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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E EXATAS


CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

EM BRIGA DE MARIDO E MULHER A LEI MARIA DA PENHA “METE A


COLHER”: ​um estudo da percepção da Lei no município de Teófilo Otoni

Francielle Viana Dias


Michelle Batista dos Santos
22

Teófilo Otoni - MG
2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E EXATAS
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

EM BRIGA DE MARIDO E MULHER A LEI MARIA DA PENHA “METE A


COLHER”: ​um estudo da percepção da Lei no município de Teófilo Otoni

Francielle Viana Dias


Michelle Batista dos Santos

Orientadora: Claudilene da Costa Ramalho

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Ciências Aplicadas e Exatas, como


parte dos requisitos exigidos para a conclusão do
curso.

Teófilo Otoni – MG
24

2017
EM BRIGA DE MARIDO E MULHER A LEI MARIA DA PENHA “METE A
COLHER”: ​um estudo da percepção da Lei no município de Teófilo Otoni

Francielle Viana Dias


Michelle Batista dos Santos

Orientadora Claudilene da Costa Ramalho

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Ciências Aplicadas e Exatas, como


parte dos requisitos exigidos para a conclusão do
curso.

APROVADAS EM: 27/04/2017

_________________________________________

Professor(a) - Ma. Claudilene da Costa Ramalho (Orientadora) - UFVJM

_________________________________________

Professor(a) - Me. Jhony Oliveira Zigato - UFVJM

_________________________________________

Professor(a) – Ma. Thaisa Silva Martins - UFVJM


26

Teófilo Otoni - MG
2017
AGRADECIMENTOS

Após tantos obstáculos enfrentados ao longo desta caminhada, com força de vontade
perseverança e acima de tudo muito comprometimento, finalmente conseguimos realizar este
feito. No entanto nada teríamos conquistado se não fosse à presença de alguns
envolvidos que nos ajudaram durante esta trajetória. Assim, deixamos nossos
agradecimentos:
À Deus, por ter nos dado força necessária para atingirmos o objetivo de concluirmos
mais essa etapa das nossas vidas.
Aos professores, por compartilhar suas experiências e conhecimento conosco. Em
especial, a nossa professora orientadora, Claudilene da Costa Ramalho, por ter nos ajudado
bastante na realização deste trabalho científico.
Aos professores, formadores da banca examinadora, pela presença e pelo apoio.
Aos amigos e colegas de classe, por compartilharem momentos de alegrias e
superação no decorrer do curso.
Às nossas mães e aos nossos pais e toda a família, nossos sinceros agradecimentos,
por terem apostado em nosso potencial, e por acreditar que esse dia chegaria e mostrado o
quanto devemos encarar os desafios que a vida nos proporciona com fé, coragem,
persistência, e acima de tudo acreditar que tudo é possível.
28
RESUMO

A violência contra a mulher não é algo recente, ela vem impregnada há milhares de anos e a
mulher é sempre dominada na sociedade. A violência psicológica, física, e sexual contra a
mulher – ou o achar que tem “direito” de agredir mulheres – está atrelada a uma relação de
poder construída na sociedade. Objetivou-se compreender a percepção do município de
Teófilo Otoni sobre a violência doméstica contra mulheres e a Lei Maria da Penha em 2017.
Especificamente: a​preender as categorias da relação de gênero e patriarcado como centrais na
existência da violência contra mulher; Problematizar a violência contra mulher no Brasil e a
lei Maria da Penha; analisar a percepção da sociedade sobre a lei Maria da Penha. Como
metodologia foi utilizada a abordagem quantitativa em forma de pesquisa de opinião (​Survey)​
e exploratória. O universo da pesquisa foi formado por 100 participantes de ambos os sexos,
com idade acima de 16 anos, residentes no município de Teófilo Otoni, que foram submetidos
nos dias 21 e 22 de fevereiro de 2017 a um questionário de 12 perguntas abertas e fechadas. A
amostra foi probabilística, e a seleção dos entrevistados ocorreu de forma completamente
aleatória. As variáveis que foram consideradas: idade de 16 anos acima e sexo feminino e
masculino. A pesquisa bibliográfica também foi utilizada para ajudar na fundamentação do
tema. Os resultados apresentaram uma forte ligação entre aos baixos números de denúncias e
a percepção social que a população de Teófilo Otoni tem a respeito da Lei Maria da Penha. A
percepção é de que diante do pouco conhecimento da Lei, muitas vítimas ou não, se escondem
por detrás de uma realidade de omissão e desconhecimento dos direitos protetivos da Lei
Maria da Penha. Concluiu-se que a violência contra a mulher configura-se como uma das
muitas expressões da questão social, ou seja, é um campo de intervenção para o assistente
social, onde este profissional tem papel fundamental na formulação, execução e gestão de
políticas públicas de proteção à mulher, bem como no atendimento e na orientação das
mulheres em situação de violência e no processo de acolhimento destas mulheres. Assim, não
só é necessário ter uma lei que ampare as mulheres, e que puni o agressor, mas também que
seja conhecida por todos como instrumento de transformação humana, e que visa romper com
a cultura patriarcal machista, que historicamente, nessa região pregou o silêncio da vitimas em
favor da moral e bons costumes, do bem da família e matrimonio que devem sempre
permanecer intactos.

Palavras chave:​ Violência. Mulher. Lei Maria da Penha


30
ABSTRACT

Violence against women is not something new, it comes impregnated for thousands of years
and the woman's always dominated in the society. Psychological violence, physical and
sexual, against women – or think you have "the right" of assaulting women – is tied to a
power relationship built on our society. The aim was to understand the perception of the
municipality of Teofilo Otoni on domestic violence against women and the Maria da Penha
Law in 2017. ​Specifically: seize the categories of gender ratio and patriarchy as central
existence of violence against women; Discuss violence against women in Brazil and the Law
Maria da Penha; analyzing the perception of society about the Law Maria da Penha. As
quantitative approach was used methodology in the form of opinion poll (Survey) and
exploratory. The universe of research was formed by 100 participants of both sexes, aged
above 16 years, residents in the municipality of Teófilo Otoni, submitted in days 21 and 22
February 2017 a questionnaire of 12 open and closed questions. The sample was probability
and the selection of respondents occurred completely random. The variables that were
considered: age of 16 years and above female and male. The literature search was also used to
help in the grounds of the theme. The results showed a strong link between low numbers of
complaints and the perception that the population of Teofilo Otoni has the respect of the Law
Maria da Penha. The perception is that before the little knowledge of the law, many victims or
not, hide behind a reality of omission and lack of awareness of the protective rights of the
Law Maria da Penha Law. It was concluded that violence against women appears as one of
the many expressions of the social question, that is, it is a field of intervention for the social
worker, where this professional has a fundamental role in the formulation, execution and
management of public policies for the protection of women, as well as in the service and in
the orientation of women in situation of violence and in the process of reception of these
women. So, not only is it necessary to have a law to help women, and to punish the offender,
but also it is known by all as an instrument of human transformation, and which aims to break
away from the patriarchal culture sexist, that historically, this region preached the silence of
victims in favor of morals and good manners, the good of the family and marriage that must
always remain intact.

Keywords: ​Violence. Woman. Law Maria da Penha


32
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1​: Evolução das taxas de homicídio de mulheres (por 100 mil) Brasil 1980/2013. 47

Gráfico 2: ​Evolução das taxas de homicídio de mulheres brancas e negras (por 100 mil).
Brasil. 2003/2013 48

Gráfico 3: ​Estado civil dos participantes com idade entre 16.-70 anos 75

Gráfico 4: ​Escolaridade dos participantes com idade entre 16-70 anos 76

Gráfico 5: ​Participantes entre 16-70 anos que conhece alguém que sofre ou que sofreu
agressão do marido ou namorado, seja do atual ou do ex-companheiro. 78

Gráfico 6​: Nível de conhecimento dos participantes com idade entre 16-70 a respeito da Lei
Maria da Penha 79

Gráfico 7: ​Tipos de violência que os participantes com idade entre 16-70 conhecem 81

Gráfico 8: ​Quantitativo de registros de violência doméstica e familiar contra mulher, segundo


o tipo de violência – Risp 15 - Teófilo Otoni​. 82

Gráfico 9​: Participantes entre 16-70 anos que sabem que a mulher é assegurada pela Lei
Maria da Penha mesmo após a separação​. 83

Gráfico 10: ​Participantes entre 16-70 anos que conhecem alguém que continua vivendo com
seu agressor mesmo após a violência doméstica 84

Gráfico 11: ​Participantes entre 16-70 anos que sabem da existência do número de telefone
gratuito para o qual as vítimas de violência contra a mulher podem ligar para saber como
pedir ajuda 85

Gráfico 12: ​Opinião dos Participantes entre 16-70 anos no que diz respeito a violência contra
a mulher estar inserida apenas nas familias mais pobres. 87

Gráfico 13: ​Opinião dos Participantes entre 16-70 anos no que diz respeito a frase “em briga
de marido e mulher ninguém mete a colher”. 88
34
LISTA DE FIGURAS

Figura 1​: Território de desenvolvimento - Vale do Mucuri 67

Figura 2: Taxas de registros de violência doméstica e familiar contra a mulher (por 100.000
hab), por RISP, semestre e ano 2014-2016 70

Figura 3: ​Taxa de homicídio contra mulher, por Risp e semestre 72


36
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: ​População Residente 71

Tabela 2: ​Taxas de violência doméstica e familiar contra mulher por município -RISP 15 -
Teófilo Otoni​. 73

Tabela 3: ​número de participantes homens e mulheres conforme idade 75


38

LISTA DE SIGLAS

ADVOCACI​ - Advocacia Cidadã pelos Direitos Humanos;


AGENDE​ - Ações em Gênero Cidadania e Desenvolvimento
AMCA​ - Apoio a Mulher, a Criança e ao Adolescente
CEPIA​ - Cidadania, Estudos, Pesquisa, Informação
CFEMEA - ​ Centro Feminista de Estudo e Acessória
CIDH - ​Comissão interamericana dos direitos humanos
CLADEM/BR​ - Comitê Latino-americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher;
CNDM​ - Conselho Nacional da Condição da Mulher
CRAS​ - Centro de Referência de Assistência Social
CREAS​ - Centro de Referência Especializada de Assistência Social
DEAMS - ​Delegacia Especializada no atendimento das mulheres.
FHC ​- Fernando Henrique Cardoso
IBGE​ - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IPEA​ - Instituto de Pesquisas Aplicadas
JECRIM - ​ Juizados Especiais Criminais
MMIRDH​ - ​Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos
NASF​ - Núcleo de Assistência e Saúde da Família
OEA​ - Organização dos Estados Americano
ONGs - ​Organizações não Governamentais
ONU - ​ Organização das Nações Unidas
PAC​ - Programa de Aceleração do Crescimento
PSF​ - Posto de Saúde da Família
RISP - ​Região Integrada de Secretaria Pública
SEDS​ - Secretaria de Estado de Defesa Social
SPM - ​Secretaria de Políticas para Mulheres
THEMIS​ – Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero
40

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 21

CAPÍTULO 1- GÊNERO, PATRIARCADO E OS PROCESSOS DE DOMINAÇÃO E


EXPLORAÇÃO 25
1.1 O patriarcado e as relações de gênero construída historicamente 25
1.2 O papel do movimento feminista na luta pela emancipação da mulher no Brasil 33

CAPÍTULO 2 - A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E OS MECANISMOS LEGAL E


POLÍTICO PARA SEU ENFRENTAMENTO NO BRASIL 43
2.1 Entendendo o significado da violência na sociedade patriarcal, capitalista e racista 43
2.2 Marco legal de enfrentamento a violência doméstica contra a mulher no Brasil 48
2.3 A Lei Maria da Penha 50
2.3.1 Tipos de violência doméstica contra mulher 57
2.4 A Política Nacional de Enfrentamento à violência contra a mulher 62

CAPÍTULO 3 - TEOFILO OTONI E A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER COMO


EXPRESSÃO DA QUESTÃO SOCIAL 67
3.1 Situando as relações de dominação e exploração no Município de Teófilo Otoni. 67
3.2 A violência contra a mulher e a Lei Maria da Penha a partir da Percepção do Município de
Teófilo Otoni 74

CONSIDERAÇÕES FINAIS 91

REFERÊNCIAS 95

APÊNDICE A: ​Pesquisa de opinião dos 10 anos da Lei Maria da Penha 101


42

1 INTRODUÇÃO

O Trabalho de Conclusão de Curso ora apresentado é pré-requisito para aquisição do


título de Bacharel em Serviço Social na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e
do Mucuri (UFVJM). Trata-se de um estudo que tem como foco compreender a percepção do
município de Teófilo Otoni em relação à violência contra mulheres e a Lei Maria da Penha,
tendo como referência o ano de 2017. Dentro dessa temática, tornou-se imprescindível
delinear o termo violência de forma mais ampla nos capítulos do respectivo estudo, para que
houvesse melhor compreensão das suas variadas formas e expressões, de suas características,
dos meios de manifestação, de seus protagonistas, tanto o homem quanto a mulher.
O tema violência doméstica contra mulheres vem sendo estudado em diversas
perspectivas e, dentro da seara feminista, é essencial explorar a questão de gênero, que se
torna uma categoria fundamental para a análise deste estudo, e é claro, aliada a esse item o
patriarcado, que advém de uma cultura machista gerada na sociedade. Ocorre que diante desse
contexto, identifica-se a opressão da mulher que vem das relações de gêneros femininos e
masculino. Assim, vale ressaltar a importância da conscientização das mulheres para a
condição de lutadoras contra os preconceitos que sempre a colocaram na condição de
inferioridade diante do homem.
Nos dias atuais, a violência doméstica contra a mulher, em todo o país tornou-se um
tema de amplo debate, tanto na esfera estatal quanto na própria sociedade civil, ainda que o
assunto pareça estar voltado para a criminalização, identifica-se a complexidade que envolve
todo o fenômeno, que merece ser amparada por novas formas de prevenção, redução e de até
erradicação de tal prática.
Oportuno dizer que a implementação de ações para coibir a violência na sociedade
tornou-se uma obrigação constitucional assumido pelo Estado brasileiro desde o advento da
Constituição Federal de 1988. No contexto dessas ações, existe a preocupação com as
ocorrências de violência contra a integridade física e psicológica da mulher. Nesse ditame é
que surge a Lei nº. 11.340/2006, mais conhecida como Lei Maria da Penha, que trata da
violência doméstica e familiar. A Lei Maria da Penha surge como uma possibilidade jurídica
para proteger os direitos da mulher, e assevera que a violência doméstica e familiar contra a
mulher caracteriza-se como uma das formas de violação dos direitos humanos. A Lei n.
11.340/2006 alcançou dez anos de existência, e ainda assim, muitas vêm demonstrando ter
43

pouco conhecimento a respeito da sua essência, pode-se dizer que é um mecanismo


importante para proteger a mulher em situações de violência doméstica, o que se torna
essencial a discussão a respeito da sua aplicabilidade, frente a realidade atual.
Apregoa-se a violência doméstica como sendo uma das mais cruéis formas de
violência, pois é cometida muitas vezes por uma pessoa próxima, que possui a confiança da
vítima e o local onde ocorre a agressão geralmente é o lar, local descrito como referência de
proteção e abrigo, o que exprime o caráter cruel do delito.
No mundo inteiro a questão da violência doméstica contra a mulher é altamente
complexa, e isso envolve aspectos sociais, econômicos e culturais muito específicos de cada
lugar, os quais, de certa maneira, procuravam e ainda procuram “justificar” atos de crueldade
praticados a parceira, esposa, ou namorada, tornando-os quase que imperceptíveis aos olhos
da sociedade apoiados em sua própria forma de construção e reprodução, possibilitando,
assim, a manutenção das mais retrógradas pré-concepções sexistas.
Nesse sentido, a escolha do objeto pelas alunas pesquisadoras foi motivada pela
inserção no campo de estágio, no Hospital Bom Samaritano e no Centro Viva Vida, pela
participação no projeto de extensão da UFVJM observatório dos direitos da mulher dos Vales
do Jequitinhonha e Mucuri e a disciplina de gênero e Serviço Social, que tanto contribuíram
para aprofundar o debate, e pelas vivências familiares. Dessa forma, houve um despertar
inquietante sobre a violência contra a mulher no Brasil e no município de Teófilo
Otoni/Minas Gerais. Ocorre que a mulher nos casos atendidos tem seus direitos violados pelo
próprio marido ou companheiro, o que implica em questões de relações de gênero e relações
de poder. Importante enfatizar que aliado a esse contexto se encontra o registro de dez anos
de existência da Lei Maria da Penha que muito embora não seja tema específico deste estudo,
serve como base de fundamentação essencial para o estudo da violência doméstica.
Além disso, em consonância com o compromisso dos princípios do Projeto Ético
Político profissional, em romper com toda a forma de violência e contribuir com o
enfrentamento das desigualdades de gênero, a relação da temática com o Serviço Social e a
importância que a mesma exerce enquanto à formação acadêmica e profissional na atual
conjuntura social permitiu questionar qual seria a percepção da sociedade sobre a lei Maria da
Penha?
Entender o fenômeno da violência doméstica que tem suas raízes profundamente
44

entranhadas no bojo das relações sociais é uma questão que surge como justificativa para a
elaboração desse trabalho que teve como foco o município de Teófilo Otoni (MG), que é
reconhecida pólo dentro do Vale do Mucuri que é composto por 29 municípios - onde se
encontra inserido. Teófilo Otoni conta com uma população, segundo o Censo do IBGE do ano
de 2010, em torno de 135.000 habitantes e para onde convergem interesses dos mais diversos.
O município, conforme dados do diagnóstico da Secretária de Segurança Pública de Minas
Gerais entre os anos de 2014 a 2016 teve uma taxa alta no í​ndice de violência doméstica e
familiar, acima da média do Estado de Minas Gerais. ​Essas características, por si só, oferece
condições de se visualizar um município de relevante importância para essa região do Estado
de Minas Gerais.
A violência contra a mulher se agrava por diversos fatores, e a desarticulação da rede
de proteção é um deles, embora a raiz da violência se estabeleça em um perfil de sociedade
pautada na desigualdade de gênero.
Na busca por dados estatísticos que pudessem servir de auxilio na elaboração de um
retrato da violência doméstica contra a mulher no Brasil, verificou-se que as informações são
incipientes, imprecisas, escassas e, muitas vezes, restritas às esferas estaduais, quando não,
municipais e somente de municípios de maior expressão econômica.
Dessa forma, elege-se como objeto de estudo a percepção de Teófilo Otoni em
relação à violência doméstica contra a mulher e a Lei Maria da Penha, a partir da sua
população no ano de 2017. Dessa feita, este estudo objetivou compreender a percepção do
município de Teófilo Otoni sobre a violência doméstica contra mulheres e a Lei Maria da
Penha em 2017. Especificamente: a​preender as categorias da relação de gênero e patriarcado
como centrais na existência da violência contra mulher; Problematizar a violência contra
mulher no Brasil e a Lei Maria da Penha; analisar a percepção da sociedade sobre a Lei Maria
da Penha.
Para alcançar os objetivos propostos, utilizou-se a abordagem qualitativa em forma
de pesquisa de opinião (​Survey)​ e exploratória. O universo da pesquisa foi formado por 100
participantes de ambos os sexos, com idade acima de 16 anos, residentes no município de
Teófilo Otoni. A pesquisa foi feita entre os dias 21 e 22 de fevereiro de 2017, na Praça
Tiradentes do município de Teófilo Otoni, por ser um lugar de maior trânsito de pessoas. O
questionário contém 12 perguntas abertas e fechadas (Apêndice A). A amostra foi
probabilística, e a seleção dos entrevistados ocorreu de forma completamente aleatória. As
45

variáveis que foram consideradas: idade de 16 anos acima e sexo feminino e masculino. A
pesquisa bibliográfica também foi utilizada para ajudar na fundamentação do tema, e com
base nelas percorrendo os conteúdos de Saffioti (2011), que ajudaram na construção de três
capítulos. Assim, por meio do trajeto metodológico, ao findar da coleta teórica, bem como dos
dados da pesquisa foi feita análise das informações coletadas, bem como sua interpretação,
objetivando compreender a percepção da sociedade sobre a violência contra a mulher e
resultando no trabalho de conclusão de curso em Serviço Social.
O primeiro capítulo fez uma reflexão sobre o processo histórico no qual se deu a
origem da família, da propriedade privada, enquanto as primeiras expressões da desigualdade
de gênero. O conceito patriarcado foi descrito, pois se torna fundamental para realizar o
debate acerca das relações sociais de gênero, uma vez que carrega consigo o aspecto
ideológico, tornando sua descrição mais acessível ao conjunto de mulheres, vítimas da
dominação patriarcal. Percebe-se que a relação de gênero e patriarcado são eixos centrais do
processo de dominação e exploração capitalista. Oportunamente foi destacado o papel do
movimento feminista na luta pela emancipação da mulher no Brasil, por ser a organização
feminista determinante para o enfrentamento da violência contra a mulher.
O segundo tratou da violência doméstica percorrendo pelos conceitos na sociedade
patriarcal, capitalista e racista. A abordagem do marco legal de enfrentamento a violência
doméstica contra a mulher no Brasil também foi essencial nesse tópico. A Lei Maria da
Penha foi descrita e tipificou as violências contra a mulher. A Política Nacional de
Enfrentamento a violência no Brasil também foi tema de debate nesse capítulo.
O terceiro capítulo situou a principio o município de Teófilo Otoni como também as
relações de domínio e exploração nesse mesmo território. Em um segundo momento, ainda no
capítulo terceiro, foi demonstrado o resultado da pesquisa, e revelou a percepção do
município de Teófilo Otoni em relação a violência e a Lei Maria da Penha.
Dessa forma, parte-se do pressuposto que estudos relacionados à violência doméstica
tornam-se imprescindíveis, uma vez que contribui não só para a desmistificação de vários
estigmas a ela ligados, como também possibilita o fortalecimento da luta contra essa prática
delituosa contra a mulher. Acredita-se que a importância da promoção de debates entre
profissionais do Serviço Social, Psicossocial, Jurídica e de Saúde, sobre a realidade de tantas
mulheres, bem como da percepção da sociedade em relação a violência doméstica contra as
46

mulheres, seja reafirmada cotidianamente, identificando referências e imposições dessa


mesma sociedade patriarcal, racista e burguesa.

CAPÍTULO 1- GÊNERO, PATRIARCADO E OS PROCESSOS DE DOMINAÇÃO E


EXPLORAÇÃO

1.1 O patriarcado e as relações de gênero construída historicamente

O debate acerca do conceito de gênero a cada dia vem sendo ampliado, tanto no
campo acadêmico quanto nos movimentos feministas. Nesse sentido, parte-se do pressuposto
que a utilização do conceito de gênero aplicado de maneira isolada é insuficiente para abordar
a complexidade das relações entre homens e mulheres. “Nas relações entre homens e entre
mulheres, a desigualdade de gênero não é dada, mas pode ser construída e o é, com frequência
(SAFFIOTI, 2011, p. 71).
Segundo ​Yannoulas (1994) ​na trajetória da história, o debate da desigualdade entre
os sexos desenvolveu-se especialmente entre três perspectivas, a essencialista e a culturalista.
O discurso essencialista engrandece a "diferença sexual" e preserva a existência de uma
"essência feminina". Na perspectiva culturalista, a desigualdade sexual vem sendo criada
através da socialização e da cultura. Partindo desse pressuposto na ótica essencialista a
diferença sexual não se resolveria partindo de teorias, por conta que a mesma se encontra
enraizada na natureza dos seres humanos. E já na perspectiva racionalista todas essas
diferenças seriam eliminadas extinguindo a dominação patriarcal
Muito embora o conceito de gênero não explicite necessariamente somente
desigualdades, envolve teoricamente tanto a violência de homens contra mulheres quanto a de
mulheres contra homens, e sua categoria de análise não para por aqui, gênero também diz
respeito a uma categoria histórica cuja investigação traz símbolos culturais com inúmeras
representações e significados de identidades subjetivas, organizações e instituições sociais
entre outros (SAFFIOTI, 2011).
47

Ainda segundo Saffioti (2011) é possível observar que um dos fatores que mais
contribuem para naturalização e perpetuação das diferenças nas relações de gênero formado a
partir de dicotomias, é que as próprias mulheres (mães), dentro da instituição família, educam
sua prole reforçando que “o poder é macho” e cabe à mulher ser submissa a esse poder.
Nesse sentido, compreender a forma de organização da família é indispensável para o
estudo das relações de gênero na sociedade capitalista. A história das sociedades primitivas
traz a construção do debate da história da família.

A produção e a reprodução da vida imediata são fatores decisivos da história. A classificação dos estágios da
pré-história se deu no estado selvagem: onde se dominou a apropriação, pelos
produtos da natureza; na barbárie: onde se inicia a criação de gado na agricultura; e
na civilização: período de início da indústria da arte e escrita alfabética (ENGELS,
2005, p.21).

Esses três períodos também correspondem a três modelos de família, que se


constituíam, formada por um conjunto de pessoas reunidas sob o comando do senhor ou chefe
da família de forma a moldar costumes e conceitos por meio da ideologia patriarcal.

Ao estado selvagem correspondem o matrimonio por grupos, a barbárie, o matrimonio sindiasmico, e a


civilização correspondem a monogomia com seus comportamentos de adultério e a
civilização. Entre o matrimonio sindiasmico e a monogamia, intercala-se, na fase
superior da barbárie, a sujeição aos homens das mulheres escravas e a poligamia
(ENGELS, 2005, p.81).

A humanidade, a principio, segundo ​Narvaz e Koller (2006), era coletiva, tribal,


nômade e matrilineare. Essas organizações humanas tomadas como primitivas se articulavam
em torno da figura da mãe. A descendência feminina trazia o desconhecimento da
participação do homem na reprodução, as relações entre homem e mulher se estabeleciam de
forma igualitária tendo seus papeis sexuais e sociais mais flexíveis.

Com a descoberta da agricultura, da caça e do fogo, as comunidades passaram a se fixar em um


território. Uma vez conhecida, a participação do homem na reprodução e,
mais tarde, estabelecida a propriedade privada, as relações passaram a ser
predominantemente monogâmicas, a fim de garantir herança aos filhos
legítimos. O corpo e a sexualidade das mulheres passaram a ser controlado,
instituindo-se então a família monogâmica, a divisão sexual e social do
trabalho entre homens e mulheres. Instaura-se, assim, o patriarcado, uma
nova ordem social centrada na descendência patrilinear e no controle dos
homens sobre as mulheres (NARVAZ; KOLLER, 2006, p. 50).
48

Nesse rumo de análise, compreende-se por patriarcado o poder exclusivo ao homem


que se deu na família, é a dominação dos homens sobre as mulheres. É o direito masculino de
acesso sexual a mulher, o direito de ter poder sobre o corpo da mulher, independente dela
querer ou não, entende se que o patriarcado é um modelo rígido vigente durante gerações, e
está sempre apoiado pelas ideologias dominantes da sociedade, onde, contribuiu e continua
contribuindo para que o sexo feminino exerça papeis inferiores ao sexo masculino. Este
modelo se apodera, indicando que o corpo da mulher pertence ao homem passando a mulher a
ser sua propriedade.

O primeiro efeito do poder exclusivo dos homens, desde o momento em que se instaurou, e o observamo-lo na
forma intermediaria da família patriarcal, que surgiu naquela ocasião. O que
caracteriza essa família acima de tudo é a organização de certo número de
indivíduos, livres e não livres, numa família vive em plena poligamia, os escravos
tem uma mulher e filhos, e o objeto da organização inteira é o de cuidar do gado
numa determinada área. Os traços essenciais são a incorporação dos escravos e o
domínio paterno (ENGELS, 2005, p.61).

Para Engels (2005), a adestração dos animais e a criação de gados trazem uma
grande riqueza até então desconhecida à mulher cujos filhos eram cuidados por todos os
homens da tribo. Ela precisa agora ser mulher de um homem só, pois este começa a possuir
bens que serão passados apenas pros seus filhos legítimos, à medida que se aumentavam as
riquezas o homem adquiria uma posição de poder1 na família.

Resultou daí uma espantosa confusão, que só podia ser remediada - e parcialmente o foi - com a passagem ao
patriarcado. "Esta parece ser a transição mais natural" (Marx). O desmoronamento
do direito materno, a grande derrota histórica do sexo feminino em todo o mundo. O
homem apoderou-se também da direção da casa; a mulher viu-se degradada,
convertida em servidora, em escrava da luxúria do homem, em simples instrumento
de reprodução. Essa baixa condição da mulher, manifestada sobre tudo entre os
gregos dos tempos heróicos e, ainda mais, entre os dos tempos clássicos, tem sido
gradualmente retocada, dissimulada e, em certos lugares, até revestida de formas de

1
O poder natural dos homens como indivíduos (sobre as mulheres) abarca todos os aspectos da vida civil. A
sociedade civil como um todo é patriarcal. As mulheres estão submetidas aos homens tanto na esfera privada
quanto na pública". Nesse sentido, há, segundo ela, um ​patriarcado moderno​, contratual, que estrutura a
sociedade civil capitalista. O patriarcado moderno vigente alterou sua configuração, mas manteve as premissas
do pensamento patriarcal tradicional. O pensamento patriarcal tradicional envolve as proposições que tomam o
poder do pai na família como origem e modelo de todas as relações de poder e autoridade, o que parece ter
vigido nas épocas da Idade Média e da modernidade até o século XVII. O discurso ideológico e político que
anuncia o declínio do patriarcado, ao final do século XVII, baseia-se na ideia de que não há mais os direitos de
um ​pai ​sobre as mulheres na sociedade civil. No entanto, uma vez mantido o direito natural conjugal dos homens
sobre as mulheres, como se cada homem tivesse o direito natural de poder sobre a esposa, há um ​patriarcado
moderno​ (NARVAZ; KOLLER P.50, 2006).
49

maior suavidade, mas de maneira alguma suprimida (ENGELS, 2005, p 59).

O controle da sexualidade é um dos elementos primordiais para se explicar o controle


das relações patriarcais, Saffioti (2011). Na reprodução da família moderna na sociedade se
reproduz também cada vez mais as desigualdades sociais entre homens e mulheres.

[...] Sendo assim, esperam-se das mulheres delicadeza, sensibilidade, passividade, subordinação e obediência. e,
devido a sua condição biológica de engravidar e amamentar, a sociedade também
delegou a mulher o cuidado com o marido, o lar e os filhos sendo, inclusive,
responsabilizada por qualquer coisa de errado que aconteça (GOMES, 2007, p505).

Segundo Gomes (2007) era responsabilidade da mulher a educação alimentação dos


filhos, atividade doméstica e ao homem cabia o papel de provedor de chefe da casa, a
coragem e agressividade.
O Sistema Patriarcal se expandiu no decorrer da história da humanidade, desde os
tempos antigos até os dias atuais, sujeitando a desigualdade entre homens e mulheres, esse
sistema se articula ao sistema do capitalismo ele é onde se estrutura a divisão sexual do
trabalho2, que explícita a luta de homens e mulheres na perspectiva de estabelecer os papeis
do trabalho.

As relações na sociedade sofrem influência da divisão social do trabalho. A família, inserida no contexto social,
tem suas relações interiores influenciadas pelas mudanças ocorridas. Como
exemplos de transformações, podemos citar o trabalho da mulher, as mudanças nas
relações de trabalho, como, na sociedade contemporânea, o crescente número de
trabalhadores informais, que não possuem garantia de emprego, assim como o
grande número de desempregados. Todo este contexto pode influenciar e modificar
o cotidiano da vida em família (OLIVEIRA, 2009, p. 25).

As bases para a diferenciação da divisão entre os sexos no trabalho feminino e


masculino se dão por meio da ideologia patriarcado que divide o trabalho entre os dois sexos
em prol do estabelecimento de papeis, que os dois devem exercer seguindo um manual ditado
pela sociedade patriarcal, de como homens e mulheres devem se portar perante a sociedade. É
levado assim a designação do papel do homem na produção de riqueza e ocupação diárias
como engenharia, indústrias, tecnologias da informação entre outros, e a mulher destinada à
invisibilidade do papel do trabalho doméstico sem remuneração, ou destinada a serviços no

2
O patriarcado aqui se expressa em um dos seus pilares estruturantes: a divisão sexual do trabalho, que se revela
não apenas na diferenciação entre trabalhos considerando feminismos e masculinos, mas, também, na hierarquia
e na desigualdade no acesso aos meios de produção, ao trabalho e à riqueza por ele produzida. Com isso, postos
de trabalho considerados masculinos são mais valorizados e melhor remunerados, enquanto os considerados
femininos são desvalorizados e alguns sequer considerados trabalho, como é o caso do doméstico. (CISNE,
2015, p. 140).
50

âmbito da saúde, educação, serviço social e etc.

Seguramente esse regime ancorara se em uma maneira de homens assegurarem para


si mesmos e para seus dependentes os meios necessários à produção de área e a
reprodução da vida. Há sem dúvida uma economia domesticamente organizada que
sustenta a ordem patriarcal. Dentre os diferentes machos a pelo menos uma
hierarquia estabelecida com base nas distintas faixas etárias cada um traz
emPenhando suas funções sociais e tendo um certo significado. Neste regime as
mulheres são objetos da satisfação sexual dos homens reprodutores de herdeiros de
força de trabalho e de novas reprodutoras. Diferentemente dos homens como
categoria social, a sujeição das mulheres também como o grupo envolve prestação
de serviços sexuais a seus dominadores. Esta soma de dominação e exploração é
aqui entendida como opressão (SAFFIOTI, 2011, p. 105).

A desigualdade de gênero surge como consequência do sistema de dominação da


sociedade, que utiliza disso para manter a ordem estabelecida culturalmente, e como sempre
coloca a mulher numa posição inferior ao homem.
Segundo Narvaz e Koller (2006), no Brasil, a história da instituição familiar teve
como ponto de partida o modelo patriarca​l, podemos observar as condições locais que
favoreceram a organização de uma estrutura econômica firmada na base agrária, latifundiária
e escravocrata diante destas condições conseguimos descrever a sociedade patriarcal local em
sua compreensão de família.
Diante disso, nota-se que as particularidades assumidas pelo modelo patriarcal no
país, tende a aprofundar as desigualdades de gênero, e em especial favorecer o fortalecimento
do modelo de dominação e exploração patriarcal, que resulta dentre outros fatores, na
naturalização da violência contra a mulher.
A violência contra mulher é historicamente constituída desde os primórdios da
3
sociedade patriarcal e que persiste de forma articulada no capitalismo. Nessa perspectiva, a
categoria Gênero, ressalta sobre a influência do patriarcado na definição social de quais

3
A expressão violência doméstica costuma ser empregada como sinônimo de gênero. Esta, teoricamente engloba
tanto a violência de homens contra mulheres quanto a de mulheres contra homens, uma vez que o conceito de
gênero é aberto, sendo este o grande argumento das críticas do conceito de patriarcado, que, como o próprio
nome indica é o regime da dominação exploração das mulheres pelos homens. Este conceito não se resume a
uma categoria de analise, como muitas estudiosas pensam. Gênero também diz respeito a uma categoria
histórica, cuja investigação vem demandando muito investimento intelectual. O conceito de gênero não explicita
necessariamente desigualdades entre homens e mulheres. Muitas vezes a hierarquia é apenas presumida. Há
porem feministas que vêem a referida hierarquia independentemente do período histórico com o qual lidam. Ai
residem o grande problema teórico impedindo uma interlocução adequada E esclarecedora entre as adeptas do
conceito de patriarcado, as fanáticas pelo gênero e as que trabalham, considerando a história como processo
admitindo a utilização do conceito de gênero para toda a história, como categoria geral, e o conceito de
patriarcado como categoria especifica de determinado período ou seja para os seis ou sete milênios mais recentes
da história da sociedade (SAFFIOT1, 2011, pp. 44-45).
51

papeis a mulher ao longo de toda trajetória histórica deve desempenhar. A compreensão do


que é ser mulher na sociedade se dá de forma que se consiga buscar o entendimento do
comportamento de homens e mulheres que abarca toda a história brasileira.
A influência do patriarcado na relação de gênero ocorre por conta de ser um modelo
que irá dar sustentação ao modelo ideológico predominante onde, as classes elitizadas ao
longo da história buscam o poder e a manutenção deste poder, e para isso, formulam valores
condicionados para dar sustentabilidade a este poder, como a questão de que o homem é um
sexo forte, inteligente e viril.
A construção dos papeis sexuais postos para o sexo masculino como, Viril, Machão,
Dominador e Poderoso está impregnada em toda sociedade, sendo repassada com
naturalidade, para as futuras gerações e essas relações de poder se desenvolve nas relações
sociais.
O desenvolvimento do patriarcado na desigualdade de gênero deve ser entendido em
uma relação, na qual a mulher é submissa ao homem, cabe ressaltar que esses padrões de
comportamento não surgiram do nada, mas se constituíram de forma histórica sociocultural e
civilizatória, onde os papeis e os estereótipos advêm de uma educação diferenciada para
homens e mulheres.

É necessário compreender as relações de gênero a partir da visão da totalidade, que


consiga abarcar os determinantes sociais estruturais da sociedade em que vivemos,
tais como, a propriedade privada, a mercantilização das relações sociais, a
exploração da força de trabalho- elementos indispensáveis para aprender como a
sociabilidade capitalista contribui para conformar as relações sociais de gênero
(ALVES; CANÔAS, 2013, p. 6).

Segundo Silveira (2014) ao ser abordado o tema relações de gênero, estão envolvidas
também as relações de poder, desenvolvidas historicamente dentro da sociedade em uma
relação desigual entre homens e mulheres, na qual mantém a mulher submissa ao homem sob
o domínio patriarcal.
Problematizar as questões de gênero também significa aprofundar no conhecimento
em busca da realidade juntamente com suas determinações, social políticas culturais e
econômicas, permitindo então ao movimento feminista e aos estudos de gênero desmitificar e
desnaturalizar as opressões que as mulheres sofrem. Contudo, a desigualdade entre os sexos
decorre e culmina nas diferentes formas de violência contra mulher, naturalizando a aceitação
cultural do lugar da mulher e do homem na sociedade, legitimando o elo da relação de
52

hierarquia do poder entre os gêneros.

E o sexismo não é somente uma ideologia, reflete, também, uma estrutura de poder, cuja distribuição é muito
desigual, em detrimento das mulheres. Então, poder-se-ia perguntar: o machismo
favorece sempre os homens? Para fazer justiça, o sexismo prejudica homens,
mulheres e suas relações. O saldo negativo maior é das mulheres, o que não deve
obnubilar a inteligência daqueles que se interessam pelo assunto da democracia. As
mulheres são “amputadas”, sobretudo no desenvolvimento e uso da razão e no
exercício do poder. Elas são socializadas para desenvolver comportamentos dóceis,
cordatos, apaziguadores. Os homens, ao contrário, são estimulados a desenvolver
condutas agressivas, perigosas, que revelem força e coragem (SAFFIOTI, 2011
p.35).

Segundo Silveira (2014), o entendimento das relações de gênero faz com que se
compreenda o mesmo como uma construção social com seus alicerces na diferenciação
biológica dos sexos, compreendida através de relações de poder e subordinação, se
concretizando pela discriminação de funções, atividades, normas e condutas ditadas para
mulheres e homens em cada sociedade.
O gênero é a construção social do masculino e feminino. Esta construção social
ocorre através dos papeis sociais desempenhados pelos mesmos. A sociedade é quem
determina os papeis sociais e comportamentais dos indivíduos, e esta determinação é que vai
definir sua existência social. Portanto, compreende se gênero como sendo a manifestação do
papel social, econômico e político na sociedade.

Considerada em sua historicidade, a categoria gênero se apresenta de modo


complexo, envolvendo não só relações e características entre os sexos, mas indo
além, sendo determinada também, numa dinâmica temporal, por elementos que são,
ao mesmo tempo, significativos no que se refere às relações entre sociabilidade e
cultura. Trata-se de apreender como se efetivam as relações sociais entre os
indivíduos e as particularidades produzidas, mediante a forma como se organizam e
o modo como absorvem e reproduzem valores, poder e direitos nos mais
diferenciados ambientes como o trabalho, a família, a política, e nas relações
afetivo-sexuais. Ou seja, trata-se de identificar como os valores, objetiva e
subjetivamente construídos são introjetados, vivenciados e reproduzidos na vida
cotidiana (​SANTOS; OLIVEIRA, 2010, p.12​).

A importância da diversidade abre espaço para que possamos constatar a forma com
que as mulheres se conectam nesta conjuntura de desigualdades, impostas por relações
sociais, erguidas, usando como referências a subalternidade e opressões conquistadas, seja por
se apoderarem dessa desigualdade histórica que impõem a inferioridade da mulher com
relação aos homens, ou que mesmo associados ao poder seja por ter em suas bases históricas o
pertencimento a uma classe dominada e excluída de toda riqueza construída socialmente e
historicamente oprimida (​SANTOS; OLIVEIRA 2010).
53

Esta construção social do que é ser mulher e do que é ser homem se relaciona com o
sistema patriarcal, aqui entendido como um sistema de dominação masculina, com
constituição e fundamentação históricas, em que o homem organiza e dirige,
majoritariamente, a vida social. Com o aumento da desigualdade social e a
intensificação da exploração da classe trabalhadora, aprofunda-se a situação de
dominação e exploração sobre a mulher (​SANTOS; OLIVEIRA, 2010, p.14​).

Pode-se compreender que os papeis sociais desenvolvidos por homens e mulheres ao


longo da história que aparecem através das relações sociais que a sociedade capitalista
determina de acordo com as suas necessidades, políticas, econômicas, sociais e culturais.
Sendo assim este contexto social determina a consciência dos indivíduos.
O gênero não se limita apenas ao campo das ideias, mas também às instituições, às
estruturas, às práticas cotidianas, como também aos rituais e a tudo que constitui as relações
sociais. Diante do exposto, as relações de gênero são constituídas, elaboradas desde o
nascimento do indivíduo, até sua morte.
A constituição de um conflito entre os sexos, que era desconhecida até então em toda
a pré-história, passa a ir de encontro ao longo dos anos com os avanços a cerca de desvendar
as relações mantidas, até então ignoradas, que vinham de encontro com o poder político e
econômico nas relações sociais de produção e reprodução.
Sendo assim se faz necessário ir além dessas relações de reprodução situadas no
domínio privado, em busca de reformular novos conceitos, de como de fato se deseja
reconstruir a sociedade, levando em consideração que o patriarcado e o capitalismo são duas
faces de um mesmo modo de produzir e reproduzir a vida, tendo o patriarcado, a sua história
anterior ao capitalismo. O que traz as inúmeras contradições atuantes fabricadas nas relações
entre os sexos e entre as classes sociais, com consequências dramáticas (SAFFIOTI, 2011).
No que tange a divisão sexual do trabalho, a mesma subordina a mulher ao homem
em uma relação de dominação em que coloca a reprodução como subordinada a produção,
sendo assim a supremacia masculina vigente dentro da sociedade patriarcal.E na mesma
funciona o controle político, dentro de uma ordem social hierárquica e que se faz como
inspiração, para conduzir as lutas e avanços nas reivindicações, por uma sociedade mais igual
tanto no espaço privado quanto público.
O processo ideológico e sua configuração, uma vez que se entende que desde as
instituições, as estruturas e a própria prática cotidiana sustentam o modelo patriarcal e a
questão de gênero. Toda esta estrutura irá buscar a naturalização deste modelo.
54

Havia e, em grande medida, podemos dizer que, ainda, há relações materiais


concretas sem que direitos e privilégios dos homens sejam assegurados em
detrimento das mulheres. Privilégios constituídos pelo sistema patriarcal que, por
sua vez, é alicerçado por relações de violências, opressões e explorações sobre as
mulheres (CISNE, 2015, p.139).

Portanto a busca desse rompimento viabiliza um paradigma, no qual, está enraizado


na maioria das mulheres o condicionamento de comportamento natural, que se evidencia no
dia a dia durante as tomadas de decisões nas maiorias dos lares brasileiros.
A respeito das compreensões quanto às formas de opressão sofrida pelas mulheres,
Santos e Oliveira, (2010) parte do pressuposto de que os homens e as mulheres sendo produto
das relações sociais residem sob condições objetivas e subjetivas e que residem em sua
sociabilidade a construção social em dar respostas as suas necessidades e vontades embora a
sociabilidade do capital criem um enorme obstáculo limitando que a individualidade cresça de
forma plena e livre.

Considerando que o modo de pensar e agir é determinado na dinâmica complexa e contraditória entre
sociabilidade e individualidade, podemos verificar a prevalência de indivíduos
despotencializados em sua criatividade, em sua capacidade reflexiva, reproduzindo
práticas que reiteram processos de alienação e de subalternidade. (SANTOS;
OLIVEIRA, 2010, p. 12).

O processo de dominação sobre a mulher é enraizado e oriundo desde o seu


nascimento, como já foi visto anteriormente essas relações são reproduzidas como um
processo natural, como a necessidade de comer e de falar, ou seja, homem nasceu para
mandar, mulher nasceu para obedecer, pois só assim é garantido o equilíbrio da sociedade.

A reivindicação das mulheres por direitos humanos não é recente e resulta da necessidade de buscar dignidade,
contrapondo-se a um sistema patriarcal que as nega e as violenta cotidianamente. A
Declaração dos direitos da mulher e da cidadã é um marco histórico na luta por
direitos humanos femininos (CISNE, 2015, p. 140).

É preciso que ocorra a ruptura do processo de dominação que inferioriza a população


feminina, e é evidente que apesar de toda a luta feminina, para ser reconhecida sem
preconceito na sociedade e no mercado de trabalho procurando assim ser valorizada, ela ainda
tem prioridade nos espaços de empregos com baixos salários, tempo integral com forte
exploração da força de trabalho consistindo em uma precariedade extrema. Além disso, as
mulheres na atualidade têm o seu trabalho duplicado dando conta das funções do seu emprego
e de suas tarefas no seio familiar.
Assim, percebe-se que há uma profunda contradição entre os movimentos
55

revolucionários no que tange a questão de gênero. Os homens, estando em uma posição de


vantagem e superioridade garantida historicamente pelo patriarcado, eram os únicos a
receberem educação acadêmica, e por isso, os primeiros a formularem alternativas de
organizações sociais. Por esse motivo, ficava claro que, estando em posição de vantagem, se
tornava difícil que os mesmos questionassem os papeis compulsórios de gêneros e a opressão
sob as mulheres nos novos modelos de sociedade (BLAY, 2003).
Dessa forma, percebe-se que os movimentos de luta pelos direitos da mulher ocupam
um lugar central para romper com as desigualdades de gênero na ordem patriarcal. Na história
da construção da civilização é possível observar que a mulher nem sempre teve reconhecida e
valorizada todas as fazes da sua vida, em algumas era levada em conta apenas a sua condição
de procriar, trazendo a garantia da continuação do modelo vigente em sua descendência. Além
disso, o modelo patriarcal favoreceu para que a história das lutas sociais, em sua maioria,
fosse escrita por homens, ficando historicamente invisibilizadas o papel das mulheres nas
conquistas dos direitos. Nesse caso, tornou-se indispensável dá visibilidade, ao papel do
movimento feminista na luta pela emancipação da mulher no Brasil e no enfrentamento da
opressão de gênero.

1.2 O papel do movimento feminista na luta pela emancipação da mulher no Brasil

No tópico anterior foi possível analisar elementos centrais para a construção


processamento histórico da sociedade elencada no desequilíbrio entre o sistema da família
entrelaçado cada vez mais nas desigualdades sociais entre homens e mulheres e o crescimento
do sistema patriarcal no decorrer da história da humanidade desde as épocas mais remotas até
a atualidade.
Nesse sentido, tanto o entendimento da discussão sobre gênero, quanto à apreensão
da construção histórica da organização da luta feminista são igualmente importantes para
entender as relações sociais na quais estamos inseridas.
Cabe destacar ainda conforme Cisne (2015, p.139) que “a reivindicação das mulheres
por direitos humanos não é recente e resulta da necessidade de buscar dignidade,
contrapondo-se a um sistema patriarcal que as nega e as violenta cotidianamente.”
Isso implica que a luta das mulheres em contraposição do sistema patriarcal, vêm de
longo tempo, provocando nas mulheres uma busca pelo seu reconhecimento social em busca
56

de vida digna, sem violência, mas que sempre fora negado.


Por vários séculos as mulheres foram destinadas a permanecerem sempre no
ambiente doméstico, e destinadas à subalternidade do poder do patriarca, pai, marido, chefe
da casa. Existia certa limitação que trazia claramente qual era o lugar ocupado pela mulher
naquela época, limitação do ir e vir dessas mulheres, único lugar no qual ela não era
questionada ao fazer sua exposição seria a igreja.
Segundo Gurgel (2010), as organizações das mulheres foram alvo de repressão,
sempre que as mulheres se mobilizavam em prol de discutir algum assunto que não agradasse
e trouxesse qualquer abalo para as estruturas da sociedade capitalista e machista, as mesmas
se viam imediatamente reprimidas e impedidas de dar continuidade com aquela ação. A
construção do debate de gênero embora tenha se iniciado no campo acadêmico, também
esteve ligado ao movimento feminista.
De acordo com Costa (2005), o movimento feminista brasileiro, não se deu de forma
isolada do contexto mundial, mas sim se estabeleceu através de laços que refletiam as lutas e
desafios desse movimento.

Ao longo da história ocidental sempre houve mulheres que se rebelaram contra sua condição, que lutaram por
liberdade e muitas vezes pagaram com suas próprias vidas. A Inquisição da Igreja
Católica foi implacável com qualquer mulher que desafiasse os princípios por ela
pregados como dogmas insofismáveis. (PINTO, 2010, p.15).

A construção social histórica da luta feminista se da através de características


peculiares que devem ser levados em consideração ao se compreender seu processo.
Esse movimento ocorre segundo Pinto (2010), através de três fases também
consideradas três ondas. A 4primeira se deu na Inglaterra e EUA com luta pelos direito
femininos ao voto, nasce aqui o a luta pelo sufrágio. Suas reivindicações estavam atreladas
fortemente aos direitos políticos femininos, direito de sufrágio, direitos sociais, econômicos,
direito ao trabalho, à propriedade, e à herança.

A primeira geração (ou primeira onda do feminismo) representa o surgimento do movimento feminista, que
nasceu como movimento liberal de luta das mulheres pela igualdade de direitos

4
Enquanto a primeira onda do feminismo possuía demandas fortemente relacionadas a questões de igualdade em
relação ao homem, consistentes em gozar das mesmas liberdades de trabalho, participação política e outras, a
segunda onda do feminismo procurou se deter no que era específico da mulher, reivindicando que as
peculiaridades femininas fossem reconhecidas e protegidas. A mulher possuía um corpo 335 e uma história que
eram peculiares e subordinados socialmente, e essas questões mereciam ser investigadas. O feminismo desse
momento “deu prioridade às lutas pelo direito ao corpo, ao prazer, e contra o patriarcado – entendido como o
poder dos homens na subordinação das mulheres” (GUIMARÃES FLORIVALDO ARAÚJO, 2015, p. 335).
57

civis, políticos e educativos, direitos que eram reservados apenas aos homens. O
movimento sufragista (que se estruturou na Inglaterra, na França, nos Estados
Unidos e na Espanha) teve fundamental importância nessa fase de surgimento do
feminismo. O objetivo do movimento feminista, nessa época, era a luta contra a
discriminação das mulheres e pela garantia de direitos, inclusive do direito ao voto.
Inscreve-se nesta primeira fase a denúncia da opressão à mulher imposta pelo
patriarcado (NAVAZ; KOLLER. 2006 p. 649).

A defesa pelo sufrágio se deu de forma unificadora nas diferentes formas de


enfrentamento das mulheres trazendo alianças com forças revolucionaria que traziam o quão
extenso era a práxis feminista, nessa época.

A reivindicação pelo direito ao sufrágio mobilizou a mulheres por sete décadas em diferentes países e regiões do
mundo. De inicio tanto nos Estados Unidos quanto em alguns países da Europa, as
sufragistas se dividiam devido as suas estratégias: um setor priorizava a luta pela
mudança em nível de Constituição Federal, o que exigia o apoio parlamentar. Outra
tendência era de ações estaduais, ou seja, o sufrágio se daria mediante mudança na
constituição federal. Assim o movimento chegou a envolver milhões de mulheres e
inúmeras ações (GURGEL, 2010, p.3).

Já na segunda fase segundo Pinto (2010) se iniciam os grupos de consciência e


reflexão, ocorre aqui uma troca de experiências, e perseguição da ditadura e talvez fosse ate o
caso de considerá-lo menos literária e mais jornalística.

A segunda fase do feminismo (segunda geração ou segunda onda) ressurge nas


décadas de 1960 e 1970, em especial nos Estados Unidos e na França. As feministas
americanas enfatizavam a denúncia da opressão masculina e a busca da igualdade,
enquanto as francesas postulavam a necessidade de serem valorizadas as diferenças
entre homens e mulheres, dando visibilidade, principalmente, à especificidade da
experiência feminina, geralmente negligenciada. As propostas feministas que
caracterizam determinadas posições, por enfatizarem a igualdade, são conhecidas
como “o feminismo da igualdade”, enquanto as que destacam as diferenças e a
alteridade são conhecidas como “o feminismo da diferença”. ). O desafio nesta fase
do feminismo é pensar, simultaneamente, a igualdade e a diferença na constituição
das subjetividades masculina e feminina (NAVAZ; KOLLER, 2006 p.649).

A5terceira fase, trazia uma critica da anterior por conta de suas escritoras ser a
maioria de cor branca e de classe media, nesse período também se deu uma discussão a cerca
da diferenciação entre os sexos e seus papeis culturais.O feminismo então se viu envolvido
pela militância dos movimentos e pelas produções no campo da teoria.

A terceira onda abrange as tentativas de desconstrução da categoria “mulher” como um sujeito coletivo unificado
que partilha as mesmas opressões, os mesmos problemas e a mesma história.

5
Com toda essa preparação, é de se esperar o tamanho da onda que se segue. O século XX já inicia com uma
movimentação inédita de mulheres mais ou menos organizadas, que clamam alto pelo direito ao voto, ao curso
superior e à ampliação do campo de trabalho, pois queriam não apenas ser professoras, mas também trabalhar no
comércio, nas repartições, nos hospitais e indústrias (DUARTE, 2003, p 160).
58

Trata-se de reivindicar a diferença dentro da diferença. As 337 mulheres não são


iguais aos homens, na esteira das ideias do feminismo de segunda onda, mas elas
tampouco são todas iguais entre si, pois sofrem as consequências da diferença de
outros elementos, tais como raça, classe, localidade ou religião. Essa nova fase do
feminismo mostra, então suas raízes em dois movimentos filosóficos da
contemporaneidade: o pós-modernismo e a Filosofia da Diferença. Os trabalhos
teóricos feministas desenvolvidos a partir de então tem um caráter de rejeição de
tudo o que é unívoco, procurando dar ênfase à mutabilidade e à subjetividade e
radicalizando a subversão contra tudo o que é opressivo e limitador (BEDIN;
CITTADINO; ARAÚJO, 2015, p. 335).

Costa (2005) descreveu que nas próprias teorias das Ciências Humanas em geral e na
historia dos movimentos sociais, tanto o campo da teoria quanto os do movimento, dialogam
entre si provocando embates.

Esta coincidência entre militância e teoria é rara e deriva-se, entre outras razões, do tipo social de militante que
impulsionou, pelo menos em um primeiro momento, o feminismo da segunda
metade do século XX: mulheres de classe média, educadas, principalmente, nas
áreas das Humanidades, da Crítica Literária e da Psicanálise. Pode se conhecer o
movimento feminista a partir de duas vertentes: da história do feminismo, ou seja, da
ação do movimento feminista, e da produção teórica feminista nas áreas da História,
Ciências Sociais, Crítica Literária e Psicanálise. (PINTO, 2010, p.15).

A importância de se buscar conhecer a construção histórica da teoria e dos


movimentos feministas, se da na necessidade de conhecer toda a dinâmica do sec. XX no qual
estão inseridas estas mulheres, que buscam em ir de encontro às novas mudanças e
enfrentamentos, em prol do rompimento com as desigualdades que perpassam a sociedade
brasileira.
Pinto (2010) descreveu que o debate feminista começa a ganhar maior visibilidade e
aparecer com maior importância, a partir de 1960 na qual consegue se destacar juntamente
com o movimento ​hippie​, na Califórnia, que propôs uma forma de vida nova, que acabava
defrontando com os valores morais e de consumo, trazendo o lema: “paz e amor”. E através
de tantos desafios sendo propostos, Betty Friedan lança em 63 o novo feminismo, a mística
feminista que é considerada uma espécie de bíblia, o movimento surge com força total, e pela
primeira vez as mulheres falam diretamente sobre a questão das relações de desigualdade e
poder entre homens e mulheres. O feminismo aparece como um movimento libertário, que
não almeja só espaço para a mulher no âmbito da vida pública, na educação e do trabalho,
mas que luta por uma forma de relacionamento igualitário entre homens e mulheres, na qual a
mulher tenha autonomia e liberdade para decidir sobre sua vida e seu corpo.

Na Europa, aconteceu em “Maio de 68”, em Paris, quando estudantes ocuparam a Sorbonne, pondo em xeque a
ordem acadêmica estabelecida há séculos; somou-se a isso, a própria desilusão com
59

os partidos burocratizados da esquerda comunista. O movimento alastrou-se pela


França, onde os estudantes tentaram uma aliança com operários. O que teve reflexos
em todo o mundo foi também nos primeiros anos da década o lançamento da pílula
anticoncepcional. A música vivia a revolução dos Beatles e Rolling Stones (PINTO,
2010, p.16).

Nos anos 70 o feminismo brasileiro até mesmo nos grupos que se intitulavam
feministas, se aderiu como impedimento maior para o desenvolvimento das questões de
gênero se atribuíam através do rompimento com o autoritarismo rompendo também com a
política de alianças. A ditadura militar trouxe a violência e os constrangimentos tratados com
muita resistência, o que trazia um fortalecimento da oposição em bloquear questões voltadas
para o feminismo.

Ao saldo da experiência de resistência das mulheres à ditadura aliaram-se as


mudanças por que vinha passando o país sob o regime autoritário, ainda que durante
sua fase mais amena, o processo chamado de "distensão lenta e gradual" dos últimos
governos militares. A expansão do mercado de trabalho e do sistema educacional
que estava em curso num país que se modernizava, gerou, ainda que de forma
excludente, novas oportunidades para as mulheres. Este processo de modernização,
acompanhado pela efervescência cultural de 1968, de novos comportamentos
afetivos e sexuais relacionados ao acesso a métodos anticoncepcionais e ao recurso
às terapias psicológicas e à psicanálise, influenciou decisivamente o mundo privado.
Novas experiências cotidianas entraram em conflito com o padrão tradicional de
valores nas relações familiares, sobretudo por seu caráter autoritário e patriarcal.
Nessas circunstâncias, o Ano Internacional da Mulher, 1975, oficialmente declarado
pela ONU, propicia o cenário para início do movimento feminista no Brasil, ainda
fortemente marcado pela luta política contra o regime militar ​(PINTO, 2010, p.17).

Em 1980 segundo Pinto (2010), o Estado traz a importância da categoria relações de


gênero nas políticas públicas. Essa época para o Brasil e em toda América Latina foi de suma
importância onde os seus longos processos de lutas guiaram e deram autonomia ao
movimento feminista na conquista pela redemocratização.

Com a redemocratização dos anos 1980, o feminismo no Brasil entra em uma fase de grande efervescência na
luta pelos direitos das mulheres: há inúmeros grupos e coletivos em todas as regiões
tratando de uma gama muito ampla de temas – violência, sexualidade, direito ao
trabalho, igualdade no casamento, direito à terra, direito à saúde materno-infantil,
luta contra o racismo, opções sexuais. Estes grupos organizavam-se, algumas vezes,
muito próximos dos movimentos populares de mulheres, que estavam nos bairros
pobres e favelas, lutando por educação, saneamento, habitação e saúde, fortemente
influenciados pelas Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica (PINTO,
2010, p.17).
60

Segundo Sarti (2001) no que envolve a perspectiva feminista perante a igreja sempre
houve limites claros diante da moral e bons costumes. A predominância da igreja em cima dos
grupos populares ditou a ideologia das mulheres pobres, com seus papeis familiares sempre
reforçados para a vida comunitária.

Desacordos sabidos eram evitados, pelo menos publicamente. O aborto, a


sexualidade, o planejamento familiar e outras questões permaneceram no âmbito das
discussões privadas, feitas em pequenos "grupos de reflexão", sem ressonância
pública. Outro traço que marca a trajetória particular do feminismo no Brasil, pelo
menos quando comparado ao dos países europeus, diz respeito ao próprio caráter dos
movimentos sociais no Brasil em sua relação com o Estado. Os movimentos sociais
urbanos organizaram-se em bases locais, enraizando-se na experiência cotidiana dos
moradores das periferias pobres, dirigindo suas demandas ao Estado como promotor
de bem-estar social (SARTI, 2001 p.38).

Uma das maiores vitórias do feminismo no Brasil de acordo com Pinto (2010),
ocorreu na criação do (CNDM) conselho nacional da condição da mulher que a partir da
utilização de sua secretaria como status de ministro organizou junto a importantes grupos o
(CFEMEA), centro feminista de Estudo e Acessória de Brasília uma campanha que
promovesse a inclusão dos direitos das mulheres na nova constituição de 1988, sendo então
considerada como uma das constituições que mais garantem os direitos das mulheres.6
Segundo Costa (2005) as primeiras manifestações dos ideais feministas, tem um
apoio muito grande da imprensa feminina, que naquela época foi o principal veículo de
divulgação das ideais feministas. Em quase todos os países os processos das mulheres de
organização se deram em conjunto com o processo de mobilização e organização dos
movimentos populares e intensa influencia pelo pensamento socialista internacional.

Em fins do século XIX, as mulheres brasileiras incorporadas à produção social representavam uma parte
significativa da força de trabalho empregada, ocupavam de forma cada vez mais
crescente o trabalho na indústria, chegando a constituir a maioria da mão-de-obra
empregada na indústria têxtil. Influenciadas pelas idéias anarquistas e socialistas
trazidas pelos trabalhadores imigrantes espanhóis e italianos, já se podiam encontrar
algumas mulheres incorporadas às lutas sindicais na defesa de melhores salários e

6
A anistia de 1979 permitiu a volta das exiladas no começo dos anos 80, reencontro que contribuiu para
fortalecer a corrente feminista no movimento das mulheres brasileiras. As exiladas traziam em sua bagagem não
apenas a elaboração (alguma, pelo menos) de sua experiência política anterior, como também a influência de um
movimento feminista atuante, sobretudo na Europa. Além disso, a própria experiência de vida no exterior, com
uma organização doméstica distinta dos tradicionais padrões patriarcais da sociedade brasileira, repercutiu
decisivamente tanto em sua vida pessoal quanto em sua atuação política. O saldo do exílio, de umas, e a
experiência de ter ficado no país nos anos 70, de outras, que construíram o feminismo local, fez deste encontro
de aliadas um novo panorama. Nos anos 80 o movimento de mulheres no Brasil era uma força política e social
consolidada. Explicitou-se um discurso feminista em que estavam em jogo as relações de gênero. As idéias
feministas difundiram-se no cenário social do país, produto não só da atuação de suas porta-vozes diretas, mas
do clima receptivo das demandas de uma sociedade que se modernizava como a brasileira. Os grupos feministas
alastraram-se pelo país. Houve significativa penetração do movimento (SARTI, p. 41, 2001).
61

condições de higiene e saúde no trabalho, além do combate às discriminações e


abusos a que estavam submetidas por sua condição de gênero (COSTA, 2005, p.3).

Fica extremamente comprometida a participação dos papeis sociais, dado as


mulheres, envolvendo a exploração causada pela dupla e tripla jornada de trabalho, que são
compreendidas em seu cerne através de diversas formas de opressão sofridas nos diversos
espaços sócio ocupacionais. Para Saffioti (2011), a união de todos esses fatores traz
historicamente a participação da mulher na política e nos demais espaços públicos sendo
reprimida a todo o momento, e estando sempre ligada aos movimentos sociais como nos
grupos de associação de mães, movimento contra a carestia luta por creches e etc.

O aceso a franquia eleitoral representava o reconhecimento pela sociedade e pelo estado de que as mulheres
tinham condições iguais as dos homens para gerir a vida coletiva e também que elas
possuíam visões do mundo e interesses próprios, irredutíveis aos de seus familiares
[...]. Além desse efeito simbólico, havia a ideia de que o voto era via de acesso aos
espaços de tomada de decisão que se tornariam mais permeáveis aos espaços de
tomada de decisão, que se tornariam mais permeáveis a presença das mulheres e
mais acessíveis as demandas (MIGUEL; BIROLI; MIGUEL, 2014, p. 93).

Sati (2002) retratou que se deu de forma marcante o agrave na política trazendo
desordem e impasses estruturais feministas por conta de dois fatores, de um lado a difícil
articulação da luta política contra a opressão social, e a subjetividade, aliados também ao teor
libertário feminista e por outro lado o feminismo embora pregue o respeito para com as
mulheres, na verdade ele se refere a contextos políticos sociais específicos dividindo nesse
recorte o mundo identificado como feminino.
No Brasil, o direito ao voto foi conquistado em 1932. De acordo com Silva (2012)
essa conquista do voto foi um caminho árduo a ser percorrido pelas mulheres, e as
dificuldades não param por ai a participação das mulheres na política ainda se da de forma
conflituosa e com muitos obstáculos. A cultura patriarcal e machista presenteou os brasileiros
com uma sociedade preconceituosa desigual é injusta, que prejudica a formação de lideranças
e participação na política, nas câmaras legislativas, no poder executivo no judiciário, partidos
políticos e direções de sindicatos.

E evidente que a baixa representação das mulheres nos poderes governamentais, indica uma forma de
desigualdade incorporada pelo sistema político [...] Constituído historicamente como
um ambiente masculino, o campo político trabalha contra as mulheres (bem como os
integrantes de outros grupos em posição de subalternidade), impondo a elas maiores
62

obstáculos para que cheguem as posições de maior prestigio e influencia, mesmo


depois de terem alcançado cargos por meio do voto (MIGUEL; BIROLI; MIGUEL,
2014, p. 93).

O Brasil em 2010 teve o seu ato histórico com a eleição da primeira presidenta da
republica, que fez a nomeação de nove mulheres ministras, Dilma supera 'cota' de Lula, FHC,
Collor, Itamar e Sarney, trazendo assim o fortalecimento e empoderamento7 econômico das
mulheres, e a luta contra a desigualdade e violência de gênero. Embora esse fato se tenha
dado em um contexto de muitos impasses e discordâncias, por conta de não se acreditar que
uma mulher fosse capaz de assumir presidência através do voto direto e governar o país. É
notório que nosso pais vêm perdendo a sua conquista por espaços significativos, acarretando
assim no retrocesso acerca da proteção e expansão de direitos, o estado patriarcal e burguês
contribui para que essas contradições se acirrem cada vez mais.
No debate acerca da participação da mulher na política, é inevitável que se traga a
tona a atual conjuntura política brasileira. Algo que merece destaque se deu no fato da retirada
do poder da primeira presidenta mulher fazendo o uso de diversos estereótipos de gênero
sendo mobilizados para justificar a sua saída. Esse fato foi à personificação do poder da
ideologia patriarcal, da desigualdade de gênero, ou seja, foi uma violência de gênero o que
vivenciamos e estamos vivendo, e essa violência vem rebatendo em todas nós mulheres,
aumentando os desafios dos movimentos feministas na luta pelos direitos. Dessa forma, é
notório que o Brasil vem perdendo a sua conquista por espaços significativos, acarretando
assim no retrocesso acerca da proteção e expansão de direitos, o Estado patriarcal e burguês
contribui para que essas contradições se acirrem cada vez mais.
O fato de o governo Michel Temer (subseqüente a presidente Dilma), ter delegado a
grande maioria desses cargos as classes privilegiadas, ou seja, homens brancos e ricos e que
somente após pressão popular, o mesmo indicou uma mulher para ocupar os cargos de chefia

7
O empoderamento sugere uma ideia de processo, ou seja, a passagem de um estado de não se ter poder para o de
se ter poder. Para se progredir de um estágio para o outro, o indivíduo vive um processo através do qual ganha
autoconfiança, se apodera de alguns recursos e torna-se capaz de tomar decisões necessárias ao controle de sua
vida, no presente, e institui ações estratégicas para o futuro. No decorrer do processo, há que se fazer opções,
escolhas, estabelecer comando sobre várias dimensões da vida. O empoderamento é, portanto, um atributo
individual e coletivo e consiste, ao mesmo tempo, em um processo e uma condição. (PRESSER E SEN 2000).
No que concerne ao empoderamento das mulheres, Moreira (2012), argumenta que este se constitui um desafio
às relações patriarcais, essencialmente ao poder dominante no âmbito familiar, predominantemente masculino. O
empoderamento das mulheres requer uma transformação no que se refere ao tradicional predomínio de homens
sobre mulheres, assegurando, assim, uma autonomia para elas no que diz respeito ao controle dos seus corpos, à
sexualidade, ao direito de ir e vir, assim como aversão à violência e às escolhas unicamente masculinas que
atingem todos no núcleo familiar (NADU; TORRES; SIMÃO, 2014 p.6).
63

dos ministérios, representa que o Estado tem sexo, tem cor e funcionalidade e é permeado
pela violência de gênero, ou seja, o Estado é machista, racista e burguês. Outro retrocesso,
para as conquista das mulheres brasileiras foi o fato da Secretaria Nacional de Políticas para
as Mulheres8, ter deixado de ser um ministério e passando a ser agora subordinada ao
Ministério da Justiça. Nesse sentido, essa conjuntura, pois destacar por representar um grande
desafio para o movimento feminista. Pois, a todo o momento percebe-se a investida do Estado
burguês, patriarcal e racista, em detrimento das lutas e conquista históricas do movimento
feminista.

Diante de tudo isso, a discussão sobre gênero e política se torna ainda mais relevante. As mulheres brasileiras,
apesar de comporem 51% da população e 52% do eleitorado, ocupam apenas 10%
das cadeiras na Câmara dos Deputados e 13% no Senado. A sub-representação das
mulheres na política legislativa está diretamente relacionada às diversas formas de
dominação masculina. Uma vez que elas não são formuladoras das políticas públicas
e das leis que terão impacto direto em suas realidades concretas, acabam se tornando
apenas objetos. Isso quer dizer que por estarem ausentes dos espaços tradicionais de
deliberação política elas não podem falar por si próprias (SANCHEZ, 2016, p. 44).

É imperioso dizer que não se pode acomodar e para por ai, é necessário que se ​reflita
também sobre suas experiências participativas em ações de fomento à cidadania feminina,
pois ​apesar desses avanços importantes, a melhoria da situação em que se encontrão as

8 P​ or meio da ​medida provisória nº 103 de 2003​, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva transformou a
antiga Secretaria de Estado dos Direitos da Mulher, vinculada ao Ministério da Justiça, na Secretaria Especial de
Políticas para as Mulheres, ligada à presidência da República. Desde ​então ela vem se firmando como um órgão
importante para a defesa dos direitos da mulher​. Seis anos depois, a SPM se tornou um ministério. O anúncio
veio na comemoração do Dia Internacional da Mulher, em 2009. Assim, a SPM passaria a ter liberdade
orçamentária e autonomia para a elaboração e monitoramento das políticas públicas de gênero. Apesar do
anúncio, só no ano de 2012 a SPM se tornou uma Unidade Orçamentária, ou seja, de fato foi reconhecida como
uma unidade independente da Presidência da República. Nesses 13 anos ocorreram em diversas pautas dos
movimentos de mulheres e feminista. Com certeza a Secretaria contribuiu para isso. A SPM participou, por
exemplo, na elaboração da proposta que subsidiaria o texto da ​Lei Maria da Penha​, aprovada em 2007. Outras
políticas do Governo Federal passaram a privilegiar as mulheres como beneficiária, como o ​Bolsa Família​ e
o ​Minha Casa Minha Vida​. Até mesmo o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), principal política do
Governo Dilma, inclui no conjunto de investimentos a construção de novas creches. Outro efeito político
interessante da criação da SPM foi que nesses últimos anos vem crescendo o número de secretarias e diretorias
para as mulheres nos estados e municípios de todo o país. Até a criação da SPM as ações para o enfrentamento
da violência contra as mulheres ficavam restritas à capacitação de profissionais para atender às mulheres e a
manutenção das casas-abrigo e das delegacias especializadas (DEAMS). ​ Em 2 de outubro de 2015 a Secretaria
foi incorporada ao então recém-criado ​Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos
Humanos​ (MMIRDH), unindo a ​Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial​, a ​Secretaria de
Direitos Humanos​, e a Secretaria de Políticas para as Mulheres. Em maio de ​2016​, o presidente interino ​Michel
Temer​ extinguiu o MMIRDH e atribuiu novamente suas funções ao Ministério da Justiça, que passou a se
chamar oficialmente Ministério da Justiça e Cidadania, representante um verdadeiro retrocesso aos direitos da
mulher no Brasil. Disponível em: <​http://www.cfemea.org.br/> Acesso em 10 de abr. 2017.
64

mulheres em nosso país especialmente as mais pobres, negras, e indígenas requer uma atenção
maior, pois os mesmo ainda continuam a vivencia em seu cotidiano a desigualdade, exclusão
social e violência.

O movimento de mulheres articulou-se internacionalmente para que as Nações Unidas ratificassem as conquistas
de Conferências anteriores e avançassem em direção à definição de direitos e das
estratégias necessárias para a concretização da cidadania da mulher (BARSTED;
HERMAN, 1999, p. 143).

No atual contexto adere-se a importância da contribuição dos estudos de gênero na


observação da realidade social e política, em resposta à necessidade de gerar mudanças nas
relações que se estabelecem de poder entre homens e mulheres.
Conforme Cisne e Gurgel (2008), o movimento feminista na atualidade vem
passando por um processo de recuo progressivo na perspectiva emancipatória, principalmente,
ao seu processo de institucionalização em ONGs. As autoras destacam ainda que um desafio
para avançarmos na luta pelos direitos das mulheres é o processo de “tercerização” do
movimento feminista no contexto neoliberal9 que tende trazendo a fragilizar a organização das
mulheres na luta contra a estrutura patriarcal.
Dessa forma, compreende-se que quanto mais o movimento feminista se afasta da
perspectiva emancipatória, mais difícil é o enfrentamento da violência contra a mulher, pois
embora a luta movimento fosse determinante para conquistarmos leis e políticas de
enfrentamento. Porém, não bastam apenas mecanismos legais e político para haver o
enfrentamento à violência, para além deles que precisa está funcionando efetivamente, é
necessário manter a luta pela emancipação das mulheres. Além dos mecanismos que serão
abordados no capítulo seguinte, é necessário que o movimento feminista, tenha como eixo
central, que é patriarcado aliado ao capitalismo e racismo que naturaliza e favorece o aumento
dos números de violência contra a mulher. Dessa forma, além do conhecimento de alguns
mecanismos de enfrentamento a violência, coube compreender ​o significado da violência na
sociedade patriarcal, capitalista e racista, como será abordado a seguir.

9
​CISNE, M. ; GURGEL T. ​Feminismo, Estado e políticas públicas: desafios em tempos liberais para a
autonomia das mulheres. Ser Social (UnB), v. 10, p. 69-96, 2008.
65

CAPÍTULO 2 - A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E OS MECANISMOS LEGAL E


POLÍTICO PARA SEU ENFRENTAMENTO NO BRASIL

2.1 Entendendo o significado da violência na sociedade patriarcal, capitalista e racista

De acordo com Saffioti (2011), para que se compreenda a violência contra a mulher é
indispensável conceituar a violência na sociedade patriarcal, capitalista e racista. Nesse
sentido, coube destacar a forma natural em que a sociedade aceita que homens maltratem suas
mulheres, e que os pais maltratam seus filhos, usando o ensino da violência para educá-los,
favorece e incentiva a pedagogia da violência.

As mulheres, que, historicamente sempre foram consideradas como sexo frágil, têm
sido o principal alvo de humilhação, uma das piores vítimas de violência por parte
dos homens. E isto ocorre não somente porque a sociedade legitima o poder
masculino, mas também porque o homem tem necessidade de afirmar-se como sexo
forte, o sexo poderoso (CUNHA, 2007, p.21).

Avaliar esse processo histórico ajuda a entender toda a trajetória de como começou a
violência contra mulher, essa violência que é uma prática presente na história e que na
maioria das vezes vem sendo naturalizada e tem sido uma constante preocupação para
estudiosos das numerosas áreas do conhecimento e os defensores dos direitos humanos na
sociedade.
As relações entre os seres humanos constituintes da sociedade brasileira, homens e
mulheres, sempre foram marcadas pelas diferenças entre os sexos. Aos meninos eram sempre
delegando poderes e um lugar de privilégio, enquanto a menina era ensinada a ser a
“procriadora”.
A história da humanidade através dos séculos traz desde início de sua constituição da
sociedade por meio da força imposta pelo poder patriarcal, que forjada pela subjugação do
sexo feminino, moldando-se num cenário de divisão dos gêneros, controlando as relações
entre homem e mulher, condicionando afetivamente e socialmente pelos mecanismos de
manobra, chamado poder e submissão.
De acordo com Wezer-Lang (1991 apud SAFFIOTI, 2011, p. 74)
66

[...] a criminalidade, a violência pública é uma violência masculina, isto é, um


fenômeno sexuado. A disparidade muscular, eterno argumento da diferença, deve ser
interpelada em diferentes níveis. [...] Nós confundimos frequentemente:
força-potência-dominação e virilidade (WELZER-LANG, apud SAFFIOTI, 2011 p.
74).

Ao falar de relação de Gênero, convém salientar que se trata de poder do forte sobre
supostamente mais fraco. Desde criança, elas são ensinadas que menino quer brincadeiras de
menino e são para meninos e de meninas para meninas, assim como a cor das roupas define a
sexualidade, entre outros fatores ligados diretamente a criação e “doutrinação dos sexos”.
Assim: “[...] é desde criança que se experimenta a dominação-exploração do patriarca, seja
diretamente, seja usando a mulher adulta” (SAFFIOTI, 2011, p.73).
Ou seja, a forma como são criadas, meninos e meninas, perpassa as fronteiras da
educação e profissionalização atribuída a família para com seus filhos e cria os muros entre os
sexos, através do poder patriarcal, limitando a menina e delimitando as fronteiras que menino
pode ultrapassar. E o sexismo não é somente uma ideologia, reflete, também, uma estrutura de
poder, cuja distribuição é muito desigual, em detrimento das mulheres (SAFFIOTI, 2011,
p.35).
A desigualdade entre os agentes envolvidos são alvo não só de uma ideologia, mas
força e poder impostos pelo sexismo, que alimenta as diferenças entre os sexos, contribuídas
efetivamente para desvalorização em detrimento do sexo feminino.

Entender que as diferenças pertencem ao reino da natureza, por mais transformada que esta tenha sido pelo ser
humano, enquanto a igualdade nasceu no domínio do político, parece fora do
horizonte de uma ideologia de gênero, que naturaliza atribuições sociais,
baseando-se nas diferenças sexuais (SAFFIOTI, 2011 p.77).

É de fundamental importância compreender as origens das diferenças entre os sexos,


e por que a violência contra as mulheres está intimamente ligada a ela. Porque só assim,
saberemos criar medidas mais efetivas na redução social e pela luta pela igualdade dos sexos,
para isso compreende Saffioti (2011) que​:

O consentimento social para que os homens convertam sua agressividade em agressão não prejudica, por
conseguinte, apenas as mulheres, mas também a eles próprios. A organização social
de gênero, baseada na virilidade como força-potência-dominação, permite prever
que há um desencontro amoroso marcado entre homens e mulheres (SAFFIOTI,
2011 p.75).

Com o consentimento social da supremacia masculina, pressupõe-se que os homens


usam deste artifício para justificar a violência e a agressividade contra a mulher sendo uma
67

situação histórico-social condicionada e imposta no meio socialmente e que direciona a vida e


as inter-relações homem-mulher.
Como bem assegurou Araújo e Mattioli (2004), pensar o fato de poder controlar o
outro é produto final de alguma violência, neste contexto fica claro que, algo que é da
exploração, da destruição, do extermínio e do aniquilamento do outro, num exercício de
agressividade e crueldade e num desejo sem fronteiras pelo poder. Em todo esse processo de
poder, que se iniciam as primeiras formas de violência, o mais importante, contudo é constatar
que essa briga pelo poder é tida pelo homem, como uma questão de superioridade tornando a
mulher submissa a ele, e assim iniciando uma desigualdade de gênero.

Os homens gostam de ideologias machistas, sem sequer ter noção do que seja uma ideologia. Mas eles não estão
sozinhos. Entre as mulheres, socializadas todas na ordem patriarcal de gênero, que
atribui qualidades positivas aos homens e negativas, embora nem sempre, às
mulheres é pequena a proporção destas que não portam ideologias dominantes de
gênero, ou seja, poucas mulheres questionam sua inferioridade social (SAFFIOTI,
2011, pp. 34-35.).

A violência contra a mulher não é algo recente, ela vem impregnada há milhares de
anos e a mulher é sempre dominada na sociedade. A violência psicológica, física, e sexual
contra a mulher – ou o achar que tem “direito” de agredir mulheres – está atrelada a uma
relação de poder construída na sociedade. É como se certa parcela da população tivesse o
domínio de ditar o que uma mulher deve ou não fazer e, se ela não se submeter às regras, deve
apanhar para colocar-se no seu lugar de inferioridade, escravidão e submissão.
“Rousseau dizia que (...) A mulher está feita para obedecer ao homem, deverá
aprender a sofrer injustiças e agüentar as tiranias de um esposo cruel sem protestar (...) a sua
meiguice fará que o esposo não seja tão bruto e raciocine (...)” (MAGALHÃES, 2010, p. 33.).
Nesse sentido, coube destacar que homens e mulheres são diferentes biologicamente
e esse diferencial determinava historicamente que cumprissem diferentes papéis sociais. Mas
desde o começo das sociedades essa divisão não significava nenhuma hierarquia. Não havia
propriedade privada e todos trabalhavam, cumprindo tarefas diferentes, mas complementares
para a comunidade, e produziam o necessário para garantia de sobrevivência de todos os
membros.
Analisar a desigualdade de gênero implica compreender relações que instauram ao
longo da história dos seres humanos, entre homens e mulheres em face à atribuição do poder e
das divisões dentro do contexto familiar que posteriormente foram se refletindo na esfera
68

social, no que tange a divisão do trabalho, buscando compreender essas atribuições, parte-se
da seguinte citação:

A sexualidade é, então, cuidadosamente encerrada. Muda-se para dentro de casa. A família conjugal a confisca.
E observa-se, inteiramente, na seriedade da função de reproduzir. Em torno do sexo,
se cala. O casal, legítimo e procriador, dita a lei . Impõe-se como modelo, faz reinar
a norma, detém a verdade, guarda o direito de falar, reservando-se o princípio do
segredo (FOUCALT, 1999, pp.9-10).

Trata-se aqui de processo histórico-social entre os sexos, o que promoveu


socialmente um silenciamento do sexo “frágil”, atribuído às mulheres e que a conduz ao papel
secundário de procriadora e do lar. Portanto, a maternidade pensando sobre a diferenciação
dos sexos, o patriarcado é a especificidade maior, que traduz as relações de gênero, gerando
um processo de dominação e subordinação, estabelecidos pelo sexo da criança, vistas desde
começo de suas vidas.
Sob o olhar das constituições familiares, a própria mulher desempenha um papel
disciplinador, seguidas pelo idealismo patriarcal imposto pelo patriarca da família, ou seja, a
mulher também tem um papel nesse processo, isso porque ela se vê subordinada as leis do
progenitor. Desta forma: “E o sexismo não é somente uma ideologia, reflete, também, uma
estrutura de poder, cuja distribuição é muito desigual, em detrimento das mulheres”
(SAFFIOTI, 2011, p.35).
As relações de poder atribuídas às diferenças entre os sexos, também criam um modo
desigual de estruturação social entre os sexos, o que pressupõe o estabelecimento das
manipulações em detrimento ao sexo feminino.
A população se encontra submersa socialmente em um sistema historicamente
conhecido por sua dominação- exploração e que delineou o papel social do homem e mulher,
na sua projeção socialmente que estruturalmente fortificou-se, solidificando-se na atual
conjuntura social que conhecemos. Engendrado com ele, se encontra a sociedade capitalista
que amplia as concepções do patriarcado, delimitando o papel da mulher na sociedade:

Os direitos humanos relativos às mulheres merecem uma especial atenção. No


capitalismo, todas as pessoas não privilegiadas do ponto de vista da classe social,
demandam direitos humanos, já que nesse sistema é ineliminável a exploração e, por
conseguinte, as injustiças, desigualdades e opressões. Todavia, às mulheres há uma
outra dimensão da desigualdade: o patriarcado (CISNE, 2015, pp.143-144).

Dessa forma, é possível analisar que a sociedade capitalista e o patriarcado convivem


linearmente, transformando suas forças em uma coesão unilateral que juntas, promovem as
69

desigualdades de raças contra as mulheres. Nesse contexto compreende-se que há uma


hierarquização dos grupos, atribuindo valores, segmentando sexos e atribuindo a elas
significados sociais negativos para justificar o tratamento desigual.
Outro aspecto ideológico que acompanha o patriarcado e o capitalismo por séculos é
racismo. Assim, o capitalismo utilizou-se do patriarcado e racismo, para se consolidar e
desenvolver enquanto modo de produção. Cisne (2015) explica que:
“O patriarcado, aqui entendido como um sistema de opressão, apropriação e
exploração sobre as mulheres, fora fundido com o capitalismo e o racismo. Como sistema, ele
se faz presente em todas as relações sociais, inclusive nas relações entre uma mesma classe”
(CISNE, 2015, p.144).
Diante dessa análise, parte-se do pressuposto de que a violência contra as mulheres
tenha sido criada pelas ideologias vigentes na sociedade e que não partem de ações
individuais, isoladamente ou somente nas esferas das classes mais baixas. São estruturas
sociais que se delineando e projetando-se socialmente de forma interrupta e de
direcionalmente abrupta, que se propagou e ganhou espaços sociais que alimentam esses
sistemas patriarcal-capitalista–racista-social.
É necessário, compreender que a sociedade é permeada por inter-relações
constituintes da na fusão, dos diferentes sistemas que promovem e provocam relações de
opressão, exploração que geram continuamente a apropriação do sexo masculino,
predominantemente sobre o sexo feminino.
Essas ideologias formam um sistema de opressão contra o sexo feminino, sendo o
patriarcado conhecido historicamente, como o mais antigo, no qual se constitui pela
exploração e dominação do mais “fraco” e também do sexo “frágil”, já que o homem sempre
foi considerado, o centro da constituição familiar, delimitando os espaços da mulher.
Essas discriminações de raça, sexo e classe vêm adentrando, moldando concepções e
delineando estereótipos de quem são os mais fortes e impondo ao sexo feminino, o poder de
dominação e exploração. Destacando a violência, nesse contexto e tramitando na história da
mulher, ao longo dos séculos na sociedade, mas sendo considerada como direito do homem
sobre sua propriedade, a mulher, favorece o aumento do índice de homicídios contra a
mulher. Sob, a perspectiva e número de homicídios de mulheres cresce anualmente cresce,
conforme destaca o gráfico 1 abaixo:
Gráfico 1​: Evolução das taxas de homicídio de mulheres (por 100 mil) Brasil 1980/2013.
70

Fonte:​ WAISELFISZ (2015).


O gráfico 2 mostra os homicídios de mulheres brancas e negras, a população negra é
vítima prioritária da violência homicida no País. As taxas da população branca tendem,
historicamente, a cair, enquanto a mortalidade negra só aumenta a cada ano.

Gráfico 2: ​Evolução das taxas de homicídio de mulheres brancas e negras (por 100 mil). Brasil. 2003/2013

Fonte:​ WAISELFISZ (2015).

Esses dados demonstram que o assassinato de mulheres negras vem crescendo


assustadoramente, sendo a sociedade patriarcal, racista e classista determinante para esse
processo em que:
As políticas públicas cabem necessárias neste contexto, porque a efetividade delas,
71

conjuntamente com ações judiciais efetivas na punição dos agressores, educação voltada para
não discriminação dos sexos, ensinando as crianças de hoje, a serem os adultos conscientes de
amanhã, com princípio da igualdade dos sexos.

2.2 Marco legal de enfrentamento a violência doméstica contra a mulher no Brasil

Este estudo traz a reflexão de que é preciso a compreensão de que um problema


social costuma ser apenas a ponta do ​iceberg,​ e é neste momento que é preciso pensar qual
seria a responsabilidade do Estado frente a este problema. O estudo que ora trata dos
mecanismos de enfrentamento a violência contra a mulher busca trazer algumas iniciativas do
poder público em promover políticas públicas voltadas para as mulheres.
Segundo Cisne e Gurgel (2008), as respectivas contra reformas e avanços da ofensiva
e imposição neoliberal trazem grandes transformações para o estado, nas políticas sociais e
movimentos sociais, o Estado se desresponsabiliza, de seu caráter universal com as políticas
públicas, e constitui novos mecanismos visando o aumento e exploração do capital, através de
comportamentos conflitantes. Uma forte iniciativa dos governos no Brasil decorrentes do
processo de incorporação das relações sociais passa a integrar mais um espaço de participação
das políticas públicas e das ONGs. Afirma-se aqui uma composição social em sua relação
operativa com o estado e as ONGs que passam a transferir suas decisões políticas
institucionais para ativistas, diluindo assim a posição de representatividade, este processo traz
mudanças profundas nas relações sociais.

Assim, o financiamento das ONGs, na maioria das vezes, por traz da aparente preocupação social do capital,
revela o interesse de gerar uma cultura de aceitação e naturalização do
neoliberalismo, dai o empenho do Estado neoliberal em investir grandes recursos
nessas instituições. Percebemos, portanto, que existem múltiplos aspectos em torno
do ´´fenômeno onguizaçao´´´que evidenciam muitas contradições no tocante a luta
por políticas publicas que precisam ser explicitadas. Nestes termos, mesmos que
muitas ONGs se assumam como sujeitos defensores das políticas publicas, e até
realizem ações políticas nesta direção, o interesse do capital em financia-las
concretiza a existência de políticas focalizadas e temporárias (CISNE; GURGEL,
2008, p 76).

A concretização destes novos mecanismos de exploração se dão por meio de ações


centrais, que busquem dar respostas visando mudanças através do fato do estado não destinar
seus recursos diretamente aos movimento sociais priorizando as ONGs, trazendo a garantia do
acesso aos direitos de forma temporária, precária e focalizada visando assim uma troca de
favores se estabelecendo como negociadoras dos direitos sociais, contribuindo para a
72

desresponsabilizacão do Estado.
Segundo Lombardi (2010) a política de Estado é independente do governante em
ação, nela geralmente estão presente as leis, já a política de governo depende da alternância de
poder ou do partido, ou seja, depende da gestão governamental. Um exemplo notório de
política de partido é a política de enfrentamento a violência contra a mulher.
No Estado neoliberal, vivemos uma ambiguidade entre as necessidades de
transformação estruturais e a lógica de redução dos investimentos sociais nas políticas. No
caso especifico do Brasil essa situação se expressa de maneira ainda mais perversa, porque as
políticas assumem um caráter compensatório cada vez mais focalizado nos bolsões de pobreza
e sem nenhuma perspectiva de se apresentarem como direito (CISNE; GURGEL, 2008, p.
88).
Essas transformações se resumem em uma total precarização comandada pelo
Estado. Desta forma, reafirma-se que embora o Estado se apresente ilusoriamente como
neutro, porém o mesmo está a favor de determinada classe, favorecendo a lógica de
acumulação do capital em detrimento do trabalho, fortalecendo a estrutura patriarcal e racista,
por investir parcos recursos da redução das desigualdades, no enfretamento da violência
contra a mulher, e utilizar dos seus instrumentos ideológicos, por exemplo da escola, como
meio de reforçar estereótipos de gênero e raça.
Assim, a mobilização das mulheres em prol do reconhecimento do real significado de
violência doméstica e familiar contra as mulheres no Brasil, que até então era considerada um
assunto do âmbito privado se deu de forma longa, sua trajetória com já citado acima percorre
longos anos as quais serviram de avanços não só nas mobilizações de grupos e manifestações,
mas também no âmbito jurídico de forma gradativa.

Como ponto de divergência, a questão da autonomia político- organizativa do movimento se expressa na


necessidade histórica de se estabelecer canais de interlocução com o Estado,
objetivado nas políticas publicas e ações governamentais. Para alguns grupos
feministas, isso equivale a integrasse em postos da burocracia do Estado e a
colaborar como ele na reflexão, proposição e avaliação de ações e teorias acerca da
condição das mulheres na sociedade. outros acreditam que essa contribuição
burocrática coloca o movimento em uma perspectiva de subordinação, fragilizando
sua autonomia e, por conseguinte, seu potencial de resistência e contestação perante
o Estado burguês patriarcal. (CISNE; GURGEL, 2008, p. 80).

Embora seja importante o movimento feminista estar à frente na luta e em defesa de


políticas públicas para as mulheres, e ocupem os espaços de poder e de controle social,
porém, é necessário tomar o cuidado para não restringir sua atuação, na luta por políticas
73

públicas e sua introdução na participação de lideranças governamentais e maior


representatividade no estado com os órgãos, pois esse é um fator que leva a fragilização do
movimento (CISNE; GURGEL, 2008).
Nesse sentido, compreendendo a violência contra a mulher é uma expressão da
questão social. Percebe-se que o marco legal e político de enfrentamento da mesma no Brasil,
constituem-se uma arena de disputa, onde o Estado patriarcal burguês, diante da pressão de
grupos organizados e movimentos, se ver obrigado a criar leis, políticas e ações que visam
enfrentar a violência contra a mulher. Assim, a Lei Maria da Penha e a Política Nacional de
Enfrentamento a violência contra a mulher, representa duas importantes conquistas para as
mulheres brasileiras, conforme será destacado no próximo subitem.

2.3 A Lei Maria da Penha

Segundo Pires (2011), ​o Legislativo e Judiciário brasileiro em relação ao tratamento


das mulheres, até mesmo no Código Civil de 1940 além de inferiorizarem o sexo feminino,
traziam um preconceito enraizado em suas decisões e argumentos, carregados de machismo e
resistência, quanto aos direitos das mulheres. Destaca o autor que, nas sentenças do direito da
família, onde usa-se para definir a separação conjugal, diante de crimes sexuais ou violência
doméstica, a referência pelos magistrados à quão honesta, boa mãe é a mulher, são exemplos
claros destes preconceitos.
Alguns casos mais antigos trazem a absorção de réus, alegando que em “nome da
legitima defesa da honra” os mesmos se viam livres da condenação. Embora o Código Civil
de 1940 em vigor, ainda traga em seu artigo 25 a “legítima defesa da honra”, apenas nos anos
de 1980, que esse argumento foi derrotado em um tribunal, embora ainda seja utilizado pelo
advogado. Passando a ser utilizada o argumento de “ato sob violenta emoção”, para justificar
e feminícidio e garantir a liberdade do réu. Por meio da pressão popular do movimento
feminista, um julgamento marcante para derrubar o argumento de “legitima defesa da honra”,
foi o caso de Doca Street e Angela Diniz na década de 1980.
“Um dos casos mais emblemáticos daquela época foi o de Doca Street, que
assassinou sua companheira e no Tribunal de Júri alegou “legítima defesa da honra”, alegação
até hoje usada por advogados que tentam livrar assassinos da punição” (BRAZÃO;
OLIVEIRA, 2010, p. 19).
74

Não só no caso de Doca Street10, mas diversos homens também tiveram as suas
causas absolvidas por júris populares e tribunais de assassinatos e agressões contra as
mulheres, fazendo uso da tese jurídica da “legítima defesa da honra”. Embora a honra alegada
nesta tese não faça sentido algum, seja pela discriminação e controle da sexualidade da
mulher que ela carrega, ou por não haver honra conjugal a ser protegida. Nesse sentido,
conforme foi destacado, esse argumento jurídico só foi possível ser derrubado com a pressão
popular dos movimentos feministas.
A Constituição Federal de 1988 prevê cerca dos direitos e deveres individuais e
coletivos, em seu Art. 5º é garantida a inviolabilidade do direito a vida, sem se fazer distinção
de qualquer natureza todos são iguais perante a lei, homens e mulheres, em direitos e
obrigações incluindo a livre manifestação do pensamento, e invioláveis a vida privada e a
honra. A partir do exposto é notório que na Constituição de 1988 ocorre ausência de proteção
especificas para mulheres vítimas de violência doméstica e familiar e a mínima proteção que
elas recebiam não tinha força para amenizar a vida das mulheres que tinha sua vida e sua
liberdade ameaçada e violada, levando os crimes a ficarem encobertos, e sem a devida
interferências do Estado.
A Convenção de Belém do Para11 que ocorreu em 1994 no seu artigo primeiro define

10
Quem ama não mata" Um forte movimento pela defesa da vida das mulheres e pela punição dos assassinos
voltou a ocorrer na década de 1970, tendo seu auge após 30 de dezembro de 1976, quando Angela Diniz foi
morta por Doca Street, de quem ela desejava se separar. A morte de Angela e a libertação de seu assassino
levantaram um forte clamor das mulheres que se organizaram em torno do lema: "quem ama não mata". Pela
segunda vez na história brasileira, repudiava-se publicamente que o amor justificasse o crime. A costumado à
subserviência conservadora, Lins e Silva, defensor de Doca, revelou seu espanto ante a extraordinária pressão
popular que acompanhou o julgamento. O caso teve enorme repercussão não só no Brasil, mas também no
exterior, havendo "publicidade nunca vista" sobre este caso, reclamou Lins e Silva (1991, p. 295). Grande
controvérsia ocupou a imprensa (Blay, 2003) acirrando-se a polêmica ​contra​ os direitos humanos das mulheres.
Os jornalistas Paulo Francis e Tristão de Ataíde mostraram-se indignados contra as feministas e suas
manifestações públicas que, segundo eles, pré-condenaram o réu; Lins e Silva (1991, p. 295) irritou-se com a
repercussão que transformou uma "briga entre amantes em acontecimento nacional". Referiu-se ao "incidente"
como se a vítima estivesse viva. Os prestigiados jornalistas e o advogado consideraram ilegítima a pressão da
opinião pública nestes crimes contra mulheres justificados pelo amor (BLAY, 2003, p.88-89).
11
Os fundamentos sobre os quais repousam a Comissão Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a
Violência contra a Mulher, adotada pela Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos, em 06 de
junho de 1994, e ratificada pelo Brasil, estão nos direitos humanos e, especificamente, em princípios como a
igualdade entre homens e mulheres, e a dignidade humana. A “Convenção de Belém do Pará”, como ficou
conhecida, reveste-se de importância no contexto internacional e muito mais para os Estados Americanos dado o
caráter generalizado da situação de violência contra a mulher. Tanto é assim que o tema já havia sido objeto de
deliberação da Organização das Nações Unidas (ONU) por intermédio da Convenção para a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher, de 18 de dezembro de 1979 (SALES; BRITO, 2011, pp.
99- 100).
75

que violência contra a mulher se trata de “qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que
cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher tanto na esfera pública
quanto privada”, no artigo segundo a referida violência pode acontecer “no âmbito da família
ou na unidade doméstica, ou em qualquer relação interpessoal, tendo o agressor
compartilhado ou não da mesma residência com a mulher. Nesse sentido, essa Convenção
representou um importante instrumento de pressão no Estado brasileiro para o combate da
violência contra a mulher.

Dentre a legislação que garantia direitos ou eliminava discriminações tínhamos a Lei 7.209/1984 que alterou o
artigo 61 do Código Penal, estabelecendo entre as circunstâncias que agravavam a
pena ser ele praticado contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge. A Lei
8.930/1994 estabeleceu que o estupro e o atentado violento ao pudor eram crimes
hediondos. Já a Lei 9.318/1996 agravou a pena quando o crime era praticado contra
criança, velho, enfermo ou mulher grávida. Em 1997 foi sancionada a Lei 9.520,
revogando o artigo 35 do Código de Processo Penal que estabelecia que a mulher
casada não podia exercer o direito de queixa sem consentimento do marido, salvo
quando estivesse dele separada ou quando a queixa fosse contra ele, podendo o juiz
suprir o consentimento caso o marido se recusasse a fazê-lo. O assédio sexual, após
intensas discussões e advocacy feminista, foi incluído no Código Penal pela Lei
10.224/2001 (CALAZANS; CORTES, 2011, p.39).

Segundo Cortes e Calazas (2011), na década de 1990, as mulheres vitimas de


violência doméstica e familiar, não tinham nenhuma proteção que fosse especifica a elas.
Neste contexto a aprovação da Lei de criação dos Juizados Especiais Criminais (JECRIM) Lei
9.099/95, que trata de “crimes de menor potencial ofensivo”, representou a equiparação da
violência doméstica contra a mulher aos casos de briga entre vizinhos e de acidente de
trânsito. A prisão do agressor só ocorria em caso de homicídio da mulher, ou de lesão
corporal grave, ou seja, que impossibilitava a mulher de trabalhar por mais de 30 dias. Em
geral, as penas eram simbólicas, como cestas básicas ou trabalho comunitário, o que acabava
por agravar o estado e sensação de impunidade por parte das vítimas (Cisne, 2015).
Segundo Calazans e Cortes (2011) os grupos começavam a questionar os desafios na
aplicabilidade da Lei 9.099/1995 que havia sendo julgada, pelos juizados especiais,
favorecendo os agressores, com a impunidade e em muitos casos terminando no arquivamento
das audiências de conciliação sem uma resposta efetiva do poder público.

Nos poucos casos em que ocorria a punição do agressor, este era geralmente condenado a entregar uma cesta
básica a alguma instituição filantrópica. Os juizados especiais, no que pese sua
grande contribuição para a agilização de processos criminais, incluíam no mesmo
bojo rixas entre motoristas ou vizinhos, discussões sobre cercas ou animais e lesões
corporais em mulheres por parte de companheiros ou maridos. Com exceção do
homicídio, do abuso sexual e das lesões mais graves, todas as demais formas de
76

violência contra a mulher, obrigatoriamente, eram julgadas nos juizados especiais,


onde, devido a seu peculiar ritmo de julgamento, não utilizavam o contraditório, a
conversa com a vítima e não ouviam suas necessidades imediatas ou não.
(CALAZANS; CORTES, 2011, p. 42)

Nesse sentido, de acordo a pesquisa a violência doméstica e sob a Lei 9.099/95


realizada por Saffioti (2011), os Juizados especiais representaram a legalização da violência
doméstica, pois a punição para o homem que cometesse violência contra mulher era entrega
de cesta básica, ou com até um ano de detenção. Embora a banalização da violência
doméstica, o arquivamento dos processos e a insatisfação das vítimas, com o movimento pela
criminalização da violência doméstica perdurou durante algum tempo, tendo como base de
julgamento os papei sociais de mulher e esposa que deve zelar pelo lar, cabendo unicamente
a ela o cuidado com a casa afazeres domésticos e a educação de seus filhos, e não levando em
consideração o ato criminoso. A criação dos juizados Especiais Criminais, que apesar de seu
intuito em prevenir e punir, também entrava em conflito a necessidade do sistema de justiça e
penitenciário em desafogar, a ineficiência dos juizados caminhava na mesma perspectiva das
Delegacias de Defesa da Mulher, que funcionavam apenas como conciliadoras, procurando
diminuir a gravidade dos casos, optando sempre pela preservação da família e do casamento.
Segundo Pires (2011) os crimes ocorridos em situação de violência doméstica, eram
tratados através da Lei dos Juizados Especiais (JECRIM), por serem considerados crimes de
menor potencial ofensivo. A partir do momento que se retira o JECRIM do julgamento dos
referidos crimes, por conta do mesmo revelar se ineficaz, é incapaz de compreender as
complexidades aqui envolvidas a lei passa então a prevê, a criação de Juizados de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher, contando também com mobilizações nacionais e com
o apoio de decisões e tratados internacionais. Sendo que os mesmos acabam por se tornar
essenciais para as reais mudanças que começam a ocorrer na melhoria de leis de combate a
violência de gênero.
De acordo com Calazans e Cortes (2011) os movimentos de mulheres12, foram

12
Frente ao desafio de ver uma lei integral de combate à violência, dentro do movimento de mulheres, seis
organizações não governamentais feministas idealizaram um Consórcio de ONGs Feministas para Elaboração de
Lei Integral de Combate à Violência Doméstica e Familiar contra as Mulheres. O Consórcio foi formado pelas
organizações CFEMEA – Centro Feminista de Estudos e Assessoria; ADVOCACI – Advocacia Cidadã pelos
Direitos Humanos; AGENDE – Ações em Gênero Cidadania e Desenvolvimento; CEPIA – Cidadania, Estudos,
Pesquisa, Informação, Ação; CLADEM/BR – Comitê Latino-americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos
da Mulher; e THEMIS – Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero, bem como por juristas e feministas
especialistas no assunto. A coordenação do Consórcio ficou sob a responsabilidade do CFEMEA, por estar
sediado em Brasília e ter expertise em advocacy no legislativo e executivo. Os trabalhos do Consórcio foram
iniciados em julho de 2002 e se estenderam até o primeiro ano da promulgação da lei. Daí em diante, os grupos
77

determinantes para avançarmos nas ações de combate a violência contra a mulher, pois
traziam em suas discussões a busca pelo fim da violência doméstica abarcando uma legislação
que não avaliasse somente a questão penal, mas também a necessidade de que ela perpassasse
todos os órgãos governamentais responsáveis pela segurança, educação, saúde, entre outros.
Segundo Calazans e Cortes (2011), inspirada em novas ações e com o seu aumento
dos movimentos em vários estados brasileiros, Recife traz a primeira vigília feminista pelo
fim da violência contra as mulheres, com pressão para o legislativo, judiciário e o executivo,
para a aprovação de uma lei que contribuísse com o combate da violência contra a mulher.

Mencione-se ainda, as recomendações da CIDH ao caso Maria da Penha Maia Fernandes, por não cumprimento
do previsto no artigo 7.º da Convenção de Belém do Pará e nos artigos 1º, 8º e 25 da
Convenção Americana de Direitos Humanos, e ainda, o dever do Estado brasileiro
de indenizar a vítima, monetária e simbolicamente. Ademais, a Comissão
recomendou que o Brasil adotasse várias medidas de combate à violência contra a
mulher, entre elas, a elaboração de uma lei específica para este fim. A Presidência da
República, com assessoria da SPM, decidiu, ao sancionar a Lei aprovada no
Congresso Nacional, cumprir a recomendação da OEA, nominando a nova lei de Lei
Maria da Penha, como uma forma simbólica de cumprir as recomendações da
Comissão. A sanção foi um grande evento no Palácio do Planalto, com a presença de
várias autoridades, representantes do movimento de mulheres, e da Senhora Maria
da Penha Fernandes, escolhida como um símbolo da luta contra violações dos
direitos humanos das mulheres (CALAZANS; CORTES, 2011, p. 56).

Nesse sentido, para o Estado brasileiro que em sua essência é burguês, patriarcal e
racista, aprovasse a lei Maria da Penha, foi central a articulação dos movimentos feministas e
a pressão internacional provocada pela visibilidade do Caso Maria da Penha (CUNHA, 2014).
Dessa forma, a significativa história de Maria da Penha Maia Fernandes, brasileira,
farmacêutica bioquímica que deu nome à Lei nº 11.340 de 2006 que como muitas outras
mulheres que transformaram sua dor em luta. Maria da Penha após várias agressões recebeu
um tiro de seu esposo Marco Viveros enquanto dormia em uma noite de maio de 1983. A
versão dada pelo esposo é que foi uma tentativa de assalto e que no decorrer disso, os autores
dispararam tiros em Maria da Penha, enquanto a mesma dormia. Durante quatro meses
estando em hospitais, submetida a diversas cirurgias, ocasionando a lesão que deixou ela
paraplégica. Posterior a esse fato, Maria da Penha voltou para casa e duas semanas depois

que participaram do Consórcio e os outros que se uniram para defender a aprovação do projeto de lei
continuaram a realizar ações, de forma isolada ou em parceria, com outras ONGs ou instituições governamentais
ou não (CALAZANS; CORTES, 2011, p.43).
78

sofreu mais uma tentativa de homicídio: o esposo tentou eletrocutá-la durante o banho. As
investigações apontaram que Marco Viveros foi o autor dos tiros que a deixou paraplégica e
desta nova tentativa de homicídio. Perante uma proteção de uma ordem judicial, Maria da
Penha conseguiu sair de casa, sem que isso significasse a perda da guarda de suas filhas e
abandono do lar e apesar das limitações físicas, começou a sua luta pela condenação do
agressor (COMPROMISSO E ATITUDE, 2012).
Após haver sofrido a violência, Maria da Penha com o apoio de movimentos de
mulheres organizados, consegue enviar o seu caso pela primeira vez para a Organização dos
Estados Americanos13denunciando a demora do Estado para agir perante o seu caso. Sendo
assim o inquérito é aberto, e o Brasil então é considerado, negligente pelo fato de descumprir
com a Convenção Americana de Direitos humanos14 e a Comissão interamericana para
Preveni, Punir e Erradicar à Violência Contra a Mulher, e os demais tratados internacionais
era signatário. O Estado brasileiro teve como punição o pagamento de uma indenização a
Maria da Penha, que o próprio governo brasileiro viria a definir, e a criação de uma legislação
adequada a esse tipo de violência, sendo criada a Lei nº 11.340 de 2006, conhecida como Lei
Maria da Penha. A Lei Maria da Penha em seu artigo 1° explicita que o seu objetivo é “criar
mecanismos para coibir e prevenir a violência contra a mulher”. Nesse sentido, essa Lei
representa uma importante conquista para as mulheres brasileiras, pois a violência doméstica
e familiar contra a mulher agora passa a ser tipificada em suas diversas formas como física,
psicológica, sexual, patrimonial e moral e passa a ser um agravante para os agressores.
É necessário que se compreenda que o caso de Leila Diniz e de Maria da Penha não
são casos únicos e isolados. S​egundo dados do Mapa da Violência contra a mulher (2015), ​a
cada 2 horas uma mulher é assassinada no Brasil, 30% das mulheres brasileiras já sofreram
algum tipo de violência, e uma entre cinco mulheres consideram ter sofrido algum tipo de
violência cometida por algum homem. Os dados ainda destacam que seis entre dez brasileiras
conhecem alguma mulher que foi vítima de violência doméstica, e 68% das mulheres evitam
denunciar o seu agressor. A falta de informação faz com que diversas mulheres passem por

13
Aprovada na IX Conferência Internacional Pan-Americana, realizada em Bogotá, em 1948 a Organização dos
Estados Americanos (OEA) é a mais longa organização regional em atividade. Sua finalidade é construir uma
ordem de paz e de justiça no continente americano, levando a solidariedade e a cooperação entre os Estados da
região e defender a soberania, a integridade territorial e a independência de seus membros (MINISTÉRIOS DAS
RELAÇÕES EXTERIORES, 2017).
14
A convenção americana sobre direitos humanos entra em vigor em 1978, e define os direitos que os Estados
ratificantes que se comprometeram internacionalmente a dar garantias que sejam cumpridas para que s mesmos
sejam respeitados, definindo atribuições e procedimentos a serem seguidos (OEA, 2017).
79

essas situações e não percebam ou se culpabiliza pela violência. Torna-se mais difícil ainda a
realização da denúncia, pois ser responsável por tais violências, em 80% dos casos pessoas
que a vítima tem confiança, como marido, parceiro ou namorado.
Nesse sentido, percebe-se que a violência por meio da agressão física é um fenômeno
corriqueiro na sociedade brasileira mesmo após a aprovação da Lei Maria da Penha, pois a
cada 5 minutos uma mulher é agredida e diariamente 13 mulheres são assassinadas no Brasil
(WAISELFISZ, 2015).
Seja no âmbito público ou privado, conforme os dados apresentados no mapa da
violência (2015), os homicídios de mulheres vem aumentando no Brasil, mesmo depois da
aprovação da Lei Maria da Penha.
Com o aumento contínuo dos casos de assassinatos de mulheres, mesmo com a
aprovação da Lei Maria da Penha, foi sancionada em 09 de março de 2015, a Lei ​nº ​13.104, a
Lei do Feminicídio15. O Feminicídio, conforme destacado anteriormente é considerado,
qualquer crime contra a mulher por razões da condição do sexo feminino. Com essa lei, o
assassinato de mulheres por razões da condição de seu sexo, foi incluído na lista de crimes
hediondos na (Lei n 8.072/1990), como já ocorre em casos de genocídio e latrocínio, cujas
penas previstas pelo Código Penal são de 12 a 30 anos de reclusão. No Brasil, o crime de
homicídio (assassinato) prevê pena de seis a 20 anos de reclusão.
De acordo com o art. 7​ o​ a respectiva lei:

§ 7​o​ ​A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime
for praticado: I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; II -
contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com
deficiência; III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima (BRASIL,

15
A partir de março de 2015, a Lei 13.104/2015 alterou o Código Penal Brasileiro e incluiu o feminicídio como
uma das formas qualificadas do homicídio, assim compreendida quando a morte de uma mulher decorre de
violência doméstica e familiar ou quando provocada por menosprezo ou discriminação da condição do sexo
feminino 6 . As diretrizes formuladas nesse documento abrangem o tipo penal, sem, contudo, se limitarem a ele,
devendo ser aplicadas a investigação, processo e julgamento de todas as mortes de mulheres com indícios de
violência, orientando a busca de evidências sobre as razões de gênero que motivaram o comportamento delitivo e
resultaram na morte da mulher. As mulheres serão consideradas independentemente de classe social, raça ou cor,
etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade, religião, procedência regional ou nacionalidade.
São crimes de natureza tentada ou consumada, que tenham sido praticados por pessoas com as quais as vítimas
mantenham ou tenham mantido vínculos de qualquer natureza (íntimas de afeto, familiar, amizade) ou qualquer
forma de relação comunitária ou profissional (relações de trabalho, nos espaços escolares, de lazer etc.) ou por
pessoas desconhecidas pela vítima. O documento reconhece também que os crimes podem ser praticados por
indivíduos ou por grupos, sejam eles particulares ou agentes do Estado. “Em conformidade com a Convenção de
Belém do Pará, o Estado é considerado como responsável nos casos de violência contra a mulher quer esta seja
‘perpetrada ou tolerada pelo Estado ou seus agentes, onde quer que ocorra’”(DIRETRIZES NACIONAIS
FEMINICIDIO, 2016, p.17).
80

2015).

Quando se fala em violência contra a mulher, podemos dizer que trata diretamente do
conceito de violência de gênero, pois a dominação e subordinação da mulher é naturalizada,
sendo considerado “normal” que o homem possa “corrigir” a mesma por meio da violência.
Ou seja, percebe-se que embora tenhamos importantes avanços na legislação de combate a
violência, com a aprovação da Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio, mas sociedade
ainda reproduz a violência contra a mulher como processo natural por se tratar de uma
construção histórica do patriarcado.
Percebe-se que essas relações de poder implicam na imposição de dominação, que
posteriormente coage, impõe regras e retira a capacidade mais expressivamente humana do
outro, a capacidade de expressão e decisão, e neste caso em detrimento ao sexo feminino, por
imposição do sexo masculino.
A mulher vem sendo vítima das contradições da sociedade patriarcal e capitalista
sendo expostas, tanto no âmbito privado quanto o espaço público por séculos a violência. Tal
violência ultrapassa as barreiras do trauma físico, convertendo-se nos sentimentos acima
citados (vergonha, humilhação, timidez, etc.) que por séculos prenderam a mulher a
submissão ao marido, companheiro, criando um silenciamento historicamente importante para
omissão da violência. Neste rumo de análise, é indispensável conhecer a tipificação da
violência contra a mulher, expressa na Lei Maria da Penha.

2.3.1 Tipos de violência doméstica contra mulher

Conforme destacado no item anterior, a Lei Maria da Penha, 11.340, de 7 de agosto


de 2006 é um mecanismo legal de enfrentamento à violência de gênero no Brasil, que visa
aumentar o rigor das punições sobre crimes domésticos essa lei não condena apenas o abuso
físico contra a mulher, mas classifica a violência doméstica em várias categorias e se
manifesta de várias formas e com diferentes graus de severidade. Estas formas de violência
não se produzem isoladamente, mas fazem parte de uma seqüência crescente de episódios, do
qual o homicídio é a manifestação mais extrema. No artigo 5​o da Lei Maria da Penha cita três
tipos de configurações de violência doméstica e familiar contra a mulher, sendo eles:

I​ ​- no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio


permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente
agregadas; ​II​ ​- no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por
indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por
81

afinidade ou por vontade expressa; ​III​ ​- em qualquer relação íntima de afeto, na qual
o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de
coabitação (BRASIL, 2006).

Nesse sentido, entende-se que a Lei traz um importante avanço para a compreensão
da violência contra a mulher, pois para a mulher ser amparada pela mesma, não é necessário
que ela tenha uma relação intima de afeto com o agressor que conviva em coabitação,
segundo o artigo 5º supracitado. Desta forma, a Lei Maria da Penha expressa que a violência
contra a mulher vai além de agressões e violência física que é a mais conhecida na sociedade.
O artigo 7​o da Lei explicita os tipos de violência contra mulher que são assegurados
pela mesma, sendo:
Violência física - qualquer tipo de agressão que se dê sobre o corpo da mulher,
mediante a força física, que pode causar ou não lesões internas, externas ou as duas. A
punição repetida, considerada não severa, também pode enquadrar como violência física.
Dessa maneira essa violência pode se manifestar de várias formas:
● Mordidas;
● Tapas;
● Estrangulamentos;
● Socos;
● Lesões por armas ou objetos e etc.
Violência sexual -​ É qualquer atitude que a obriga a participar, presenciar e
manter relação sexual não desejada, por meio do poder da intimidação, ameaça, coação ou uso
da força.
● Estupro dentro do casamento ou namoro;
● Negação do direito de usar anticoncepcionais ou de adotar outras medidas de
proteção contra doenças sexualmente transmitidas;
● Investidas sexuais indesejadas ou assédio sexual, inclusive exigência de sexo
como pagamento de favores;
● Aborto forçado;
● Atos violentos contra a integridade sexual das mulheres, inclusive mutilação
genital feminina e exames obrigatórios de virgindade e etc.
Violência psicológica- ​É qualquer ato que lhe cause algum dano emocional, baixa da
auto-estima ou que à perturbe e prejudique em pleno crescimento ou que vise destruir ou
82

monitorar suas ações, ou qualquer outro meio que lhe cause danos à saúde psicológica e à
autodeterminação. Humilhação.
● Chantagem
● Insultos constantes
● Privação arbitraria da liberdade (impedimento de trabalhar, estudar, cuidar da
aparência pessoal, gerenciar o próprio dinheiro, brincar, etc.)
● Manipulação afetiva e etc.
Violência moral: é qualquer ato que fere a moral da mulher, é compreendida como
qualquer atitude que caracterize em
● Calunia
● Injúria.
● Difamação
Violência patrimonial- ​É qualquer atitude que caracterize subtração, retenção e
cause a destruição parcial ou total de seus objetos, valores e direitos ou recursos econômicos,
incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
● Retenção de documentos;
● Obrigar colocar bens no nome de outra pessoa;
● Destruição de objetos pessoais;
● Deixar de pagar a pensão alimentícia;
● Uso dos recursos econômicos da pessoa e etc.
Coube destacar que o tipo de violência mais registrada nos boletins de ocorrência das
Risp 2016 é a violência física. Entretanto, até a mulher tomar uma iniciativa para denunciar a
violência física, ela já passou por todas as outras citadas, que são as menos denunciadas. Por
isso, é de suma importância o conhecimento de tais violências contra as mulheres que
assegura a proteção segundo a Lei Maria da Penha. Entende-se que se as mulheres logo após
as primeiras violências denunciassem o agressor, evitariam chegar à física ou ao feminicídio.
Nesse sentido, em quase 60% dos casos registrados são causados por violência física, em
segundo lugar nos registros está à violência psicológica e em terceiro nos registros está a
violência sexual (MAPA DA VIOLÊNCIA, 2015).
Apesar da Lei Maria da Penha ter representado um importante avanço por ter criado
mecanismos e assegurando a proteção contra alguns tipos de violência, como foram descritas
anteriormente, porém, ainda existem outros tipos de violência que não são asseguradas na Lei,
83

mas que, ocorre em toda sociedade, como a violência institucional social, obstétrica,
estudadas por Cisne (2015).
Violência institucional- ​é qualquer tipo de violência movida por desigualdades
(étnico-raciais, econômicas e de gênero, etc) que prevalecem em diversas sociedades. Essas
diferenças formalizam e institucionalizam-nos diferentes órgãos privados e sistemas estatais,
como também em diferentes grupos presentes nessa sociedade (​CISNE, 2015). Exemplo:
● Falta de escuta e tempo para a clientela;
● Maus-tratos dos profissionais para com os usuários, motivados por
discriminação, abrangendo questões de raça, idade, opção sexual, deficiência física, doença
mental;
● Desqualificação do saber prático, da experiência de vida, diante do saber
científico;
● Frieza, rispidez, falta de atenção, negligência;
● Peregrinação por diversos serviços até receber atendimento e etc.
Violência Obstétrica- ​É um tratamento desrespeitoso e desumano com as gestantes,
levando a traumas, passando a rejeitar próprio corpo, temem relações sexuais como medo de
outra gestação, e passar por todo constrangimento novamente ​(​CISNE, 2015).Exemplo:
● Gritar com a gestante;
● Negar ou dificultar atendimento;
● Deixa - lá sem água ou comida;
● Não informar a mulher sobre algum procedimento médico que será realizado;
● Agressão verbal ou física por parte do profissional da saúde, etc.
Violência social​- ​Apresenta nos preconceitos e discriminações sofridas pelas
mulheres que são consideradas sexo frágil na sociedade patriarcal, alguns exemplos são os
péssimos salários exercendo a mesma função e tendo a mesma escolaridade em relação aos
homens, a discriminação étnico-racial, e da baixa proporção representativa das mulheres na
política e nos espaços denominados de poder. Além do mais, a violência social se materializa
na mercantilização das mulheres, que é muito comum nas músicas, propagandas levando a
uma desqualificação da mulher e mostrando a como objeto fácil, que pode comprar, isso tudo
efeito de um sistema social que subordina e inferioriza a mulher a todo instante. Exemplo:
● Salários baixos;
84

● Discriminação de gênero;
● Mercantilização do corpo da mulher;
● Desvalorização do sexo feminino;
● Preconceitos de raça.
As mulheres estão propensas a todo o momento vivenciar algum tipo de violência na
sociedade, e por isso é necessário conhecer os tipos de violências e muitas outras que não
foram citadas, com o propósito de compreender que a luta pelo respeito à mulher precisa
alcançar outros campos, dando-lhe mais liberdade e protegendo-a cada vez mais, inibindo
novos casos.

A violência contra a mulher, face mais brutal e explícita do patriarcado, é entendida


como toda e qualquer ação que fere a dignidade e a integridade física e/ou
psicológica da mulher. Caracterizada por ter como o agente agressor direto o
cônjuge ou ex-cônjuge, essa violência é determinada pelas relações desiguais entre
homens e mulheres, mas, também, permeada pelas relações de classe e raça/etnia
(CISNE, 2015, p. 146).

Dessa forma, para inibir essas violências que vem encravada na sociedade patriarcal,
deve-se investir em políticas publicas, e garantir a divulgação desses direitos e a efetividade
de uma rede para prevenir e dar proteção as mulheres.
Para Cisne (2015, p. 151), “é preciso que essa rede atenda as mulheres do campo que
sofrem ainda mais com as dificuldades para enfrentar a violência, uma vez que há um forte
isolamento dessas no acesso aos equipamentos sociais e às políticas públicas”.
Os meios não justificam os fins, ou seja, independentemente de onde ocorre os atos
de violência contra a mulher, há de se buscar mecanismos de coibição, contra quaisquer que
sejam. Desta forma, destacamos que os tipos de violência estando cobertos pela Lei ou não,
devem ser coibidos rigorosamente para proteger todas as mulheres, como dever do Estado do
seu cumprimento. Embora a sociedade ainda se mostre cega a tantas violências que vem
acontecendo com as mulheres a todo instante e vem causando o aumentando com vários
ciclos de violência sofrida por elas em todos os tipos de localidades, seja no âmbito público
ou privado, conforme os dados do gráficos 1, assim apresentado pelo mapa da violência 2015
no tópico 2.1, o homicídios de mulheres vem aumentando no Brasil, mesmo depois da
aprovação da Lei Maria da Penha.
Vários são os avanços que as mulheres conseguiram para romper com essa
sociedade, machista racista e classista que imprime essas desigualdades e violência a todo
85

instante. É de suma importância a valorização desses avanços que conseguimos até hoje na
construção de uma historicidade que rompe com essa cultura de uma sociedade machista e
racista que imprime no seu bojo diversas desigualdades. No entanto, é necessário que sejam
tomadas várias medidas de enfrentamento a violência contra mulher, para além da Lei Maria
da Penha, da Lei do Feminicídio, sendo a Política Nacional de Enfrentamento a violência
contra a mulher um mecanismo importante para coibir e enfrentar a violência, conforme será
destacado abaixo.

2.4 A Política Nacional de Enfrentamento à violência contra a mulher

A constituição da política de enfrentamento a violência contra a mulher tem por


objetivo, esclarecer os fundamentos e conceitos políticos, e execução de políticas públicas que
orientem o enfrentamento a violência contra as mulheres. A contribuição de diversos setores
se faz necessária na atuação da política na área da violência de forma ampla e articulada, para
que se consiga atuar diante da complexidade e dificuldades enfrentadas, na busca em se
garantir um atendimento mais humanizado por parte da saúde, assistência, segurança pública,
educação, justiça e etc. A Política Nacional de enfrentamento, esclarece que é o envolvimento
dos diversos setores, para além da perspectiva do combate, que torna possível orientar as
ações conjuntas através da prevenção, desconstruindo as desigualdades e se articulando na
busca pela garantia dos direitos femininos.

Em meio às diversas políticas públicas criadas e implementadas com a finalidade de garantir que os direitos
humanos não sejam violados, surgiu a Política Nacional de Enfrentamento à
Violência contra as Mulheres, através da SPM. Seu objetivo era explicitar os
fundamentos conceituais e políticos sobre o enfrentamento à questão, assim como
orientar a formulação e execução das políticas públicas para garantir a prevenção, o
combate e o enfrentamento da violência, bem como dar assistência às mulheres que
se encontram nesta situação. O conceito de enfrentamento à violência contra a
mulher foi definido nesta Política a fim de estabelecer que não se tornasse referência
apenas ao combate da violência, mas que compreendesse também as dimensões de
prevenção, de assistência e de garantia de direitos das mulheres. Entende-se por
enfrentamento a implementação de políticas amplas e articuladas, que procuram dar
conta da complexidade da violência contra as mulheres em todas as suas expressões
(LEANDRO, 2014, p.14).

O seu caráter preventivo traz ações educativas e culturais que influenciam e


capacitam para uma mudança de comportamento tendo em vista os padrões impostos pela
sociedade, visando o empoderamento das mulheres e a construção de uma sociedade mais
justa entre homens e mulheres.
86

O processo de elaboração de uma política para as mulheres teve início na II Conferência Nacional de Políticas
para as Mulheres, no ano de 2007, onde foram reafirmados os acordos gerais e os
pressupostos, princípios e diretrizes de uma política que se tornou a linha principal
das diferentes ações que integram os planos nacionais criados. A Política Nacional
para as Mulheres,possui um caráter permanente e orienta-se pelos princípios de
igualdade e respeito à diversidade, bem como equidade, autonomia das mulheres e
laicidade do Estado, universalização das políticas, justiça social, transparência dos
atos (LEANDRO, 2014, p.2).

A dimensão de combate a violência não deve ser única e restrita do poder judiciário.
Para o enfrentamento da violência contra as mulheres outras dimensões também se fazem de
suma importância, em se prevenir reafirmando a assistência e garantia de direitos, que
estruturam a política nacional, em uma desconstrução de todos os estereótipos de gêneros que
rotulam e impõem padrões a serem seguidos, para homens e mulheres na sociedade.

O conceito de enfrentamento à violência contra a mulher foi definido nesta Política a fim de estabelecer que não
se tornasse referência apenas ao combate da violência, mas que compreendesse
também as dimensões de prevenção, de assistência e de garantia de direitos das
mulheres. Entende-se por enfrentamento “a implementação de políticas amplas e
articuladas, que procuram dar conta da complexidade da violência contra as
mulheres em todas as suas expressões (LEANDRO, 2014, p.14).

A ampla organização de ações que possam reeducar toda a sociedade, no que tange
os seus valores éticos e culturais de respeito a toda e qualquer diversidade de gênero, raça e
etnia, buscando o rompimento com a intolerância de sociedade frente a esses fenômenos, a
mudança de valores a respeito da cultura do silencio dentro do espaço doméstico e garantia de
punição de seus agressores
O enfrentamento a violência contra as mulheres antes da criação da secretaria de
políticas para mulheres em 2003, tinha suas iniciativas construídas em geral por ações
isoladas e desfocalizadas, se resumindo pela capacitação de profissionais da rede de
atendimento a mulheres a criação de serviços mais especializados como Casas-Abrigo e
Delegacias Especializadas, ou seja não se compreendia a necessidade em se discutir a
violência contra a mulher com um olhar mais focalizado, dando prioridade, de articulação e
maior transparência das ações governamentais (​BRASIL, 2011​)​.
Embora a legislação tenha alcançado um grande avanço, a cultura de submissão de
um sexo sob o outro continua enraizada gerando inúmeras contradições, por mais que exista
uma legislação que puna a violência contra a mulher em seus diversos tipos, a mesma
87

encontra dificuldades em se estabelecer indo além da punição, levando a compressão critica,


buscando a reeducação e mudança de mentalidade do agressor em busca de coibir a violência
não através do medo, mas sim pela compressão de como se dão as relações de desigualdade
que se estabelecem entre homem e mulher na sociedade.

A importância do desenvolvimento de políticas públicas de enfrentamento à violência contra as mulheres é


efetivamente consolidada quando do lançamento do Pacto Nacional pelo
Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, em agosto de 2007. O Pacto
Nacional foi parte da Agenda Social do Governo Federal e consiste numa estratégia
de integração entre governo federal, Estadual e municipal no tocante às ações de
enfrentamento à violência contra as mulheres e de descentralização das políticas
públicas referentes à temática, por meio de um acordo federativo, que tem por base a
transversalidade de gênero, a intersetorialidade e a capilaridade das ações referentes
à temática. (Secretaria Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres
(BRASIL, 2011, p. 17).

Segundo o Instituto de Políticas Econômicas Aplicadas (2015), além da importância


da mudança legislativa, com uma legislação que puna seus infratores, se faz necessário
também uma mudança de comportamento, que embora seja demorado não deixa de fazer
necessária, com a inclusão de políticas públicas socioeducativas de reeducação acerca da
violência de gênero.
O enfrentamento a violência contra a mulher pela Política Nacional, tem o intuito de
estabelecer uma ação que der resposta a complexidade que abarca este tema, tratando a cerca
de políticas amplas e articuladas em sua implementação. Além da justiça os setores como a
saúde, assistência e outros, necessitam de uma atitude que seja tomada em conjunto, para que
se consigam desconstruir o preconceito e as discriminações, questionando os padrões
impostos pela sociedade.
A Política Nacional garante que a Lei Maria da Penha implemente16 seus aspectos
processuais e penais com a criação de Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a
mulher. A cerca da garantia de direitos humanos as recomendações são feitas pelos tratados
internacionais, em especial as que estão despostas na convenção de Belém do Para No eixo da
garantia de direitos, devem ser implementadas iniciativas que promovam o empoderamento
das mulheres, o acesso à justiça e a o resgate das mulheres como sujeito de direitos. A
assistência as vítimas também são determinadas pela política nacional que traz a garantia de

16
Deste modo, a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres torna-se um instrumento de
garantia da efetivação da Lei “Maria da Penha”, por meio de sua difusão e implementação, bem como a
ampliação e o fortalecimento da rede de serviços para as mulheres em situação de violência. Essas ações visam
proporcionar uma segurança do exercício da cidadania a todas as mulheres, incluindo o acesso à justiça
(LEANDRO, 2014, p.15,)
88

um atendimento humanizado, por meio da capacitação dos agentes, juntamente com a criação
de serviços especializados como:

(Casas-Abrigo, Centros de Referência, Serviços de Responsabilização e Educação


do Agressor, Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher,
Defensorias da Mulher); e da constituição/fortalecimento da Rede de Atendimento
(articulação dos governos Federal, Estadual/Distrital, Municipal e da sociedade civil
para o estabelecimento de uma rede de parcerias para o enfrentamento da violência
contra as mulheres, no sentido de garantir a integralidade do atendimento).
(BRASIL, 2011, p.27).

A criação desses serviços especializados não é a única a contribuir para o


desenvolvimento da política nacional os quatro eixos existente são de suma importância para
o monitoramento, enfrentamento, avaliação e acompanhamento de todas as propostas
desenvolvidas no combate a violência, e esse quatro eixos se resumem na prevenção de ações
educativas que influenciem nos padrões sexistas, fortalecimento da rede de capacitação de
agentes no enfrentamento e combate da violência contra a mulher, ações punitivas e o
fortalecimento dom cumprimento da lei Maria da Penha e cumprimento da legislação nacional
e internacional e iniciativas para o empoderamento.
Segundo Pasinato (2015) é notória a quantidade de profissionais que se engajam
todos os dias nessa temática, procurando auxiliar, no atendimento, que contribua para que a
Lei Maria da Penha saia do papel e atinja a sua finalidade, ainda que permeada de suas
diversas limitações. Embora exista ainda uma característica muita grande em dar visibilidade
nas respostas buscando a criminalização da violência, destacando a intervenção no âmbito da
justiça criação de Deams e juizados de Violência Doméstica e Familiar. A política nacional de
enfrentamento a violência contra a mulher surge justamente para suprir essas contradições em
busca de avanços, que conduzam não só a punição, mas também a compreensão das relações e
implicações históricas de desigualdades de gênero na qual vivemos e que vem se
complexificando cada vez mais na sociedade.
Cabe destacar ainda, que no contexto neoliberal onde se acirra o ajuste do capital e
detrimento do trabalho, resultando na privatização da coisa pública, desmonte da política
social e transferência de recursos da seguridade social para o pagamento da dívida pública,
89

percebe-se que a disputa pelo fundo público, pela fatia no orçamento destinada ao
fortalecimento da Política de Enfrentamento da Violência Contra a Mulher, é uma pauta que
se coloca aos movimentos de mulheres organizadas. Importante dizer que mesmo estando a
sociedade diante da conquista da Lei Maria da Penha, da Política de Enfrentamento a
violência contra a Mulher e de outros mecanismos que visem diminuir a desigualdade de
gênero, percebe-se que se no orçamento público não estipular investimento para fortalecer a
execução da Lei e diminuir a disparidades de gênero por meio de políticas públicas, os
números de violência contra a mulher, de feminicídio tendem a não diminuir e a política
pública tende a ficar apenas esquecida no arquivo dos órgãos públicos (CISNE, 2015). Desta
forma, o enfrentamento da violência contra a mulher é uma constante pauta de luta e disputa
dos movimentos de mulheres organizadas.
90

CAPÍTULO 3 - TEOFILO OTONI E A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER COMO


EXPRESSÃO DA QUESTÃO SOCIAL

3.1 Situando as relações de dominação e exploração no Município de Teófilo Otoni.

Ao trazer como pauta, o fato de que o Estado de Minas Gerais é permeado pela
relação de dominação e exploração de mulheres por homens, percebe-se que conforme foi
abordado no capítulo 1 e 2, a estrutura patriarcal e as relações desiguais de gênero vêm
resultando no continuo processo de violência contra a mulher. Minas Gerais possui um
número considerável de mulheres em relação à população masculina. Segundo o Mapa da
Violência (2015), no Estado de Minas Gerais, a ​cada 4 minutos, uma mulher sofre algum tipo
de violência no Estado. Por hora, o número chega a 15. Por dia, são 353 agressões.
Dados do IPEA - Instituto de Pesquisas Aplicadas (2013), no período entre
2009-2011, identificou o estado como o 13º lugar no Brasil em caso de homicídios feminino
(em média 6,24 a cada 100 mil habitantes), ficando atrás apenas do Espírito Santo, que se
encontra em primeiro lugar em caso de homicídios no país. Quanto ao perfil das vitimas de
homicídio em Minas Gerais, observou-se que 60% são de cor negra; 48 % das vitimas possui
baixa escolaridade; 54% das vitimas possui idade entre 20 a 39 anos. Já o agressor na
maioria, ou seja, mais de 50% deles, é o próprio companheiro, e mais de 20% são os ex
companheiros.
O Vale do Mucuri17, segundo o Plano Mineiro do Desenvolvimento Integrado, é um

17
Angelândia, Águas Formosas, Ataléia, Bertópolis, Campanário, Carlos Chagas, Catuji, Crisólita, Novo Oriente
de Minas, Franciscópolis, Frei Gaspar, Fronteira dos Vales, Itaipé, Itambacuri, Ladainha, Machacalis,
Malacacheta, Nanuque, Nova Módica, Ouro Verde de Minas, Pavão, Pescador, Poté, Santa Helena de Minas,
Serra dos Aimorés, São José do Divino, Setubinha, Teófilo Otoni, Umburatiba.
91

Território composto por “29 municípios distribuídos em 3 Microterritórios (FIG. 1) e conta


com a população total de 431.541 habitantes, que corresponde a 2,2% da população mineira”
(MINAS GERAIS, 2015, p. 155).
Figura 1​: Território de desenvolvimento - Vale do Mucuri

Fonte: MINAS GERAIS (2015)

Quanto à extensão territorial, o Vale do Mucuri se apresenta com 23.162 Km​2


correspondendo a 3,9% do total de Minas Gerais. Dentre os municípios com maior população,
estão Teófilo Otoni (134.745 hab.), Nanuque (40.834 hab.) e Itambacuri (22.809 hab.).
Territórios do Médio e Baixo Jequitinhonha, Alto Jequitinhonha e Vale do Rio Doce fazem
fronteira com o Vale do Mucuri, que faz divisa com a Bahia e o Espírito Santo (MINAS
GERAIS, 2015).
O Vale do Mucuri foi um dos últimos territórios a serem desbravados no Brasil
Colônia, por meio da Companhia Mucuri, sob o comando de Teófilo Benedito Ottoni, em
1850. Desde essa época de ocupação do Mucuri, se delineava um histórico de violências da
população indígena que já habitava a região e de escravos, por meio a princípio da exploração
de mão de obra para o trabalho no campo. A região do Mucuri meio a ocupação no ano de
1850 reuniu várias etnias como: povos indígenas, escravos, populações afrodescendentes
migrantes (em especial do Vale do Jequitinhonha com a redução da exploração de ouro e
diamante), alemães, turcos e portugueses (CIMOS; MPMG, 2016).
Nesse sentido, cabe destacar que o processo de violência, rebateu principalmente,
sobre as mulheres indígenas e escravas (estupros, raptos e diversos outros tipos de violências),
estão presentes na formação sócio histórica da região, onde o processo de dominação e
exploração do patriarcado é determinante nesta formação.
Na atualidade percebe-se que o Vale do mucuri é marcado por forte desigualdade
social, desemprego, alto índice de analfabetismo, ficando a região entre uma das mais pobres
92

do Estado. Desta forma, o Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado em 2015 identificou


uma proporção de 53,91% de população pobre no Vale do Mucuri, e de 25,82% daqueles no
nível de extremamente pobres. Ainda em 2010, o Vale do Mucuri foi identificado com renda
per capita de R$ 432,95, destacando-se como sendo a pior de Minas Gerais, perdendo apenas
para o Médio e Baixo Jequitinhonha, Alto Jequitinhonha e Norte, considerando dados de 2010
atrás apenas (MINAS GERAIS, 2015).
De acordo com os dados encontrados no Cadastro de Programa Sociais do Governo
Federal do ano de 2015, existem no Vale do Mucuri, 86.470 famílias cadastradas sendo que
um número significante de 56.822 são pobres (renda per capta familiar menor do que R$
154,00) e 46.420 são beneficiárias do Programa Bolsa Família (MINAS GERAIS, 2015).
Ao se tratar de educação, a região do Mucuri apresenta-se como de pior cobertura de
acolhimento as faixas etárias que deveriam estar na Educação Infantil (57,9%) e ao Ensino
Médio (81,3%). Apresenta-se ainda com a menor taxa de atendimento no Ensino Fundamental
(96,4%) em relação a todo o estado de Minas Gerais.
O Vale do Mucuri, assim como outras regiões mineiras, apresenta-se com uma área
com população feminina considerável, e muito mais do que isso, uma alta taxa de pobreza e
de analfabetismo, e menor na criação de empregos formais (CADERNO DE INDICADORES,
2013).
Conforme consta no Plano Mineiro de Desenvolvimento integrado (2015), os dados
extraídos dos documentos do Centro Integrado de informações de Defesa Social / SEDS
demonstra um crescimento preocupante de homicídios na região do Mucuri no período de
2000 a 2005, com tendência a redução de mortalidade violenta. Entretanto, no ano de 2014 o
Vale do Mucuri vivenciou taxas altas de crimes violentos e homicídios. Ao se comparar os
índices do Vale do Mucuri percebe-se a gravidade desse contexto social: em relação aos
crimes violentos, Minas Gerais apresentou (521,4%) e Mucuri (213,43%); e homicídios para
cada grupo de 100 mil habitantes Minas Gerais (20,3%) e Mucuri (21,5%).
Assim, não é difícil saber que todo o Brasil vivencia desde muito tempo episódios de
violência doméstica contra as mulheres, no entanto, alguns territórios se sobressaem com
índices altos desse tipo de delito no período compreendido entre 2014 e 2016. Segundo o
diagnóstico levantado pela Secretaria de Segurança Pública de Minas Gerais (2016), a Risp 01
com sede na capital mineira, Belo Horizonte, obteve o número maior de registros de violência
contra a mulher no período de três anos, ou seja, 12%. Outras regiões também alcançaram
93

índices altos de ocorrências como “Risp 04 (Juiz de Fora), com 9% dos registros também nos
três anos e pela Risp 02 (Contagem), que apresentou 9% de registros no ano de 2014 e 8% nos
dois anos seguintes, 2015 e 2016” (SSPMG, 2016, p. 10).
A figura 02 abaixo demonstra os registros de violência doméstica e familiar contra a
mulher, taxas (por 1000.000 habitantes), por RISP18, semestre e ano no estado de Minas
Gerais.

Figura 2:​ Taxas de registros de violência doméstica e familiar contra a mulher (por 100.000 hab), por RISP,
semestre e ano 2014-2016

Fonte​: SSPMG (2016)

Nesse sentido, para refletir sobre a violência contra a mulher em Teófilo Otoni, serão
destacados aspectos da formação sócio histórica da região e alguns indicadores sociais, que
possibilitem compreender a realidade regional e quais as implicações da mesma sobre a vida

18
A Região Integrada de Segurança Pública-RISP é um modelo de gestão que pressupõe a atuação articulada e
solidária dos órgãos de Defesa Social (Polícia Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Secretaria de Estado
de Defesa Social) com outros órgãos do Poder Executivo (tanto estadual quanto municipal), Poder Judiciário e
sociedade civil. Nesse sentido, Minas Gerais são divididas em 18 RISP, sendo que os Vales do Jequitinhonha e
Mucuri pertencem a 15ª RISP de Teófilo Otoni (SSPMG, 2015).
94

das mulheres.
Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010), Teófilo Otoni
situa-se no sudeste de Minas Gerais, no Vale do Mucuri, e é considerado centro
macrorregional, isto é, o centro econômico de maior importância.
A área do município está estimada em 3.242 Km​2 e a área urbana em cerca de 80
Km​2​. De acordo com o Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de Minas Gerais
(DER) as principais rodovias de acesso a Belo Horizonte são a BR-381 e a BR-116. No que
diz respeito ao perfil demográfico, a população teofilotonense em 2010, segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE constituía-se de 134.745 habitantes, possuindo
densidade demográfica de 41.565 habitantes/km​2​. Estimativa da população para 2016 foi de
141.502 habitantes. A Tabela 1 retrata a população residente do município no ano de 2010:

Tabela 1: ​População Residente

Teófilo Otoni %

Pessoas residentes 134.745

Homens residentes 64.466

Mulheres residentes 70.279

Pessoas residentes - área 110.076


urbana

Pessoas residentes - área 24.669


rural

​Fonte​: IBGE (2010)

A maior parte da população reside na área urbana, e é formada por mulheres.


Aproximadamente 60,88% da população de Teófilo Otoni se auto declara de cor parda,
29,01% de cor branca, 9% de cor preta, 0,16% cor amarela, 0,17% são indígenas, e 0,75% da
população não declarou a sua cor (IBGE, 2010).
95

Coube esclarecer, conforme foi abordado no capítulo 2, item 2.1 que:

Todas as mulheres, independente da classe e da raça/etnia em uma sociedade


patriarcal estão sujeitas a sofrer violência, mas não indiferenciadamente. Ou melhor,
classe e a raça/etnia não apenas imprimem novas determinações de violência, mas,
também, tornam as mulheres mais propícias a violências, além ainda de serem as
mulheres pobres e negras as que mais têm dificuldades materiais para o
enfrentamento dessas violências, posto que além de patriarcal, essa sociedade é
racista e classista (CISNE, 2015, p. 146).

Os dados supracitados revelam que além da maioria da população da região ser


formada por mulheres, ainda, 69,88% da população da cidade de Teófilo Otoni são pessoas
negras da cor preta ou parda. De acordo com o Mapa da Violência (2015), aspectos como
sexo, raça, classe social, baixo índice de acesso a educação, desemprego são fatores que
amplia o risco das mulheres de sofrerem violência.
Conforme foi destacado no capítulo 1 e 2 deste estudo em questão, os maiores
índices de feminicídio são sobre as mulheres negras, pobres e analfabetas. Fato é que a
violência contra a mulher está presente em Minas Gerais, no Vale do Mucuri e principalmente
em Teófilo Otoni. Assim, ao serem observados os números registrados na tabela 01 acima, é
possível analisar a realidade de município, pertencente à RISP 15, e que traz índices
preocupantes desde 2014, uma vez que nesse período esteve acima da média dos números da
capital mineira, bem como do Estado de Minas Gerais como um todo. Os anos de 2015 e 2016
não diferiram do ano anterior, demonstrando que não houve reduções consideráveis desses
registros. Porém, o que acontece na maioria das vezes e a subnotificação, pois esses dados
dizem respeito aos registros de ocorrência, no entanto percebe-se que a maioria das mulheres
que sofre violência não chega a denunciar os agressores.
Os dados acima vão de encontro ao contexto descrito por Cisne (2015), já citado
anteriormente, uma vez que o relato é de que a desigualdade entre homens e mulheres vem da
dimensão patriarcal que ao estar junto ao capitalismo provoca coesão de forças contra o sexo
feminino. Partindo desse princípio foi que Saffioti (2011) reforçou o fato de que as mulheres
muitas vezes se colocam submissas perante aos seus parceiros devido a um histórico de
hierarquia de educação diferenciada. As ocorrências de violência contra a mulher resultam,
principalmente, da relação hierárquica estabelecida entre os sexos, sacramentada ao longo da
história pela diferença de papeis instituídos socialmente a homens e mulheres, fruto da
educação diferenciada. ​Nesse caso, a Lei Maria da Penha atua de forma importante no
momento em que classifica a violência em seus 5 tipos, levando a sociedade a compreender
96

que violência não é só aquela que deixa marcas por todo o corpo e sim qualquer ação que
viole a integridade física material e mental ou psicológica da mulher. Por mais que as
estatísticas vêm apontando ao longo dos anos sua ocorrência e aumento da violência, mesmo
depois da aprovação da Lei Maria da Penha conforme consta no gráfico 1 do item 2.1 deste
estudo. Fica expresso que para combater a violência contra a mulher, para além da Lei, é
necessário que o Estado trabalhe em prol de oferecer políticas públicas de efetivas e
integradas de prevenção, combate e enfrentamento da violência
Segundo dados do diagnóstico do Sistema Integrado de Defesa Social (2016), o
município de Teófilo Otoni (RISP 15) apresenta-se com uma das maiores taxas de homicídio
no estado mineiro, acima da média com 2,01% em 2016 (Fig.3).
Figura 3: Taxa de homicídio contra mulher, por Risp e semestre

Fonte: ​SSPMG (2016)

Além disso, tornou-se perceptível que em Teófilo Otoni, os indíces de violência e


homicídios contra a mulher é uma evidência. Dados do Diagnóstico da Violência Doméstica e
Familiar contra a mulher de MG no período de 2014 à 2016, apresentaram um número
expressivo de mulheres, vitimas de violência, ficando acima da média estadual.
No que diz respeito da taxa de violência doméstica e familiar contra a mulher nos
municípios que compõem a Risp 15, Teófilo Otoni novamente ganha destaque como um dos
municípios de maior índice 9,11%, conforme tabela 2.

Tabela 2: ​Taxas de violência doméstica e familiar contra mulher por município -RISP 15 - Teófilo Otoni​.19

19
Esses dados apresentam os municípios da RISP 15- Teófilo Otoni, que apresenta a taxa de violência doméstica
acima da média mineira (média geral dos municípios menos um desvio padrão). Os mesmos são advindos dos
diagnósticos da violência doméstica e familiar em Minas gerais (2014-2016). Os dados desse diagnóstico foi
baseado no Armazém_Sids_Reds (Registro de Eventos de Defesa Social), do qual as informações extraídas são
baseadas na natureza dada ao Reds no momento de sua lavratura, o que significa que possíveis alterações nas
97

Municípios 2014 2015 2016


1 Almenara – Vale Jequitinhonha 12,94 11,82 10,41
2 Araçuaí– Vale Jequitinhonha 10,86 10,44 9,71
3 Campanário- Vale do Mucuri 9,03 12,31 9,44
4 Carlos Chagas- Vale do Mucuri 8,69 8,58 8,75
5 Itambacuri- Vale do Mucuri 8,90 9,95 10,10
6 Malacacheta- Vale do Mucuri 8,65 10,73 10,90
7 Nanuque- Vale do Mucuri 9,86 8,92 8,59
8 Rubim- – Vale Jequitinhonha 8,59 9,39 9,59
9 Teófilo Otoni- Vale do Mucuri 9,11 8,79 9,59
Média dos 853 municípios do estado 5,37 5,35 5,47
Desvio Padrão 2,36 2,36 2,28

Fonte:​ SSP MINAS GERAIS, 2016.

Os dados até agora demonstram a violência contra a mulher inserida no estado de


Minas Gerais, adentrando a Risp 15 a qual pertence o Vale do Mucuri, e alcançando o
município de Teófilo Otoni, em um cenário de poder do homem sobre a mulher, denotando
que essa é inferior a ele, e de sua propriedade. Dados como os apresentados no Vale do
Mucuri, podem ser interpretados seguindo a contextualização de Saffioti (2011), que retrata
que culturas como essa podem estar imersas no patriarcalismo, em que homens exercem
poder sobre as mulheres, resultando na naturalização do domínio, e que não se restringe a
episódios no seio familiar, mas percorre toda a sociedade. E quando se fala de violência
contra a mulher, mais uma vez compreende-se a cultura arcaica do homem, ao pensarem que
são detentores do poder de decidir sobre a vida e morte das suas companheiras.
Acredita-se que o índice crescente no Vale do Mucuri origina-se da naturalização,
fruto da sociedade patriarcal, tendo em vista que a cultura é a de que o silêncio das mulheres
vitima de violência doméstica, preserve a família e o casamento. Essa situação se agrava
diante da ausência de uma rede de enfrentamento a esse tipo de violência, e ainda, bem como
do despreparo dos profissionais no acolhimento a essas mulheres vitimas da violência, e da
criação de estratégias em prol da prevenção e do estímulo à denúncia. Dessa feita,
compreende-se que o regime patriarcal gera o aprisionamento das mulheres a situações como
a violência doméstica, impedindo-as de se sentirem valorizadas e como cidadãs de direitos
assim como os seus esposos.

tipificações dos delitos realizadas no momento de aceite ou carga no PCnet, ou mesmo de validação posterior de
ocorrências, não serão captadas pelo banco de dados utilizado para este relatório. Ademais, por se tratar de um
sistema integrado, os dados tratados contemplam os registros feitos pela Policia Militar, Polícia Civil e Corpo de
Bombeiros Militar. Os dados utilizados na pesquisa são provenientes do Universo “envolvido”
(Armazém_Sids_Reds). Disponível em:<http://www.seds.mg.gov.br >.
98

3.2 A violência contra a mulher e a Lei Maria da Penha a partir da Percepção do Município de
Teófilo Otoni

Conforme dados já vistos no diagnóstico da Secretária de Segurança Pública de


Minas Gerais, entre os anos de 2014 a 2016, Teófilo Otoni teve a taxa de í​ndice de violência
doméstica e familiar, de maior predominância, acima da média do Estado (SSPMG, 2016).
No intuito de mudar as estatísticas de violência doméstica praticada contra as
mulheres no município de Teófilo Otoni e distritos, foram implantadas instituições como a
Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, a Patrulha de Prevenção, o Observatório
dos Direitos das Mulheres dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, o Conselho Municipal de
Direitos das Mulheres, o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS),
o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), Apoio à mulher, Criança e Adolescente
(AMCA), com o apoio da Vara da Mulher, Ministério Público e Defensoria Pública, Núcleo
de Prática Jurídica e de Psicologia das Faculdades, Movimentos organizados em defesa da
Mulher, Hospitais, NASF, PSF, as quais, direta ou indiretamente estão envolvidas com esse
grave problema social.
Muito embora existam redes de proteção à mulher em Teófilo Otoni, como a de
serviços especializados já citados acima, sabe-se que os números são ainda expressivos
quando se trata de ocorrências de violência doméstica contra mulheres. Entretanto, este estudo
não tem como foco trazer números de ocorrências de violência doméstica contra as mulheres
no município de Teófilo Otoni, mesmo porque não se sabe se os dispostos nos dados da
Secretária de Segurança Pública revelam o universo real de ocorrências de violência
doméstica contra mulheres, ou se por trás deles existam outras vítimas que motivadas por
medo, receio ou vergonha de tornar público tais fatos, não efetuaram registros.
Desse modo, surgiu a necessidade de trazer a percepção do município de Teófilo
Otoni, quanto ao assunto violência contra a mulher e a Lei Maria da Penha, representado por
um público alvo de 100 participantes, dentre eles, homens e mulheres escolhidos de forma
aleatória.
Os dados coletados através de 12 perguntas abertas e fechadas foram das respostas de
100 participantes, sem distinção de sexo, uma vez que o intuito foi de trazer a
representatividade dos mesmos em relação à percepção do assunto tratado neste estudo, ou
seja, a violência contra a mulher a Lei Maria Da Penha.
99

Os participantes deste estudo, todos residentes em Teófilo Otoni, dentre eles 52


mulheres e 48 homens com idade entre 16 e 70 anos, sendo que a maior frequencia de idade
foi entre 16 e 30 para homens e entre 16-50 para mulheres, conforme descrito na tabela 3.
Tabela 3: ​número de participantes homens e mulheres conforme idade
Idade Mulheres Homens

(n) % (n) %
16-30 (23) 44% (22) 46%
31 e 50 (23) 44% (15) 31%
51-70 (06) 12% (11) 23%
TOTAL (52) (48)
Fonte​: levantamento próprio

Após responderem a primeira e segunda pergunta referente à idade e sexo, os


participantes foram submetidos as demais perguntas abertas e fechadas.
Por meio da terceira pergunta foi possível obter a descrição do estado civil dos
participantes pode ser verificada no gráfico 3.
Gráfico 3: ​Estado civil dos participantes com idade entre 16.-70 anos

Fonte​: dados da pesquisa

Conforme o gráfico 3, o maior número de participantes com idade entre 16-30 anos
foi de solteiros. Sendo assim, do total de 23 mulheres, 19(83%) se declaram solteiras, e de 22
homens, 21(95%) também disseram estar na mesma condição civil de solteiros. Os
participantes do sexo masculino com idade entre 31-50 anos ganhou destaque os solteiros e as
mulheres casadas. Sendo que do total de 23 mulheres, 11(48%) se declaram casadas, e 15
homens, 8(53%) disseram estar na condição de solteiros. Já os participantes com idade entre
51-70 a maioria foi homens e mulheres casadas. Do total de 6 mulheres, 4(67%) são casadas,
100

e de 11 homens, 6(55%) também casados.


Percebeu-se que os participantes na faixa etária de até 50 anos, a maioria dos homens
não se preocupam em casar, somente após essa idade é que já contraem o matrimônio. Já as
mulheres, a maioria de casadas é a partir dos 31 anos de idade, talvez por ser o período que
vêem a condição de melhor estabilidade financeira para constituir família. O fato do homem
se casar bem mais tarde depois dos 31 anos de idade, como mostrou o resultado deste estudo,
permite compreender a condição machista do homem e da “fragilidade” da mulher – Do
homem que seguramente adia a condição de compromisso matrimonial, pois “ele só se basta”
nessa sociedade capitalista, e da mulher que sente a necessidade de casar-se, pois, por mais
que viva em um século de opções de independência ainda se vê na condição de dependente, e
carrega histórico que bem está definido em Cisne (2015) de uma sociedade
patriarcal-racista-capitalista.
A quarta questão levantada foi em relação a escolaridade dos participantes. O
gráfico 4 facilitou a demonstração dos resultados
Gráfico 4: ​Escolaridade dos participantes com idade entre 16-70 anos

Fonte​: dados da pesquisa

Conforme o gráfico 4 o maior número de participantes com idade entre 16-30 anos
têm o ensino médio. Sendo assim, do total de 23 mulheres, 15(68%) possuem o ensino médio,
e de 22 homens, 20(91%) também disseram ter apenas esse nível de escolaridade.
Os participantes com idade entre 31-50 anos, a maioria do total de 23 mulheres
apenas16(70%) têm o ensino médio, e dos 15 homens 7(47%)possuem apenas o ensino
fundamental. Já os entrevistados com idade entre 51-70 anos, do total de 6 mulheres, 4(67%)
possuem o ensino médio e dos 11 homens, 6(55%) declararam ter apenas o ensino
101

fundamental.
Observou-se que o ensino médio é uma declaração incidente entre homens e
mulheres, sendo que da mesma forma os homens se destacaram por apresentarem apenas o
ensino fundamental. Percebeu-se ainda que a tendência das mulheres a cursarem o ensino
superior é a partir dos 16-50 anos e dos homens a partir dos 31-50 anos. Lembrando que o
Caderno de Indicadores (2013) descreveu o Vale do Mucuri como sendo de pior acolhimento
de educação nas faixa etárias.
Ao refletir sobre o baixo nível de escolaridade da região e a violência sobre as
mulheres com o menor índice de escolaridade, compreende-se que o contexto ora reforçado
por Saffioti (2011), e que diz respeito ao padrão de comportamento de homens e mulheres,
advém de uma educação diferenciada para ambos os sexos.
Coadunando com esse contexto, observou-se que grande parte das mulheres
entrevistadas, possuía ​o ensino médio completo. Reforçando esse dado, conforme o estudo
efetivado pela Secretaria de Defesa Social em janeiro de 2013 a junho de 2015​, no perfil das
vítimas de homicídios no estado de Minas Gerais se encontra uma porcentagem significativa
naquelas que possui baixa escolaridade. Confirmando também essa informação, estudos como
o de Moura, Albuquerque Netto e Souza (2012) identificaram que mulheres com menor nível
de escolaridade são as que mais vivenciam a violência de gênero.
Nesse sentido, é possível abstrair a compreensão de que talvez essas mulheres
possam estar arraigadas no patriarcado, e não conseguem deixar de ser manipuladas pelos
companheiros, a ponto de mesmo tendo conhecimento de seus direitos, e saber a quem e onde
recorrer para registrar o Boletim de Ocorrência, muitas vezes não fazem.
O quinto item do questionário foi para identificar se os participantes conheciam
alguém que sofre ou já sofreu agressão do marido ou namorado, seja do atual ou do
ex-companheiro. O gráfico 5 demonstrou resultados referentes a essa questão.

Gráfico 5: ​Participantes entre 16-70 anos que conhece alguém que sofre ou que sofreu agressão do marido ou
namorado, seja do atual ou do ex-companheiro.
102

Fonte​: dados da pesquisa

Conforme o gráfico 5, a maioria de homens e mulheres disseram que conhecem


alguém que sofre ou sofreu agressão do marido ou namorado. Assim, ficou demonstrado que
os participantes com idade entre 16-30 anos no total de 23 mulheres, 12(52%) disseram que
não tinham conhecimento de tal afirmativa, e dos 22 homens, 15(68%) afirmaram conhecer
pessoas que vivenciaram situação de violência doméstica. Participantes com idade entre 31-50
anos a maioria de homens e mulheres afirmaram ter conhecimento desse tipo de fato. Assim,
no total de 23 mulheres, um número significante de 16(70%) disseram que conhece alguém
que sofreu agressões domésticas, e dos 15 homens, 9(60%) também afirmaram conhecer
pessoas inseridas nesse tipo de cenário.A maioria dos homens e mulheres com idade entre
51-70 anos negaram ter conhecimento de pessoas que foram vítimas de violência doméstica.
Assim, no total de 6 mulheres, 3(50%) disseram que conhece e outra metade disse que não
sabe de ninguém que tenha sofrido violência doméstica. Os homens, quase em sua totalidade
de 11, 8(70%) disseram que não conhece ninguém inserida em contexto de violência
doméstica.
Ao analisar o gráfico 5 percebe-se que mesmo tendo um número de participantes que
dizem conhecer alguém que sofre ou sofreu agressão do marido ou namorado, o percentual
dos que disseram não conhecer ainda é preocupante, tendo em vista que a região do Mucuri a
incidência de violência doméstica contra mulheres ainda é um problema recorrente.
A compreensão é de que até mesmo nesse momento de omissão, a mulher vitimada
se torna vítima da sociedade patriarcal e capitalista em que as pessoas por mais que tenham
103

conhecimentos dos fatos, são omissos à violência, vergonha, seja por medo de se envolver, e
por entenderem que o assunto é restrito ao casal, ou ainda compreende que tal delito seja
natural. Observa-se nesse momento a persistência do patriarcado acerca da violência contra a
mulher que ainda é tratada como propriedade particular do homem. Como já foi visto em
capítulos anteriores, por diversas vezes as mulheres são consideradas culpadas por situações
de agressão.
Interessante refletir sobre o alto número de pessoas entre homens e mulheres que
afirmaram não conhecer alguém que sofre ou sofreu violência do seu companheiro. Ocorre
que se na região de Teófilo Otoni os dados
A sexta questão levantada foi quanto ao conhecimento dos participantes em relação à
existência da Lei Maria da Penha. Resultado que pode ser conferido no gráfico 6.

Gráfico 6​: Nível de conhecimento dos participantes com idade entre 16-70 a respeito da Lei Maria da Penha

Fonte​: dados da pesquisa

Conforme o gráfico 6 o maior número de participantes com idade entre 16-70 anos
sabem razoavelmente a respeito da Lei Maria da Penha. Do total de 23 mulheres com idade
entre 16-30 anos 18(78%) e de 22 homens, 16(71%). Participantes com idade entre 31-50
anos sabe razoavelmente a respeito da Lei Maria da Penha: do total de 23 mulheres, 15(68%)
e de 15 homens, 11(73%). O maior número de participantes com idade entre 51-70 anos sabe
razoavelmente a respeito da Lei Maria da Penha: do total de 6 mulheres, 4(60%) e de 11
homens, 8(73%).
104

O resultado denotou que tanto os homens quanto as mulheres trazem conhecimento


razoável a respeito da Lei Maria da Penha e apenas uma porcentagem pequena dos
participantes entre 31-50 (23%) mulheres e 51-70 (20%) também de mulheres disseram saber
muito. Essa informação vai de encontro ao gráfico 5 em que a maioria das mulheres desse
mesmo grupo de idade disseram conhecer alguém que tenha sofrido violência doméstica de
namorado ou marido. Ainda com relação a essa informação, pode-se dizer que ao observar o
gráfico 4 que trata da nível de ensino dos participantes, compreende-se que o fato de
sobressair o conhecimento razoável a respeito da Lei Maria da Penha, se dê pelo fato que
nessa idade muitos se declararam ter cursado apenas o ensino médio, uma vez que o ensino
superior é que se tem maior oportunidade do ensinamento da Lei em variados Cursos.
Mesmo que a Lei Maria da Penha já tenha completado 10 anos, a população ainda
pouco sabe a respeito. Pesquisa realizada pelo Instituto Avon em parceria com a Data
Popular no ano de 2011 demonstrou que muito embora seja a 94% o nível de lembrança da
mesma, o nível de conhecimento é ainda muito baixo com 13% de entrevistados que disseram
saber muito ou bastante a respeito do assunto. Abstrai-se de que ainda há prevalência da
estrutura patriarcal.
Muito embora haja conhecimento da população quanto a existência da lei Maria da
Penha para cuidar e proteger as mulheres de violência doméstica, ainda é preciso que as
políticas públicas sejam molas verdadeiramente propulsoras do seu funcionamento. Ocorre
que as políticas públicas criadas na capital não se estendem a todos os municípios, pois,
poucos são aqueles que possuem estrutura organizacional para fazer a lei funcionar. O ideal
seria que os gestores públicos do Vale do Mucuri invistam com maior vigor na divulgação da
lei, seja na mídia televisa, nas escolas, Igrejas e outros meios de comunicação. Dessa feita, a
sociedade da informação poderá sair da estrutura patriarcal-capitalista-racista para uma
realidade social de enfrentamento à violência de gênero, assim, contribuirá com outros
mecanismos sociais na execução da lei Maria da Penha fora do papel.
Oportuno ressaltar os tipos de violência doméstica contra a mulher com base na Lei
Maria da Penha de n. 11.340 de 2006: violência física, violência psicológica, violência
patrimonial, violência moral e violência sexual. As pesquisadoras deste estudo acreditaram na
relevância em identificar quais os tipos de violência doméstica os participantes conheciam. O
resultado da questão sete foi descrito no gráfico 7.
105

Gráfico 7: ​Tipos de violência que os participantes com idade entre 16-70 conhecem

Fonte​: dados da pesquisa

Conforme o gráfico 7 todas as faixa etárias conhecem todos os tipos de violência.


Apenas um pequeno grupo não respondeu (17%) nada. A idade de 16-30 do sexo masculino
foi que mais demonstrou conhecer de todos os tipos de violência, ficando a idade de 51-70 do
mesmo sexo conhecer a psicológica (82%), moral (91%) e física (91%).
Observa-se que o gráfico 7 que trata do conhecimento dos tipos de violência vai de
encontro aos gráficos anteriormente descritos, em que os participantes em sua maioria
demonstraram conhecimento razoável da Lei Maria da Penha, e também do gráfico 5 em que
grande parte dos participantes declararam conhecer alguém que tenha sofrido ou sofre
violência, o que faz perceber o conhecimento dos mesmos quanto ao tipo de violência. Se por
um lado os homens quase em sua totalidade, e em todos os grupos de idades conhecem todos
os tipos de violência, por outro as mulheres de todas as idades citaram apenas tipos que mais
conhece como a violência física, seguida da física e psicológica.
Os dados do gráfico 7 demonstram que a violência física e psicológica são uma das
mais conhecidas pelos participantes, e essa informação vai de encontro a informação da
Secretaria de Segurança Pública de Minas Gerais (2016) que identificou prevalência desses
mesmos tipos de delito em todo estado de Minas Gerais entre os anos de 2014-2016.
106

O diagnóstico da Secretaria de Segurança Pública de Minas Gerais (2016) revelou


que a violência patrimonial também é incidente no Vale do Mucuri, o que fortalece resultado
quanto ao conhecimento dos participantes em relação a esse tipo de delito.
Os diversos tipos de violência (física, psicológica, patrimonial, sexual, dentre outros)
prevalecem nas ocorrências em todo o estado de Minas Gerais, mas a maioria dos casos
registrados nas regiões: foram de violência física, seguida de psicológica (SSPMG, 2016).
Gráfico 8: ​Quantitativo de registros de violência doméstica e familiar contra mulher, segundo o tipo de violência
– Risp 15 - Teófilo Otoni​.

Fonte​: dados da pesquisa

A violência doméstica e familiar especificamente costumava ser tratada socialmente


como problema particular, ou seja, é um problema restrito e de cunho íntimo do casal, não se
tratando de problema social, o que prejudicavam as ações efetivas na punição do agressor.
Assim, percebe-se que mesmo com a transformação da violência doméstica em uma questão
pública com a aprovação da Lei Maria da Penha, a persistência do patriarcado a cerca da
violência contra a mulher é ainda tratada como um problema privado, sendo as mulheres
muitas vezes culpabilizadas vitimadas por essas situações. Desta forma, a pesquisa deixou
claro que a falta de conhecimento da população sobre a tipificação da lei Maria da Penha
resulta no baixo índice de denúncias da violência psicológica, moral, patrimonial e sexual,
pois a violência física é o extremo da violência contra mulher, ou seja, quando uma mulher
sofre violência física já foi antecedida dos vários tipos de violência.
Dentre as violências cometidas contra a mulher, a mais registrada como conhecidas
107

pelos participantes foi a violência física, talvez seja pelo fato de que até a mulher tomar uma
iniciativa de denunciar ela já passou por todas as outras citadas, que são as menos
denunciadas. Por isso é de suma importância o conhecimento de tais violências contra as
mulheres na sociedade brasileira, se elas logo após a primeira violência denunciassem
evitariam chegar à física. Conhecer os direitos que as asseguram é essencial, ocorre que na
maioria das vezes as condições de vulnerabilidade não deixam essas mulheres romper com
esse ciclo de violência, tornando-se uma das principais causas a dependência financeira que
não ajuda para esse rompimento.
A questão oito do questionário aplicado aos participantes deste estudo, diz respeito
ao conhecimento dos mesmos quanto ao direito da mulher em estar assegurada pela Lei Maria
da Penha mesmo após a separação. O gráfico 9 revelou resultados a esse respeito.

Gráfico 9​: Participantes entre 16-70 anos que sabem que a mulher é assegurada pela Lei Maria da Penha mesmo
após a separação​.

Fonte​: dados da pesquisa

Conforme o gráfico 9, tanto os homens quanto as mulheres com idade entre 16-30
anos revelaram saber que mesmo após a separação a mulher encontra amparo na Lei Maria da
Penha. Sendo assim, do total de 23 mulheres, 12(57%) disseram que sim, e dos 22 homens,
14(59%). Os participantes do total de 23 mulheres, 16(78%) disseram que sim, e de 15
homens na idade entre 31-50 anos, 9(67%) disseram que desconhece o fato. Dos 51-70 anos
do total de 6 mulheres, 4(67%) disseram que não, e dos 11 homens, 7(64%) disseram que tem
conhecimento a respeito da questão.
É interessante observar no gráfico 9 que todas as idades de ambos os sexos se
108

mostraram divididos em alguns ao dizer sim e não, e esse resultado vai de encontro à resposta
de todas as faixa etárias no gráfico 4 quando foram questionados se tinham conhecimento da
Lei Maria da Penha e responderam que razoavelmente. Dessa feita, observou-se que o pouco
conhecimento a respeito da Lei em comento possa estar vinculado a essa desinformação
quanto a proteção da mulher mesmo após sua separação. A Lei Maria da Penha é clara ao
dizer que a sua aplicação independe de parentesco, e que protege todas as mulheres, casadas
ou solteiras.
O número de mulheres que declararam não saber que estariam protegidas mesmo
depois da separação é ainda assustador, uma vez que a Lei Maria da Penha se encontra
vigente há 10 anos, e que naturalmente deveria ser algo mais divulgado, com informativos
incessantes nas instituições de maior aglomeração de pessoas, como escolas e igrejas, dentre
outras. Nesse caso, torna-se imprescindível que as políticas públicas sejam a via de acesso
para a conscientização a esse respeito, permitindo não somente as mulheres de qualquer
estado civil, bem como toda população obter maiores informações da Lei Maria da Penha.
Extraiu-se desse resultado a percepção de que muito embora toda a sociedade, sem
exceção de idade, tenha conhecimento da existência de situações em que as mulheres são
vítimas da violência doméstica, escondem por trás de evidências devido a uma cultura
machista. Cultura essa que reprime e impede a mulher de denunciar ou até mesmo de dar
continuidade a uma ação. Nesse caso bem descreveu Saffioti (2011), que se por um lado a
mulher revela um ser social de comportamento dócil, apaziguadora, por outro o homem
exerce o poder, condutas agressivas e perigosas.
A questão nove tratou de identificar entre os participantes, se conheciam alguém que
permaneceu convivendo com seu agressor mesmo após sofrer violência doméstica. O gráfico
10 revelou resultados a esse respeito.

Gráfico 10: ​Participantes entre 16-70 anos que conhecem alguém que continua vivendo com seu agressor
mesmo após a violência doméstica
109

Fonte​: dados da pesquisa

Conforme o gráfico 10 tanto os homens quanto as mulheres disseram que conhecem


pessoas que continuam a viver com seus agressores. Sendo assim, a idade entre 16-30 anos
do total de 23 mulheres, 12(52%) e dos 22 homens, 14(64%) disseram que sim. Homens e
mulheres com idade entre 31-50 anos disseram que conhecem pessoas que continuam a viver
com seus agressores. Sendo assim, do total de 23 mulheres, 16(70%) e dos 15 homens, 9
(60%) disseram que sim. A maioria do grupo de homens quanto de mulheres com idade entre
51-70 não conhecem pessoas que continuam a viver com seus agressores. Sendo assim, do
total de 6 mulheres, 4(67%) e dos 11 homens, 9 (82%) disseram que não.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública de Minas Gerais (2016) a faixa etária
com maior prevalência de mulheres vítimas da violência doméstica está entre 18 e 44 anos de
idade. É importante trazer esses dados tendo em vista que em vários casos, a vítima não
consegue romper o relacionamento, e muito menos desvencilhar do agressor com a ajuda dos
órgãos destinados a esses casos. Fato é que romper o ciclo da violência torna-se difícil para a
vítima da violência doméstica, o que reforça a necessidade de apoio de agentes externos, para
que haja empoderamento da mulher. Romper20 com o ciclo de violência conjugal se torna um
processo difícil, o que muitas vezes pode significar para a mulher a perda do seu significado
no cotidiano da casa onde mora, por isso é um percurso lento e doloroso.
O item dez do questionário aplicado para este estudo, diz respeito aos participantes

20
ROCHA, L. M. L. N. Políticas públicas, violência doméstica e a relação público/privado. In: ​Casas-abrigo​: no
enfrentamento da violência de gênero. São Paulo: Veras , 2007
110

ter conhecimento ou não da existência do número de telefone gratuito que as vítimas de


violência doméstica ligar e pedir ajuda. O gráficos 11 demonstra resultado a esse respeito.

Gráfico 11: ​Participantes entre 16-70 anos que sabem da existência do número de telefone gratuito para o qual
as vítimas de violência contra a mulher podem ligar para saber como pedir ajuda

Fonte​: dados da pesquisa

Conforme o gráfico 11 tanto os homens quanto as mulheres em sua maioria de 16-30


anos revelaram saber da existência do número que pode ser utilizado pelas vítimas de
violência doméstica. Sendo assim, do total de 23 mulheres, 12(52%) disseram que sim, e dos
22 homens, 17(77%). A faixa etária de 31-50 anos, ambos os sexos em sua maioria disseram
saber da existência do número. Logo, no total de
23 mulheres, 12(52%) disseram que sim, e dos 15 homens, 8(53%). Já os de 51-70
anos do sexo feminino quase em sua totalidade 83% disseram ter conhecimento do número.
Nesse grupo, do total de 6 mulheres, 5(83%) disseram que sim, e dos 11 homens, 8(73%).
Oportunamente foi questionado aos participantes da faixa etária entre 16-30 anos se
poderiam dizer o número do telefone, uma vez que disseram ter conhecimento da sua
existência. Entretanto, das 12 mulheres que disseram conhecer, 03 acertaram ao dizer 180, 01
errou ao dizer 181 e as demais 08 não souberam dizer. Já os homens 06 deles acertaram ao
dizer 180, dois disseram 181 e 190, outros 9 não souberam dizer.
O grupo de idade entre 31-50 anos do total de 12 mulheres que afirmaram que sim,
03 disseram 180 e acertaram, 02 erraram ao citar 190 e 07 não souberam dizer. Já dos 8
111

homens que disseram saber, apenas 01 acertou ao dizer 180, outro disse 190 e errou, os 06
mais, também não souberam dizer o número. Já os participantes do grupo de idade entre
51-70 anos, homens e mulheres, que sabiam da existência do número do telefone citado,
nenhum soube descrevê-lo.
Denotou-se falta de informação em todos os grupos de idade quanto ao número
correto para o qual as vítimas de violência contra a mulher podem ligar para saber como pedir
ajuda. Em resultados de gráficos anteriores foi demonstrado que alguns participantes
conheciam pouco da Lei Maria da Penha, sob esse vértice é possível inferir nesse momento
que também não saberiam da existência do número do disque denúncia. Mesmo assim, é
possível compreender que o disque 180 também necessite de divulgação intensa, através dos
movimentos das mulheres, ou pelas instituições que abraçam a causa contra a violência
doméstica. Importante ressaltar que a ausência de conhecimento da população sobre a Lei
Maria da Penha e em especial sobre os mecanismos de denúncia, permite compreender que o
estado vem trazendo desde muito tempo uma postura omissa e sendo nesse caso conivente
com a violência contra a mulher.
Interessante dizer que o Estado foi responsabilizado internacionalmente a criar a Lei
Maria da Penha, mas cabe indagar se de fato tem assumido essa postura para sua efetivação?
A resposta para esse questionamento vem dos altos índices de homicídios de mulheres mesmo
após a aprovação da respectiva Lei. Remete essa questão a compreensão de que há
cumplicidade do Estado junto aos agressores das mulheres, pertencentes a um Estado
machista, racista e patriarcal. Recentemente, o governo de Michel “Temer reduziu a 61% a
verba que seria para atendimento à mulher em casos de violência. O corte foi R$ 42,9 milhões
para R$ 16,7 milhões”21. O que se vê nesse episódio é que o quadro de contra reforma do
Estado resulta na desmonte das políticas sociais, dentre essas políticas, a de enfrentamento à
violência contra a mulher. Fica nesse caso, em jogo a efetividade da Lei Maria da Penha e dos
demais mecanismos de prevenção e denúncia, com retrocesso nas conquistas obtidas pelos
movimentos feministas
Na questão de número 11 a abordagem foi em relação a opinião dos participantes

21
PITANGUY, Jacqueline. ​Retrocesso​: Temer reduz em mais de 50% verbas de políticas para as mulheres.
Redação RBA • Publicado em: 02/04/2017. Disponível em:< https://www.cut.org.br> Acesso em 16/04/2017.
112

quanto a violência contra a mulher estar inserida apenas nas familias mais pobres. O gráfico
12 revelou o posicionamento de homens e mulheres nesse sentido.

Gráfico 12: ​Opinião dos Participantes entre 16-70 anos no que diz respeito a violência contra a mulher estar
inserida apenas nas familias mais pobres.

Fonte​: dados da pesquisa

O gráfico 12 demonstra unanimidade na opinião de homens e mulheres. Disseram


que não concordam, participantes com idade entre 16-30 no total de 22 homens 19 (86%), e
dentre 23 mulheres 22 (96%). Homens e mulheres com idade entre 31-50 anos disseram que
não concordam, no total de 15 homens 14 (93%), e dentre 23 mulheres 22 (96%). Disseram
que não concordam o grupo de 51-70 anos de idade, sendo no total de 11 homens 10 (91%), e
dentre 6 mulheres 6 (100%).
Fato é que a violência doméstica contra mulheres não se encontra inserida apenas nas
classes mais pobres. Entretanto, reflete nas classes menos favorecidas, talvez por carregar
consigo uma base histórica de dependência, e ainda subjulgada sob o sistema de dominação e
exploração por parte do homem. Enfática foi a descrição de Cisne (2015) ao dizer que que o
capitalismo funde-se com patriarcado e o racismo para consubstanciar o modo de produção e
a desigualdade, provocando reaçoes de poder, opressão e exploração.
Fechando o rol de perguntas do questionário, a número 12 direcionou aos
participantes o seguinte questionamento: Vocês entendem que é certo dizer que em briga de
marido e mulher ninguém mete a colher? O gráfico 13 descreve as opiniões dos participantes.
113

Gráfico 13: ​Opinião dos Participantes entre 16-70 anos no que diz respeito a frase “em briga de marido e
mulher ninguém mete a colher”.

Fonte​: dados da pesquisa

O gráfico 13 demonstra que a opinião tanto de homens quanto das mulheres é a de


que as pessoas tem que interferir na briga de marido e mulher sim. Disseram no grupo de
16-30 anos que não concordam com a frase, no total de 22 homens 15 (68%), e dentre 23
mulheres 15 (65%).
Entre os participantes com idade entre 31-50 anos 23 mulheres 17(74%) não
concordam com a frase, e a opinião é a de que as pessoas tem que se meter sim na briga. Os
homens se dividiram e do total de 15 homens 7 (47%) não concordaram.
Participantes com idade entre 51-70 anos, homens 7 (64%) de um total de 11, e
mulheres 4 (67%) do total de 6, não concordam com a frase, pois entendem que as pessoas
tem que se meter sim na briga de casal.
Esse gráfico vai de encontro aos demais gráficos como o de número 12, que
demonstrou que os grupos com faixa etária de 16-70 anos compreendem que a violência não
está inserida apenas na classe mais pobre, o gráfico de número 9 onde os participantes
também entenderam na sua maioria que a mulher é assegurada pela Lei Maria da Penha
mesmo após a separação. Assim, o resultado demonstra que os participantes são conscientes
quanto à violência doméstica contra as mulheres, e que é uma realidade que merece atenção
de toda sociedade, no entanto é preciso que haja mudanças de postura tanto do homem bem
como da mulher, que por muitas vezes reproduz a cultura machista. É sabido que a mulher
traz historicamente uma carga dessa evolução machista, e se insere na sociedade que impõe e
114

condiciona os seus pensamentos à submissão – isso não é apenas prática social, vai muito
além de uma ideologia machista, é na verdade o Pilar do Patriarcado.
Oportuno refletir sobre a mudança dos parâmetros educacionais e culturais, para que
sejam incorporados de fato os conteúdos que tratem dos direitos da mulher e da igualdade
entre homens e mulheres. Nesse sentido, o papel da educação é preponderante, pois
contribuirá na conscientização da igualdade. É preciso destruir os muros em separam a
oportunidade diferenciada para homens e mulheres, pois, assim ajudará a quebrar o paradigma
patriarcal, e oportunizará a todos de forma igual seja no âmbito privado ou público, pois como
bem direcionou Saffioti (2011) as diversas áreas perpetua a estrutura de poder com
distribuição desigual, em detrimento das mulheres.
Os resultados apontaram que a percepção da população teofilotonense apresenta-se
de forma complexa, e deve ser vista sob olhar cuidadoso da sociedade e políticas públicas.
Acontece que a violência doméstica contra a mulher deve ser compreendida como um
fenômeno que merece atenção transdisciplinar. Observa-se que a cultura patriarcal, o
capitalismo são vertentes que ainda se posicionam no território do Vale do Mucuri, e mais
especificamente em Teófilo Otoni, campo deste estudo, e que traz altos índices de homicídio
contra a mulher. Portanto, há uma forte ligação entre aos baixos números de denúncias e a
percepção social que a população de Teófilo Otoni tem a respeito da Lei Maria da Penha. A
percepção é de que diante do pouco conhecimento da Lei, muitas vítimas ou não, se escondem
por detrás de uma realidade de omissão e desconhecimento dos direitos protetivos da Lei
Maria da Penha.
115

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo geral do tema proposto foi compreender a percepção do município de


Teófilo Otoni em relação à violência doméstica e a Lei Maria da Penha no ano de 2017.
Os dados apresentados neste estudo demonstraram que a violência doméstica contra
a mulher é um fenômeno insidioso que faz milhares de vítimas todos os anos em todo o
Brasil, sem que ainda possa ter acesso à sua real dimensão, muito embora as estatísticas
oficiais trazidas pelo mapa da violência 2015 apontem para crescimento. Essa reflexão parte
116

do principio de que, os casos registrados vão além do número de denúncias, pois muitas são
as mulheres que evitam esse processo.
A violência doméstica contra a mulher gera graves repercussões no âmbito familiar,
isso é fato. Essa “normalidade” precisa urgentemente ser desmistificada, de modo que se
identifique na família sua real magnitude e importância para o desenvolvimento saudável de
todos, a fim de que seja possível reconstruir a referência desse instituto.
O referencial teórico demonstrou que a violência contra a mulher tem sua formação
na sociedade patriarcal, e continua de forma articulada no capitalismo, nessa perspectiva a
categoria gênero é marcada pela influência do patriarcado na construção social dos papeis
desempenhados pela mulher. O espaço doméstico familiar local onde acontecem relações
contraditórias conflituosas e de poder tem se revelado propício para o exercício da violência,
na qual se cria um círculo vicioso para o agressor que na maioria das vezes é membro da
família e procura exercer um controle social, reafirmando seu poder sobre a mulher ao
longo da história, essa problemática foi diversas vezes banalizada.
Daí ser relevante, combater a violência doméstica contra mulheres, e que sejam
trabalhadas também as famílias, não apresentando a elas um modelo a ser seguido, mas
questionando e refletindo junto as mesmas o melhor caminho a ser adotado, ao identificar
como está sendo distribuído o poder entre seus membros, de forma que seja possível uma
convivência menos autoritária.
Os resultados da coleta de dados demonstraram que apesar de haver conhecimento
razoável da população em relação à violência doméstica e a Lei Maria da Penha, é preciso
trabalhos de conscientização e prevenção nesse sentido. Ocorre que muitas são as pessoas, a
própria vítima, ou, até mesmo parentes e/ou pessoas mais próximas que evitam a denúncia,
seja por medo das ameaças que são feitas ou por terem a opinião de que não devem procurar
as autoridades competentes. Isso contribui não só para a intensificação do problema, bem
como para o agravamento do abuso, revelando a ausência de compromisso com o bem-estar
do outro que pode trazer sérias consequências para sua vida.
Ressalta-se que quando se tem como objetivo combater a violência doméstica é
preciso pensar na aplicabilidade da lei, favorecendo as vítimas e protegendo-as, e não criando
vieses para atenuarem a conduta do agressor. E nesse caso, torna-se fundamental combater a
violência doméstica contra a mulher, tendo como parceira a sociedade e o Estado. Nesse
patamar, devem ser criadas estratégias voltadas para a exterminação desse mal que assola os
117

diversos lares por todo o Brasil.


Acerca dessa discussão não só é necessário ter uma lei que sirva de amparo às
mulheres, e que puni o agressor, mas também que seja conhecida como instrumento de
transformação humana, e que visa romper com essa cultura patriarcal machista, que
historicamente, nessa região, Vale do Mucuri, pregou o silêncio da vitimas em favor da moral
e bons costumes, do bem da família e matrimonio que devem sempre permanecer intactos.
Essa cultura vem contribuindo para as relações opressoras, naturalizando cada vez mais esses
processos que se tencionam à cada dia pela falta de debates junto à população e articulação
dos profissionais com as redes de enfrentamento.
Dessa feita, é preciso entender que problematizar a questão de gênero também
significa aprofundar no conhecimento da realidade juntamente com suas determinações social
política, cultural e econômica, permitindo então ao movimento feminista e aos estudos de
gênero desmitificar e desnaturalizar as opressões que as mulheres sofrem.
Nesse momento em que o Brasil vive a conjectura de uma política desarticulada,
deve o movimento feminista firmar sua importância, uma vez que o então presidente da
República Michel Temer, tem demonstrado um governo e Congresso Nacional misógino,
racista e machista. Oportuno comentar que as falas do então Presidente da República nos
últimos tempos, têm destacado a figura feminina como submissa, com limitações de cuidar
dos filhos e das tarefas domésticas – as declarações permeiam sobre uma concepção
retrógrada e demasiadamente conservadora das relações sociais de gênero em relação ao papel
social da mulher. Desse contexto pode-se extrair é um cenário de contra reforma com
resultado de desmonte das políticas sociais, dentre elas a de enfrentamento à violência contra
a mulher.
A mulher não pode ficar na invisibilidade como quer reforçar Temer ao atacar a
proteção social da mulher prevista na Constituição Federal do Brasil de 1988. Sendo assim, as
manifestações do último dia 08 de março vieram não só para combater uma causa voltada
para as mulheres, mas muitas outras contra as Reformas de Temer, em especial a da
Previdência Social e a violência doméstica. Oportunamente merece ser ressaltado o pouco
investimento de mecanismos de enfrentamento nas cidades do interior, o que se vê é um
direcionamento intensificado nas capitais. Merece repensar essa conjectura, uma vez que
regiões como a do Vale do Mucuri, e como foi bem descrito no decorrer deste estudo, está
118

inserido dentre outras, como destaque em índices de homicídio contra a mulher.


Dessa feita, discorrer sobre o tema proposto foi um verdadeiro desafio, tendo em
vista diversos fatores: primeiro por ser um assunto que a maioria das pessoas evita falarem,
retrato da cultura patriarcal enraizada; segundo pela divisão do tempo de pesquisa, estudo,
trabalho e tarefas domésticas, com filhos etc. Entretanto, movidas por cada novo
conhecimento adquirido ao longo da pesquisa, pelo comprometimento, a agenda foi
organizada para as abordagens aos participantes, para a escrita dos textos e análise dos dados.
Muito embora termos na bagagem de estudos acadêmicos, o conhecimento de que o
Vale do Mucuri é uma das regiões permeadas pela cultura patriarcal-machista, não
imaginávamos que poderia encontrar nos depoimentos dos participantes a pouca informação a
respeito da Lei Maria da Penha que já existe há dez anos. É verdade que esperávamos um
número maior de pessoas conhecedoras a respeito de tal Lei. Assim, frente a coleta de dados
tivemos a oportunidade de fazer análises com maior propriedade causa e efeito, pois
percebemos que muito se fala em Lei Maria da Penha, mas pouco se sabe, o que leva a
perceber a necessidade de ser feito um trabalho maior de conscientização quanto a sua
finalidade.
Mesmo para nós como estudantes/pesquisadoras, se antes acreditávamos que já
conhecíamos de tudo a respeito da violência doméstica e até mesmo da Lei Maria da Penha,
este estudo trouxe novos direcionamentos, ratificou o que já havíamos absorvido ao longo das
aulas no curso de Serviço Social, mas complementou de forma surpreendente com novas
informações, tanto a respeito da Lei, como também dos movimentos sociais tão consolidados
nos dias de hoje em uma política machista e patriarcal.
Já enquanto mulheres, mãe, esposas, filhas, integrantes de uma sociedade que briga
por direitos adquiridos Constitucionalmente, estudos como este certamente nos ajuda a
fortalecer a compreensão do quanto precisamos transpor culturas machistas. Entretanto, é
sempre bom refletirmos quantas vezes colaboramos nas nossas falas e posturas para esse
perfil histórico e patriarcal, com comportamentos submissos, frases prontas, “homem é tudo
igual”, simplesmente para entrarmos em uma situação de pouco esforço, e comodismo. Então,
é preciso fazer a diferença, ajudando a transformar e a desmitificar essa expressão da questão
social, a qual se funda na prevalência da sociedade capitalista, patriarcal e racista, buscando
ultrapassar a aparência e chegar à essência dessa violência que acaba com a vida de tantas
mulheres brasileiras.
119

Concluiu-se que a violência contra a mulher configura-se como uma das muitas
expressões da questão social, ou seja, é um campo de intervenção para o Assistente Social,
onde profissionais como nós temos papel fundamental na formulação, execução e gestão de
políticas públicas de proteção à mulher, bem como no atendimento e na orientação das
mulheres em situação de violência e no processo de acolhimento destas mulheres.
120

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da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher;
dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera
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126

APÊNDICE A: ​Pesquisa de opinião dos 10 anos da Lei Maria da Penha

PESQUISA DE OPINIAO DOS 10 ANOS DA LEI MARIA DA PENH​A

1-Identificação

1-QUAL A SUA IDADE?-----------------

2-ESTADO CIVIL?
( )SOLTEIRO (a) ( ) CASADO (a) /MORA JUNTO ( ) SEPARADO (a)

( ) VIÚVO (a)

3-SEXO ?
( )MASCULINO ( ) FEMININO

4-ESCOLARIDADE

( )NÃO ALFABETIZADA ( )ENSINO FUNDAMENTAL ( )ENSINO MÉDIO ( )ENSINO SUPERIOR (


)PÓS-GRADUAÇÃO

5-VOCÊ CONHECE ALGUÉM QUE SOFRE OU JÁ SOFREU AGRESSÃO DO MARIDO OU NAMORADO, SEJA
DO ATUAL OU DO EX?

( )SIM( ) NÃO ( )NS/NR

6-CONHECIMENTO DA LEI MARIA DA PENHA


( ) SABE MUITO ( ) SABE RAZOAVELMENTE BEM BASTANTE ( ) SABE ALGO A RESPEITO
( ) JÁ OUVIU FALAR, MAS SABE QUASE NADA
( ) NUNCA OUVIU FALAR SOBRE O RESPEITO

7-QUAIS OS TIPOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA QUE VOCÊS CONHECEM

( )FÍSICA ( )MORAL ( )PSICOLÓGICA

( )PATRIMONIAL ( )SEXUAL ( )NS/NR


127

8-VOCÊ SABIA QUE MESMO DEPOIS DA SEPARAÇÃO, A MULHER É ASSEGURADA PELA LEI MARIA DA
PENHA?
( )SIM ( )NÃO

9-VOCÊ CONHECE ALGUÉM QUE MESMO SOFRENDO VIOLÊNCIA CONTINUAM COM SEUS
AGRESSORES?
( )SIM ( )NÃO

10-EXISTE UM NÚMERO DE TELEFONE GRATUITO PARA O QUAL VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA CONTRA A


MULHER PODEM LIGAR PARA SABER COMO PEDIR AJUDA. VOCÊ SABE DA EXISTÊNCIA DESSE
NÚMERO? (SE SIM) QUE NÚMERO É ESSE?

( ) SIM ... QUAL?-------------( ) NÂO

11-A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER SÓ ACONTECE NAS FAMÍLIAS MAIS POBRES

( )CONCORDO( )NÃO CONCORDO, ( )NS/NR

12- EM BRIGA DE MARIDO E MULHER, NINGUÉM METE A COLHER?

( )CONCORDO ( )NÃO CONCORDO ( )NS/NR

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