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O sofrimento entre o divino e o humano no livro de Jó


Lucas Merlo Nascimento

Introdução: explicando o título


O tema aqui proposto dá-se por uma constatação que nasce do próprio livro de
Jó. Nele o tema do sofrimento do inocente, tão presente na realidade humana,
apresenta-se no interstício entre a realidade divina e a realidade humana.
Nosso objetivo, com isso, é abrir possibilidades de reflexão acerca do
sofrimento, quando considerada a realidade religiosa. Para tanto, cercaremos
as principais questões envolvendo o livro, para, então, refletirmos sobre o
tema.

1. A narrativa do livro
Resumidamente, o livro de Jó narra a experiência de sofrimento de um homem
justo e temente a Deus. Jó sucessivamente perde bens, filhos e saúde. Seus
amigos o consolam, enquanto Jó, do centro de seu sofrimento, pede a Deus
uma explicação – comportamento esperado e comum a quem está em situação
análoga. Após longos diálogos com seus amigos, estes compreendendo que Jó
sofre por ter pecado, aquele, justificando-se na base de sua conhecida retidão,
Deus responde a Jó fazendo-o olhar para sua soberania sobre o cosmo. A
narrativa termina com a vida anterior de Jó sendo-lhe devolvida.

2. A forma do livro
Parte da compreensão do livro de Jó baseia-se numa sólida compreensão de
sua forma. O livro possui uma abertura (1-2) e um fechamento narrativos (42).
No centro, estão os diálogos de Jó com seus amigos, Elifaz, Bildade e Zofar (3-
27), seguidos de um poema que manifesta a inacessibilidade da sabedoria
(28), o último discurso de Jó (29-31), a intervenção do jovem Elihu (32-37) e os
derradeiros discursos divinos (38-41). A parte central, dos diálogos e discursos
é, essencialmente, poética.
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3. O problema do livro
Não há forma de compreender o problema do livro de Jó sem compreender a
sabedoria tradicional israelita. A sabedoria tradicional postulava, em essência,
que o que sobrevêm ao ser humano é fruto de sua conduta: o que faz o bem é
retribuído com o bem, o que faz o mal, retribuído com o mal. Partindo de
pequenas experiências cotidianas, o livro dos Provérbios apresenta essa
sabedoria que, apesar de verdadeira, não é totalizante – não apresenta o todo
da experiência humana. A totalização dessa forma de pensar, e sua inversão
silogística estão na base do problema de Jó: a quem recai o mal,
necessariamente é por que fez mal. Em essência está em debate a justiça
retributiva de Deus: se ele pune aqui e agora e se todo sofrimento é fruto dessa
punição. Se assim, e só assim for, não há sofrimento do inocente: ou não é
sofrimento ou não é inocente. Essa é a base da discussão do livro, que coloca
o personagem Jó, por um lado, em contato com Deus como juiz, no céu,
retribuindo (ou não) as más ações humanas. Por outro lado, coloca Jó como
interlocutor de seus amigos: sábios, conforme a sabedoria tradicional, que
procuravam dar a Jó uma saída: a confissão de seus pecados.
A questão da justiça retributiva pode ser notada na fala de Bildade:
3
Perverteria Deus o direito ou perverteria o Todo-Poderoso a justiça? 4 Se
teus filhos pecaram contra ele, também ele os lançou no poder da sua
transgressão. (Jo 8,3-4)

4. Os dois ambientes: entre céu e terra


O problema do livro ganha novos contornos quando compreendemos que o
mesmo apresenta-nos ações em dois ambientes diferentes: em primeiro lugar
está o céu, lugar das decisões divinas, do desafio de Deus ao acusador.
Ambiente interditado a Jó e à realidade humana. O segundo ambiente, a terra,
é palco das desventuras humanas, da dura realidade da sobrevivência e dos
relacionamentos. É só ao final do livro, nos discursos divinos, que o céu se
abrirá à terra, ainda assim, apenas para reafirmar o já apresentado – o que
ocorre no céu é interditado ao homem.
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5. Jó e seus amigos: não se faz teologia com o sofrimento do outro


Dessa forma, a primeira abordagem ao sofrimento acontece na realidade
humana. Para compreender os diálogos de Jó com seus amigos, é necessário
constatar que:

1. Elifaz, Bildade e Zofar (e Elihu) são verdadeiramente amigos de Jó (2,11-13)


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Ouvindo, pois, três amigos de Jó todo este mal que lhe sobreviera,
hegaram, cada um do seu lugar: Elifaz, o temanita, Bildade, o suíta, e
Zofar, o naamatita; e combinaram ir juntamente condoer-se dele e
consolá-lo. 12 Levantando eles de longe os olhos e não o
reconhecendo, ergueram a voz e choraram; e cada um, rasgando o seu
manto, lançava pó ao ar sobre a cabeça. 13 Sentaram-se com ele na
terra, sete dias e sete noites; e nenhum lhe dizia palavra alguma, pois
viam que a dor era muito grande. (Jó 2,11-13)

2. Seus amigos responderam ao sofrimento da melhor forma possível,


conforme seu sistema de pensamento pré-estabelecido, a saber, a sabedoria
tradicional. Para esta, se o sofrimento é causado por pecados, não há outra
saída para Jó senão a confissão.

A negação de qualquer uma dessas realidades diminuirá em muito a


problematização do livro. Se negamos a fidelidade dos amigos de Jó, não
compreenderemos o papel humano no sofrimento alheio. Se negamos o
pensamento dos amigos de Jó, não compreendemos o papel da teologia diante
do sofrimento.

Compreendida dessa forma, de que em nenhum momento os amigos lhe


queriam mal, notamos que o problema está no sistema de pensamento por
meio dos quais os amigos de Jó avaliaram sua experiência. Isso denuncia a
perversidade do momento em que os amigos, respondendo à quebra do
silêncio de Jó, quebram o próprio silêncio. Diante do sofrimento, os amigos de
Jó não estão sob as mesmas condições dele. A fala daquele que sofre não
deve ser avaliada sob as mesmas condições dos que lá estão para consolar.
As palavras de quem sofre, por duras que sejam, contra os céus e contra a
terra, são justas (“Pereça o dia que me viu nascer…” 3,3). Veja o
reconhecimento da justiça das palavras de Jó em 42,7-8:
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7
Tendo o SENHOR falado estas palavras a Jó, o SENHOR disse também a
Elifaz, o temanita: A minha ira se acendeu contra ti e contra os teus dois
amigos; porque não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó. 8
Tomai, pois, sete novilhos e sete carneiros, e ide ao meu servo Jó, e oferecei
holocaustos por vós. O meu servo Jó orará por vós; porque dele aceitarei a
intercessão, para que eu não vos trate segundo a vossa loucura; porque vós
não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó. (Jo 42,7-8)

Já as palavras de quem lá está para consolar, ao acrescentar mais sofrimento,


são reprovadas. O acréscimo do sofrimento pode ser visto nas próprias
palavras de Jó:
4
Eu sou irrisão para os meus amigos; eu, que invocava a Deus, e ele me
respondia; o justo e o reto servem de irrisão. 5 No pensamento de quem está
seguro, há desprezo para o infortúnio, um empurrão para aquele cujos pés já
vacilam. (12,4-5)

Em suma, não se faz teologia com o sofrimento alheio. Permanecer em silêncio


seria mais humano. Nas palavras de Jó: “Tenho ouvido muitas coisas como
estas; todos vós sois consoladores molestos. 3 Porventura, não terão fim
essas palavras de vento? Ou que é que te instiga para responderes assim?”
(16,2-3).

6. Jó e Jó: a teologia não responde às contingências da existência


humana

Uma segunda dimensão do sofrimento que podemos notar no livro é quando à


dor do próprio Jó em sua busca pelo sentido do sofrimento. No livro todo o que
Jó requer, a partir da sabedoria tradicional, é que Deus lhe diga quais são os
pecados pelos quais está sendo punido: “Direi a Deus: Não me condenes; faze-
me saber por que contendes comigo. (10,2)”. Jó sente-se como vítima de Deus.
Em suas palavras, vemos que Jó também está preso aos conceitos da
sabedoria tradicional. Na última parte de seu ultimo discurso (29-31), Jó traça
uma longa justificativa pela qual seu sofrimento não faz sentido: Jó em tudo
agia justamente, inclusive não ocultando seus pecados:
33
Se, como Adão, encobri as minhas transgressões, ocultando o meu delito no
meu seio; 34 porque eu temia a grande multidão, e o desprezo das famílias me
apavorava, de sorte que me calei e não saí da porta. 35 Tomara eu tivesse
quem me ouvisse! Eis aqui a minha defesa ssinada! Que o Todo-Poderoso me
responda! Que o meu adversário escreva a sua acusação!
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36
Por certo que a levaria sobre o meu ombro, atá-la-ia sobre mim como coroa;
37
mostrar-lhe-ia o número dos meus passos; como príncipe me chegaria a ele.
(Jo 31,33-37)

Jó foi, em sua experiência de sofrimento, forçado a pensar diferente. Até então


seu sistema de pensamento (teologia) era o mesmo de seus amigos. Foi
quando a realidade se opôs à teologia que Jó precisou redirecionar seu
pensamento. Jó percebeu que, por vezes, as formas de pensar estabelecidas
não respondem às contingências da vida. É de se notar que Jó, por mais que
queira, jamais fica sabendo o motivo de seu sofrimento. Nada lhe é revelado
quanto ao significado de seu sofrimento, nem mesmo depois de ter sua vida
restabelecida. O sentido do sofrimento permanece inexplicável a Jó.

7. Jó e Deus: a soberania divina não responde a Jó


Até aqui vimos o sofrimento em sua dimensão humana: o perigo de palavras de
consolo que ferem, a angústia de quem busca dar sentido à experiência de
sofrimento. Talvez o mais desafiador, e o que coloca a questão do sofrimento
no interstício entre o humano e o divino, é exatamente pensar em como Deus
poderia responder ao sofrimento. Como elemento de reflexão, é necessário
lembrar, para não cair na armadilha da lógica de retribuição, que desde o início
até o fim, que Jó é considerado justo e íntegro (1,1.22; 2,3.10b; 42,7-8). Assim,
não há possibilidade de compreender que Jó, de algum forma, era culpado.
Neste contexto, as acusações de Jó a Deus são justificáveis: Jó nada fizera
para Deus puni-lo.

É necessário levar em conta, como desde o início temos afirmado, que Jó não
sabe o que se passou nos céus (1-2). O leitor tem informação privilegiada em
relação a Jó – sabe daquilo que o ser humano não deveria saber. Assim, até a
intervenção divina nos caps. 38-41, Jó não obtém, do céu, resposta alguma. A
resposta divina é bastante interessante: ao invés de dizer a Jó porque
acontecera o que acontecera, Deus conduz Jó a compreender a distância entre
ambos. Deus, aquele que estabeleceu todas as coisas e Jó, mera criatura (Jó
42,2-6). Nesse ponto, o problema do sofrimento é desviado. Ainda que o leitor
saiba, Jó nunca tem a chance de encarar de frente a razão divina para seu
sofrimento. E nesse ponto a interação com o leitor é importante: o leitor
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encontra-se nos céus ou na terra? É ele sabedor das razões para o sofrimento
ou é ele também um Jó, para quem seu sofrimento não encontra justificativa?
Não estaria interditada ao leitor a explicação celestial? A ausência de resposta
divina suspende as razões do sofrimento: Jó, por mais que seja restituído,
jamais saberá porque sofreu.

8. Lendo o livro a partir da realidade de sofrimento: identificando-se com



No livro de Jó o leitor é convidado, apesar da tentação, a se identificar com a
humanidade de Jó e a falta de sentido da experiência do sofrimento. É levado a
permitir que experiências de fronteira sejam elementos de questionamento de
seu pensamento estabelecido, e a considerar uma dimensão de carência de
sentido na realidade humana. Essa compreensão do sofrimento como
experiência sem sentido, para a qual resta-nos o silêncio, pode ser ilustrada na
experiência pessoal do autor C.S. Lewis. O autor tem uma obra teológica de
elaborada reflexão sobre sofrimento “O problema do sofrimento”, no qual
analisa os pormenores das questões teológicas, antropológica (e
hamartiológicas) e mesmo escatológicas envolvendo o sofrimento1. Porém, por
mais elaborada que seja, não encontrou explicação quando do falecimento de
sua esposa, expresso em outra obra “A anatomia de uma dor”, que, a despeito
do título, expressa apenas sua perplexidade diante do sofrimento:
A dor da perda é um grande vale, um vale sinuoso que a cada curva
pode revelar uma paisagem totalmente nova (…) Vez por outra, a
surpresa é a curva à frente; você depara exatamente com o mesmo tipo
de campo que julgou ter deixado quilômetros atrás… (LEWIS, C. S. A
anatomia de uma dor. São Paulo: Vida, 2006, p.77)
Diante da ausência de sentido quanto ao sofrimento, o som que se deve ouvir
são dos lamentos, não discursos preestabelecidos que não dão conta da
demanda, não equivalem ao real, por mais elaborados que sejam. Nesse vácuo
de palavras e discursos abre-se espaço para o silêncio - de quem sofre e
silêncio de quem participa e até mesmo de Deus – ressaltando que a
“resposta” ao sofrimento alheio deve ser uma solidariedade quieta, que ouça o
choro sem querer lhe conferir semântica – e, nesse sentido, sem teologia.

1
Um dos capítulos transcende essas relações, refletindo sobre o sofrimento dos animais.

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