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3 ASPECTOS PASTORAIS
Essa busca por uma liturgia mais próxima do povo não é de hoje. Podemos perceber
que já desde o Concilio, as igreja da América Latina eram desejosas de mudanças. As respostas
conciliares, parecem ter encontrado receptividade nessas igrejas: “Haviam homens e mulheres
exigindo uma Igreja mais fiel ao evangelho e atenta à realidade do povo, capaz de se expressar
e celebrar a fé da maneira mais compreensiva e ligada ao cotidiano da vida” (coleção sendas da
CNBB vol.7.p.11)
Neste sentido abordaremos, neste capítulo algumas questões que possam auxiliar
na compreensão da celebração litúrgica em nossa igreja. Apresentaremos um pouco a questão
da inculturação, como aplicar isso na prática litúrgica, sem transgredir o ritual celebrado?
Traçar pontos que leve nossos fieis a adentrar no espirito litúrgico; apresentando assim uma
uniformidade para a vivencia universal da liturgia; faremos um apanhado histórico sobres as
vestes dos celebrantes e dos ministros – isso distancia o povo do padre? Também, neste capitulo
faremos um panorâmico do concilio de Trento ao concilio vaticano II, o que mudou? Foi bom
para o povo? Em via de buscar resposta a essas questões, comecemos então por este último
ponto para termos uma melhor compreensão de nossa vida litúrgica.
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O concilio de Trento
O dossiê reunido pelo Concilio de Trento no que tangia à reforma litúrgica referia-
se antes de mais na à celebração da missa e ao oficio divino. Neste sentido, o Decretum de
observandis et evitandis in celebratione Missae (Decreto do que se deve observar e evitar na
celebração da Missa), foi um dos decretos emitidos em 17 de setembro de 1562, na Sessão XXII
do Concílio de Trento, no terceiro e último período tridentino do concílio (1562-1563).
Entre outros aspectos, o documento emitiu uma breve porém contundente proibição
das "músicas, onde assim no órgão, como no canto se mistura alguma coisa impura e lasciva".
Na sessão XXII do Concílio de Trento (17 de setembro de 1562), foram definidas as questões:
“Doutrina do sacrifício da Missa; Decreto do que se deve observar e evitar na celebração da
Missa; Decreto da Reforma; Decreto sobre a petição da concessão do cálice e a Publicação da
sessão seguinte” (Martimort, 1988, p.77).
Após informar que "se tem introduzido muitas coisas contrárias à dignidade de um
tão grande sacrifício", o decreto determinou que "os bispos ordinários dos lugares tenham
particularíssimo cuidado e estejam obrigados a proibir e abolir tudo o que se tem introduzido".
Missas com de certo número de velas. Paralelamente, o decreto determina que "expliquem ao
povo donde provém principalmente o precioso e celestial fruto desse santíssimo sacrifício" e
"exortem também o mesmo povo a que, nos domingos e festas maiores, concorra com
frequência às suas paróquias".
3.3 Vaticano II
O papa João XXIII solenemente deu início ao Concílio Vaticano II, atendendo à
voz do Espírito que impelia à abertura de portas e janelas para a entrada de novos ventos na
Igreja. Esse grande acontecimento do Espírito do Senhor, seguido pelas Conferências de
Medellín (1968), Puebla (1979), Santo Domingo (1992) e Aparecida (2007), marcou a vida e a
missão da Igreja.
O concílio propôs uma volta às origens, redefinindo a liturgia como cume e fonte e
como lugar privilegiado da experiência de salvação realizada pelo mistério pascal de Cristo
Senhor, centro e mediador da história salvífica. Uma liturgia celebrada de forma ativa, plena,
consciente e frutuosa por todo o povo de Deus, povo sacerdotal (sacerdócio comum e ordenado)
que possui costumes, língua e riquezas culturais muito próprias (cf. SC 5-8; 10.14).
Por exemplo, sendo a Igreja todo o povo de Deus, nas celebrações todos devem
participar. O concílio pede: “Nas celebrações litúrgicas, cada qual faça tudo e só aquilo que
pela natureza da coisa ou pelas normas litúrgicas lhe compete” (SC 28). Ninguém deve
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acumular funções na liturgia (SC 28-29). Cada membro é sujeito e tem a sua função específica
em favor do bem comum da comunidade.
É muito comum se observar fieis que vivem em uma paróquia, mas como a liturgia
ou a homilia do padre não são de acordo com os moldes pensados, estes migram para outras
paróquias ou comunidades, onde atendam suas necessidades. Tudo isso se configura como uma
liturgia seletiva: vou onde me agrada. Isso no perfil de grandes cidades. Porém nas pequenas
cidades, e ou comunidades, estes fieis quando não, deixam de ir às missas e ficam em casa
assistindo aquela missa pela TV. Ou ainda preferem ficar em casa ao ter que ir ouvir aquele
padre ou pregador. Conforme Romano Gaudini (1985 – 1968), “a liturgia não diz Eu, mas Nós...
A liturgia apoia-se não no individuo, mas na comunidade dos fieis” (Cf. O espirito da liturgia
– tradução RIBEIRO F. A., edição particular, p.43).
Esse modo de vida é contrário ao estilo de vida litúrgica que a Igreja procura viver:
“A Igreja procura constantemente fazer da liturgia a fonte de sua vida espiritual, de modo que,
associados pelos ‘mistérios pascais’, os cristãos vivam ‘unidos no amor’ e sejam fieis na vida
a quanto recebem pela fé” (CNBB: Coleção sendas. Vol. 3).
Eis o desafio de nossa atual realidade: convenção pastoral. Uma volta as origens.
Para sermos fieis a tradição, é preciso ter coragem de mudar! Pois a tradição vive de mudança.
Uma visão geral da liturgia abre caminhos novos para a vida da Igreja e não
dissimula, mas ressalta os grandes desafios que urge enfrentar. Promover a liturgia já é ação
pastoral. “O coração e celebro desta pastoral é a equipe de pastoral litúrgica em nível nacional,
diocesano e paroquial” (Doc. CNBB, 43, n.186). Portanto, Cabe-lhe com a CNBB, com o bispo
ou com o pároco planejar, nos respectivos campos de ação, a pastoral litúrgica, aprofundar
sempre mais seu conteúdo teológico, formar agentes e organizar sua ação. No Brasil a pastoral
litúrgica é organizada em três setores: o setor da celebração propriamente dito (mais conhecido
como pastoral litúrgica), o setor de canto e música litúrgica, o setor do espaço litúrgico e da
arte sacra.
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LUTZ, Gregório. “Pastoral litúrgica”, in: SEMANA DE LITURGIA, 22, 2008, São Paulo. Pastoral
litúrgica 40 anos depois de Medellín: memória, desafios e perspectivas. São Paulo, 2008. Apostila.
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“Esta divisão corresponde, portanto, a um tríplice objetivo da pastoral litúrgica, que é promover
celebrações autênticas, a formação litúrgica, a organização da vida litúrgica”. Esses três
objetivos, como afirma Pe. Gregório, encontramos na organização da
Constituição Sacrosanctum Concilium do Vaticano II: dos números 5 a 13 o documento trata
da celebração litúrgica, dos números 14 a 29 da formação de seus agentes e dos números 41 a
46 da organização da pastoral litúrgica.
A final, qual o papel da equipe de liturgia? Estas são encarregadas diretamente das
celebrações da palavra de Deus, da eucaristia (missas), do batismo, do matrimônio, das exéquias
e das bênçãos nas paróquias e comunidades. Dessas equipes, especialmente, fazem parte os
leitores, os ministros da sagrada comunhão eucarística, os recepcionistas, os salmistas, os
cantores e instrumentistas, os animadores, o comentarista e os ministros que presidem etc.
Podemos afirmar que os principais serviços de uma equipe de liturgia são: “animação da vida
litúrgica, planejamento, coordenação, formação, assessoria e avaliação” (Cf. CNBB. Guia
litúrgico-pastoral. 2ª ed. Brasília, 2006, p. 122). Primeiramente, “a equipe deve ser constituída
por pessoas que de fato amam e vivem a liturgia. Exige carisma e dom. Exige ainda
conhecimento, uma formação básica ou mais aprofundada” (Cf. mais elementos em:
CNBB. Guia litúrgico-pastoral. 2ª ed. Brasília, 2006, pp. 123-125).
Podemos então concluir que uma equipe de liturgia (regional, diocesana, paroquial
e comunitária) deve ser constituída levando em conta os três setores (o setor da celebração
propriamente dito, mais conhecido como pastoral litúrgica, o setor de canto e música litúrgica,
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o setor do espaço litúrgico e da arte sacra). Essas equipes cuidam da vida litúrgica, animando-
a e articulando-a, com atenção às celebrações, à formação e à organização.
Esta deve ser iniciada pelos “pastores/padres” (cf. SC, n. 14), que serão formados
nos seminários, nas casas religiosas e nos institutos de teologia por professores devidamente
preparados (cf. SC, n. 15). Não basta, porém, a formação acadêmica; é necessário que os
“pastores estejam imbuídos do espírito e da força da liturgia e dela se tornem mestres” (cf. SC,
n. 14). O código de Direito canônico, por sua vez, indica que a liturgia se encontra sob a direção
do “bispo diocesano”, pelo poder a ele confiado pela santa Sé (Cf. CDC, n. 835;837 e 838).
Para nós se apresenta como urgente “uma formação litúrgica integral”, que envolva
todas as dimensões do ser humano e todas as dimensões da liturgia: “a ação ritual, seu sentido
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teológico, sua espiritualidade. (…) Nesta formação estamos incluindo a música e a organização
do espaço litúrgico”2.
Conforme a SC, n.9, “a liturgia não esgota toda a ação da Igreja”. “Deve ser
precedida pela evangelização, pela fé e pela conversão, e só então pode produzir os seus frutos
na vida dos fiéis: a vida nova segundo o Espírito, o empenhamento na missão da Igreja e o
serviço da sua unidade” (CIgC, n. 1072). Por isso se requer maior preparação, no que se refere
ao espaço dado à liturgia no processo formativo teológico-pastoral nos seminários.
A coleção sendas da CNBB, vol.2, p.10, enfatiza que a formação litúrgica jamais
poderá ser reduzida a aulas teóricas. Pois isso pode cair num “exagero estético desprovido do
espirito orante e contemplativo”. Se percebe ainda como desafios a ausência de uma pastoral
litúrgica organizada, refletida, acompanhada pelos bispos e avaliada nas instancias de pastoral
e nos encontros de presbíteros. Nesse sentido a escassa formação litúrgica ao longo do processo
formativo dos seminários e casas de formações, que por vezes se limitam apenas às tarefas da
faculdade e institutos de teologia que, consequentemente dedicam um tempo reduzido na carga
horaria “para tão importante disciplina” (Cf. SC, n.16)
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Ione Buyst. “Formação litúrgica integral”, in: CNBB. Formação litúrgica em mutirão II. ficha 30.
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Assim sendo, faz-se necessário “uma renovação profunda e eficaz”, que sem
dúvida, devem começar “pelas casas de formações, nos seminários e institutos de teologia, tidos
como centros irradiadores de um novo espirito e estilo eclesial participativo e ministerial das
ações litúrgicas” (Cf. coleção sendas. CNBB, 2016, p.11). Há no entanto a necessidade de uma
formação permanente em todos os níveis em vista da vida litúrgica do povo de Deus. E isso se
dar através de um estilo de vida “orante e pascal de uma celebração que germina e amadurece
nas experiências fortes de avaliações sistemáticas das práticas celebrativas” (Cf. coleção
sendas. CNBB, 2016, p.11).
Em nossa liturgia, um desafio sempre presente, diz respeito ao modo de celebrar, muitas
vezes alheio e indiferente aos acontecimentos e à capacidade de ler os “sinais dos tempos”. Medellín,
antecede uma liturgia como cume e fonte de “uma pastoral em saída”, como propõe o Papa Francisco.
Mais que um deslocamento espacial, significa ter a capacidade “trazer presente”, “fazer memória”,
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(http://www.diocesejoinville.com.br/noticias/noticias/noticias-da-igreja/diocese-de-
joinville-participa-da-33-semana-de-liturgia)
Já para Padre Flávio, um dos participantes do encontro, as reformas propostas "são aquelas
que unificam a Igreja de um modo geral, em especial sob aspectos que regem nossa realidade
como, por exemplo, a tradução de documentos e a Oração Eucarística V ".
(http://www.diocesedebarretos.com.br/noticias/assessor-diocesano-de-liturgia-participa-da-33-
semana-nacional-de-liturgia)
Segundo Pe. Danilo Cesar, o Papa “Francisco não é mais uma pessoa. Ele já é um espírito, um
sinal que aponta para Jesus e uma janela aberta para o evangelho”. Francisco, enfatiza o padre,
“é uma oportunidade para uma Igreja e uma liturgia renovada, porque ele se faz pontífice entre
o nosso tempo e o Concílio Vaticano II, como hora do Espírito para a Igreja”. “Somos chamados
a honrar o evangelho, é o nosso compromisso de batizados, assim como faz o Papa Francisco”,
falou o presbítero. Também o seminarista Raone Barglini, da Diocese de Cachoeiro,
destacou: "Segundo o Papa Francisco, 'a liturgia é vida para todo povo da igreja'.
Percebemos que de fato o pontificado de Francisco tem dado muita abertura para a reforma
litúrgica. O papa tem chamado atenção para os textos litúrgicos e bem como para inculturação
que é um bem para a vida dos diversos povos com suas culturas e tradições. Em 7 de julho de
2007 o papa escreveu a carta, Summorum Pontificum, em forma de motu próprio, chamando
atenção para o uso dos textos litúrgicos. Deste se compreende que a experiência e a formação
precisam caminhar juntas. Certamente esta é uma exigência fundamental para que padres e
leigos possam responder com competência aos desafios da pastoral litúrgica da Igreja.
(http://www.diocesecachoeiro.org.br/site/conteudo.asp?codigo=3868)
3.9 Inculturação
(n.1). Para tanto, a referida instrução afirma no n. 5, que “a inculturação tem o seu lugar no
culto, como nos outros domínios da vida da Igreja”.
Mas porque essa necessidade é tão urgente para os nossos dias? Basta vermos o
clamor dos povos: negros, quilombolas, afro-descendentes etc. Estes se sentem como
estrangeiros dentro de sua própria igreja, porque, muito embora a Igreja denuncie a
discriminação e o racismo destes povos no brasil, a sociedade e a Igreja não souberam incluir
os valores culturais deles. A liturgia da Igreja não adaptou os valores desses povos (a música,
os instrumentos e o próprio jeito de rezar). “Os elementos culturais afro-brasileiros não foram
incorporados no rito romano, mesmo existindo na Igreja a presença de afro-descendentes”
(Costa, 2009, p. 91).
É importante frisar que a Igreja sempre esteve aberta às culturas. Embora se constata
um esquecimento por parte da Igreja nos primeiros séculos do segundo milênio, no que dizem
respeito ao tema da inculturação. Toda via após o vaticano II, reaparece, novamente, a
preocupação com a inculturação. E para nossa realidade de Brasil, sobretudo, a região Pan-
Amazonica, por ocasião do sínodo realizado em outubro do ano corrente, está muito presente a
preocupação com a inculturação.
à tradução dos textos para as línguas usualmente faladas, contudo cabe insistir para que essa
posição seja aplicada a todos os tomos litúrgicos que compõem os rituais católicos.
Por fim convêm recordar que a oração da Igreja em uma longa histórica de
espiritualidade da bíblia. Neste sentido, a palavra de Deus proclamada e explicada (homilia) faz
ecoar o mistério de Deus. A espiritualidade, portanto, com respiro bíblico e eclesial, abre
horizontes e mostra caminhos para unir liturgia e vida, em uma expressão autentica de fé e de
amor” (Aldazarbal, 2013, p.138-139).