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2019/631900030745-13540-JEF

PODER JUDICIÁRIO
JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO

TERMO Nr: 6319004180/2019 SENTENÇA TIPO: A


PROCESSO Nr: 0000214-60.2019.4.03.6319 AUTUADO EM 26/02/2019
ASSUNTO: 040113 - BENEFÍCIO ASSISTENCIAL (ART. 203,V CF/88) - BENEF. EM ESPÉCIE/
CONCESSÃO/ CONVERSÃO/ RESTABELECIMENTO/ COMPLEMENTAÇÃO
CLASSE: 1 - PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL
AUTOR: WILSON ROGERIO DE OLIVEIRA
ADVOGADO(A)/DEFENSOR(A) PÚBLICO(A): SP213039 - RICHELDA BALDAN LEME
RÉU: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - I.N.S.S. (PREVID)
PROCURADOR(A)/REPRESENTANTE:
DISTRIBUIÇÃO POR SORTEIO EM 26/02/2019 16:47:26
DATA: 01/08/2019
LOCAL: Juizado Especial Federal Cível Adjunto Lins, 42ª Subseção Judiciária do
Estado de São Paulo, à R. José Fava, 444, Lins/SP.

SENTENÇA

WILSON ROGÉRIO DE OLIVEIRA ajuizou a presente ação em


face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS, pleiteando a
concessão de benefício assistencial.
Assevera que formulou pedido administrativo, negado sob a
justificativa de que não estavam reunidos os requisitos legais para a concessão da
prestação assistencial.
Sustenta que se encontra inapto para o exercício de atividade
laboral.
Alega não possuir condições financeiras para o seu sustento, e,
também, que a sua família não apresenta capacidade econômica para tanto.
Citado, o INSS anexou contestação pugnando pela improcedência
total dos pedidos.
Foram produzidas as perícias necessárias (social e médica).
Eis a síntese do necessário. Passo a decidir.
Primeiramente, defiro os benefícios da assistência judiciária gratuita.
Cuida-se de demanda instaurada com o objetivo de alcançar a
concessão do benefício previsto no artigo 203, V, da Constituição Federal, cujo teor é o

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seguinte:
“Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela
necessitar, independentemente de contribuição à
seguridade social, e tem por objetivos:
(...)
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à
pessoa portadora de deficiência e ao idoso que
comprovem não possuir meios de prover à própria
manutenção ou de tê -la provida por sua família ,
conforme dispuser a lei.
(...)”
Foi editada a Lei 8.742/93 no desiderato de regular o dispositivo
constitucional supramencionado. O “caput” e os §§ 1º a 4º do artigo 20 do referido diploma
compõem o núcleo normativo do benefício ora pleiteado nos autos:
“(...)
Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia
de 1 (um) salário mínimo mensal à pessoa portadora
de deficiência e ao idoso com 70 (setenta) anos ou
mais e que comprovem não possuir meios de prover a
própria manutenção e nem de tê -la provida por sua
família.
§ 1º. Para os efeitos do disposto no “caput”, entende-se
como família o conjunto de pessoas elencadas no
art. 16 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991,
desde que vivam sob o mesmo teto.
§ 2º. Para efeito de concessão deste benefício, a pessoa
portadora de deficiência é aquela incapacitada para
a vida independente e para o trabalho.
§ 3º. Considera-se incapaz de prover a manutenção da
pessoa portadora de deficiência ou idosa a família cuja
renda mensal “per capita” seja inferior a 1/4 (um
quarto) do salário mínimo.
§ 4º. O benefício de que trata este artigo não pode ser
acumulado pelo beneficiário com qualquer outro no
âmbito da seguridade social ou de outro regime, salvo o
da assistência médica

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(...)”.
De acordo com o § 3° do artigo 20 da Lei 8.742/93 a família é incapaz
de manter o idoso ou deficiente, quando a renda “per capita” for inferior a um quarto do
salário mínimo.
Entende-se como família para esse fim o conjunto das pessoas
indicadas no artigo 16 da Lei 8.213/91, desde que vivam sob o mesmo teto. São elas: o
cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição,
menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido, os pais e o irmão não emancipado, de qualquer
condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido. Nesse sentido a Súmula 15 da Turma
Recursal de São Paulo.
O limite de renda previsto pelo § 3º do artigo 20 da Lei 8.742/93
estabelece a presunção legal de miserabilidade e já foi declarado constitucional pelo e.
Supremo Tribunal Federal.
No entanto isso não impede que, no caso concreto, outros
elementos levem o magistrado a considerar provada a situação de miserabilidade,
mesmo quando a renda familiar supere o limite indicado linhas acima. A orientação do
Pretório Excelso é essa, conforme decisões que colaciono:

“Trata-se de recurso extraordinário contra acórdão que


concedeu benefício assistencial, mesmo fora dos
requisitos legais objetivos para a sua concessão.
A Lei n° 8.742, de 7 de dezembro de 1993, ao
regulamentar o art. 203, inciso V, da Constituição da
República, estabeleceu os critérios para que o benefício
mensal de um salário mínimo seja concedido aos
portadores de deficiência e aos idosos que comprovem
não possuir meios de prover a própria manutenção ou de
tê-la provida por sua família.
Objeto da ADI 1.232, Rel. Ilmar Galvão (DJ
1o.6.2001), o art. 20, § 3o, da Lei no 8.742, de 1993,
teve sua constitucionalidade declarada.
Considerou o Tribunal que o referido dispositivo
instituiu requisito objetivo para concessão do
benefício assistencial a que se refere o art. 203, V, da
Constituição Federal.
Desde então, o Tribunal passou a julgar procedentes as
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reclamações ajuizadas pelo Instituto Nacional do Seguro


Social - INSS para cassar decisões proferidas pelas
instâncias jurisdicionais inferiores que concediam o
benefício assistencial sob o argumento de que o requisito
definido pelo § 3o do art. 20 da Lei n° 8.742, de 1993,
não é exaustivo, e, portanto, o estado de miserabilidade
poderia ser comprovado por outros meios de prova.
A questão foi amplamente debatida no julgamento da Rcl
- AgR 2.303, Rel. Ellen Gracie (DJ 1o.4.2005), na qual
firmou-se o entendimento de que, na decisão proferida na
ADI 1.232, o Tribunal definiu que o critério de 1/4 do
salário mínimo é objetivo e não pode ser conjugado com
outros fatores indicativos da miserabilidade do indivíduo
e de seu grupo familiar. E cabe ao legislador, e não ao
juiz, na solução do caso concreto, a criação de outros
requisitos para a aferição do estado de pobreza daquele
que pleiteia o benefício assistencial.
O Tribunal manteve tal entendimento mesmo nas
reclamações ajuizadas contra decisões que,
fundamentadas em uma interpretação sistemática das
leis sobre a matéria, concediam o benefício assistencial
com base em outros critérios estabelecidos por alterações
legislativas posteriores (Lei n° 10.836, de 2004 - Bolsa
Família; Lei n° 10.689, de 2003 - Programa Nacional de
Acesso à Alimentação; Lei n° 9.533, de 1997 - autorização
ao Poder Executivo para conceder apoio financeiro a
municípios que instituírem programas de garantia de
renda mínima associados a ações socioeducativas). Assim
decidiu o Tribunal na Rcl 2.323, Rel. Eros Grau, DJ
20.5.2005.
Tenho observado, porém, que algumas decisões
monocráticas recentes têm dado tratamento
diferenciado ao tema.
Os Ministros Celso de Mello, Carlos Britto e Ricardo
Lewandowski têm negado seguimento às reclamações
ajuizadas pelo INSS com o fundamento de que esta via
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processual, como já assentado pela jurisprudência do


Tribunal, não é adequada para se reexaminar o conjunto
fático-probatório em que se baseou a decisão reclamada
para atestar o estado de miserabilidade do indivíduo e
conceder-lhe o benefício assistencial sem seguir os
parâmetros do § 3o do art. 20 da Lei n° 8.742, de 1993,
(Rcl 4.422, Rel. Celso de Mello, DJ 30.6.2006; Rcl 4.133,
Rel. Carlos Britto, DJ 30.6.2006; Rcl 4.366, Rel. Ricardo
Lewandowski, DJ 1.6.2006).
Somem-se a estas as decisões do Ministro Marco
Aurélio, que sempre deixou claro seu posicionamento
no sentido da insuficiência dos critérios definidos
pelo § 3o do art. 20 da Lei n° 8.742, de 1993, para fiel
cumprimento do art. 203, V, da Constituição (Rcl
4.164, Rel. Marco Aurélio).
A análise dessas decisões demonstra que a
interpretação da Lei n° 8.742, de 1993, em face da
Constituição, vem sofrendo mudanças substanciais
neste Tribunal.
De fato, não se pode negar que a superveniência de
legislação que estabeleceu novos critérios mais elásticos
para a concessão de outros benefícios assistenciais -
como a Lei n° 10.836, de 2004, que criou o Bolsa Família;
a Lei n° 10.689, de 2003, que instituiu o Programa
Nacional de Acesso à Alimentação; a Lei n° 10.219, de
2001, que criou o Bolsa Escola; a Lei n° 9.533, de 1997,
que autoriza o Poder Executivo a conceder apoio
financeiro a municípios que instituírem programas de
garantia de renda mínima associados a ações
socioeducativas; assim como o Estatuto do Idoso (Lei n°
10.741, de 2003) - está a revelar que o próprio
legislador tem reinterpretado o art. 203 da
Constituição da República.
Os inúmeros casos concretos que são objeto do
conhecimento dos juízes e os tribunais por todo o
país, e chegam a este Tribunal pela via da reclamação
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ou do recurso extraordinário, têm demonstrado que


os critérios objetivos estabelecidos pela Lei n° 8.742,
de 1993, são insuficientes para atestar que o idoso ou
o deficiente não possuem meios de prover a própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família.
Constatada tal insuficiência, os juízes e os tribunais
nada mais têm feito do que comprovar a condição de
miserabilidade do indivíduo que pleiteia o benefício
por outros meios de prova. Não se declara a
inconstitucionalidade do art. 20, § 3o, da Lei n° 8.742
de 1993, mas apenas se reconhece a possibilidade de
que esse parâmetro objetivo seja conjugado, no caso
concreto, com outros fatores indicativos do estado de
penúria do cidadão. Em alguns casos, procede-se à
interpretação sistemática da legislação superveniente que
estabelece critérios mais elásticos para a concessão de
outros benefícios assistenciais.
Tudo indica que - como parecem ter anunciado as
recentes decisões citadas, proferidas por este
Tribunal - tais julgados poderiam perfeitamente se
compatibilizar com o conteúdo decisório da ADI
1.232.
Portanto, mantém-se firme o posicionamento do Tribunal
em relação à constitucionalidade do § 3o do art. 20 da Lei
n° 8.742, de 1993, tal como esposado no julgamento da
ADI 1.232. O mesmo não se poderia afirmar em
relação ao que decidido na Rcl-AgR 2.303, Rel. Ellen
Gracie, DJ 1o.4.2005.
O Tribunal parece caminhar no sentido de se admitir
que o critério de 1/4 do salário mínimo pode ser
conjugado com outros fatores indicativos do estado
de miserabilidade do indivíduo e de sua família, para
concessão do benefício assistencial de que trata o art.
203, inciso V, da Constituição.
Entendimento contrário, ou seja, no sentido da
manutenção da decisão proferida na Rcl 2.303,

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ressaltaria ao menos a inconstitucionalidade por


omissão do § 3o do art. 20 da Lei n° 8.742, de 1993,
diante da insuficiência de critérios para se aferir se o
deficiente ou o idoso não possuem meios de prover a
própria manutenção ou de tê-la provida por sua
família, como exige o art. 203, inciso V, da
Constituição.
A meu ver, toda essa reinterpretação do art. 203 da
Constituição, que vem sendo realizada tanto pelo
legislador como por esta Corte, pode ser reveladora de
um processo de inconstitucionalização do § 3o do art.
20 da Lei n° 8.742, de 1993.
Diante de todas essas perplexidades sobre o tema, é certo
que o Plenário do Tribunal terá que enfrentá-lo
novamente.
Ademais, o próprio caráter alimentar do benefício em
referência torna injustificada a alegada urgência da
pretensão cautelar em casos como este.
Assim, indefiro o pedido de medida liminar.(...)”
(grifei).
(STF – RE 564374 MC/RS - Relator: Ministra Ellen
Gracie (Decisão: Ministro Gilmar Mendes) - Publicado no
DJe de 15/05/2008).

“RECLAMAÇÃO – APLICAÇÃO DE NORMA NÃO


CONTRÁRIA AO QUANTO DECIDIDO NA ADI 1.232 -
AUTORIDADE DO ‘DECISUM’ VINCULANTE E
AUTORIDADE DO JUIZ - ART. 5º DA LEI DE
INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL - NEGATIVA DE
SEGUIMENTO DA RECLAMAÇÃO.
(...)
O que se põe em foco nesta Reclamação é se seria
possível valer-se o Reclamante deste instituto para
questionar a autoridade de decisão do Supremo Tribunal,
que, ao menos em princípio, não teria sido observada pelo
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Reclamado.
A única fundamentação da Reclamação é esta: nos
termos do art. 102, inc. I, alínea l, da Constituição da
República, haverá de conhecer este Tribunal da
reclamação ‘para a preservação de sua competência e
garantia da autoridade de suas decisões.’
Na presente Reclamação, expõe-se que teria havido
afronta à autoridade da decisão que se põe no acórdão
proferido na Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.232,
na qual afirmou este Tribunal Supremo que ‘inexiste a
restrição alegada em face do próprio dispositivo
constitucional (art. 203, inc. V, da Constituição da
República) que reporta à lei para fixar os critérios de
garantia do benefício de salário mínimo à pessoa
portadora de deficiência física e ao idoso. Esta lei traz
hipótese objetiva de prestação assistencial do Estado.’
(Rel. Ministro Ilmar Galvão, DJ 1º.6.2001).
O exame dos votos proferidos no julgamento revela
que o Supremo Tribunal apenas declarou que a norma
do art. 20 e seu § 3º da Lei n. 8.742/93 não
apresentava inconstitucionalidade ao definir limites
gerais para o pagamento do benefício a ser assumido
pelo INSS, ora Reclamante. Mas não afirmou que, no
exame do caso concreto, o juiz não poderia fixar o que
se fizesse mister para que a norma constitucional do
art. 203, inc. V, e demais direitos fundamentais e
princípios constitucionais se cumprissem rigorosa,
prioritária e inescusavelmente.
Como afirmado pelo Ministro Sepúlveda Pertence no voto
proferido naquele julgamento, ‘considero perfeita a
inteligência dada ao dispositivo constitucional no sentido
de que o legislador deve estabelecer outras situações
caracterizadoras da absoluta incapacidade de manter-se
o idoso ou o deficiente físico, a fim de completar a
efetivação do programa normativo de assistência contido
no art. 203 da Constituição. A meu ver, isso não a faz
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inconstitucional. Haverá aí inconstitucionalidade por


omissão de outras hipóteses? A meu ver, certamente sim,
mas isso não encontrará remédio nesta ação direta.’
De se concluir, portanto, que o Supremo Tribunal teve
por constitucional, em tese (cuidava-se de controle
abstrato), a norma do art. 20 da Lei n. 8.742/93, mas
não afirmou inexistirem outras situações concretas
que impusessem atendimento constitucional e não
subsunção àquela norma. Taxativa, nesse sentido, é a
inteligência do acórdão nos termos clareados no voto
do Ministro Sepúlveda Pertence, transcrito
parcialmente acima.
A constitucionalidade da norma legal, assim, não
significa a inconstitucionalidade dos comportamentos
judiciais que, para atender, nos casos concretos, à
Constituição, garantidora do princípio da dignidade
humana e do direito à saúde, e à obrigação estatal de
prestar a assistência social ‘a quem dela necessitar,
independentemente da contribuição à seguridade
social’, tenham de definir aquele pagamento diante da
constatação da necessidade da pessoa portadora de
deficiência ou do idoso que não possa prover a própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família.
No caso que ora se apresenta, não parece ter havido
qualquer afronta, portanto, ao julgado.
(...)
Afirmo: e a miséria constatada pelo juiz é
incompatível com a dignidade da pessoa humana,
princípio garantido no art. 1º, inc. III, da Constituição
da República; e a política definida a ignorar a
miserabilidade de brasileiros é incompatível com os
princípios postos no art. 3º e seus incisos da
Constituição; e a negativa do Poder Judiciário em
reconhecer, no caso concreto, a situação comprovada
e as alternativas que a Constituição oferece para não
deixar morrer à mingua algum brasileiro é

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incompatível com a garantia da jurisdição, a todos


assegurada como direito fundamental (art. 5º, inc.
XXXV, da Constituição da República).
Portanto, não apenas não se comprova afronta à
autoridade de decisão do Supremo Tribunal na sentença
proferida, como, ainda, foi exatamente para dar
cumprimento à Constituição da República, de que é
guarda este Tribunal, que se exarou a sentença na
forma que se pode verificar até aqui. Ademais, a
Reclamação não é espécie adequada para se questionar
sentença na forma indicada na petição, o que haverá de
ser feito, se assim entender conveniente ou necessário o
Reclamante, pelas vias recursais ordinárias e não se
valendo desta via excepcional para pôr em questão o que
haverá de ser suprido, judicialmente, pelas instâncias
recursais regularmente chamadas, se for o caso.
9. Por essas razões, casso a liminar deferida
anteriormente, em sede de exame prévio, e nego
seguimento à Reclamação por inexistir, na espécie, a
alegada afronta à autoridade de julgado deste Supremo
Tribunal Federal que pudesse ser questionada e decidida
por esta via especial e acanhada, como é a da espécie
eleita pelo Reclamante.
(...)” (grifei).
(STF – RCL 3805/SP - Relator: Ministra Carmen Lúcia –
Publicado no DJU de 18/10/2006).

E anoto que em decorrência do parágrafo único do artigo 34 da Lei


10.741/03 (Estatuto do Idoso), entende a jurisprudência – por analogia - que o valor do
benefício assistencial percebido por outro componente do núcleo familiar deve ser
desprezado no cálculo da renda per capita , também no caso do pedido fundado em
invalidez. Nesse sentido: TRF3 – AC 2003.61.07007162-9 – 8º Turma – Relator:
Desembargadora Federal Marianina Galante – Publicado no DJF3 de 24/11/2009.
Entendo ainda que para fins de aplicação do dispositivo do Estatuto do
Idoso acima indicado, pouco importa a origem da renda (benefício assistencial,
previdenciário ou outra fonte remuneratória), desde que não supere o valor de um salário-
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mínimo. Aplicação do brocardo segundo o qual ubi eadem legis ratio, ibi eadem legis
dispositio.
Em abono dessa linha de exegese, cito excerto do voto proferido pela i.
Juíza Federal Convocada Louise Filgueiras no bojo dos autos da REOAC 307464: “(...) Neste
passo, é importante assinalar que a Lei nº 10.741/2003, além de reduzir o requisito idade
para a concessão do benefício assistencial, dispôs no parágrafo único do artigo 34 que ‘O
benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não será computado
para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas’. Cabe aqui indagar
o que se pretendeu realçar em referido dispositivo legal, como fator permissivo à concessão do
benefício assistencial. Seria a natureza do benefício ou o seu valor? Penso que o valor do
benefício é que se sobressalta e que constitui a razão pela qual, na hipótese
normativa descrita, autoriza-se a concessão do amparo social. A lei outra coisa não
fez senão deixar claro que o benefício mensal de um salário mínimo, recebido por
qualquer membro da família, como única fonte de recursos, não afasta a condição
de miserabilidade do núcleo familiar, em cuja situação se justifica a concessão de
amparo social a outro membro da família que cumpra o requisito idade. Seria de
indiscutível contra-senso se entender que o benefício mensal de um salário mínimo,
na forma da LOAS, recebido por um membro da família, não impede a concessão de
igual benefício a outro membro, ao passo que a concessão de aposentadoria por
idade, no valor de um salário mínimo, nas mesmas condições, seria obstáculo à
concessão de benefício assistencial . Se é de miserabilidade a situação da família com
renda de um salário mínimo, consistente em benefício disciplinado pela LOAS, também o é
pelo Regime Geral da Previdência Social quando o benefício recebido por um membro da
família se restringir ao mínimo legal, pois a aferição da hipossuficiência é
eminentemente de cunho econômico . Vai-se mais longe ainda: A renda familiar de
um salário mínimo, percebida por um membro da família, independentemente da
origem da receita, não poderá ser impedimento para que outro membro, cumprindo
os demais requisitos exigidos pela Lei nº 8.742/93, aufira o benefício assistencial,
pois a condição econômica para a subsistência é exatamente igual àquela situação
de que trata o parágrafo único do artigo 34 da Lei nº 10.741/2003(...)” (TRF3 –
REOAC 307464 - Turma Suplementar da Terceira Seção – Relator: Juíza Federal
Convocada Louise Filgueiras – Publicado no DJF3 de 18/09/2008).
Raciocínio em sentido contrário implicaria desprezo ao princípio da
isonomia e à regra contida no artigo 5º da Lei de Introdução ao Código Civil, que dispõe:
“Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do
bem comum”.

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Por seu turno, assevero que o § 2º do artigo 20 da Lei 8.742/93 deve ser
interpretado no sentido de que a incapacidade exigida pela lei para a concessão do
benefício é aquela que suprime a capacidade laboral do jurisdicionado. Nesse sentido a
Súmula 29 da Turma Nacional de Uniformização.
E sobre o grau da incapacidade laboral, observo que ela deve - em regra
- ser total e permanente, conforme precedente que segue:

“PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL.


ARTIGOS 203, V, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E 20
DA LEI N.º 8.742/93. AUSÊNCIA DE INCAPACIDADE
PARA A VIDA INDEPENDENTE OU PARA O
TRABALHO. BENEFÍCIO INDEVIDO.
1. A Lei nº 8.742/93 veio regulamentar o art. 203, V, da
Constituição Federal, estabelecendo em seu art. 20 os
requisitos para sua concessão, quais sejam: ser pessoa
incapaz para a vida independente e para o trabalho ou
pessoa idosa, bem como ter renda familiar inferior a ¼ do
salário mínimo.
2. O laudo médico para considerar a autora ‘incapaz para
a atividade laborativa’, pautou-se - como bem asseverou o
MM. Juiz ‘a quo’ - em fatores sociais, e não em razões de
ordem física e patológica. Isto resta bem claro, uma vez
que o estudo social constatou que a requerente executa
todas a tarefas do lar, obviamente com maiores
dificuldades em razão da altura, mas consegue cuidar de
uma filha e consegue locomover-se, sendo que a maior
dificuldade da requerente é para concorrer no mercado de
trabalho.
3. Assim, embora a autora apresente, em razão do
nanismo, limitação da capacidade de trabalho, não é
incapaz, não fazendo jus ao benefício de prestação
continuada. Mas isto, não implica à autora a segregação
assistencial, uma vez que para sua limitação,
considerando-se, ainda, a sua falta de escolaridade e de
formação profissional, motivos para preterições no
mercado de trabalho, existem as ações afirmativas do
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Estado visado a integração dos portadores de deficiência


no mercado de trabalho. Desta forma, para ser
considerada pessoa portadora de deficiência, nos
termos do Decreto regulamentar da LOAS, a
incapacidade deve ser total e permanente. Sem esses
dois requisitos, não se caracteriza uma "invalidez",
por maiores que sejam as razões de ordem econômica
e social que estejam a favor da pretendente do
benefício assistencial, pois tais razões não militam
apenas em seu favor, mas também em favor de grande
parte dos brasileiros. A própria ausência de trabalho, a
que a apelante está sujeita, embora lamentável, não é
uma situação de marginalização que a atinge com
exclusividade nem, muito menos, decorrência dos males
que a afligem.
4. Não sendo a autora absolutamente incapaz para o
desempenho de atividade da vida diária e para o exercício
de atividade laborativa, não faz ela jus ao benefício
assistencial de que tratam o art. 203, inciso V, da
Constituição Federal e a Lei nº 8.742/93.
5. Apelação da autora improvida.”
(TRF3 – AC 913597 – 10º Turma – Relator:
Desembargador Federal Galvão Miranda – Publicado no
DJU de 30/07/04).

Pois bem. Uma vez considerados tais paradigmas normativos, examino


as peculiaridades do caso concreto.

Do requisito relativo à incapacidade laboral ou velhice


O laudo pericial, na especialidade ortopedia, concluiu que a parte
autora não apresenta incapacidade laboral.
Pois bem.
Considerados tais dados, concluo que a incapacidade não está
comprovada.
Vê-se, pois, que não há incapacidade laboral nem senilidade que
justifique a concessão de benefício assistencial.
Assinado digitalmente por: LEONARDO VIETRI ALVES DE GODOI:10399
Documento Nº: 2019/631900030745-13540
Consulte autenticidade em: http://web.trf3.jus.br/autenticacaojef
2019/631900030745-13540-JEF

<#Diante do exposto, profiro julgamento na forma que segue:


Julgo IMPROCEDENTES os pedidos formulados por WILSON
ROGÉRIO DE OLIVEIRA resolvendo o feito com julgamento de mérito, conforme inciso I
do artigo 487 do Código de Processo Civil.
Custas, despesas e honorários advocatícios indevidos na espécie,
conforme artigo 54 da Lei 9.099.
Intimem-se as partes e o Ministério Público Federal.
Reexame necessário dispensado (artigo 13 da Lei 10.259).#>

LEONARDO VIETRI ALVES DE GODOI


Juiz(a) Federal

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