Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
PODER JUDICIÁRIO
JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO
SENTENÇA
seguinte:
“Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela
necessitar, independentemente de contribuição à
seguridade social, e tem por objetivos:
(...)
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à
pessoa portadora de deficiência e ao idoso que
comprovem não possuir meios de prover à própria
manutenção ou de tê -la provida por sua família ,
conforme dispuser a lei.
(...)”
Foi editada a Lei 8.742/93 no desiderato de regular o dispositivo
constitucional supramencionado. O “caput” e os §§ 1º a 4º do artigo 20 do referido diploma
compõem o núcleo normativo do benefício ora pleiteado nos autos:
“(...)
Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia
de 1 (um) salário mínimo mensal à pessoa portadora
de deficiência e ao idoso com 70 (setenta) anos ou
mais e que comprovem não possuir meios de prover a
própria manutenção e nem de tê -la provida por sua
família.
§ 1º. Para os efeitos do disposto no “caput”, entende-se
como família o conjunto de pessoas elencadas no
art. 16 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991,
desde que vivam sob o mesmo teto.
§ 2º. Para efeito de concessão deste benefício, a pessoa
portadora de deficiência é aquela incapacitada para
a vida independente e para o trabalho.
§ 3º. Considera-se incapaz de prover a manutenção da
pessoa portadora de deficiência ou idosa a família cuja
renda mensal “per capita” seja inferior a 1/4 (um
quarto) do salário mínimo.
§ 4º. O benefício de que trata este artigo não pode ser
acumulado pelo beneficiário com qualquer outro no
âmbito da seguridade social ou de outro regime, salvo o
da assistência médica
(...)”.
De acordo com o § 3° do artigo 20 da Lei 8.742/93 a família é incapaz
de manter o idoso ou deficiente, quando a renda “per capita” for inferior a um quarto do
salário mínimo.
Entende-se como família para esse fim o conjunto das pessoas
indicadas no artigo 16 da Lei 8.213/91, desde que vivam sob o mesmo teto. São elas: o
cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição,
menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido, os pais e o irmão não emancipado, de qualquer
condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido. Nesse sentido a Súmula 15 da Turma
Recursal de São Paulo.
O limite de renda previsto pelo § 3º do artigo 20 da Lei 8.742/93
estabelece a presunção legal de miserabilidade e já foi declarado constitucional pelo e.
Supremo Tribunal Federal.
No entanto isso não impede que, no caso concreto, outros
elementos levem o magistrado a considerar provada a situação de miserabilidade,
mesmo quando a renda familiar supere o limite indicado linhas acima. A orientação do
Pretório Excelso é essa, conforme decisões que colaciono:
Reclamado.
A única fundamentação da Reclamação é esta: nos
termos do art. 102, inc. I, alínea l, da Constituição da
República, haverá de conhecer este Tribunal da
reclamação ‘para a preservação de sua competência e
garantia da autoridade de suas decisões.’
Na presente Reclamação, expõe-se que teria havido
afronta à autoridade da decisão que se põe no acórdão
proferido na Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.232,
na qual afirmou este Tribunal Supremo que ‘inexiste a
restrição alegada em face do próprio dispositivo
constitucional (art. 203, inc. V, da Constituição da
República) que reporta à lei para fixar os critérios de
garantia do benefício de salário mínimo à pessoa
portadora de deficiência física e ao idoso. Esta lei traz
hipótese objetiva de prestação assistencial do Estado.’
(Rel. Ministro Ilmar Galvão, DJ 1º.6.2001).
O exame dos votos proferidos no julgamento revela
que o Supremo Tribunal apenas declarou que a norma
do art. 20 e seu § 3º da Lei n. 8.742/93 não
apresentava inconstitucionalidade ao definir limites
gerais para o pagamento do benefício a ser assumido
pelo INSS, ora Reclamante. Mas não afirmou que, no
exame do caso concreto, o juiz não poderia fixar o que
se fizesse mister para que a norma constitucional do
art. 203, inc. V, e demais direitos fundamentais e
princípios constitucionais se cumprissem rigorosa,
prioritária e inescusavelmente.
Como afirmado pelo Ministro Sepúlveda Pertence no voto
proferido naquele julgamento, ‘considero perfeita a
inteligência dada ao dispositivo constitucional no sentido
de que o legislador deve estabelecer outras situações
caracterizadoras da absoluta incapacidade de manter-se
o idoso ou o deficiente físico, a fim de completar a
efetivação do programa normativo de assistência contido
no art. 203 da Constituição. A meu ver, isso não a faz
Assinado digitalmente por: LEONARDO VIETRI ALVES DE GODOI:10399
Documento Nº: 2019/631900030745-13540
Consulte autenticidade em: http://web.trf3.jus.br/autenticacaojef
2019/631900030745-13540-JEF
mínimo. Aplicação do brocardo segundo o qual ubi eadem legis ratio, ibi eadem legis
dispositio.
Em abono dessa linha de exegese, cito excerto do voto proferido pela i.
Juíza Federal Convocada Louise Filgueiras no bojo dos autos da REOAC 307464: “(...) Neste
passo, é importante assinalar que a Lei nº 10.741/2003, além de reduzir o requisito idade
para a concessão do benefício assistencial, dispôs no parágrafo único do artigo 34 que ‘O
benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não será computado
para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas’. Cabe aqui indagar
o que se pretendeu realçar em referido dispositivo legal, como fator permissivo à concessão do
benefício assistencial. Seria a natureza do benefício ou o seu valor? Penso que o valor do
benefício é que se sobressalta e que constitui a razão pela qual, na hipótese
normativa descrita, autoriza-se a concessão do amparo social. A lei outra coisa não
fez senão deixar claro que o benefício mensal de um salário mínimo, recebido por
qualquer membro da família, como única fonte de recursos, não afasta a condição
de miserabilidade do núcleo familiar, em cuja situação se justifica a concessão de
amparo social a outro membro da família que cumpra o requisito idade. Seria de
indiscutível contra-senso se entender que o benefício mensal de um salário mínimo,
na forma da LOAS, recebido por um membro da família, não impede a concessão de
igual benefício a outro membro, ao passo que a concessão de aposentadoria por
idade, no valor de um salário mínimo, nas mesmas condições, seria obstáculo à
concessão de benefício assistencial . Se é de miserabilidade a situação da família com
renda de um salário mínimo, consistente em benefício disciplinado pela LOAS, também o é
pelo Regime Geral da Previdência Social quando o benefício recebido por um membro da
família se restringir ao mínimo legal, pois a aferição da hipossuficiência é
eminentemente de cunho econômico . Vai-se mais longe ainda: A renda familiar de
um salário mínimo, percebida por um membro da família, independentemente da
origem da receita, não poderá ser impedimento para que outro membro, cumprindo
os demais requisitos exigidos pela Lei nº 8.742/93, aufira o benefício assistencial,
pois a condição econômica para a subsistência é exatamente igual àquela situação
de que trata o parágrafo único do artigo 34 da Lei nº 10.741/2003(...)” (TRF3 –
REOAC 307464 - Turma Suplementar da Terceira Seção – Relator: Juíza Federal
Convocada Louise Filgueiras – Publicado no DJF3 de 18/09/2008).
Raciocínio em sentido contrário implicaria desprezo ao princípio da
isonomia e à regra contida no artigo 5º da Lei de Introdução ao Código Civil, que dispõe:
“Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do
bem comum”.
Por seu turno, assevero que o § 2º do artigo 20 da Lei 8.742/93 deve ser
interpretado no sentido de que a incapacidade exigida pela lei para a concessão do
benefício é aquela que suprime a capacidade laboral do jurisdicionado. Nesse sentido a
Súmula 29 da Turma Nacional de Uniformização.
E sobre o grau da incapacidade laboral, observo que ela deve - em regra
- ser total e permanente, conforme precedente que segue: