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A FORMAÇÃO DOCENTE: OS SABERES E A IDENTIDADE DO

PROFESSOR

Maria Cristina Kogut1 - PUCPR

Grupo de Trabalho – Formação de Professores e Profissionalização Docente


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

A escola tem uma amplitude grande de metas e objetivos a serem desenvolvidos junto aos
seus alunos, e para que esse trabalho possa ser efetivo, recai sobre os professores a
responsabilidade das ações a serem promovidas em sala de aula. Nessa perspectiva o docente
deve apresentar uma diversificação de saberes e habilidades que possibilitem concretizar a sua
prática pedagógica na busca de atender o que se espera da escola e de seus professores. Esse
estudo teve por objetivo analisar a percepção de acadêmicos e docentes de dois cursos de
Licenciatura sobre os saberes trabalhados na formação inicial e a construção da identidade
profissional. Desenvolveu-se uma pesquisa de campo descritiva de caráter qualitativo-
quantitativo, utilizando como instrumento de pesquisa um questionário. A análise das
respostas foi ponderada por meio da análise de conteúdo proposto por Bardin (2010), tendo as
categorias elencadas a partir dos objetivos propostos. As respostas dados pelos professores do
curso A e do curso B indicam que eles reconhecem os saberes e que há um entendimento de
como estes são trabalhados na graduação. Já os acadêmicos identificam os saberes e as
disciplinas em que são tratados, mas eles associam várias disciplinas com diferentes saberes,
não havendo muita clareza do que eles são. Quanto à identidade evidencia-se a maior clareza
dos professores quanto ao seu conceito e sua relação com os saberes, pois os acadêmicos
fazem uma associação da identidade com as competências que o professor deve dominar,
indicando falta de clareza sobre o que seja a identidade profissional. Pode-se concluir que
embora sejam apresentadas indicações sobre o que sejam os saberes e a identidade
profissional, elas ainda apresentam superficialidade quanto ao entendimento tanto por parte
dos docentes quanto dos acadêmicos. Isso pode implicar em uma formação superficial e
deslocada o contexto real da atividade docente na escola.

Palavras-chave: Identidade profissional. Saberes. Formação profissional.

Introdução

Na esteira das mudanças sociais ocorridas nos últimos anos, tem se discutido
amplamente a preparação de profissionais para atender a demanda atual pela formação do

1
Professora do Departamento de Educação Física da PUCPR. Email: Cristina.k@pucpr.br.

ISSN 2176-1396
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cidadão, do profissional e das expectativas do mercado de trabalho. Com isso ampliaram-se


os aspectos que devem ser levados em conta quando se discute a formação inicial, pois apenas
os conhecimentos técnicos de modo geral não dão conta de suprir as perspectivas que recaem
sobre a atuação no trabalho.
Com a educação não é diferente. A escola tem assumido um papel cada vez mais
amplo de objetivos que deve tentar desenvolver junto aos seus alunos. E para que esse
trabalho possa ser efetivo, recai sobre os professores uma responsabilidade ampliada, o que
faz com que esse profissional deva apresentar uma diversificação de saberes e habilidades que
possibilitem concretizar a sua prática pedagógica na busca de atender o que se espera da
escola e de seus professores.
Entre os aspectos fundamentais da formação inicial estão os saberes da profissão e o
desenvolvimento da identidade profissional. O trabalho do professor na escola requer um
leque amplo de saberes para atuar em uma multiplicidade de ambientes e situações pertinentes
ao campo profissional, com isso entende-se que o saber do professor não é algo especifico,
mas composto por vários saberes, oriundos de diferentes campos do conhecimento e que
podem dar conta da pluralidade de tarefas e perspectivas de educação.
Os saberes foram estudados por pesquisadores como Saviani (1996), Pimenta (1999),
Freire (1996), Cunha (2004), Tardif, Raymond (2000), Tardif (2002), Marcelo Garcia (1999,
2009), Shulman (2005) e Gauthier et al (2006). Embora tenham identificado e classificado os
saberes de formas diferentes, é comum entre eles a preocupação com os aspectos
organizacionais, educacionais, didáticos, de conhecimento da escola e de seus alunos. Ao
professor dominar os saberes e os ter como base de sua prática pedagógica na escola ele vai
construindo a sua identidade como docente.
A identidade do professor é caracterizada pela forma como o docente se percebe,
como é visto por seus pares e pela sociedade (MARCELO GARCIA, 2009).
Por isso entre as diferentes identidades que um indivíduo possui, a profissional tem se
tornado cada vez mais importante, pois as profissões e os empregos que são fruto de
construções sociais permeiam o cotidiano dos indivíduos e tem papel singular na sociedade
(DUBAR, 2005).
A identidade é sempre construída pelo indivíduo, numa ação contínua que é vivida ao
longo do tempo o que caracteriza um processo complexo e que tem na experiência uma base
importante. Ela também é construída a partir do contexto em que o professor está inserido em
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resposta as necessidades impostas pela sociedade e àquelas que surgem no ambiente


educacional (PIMENTA, 1999 e LIBÂNEO, 2004).
Para a sua efetivação há necessidade de tempo, no qual se desencadeia um fazer
constante, e em que as inovações e as experiências são assimiladas em um novo fazer
(NÓVOA,1992). Percebe-se a partir da posição dos autores uma indicação de que a identidade
é processual e transitória, tendo como base a relação com o outro e com o contexto.
Por esse motivo a identidade profissional tem sido estudada por diferentes autores,
destacando-se entre eles: Nóvoa (1995); Gatti (1996); Pereira e Fonseca (2001); Pimenta e
Anastasiou (2002); Brzezinski (2002); Fino e Sousa (2003); Galindo (2004); Libâneo (2004);
Guimarães (2005); Dubar (2005); Monteiro (2006); Hobold e Andre (2008); Moreira e Cunha
(2008); Gomes (2008); Núñez e Ramalho (2008); Marcelo Garcia (2009); Morgado (2011) e
Sales e Chamon (2011).
A etapa de formação inicial tem um papel fundamental no desenvolvimento da
identidade profissional, pois os acadêmicos (re)conhecem2 o papel do professor, seus saberes
e suas habilidades. Pimenta e Anastaciou (2002, p.105) afirmam que “os anos passados na
universidade já funcionam como preparação e iniciação ao processo identitário e de
profissionalização dos profissionais de diferentes áreas”. Isso indica que durante a formação
inicial, deve haver uma preocupação constante com todos os aspectos que estão direta ou
indiretamente ligados à atuação docente na escola, pois eles podem contribuir de forma
positiva ou negativa na perspectiva de quem é o professor que estará em breve em sala de
aula.
Em função dessa perspectiva, a pesquisa buscou analisar a percepção de acadêmicos e
docentes de dois cursos de Licenciatura sobre os saberes trabalhados na formação inicial e a
sua influência na construção da identidade profissional.

Metodologia

Desenvolveu-se uma pesquisa de campo descritiva de caráter qualitativo. Para Esteban


(2010, p. 130) “a pesquisa qualitativa abrange basicamente aqueles estudos que desenvolvem
os objetivos de compreensão dos fenômenos socioeducativos e a transformação da realidade”.
Já para Lüdke e André (1986, p.12) a pesquisa a qualitativa “se desenvolve numa situação
natural, é rica em dados descritivos, tem um plano aberto e flexível e focaliza a realidade de

2
Marcelo Garcia (2009) afirma que os acadêmicos já trazem suas experiências com a educação, a escola e o
professor fruto de seu período de escolarização e elas refletem sobre a formação inicial e a prática pedagógica.
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forma complexa e contextualizada”. E a pesquisa quantitativa segundo Rauen (2002), também


é conhecida como de levantamento, tendo a vantagem de um conhecimento direto e rápido da
realidade.
Para o desenvolvimento do estudo um questionário contendo oito perguntas abertas
pertinentes ao tema e um quadro onde os participantes deveriam indicar as disciplinas do
curso relacionadas aos saberes. Foram entregues questionários a 10 professores de cada curso
(número que representava 60% dos docentes do curso A e 40% do curso B), sendo devolvidos
4 em cada curso (definidos como PA1, PA2, PA3 e PA4 - PB1, PB2, PB3 e PB4 para efeito
de discussão dos resultados). Em relação aos discentes, foram escolhidos intencionalmente
aqueles dos 5º e 7º períodos dos cursos em função de já terem cursado um número maior de
disciplinas. Foram entregues 15 questionários em cada uma das turmas dos dois cursos. No
curso A foram devolvidos 11. Já no curso B foram entregues 20 questionários em cada uma
das quatro turmas existentes (manhã e noite), sendo recebidos 33 deles.
As informações identificadas nos questionários foram ponderadas por meio da análise
de conteúdo proposto por Bardin (2010), e as categorias foram elencadas a partir dos
objetivos do estudo.
Esta pesquisa foi aprovada pelo CEP da instituição e tem parecer nº 459.396 de
13/11/2013.

Resultados e discussões

Para efeito de análise dos resultados foi utilizada a proposta de Shulman (2005) que
identifica os seguintes saberes: I) Conhecimento do conteúdo a ser ensinado – Conhecimento
da disciplina na qual o professor é um especialista; II) Conhecimento didático (pedagógico)
geral – Princípios e estratégias de manejo e organização da aula que transcendem o âmbito da
disciplina; III) Conhecimento do currículo – Domínio dos materiais e dos programas que
servem como ‘ferramentas para o ofício’ do professor; IV) Conhecimento didático
(pedagógico) do conteúdo – São os conhecimentos que permitem a interligação entre o
contexto do ensino e da aprendizagem, as necessidades do aluno e os objetivos, buscando a
implementação e transformação do conhecimento do conteúdo tornando-os compreensíveis e
ensináveis3; V) Conhecimento dos alunos – Conhecimento das características dos alunos; VI)

3
MARCON, D et al. Formação inicial em EF, legislação e conhecimentos docentes? Interfaces e possíveis
perspectivas. In: NASCIMENTO, J.V e FARIAS, G.O. Construção da identidade profissional em EF: da
formação à intervenção. Florianópolis: Ed da UDESC, 2012.
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Conhecimentos dos contextos educativos – Conhecimentos sobre o funcionamento do grupo


ou da aula, a gestão e funcionamento dos distritos escolares, até o caráter das comunidades e
culturas e VII) Conhecimento dos objetivos, das finalidades e valores educativos e seus
fundamentos filosóficos e históricos.

Os saberes desenvolvidos nas disciplinas

Nesse tópico tanto os docentes quanto os discentes foram convidados a responder


sobre o sentido de saberes do professor e identificar as disciplinas em que são trabalhados os
saberes a partir da proposta de Shulman (2005).
Os professores foram bastante sucintos ao responder sobre os saberes e as disciplinas.
Quando questionados sobre o sentido de saberes do professor, os docentes do curso A citaram
que são os conteúdos específicos e a maneira de transmitir os conhecimentos; os saberes
disciplinares; da formação profissional; da ação pedagógica; da experiência de vida e
profissional. Já os do curso B citaram os conhecimentos pedagógicos; do conteúdo; de
planejamento e da experiência relacionados à sua vivência pedagógica e cultural.
Quando convidados a associar as disciplinas com os saberes, três docentes do curso B
citaram apenas duas disciplinas indicando que nelas são desenvolvidos todos os saberes e o
quarto participante ampliou indicando cinco disciplinas. No curso A um não respondeu a
questão, um citou apenas uma disciplina, um afirmou que os saberes são desenvolvidos em
todas as disciplinas que ele ministra e o último indicou de forma bem ampla as disciplinas do
curso.
Em cada curso um professor explanou de forma mais ampla. No curso B o PEF4 citou
a Prática Profissional e a Metodologia da EF como capazes de desenvolver os saberes I, II,
III, IV, VI e VII e a disciplina de Crescimento e Desenvolvimento Motor como aquela que
trabalha os saberes do Conhecimento dos alunos. Ele citou também o Estágio como aquele
que possibilita desenvolver os conhecimentos dos contextos educativos. No curso A o PB4 foi
bastante abrangente, colocando várias disciplinas em cada um dos saberes. No saber I –
Biologia celular, Histologia, Anatomia, Reprodução, Zoologias (I, II e III), Botânica (I, II e
III), Fisiologia, Microbiologia, Parasitologia, Educação Ambiental, Ecologia e conservação,
Genética, Geologia, Química e Física; no II – Didática e Libras; no III – Práticas
Profissionais, Fundamentos da Educação, Políticas Educacionais e Gestão da Escola; no IV –
Estágios supervisionados, Zoologia e Botânica, Metodologia do Ensino de Ciências e
Biologia; no V – Fundamentos da Aprendizagem; na VI – Práticas Profissionais, Políticas
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Educacionais e Gestão da Escola e no VII – Ética, Filosofia, Políticas Educacionais e Gestão


da Escola.
Na questão relacionada ao sentido de saberes, os estudantes do curso B, indicaram que
são aqueles oriundos da experiência de vida; dos adquiridos durante a graduação e na pós
graduação e aqueles da prática pedagógica. Destacaram também uma preocupação com o
conhecimento sobre o contexto onde atuam e sobre os alunos e também aqueles relacionados
com a didática e as metodologias de ensino. Podemos destacar a indicação de um estudante do
7º período que coloca: “é o conhecimento do professor sobre sua disciplina, conhecimento da
comunidade onde atua, dos alunos para quem da aula suas características e motivação e como
desenvolver esse aluno integralmente, saber como avaliar, aplicar o conteúdo e elaborar os
objetivos”.
Os estudantes do curso A destacam o domínio do conteúdo a ser aplicado e o
conhecimento sobre a didática/metodologia. Também citaram como sendo os de caráter
científico, pedagógico e técnico tanto no sentido teórico como prático que serão usados na
atuação docente; do contexto da escola e sobre os alunos. Houve uma indicação de que são
ferramentas para um encaminhamento correta na prática do professor. Demonstram também a
preocupação com o aprendizado que ocorre na graduação e durante a vida profissional
(experiência), sendo por isso um processo contínuo.
Quanto à indicação das disciplinas onde são desenvolvidos os saberes proposto pelo
autor adotado nesse estudo, os estudantes dos dois cursos estudados indicaram um leque
amplo de disciplinas em cada um dos saberes (Tabela 1).

Tabela 1: Saberes indicados pelos estudantes do curso A e B


Saberes Curso A Curso B
Conhecimento do Metodologia, Botânica, zoologia, Prática Profissional, fisiologia, bases
conteúdo a ser ecologia, geologia, anatomia, biológicas, esportes, futebol, voleibol,
ensinado citologia, histologia, Didática I e handebol, ginástica geral, basquetebol,
Didática II, embriologia, fisiologia, ginástica rítmica e artística, lutas, jogos e
genética, física, química. Dois brincadeiras, natação, história e
estudantes citaram que são todas as epistemologia da EF, anatomia, biologia,
disciplinas que compõem a grade fisiologia, fisiologia do exercício.
curricular.
Conhecimento Didática, metodologia, estágio, prática Prática Profissional, estágio, lutas, handebol,
didático profissional, fundamentos da ginástica, dança, jogos e brincadeiras, bases
(pedagógico) geral educação, organização e Gestão da fisiológicas.
escola, fundamentos da aprendizagem.
Conhecimento do Prática profissional, estágio Prática Profissional, aprendizagem motora,
currículo supervisionado, metodologia do estágio, vôlei, handebol, futebol, basquete,
ensino de ciências e biologia, gestão, estágio, atletismo.
fundamentos de aprendizagem e da
educação.
Conhecimento Didática, prática profissional, Prática Profissional, aprendizagem motora,
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didático fundamentos de educação e crescimento e desenvolvimento, jogos,


(pedagógico) do aprendizagem, gestão e organização dança, futebol, handebol, basquete, atletismo,
conteúdo do ensino, estágio, metodologia de estágio, gestão, comportamento motor.
ensino, estágio.
Conhecimento dos Didática, prática profissional, Prática Profissional, crescimento e
alunos fundamentos de educação e desenvolvimento humano, ginástica, TCC,
aprendizagem, gestão e organização crescimento e desenvolvimento,
do ensino, estágio, metodologia de aprendizagem motora, bases biológicas,
ensino, estágio. fisiologia.
Conhecimentos dos Estágio supervisionado, fundamentos Prática Profissional, dança, ginástica, jogos,
contextos educativos da educação e da aprendizagem, ética.
estágio, gestão e organização da
escola, didática, prática profissional e
um aluno citou que em nenhuma das
disciplinas esse saber é trabalhado.
Conhecimento dos Ética, filosofia, Processo do Prática Profissional, História e Epistemologia
objetivos, das Conhecer, fundamentos da educação, da Educação Física, história da EF, estágio.
finalidades e valores didática I e II, cultura religiosa,
educativos e seus filosofia, prática profissional, didática,
fundamentos fundamentos da aprendizagem,
filosóficos e fundamentos da educação e
históricos. metodologia do ensino.
Fonte: Informações organizadas pelos autores com base na pesquisa.

Identidade profissional

Quando questionados sobre o conceito de identidade profissional, os docentes do curso


A indicaram ser a reflexão sobre a sua prática docente; como o professor define a si mesmo e
ao outro, que decorre de uma construção de si mesmo no decorrer de sua carreira docente; um
conjunto de características que definem a atividade a ser exercida e um conjunto de
conhecimentos, atitudes e valores ligados a questões históricas e do contexto social,
construída ao longo da vida. De modo geral indicam ser o conjunto de características que
definem a atividade exercida. O professor PA2 afirmou ser a “forma como o professor define
a si mesmo e ao outro. Isso envolve uma construção de ‘si mesmo’ profissional no decorrer de
sua carreira docente”. Para PA4 “é um conjunto de conhecimentos atitudes e valores ligados a
questões históricas do contexto social. Esta identidade se constrói ao longo da vida”.
Os professores do curso B indicaram serem as características que um professor
necessita e um conjunto de qualidade e habilidades; o reconhecimento do profissional; a
personalização do trabalho docente e as características que definem um profissional e que faz
a sociedade reconhecê-lo. O professor PB4 designou compor “as características que um
profissional necessita e que o definem como profissional e que faz com que a sociedade o
reconheça como tal”.
Os estudantes do curso A fizeram indicativos amplos associando a identidade aos
saberes. Afirmaram ser a vontade de conhecer, pesquisar, buscar a criatividade; desenvolver
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habilidades sólidas em uma determinada área e usar esses conhecimentos para o bem dos
alunos; o papel que o profissional assume no seu trabalho; a postura adotada e o papel que ela
irá exercer na sociedade; o perfil profissional construído através de seus valores morais, suas
relações sociais e suas experiências; o conjunto de aspectos que o professor deve ter para
conduzir a sua carreira da melhor maneira possível; o que se faz e como faz.
Os estudantes do curso B apontaram a maneira como o indivíduo se coloca como
professor; a profissão que se identifica com o indivíduo, comprometimento promovendo a
interação com o que aprendeu; a forma de pensar do professor, seus comportamentos e
atitudes; o perfil profissional e a identidade que a pessoa possui perante a profissão. Houve
indicativos de que são as características que o profissional assume após a formação inicial,
construídas com a experiência na atuação docente. Destaca-se a fala de um dos estudantes que
afirma: “A identidade pode ser definida como um conjunto de características próprias de um
indivíduo, que o torna diferentes de outros e que vão sendo construídas nas e pelas relações
sociais” (7º período).

Relação entre os saberes e identidade

Quando questionados sobre a influência dos saberes na estruturação da identidade


profissional, os docentes do curso A afirmaram que há necessidade de se conhecer a relação
teoria e prática, buscando aperfeiçoamento constantemente. Houve uma afirmação de que é
total essa relação. O terceiro afirmou que os saberes são a base da identidade e o PA4 citando
Meijer e Beijaard4 afirmou que a identidade não é uma situação estável, fixa, sendo ela
complexa, dinâmica onde a própria imagem tem que se harmonizar com uma variedade de
papeis que o professor necessita desempenhar.
Já os do curso B, afirmaram que é total essa relação e que ela ocorre durante as
atividades teóricas e práticas do curso; que há um componente que envolve o
comprometimento do profissional nessa relação e que os saberes interferem diretamente na
identidade profissional.
Os estudantes do curso A foram unânimes ao afirmar que os saberes tem sim
influência sobre a identidade profissional. Eles justificaram essa posição, considerando que os
saberes se constituem como alicerce da ação pedagógica do professor e que quanto mais o
docente conhecer melhor será seu trabalho. Destaca-se a posição de um dos alunos “os

4
O participante não citou ano em sua definição.
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saberes docentes é que irão formar a identidade profissional. Se houve um bom ensino na
graduação, o professor irá ser um bom profissional e crescer tanto pessoalmente quanto
profissionalmente” (estudante do 7º período).
Entre os estudantes do curso B foi unânime a percepção de que há uma relação
importante entre os saberes e a construção da identidade. Entre as indicações estão a de que os
saberes são a base do trabalho do professor e, portanto o são também da sua identidade; o fato
de que os saberes possibilitam ao docente reconhecer-se como tal e o tornam apto a
desenvolver sua prática pedagógica de forma mais efetiva. Destacam-se a percepção de dois
estudantes que afirmam: “Os saberes caracterizam-se como o pilar para o desenvolvimento de
sua área de trabalho onde agrega qualidade e sua formação” (5º período) e “são muitos
importantes, pois através deles será possível compreender o que é ser professor, é o porquê
ser professor e da importância que o professor tem na sociedade” (7º período).
A partir das respostas dadas pelos professores percebe-se que tanto os da Biologia
quanto da Educação Física identificam alguns saberes, que há um reconhecimento de como
eles são trabalhados na graduação e da sua importância na formação acadêmica. Essa posição
dos docentes se aproxima a de Barbosa (2010, p.14) que afirma que o professor deve “assumir
a multidimensionalidade do processo ensino-aprendizagem e colocar a articulação das
dimensões técnica, humana e política, no centro configurador de seu trabalho”, indicando a
importância que os saberes têm para a atuação docente. Isso implica na forma como
conhecimentos são trabalhados e discutidos durante a graduação. Mas como as respostas
foram sucintas não é possível saber se os docentes conhecem de forma mais efetiva todos os
saberes que são indicados pelo autor base desse estudo.
Já os estudantes identificam os saberes e as disciplinas em que são tratados. Eles
tendem a associar várias disciplinas com os diferentes saberes, indicando não haver muita
clareza do que são os saberes e a amplitude em que eles são propostos. Isso pode ser
decorrente da forma como os docentes trabalham os seus conteúdos em sala de aula ou
mesmo das perspectivas que eles têm do que o futuro professor deve conhecer/saber/dominar
para atuar na escola atualmente.
Quanto à identidade fica mais evidenciada a clareza dos professores quanto ao seu
conceito e sua relação com os saberes embora de forma bastante simplificada. As indicações
dos docentes são correlatas à fala de Dubar (2005) que indica que a identidade profissional
não se caracteriza apenas como aquela ligada ao trabalho, mas é uma projeção futura que o
indivíduo faz de si próprio, em que antecipa uma possível trajetória de emprego e que
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necessita de uma aprendizagem específica. Essas proposições demonstram que a identidade


profissional é um processo em que o indivíduo usa de suas concepções já existentes, mas
também a constrói continuamente através de todas as experiências vivenciadas, para as quais
necessita de formação.
Já os acadêmicos a associam às competências que o professor deve dominar para
poder atuar dentro da escola. Esse fato denota falta de clareza sobre o que seja a identidade
profissional, pois a fala dos mesmos transita por uma perspectiva baseada no senso comum.
Tanto os professores quanto os acadêmicos se preocupam com a identidade
profissional sendo construída apenas pela e a partir da formação inicial, o que se contrapõe a
posição de Marcelo Garcia (2009), que afirma que os estudantes ao chegarem à universidade
já construíram uma crença sobre o ensino e sobre ser um docente, resultado de muito tempo
de observação em seu período escolar, o que lhes dá uma base do que o professor deve saber e
fazer e de quem ele é.
Mas levando em conta a preocupação com os saberes tanto dos professores como dos
estudantes, percebe-se uma relação com a posição de Tardif e Raymond (2000, p.237) que
trata dos saberes e sua relação com a experiência vivida pelo docente ao longo do seu
trabalho:

Os saberes dos professores são pragmáticos, pois ao servirem de base ao ensino


estão intimamente ligados tanto ao trabalho quanto à pessoa do trabalhador. Trata-se
de saberes ligados ao labor, de saberes sobre o trabalho ligado às funções dos
professores. E é através do cumprimento dessas funções que eles são mobilizados,
modelados, adquiridos, como tão bem o demonstram as rotinas, em especial, e a
importância que os professores dão à experiência.

Um aspecto importante destacado pelos autores e pouco destacado pelos participantes


do estudo é a perspectiva da construção dos saberes e da identidade que se dá pela experiência
coletiva, mas se destacando o que se faz individualmente. A partir da posição de Marcelo
Garcia (2009), que entende “o desenvolvimento profissional como um processo que se vai
construindo à medida que os docentes ganham experiência, sabedoria e consciência
profissional”, pode-se destacar a pouca preocupação dos participantes do estudo com esse
aspecto que é tão significativo na formação de professores: a construção coletiva e a
individual da identidade profissional. O fato de que embora em quase todos os momentos na
formação inicial ocorrer um trabalho coletivo, a aquisição dos saberes e construção da
identidade é a priori uma construção do indivíduo que usando de suas percepções particulares
se constrói cotidianamente. E a partir do individual há um retorno ao coletivo, ou seja, a
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construção coletiva da identidade profissional. Essa posição pode ser conjugada com a de
Libâneo (2004, p.77) que afirma que “a identidade com a profissão diz respeito ao significado
pessoal e social que a profissão tem para a pessoa”, pode-se inferir que essa perspectiva
implica desde a escolha da profissão pela afinidade que o indivíduo tem com determinada
área de trabalho, passa pelos aprendizados da formação inicial e contínua no aprimoramento
dos saberes onde o processo de (re)construção da identidade individual se efetiva.

Conclusões

Pode-se perceber que embora sejam apresentadas indicações sobre o que sejam os
saberes e a identidade profissional, elas ainda apresentam superficialidade quanto ao
entendimento tanto por parte dos docentes quanto dos acadêmicos.
Com os acadêmicos poderiam ser trabalhados aspectos ligados à identificação dos
diferentes saberes até a sua importância para a prática pedagógica na escola e a relação desses
com a identidade profissional por meio do reconhecimento de quem é o professor, o
entendimento do contexto escolar, as várias possibilidades de desenvolvimento de seu
trabalho, e de como desenvolvê-lo. Isso possibilitaria ao futuro professor reconhecer que há
muitos saberes que se deve conhecer/dominar; que há necessidade de reflexões constantes
sobre eles e sua relação com a escola e que quanto mais ele ampliar seus saberes, maiores
serão as chances de que sua ação atinja os propósitos colocados à escola e ao professor na
atualidade o que consequentemente traria como resultado uma percepção ampliada de sua
identidade profissional. Dentre as muitas estratégias a serem usados, uma seria a efetivação de
propostas interdisciplinares, onde o estudante fosse desafiado a buscar nos conteúdos as
soluções para tarefas, problemas ou práticas, o que permitiria ampliar a forma de entender a
sua atuação docente.
Esse processo requer dos professores na universidade conhecimentos ampliados sobre
os diferentes aspectos que compõem a formação de professores, não se restringindo apenas
aos conhecimentos específicos de áreas ou disciplinas. O fato de os professores demonstrarem
superficialidade sobre o que são os saberes, pode indicar que há ainda uma visão unilateral do
que se trabalha em sala de aula, sendo importante apenas o conteúdo da disciplina ministrada.
O mesmo ocorre com a identidade, pois a falta de clareza do que seja pode levar o professor a
tratar de determinados temas sem a associação objetiva com o amplo leque do que é ser
professor. Portanto torna-se importante que os professores na universidade possibilitem aos
estudantes o acesso aos saberes de tal maneira que seja possível ampliar as perspectivas
22724

teórico/prático, estabelecendo uma relação dialética constante entre esses e o entendimento de


que esse trabalho possibilita a construção da identidade do professor e da professora para a
escola.

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