaque a sumarização, que segue procedimentos lógicos de
retirada e/ou substituição de elementos não muito preponderantes ao entendimento do texto, tais como:
Todos esses procedimentos são facilitados se há um conhecimento sobre o autor, a ideologia que
subjaz a sua escrita, seu posicionamento teórico entre outros, pois é a partir da ciência destes aspectos
pertinentes ao texto que podemos detectar o que o autor coloca como relevante ou não. É preciso, mesmo
antes resumir, como dizem as autoras supracitadas (2004, p.39), identificar a questão que é discutida no
texto, a posição ou tese que o autor rejeita ou defende, os argumentos que o levam a sustentar as posições
que defende ou refuta e, finalmente, as conclusões a que chega.
Tanto o fichamento, quanto o resumo e a resenha são textos sobre outro texto, de outro autor,
sobretudo, no resumo e na resenha é necessário que dentro do próprio texto isso fique claro. Portanto, é
necessário mencionar que se trata de ideias de outro autor, não de quem está resumindo ou resenhando. É
recomendável que a menção ao autor do texto original seja constante ou já fique expressa nas primeiras
linhas do resumo.
Outro aspecto relevante na produção textual de forma geral e, mais especificamente, no caso do
resumo e da resenha é a clareza e a coerência, marcadas por meio dos organizadores textuais ou
conectivos que servem para indicar a relação entre as ideias do texto. O uso dos conectivos e dessas
relações é preponderante para que se mantenha a fidelidade ao texto original.
Vemos até o momento que há muitos pontos convergência e divergência entre o que vem a ser
uma resenha e o que é um resumo. Há quem considere que existem tipos de resumo e que, talvez, a
resenha venha a ser um tipo de resumo. Para facilitar nosso entendimento pensemos que há objetivos
diferentes ao produzirmos resenha e resumo. O resumo pode ter apenas o objetivo de informar sem
maiores esclarecimentos ou detalhes contidos no texto original. Esse tipo de resumo é considerado por
alguns como sendo um resumo indicativo. Há quem considere que aquele resumo contendo informações
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mais precisa e detalhada, mesmo que de forma geral, como é feito nos relatórios de pesquisa, nos quais a
presença da metodologia, finalidades e objetivos do estudo realizado se fazem presentes, é considerado
como resumo informativo. Há também o resumo critico ou a já tão propagada neste material resenha que,
além de trazer um resumo, faz, obrigatoriamente uma análise crítica sobre o texto resenhado.
A resenha traz inicialmente em sua estrutura informações sobre o contexto e o tema abordado na
obra original, seguida de uma descrição estrutural da obra, que pode ser feita por capítulos. Logo após o
resenhista faz uma apreciação, na qual apresenta pontos positivos e negativos da forma como a temática é
abordada pelo autor. Finalmente, o resenhista conclui explicitando e reafirmando seu posicionamento em
relação ao texto original. como colocam Machado, Lousada e Abreu-Tardelli (2004b, p.114)
É importante lembrar que ao resenharmos o texto, nossos posicionamentos devem primar pelas
regras de polidez, o que nos permite evitar agressão ao que o autor escreveu. A polidez pode se fazer
presente no texto por meio de recursos linguísticos, ou seja, expressões e tempos verbais que surgem
como atenuantes de uma discordância de opinião em relação à posição tomada pelo autor na obra.
Mas, para além da escrita da resenha, estão os processos que nos levam a posicionarmos a favor
ou contra o ponto de vista do autor. Nesse sentido podemos pensar: o que fazer, para que nós enquanto
resenhistas, cheguemos ao posicionamento crítico? Voltamos à questão inicial... façamos uma leitura ativa
e dialógica, colocando as nossas dúvidas e opiniões sobre o assunto, o que nos é permitido por meio do
entrosamento e com a temática e por leituras anteriores sobre o assunto e, consequentemente, teremos
competência suficiente para confrontarmos ideias e opiniões, alcançada com a leitura do texto, do
contexto situacional e com a leitura de mundo tão propagada pelo filósofo e educador Paulo Freire.
Outro tipo de guia de leitura que pode ser utilizado é o diário de leitura (cf. MACHADO, LOUSADA e
ABREU-TARDELLI, 2007) que, juntamente com fichamento, resumo e resenha, auxilia na futura escrita dos
textos técnico-científico, visto que todo levantamento realizado durante a pesquisa deve ser registrado
nele, desde o levantamento da bibliografia a todas as reações que temos diante da leitura, inclusive as
dificuldades encontradas em realizar o levantamento, as reflexões, as dúvidas. Munido de tais materiais, é
possível começar a pesquisa e a elaboração do projeto e, a posteriori, a produção do Artigo científico, do
TCC, da Monografia, da Dissertação e da Tese.
Nos dois próximos capítulos, abordaremos a pesquisa e o projeto para a realização do trabalho
exigido no final do curso: Artigo científico.
Resumindo o capítulo
LETRAS LIBRAS | 85
O fichamento, o resumo e a resenha são produções textuais que auxiliam na leitura e releitura
do texto.
As leituras acompanhadas dos produtos imediatos gerados dessas leituras (fichamentos,
resumos, resenhas e mesmo os chamados diários de leitura) preparam para a escrita de textos
acadêmicos com os mais diversos fins.
Refletindo e escrevendo
Agora a
palavra é
sua Releia resumos, fichamentos e resenhas produzidos
por você, no semestre 2010.1 e veja o que você
alteraria neles, após os apontamentos feitos acima.
Procure livros e mesmo na internet sobre resenha,
resume e fichamento. Cruze o conhecimento adquirido
neste capítulo, com o obtido nesta sua pesquisa.
LETRAS LIBRAS| 86
UNIDADE 4
A pesquisa científica
Prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Eu quero dizer
Agora, o oposto do que eu disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
(Raul Seixas)
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Para considerarmos o estudo de um fenômeno ou o corpo de conhecimentos como a trata Houaiss,
ou ainda o conjunto de proposições como ciência, é necessário reconhecermos que esta tem um objeto,
plausível de estudo; uma funcionalidade ou utilidade que faz com que o conhecimento se desenvolva; um
método a ser aplicado para se comprovar as dúvidas ou hipóteses levantadas sobre o assunto e, ainda,
objetivos a serem alcançados com o estudo feito. Todos esses elementos pertinentes à ciência auxiliam
para aperfeiçoar o conhecimento, em geral, e especificamente o conhecimento científico. É, neste sentido,
o conhecimento científico real, baseado em fatos e tem suas hipóteses comprovadas por meio de
experiências realizadas, sobretudo, na chamada pesquisa de campo e/ou bibliográfica.
Até o momento, conceituamos ciência, conhecimento científico; precisamos no momento
conceituar pesquisa e definir como podemos realizá-la. Como já vimos anteriormente pesquisar é ter uma
atitude curiosa diante de um determinado objeto. Tal curiosidade nos faz levantar alguns questionamentos
sobre o tema escolhido. O questionamento ou questão levantada não deve ser muito ampla, nem vaga;
deve existir uma certa precisão no que temos dúvida.
Segundo Marconi e Lakatos (2005, p. 157) a pesquisa é procedimento formal que possui como
método o pensamento reflexivo e, quando tem cunho científico, como pretendemos colocar nesta
disciplina, busca conhecer a realidade e descobrir verdades não absolutas de forma ordenada e sistemática.
Portanto, é necessário que façamos um bom planejamento de pesquisa, que pode compreender os
seguintes passos:
LETRAS LIBRAS| 88
parciais sobre o objeto pesquisado. Esse planejamento auxilia no amadurecimento do projeto de pesquisa
e na sua escrita, bem como permite termos uma previsão de textos acadêmicos mais variados desde o
relatório de pesquisa a artigos, TCC, Monografias, Dissertações e Teses.
.
Resumindo o capítulo
Refletindo e escrevendo
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UNIDADE 5
... o pesquisador, assim como o artista, dá de seu lugar, isto é, dá aquilo que somente de sua posição, e
portanto com seus valores, é possível enxergar.
(Marília Amorim, 2007; p.14)
LETRAS LIBRAS| 90
convence a escolha do tema e sua relevância. Deve constar de discussões já feitas sobre o tema e o que a
presente traz de novidade.
Em seguida, o projeto deve conter a descrição do objeto a ser estudado, com o problema
levantado, as hipóteses e suas variáveis. Importante lembrar que a hipótese é um enunciado geral me em
relação a duas variáveis. Segundo Andrade (1998, p.123) e as variáveis são fatores ou circunstâncias que
influenciam diretamente ou indiretamente o fenômeno a ser investigado. Apresentam valores de
quantidade e/ ou qualidade, características do fenômeno investigado. São assim chamadas por variarem,
podendo assumir aspectos diferentes em cada pesquisa.
Outra parte projeto de extrema importância é a metodologia escolhida, ou o como o projeto será
desenvolvido. Nesta etapa, escolhemos os procedimentos a serem realizados e o universo da pesquisa, ou
seja, descrevemos todos os elementos (questionários, entrevistas etc) e os indivíduos que teremos acesso
durante a realização da pesquisa.
Feito os levantamentos bibliográficos colocados na unidade 2 e a elaboração de resenhas, resumos,
fichamentos, ao lado de todas as averiguações anteriormente citadas, o próximo passo da elaboração do
projeto é o embasamento teórico, no qual tentamos alinhar as nossas ideias às teorias já existentes. Nesse
momento da escrita do projeto, colocamos os termos dos quais nos utilizaremos durante a pesquisa.
É preciso, finalmente definir o espaço de tempo para realizar cada passo da pesquisa, por isso
definimos o cronograma a ser cumprido.
Durante o projeto, citamos obras e autores, os quais devem aparecer nas referências bibliográficas.
A escrita e sistematização do projeto finaliza com as referências bibliográficas, que nortearão o trabalho de
pesquisa. A partir de então, é ir direto á pesquisa e várias produções de textos acadêmicos: relatórios de
pesquisa, Monografia, Dissertação, Tese e artigos acadêmicos.
Como já mencionamos anteriormente, este último gênero (artigo acadêmico) terá lugar de
destaque na conclusão desta graduação. Por este motivo, daremos algumas orientações de como o artigo
poderá ser feito.
Entre as muitas etapas da escrita do artigo, é importante lembrar o planejamento que fazemos antes de
começá-lo. O primeiro elemento que deve ser observado é a condição de escrita... onde o artigo vai ser
veiculado... é numa revista ou é só para o professor avaliar seu nível de escrita? A quem se dirige o texto?
É bom lembrar que se trata de um texto científico e passará pelos olhos curiosos de pessoas
estudiosas da mesma temática e de temáticas diferentes; estudiosos que concordam com a teoria em que
nos baseamos e que também podem discordar dela. Por isso é importante estarmos seguros da teoria na
qual nos baseamos, considerarmos a lógica científica.
Mais uma vez ressaltamos a necessidade da escolha de um bom tema, que interesse à comunidade
acadêmica e que venha gerar dúvidas e buscar soluções.
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A estrutura do artigo tem basicamente os mesmos elementos colocados na unidade 2 e algumas
coisas pertinentes ao projeto. Mas é importante lembrar que o título deve aguçar a curiosidade do leitor.
A introdução deve seguir as mesmas orientações expostas na unidade 2. Uma boa maneira de
verificar se a introdução contempla todas as partes do trabalho e se é possível fazer um resumo ou
esquema a partir do que está exposto na introdução.
O desenvolvimento pode ser dividido em partes que teorize, analise e apresente situações e
soluções que condigam com o que você se propôs a estudar.
A conclusão sintetiza o trabalho, apresentando indicação de continuidade da pesquisa, ou apenas
conclui o pensamento exposto no trabalho.
Resumindo o capítulo
O projeto de pesquisa e o artigo científico têm elementos comuns na sua estrutura.
Tanto o projeto como o artigo precisa de planejamento e de visualização dos objetivos e
justificativa.
Refletindo e escrevendo
Agora a
palavra é
sua
1. Releia as atividades que você fez nas unidades
anteriores e veja o que você mudaria nelas;
2. Tente pensar em um projeto e um artigo seu a partir
do tema escolhido por você.
Referências
AMORIM, M. A contribuição de Mikhail Baakhtin: a tripla articulação ética, estética e epistemológica. In: FREITAS,
M.T.; SOUZA, S. J.; KRAMER, S. Ciencias humanas e pesquisa: leituras de Mikhail Bakhtin. 2.ed. São Paulo: Cortez,
2007. p. 11-25
ANDRADE, M.M. Introdução à metodologia do trabalho científico: elaboração de trabalhos na graduação. 3. ed. São
Paulo: Atlas, 1998.
ECO, U. Como se faz uma tese. 15 ed. São Paulo: Perspectiva, 1977.
HOUAISS, A. e VILLAR, M.S. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: objetiva, 2001.
MACHADO, A. R.; LOUSADA, E.G.; ABREU-TARDELLI, L.S. Resumo. Leitura e produção de texto técnicos e acadêmicos.
Vol 1. São Paulo: Parábola, 2004a.
___________. Planejar gêneros acadêmicos: escrita científica- texto acadêmico- diário de pesquisa-metodologia.
Vol.3. São Paulo: Parábola, 2005.
___________. Resenha. Leitura e produção de texto técnicos e acadêmicos. Vol 2. São Paulo: Parábola, 2004b.
___________. Trabalhos de pesquisa: diários de leitura para a revisão bibliográfica. São Paulo: Parábola, 2007.
MACHADO, A.M. Contracorrente, conversa sobre leitura e política. São Paulo: Ática, 1999.
MARCONI, M. A; LAKATOS. Fundamentos de metodologia científica. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2005.
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FUNDAMENTOS
SÓCIO-HISTÓRICOS
DA EDUCAÇÃO
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LETRAS LIBRAS| 94
FUNDAMENTOS SÓCIO-
HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO
APRESENTAÇÃO
I UNIDADE:
As diferenças pedagógicas e o tratamento da diversidade
Modelos pedagógicos e tratamento da diversidade: pedagogias disciplinares, corretivas e
psicológicas;
II UNIDADE:
Cultura, Estudos Culturais e Educação
Educação e Cultura
III UNIDADE
Mecanismos disciplinares e a formação escolar de surdos
A resistência dos surdos
A língua de sinais e a escola de surdos
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UNIDADE I
www.catherineshafer.com/theorists.html
A pedagogia moderna define certos pontos de chegada a partir da utilização de estratégias e meios
conduzidos para se atingir os ideais almejados. Esses ideais funcionam como utopias. As utopias são
discursos construtores de pensamentos que são possíveis de se realizarem. As utopias ainda permitem
formular juízos acerca de fatos que ora se aproximam ora se afastam dos objetivos esperados.
Comenius,.pedagogo morávio, perseguia um “ideal pansófico” cujos princípios
contêm em si o seguinte objetivo: “ensinar tudo a todos”. O ideal pedagógico de
Comenius contém sentidos que sustentam a ideia de que “todos tem que saber de
tudo”, e que os educadores devem “ensinar tudo a todos”
O princípio que conduz o discurso de Comenius e que funciona como elemento
chave para qualquer tipo de pedagogia é de que o homem possui aptidões necessárias para receber uma
formação. O homem, defende Comenius, é educável por natureza, ele é portador da educabilidade.
Comenius propõe que a utopia da sabedoria e do dever oriente as ações dos educadores, isto é,
deve-se educar a todos: ao homem, à mulher, ao rico, ao pobre.
O pedagogo ainda chama a atenção da importância de que todos tenham acesso ao conhecimento,
mas ele destaca que a qualidade dos conteúdos deve ser considerada tanto quanto à extensão dos recursos
a serem repassados, isto é, a preocupação não é só com o método mais adequado. As reflexões de
Comenius dizem respeito à importância de um conhecimento científico que funcione como um
conhecimento socialmente válido e constitutivo da condição humana.
A possibilidade de o homem ser escolarizado, isto é, a educabilidade explica a pansofia. A natureza
educável do homem leva Comenius a entender que os homens devem ser instruídos, dada a capacidade de
seu entendimento e de sua dedicação para o conhecimento.
O pedagogo pensa num ensino escolar generalizado que cause a inclusão de todos, tal argumento
confirma ideal pedagógico de que todos tem condição de serem escolarizados e isso deve ser permitido ao
homem, mulher, pobre ou rico devem ingressar na escola.
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A noção da diferença no discurso de Comenius se explica pela educabilidade dos sujeitos. Esses
sujeitos possuem características e aptidões que podem ser reconhecidas no conjunto dos alunos.
Diferenças que não constituem um impedimento para a educação, as diferentes aptidões “são
excessos e defeitos da natureza que devem ser estabelecidos”.
Para isso, Comenius defende a importância do método ser apropriado aos entendimentos
intermediários. O método deve intervir para acabar com as diferenças, quando tais diferenças não
oferecerem as condições adequadas para receber a educação. O professor deve, diante de problemas
relacionados à educabilidade, agir sobre os alunos para restituir-lhes o desejo de aprender, aproximando-
os do ideal pedagógico de Comenius, para que possam percorrer o processo escolar com facilidade.
Medidas disciplinares também podem ajudar no reconhecimento da diversidade de aptidões. Para
Comenius, a motivação e a disciplina são medidas corretivas para devolver nos alunos a condição excelente
de educabilidade.
A utopia de Comenius se completa com o seguinte ideal educativo: “proceder conforme os
princípios subjacentes ao homem.”
A diversidade não implica a necessidade de criação de diversos métodos, pois o que se afasta do
padrão de normalidade, será em algum momento corrigido. O método deve se adequar com a natureza
educável do homem, objetivando acabar com as diferenças.
Nesse sentido, Comenius defende a necessidade de se adotar a pansofia, ou seja, é desejável e
possível, argumenta o pedagogo, “ensinar tudo a todos” e a todos na escola.
LETRAS LIBRAS | 97
legítimos e na constituição de subjetividades específicas. Para Júlia Varela, categorias espaços-temporais,
poder, pedagogias, saberes e sujeitos constituem dimensões que se interelacionam e se ramificam nas
instituições educativas.
A autora nos apresenta três modelos pedagógicos produzidos por modelos históricos distintos: Os
três modelos pedagógicos são: as pedagogias disciplinares, pedagogias corretivas e pedagogias
psicológicas.
Esses modelos pedagógicos têm conseqüências nas concepções de espaço e de tempo, diferentes
modos de exercício do poder, diferentes modos de atribuir um estatuto do saber e ainda na produção de
subjetidades.
Os sociólogos clássicos, em especial Marx, Weber e Durkheim argumentam que a individualização
é um dos traços da Modernidade. No século XVIII, com a criação dos Estados modernos tal procedimento
cresce e se amplia a partir da ligação com a crescente divisão social do trabalho, o aumento da densidade
da população nas cidades e ainda o aumento da propriedade privada
A autora ainda mostra que, na segunda metade do século XVI, se configuram novos modelos de
educação que regulam a socialização das novas gerações pertencentes a grupos sociais dominantes.
Com o início da Modernidade, o homem deve se tornar “civilizado” e cada vez mais individualizado.
PEDAGOGIAS DISCIPLINARES
LETRAS LIBRAS| 98
nas instituições escolares. As tecnologias disciplinares que produziram novos saberes e novos sujeitos agem
por meio de uma nova organização do espaço e do tempo. O que significa a existência de um tempo e um
espaço disciplinares.
O espaço disciplinar não se prende apenas a uma clausura. Ao indivíduo é destinado um lugar de
modo que ele seja vigiado e localizado permanentemente.
Foucault considerava os colégios religiosos e os quartéis como locais onde se utilizavam as
tecnologias disciplinares.
As pedagogias disciplinares também provocam mudanças importantes em relação ao tempo. O
tempo disciplinar estabelece na prática pedagógica o tempo da formação escolar.
A disciplina procede em primeiro lugar a distribuição dos indivíduos no espaço, utilizando
diferentes técnicas que, segundo Foucault, eram entre outras:
LETRAS LIBRAS | 99
Os colégios jesuítas em muito contribuíram para configurar um espaço disciplinar em série.
Algumas classificações utilizadas como procedimentos de distribuição e divisão dos alunos no espaço
escolar a partir do século XVIII nos são apresentados por Júlia Varela: filas de alunos na classe, nos
corredores, na Igreja e nas excursões. Os exames cujos resultados atribuem avaliação a cada aluno.
As pedagogias disciplinares trazem também mudanças importantes com relação ao tempo. O
tempo disciplinar estabelece o tempo de formação escolar e ainda organiza os diferentes níveis de
aprendizagem. Esses níveis ou etapas de aprendizagem envolvem exames com grau de dificuldade cada vez
maior.
O modelo em que a aprendizagem era confirmada por meio de uma única prova se desfaz. A nova
forma de entender permite um controle maior do processo de aprendizagem de todos e de cada aluno.
Nesse modelo, o espaço escolar, para Varela, funciona com uma máquina de aprender e permite ao
professor interferir para castigar, corrigir e normalizar os educandos.
O principal dispositivo utilizado pelas disciplinas é o exame que se estabeleceu em várias
instituições como os quartéis, colégios e hospitais e também se aplicou a outros campos abertos como
higiene, entre outros.
PEDAGOGIAS CORRETIVAS
Streck nos mostra que, para Rousseau, havia dois tipos de metáforas: as
orgânicas (a educação requer os mesmos cuidados que o crescimento de uma planta) e
as mecânicas (a escola como uma gráfica ou o ser humano como relógio). Em Rosseau,
há necessidades e limites da natureza ou da sociedade que delimitam o processo
formativo.
PEDAGOGIAS PSICOLÓGICAS
Muitos representantes da Escola Nova 4 eram médicos ou especialistas ligados à clínica, isso
justifica o interesse para as funções profiláticas e terapêuticas da educação.
Esse modelo passa a ter uma posição privilegiada em relação a pedagogias tradicionais ou
disciplinares.
As perspectivas apresentadas por eles se intensificaram. O campo da psicologia escolar se ampliou;
psicologia da aprendizagem, psicologia genética, psicologia infantil e outras.
4
Escola Nova é um dos nomes dados a um movimento de renovação do ensino que foi especialmente forte na Europa,
na América e no Brasil, na primeira metade do século http://www.educador.brasilescola.com/gestao-
educacional/escola-nova.htm XX .
Nos dias de hoje, parece se tornar cada vez mais visíveis as diferenças culturais. Também têm sido
muito freqüentes as disputas sobre a diferença e entre os diferentes.
As discussões sobre o que seja cultura sobre o que seja educação e as relações entre ambas fazem
de tais disputas.
As questões culturais tem sido objeto de interesse de diferentes setores e a instituição educativa
constitui uma delas.
A centralidade que se dá a cultura para se refletir sobre o mundo é justificada não por que se deve
adotar a cultura como um lugar superior as demais áreas de conhecimento como a política, a econômica, a
educacional, mas a sua centralidade se dá por atravessar tudo o que acontece nas nossas vidas e todas as
representações que fazemos desses acontecimentos. (HALL, 1997).
Ao longo dos dois ou três séculos, as discussões sobre a Cultura e a educação tenham sido pouco
profundos. Por muito tempo, a modernidade não questionou os conceitos de Cultura e educação.
Acreditou-se, de um modo geral e sem maiores questionamentos, que cultura designava o
conjunto de tudo aquilo que a humanidade havia produzido de melhor em diferentes campos, como
artísticos, filosóficos, científicos, etc. Por isso, a cultura foi considerada por muito tempo como única e
universal. Veiga-Neto destaca que única porque se referia àquilo de melhor havia sido produzido e
universal porque se referia à humanidade um conceito totalizante, sem exterioridade.
A educação era entendida como o caminho para chegar às formas mais superiores da Cultura,
tendo por modelo as conquistas já realizadas pelos grupos sociais mais educados e, por isso, mais cultos.
EDUCAÇÃO E CULTURA
A estudiosa Maura Lopes nos conta que uma das principais preocupações
dos instrutores de surdos nobres era a possibilidade que cada surdo se aproximasse
dos demais.
Evitavam-se principalmente possíveis encontros entre os surdos nobres e os
outros, a preocupação maior era manter a diferença entre esses diferentes.
Os filhos de pobres eram recolhidos por instituições de caridade. Por isso, o
processo educacional separou de forma progressiva o modo educativo das instituições em dois tipos:
instituições para nobres e instituições para pobres.
Para os estudantes nobres, é destinado o conhecimento científico, para os pobres alguns
conhecimentos que lhe permitiram ser servis.
A partir da modernização do discurso pedagógico, a escola se apropria de saberes científicos para
classificar a infância em fases de desenvolvimento e para representar a juventude como um período ora
perturbado, ora promissor.
A educação das crianças e dos jovens está de tal maneira voltada para a escola que as famílias
atribuem à escola a responsabilidade pela orientação de seus filhos.
As famílias de surdos encontram nas escolas, em regime de internato, uma forma de garantir o
desenvolvimento dos filhos. A surdez, compreendida como um problema de saúde, castigo ou algo a ser
corrigido, era tratada de forma a diminuir seus efeitos aparentes, fazendo-se os sujeitos surdos falarem
com se fossem ouvintes.
Em trabalhos do século XVIII, há relatos que apontam como era tida como incompreensível a
educação dos surdos, principalmente no que se refere aos métodos de ensino que adotavam a oralização.
Na história da surdez, verifica-se que o enfoque clínico reabilitador se impôs em relação a outros.
Dificultando até certo ponto a compreensão da surdez fora de uma lógica normalizadora.
Mas, os surdos resistem às práticas ouvintistas, corretivas e normalizadoras que se orientam pelo
enfoque clínico reabilitador.
Outros saberes principalmente a Antropologia, a Sociologia, os Estudos Culturais e a Pedagogia
contribuíram fora do registro terapêutico para outra inscrição dos surdos, a inscrição no registro
culturalista.
Para Lopes, os surdos, ao se organizarem, lutam e resistem aos modelos dos saberes e a própria
ordem dos documentos oficiais.
Mesmo diante dessas conquistas, para Lopes, ainda falta o reconhecimento dos surdos como um
grupo cultural que precisa de um espaço geográfico para acontecer e que suas lutas, pelo permanente
reconhecimento de sua diferença possam um dia cessar. E conclui a autora: “Ser surdo é viver
permanentemente reivindicando um olhar do outro sobre si e viver permanentemente suspeitando de seu
próprio olhar sobre si mesmo.”
Referências
BRITO, Lucinda Ferreira. Integração social & educação de surdos. Belo Horizonte: Autêntica,2006.
HALL, Stuart, (1997). A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso tempo.
Educação & Realidade, v. 22, n° 2, jul./dez., p. 17-46.
LOPES. Maura Corcini. Surdez & educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2007
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 1997.
NARODOWSKI, Mariano. Comenius e a educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2001
SKLIAR, Carlos. A invenção e a exclusão da alteridade “ deficiente” a partir dos significados da normalidade.
Educação e realidade. Porto Alegre, v. 24, n. 2, jul/dez., 1999.
STRECK, D. R. Rousseau e a Educação. Rousseau e a Educação. Belo Horizonte: NARODOWSKI VARELA, Julia.
Categorias espaço-temporais e socialização escolar: do individualismo ao narcisismo. IN: COSTA, Marisa
Vorraber (Org.). Escola básica na virada do século: cultura.política e currículo. São Paulo: Cortez, 1996.
VEIGA-NETO, Alfredo. Cultura, culturas e educação. Revista Brasileira de Educação, Campinas: Autores
Associados; Rio de Janeiro: ANPEd, n. 23, p. 5-15, maio/ago. 2003. Número especial.
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
Introdução
Esta é a última disciplina de nosso curso que vai tratar pontualmente das questões teóricas desta
importante ciência que é a Lingüística. Importante àqueles que trabalham ou pesquisam sobre as ciências
humanas e indispensável para os que lidam e estudam a língua, seja ela qual for, inclusive a Libras.
Assim, nosso convite é de que você procure estudar nosso material, nossas indicações e assistir
nossas aulas, entendendo que o nosso principal objetivo é possibilitar que você reflita a língua, inclusive, a
LIBRAS.
O desafio em estudar sobre tais conteúdos, não é tarefa simples para qualquer estudante, e, ás
vezes, para nós professores também o é, no entanto, o desafio - tenham certeza - é nosso (professor e
tutora), pois queremos fazer deste curso uma possibilidade concreta de que vocês possam pensar a língua
sob uma ótica científica e teórica.
Retomando
Como dissemos na introdução, esta é a segunda disciplina que trataremos sobre os estudos
lingüísticos, por isto vamos retomar alguns conceitos já apresentados na disciplina Fundamentos de
Lingüística com o professor Jan Edson R. Leite, a partir de agora citado como: LEITE, 2010.
É muito importante que as leituras anteriormente mencionadas sejam (re)feitas, pois serão ponto
de partida para nossos estudos.
Após terem feito tais (re)leituras, sugiro que reflitam sobre a situação seguinte. Imagine que você
está em uma entrevista de emprego para trabalhar com o ensino de língua (português ou Libras).
As perguntas são pessoais, por isso, podem ter qualquer resposta. O importante é que consiga
relacionar suas respostas aos seus conhecimentos sobre as línguas. Se você fez isto, começou, então, a
refletir a língua e a perceber que em termos de conhecimentos lingüísticos, aquisição de língua e tudo que
se relaciona a tais questionamentos, nem tudo é tão pacífico e simples de se responder.
Nesta direção, realize a atividade proposta a seguir.
Observem que as perguntas podem ser bem diferentes e, se não o forem, ainda podem sugerir
posturas diferentes diante de um mesmo questionamento, isto é, para as reflexões sobre os estudos da
linguagem é preciso considerar que não basta a opinião de quem fala, escreve, gesticula ou lê a língua, é
necessário que se compreenda como as coisas de fato são e não como deveriam ser. Por exemplo, será que
todas as vezes que você se expressa, por meio da libras, "- Estou com muita fome", o sinal é o mesmo ? E se
quem diz, estiver sem comer há pelo menos 3 dias (como ocorre com vários países miseráveis espalhados
pela África , por exemplo) ? Ou se for dito por alguém que acabou de comer um hamburger e quer uma
sobremesa?
Esta é a diferença daqueles que apenas utilizam a língua para aqueles que sobre ela refletem.
Enfim, este é nosso convite:
Seguindo a lógica proposta na unidade I: “refletir sobre a língua, considerando os estudos teóricos
da ciência Lingüística”, pretende-se, nesta etapa de nosso material, indicar duas tendências que costumam
motivar, direcionar e estimular as reflexões sobre a língua/linguagem: o formalismo e o funcionalismo.
Vale ressaltar que as prerrogativas aqui sugeridas não vão tratar das correntes lingüísticas, mas das
possibilidades de estudos que podem ocorrer, sob a influência de tais tendências. Sugiro a seguir uma
definição geral, conforme Castilho (2002, p.23-25):
A título de reforço, apresentamos a posição de Martelota & Areas (2003, p. 20) no que se refere ao
mesmo par: formalismo e funcionalismo:
Por outro lado, conforme, Nepomuceno & Muniz (2009) os funcionalistas se detém nas relações
entre a língua como um todo e as diversas modalidades de interação social, destacando a relevância do
contexto social na compreensão da natureza das línguas. Por isso,
ao contextualizar os fatos gramaticais na situação de fala que os gerou, toma como ponto
de partida as significações das expressões linguísticas, indagando como elas se codificam
gramaticalmente (CASTILHO, 1994, p.76).
A partir do exposto, como passo seguinte, pode-se associar a noção de FORMA e FUNÇÃO,
respectivamente, ao formalismo e ao funcionalismo. Nesta ótica, verificando-se forma e função como
pontos de partida para cada tendência, serão feitas as considerações sobre o assunto.
De fato, o fenômeno da língua pode ser o mesmo, o que realmente muda é a abordagem e a
proeminência que se pode ou se quer atribuir a este fenômeno, conforme os interesses de cada tendência.
Por exemplo, pensemos numa situação prática. Criemos uma situação hipotética, na tentava de
possibilitar melhor visualização do debate.
• dois professores vão trabalhar em seus programas de aula, o seguinte conteúdo, previsto no
programa da disciplina: ortografia (em libras ou língua portuguesa). Cada um tem suas
estratégias para chegar aos seus objetivos, porém um tem uma linha de pesquisa mais
formalista e o outro mais funcionalista, forma é mais valorizada por um e a função por outro.
Professor 02: refletir sobre quais efeitos podem ocorrer numa entrevista de emprego, se um
candidato escrever a palavra SUCESSO, da seguinte maneira: "çuceso". Ou em Libras ao invés de entender
sábado entender suco de laranja.
Diante das duas situações, qual dos professores tem uma postura mais formalista? Quais motivos
fazem com que você pense desta maneira?
Vou responder, posso? Mais um minuto.
Primeiramente, é importante que se observe que nos dois casos, ambos os professores estão
trabalhando com o mesmo elemento, numa mesma língua. O que de fato muda são as prerrogativas de
cada professor, seus anseios e suas preocupações, enquanto professor de língua portuguesa ou libras.
Esta reflexão traz à tona a questão de que cada um de vocês, enquanto estudiosos da língua, hão
de assumir uma posição mais ou menos formalista. Isto acontecerá não por imposição, mas por
preferência, identificação com cada tendência. Consequentemente, isto vai espelhar-se em suas práticas
como professor, suas avaliações e seus objetivos.
Enfim, a partir desta unidade, é preciso que você possa ter uma opinião mais clara do que representam
os estudos de ótica formalista e os de ótica funcionalista, compreendendo que, conforme a abordagem, os
resultados obtidos da análise do fenômeno lingüístico podem se apresentar distintas entre si.
A partir das próximas unidades, toda vez que vocês encontrarem os termos: formalismo,
funcionalismo, forma e função lingüística saberão, ao menos, em que consiste, em seu bojo, o estudo que
está sendo proposto.
Referencias
L Seminário do Grupo de Estudos Lingüísticos do Estado de São Paulo. FFLCH / USP, 23-25 de maio de 2002.
Ataliba de Castilho.LINGÜÍSTICA COGNITIVA E TRADIÇÃO FUNCIONALISTA
CUNHA, Maria Angélica Furtado da; Mariangela Rios de Oliveira & Mário Eduardo Martelotta (orgs.).
Lingüística funcional: teoria e prática. Rio de Janeiro: DP&A/ Faperj, 2003
DILLINGER, Mike. Forma e função na Linguística, In: DELTA, vol.7, n.1, 1991, p. 395-407.
NEPOMUCENO, A. R. ; MUNIZ, Maria Iêda Almeida . Formalismo e Funcionalismo. Interletras (Dourados), v.
2, p. 10, 2009.
Saussure é considerado por muitos o pai a Lingüística. Aquele que trouxe para o ambiente dos
estudos lingüísticos o status de ciência, em pleno século XX. Vários motivos colaboraram para que esta
constatação se confirmasse e, dentre outros motivos, podem-se citar a definição do objeto de estudo da
Linguística e seus métodos e princípios. Efetivamente esclarecidos e demonstrados, mais precisamente, na
obra Curso de Linguística Geral, conforme já sinalizado em nosso instrucional de Fundamentos de
lingüística (LEITE, p. 227-229).
Neste sentido, compreender o pensamento saussuriano talvez seja o primeiro passo importante
para que sejam entendidos os caminhos traçados e os que se percorreram a partir do estabelecimento da
ciência lingüística.
O pensamento de Saussure, na fase do desenvolvimento das idéias contidas na obra Curso de
5
Linguística geral , é predominantemente dicotômico. Este pensamento sustentou e explicou vários dos
princípios propostos por Saussure por vezes aparentemente contraditórios.
Em minhas aulas sobre teorias lingüísticas, encontros presenciais e etc., sobre Saussure, costumo
reforçar e ratificar a compreensão do pensamento dicotômico, pois isto facilita a compreensão da lógica da
lingüística do início do século XX. Relembrada, por exemplo, pelo Círculo Linguístico de Praga – CLP e
outros teóricos dos estudos da linguagem que vieram depois de Saussure.
Vamos então a lógica do pensamento dicotômico. Ressalto, no entanto, que o objetivo desta
unidade não é ainda trabalhar efetivamente com os princípios saussurianos, como por exemplo, de
arbitrariedade, de linearidade dentre outros, mas explicitar o máximo possível em que consiste esta
perspectiva.
Pensemos numa moeda de R$1,00 ou qualquer outra moeda que lhe venha a cabeça:
5
Considerada, por muitos, obra escrita postumamente, por seus discípulos.
É sabido que cada lado da moeda tem seu valor. E aqui não se está atribuindo valor ao que este
termo possa ter com quantidade, mas que cada lado da moeda vale algo. Vejamos:
Nesta imagem vemos o movimento que se faz para se decidir quem começa uma partida de
futebol, por exemplo. Cada um escolhe um lado. E defini-se antecipadamente, por exemplo: “coroa”
campo; “cara” bola.
Diante do exposto até aqui, faço uma pergunta simples:
Quantos lados têm uma moeda?
Dois? Correto. Se decidirmos, numa disputa, que quem tirar “cara” escolhe um lado do campo e
“coroa” fica com a bola, pode-se afirmar que cada lado significa algo, define uma atitude, uma seleção. Isto
quer dizer que embora tenhamos uma mesma moeda, cada lado desta moeda representa ou significa algo.
Do mesmo modo, embora cada lado seja diferente entre si, só existem a partir de uma mesma moeda.
Eis a dicotomia: coisas distintas (não necessariamente opostas), mas que constituem uma mesma
coisa.
Vejamos outro exemplo:
Não se pretende uma análise interpretativa do texto, muito menos literária, mas é possível deduzir-
se duas faces de uma mesma moeda
Referencias
CARVALHO, Castelar de. Para compreender Saussure. 12ª ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. Trad de A. Chelini , José P. Paes e I. Blikstein. São Paulo: Cultrix;
USP, 1969.
praia
LETRAS LIBRAS | 127
Nós respondemos: é um signo, pois representa “praia”. Neste caso, não temos uma imagem, uma
figura. Temos um elemento lingüístico. Um signo lingüístico. Uma “coisa” representada linguisticamente
por um signo.
Mesma pergunta: o que é?
a) bola
b)
c) pedra
d)
Imagine que a partir do exemplo “c” e “d”, eu criasse o signo “pedreira”. Pergunto. O signo
lingüístico “pedreira” é arbitrário ou foi motivado pelo signo pedra? Motivado.
Eis a dicotomia: duas coisas distintas (não necessariamente opostas), mas que constituem uma
mesma coisa.
Duas coisas distintas (significante e significado), mas que constituem uma mesma coisa (o signo
lingüístico). Significante não é significado, significado não é significante, mas só há signo lingüístico se
houver significante e significado.
CARVALHO, Castelar de. Para compreender Saussure. 12ª ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. Trad de A. Chelini , José P. Paes e I. Blikstein. São Paulo:
Cultrix; USP, 1969.
VILELA, M. & KOCH, I. V. Gramática da língua portuguesa. Coimbra: Almeida, 2001.
Seguindo a lógica das unidades III e IV, faremos uma abordagem de outros dois princípios da teoria
saussuriana:
A) O princípio da Linearidade;
B) O princípio da Mutabilidade e imutabilidade do signo lingüístico.
Assim, no que se refere ao signo lingüístico, nenhum fonema pode ocorrer ao mesmo tempo que
outro. Cada um deve ocorrer em tempo e espaço distintos, ainda que numa mesma linha. O mesmo ocorre
com o quirema. Se pretendo representar o signo lingüístico mãe, posso executar quiremas diferentes ao
mesmo tempo?
Eixo: Paradigma
Sintagma
Neste exemplo, fica clara a diferença que há entre o eixo sintagmático (horizontal) e o
paradigmático) vertical. As trocas no sintagma geram mudanças no paradigma por questões lingüísticas.
Cada elemento da língua sugere uma relação com outros elementos e assim por diante. Quando
substituímos “comer” por “beber”, é preciso trocar os outros elementos para que na língua portuguesa, por
exemplo, tudo continue linguisticamente possível.
O mesmo pode ser exemplificado com a libras. Vejamos:
Sintagma
Se houver alteração no eixo paradigmático, isto vai provocar trocas no eixo sintagmático, afinal se
eu deixo de “beber” e passo a “comer”, não posso beber um pedaço de bolo (pelo menos no sentido
denotativo e não-poético da língua). Isto significa dizer que ao trocar o verbo ou qualquer outra estrutura,
pode ser que seja necessário fazerem-se trocas no eixo sintagmático por questões de combinações
paradigmáticas e vice-versa. Afinal, ainda que sejam paradigma e sintagma conceitos distintos, dizem
respeito ao mesmo fenômeno da língua (dicotomia).
Mutabilidade e imutabilidade:
Mais uma vez a noção dicotômica saussuriana. O signo lingüístico é arbitrário (a relação entre Se e
So), consequentemente, a língua é imutável, pois são as convenções e não os usos que determinam este ou
aquele signo. No entanto, por questões de ordem temporal, geográfica e estilística é possível que haja
mudança no signo linguístico, seja no significante(Se) seja no significado (So). Logo, a língua é mutável.
Exemplos:
Fator tempo: “persona” tinha um significado diferente do que tem hoje a palavra que dela derivou:
“pessoa”. Veja no link abaixo nas primeiras páginas do trabalho;
l
No Rio Grande do Sul, provavelmente, os nativos desta região falam: /naciona /, enquanto os do
u
Rio de janeiro falam /naciona /. Esta diferença é provocada por questões de ordem espacial.
Estilístico:
Vejamos o exemplo:
Neste caso a mutabilidade na língua é provocada por questões de estilo. Ocorrência comum no
universo da literatura.
A essência deste movimento é bastante interessante, pois a imaginar que não se tinham os
aparatos tecnológicos de hoje, as trocas de informação, de material e de pesquisas eram feitos via
correspondência. O que por um lado atrapalhava e tornava lento o movimento, por outro, possibilitava o
acesso aos mais diversos tipos de estudos, tanto na literatura quanto na Linguística (esta última já com
status de ciência).
Referencias
MARTINS, Manuel Frias (1995). Uma Teoria da Literatura e da Crítica Literária”, 2ª Edição Revista. Lisboa:
Edições Cosmos.
VACHEK, Josef, (a) A Prague School Reader in Linguistics, Bloomington, 1964; (b) The Linguistic School of
Prague: An Introduction to its Theory and Practice, Bloomington, 1966.
JOHNSON, Marta K. (org.), Recycling the Prague Linguistic Circle, Ann Arbor, 1978.
JAKOBSON, Roman. Linguística e Comunicação. São Paulo, Cultrix, 2005.
Depois de Saussure e Jakobson, Chomsky foi o principal expoente na lingüística do Sec. XX. Nasceu
em 1928 e sua obra "Syntatic Structure" e tantos outros trabalhos voltaram-se principalmente para as
propriedades da sentença que falantes e ouvintes normais conhecem de forma intuitiva.
Embora Chomsky não tenha sido o primeiro a sugerir que humanos teriam uma gramática interna -
Lewis Carrol (1832) e Edward Sapir (1884) já haviam proposto algo semelhante -, Chomsky mergulhou
fundo no assunto e trouxe a tona uma das hipóteses mais importantes para os estudos lingüísticos,
especialmente, para aqueles na direção da aquisição da linguagem.
Incontestavelmente aceita no meio acadêmico para maioria dos estudiosos, esta hipótese sugere
que os seres humanos possuem regras que lhes permitem distinguir frases gramaticais das frases
agramaticais. Por exemplo: ainda que uma criança jamais tenha ido a uma escola, dificilmente fará
combinações lingüísticas que tornem o texto incompreensível (agramatical). Convém explicar que o
conceito de “agramatical” aqui em nada tem a ver com regras da gramática normativa, mas a
incompreensão provocada por combinações lingüísticas que desrespeitam regras básicas de uma
determinada língua. Por exemplo, no português não se combinaria uma frase assim:
“bola a gosto eu muito de”.
Artigo antes do substantivo, por exemplo. Ou frase terminada em preposição.
Veja o exemplo agramatical em Libras no vídeo:
“Ir gostar Conceição praia”.
“outro assunto abordado é a Gramática Universal (GU): a criança já nasce com uma
gramática em sua cabeça - onde estão as regras de todas as línguas. Mas a criança
transforma esta gramática, na gramática de sua língua, retirando só o que é necessário
para o uso e aprendizagem da mesma, descartando o restante.”
“a teoria dos Princípios e Parâmetros são uma releitura da Gramática Universal, devido a
novas descobertas na área e também por causa de vários questionamentos a respeito.
Então se postula que a gramática é regida por Princípios ou Leis” invariantes, presentes
em todas as línguas, e parâmetros que são leis que variam entre as línguas o que explica
tanto as diferenças entre as línguas como as mudanças numa mesma língua.”
6
Burrhus Frederic Skinner, eminente psicólogo contemporâneo nascido nos Estados Unidos em 1904. Lecionou nas
Universidades de Harvard, Indiana e Minnesota.
Referencias bibliográficas
CHOMSKY, Noam. Linguagem e mente. Brasília: Universidade de Brasília, 1998.
FARACO, Carlos Alberto. Lingüística Histórica. 2.ed. São Paulo:Ática, 1998.
FARIA, Núbia Rabelo Bakker. Buscando os limites do dado na aquisição da linguagem. Disponível em
<http://sw.npd.ufc.br/abralin/anais_con2nac_tema014.pdf>. Acessado em 18 ago. 2002.
GARDNER, Howard. A nova ciência da mente. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1996.
LOPES, Edward. Fundamentos da linguistica comtemporânea. São Paulo: Cultrix, 1995.
MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Ana Cristina. Introdução à lingüística: domínios e fronteiras. São Paulo:
Cortez, 2001. v.1.
QUADROS, R. M. Educação de Surdos. A aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
Sociolingüística
A percepção de que o social é preponderante para análise das questões de ordem lingüística
sustenta a linha teórica denominada sociolingüística. Nesta vertente não apenas o que está dentro da
língua, propriamente dita, deve ser considerado – uma posição mais formal - mas o que é externo a língua
também pode influenciar os processos da língua e na língua.
Desta forma, se por um lado, na língua portuguesa, devemos evitar construções do tipo:
“A GENTE VAMOS”.
“ARRENTE TEM QUE SAI MERMO”
Por outro, estas ocorrências demonstram que estes usos podem sinalizar informações,
também, muito importantes se considerarmos que a língua é fato social e como tal deve ser entendida
dentro deste espaço: a sociedade.
Imaginemos um professor de língua que apenas se preocupe com as regras da gramática
normativa de sua língua? Como ficam os registros e usos que cada aluno/indivíduo trás consigo? Como
saber lidar com os espaços lingüísticos que diferem daqueles apresentados na escola? Sobre isto o exemplo
apresentado a seguir pode auxiliar (MATOS, 2007,p. 14):
Assim, tudo depende do momento, devemos estar prontos para fazer o uso lingüístico adequado a
cada situação social. Afinal, qual a utilidade da mesóclise (exemplo em língua portuguesa), numa situação
como esta e se a situação (cair no buraco) não pede isto?
Por outro lado, numa entrevista para emprego ou algo parecido, talvez a mesóclise dê mais certo.
Certas situações esperam um tipo de registro lingüístico mais formal.
Neste sentido, a proposta Sociolinguistica abre o debate para que se verifique o que realmente
importa, quando importa e por qual motivo importa. Assume-se uma lógica que se afasta do classificatório
“certo” e “errado” e se aproxima do “adequado” e “inadequado”.
Discussões a cerca do preconceito lingüístico (BAGNO, 1999), por exemplo, são, ao menos,
inspiradas pelos princípios da teoria da variação.
Um fato bastante interessante a este respeito é a postura de Evanildo Bechara, gramático
renomado que nas últimas edições de sua gramática de língua portuguesa afirma o seguinte:
Assim, se um gramático admite que não haja correto ou incorreto, nós, enquanto
professores de língua, devemos modalizar nossas manifestações quando estivermos diante de usos que
talvez não estejam de acordo com as concepções da tradição gramatical, mas que se aplicam perfeitamente
ao momento, ao contexto, aos participantes. Afinal, é possível que estejamos apenas diante de variações
de um mesmo elemento da língua: variantes.
Sobre as variantes, há uma proposta de distinção entre os seus diversos tipos, que
explicam, de certa forma, que situações motivaram tais variações. São elas, conforme Coseriu (1982):
Diatópica:
Variação geográfica. As variações resultantes das características regionais, ou diatópicas, são
representadas pelos distintos sotaques, evidenciados, por exemplo, pela diferente pronúncia em regiões
Diafásicas:
Modalidade expressiva. Dizem respeito ao estilo.
Diastráticas:
Sociocultural. Há também as alterações na linguagem resultantes dos diferentes estratos sócio-
culturais, denominadas diastráticas e que podem ser comprovadas com estudos comparativos entre
falantes alfabetizados e analfabetos, por exemplo.
Agora, com algum conhecimento sobre os temas relacionados à Sociolinguística e seguindo a
mesma lógica proposta desde o início deste material, pergunto:
Há pouco tempo (abril, 2010), participando de uma banca de qualificação de mestrado, houve a
defesa de um trabalho que discutia o motivo pelo qual usuários de libras de uma determinada capital
brasileira não conseguiam aprovação na prova de proficiência do MEC (Prolibras). Isto é bem intrigante,
pois se são usuários eficientes da libras, em suas cidades e em seus ambientes sociais, por qual motivo o
resultado é tão ruim ?
Seria por uma questão sociolingüística ?
Será que todos os usuários da Língua brasileira de sinais, em todos os estados brasileiros, a utilizam
da mesma maneira?
Será que todos os sinais são reproduzidos exatamente como foram concebidos ?
Enfim, para concluir nossa abordagem, propomos a leitura do trecho a seguir de Matos (2010):
Cada aluno que chega, por exemplo, a um colégio, a uma escola, a um ambiente virtual de
aprendizagem (AVA) traz consigo a sua realidade linguística. Os docentes precisam
entender que cada um tem a sua própria gramática, sua própria competência lingüística, a
sua própria maneira de se comunicar. Além disso, a presença da gíria ou da concordância
equivocada, por exemplo, não fazem com que ele deixe de ser um falante eficiente na sua
língua. Não se pode perder de vista que, conforme Bechara (1999), devemos ser poliglotas
em nossa própria língua, ou seja, devemos ser capazes de lidar com as realidades
lingüísticas, sejam elas quais forem, conforme o momento social, o contexto social.
Nesta unidade, vamos tratar da questão do texto. A década de 60, do século XX, costuma
ser associada ao período em que os estudos linguísticos passam a dar algum grau de importância ao texto,
enquanto unidade comunicacional constituída. Inicialmente, ainda com muita influência da postura
formalista da linguagem, a partir da Linguística Textual: as análises transfrásticas e a Gramática de Texto e,
numa terceira fase, a concepção de que a Linguística deveria observar a possibilidade de criação de uma
teoria do texto. Neste sentido, o texto passa a ser compreendido a partir do uso em uma situação real de
interação.
Além da Linguística Textual, a Análise do Discurso (AD), representa um grande passo na
direção da compreensão do texto. Todavia, no caso da AD, a observação do texto não é mais sob a lógica
do texto, tradicionalmente estabelecido, mas visto como uma unidade tridimensional. Neste caso, este
texto é admitido exclusivamente dentro de uma situação real e comunicativa, recebendo por muitos o
nome de discurso, posto que sua produção constrói-se na história, por meio da linguagem, que é uma das
instâncias por onde a ideologia se concretiza.
Em minha opinião, reside neste ponto – o debate sobre o que é texto – uma das principais
dificuldades para a efetivação da proposta neste instrucional: língua portuguesa e Libras num mesmo nível
de análise. E a dificuldade não reside apenas no fato de se ter várias definições para texto, que vão da
noção mais geral, que sugere que tudo que comunica é texto (oral ou escrito), até as mais tradicionais que
entendem o texto como algo que se concretiza numa oração, parágrafo ou frase nominal.
Nosso principal desafio está na concepção admitida para texto que inclui o texto oralizado e
escrito sob a ótica da língua portuguesa, por exemplo. A estruturação sintática do português, como se fosse
obrigatório que a LIBRAS se “encaixasse” aos moldes estruturais da língua “inspiradora”. Penso que,
enquanto aluno do curso de Letras/Libras, vocês têm, como meta e quase obrigação, que refletir, discutir,
pesquisar e apresentar propostas a este respeito, de sorte que textos como o abaixo apresentado, não
Oi tudo bom L.
Eu sou muito feliz você.
Espírito Santo visitar sua vida.
Deus dar sua dons própria surdo mundo.
Quando L. chegou igreja. Você viu dois surdo B.-D. Verdade.
Passado muito difícil para mim Por causas. Não tem interpretas. Agora Deus prepara já começou Graça
Deus.
Eu te amo L. realidade.
Eu nunca esqueça Você Por que amo Verdade.
Toque Silêncio amo você
Abaçou pra L.
Beijo Boca.
Convém esclarecer que as dificuldades apresentadas não são preocupação apenas nossas, há
interpretações variadas sobre o bilinguismo, quando isto diz respeito ao surdo. Conforme Oliveira (2002,
Apud GOLDFELD, 1998), há duas formas distintas de definição da filosofia bilíngüe. A primeira acredita que
a criança surda deve adquirir a língua de sinais e a modalidade oral da língua de seu país, sendo que
posteriormente esta deverá ser alfabetizada na língua oficial de seu país. Por outro lado, existem aqueles
que acreditam que os sujeitos com surdez devam aprender a língua de sinais e a língua oficial de seu país
apenas na modalidade escrita e não na oral (opinião da qual compartilho, conforme sinalizado na unidade
VII, deste instrucional).
Neste sentido, quaisquer discussões sobre texto, num curso de Letras/Libras, que não passe
primeiro pela decisão de qual caminho se pretende seguir sobre a filosofia bilíngüe, estão fadadas a nada
acrescentar em termos da concepção do texto, tanto para o ouvinte quanto para o surdo, afinal, não basta
que o surdo construa e entenda o que é texto, mas que o ouvinte compreenda o que é texto para o surdo.
Linguística Funcionalista
Conforme mencionado, na Unidade II, há duas grandes tendências de pesquisa na área dos estudos
da linguagem: O formalismo e o funcionalismo. Na Unidade X, trataremos um pouco mais sobre o
funcionalismo, mais precisamente da corrente funcionalista da linguagem. Esta corrente que abrange
diversos estudos dos mais radicais aos mais brandos, no que se refere à postura funcionalista, traz em seu
bojo alguns pontos básicos: a função é considerada ponto de partida - em proeminência, se comparada à
estrutura; o uso e os discursos são elementos fundamentais para a observação da língua/linguagem num
processo comunicativo; também é chamada de lingüística sistêmica.
Conforme Matos (2008), desde Jakobson e Martinet (nas primeiras décadas do século XX, via CLP 7)
que a qualificação “funcional” vem se mantendo através dos tempos, embora vez por outra assuma perfis
diversificados. Estas mudanças são estimuladas pelas várias pesquisas e teorias em torno da corrente de
estudos da linguagem denominada de funcionalismo. Por isto, nem sempre há unanimidade na definição
dos limites destes estudos. Neves (1997, p.55), cita Elizabeth Bates 8 que propõe analogia do funcionalismo
ao protestantismo: “é um grupo de seitas em conflito, que concordam somente na rejeição da autoridade
do papa. Cita também, Bechara (1991) que “considera complexa a tarefa de definir a disciplina a que se vai
aplicar a denominação ‘funcionalista’, uma vez que esse nome vem servindo para rotular várias
modalidades de descrição lingüística e de aplicação pedagógica no estudo das línguas. Na mesma direção,
Pezatti (2004, p.167) afirma que: “o termo ‘funcional’ tem sido vinculado a uma variedade tão grande de
modelos teóricos, que se torna impossível a existência de uma teoria monolítica que seja compartilhada
por todos os que se identificam com a corrente funcionalista”.
Não obstante, é possível propor três grandes tendências funcionalistas que explicitam as linhas
gerais e também as escolhas teóricas feitas por cada grupo de estudiosos e pesquisas que compõem tais
tendências. Propõe-se a sugestão de Macedo (1998, p.75), sobre tais nuanças do funcionalismo:
7
Circulo Lingüístico de Praga
8
Neves 1987; apud Van Valin, 1990, p.171
Dos pressupostos básicos da teoria funcionalista, parte-se da noção de protótipo 9 (Taylor, 1995),
concebido como uma espécie de modelo que representa uma determinada categoria, e “dentro de cada
categoria há o membro que ostenta o maior número de propriedades características, e é segundo a
semelhança com essa configuração que os demais devem ser classificados” (conf. Neves, 2002, p.166).
Neste sentido, há uma função sintática exercida pelo pronome lhe que é mais prototípica que as outras.
Acrescente-se que o padrão de protótipo escolhido está associado, inicialmente, à freqüência.
Assim, a freqüência é um dos parâmetros para a identificação de uma estrutura prototípica, pois,
conforme Cunha, Oliveira e Votre (1999, p.91), “a hipótese básica do funcionalismo é que, sobretudo, o uso
da língua molda a gramática, a repetição ou freqüência de ocorrência de um item ou construção é o
mecanismo por meio do qual esse processo de modelagem da língua ocorre”, afinal, o “exemplar da
categoria” (Neves, 2006, p.22) é o mais freqüente. “Termos repetidos em determinados ambientes textuais
motivam certa padronização de uso (Cunha, Oliveira e Votre,1999,p.95)”. E, opostamente, as que forem
menos recorrentes são interpretadas como menos prototípicas ou marginais.
Para a análise da recorrência dessas estruturas, além da noção de a prototipicidade, mencionamos
o princípio da marcação. Conforme Neves (2002, p.117):
O princípio da marcação, de acordo com Cunha, Costa e Cesario (2003, p.29), é herdado da
lingüística estrutural, desenvolvida pela Escola de Praga e estabelece três critérios principais para a
distinção entre categorias marcadas e não-marcadas, em um contraste gramatical binário:
a- complexidade estrutural: a estrutura marcada tende a ser mais complexa (maior) que a
estrutura não-marcada correspondente;
b- distribuição de freqüência: a estrutura marcada tende a ser menos freqüente do que a
estrutura não-marcada correspondente;
9
A teoria do protótipo propiciou um novo modo de se estudar a língua, possibilitando o surgimento da lingüística
cognitiva (Bonini, 2001).
Assim, do mesmo modo que tais pressupostos se aplicam à língua portuguesa, pode ser pensado
para Libras. O que acham?
Esta e tantas outras perguntas que fizemos e refletimos ao longo destas 10 unidades, sinalizam a
importância de nossa disciplina para vocês, estudiosos de língua portuguesa e principalmente de Libras,
uma língua nova, pronta para ser estudada, por nós que decidimos fazer do estudo da língua/linguagem
nossa profissão. Até breve!!
Referencias bibliograficas
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37 ed. ver. Ampl. Rio de Janeiro: Lucerna, 2000
FERREIRA, L. et alii. Uma abordagem pancrônica da sintaxe portuguesa. Gragoatá. V. 9. Niterói: EDUFF,
2000.
FURTADO DA CUNHA, Maia Angélica, OLIVEIRA, Mariangela Rios e VOTRE, Sebastião. “A interação
sincronia/diacronia no estudo da sintaxe”. In: Delta, vol. 15, n1. São Paulo: Fev/jul, 1999.
FURTADO da cunha M., M., OLIVEIRA, M. e MARTELOTTA, M. (org.). Lingüística Funcional: teoria e prática.
Rio de Janeiro: DpeA, 2003.
FURTADO DA CUNHA, Maria Angélica, COSTA, Marcos Antonio e CEZARIO, Maria Maura. “Pressupostos
teóricos fundamentais”. In: Lingüística funcional teoria e prática.Rio de Janeiro, DP&A editora – FAPERJ,
2003, p.29.
FURTADO da Cunha M., SOUZA, Maria Madianeira de. Transitividade e seus contextos de uso. Rio de
Janeiro: Lucerna, 2007.
Adriana Di Donato
Tradutora/intérprete de Libras.
Docente do Depto. de Fonoaudiologia/UFPE.
Sandra Diniz
Tradutora/intérprete de Libras.
Graduanda do Letras/Libras UFSC/UFPE
INTRODUÇÃO
Olá, estudante! Nesta etapa da sua aprendizagem, iremos conhecer um pouco sobre alguns
tópicos: (a) o Cérebro e a Língua de Sinais; (b) Processos Cognitivos e Linguísticos; (c) Tópicos de Linguística
Aplicada: Fonologia, Morfologia e Sintaxe.
Aproveite bem as nossas discussões propostas para os temas acima e lembre-se de aprofundá-los.
Bem vindo à disciplina Libras I!
Vamos entender, para começar, o que vem a ser o cérebro e como ele está organizado. O cérebro é
definido como uma estrutura derivada do telencéfalo, composta por dois hemisférios: o direito e o
esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O
cérebro inclui todas as partes dentro do crânio, com exceção da medula oblonga, ponte e cerebelo. As
funções cerebrais se constituem nas atividades sensório-motora, emocional e intelectual. (LUNDY-EKMAN,
2008; DeCS, 2010)
Hemisfério Hemisfério
esquerdo direito
Fissura
longitudina
l
Portanto, podemos classificar o córtex cerebral a partir da localização anatômica e funcional, isto é,
pelas localizações corticais, conhecidas como áreas de Brodmann (LUNDY-EKMAN, 2008). São 52 áreas
histológicas:
O modelo clássico de organização neural da linguagem baseia-se em estudos com doentes afásicos,
com diferentes lesões cerebrais. A afasia é definida como um
• GD apresentava uma afasia de Broca severa, fazia grande esforço para sinalizar e dificuldades
com o ritmo. Quando sinalizava usava expressões simples gramaticalmente, mas, na maioria
das vezes, apenas vocábulos isolados. Para ser entendida era necessário que seu interlocutor
conhecesse o contexto. Na avaliação da compreensão, GD apresentou um bom desempenho.
• KL sinalizava com fluência, mas apresentava erros fonológicos, isto é, trocava uma configuração
de mão (CM) por outra. Para entendermos estas trocas, vejamos o sinal em Libras
<TRABALHAR>: CM em T, movimento para frente e para traz alternado em espaço neutro.
Imagine o sinalizador trocasse o T por G. Ou usasse a CM em T, mas realizasse o movimento
para a direita e para a esquerda, sem alternância. O sinal produzido precisaria do contexto para
ser entendido. Este é um erro fonológico. Apresentava grande dificuldade com referenciação
de pronomes. Este tipo de dificuldade sugere um déficit em nível lingüístico e não articulatório.
KL apresentava compromentimeto severo na compreensão. Observe a figura XX , as áreas de
Broca e de Wernicke não estão atingidas e, sim, a área parietal, ou seja, de processamento
espacial. Isto significa que se KL fosse ouvinte, não apresentaria um quadro de afasia com
déficit severo na compreensão da linguagem.
• PD sinalizava com fluência e sem erros fonológicos. Apresentava parafasias semânticas, isto é,
trocas semânticas. As autoras exemplificam as parafasias em sinais emitidos por PD:
substituição de <CAMA> por <CADEIRA>, <FILHO> por <FILHA> e <ANO> por <HORA>. Observe
que as substituições eram da mesma categoria semântica. Apresentava dificuldades no uso da
gramática no uso da relações espaciais pronominais.
Referências bibliográficas
ALLEN,JS; EMMOREY, K; BRUSS,J; DAMASIO,H. Morphology of the insula in relation to hearing status and
sign language experience. JNeurosci 2008 Nov 12;28(46):11900-5.
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hemisphere effect. BRAIN and COGNITION 32, 28–44 Article nº. 0056. 1996
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1995.
LILLO-MARTIN, D. Estudos de aquisição de línguas de sinais: passado, presente e futuro. In: QUADROS, RM;
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LUNDY-EKMAN, Laurie. Neurociências: fundamentos para reabilitação. 3 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008
MENDONÇA, Lúcia I Z. Contribuições da Neurologia no Estudo da Linguagem. In: ORTIZ. Karin Z. (org.)
Distúrbios neurológicos adquiridos: linguagem e cognição. 2. Ed. Barueri, SP: Manole. 2010. p. 01-33
QUADROS, RM;KARNOPP, LB. Língua Brasileira de Sinais: estudos lingüísticos. Porto alegre: Artmed, 2004.
VALLADO, S.; DELGADO, G.P.O.;SOUZA, D.O.R.;GUAGLIARD ,M.R. Jr; SILVA, V.F.;LINS, F.R.W. Correlação
entre hemisfericidade e o aprendizado psicomotor em tarefas de comunicação gestuais. Fitness &
Performance Journaul/Colégio Brasileiro de Atividade Física, Saúde e Esporte. Nº4, 2004, pp.207-210.
ZESHAN, U. Raízes, folhas e ramos -a tipologia de línguas de sinais. In: QUADROS, RM; VASCONCELLOS,
MLB. Questões Teóricas das Pesquisas em Línguas de Sinais. 9o TheoreTical issues in sign language
research conference Florianópolis, Brasil, Dezembro Ed. Arara Azul. 2006, p. 30-39.
FIGURAS
Fig.01- Cérebro humano
Disponível em: <http://lcni.uoregon.edu>
Fig. 02 - Lobos cerebrais
Disponível em:
<http://www.unisinos.br/_diversos/laboratorios/neurociencias/neuropsicologia/neuro7.jpg.>
Fig.03 – Lobo da ínsula
Disponível em: <http://www.psiquiatriageral.com.br/cerebro/texto9.JPG>
Fig. 04 – Estruturas internas do cérebro
Disponível em: <http://www.cerebromente.org.br/n05/tecnologia/anatomia.gif>
Fig.05 – Desenvolvimento do cérebro humano.
Disponível em: <www.forp.usp.br/mef/embriologia/nervoso.htm>
Fig.06 – Célula nervosa
Disponível em: <http://es.brainexplorer.org/glossary/dendrites.shtml>
Fig.07– Área de Broca e área de Wernicke
Disponível em: <http://thebrain.mcgill.ca/flash/d/d_10/d_10_cr/d_10_cr_lan/d_10_cr_lan_2a.jpg>
Em nosso caminho neste livro, discutimos um pouco sobre o cérebro, seu funcionamento e sua
relação com a linguagem. Agora começaremos uma nova etapa de questionamentos: de que maneira a
linguagem se processa na mente humana e se relaciona com a cognição? Como compreendemos e
produzimos as palavras/sinais, as sentenças e os discursos? Como uma pessoa bilíngue processa a
linguagem na sua primeira língua (L1) e na sua segunda língua (L2)? Estas são algumas das inquietações que
diversos estudiosos da linguística têm como foco em suas pesquisas, particularmente, da psicolinguística.
Os conceitos com que a psicolingüística trabalha de alguma forma têm sua origem nas
idéias de Humboldt, retomadas por Wundt, psicólogo alemão que, na virada do século XIX
para o XX, já se mostrava preocupado com a relação entre os processos mentais e o
comportamento verbal. Entre outras coisas, Wundt defendia a impossibilidade de a
psicologia cognitiva ser autônoma em relação à lingüística e vice-versa. E é justamente na
interação entre essas duas áreas das ciências cognitivas que a psicolingüística vai surgir e
se desenvolver. (LEITÃO, 2008. Grifo nosso)
Nos últimos sessenta anos, o reconhecimento da especificidade da linguagem humana gerou dois
períodos na psicolinguística: o linguístico (modelo gerativista) e o cognitivo. O período linguístico, teve
como forte representante Noam Chomsky, com a publicação de Syntatic Strutures, em 1957, marcando a
história com o conceito da “Gramática Gerativa Transformacional”. Chomsk defendeu, dentre outros, o
princípio da “faculdade de linguagem”, isto é, a relação entre mente/cérebro e capacidade inata de
linguagem do ser humano (BALIEIRO JR., 2000; FARIA, 2004; LEITÃO, 2008).
A partir destes princípios, a psicolinguística inicia seus experimentos buscando responder a
questões da gramaticalidade da língua. Entretanto, na década de 1970, os resultados das pesquisas
apresentaram dificuldade em encontrar as respostas esperadas na Gramática Gerativa Transformacional. O
processamento das estruturas sintáticas propostas pela teoria transformacional foram confirmadas
psicologicamente, mas não aconteciam segundo as regras da teoria. Houve, então, o afastamento dos
princípios gerativistas e a aproximação com a psicologia cognitiva (segundo período). Antes, o principal
foco era a sintaxe, agora passa a ser na semântica, pragmática, interpretação da anáfora e de processos
inferenciais. Os cognitivistas apresentaram um perfil interdisciplinar, aproximando os estudos das ciências
cognitivas, como também o campo da Inteligência Artificial. (BALIEIRO JR., 2000; LEITÃO, 2008). Segundo
Balieiro Jr. (2000, p.179), os cognitivistas postulavam a subordinação da linguagem a fatores cognitivos
mais fundamentais, dos quais ela (a linguagem) seria apenas um fator.
A autora descreve as etapas do priming encoberto, onde o experimento é realizado com intervalo
de tempo muito reduzido, em milisegundos (ms), o que é quase imperceptível. O objetivo deste método é
eliminar as estratégias conscientes de processamento da linguagem. O participante após ver na tela do
computador uma série de palavras, deverá responder se a última é uma palavra do português ou não. Para
fazer a sua escolha, ele deverá apertar a tecla vermelha para “sim” ou verde para “não”, o mais rápido
possível. Veja na figura abaixo (Fig. 03): aparece uma cruz em 1.500 ms; em seguida, um conjunto de
asteriscos em 500 ms; depois a palavra prime escrito “FILÉ”,em 38ms; novamente os asteriscos com tempo
menor, 50ms, seguida da palavra alvo “fileira” em 200ms, por fim, uma tela vazia por 1500ms.
De acordo com Maia (2001) grande parte das investigações nos últimos vinte anos focou a língua
escrita. Com os avanços tecnológicos, a língua oral pode ser melhor estudada, assim como examinar o
processamento prosódico.
Para fins de estudos do processamento, as ciências cognitivas também lançam mão de técnicas de
imageologia como o PET scan e outras tecnologias, como a Ressonância Magnética Funcional. Estes
recursos são importantes para os avanços nas pesquisas também para outras áreas da lingüística. Mapear
uma atividade da linguagem com maior precisão, certamente, poderá esclarecer muitas dúvidas sobre o
processamento da linguagem, além da colaborar nos estudos da relação saúde/doença.
10
O sistema signwriting é um sistema de escrita dos sinais criado por Valerie Sutton, em 1998, oriundo de um sistema
de notação para a dança. É o sistema de escrita visual mais usado por surdos em diversos países. (CAPOVILLA et al,
2001)
Emmorey e Wilson (2004) em seu artigo intitulado O quebra-cabeça da memória de trabalho nas
línguas de sinais discutem a relação de comparação da memória de curto prazo entre as modalidades de
língua oral-auditiva e espaço-visual. Os estudos anteriores apontavam para um uso maior do tempo da
memória de trabalho de curto prazo nas línguas sinalizadas. Os métodos utilizados para estes resultados
foram “tarefa span de nomeação de dígitos”. Concluem que apesar de estudos anteriores apontarem para
um uso maior do tempo da memória de trabalho de curto prazo nas línguas sinalizadas, novos estudos
mostram que há equivalência entre os processamento em ambas modalidades, para tarefas de memória
span de dígitos.
Cripps, McBride e Forster (2007) realizaram uma pesquisa sobre processamento lexical na
compreensão da língua inglesa escrita em surdos e ouvintes. O experimento utilizou a técnica do priming
Referência bibliográfica
BALIEIRO JR., Psicolinguística. In MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina. Introdução à Lingüística:
domínios e fronteiras. Vol. 3. 5ª edição. São Paulo: Cortez, 2000.
CAPOVILLA, Fernando C.; CAPOVILLA, Alessandra G. S. Compreendendo o Processamento do Código
Alfabético: como entender os erros de leitura e escrita das crianças Surdas. In: CAPOVILLA, Fernando C.;
RAPHAEL, Walkiria D. (editores) Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilingüe da Língua Brasileira de Sinais.
Vol II: sinais de M a Z. 2ª Ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Imprensa Oficial do Estado,
2001.p.1497-1516
CAPOVILLA, Fernando C.; MACEDO, Elizeu C.; CHARIN, Sergio. Competência de Leitura: tecnologia e modelo
na avaliaçãi de compreensão em leitura silenciosa e de rconhecimento e decodificação em leitura em voz
alta. In: SANTOS, Maria Thereza S.; NAVAS, Ana Luiza G. P. (orgs.) Distúrbios de Leitura e Escrita: teoria e
prática. São Paulo: Manole, 2002. p. 97-167.
CAPOVILLA, Fernando C.; VIGGIANO,Keila Q.F.; RAPHAEL, Walkiria; NEVES, Sylvia L.G.; MAURÍCIO, Aline;
VIEIRA, Ricardo; SUTTON, Valerie. A Escita visual direta de sinais SignWriting e seu lugar na educação da
criança surda. In: CAPOVILLA, Fernando C.; RAPHAEL, Walkiria D. (editores) Dicionário Enciclopédico
Ilustrado Trilingüe da Língua Brasileira de Sinais. Vol II: sinais de M a Z. 2ª Ed. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2001.p.1497-1516
CRIPPS, Jody H.; McBRIDE, Kara A.; FORSTER, Kenneth I.Lexical Processing with Deaf and Hearing:
phonology and orthographic masked priming. Arizona Working Papers in SLAT – Vol. 12. 2007. p. 31-44
EMMOREY, Karen; WILSON, Margaret. The puzzle of working memory for sign language. Trends in
Cognitive Sciences. Volume 8, Issue 12, December 2004, Pages 521-523
FARIA, Isabel Hub. Da linguagem humana ao processamento humano da linguagem. XX Encontro Nacional
da Associação Portuguesa de Lingüística. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004. Disponível em:
<http://www.apl.org.pt/conteudos/ docs/ihf.pdf> Acesso em: 21 de jun 2010.
GARCIA, Daniela Cid de. Elementos Estruturais no Acesso Lexical: o Reconhecimento de Palavras
Multimorfemicas no Portugues Brasileiro. (Dissertação) Rio de Janeiro: UFRJ/Faculdade de Letras, 2009.
LEITÃO, Márcio. Psicolingüística Experimental: focalizando o processamento da linguagem. In: Martelotta,
M. (org.) Manual de Lingüística. São Paulo: Contexto, 2008. p.217-234
FIGURAS
Fig.01- Eye-tracker
Disponível em: <ling.lsa.umich.edu/grp/phonetics_lab/facilities/>
Fig. 02 – Experimento de leitura com eyetracking
Disponível em: <www.ling.ed.ac.uk/facilities/labs/>
Fig. 03 - Desenho do experimento
GARCIA, Daniela Cid de. Elementos Estruturais no Acesso Lexical: o reconhecimento de palavras
multimorfemicas no portugues brasileiro. (Dissertação) Rio de Janeiro: UFRJ/Faculdade de Letras, 2009
Fig.04 - Positron Emission Tomography (PET)
Disponível em: <www.cerebromente.org.br/n01/pet/pet.htm>
Fig. 05 – Imagem PET scan do cérebro humano
Disponível em: <www.nucleusinc.com>
Nesta última etapa, você está convidado a entrar mais especificamente nos estudos da linguística
das línguas de sinais. Os aspectos gerais das línguas já foram estudados anteriormente. Este é um estudo
introdutório, pois você terá maior aprofundamento nas futuras disciplinas de Libras.
INTRODUÇÃO
Os estudos pioneiros sobre a constituição da Língua de Sinais Americana (ASL) de William Stokoe,
em 1960, nos Estados Unidos, marcam a história da comunicação humana. Stokoe defende a ideia dos
sinais como símbolos complexos e abstratos que podem ser analisados em analisados em unidades menores
(XAVIER, 2009, p. 10). A partir destes princípios, o autor descreve três parâmetros da ASL: configuração de
mão (CM); locação (L) ou ponto de articulação (PA); e movimento (M). Com a contribuição de novos
estudos foram incluídos outros elementos, como orientação de mão (Or) e expressões não-manuais (ENM),
de acordo com Karnopp e Quadros (2004). Segundo classificação adotada por Felipe (2006), estes mesmos
itens correspondem à direção (Dir) e à expressão facial e corporal (EFC). No Brasil, os estudos sobre as
línguas de sinais se iniciam na década de 1980, por Ferreira-Brito e Felipe, seguidas por Karnopp e Quadros.
(FERREIRA-BRITO, 1995; QUADROS, KARNOPP, 2004; FELIPE, 2006).
A nomenclatura adotada para a língua de sinais usada por surdos brasileiros é bastante variada.
Encontramos na literatura especializada: Língua de Sinais dos Centros Urbanos do Brasil (LSCB); Língua de
Sinais Brasileira (LSB); Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS ou Libras). A jurisdição federal, com a Lei de Libras,
oficializa a terminologia como Língua Brasileira de Sinais (Libras). (FELIPE, 1993, FERREIRA-BRITO, 1995;
CAPOVILLA, 2001; QUADROS, BRASIL, 2002; KARNOPP, 2004).
Além desta língua de sinais usada nos centros urbanos brasileiros, há o registro de outra língua de
sinais no Brasil, a Língua de Sinais Urubu-kaapor, de uma comunidade indígena localizada na floresta
amazônica, no norte do Maranhão. Os Kaapor ou Urubu-kaapor compõe uma população com dez aldeias e
calcula-se em cada setenta e cinco ouvintes, haja um surdo. Calcula-se que hoje existam menos de dez
Urubu-kaapor surdos. De acordo com os estudos de Jim Kakumasu (2004), esta língua diferencia-se da
Língua de Sinais dos Índios da Planície Norte-americana, por ser intra-tribal e não inter-tribal.
As modalidades de língua são espacial-visual e oral-auditiva. A modalidade espacial-visual tem por
seu canal de produção da língua dos sinais realizados com as mãos em um determinado espaço, somados
às expressões facial e corporal. Sua compreensão se faz através do canal visual. Na literatura encontramos
As línguas de sinais são línguas naturais porque, como as línguas orais, sugiram
espontaneamente da interação entre pessoas e porque devido à sua estrutura permitem a
expressão de qualquer conceito - descritivo, emotivo, racional, literal, metafórico,
concreto, abstrato - enfim, permitem a expressão de qualquer significado decorrente da
necessidade comunicativa e expressiva do ser humano. (FERREIRA-BRITO, 1995, p. 02)
Em nosso estudo, tomaremos por base as proposições de Ferreira-Brito (1995; 1997), Felipe (1988;
1993; 1997; 2006), Capovilla e Raphael (2001), Quadro e Karnopp (2004) e Felipe e Monteiro (2005).
3.1 - Fonologia
Reconhecido como o pai da Linguística moderna, Saussure (2006) descreveu a linguagem humana
como língua (produto social constituído por uma comunidade lingüística) e como fala (produto do uso da
língua por um sujeito, portanto, individual). Os dois aspectos da linguagem descritos por Saussure, língua e
fala, ocorrem ao mesmo tempo. Deste modo, pode-se afirmar que a língua é materializada na fala, pois a
fala só poderá existir a partir do uso da língua, no momento da comunicação.
A língua, segundo Saussure (2006), é composta por um conjunto dos signos linguísticos. Os signos
são formados pela união do significante com o significado. Vejamos como estes conceitos podem
compreendidos com o exemplo da palavra “maçã”: podemos falar oralmente qualquer língua oral-auditiva;
fazer o sinal em qualquer língua espaço-visual; escrever em português, inglês ou outra língua oral-auditiva;
fazer a datilologia M-A-Ç-Ã com o alfabeto manual; escrever em SignWriting. Enfim, todas estas formas não
são a fruta maçã, são a sua representação, portanto, os significantes. O significado refere-se à idéia, ao
conceito mental ou descrito. Observe a figura abaixo, em amarelo temos os significantes e em azul, o
significado.
Podemos representar a língua de diversas formas. A Fonologia estuda a menor unidade da língua,
os fonemas: suas diferenças e correlações de significado (MORI, 2004). Nas línguas de sinais, a fonologia
tem por objetivo determinar quais são as unidades mínimas que formam os sinais, estabelecer quais são os
padrões possíveis de combinação entre essas unidades e as variações possíveis no ambiente fonológico
(QUADROS, KARNOPP, 2004).
Stokoe propôs a nomenclatura “quirema” 11 como correlata à “fonema”, ou seja, menor unidade de
formação de um signo (palavra/sinal), formando a terminologia quirologia em substituição à fonologia. Os
estudos atuais em língua de sinais têm utilizado o termo Fonologia, como forma de sinonímia às línguas
orais, por serem todas línguas naturais (CAPPOVILLA, 2001; XAVIER, 2009).
Os traços fonológicos das línguas de sinais podem ser organizados de diferentes modos. Xavier
(2009) apresenta o modelo clássico de Stokoe com seus três parâmetros: localização, configuração de mão
e movimento. O princípio das combinações finitas, o caráter contrastivo, isto é, há sinais que se diferenciam
em apenas um dos seus traços, para modificar o significado, também como elementos do modelo de
Stokoe. Um segundo posto por Xavier (2009), trata-se do modelo de Liddell e Johnson que classifica os
sinais em:sinais unitários, com subtipos com movimento e sem movimento; e sinais sequenciais.
Os parâmetros primários são a configuração de mão (CM), o ponto de articulação (PA) e o
movimento (M) e os secundários são orientação de mão (Or) e expressões não-manuais (ENM). Seguem-se
os parâmetros articulatórios das línguas de sinais.
* Configuração de mão (CM) – este é o primeiro dos parâmetros, dentre os articuladores
primários. São compostos por as diversas formas que a(s) mão(s) toma(m) na realização de um sinal.
Caracteriza-se quanto a: (a) extensão - lugar e número de dedos estendidos; (b) contração - mãos fechadas
11
Quir(o)- é um antepositivo originário do grego (kheír, kheirós), que significa ‘mão’. Em grego kheirourgía significa
‘trabalho manual’, ‘cirurgia’. Através do latim científico deu origem a chiro- originando a palavra ‘cirurgia’ (HOUAISS,
2007).
As CM podem variar quanto ao uso das mãos para a realização do sinal, apresentando (a) uma só
mão configurada (Fig. 10); (b) mão configurada sobre a outra que serve de apoio, tendo sua própria
configuração (Fig. 11); (c) duas mãos configuradas de forma espelhada (Fig. 12).
* Movimento da mão (M): para que seja realizado é preciso haver um objeto (o sinal) e um espaço
(realização do sinal). O movimento pode ser analisado levando-se em conta: (a) o tipo: refere-se às
variações do movimento das mãos, pulsos e antebraços, ao movimento interno dos pulsos ou das mãos e
ao movimento dos dedos (Fig. 13); (b) a direção: pode ser unidirecional (Fig. 14), bidirecional (Fig. 15) ou
multidirecional (Fig. 16); (c) a maneira: descreve a qualidade, tensão e a velocidade (Fig. 17); (d) a
freqüência: indica se os movimentos são simples (Fig. 18) ou repetidos (Fig. 19).
Fig. 18 – AVISAR
Fig. 19 – CABELEREIRO
* Locação da mão (L) ou ponto de articulação (PA): refere-se ao local do corpo do sinalizador em
que o sinal é realizado. Esse espaço é limitado e vai desde o topo da cabeça (Fig. 20) até a cintura (Fig. 21),
sendo que alguns são mais precisos, tais como a ponta do nariz e outros mais abrangentes, como à frente
do tórax (Figs. 15 e 21). Em situações em que o sinal é realizado sem uma localização determinada, este PA
é chamado de “espaço neutro”, como no sinal TRABALHAR (Fig. 15), que é sinalizado em frente ao tronco,
mas não há um lugar certo para a sua produção.
Fig. 22 – PODRE
* Orientação da mão (Or): trata-se da direção para onde a palma da mão está voltada no momento
da produção do sinal. A mão do sinalizador pode estar posicionada (Fig. 23): (plano y) para cima e para
baixo; (plano z) para dentro do corpo e para fora do corpo; (plano x) de lado virada para dentro do corpo
(contralateral) e de lado, virada para fora do corpo (ipsilateral).
As línguas de sinais apresentam valores contrastivos, que constituem os pares mínimos, isto é, o
sinal se diferencia, se contrasta em apenas um dos traços fonológicos. A escolha da mão de dominância na
sinalização, não é um traço contrastivo. Em um sinal realizado por uma só mão, como DEUS (Fig. 20), pode-
se usar a mão direita ou esquerda, de acordo com a sua preferência e comodidade do sinalizador. O mesmo
caso se refere a sinais feitos com o uso das duas mãos, como EMPREGADO (Fig. 21). Os exemplos abaixo
são sinais de contraste na Libras.
a. Oposição quanto à Configuração de Mão (CM):
Fig.25 - AMARELO
b. Oposição quanto ao Movimento (M): em TRABALHAR (Fig. 15) os movimentos são alternados,
já em VÍDEO, ambas as mãos se dirigem de trás para frente.
Fig.26 - VÍDEO
d. Oposição quanto à Orientação de Mão (Or): os sinais (Fig. 24) DEPENDER e (fig. 25) PESAR
apresentam contraste quanto à Or para cima e para baixo (plano y).
Todas as línguas naturais possuem um conjunto de normas para a combinação das suas unidades
mínimas. Isto quer dizer que para a formação da palavra/sinal algumas combinações são possíveis e outras
possuem restrições. Para as línguas de sinais, estas restrições na formação dos sinais podem ser:
a. devido à recepção da imagem visual do sinal. No processo de recepção do input linguístico, a
recepção da imagem visual do sinal precisa estar dentro da área de percepção da visão central,
3.2 - Morfologia
De modo geral, podemos dizer que a morfologia é o ramo da linguística que estuda a estrutura
interna da palavra e os processos pelos quais elas são construídas a partir de suas partes componentes, os
morfemas. Os morfemas são unidades mínimas de significado. A palavra morfema deriva do grego morphέ,
que significa forma (SANDALO, 2004; QUADROS; KARNOPP, 2004; HOUAISS, 2007).
Em nossa língua há muitas palavras de tamanhos e significados diferentes, e essas palavras são
formadas por unidades menores chamadas morfemas, que nada mais são do que os pedaços das palavras
ex: felizmente, podemos ver que o pedaço “mente” é um morfema.
A formação dos sinais na Libras é realizada a formados a partir da: configuração de mãos (CM),
movimento (M) , orientação (Or) e ponto de articulação (PA). Na Libras temos um exemplo de morfema
bem conhecido, o sinal que representa os meses do ano: um-mês, dois-meses, três-meses, quatro-meses.
Mudamos CM referente aos números, essa configuração de mão é o pedaço da palavra e é, portanto o
morfema. Portanto, definimos por morfemas aqueles pedaços de palavras que sozinhos tem significante e
significado e junto a outras palavras dão origem a novas palavras. Outros exemplos em português: ilegal,
irreal, ilógico. –i tem o significado de negação.
Na língua de sinais, assim como em outras línguas naturais os morfemas podem ser visto como o
pedaço da palavra que tem o poder de modificar a palavra ou dar origem a uma nova palavra ao modificar
um dos seus parâmetros (Fig. 35), ou ainda, repetir o morfema, fenômeno conhecido como reduplicação,
variando a intensidade, velocidade e/ou expressão facial (Fig. 36). Ferreira-Brito (2006) descreve os
morfemas como lexicais e gramaticais.
FALAR SEM-PARAR
FALAR FALAR PELOS COTOVELOS
FALAR + aspecto continuativo
Fig. 36
Então temos:
MORFEMA LEXICAL MORFEMA GRAMATICAL
Outro modo de classificação refere-se aos morfemas livres, aqueles que não precisam de outro
morfema para constituir uma palavra e os morfemas presos, que precisam de outro morfema para formar
uma palavra, como por exemplo: -o, -i, -eir, -or etc. Esses morfemas presos são chamados de prefixo e
sufixo. Sabemos que os sufixos em se tratando da língua portuguesa podem ser por derivação e flexão. Os
sufixos derivacionais são aqueles capazes de formar novas palavras, exceto o sufixo –o. Os sufixos flexionais
são aqueles que estabelecem o gênero masculino e feminino como –o e –a, e temos os sufixos que se
destacam pela flexão de número. Portanto podemos concluir que os morfemas flexionais estabelecem as
relações gramaticais: masculino/feminino; concordância de pessoa e de número; tempo verbal e
singular/plural. (SANDALO, 2004)
Fig. 37
1. Modificações de adição à raiz – pode-se modificar a raiz do sinal, por meio da adição de afixos.
A incorporação da negação é um exemplo de adição de afixo, tanto como sufixo (QUERER/
QUERER-NÃO; GOSTAR / GOSTAR-NÃO), quanto como infixo (TER/ TER–NÃO; PODER/PODER–
NÃO). Além da construção morfológica da negação, pode se realizar sintaticamente com a
lateralização da cabeça como advérbio NÃO e NADA. A raiz ainda pode ser modificada na
incorporação do intensificador MUITO ou ainda por advérbios de modo.
2. Modificação interna da raiz: a modificação de uma raiz pode se realizar por três tipos de
acréscimos:
a. flexão: marca as pessoas do discurso através da direcionalidade, fazendo com que a raiz se
inverta: ELE / ELA
b. aspecto verbal: É através da mudança na freqüência do movimento da raiz que se marca o
aspecto durativo, continuo etc.
c. marcador de concordância de gênero: através da CM (classificadores) especifica coisas: objetos
plano vertical/ horizontal, redondo etc.
Brentari e Padden (2001 apud QUADROS e KARNOPP, 2004) propõem a seguinte composição no
léxico das línguas de sinais. Leia-se o núcleo como o léxico da Libras nativo.
Então, podemos afirmar que o léxico não-nativo contém palavras em português que são soletradas
por meio da datilologia. Estas palavras comporiam a periferia do léxico da língua de sinais brasileira. A
datilologia tem função de comunicação no uso de palavras desconhecidas ou sem sinal correspondente,
apresentação pessoal, nome de alguns lugares. A datilologia é a soletração manual de palavras do
português.
O uso da datilologia no léxico em Libras pode ser maior ou menor, de acordo com a comunidade
lingüística. Os sinais soletrados são menos usados em alguns estados do nordeste brasileiro. Um sinal de
uso nacional é o clássico N-U-N-C-A. Estes são empréstimos linguísticos presentes nas culturas de modo
geral.
Envolve o estudo dos processos que acrescentam informação gramatical à palavra que já existe
1. Gênero - os nomes não apresentam flexão de gênero. A indicação de sexo é feita colocando-se
o sinal de MULHER ou de HOMEM, independente de serem pessoas ou animais. Outras vezes,
Primeira pessoa:
(EU) SINGULAR,
(NÓS-2(EM FRENTE)) DUAL,
(NÓS-2) DUAL,
(NÓS-3) TRIAL,
(NÓS-4) QUATRIAL,
(NÓS-TOD@) PLURAL
Segunda pessoa:
(VOCÊ) SINGULAR,
(VOCÊ-2) DUAL,
(VOCÊ-3) TRIAL,
(VOCÊ-4) QUATRIAL,
(VOCÊ-TOD@(EM FRENTE)) PLURAL,
(VOCÊ-TOD@) PLURAL,
(VOCÊ-GRUPO) PLURAL
Terceira pessoa:
(EL@)SINGULAR,
(EL@-2) DUAL,
(EL@-3) TRIAL,
(EL@-4) QUATRIAL,
(EL@-TOD@) PLURAL,
(EL@-GRUPO) PLURAL
1. Caso - Nas línguas de declinação, cada uma das diferentes formas de uma palavra flexionável
que indicam a função sintática da palavra na frase (Houaiss, 2007). Declinação é o conjunto das
alternâncias de forma que os substantivos (e, dependendo da língua, também os adjetivos,
pronomes, artigos e numerais) em algumas línguas apresentam, de acordo com a sua função
sintática na oração (sujeito, objeto direto, objeto indireto etc.); cada forma dessas se chama
caso (Houaiss, 2007). Há vários processos de flexão descritos na língua de sinais americana –
ASL, de acordo com Quadros e Karnopp (2004). De algum modo, alguns já foram apresentados
sob forma de noutra organização. São elas: pessoa (dêixis); número; grau; modo;
reciprocidade; foco temporal; aspecto temporal; aspecto distributivo.
2. Aspecto - Aspectos distributivos na flexão de número nos verbos em Libras. Exaustiva – a ação
é repetida exastivamente. Ex.: ENTREGAR-PARA-ELES [exaustiva]; Distributiva específica – ação
de distribuição para referentes específicos. Ex.: ENTREGAR-PARA-ELES [específica]; Distributiva
não-específica – ação de distribuição para referentes indeterminados. Ex.: ENTREGAR-PARA-
ELES [distributiva não-específica]. A força da flexão de aspecto obriga mudança na ordem da
frase (S-V-O), recolocando o verbo em posição final (S-O-V+aspecto). Ex.: JOÃO IGREJA IR
[frequentemente]. A marcação de reciprocidade na LIBRAS se dá por duplicação do sinal feita
simultaneamente. Ex.: OLHAR [recíproco].
1. Verbos simples - são os verbos que não flexionam: ex: SABER, GOSTAR, AMAR, APRENDER,
CONHECER.
2. Verbos com concordância - são os verbos que flexionam: DAR, AJUDAR, FALAR, AVISAR,
ENVIAR, RESPONDER etc.
3. Verbos espaciais - são os verbos que têm afixos locativos: VIR, IR, CHEGAR, COLOCAR
Segundo Saussure (2006), a língua é constituída de signos, e esses signos são constituídos de
significante e significado. O significante é o conceito e o significado é a representação mental que temos,
ou seja, essa representação é através de sons nas línguas orais e de imagens nas línguas de sinais.
A sintaxe é a área da gramática que diz respeito à estrutura da sentença. Como já sabemos dos
estudos de Morfologia, o menor signo linguístico que é o morfema. Um morfema se junta a outro e dão
origem a novas palavras, que ainda combinadas com outras palavras formam signos maiores que
chamamos de sentenças.
Os aspectos sintáticos da língua sinais estão ligados ao sistema visual-espacial. Definir esses
aspectos no campo da gramática não é tarefa fácil. As línguas de sinais compõem uma modalidade
diferente das línguas orais e que apresentam alto nível de complexidade tanto quanto todas as línguas
humanas.
A sintaxe vai tratar das combinações das unidades significativas das frases como parte do discurso
que envolve a competência linguística e o desempenho linguístico. Quando alguém fala uma língua, é capaz
de julgar se a produção da sentença está gramaticalmente correta ou não. Vejamos o exemplo abaixo.
Qual a ordem básica das frases na Libras? Cada língua apresenta uma ordem básica das palavras, de
acordo com suas variações linguísticas. Cada língua elege a ordem dominante, objetivando a formalização
da estrutura das sentenças, fazendo com que o falante possa distinguir quando a sentença está
gramaticalmente correta.
Na língua de sinais existe uma ordem básica que determina o domínio do aspecto formal da língua
pelo sinalizador. Portanto, a ordem básica da língua de sinais é sujeito-verbo-objeto (SVO). Outras ordens
também podem ser encontradas. É importante que saibamos que a ordem SVO na Libras prevalece quando
o sujeito e o objeto estão explicito na sentença.
Felipe (1997) afirma que esta ordem pode ser flexível devido a omissão do sujeito em algumas
sentenças, porém, segundo Quadros, na Libras, mesmo com a omissão do sujeito e do objeto nas sentenças
ainda assim é possível permanecer a ordem SVO.
Na Libras não pronunciar o sujeito e o objeto é possível, é só observar o contexto sintático em que
o sujeito e o objeto são recuperáveis. Vejamos outras possíveis ordens das sentenças na Libras.
Concluímos este encontro, caro estudante. As pesquisas em ASL e em outras línguas de sinais já
avançaram bastante em todos os aspectos lingüísticos. Contudo, ao pensarmos em tempo histórico versus
produção cientifica, ainda há muito por fazer. As línguas orais iniciaram seus estudos antes de Cristo e, nos
dias atuais, continuam a ser investigadas!
Portanto, provoque a sua curiosidade, o seu potencial pesquisador. Pergunte, questione, tenha à
mão um caderneta e registre tudo. Leia depois e selecione as melhores dúvidas ou ideias. Arregace as
mangas e mãos à obra.
Verifique quantas respostas ainda faltam em diversos aspectos dos estudos das línguas de sinais e
que poderão ser investigados, quem sabe contando com a sua colaboração, enriquecendo este mundo
maravilhoso da cultura surda.
Um forte abraço,
Adriana Di Donato e Sandra Diniz.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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FIGURAS