Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Teófilo Otoni - MG
2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E EXATAS
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
Teófilo Otoni – MG
24
2017
EM BRIGA DE MARIDO E MULHER A LEI MARIA DA PENHA “METE A
COLHER”: um estudo da percepção da Lei no município de Teófilo Otoni
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
Teófilo Otoni - MG
2017
AGRADECIMENTOS
Após tantos obstáculos enfrentados ao longo desta caminhada, com força de vontade
perseverança e acima de tudo muito comprometimento, finalmente conseguimos realizar este
feito. No entanto nada teríamos conquistado se não fosse à presença de alguns
envolvidos que nos ajudaram durante esta trajetória. Assim, deixamos nossos
agradecimentos:
À Deus, por ter nos dado força necessária para atingirmos o objetivo de concluirmos
mais essa etapa das nossas vidas.
Aos professores, por compartilhar suas experiências e conhecimento conosco. Em
especial, a nossa professora orientadora, Claudilene da Costa Ramalho, por ter nos ajudado
bastante na realização deste trabalho científico.
Aos professores, formadores da banca examinadora, pela presença e pelo apoio.
Aos amigos e colegas de classe, por compartilharem momentos de alegrias e
superação no decorrer do curso.
Às nossas mães e aos nossos pais e toda a família, nossos sinceros agradecimentos,
por terem apostado em nosso potencial, e por acreditar que esse dia chegaria e mostrado o
quanto devemos encarar os desafios que a vida nos proporciona com fé, coragem,
persistência, e acima de tudo acreditar que tudo é possível.
28
RESUMO
A violência contra a mulher não é algo recente, ela vem impregnada há milhares de anos e a
mulher é sempre dominada na sociedade. A violência psicológica, física, e sexual contra a
mulher – ou o achar que tem “direito” de agredir mulheres – está atrelada a uma relação de
poder construída na sociedade. Objetivou-se compreender a percepção do município de
Teófilo Otoni sobre a violência doméstica contra mulheres e a Lei Maria da Penha em 2017.
Especificamente: apreender as categorias da relação de gênero e patriarcado como centrais na
existência da violência contra mulher; Problematizar a violência contra mulher no Brasil e a
lei Maria da Penha; analisar a percepção da sociedade sobre a lei Maria da Penha. Como
metodologia foi utilizada a abordagem quantitativa em forma de pesquisa de opinião (Survey)
e exploratória. O universo da pesquisa foi formado por 100 participantes de ambos os sexos,
com idade acima de 16 anos, residentes no município de Teófilo Otoni, que foram submetidos
nos dias 21 e 22 de fevereiro de 2017 a um questionário de 12 perguntas abertas e fechadas. A
amostra foi probabilística, e a seleção dos entrevistados ocorreu de forma completamente
aleatória. As variáveis que foram consideradas: idade de 16 anos acima e sexo feminino e
masculino. A pesquisa bibliográfica também foi utilizada para ajudar na fundamentação do
tema. Os resultados apresentaram uma forte ligação entre aos baixos números de denúncias e
a percepção social que a população de Teófilo Otoni tem a respeito da Lei Maria da Penha. A
percepção é de que diante do pouco conhecimento da Lei, muitas vítimas ou não, se escondem
por detrás de uma realidade de omissão e desconhecimento dos direitos protetivos da Lei
Maria da Penha. Concluiu-se que a violência contra a mulher configura-se como uma das
muitas expressões da questão social, ou seja, é um campo de intervenção para o assistente
social, onde este profissional tem papel fundamental na formulação, execução e gestão de
políticas públicas de proteção à mulher, bem como no atendimento e na orientação das
mulheres em situação de violência e no processo de acolhimento destas mulheres. Assim, não
só é necessário ter uma lei que ampare as mulheres, e que puni o agressor, mas também que
seja conhecida por todos como instrumento de transformação humana, e que visa romper com
a cultura patriarcal machista, que historicamente, nessa região pregou o silêncio da vitimas em
favor da moral e bons costumes, do bem da família e matrimonio que devem sempre
permanecer intactos.
Violence against women is not something new, it comes impregnated for thousands of years
and the woman's always dominated in the society. Psychological violence, physical and
sexual, against women – or think you have "the right" of assaulting women – is tied to a
power relationship built on our society. The aim was to understand the perception of the
municipality of Teofilo Otoni on domestic violence against women and the Maria da Penha
Law in 2017. Specifically: seize the categories of gender ratio and patriarchy as central
existence of violence against women; Discuss violence against women in Brazil and the Law
Maria da Penha; analyzing the perception of society about the Law Maria da Penha. As
quantitative approach was used methodology in the form of opinion poll (Survey) and
exploratory. The universe of research was formed by 100 participants of both sexes, aged
above 16 years, residents in the municipality of Teófilo Otoni, submitted in days 21 and 22
February 2017 a questionnaire of 12 open and closed questions. The sample was probability
and the selection of respondents occurred completely random. The variables that were
considered: age of 16 years and above female and male. The literature search was also used to
help in the grounds of the theme. The results showed a strong link between low numbers of
complaints and the perception that the population of Teofilo Otoni has the respect of the Law
Maria da Penha. The perception is that before the little knowledge of the law, many victims or
not, hide behind a reality of omission and lack of awareness of the protective rights of the
Law Maria da Penha Law. It was concluded that violence against women appears as one of
the many expressions of the social question, that is, it is a field of intervention for the social
worker, where this professional has a fundamental role in the formulation, execution and
management of public policies for the protection of women, as well as in the service and in
the orientation of women in situation of violence and in the process of reception of these
women. So, not only is it necessary to have a law to help women, and to punish the offender,
but also it is known by all as an instrument of human transformation, and which aims to break
away from the patriarchal culture sexist, that historically, this region preached the silence of
victims in favor of morals and good manners, the good of the family and marriage that must
always remain intact.
Gráfico 1: Evolução das taxas de homicídio de mulheres (por 100 mil) Brasil 1980/2013. 47
Gráfico 2: Evolução das taxas de homicídio de mulheres brancas e negras (por 100 mil).
Brasil. 2003/2013 48
Gráfico 3: Estado civil dos participantes com idade entre 16.-70 anos 75
Gráfico 5: Participantes entre 16-70 anos que conhece alguém que sofre ou que sofreu
agressão do marido ou namorado, seja do atual ou do ex-companheiro. 78
Gráfico 6: Nível de conhecimento dos participantes com idade entre 16-70 a respeito da Lei
Maria da Penha 79
Gráfico 7: Tipos de violência que os participantes com idade entre 16-70 conhecem 81
Gráfico 9: Participantes entre 16-70 anos que sabem que a mulher é assegurada pela Lei
Maria da Penha mesmo após a separação. 83
Gráfico 10: Participantes entre 16-70 anos que conhecem alguém que continua vivendo com
seu agressor mesmo após a violência doméstica 84
Gráfico 11: Participantes entre 16-70 anos que sabem da existência do número de telefone
gratuito para o qual as vítimas de violência contra a mulher podem ligar para saber como
pedir ajuda 85
Gráfico 12: Opinião dos Participantes entre 16-70 anos no que diz respeito a violência contra
a mulher estar inserida apenas nas familias mais pobres. 87
Gráfico 13: Opinião dos Participantes entre 16-70 anos no que diz respeito a frase “em briga
de marido e mulher ninguém mete a colher”. 88
34
LISTA DE FIGURAS
Figura 2: Taxas de registros de violência doméstica e familiar contra a mulher (por 100.000
hab), por RISP, semestre e ano 2014-2016 70
Tabela 2: Taxas de violência doméstica e familiar contra mulher por município -RISP 15 -
Teófilo Otoni. 73
LISTA DE SIGLAS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 21
CONSIDERAÇÕES FINAIS 91
REFERÊNCIAS 95
1 INTRODUÇÃO
entranhadas no bojo das relações sociais é uma questão que surge como justificativa para a
elaboração desse trabalho que teve como foco o município de Teófilo Otoni (MG), que é
reconhecida pólo dentro do Vale do Mucuri que é composto por 29 municípios - onde se
encontra inserido. Teófilo Otoni conta com uma população, segundo o Censo do IBGE do ano
de 2010, em torno de 135.000 habitantes e para onde convergem interesses dos mais diversos.
O município, conforme dados do diagnóstico da Secretária de Segurança Pública de Minas
Gerais entre os anos de 2014 a 2016 teve uma taxa alta no índice de violência doméstica e
familiar, acima da média do Estado de Minas Gerais. Essas características, por si só, oferece
condições de se visualizar um município de relevante importância para essa região do Estado
de Minas Gerais.
A violência contra a mulher se agrava por diversos fatores, e a desarticulação da rede
de proteção é um deles, embora a raiz da violência se estabeleça em um perfil de sociedade
pautada na desigualdade de gênero.
Na busca por dados estatísticos que pudessem servir de auxilio na elaboração de um
retrato da violência doméstica contra a mulher no Brasil, verificou-se que as informações são
incipientes, imprecisas, escassas e, muitas vezes, restritas às esferas estaduais, quando não,
municipais e somente de municípios de maior expressão econômica.
Dessa forma, elege-se como objeto de estudo a percepção de Teófilo Otoni em
relação à violência doméstica contra a mulher e a Lei Maria da Penha, a partir da sua
população no ano de 2017. Dessa feita, este estudo objetivou compreender a percepção do
município de Teófilo Otoni sobre a violência doméstica contra mulheres e a Lei Maria da
Penha em 2017. Especificamente: apreender as categorias da relação de gênero e patriarcado
como centrais na existência da violência contra mulher; Problematizar a violência contra
mulher no Brasil e a Lei Maria da Penha; analisar a percepção da sociedade sobre a Lei Maria
da Penha.
Para alcançar os objetivos propostos, utilizou-se a abordagem qualitativa em forma
de pesquisa de opinião (Survey) e exploratória. O universo da pesquisa foi formado por 100
participantes de ambos os sexos, com idade acima de 16 anos, residentes no município de
Teófilo Otoni. A pesquisa foi feita entre os dias 21 e 22 de fevereiro de 2017, na Praça
Tiradentes do município de Teófilo Otoni, por ser um lugar de maior trânsito de pessoas. O
questionário contém 12 perguntas abertas e fechadas (Apêndice A). A amostra foi
probabilística, e a seleção dos entrevistados ocorreu de forma completamente aleatória. As
45
variáveis que foram consideradas: idade de 16 anos acima e sexo feminino e masculino. A
pesquisa bibliográfica também foi utilizada para ajudar na fundamentação do tema, e com
base nelas percorrendo os conteúdos de Saffioti (2011), que ajudaram na construção de três
capítulos. Assim, por meio do trajeto metodológico, ao findar da coleta teórica, bem como dos
dados da pesquisa foi feita análise das informações coletadas, bem como sua interpretação,
objetivando compreender a percepção da sociedade sobre a violência contra a mulher e
resultando no trabalho de conclusão de curso em Serviço Social.
O primeiro capítulo fez uma reflexão sobre o processo histórico no qual se deu a
origem da família, da propriedade privada, enquanto as primeiras expressões da desigualdade
de gênero. O conceito patriarcado foi descrito, pois se torna fundamental para realizar o
debate acerca das relações sociais de gênero, uma vez que carrega consigo o aspecto
ideológico, tornando sua descrição mais acessível ao conjunto de mulheres, vítimas da
dominação patriarcal. Percebe-se que a relação de gênero e patriarcado são eixos centrais do
processo de dominação e exploração capitalista. Oportunamente foi destacado o papel do
movimento feminista na luta pela emancipação da mulher no Brasil, por ser a organização
feminista determinante para o enfrentamento da violência contra a mulher.
O segundo tratou da violência doméstica percorrendo pelos conceitos na sociedade
patriarcal, capitalista e racista. A abordagem do marco legal de enfrentamento a violência
doméstica contra a mulher no Brasil também foi essencial nesse tópico. A Lei Maria da
Penha foi descrita e tipificou as violências contra a mulher. A Política Nacional de
Enfrentamento a violência no Brasil também foi tema de debate nesse capítulo.
O terceiro capítulo situou a principio o município de Teófilo Otoni como também as
relações de domínio e exploração nesse mesmo território. Em um segundo momento, ainda no
capítulo terceiro, foi demonstrado o resultado da pesquisa, e revelou a percepção do
município de Teófilo Otoni em relação a violência e a Lei Maria da Penha.
Dessa forma, parte-se do pressuposto que estudos relacionados à violência doméstica
tornam-se imprescindíveis, uma vez que contribui não só para a desmistificação de vários
estigmas a ela ligados, como também possibilita o fortalecimento da luta contra essa prática
delituosa contra a mulher. Acredita-se que a importância da promoção de debates entre
profissionais do Serviço Social, Psicossocial, Jurídica e de Saúde, sobre a realidade de tantas
mulheres, bem como da percepção da sociedade em relação a violência doméstica contra as
46
O debate acerca do conceito de gênero a cada dia vem sendo ampliado, tanto no
campo acadêmico quanto nos movimentos feministas. Nesse sentido, parte-se do pressuposto
que a utilização do conceito de gênero aplicado de maneira isolada é insuficiente para abordar
a complexidade das relações entre homens e mulheres. “Nas relações entre homens e entre
mulheres, a desigualdade de gênero não é dada, mas pode ser construída e o é, com frequência
(SAFFIOTI, 2011, p. 71).
Segundo Yannoulas (1994) na trajetória da história, o debate da desigualdade entre
os sexos desenvolveu-se especialmente entre três perspectivas, a essencialista e a culturalista.
O discurso essencialista engrandece a "diferença sexual" e preserva a existência de uma
"essência feminina". Na perspectiva culturalista, a desigualdade sexual vem sendo criada
através da socialização e da cultura. Partindo desse pressuposto na ótica essencialista a
diferença sexual não se resolveria partindo de teorias, por conta que a mesma se encontra
enraizada na natureza dos seres humanos. E já na perspectiva racionalista todas essas
diferenças seriam eliminadas extinguindo a dominação patriarcal
Muito embora o conceito de gênero não explicite necessariamente somente
desigualdades, envolve teoricamente tanto a violência de homens contra mulheres quanto a de
mulheres contra homens, e sua categoria de análise não para por aqui, gênero também diz
respeito a uma categoria histórica cuja investigação traz símbolos culturais com inúmeras
representações e significados de identidades subjetivas, organizações e instituições sociais
entre outros (SAFFIOTI, 2011).
47
Ainda segundo Saffioti (2011) é possível observar que um dos fatores que mais
contribuem para naturalização e perpetuação das diferenças nas relações de gênero formado a
partir de dicotomias, é que as próprias mulheres (mães), dentro da instituição família, educam
sua prole reforçando que “o poder é macho” e cabe à mulher ser submissa a esse poder.
Nesse sentido, compreender a forma de organização da família é indispensável para o
estudo das relações de gênero na sociedade capitalista. A história das sociedades primitivas
traz a construção do debate da história da família.
A produção e a reprodução da vida imediata são fatores decisivos da história. A classificação dos estágios da
pré-história se deu no estado selvagem: onde se dominou a apropriação, pelos
produtos da natureza; na barbárie: onde se inicia a criação de gado na agricultura; e
na civilização: período de início da indústria da arte e escrita alfabética (ENGELS,
2005, p.21).
O primeiro efeito do poder exclusivo dos homens, desde o momento em que se instaurou, e o observamo-lo na
forma intermediaria da família patriarcal, que surgiu naquela ocasião. O que
caracteriza essa família acima de tudo é a organização de certo número de
indivíduos, livres e não livres, numa família vive em plena poligamia, os escravos
tem uma mulher e filhos, e o objeto da organização inteira é o de cuidar do gado
numa determinada área. Os traços essenciais são a incorporação dos escravos e o
domínio paterno (ENGELS, 2005, p.61).
Para Engels (2005), a adestração dos animais e a criação de gados trazem uma
grande riqueza até então desconhecida à mulher cujos filhos eram cuidados por todos os
homens da tribo. Ela precisa agora ser mulher de um homem só, pois este começa a possuir
bens que serão passados apenas pros seus filhos legítimos, à medida que se aumentavam as
riquezas o homem adquiria uma posição de poder1 na família.
Resultou daí uma espantosa confusão, que só podia ser remediada - e parcialmente o foi - com a passagem ao
patriarcado. "Esta parece ser a transição mais natural" (Marx). O desmoronamento
do direito materno, a grande derrota histórica do sexo feminino em todo o mundo. O
homem apoderou-se também da direção da casa; a mulher viu-se degradada,
convertida em servidora, em escrava da luxúria do homem, em simples instrumento
de reprodução. Essa baixa condição da mulher, manifestada sobre tudo entre os
gregos dos tempos heróicos e, ainda mais, entre os dos tempos clássicos, tem sido
gradualmente retocada, dissimulada e, em certos lugares, até revestida de formas de
1
O poder natural dos homens como indivíduos (sobre as mulheres) abarca todos os aspectos da vida civil. A
sociedade civil como um todo é patriarcal. As mulheres estão submetidas aos homens tanto na esfera privada
quanto na pública". Nesse sentido, há, segundo ela, um patriarcado moderno, contratual, que estrutura a
sociedade civil capitalista. O patriarcado moderno vigente alterou sua configuração, mas manteve as premissas
do pensamento patriarcal tradicional. O pensamento patriarcal tradicional envolve as proposições que tomam o
poder do pai na família como origem e modelo de todas as relações de poder e autoridade, o que parece ter
vigido nas épocas da Idade Média e da modernidade até o século XVII. O discurso ideológico e político que
anuncia o declínio do patriarcado, ao final do século XVII, baseia-se na ideia de que não há mais os direitos de
um pai sobre as mulheres na sociedade civil. No entanto, uma vez mantido o direito natural conjugal dos homens
sobre as mulheres, como se cada homem tivesse o direito natural de poder sobre a esposa, há um patriarcado
moderno (NARVAZ; KOLLER P.50, 2006).
49
[...] Sendo assim, esperam-se das mulheres delicadeza, sensibilidade, passividade, subordinação e obediência. e,
devido a sua condição biológica de engravidar e amamentar, a sociedade também
delegou a mulher o cuidado com o marido, o lar e os filhos sendo, inclusive,
responsabilizada por qualquer coisa de errado que aconteça (GOMES, 2007, p505).
As relações na sociedade sofrem influência da divisão social do trabalho. A família, inserida no contexto social,
tem suas relações interiores influenciadas pelas mudanças ocorridas. Como
exemplos de transformações, podemos citar o trabalho da mulher, as mudanças nas
relações de trabalho, como, na sociedade contemporânea, o crescente número de
trabalhadores informais, que não possuem garantia de emprego, assim como o
grande número de desempregados. Todo este contexto pode influenciar e modificar
o cotidiano da vida em família (OLIVEIRA, 2009, p. 25).
2
O patriarcado aqui se expressa em um dos seus pilares estruturantes: a divisão sexual do trabalho, que se revela
não apenas na diferenciação entre trabalhos considerando feminismos e masculinos, mas, também, na hierarquia
e na desigualdade no acesso aos meios de produção, ao trabalho e à riqueza por ele produzida. Com isso, postos
de trabalho considerados masculinos são mais valorizados e melhor remunerados, enquanto os considerados
femininos são desvalorizados e alguns sequer considerados trabalho, como é o caso do doméstico. (CISNE,
2015, p. 140).
50
3
A expressão violência doméstica costuma ser empregada como sinônimo de gênero. Esta, teoricamente engloba
tanto a violência de homens contra mulheres quanto a de mulheres contra homens, uma vez que o conceito de
gênero é aberto, sendo este o grande argumento das críticas do conceito de patriarcado, que, como o próprio
nome indica é o regime da dominação exploração das mulheres pelos homens. Este conceito não se resume a
uma categoria de analise, como muitas estudiosas pensam. Gênero também diz respeito a uma categoria
histórica, cuja investigação vem demandando muito investimento intelectual. O conceito de gênero não explicita
necessariamente desigualdades entre homens e mulheres. Muitas vezes a hierarquia é apenas presumida. Há
porem feministas que vêem a referida hierarquia independentemente do período histórico com o qual lidam. Ai
residem o grande problema teórico impedindo uma interlocução adequada E esclarecedora entre as adeptas do
conceito de patriarcado, as fanáticas pelo gênero e as que trabalham, considerando a história como processo
admitindo a utilização do conceito de gênero para toda a história, como categoria geral, e o conceito de
patriarcado como categoria especifica de determinado período ou seja para os seis ou sete milênios mais recentes
da história da sociedade (SAFFIOT1, 2011, pp. 44-45).
51
Segundo Silveira (2014) ao ser abordado o tema relações de gênero, estão envolvidas
também as relações de poder, desenvolvidas historicamente dentro da sociedade em uma
relação desigual entre homens e mulheres, na qual mantém a mulher submissa ao homem sob
o domínio patriarcal.
Problematizar as questões de gênero também significa aprofundar no conhecimento
em busca da realidade juntamente com suas determinações, social políticas culturais e
econômicas, permitindo então ao movimento feminista e aos estudos de gênero desmitificar e
desnaturalizar as opressões que as mulheres sofrem. Contudo, a desigualdade entre os sexos
decorre e culmina nas diferentes formas de violência contra mulher, naturalizando a aceitação
cultural do lugar da mulher e do homem na sociedade, legitimando o elo da relação de
52
E o sexismo não é somente uma ideologia, reflete, também, uma estrutura de poder, cuja distribuição é muito
desigual, em detrimento das mulheres. Então, poder-se-ia perguntar: o machismo
favorece sempre os homens? Para fazer justiça, o sexismo prejudica homens,
mulheres e suas relações. O saldo negativo maior é das mulheres, o que não deve
obnubilar a inteligência daqueles que se interessam pelo assunto da democracia. As
mulheres são “amputadas”, sobretudo no desenvolvimento e uso da razão e no
exercício do poder. Elas são socializadas para desenvolver comportamentos dóceis,
cordatos, apaziguadores. Os homens, ao contrário, são estimulados a desenvolver
condutas agressivas, perigosas, que revelem força e coragem (SAFFIOTI, 2011
p.35).
Segundo Silveira (2014), o entendimento das relações de gênero faz com que se
compreenda o mesmo como uma construção social com seus alicerces na diferenciação
biológica dos sexos, compreendida através de relações de poder e subordinação, se
concretizando pela discriminação de funções, atividades, normas e condutas ditadas para
mulheres e homens em cada sociedade.
O gênero é a construção social do masculino e feminino. Esta construção social
ocorre através dos papeis sociais desempenhados pelos mesmos. A sociedade é quem
determina os papeis sociais e comportamentais dos indivíduos, e esta determinação é que vai
definir sua existência social. Portanto, compreende se gênero como sendo a manifestação do
papel social, econômico e político na sociedade.
A importância da diversidade abre espaço para que possamos constatar a forma com
que as mulheres se conectam nesta conjuntura de desigualdades, impostas por relações
sociais, erguidas, usando como referências a subalternidade e opressões conquistadas, seja por
se apoderarem dessa desigualdade histórica que impõem a inferioridade da mulher com
relação aos homens, ou que mesmo associados ao poder seja por ter em suas bases históricas o
pertencimento a uma classe dominada e excluída de toda riqueza construída socialmente e
historicamente oprimida (SANTOS; OLIVEIRA 2010).
53
Esta construção social do que é ser mulher e do que é ser homem se relaciona com o
sistema patriarcal, aqui entendido como um sistema de dominação masculina, com
constituição e fundamentação históricas, em que o homem organiza e dirige,
majoritariamente, a vida social. Com o aumento da desigualdade social e a
intensificação da exploração da classe trabalhadora, aprofunda-se a situação de
dominação e exploração sobre a mulher (SANTOS; OLIVEIRA, 2010, p.14).
Considerando que o modo de pensar e agir é determinado na dinâmica complexa e contraditória entre
sociabilidade e individualidade, podemos verificar a prevalência de indivíduos
despotencializados em sua criatividade, em sua capacidade reflexiva, reproduzindo
práticas que reiteram processos de alienação e de subalternidade. (SANTOS;
OLIVEIRA, 2010, p. 12).
A reivindicação das mulheres por direitos humanos não é recente e resulta da necessidade de buscar dignidade,
contrapondo-se a um sistema patriarcal que as nega e as violenta cotidianamente. A
Declaração dos direitos da mulher e da cidadã é um marco histórico na luta por
direitos humanos femininos (CISNE, 2015, p. 140).
Ao longo da história ocidental sempre houve mulheres que se rebelaram contra sua condição, que lutaram por
liberdade e muitas vezes pagaram com suas próprias vidas. A Inquisição da Igreja
Católica foi implacável com qualquer mulher que desafiasse os princípios por ela
pregados como dogmas insofismáveis. (PINTO, 2010, p.15).
A primeira geração (ou primeira onda do feminismo) representa o surgimento do movimento feminista, que
nasceu como movimento liberal de luta das mulheres pela igualdade de direitos
4
Enquanto a primeira onda do feminismo possuía demandas fortemente relacionadas a questões de igualdade em
relação ao homem, consistentes em gozar das mesmas liberdades de trabalho, participação política e outras, a
segunda onda do feminismo procurou se deter no que era específico da mulher, reivindicando que as
peculiaridades femininas fossem reconhecidas e protegidas. A mulher possuía um corpo 335 e uma história que
eram peculiares e subordinados socialmente, e essas questões mereciam ser investigadas. O feminismo desse
momento “deu prioridade às lutas pelo direito ao corpo, ao prazer, e contra o patriarcado – entendido como o
poder dos homens na subordinação das mulheres” (GUIMARÃES FLORIVALDO ARAÚJO, 2015, p. 335).
57
civis, políticos e educativos, direitos que eram reservados apenas aos homens. O
movimento sufragista (que se estruturou na Inglaterra, na França, nos Estados
Unidos e na Espanha) teve fundamental importância nessa fase de surgimento do
feminismo. O objetivo do movimento feminista, nessa época, era a luta contra a
discriminação das mulheres e pela garantia de direitos, inclusive do direito ao voto.
Inscreve-se nesta primeira fase a denúncia da opressão à mulher imposta pelo
patriarcado (NAVAZ; KOLLER. 2006 p. 649).
A reivindicação pelo direito ao sufrágio mobilizou a mulheres por sete décadas em diferentes países e regiões do
mundo. De inicio tanto nos Estados Unidos quanto em alguns países da Europa, as
sufragistas se dividiam devido as suas estratégias: um setor priorizava a luta pela
mudança em nível de Constituição Federal, o que exigia o apoio parlamentar. Outra
tendência era de ações estaduais, ou seja, o sufrágio se daria mediante mudança na
constituição federal. Assim o movimento chegou a envolver milhões de mulheres e
inúmeras ações (GURGEL, 2010, p.3).
A5terceira fase, trazia uma critica da anterior por conta de suas escritoras ser a
maioria de cor branca e de classe media, nesse período também se deu uma discussão a cerca
da diferenciação entre os sexos e seus papeis culturais.O feminismo então se viu envolvido
pela militância dos movimentos e pelas produções no campo da teoria.
A terceira onda abrange as tentativas de desconstrução da categoria “mulher” como um sujeito coletivo unificado
que partilha as mesmas opressões, os mesmos problemas e a mesma história.
5
Com toda essa preparação, é de se esperar o tamanho da onda que se segue. O século XX já inicia com uma
movimentação inédita de mulheres mais ou menos organizadas, que clamam alto pelo direito ao voto, ao curso
superior e à ampliação do campo de trabalho, pois queriam não apenas ser professoras, mas também trabalhar no
comércio, nas repartições, nos hospitais e indústrias (DUARTE, 2003, p 160).
58
Costa (2005) descreveu que nas próprias teorias das Ciências Humanas em geral e na
historia dos movimentos sociais, tanto o campo da teoria quanto os do movimento, dialogam
entre si provocando embates.
Esta coincidência entre militância e teoria é rara e deriva-se, entre outras razões, do tipo social de militante que
impulsionou, pelo menos em um primeiro momento, o feminismo da segunda
metade do século XX: mulheres de classe média, educadas, principalmente, nas
áreas das Humanidades, da Crítica Literária e da Psicanálise. Pode se conhecer o
movimento feminista a partir de duas vertentes: da história do feminismo, ou seja, da
ação do movimento feminista, e da produção teórica feminista nas áreas da História,
Ciências Sociais, Crítica Literária e Psicanálise. (PINTO, 2010, p.15).
Na Europa, aconteceu em “Maio de 68”, em Paris, quando estudantes ocuparam a Sorbonne, pondo em xeque a
ordem acadêmica estabelecida há séculos; somou-se a isso, a própria desilusão com
59
Nos anos 70 o feminismo brasileiro até mesmo nos grupos que se intitulavam
feministas, se aderiu como impedimento maior para o desenvolvimento das questões de
gênero se atribuíam através do rompimento com o autoritarismo rompendo também com a
política de alianças. A ditadura militar trouxe a violência e os constrangimentos tratados com
muita resistência, o que trazia um fortalecimento da oposição em bloquear questões voltadas
para o feminismo.
Com a redemocratização dos anos 1980, o feminismo no Brasil entra em uma fase de grande efervescência na
luta pelos direitos das mulheres: há inúmeros grupos e coletivos em todas as regiões
tratando de uma gama muito ampla de temas – violência, sexualidade, direito ao
trabalho, igualdade no casamento, direito à terra, direito à saúde materno-infantil,
luta contra o racismo, opções sexuais. Estes grupos organizavam-se, algumas vezes,
muito próximos dos movimentos populares de mulheres, que estavam nos bairros
pobres e favelas, lutando por educação, saneamento, habitação e saúde, fortemente
influenciados pelas Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica (PINTO,
2010, p.17).
60
Segundo Sarti (2001) no que envolve a perspectiva feminista perante a igreja sempre
houve limites claros diante da moral e bons costumes. A predominância da igreja em cima dos
grupos populares ditou a ideologia das mulheres pobres, com seus papeis familiares sempre
reforçados para a vida comunitária.
Uma das maiores vitórias do feminismo no Brasil de acordo com Pinto (2010),
ocorreu na criação do (CNDM) conselho nacional da condição da mulher que a partir da
utilização de sua secretaria como status de ministro organizou junto a importantes grupos o
(CFEMEA), centro feminista de Estudo e Acessória de Brasília uma campanha que
promovesse a inclusão dos direitos das mulheres na nova constituição de 1988, sendo então
considerada como uma das constituições que mais garantem os direitos das mulheres.6
Segundo Costa (2005) as primeiras manifestações dos ideais feministas, tem um
apoio muito grande da imprensa feminina, que naquela época foi o principal veículo de
divulgação das ideais feministas. Em quase todos os países os processos das mulheres de
organização se deram em conjunto com o processo de mobilização e organização dos
movimentos populares e intensa influencia pelo pensamento socialista internacional.
Em fins do século XIX, as mulheres brasileiras incorporadas à produção social representavam uma parte
significativa da força de trabalho empregada, ocupavam de forma cada vez mais
crescente o trabalho na indústria, chegando a constituir a maioria da mão-de-obra
empregada na indústria têxtil. Influenciadas pelas idéias anarquistas e socialistas
trazidas pelos trabalhadores imigrantes espanhóis e italianos, já se podiam encontrar
algumas mulheres incorporadas às lutas sindicais na defesa de melhores salários e
6
A anistia de 1979 permitiu a volta das exiladas no começo dos anos 80, reencontro que contribuiu para
fortalecer a corrente feminista no movimento das mulheres brasileiras. As exiladas traziam em sua bagagem não
apenas a elaboração (alguma, pelo menos) de sua experiência política anterior, como também a influência de um
movimento feminista atuante, sobretudo na Europa. Além disso, a própria experiência de vida no exterior, com
uma organização doméstica distinta dos tradicionais padrões patriarcais da sociedade brasileira, repercutiu
decisivamente tanto em sua vida pessoal quanto em sua atuação política. O saldo do exílio, de umas, e a
experiência de ter ficado no país nos anos 70, de outras, que construíram o feminismo local, fez deste encontro
de aliadas um novo panorama. Nos anos 80 o movimento de mulheres no Brasil era uma força política e social
consolidada. Explicitou-se um discurso feminista em que estavam em jogo as relações de gênero. As idéias
feministas difundiram-se no cenário social do país, produto não só da atuação de suas porta-vozes diretas, mas
do clima receptivo das demandas de uma sociedade que se modernizava como a brasileira. Os grupos feministas
alastraram-se pelo país. Houve significativa penetração do movimento (SARTI, p. 41, 2001).
61
O aceso a franquia eleitoral representava o reconhecimento pela sociedade e pelo estado de que as mulheres
tinham condições iguais as dos homens para gerir a vida coletiva e também que elas
possuíam visões do mundo e interesses próprios, irredutíveis aos de seus familiares
[...]. Além desse efeito simbólico, havia a ideia de que o voto era via de acesso aos
espaços de tomada de decisão que se tornariam mais permeáveis aos espaços de
tomada de decisão, que se tornariam mais permeáveis a presença das mulheres e
mais acessíveis as demandas (MIGUEL; BIROLI; MIGUEL, 2014, p. 93).
Sati (2002) retratou que se deu de forma marcante o agrave na política trazendo
desordem e impasses estruturais feministas por conta de dois fatores, de um lado a difícil
articulação da luta política contra a opressão social, e a subjetividade, aliados também ao teor
libertário feminista e por outro lado o feminismo embora pregue o respeito para com as
mulheres, na verdade ele se refere a contextos políticos sociais específicos dividindo nesse
recorte o mundo identificado como feminino.
No Brasil, o direito ao voto foi conquistado em 1932. De acordo com Silva (2012)
essa conquista do voto foi um caminho árduo a ser percorrido pelas mulheres, e as
dificuldades não param por ai a participação das mulheres na política ainda se da de forma
conflituosa e com muitos obstáculos. A cultura patriarcal e machista presenteou os brasileiros
com uma sociedade preconceituosa desigual é injusta, que prejudica a formação de lideranças
e participação na política, nas câmaras legislativas, no poder executivo no judiciário, partidos
políticos e direções de sindicatos.
E evidente que a baixa representação das mulheres nos poderes governamentais, indica uma forma de
desigualdade incorporada pelo sistema político [...] Constituído historicamente como
um ambiente masculino, o campo político trabalha contra as mulheres (bem como os
integrantes de outros grupos em posição de subalternidade), impondo a elas maiores
62
O Brasil em 2010 teve o seu ato histórico com a eleição da primeira presidenta da
republica, que fez a nomeação de nove mulheres ministras, Dilma supera 'cota' de Lula, FHC,
Collor, Itamar e Sarney, trazendo assim o fortalecimento e empoderamento7 econômico das
mulheres, e a luta contra a desigualdade e violência de gênero. Embora esse fato se tenha
dado em um contexto de muitos impasses e discordâncias, por conta de não se acreditar que
uma mulher fosse capaz de assumir presidência através do voto direto e governar o país. É
notório que nosso pais vêm perdendo a sua conquista por espaços significativos, acarretando
assim no retrocesso acerca da proteção e expansão de direitos, o estado patriarcal e burguês
contribui para que essas contradições se acirrem cada vez mais.
No debate acerca da participação da mulher na política, é inevitável que se traga a
tona a atual conjuntura política brasileira. Algo que merece destaque se deu no fato da retirada
do poder da primeira presidenta mulher fazendo o uso de diversos estereótipos de gênero
sendo mobilizados para justificar a sua saída. Esse fato foi à personificação do poder da
ideologia patriarcal, da desigualdade de gênero, ou seja, foi uma violência de gênero o que
vivenciamos e estamos vivendo, e essa violência vem rebatendo em todas nós mulheres,
aumentando os desafios dos movimentos feministas na luta pelos direitos. Dessa forma, é
notório que o Brasil vem perdendo a sua conquista por espaços significativos, acarretando
assim no retrocesso acerca da proteção e expansão de direitos, o Estado patriarcal e burguês
contribui para que essas contradições se acirrem cada vez mais.
O fato de o governo Michel Temer (subseqüente a presidente Dilma), ter delegado a
grande maioria desses cargos as classes privilegiadas, ou seja, homens brancos e ricos e que
somente após pressão popular, o mesmo indicou uma mulher para ocupar os cargos de chefia
7
O empoderamento sugere uma ideia de processo, ou seja, a passagem de um estado de não se ter poder para o de
se ter poder. Para se progredir de um estágio para o outro, o indivíduo vive um processo através do qual ganha
autoconfiança, se apodera de alguns recursos e torna-se capaz de tomar decisões necessárias ao controle de sua
vida, no presente, e institui ações estratégicas para o futuro. No decorrer do processo, há que se fazer opções,
escolhas, estabelecer comando sobre várias dimensões da vida. O empoderamento é, portanto, um atributo
individual e coletivo e consiste, ao mesmo tempo, em um processo e uma condição. (PRESSER E SEN 2000).
No que concerne ao empoderamento das mulheres, Moreira (2012), argumenta que este se constitui um desafio
às relações patriarcais, essencialmente ao poder dominante no âmbito familiar, predominantemente masculino. O
empoderamento das mulheres requer uma transformação no que se refere ao tradicional predomínio de homens
sobre mulheres, assegurando, assim, uma autonomia para elas no que diz respeito ao controle dos seus corpos, à
sexualidade, ao direito de ir e vir, assim como aversão à violência e às escolhas unicamente masculinas que
atingem todos no núcleo familiar (NADU; TORRES; SIMÃO, 2014 p.6).
63
dos ministérios, representa que o Estado tem sexo, tem cor e funcionalidade e é permeado
pela violência de gênero, ou seja, o Estado é machista, racista e burguês. Outro retrocesso,
para as conquista das mulheres brasileiras foi o fato da Secretaria Nacional de Políticas para
as Mulheres8, ter deixado de ser um ministério e passando a ser agora subordinada ao
Ministério da Justiça. Nesse sentido, essa conjuntura, pois destacar por representar um grande
desafio para o movimento feminista. Pois, a todo o momento percebe-se a investida do Estado
burguês, patriarcal e racista, em detrimento das lutas e conquista históricas do movimento
feminista.
Diante de tudo isso, a discussão sobre gênero e política se torna ainda mais relevante. As mulheres brasileiras,
apesar de comporem 51% da população e 52% do eleitorado, ocupam apenas 10%
das cadeiras na Câmara dos Deputados e 13% no Senado. A sub-representação das
mulheres na política legislativa está diretamente relacionada às diversas formas de
dominação masculina. Uma vez que elas não são formuladoras das políticas públicas
e das leis que terão impacto direto em suas realidades concretas, acabam se tornando
apenas objetos. Isso quer dizer que por estarem ausentes dos espaços tradicionais de
deliberação política elas não podem falar por si próprias (SANCHEZ, 2016, p. 44).
É imperioso dizer que não se pode acomodar e para por ai, é necessário que se reflita
também sobre suas experiências participativas em ações de fomento à cidadania feminina,
pois apesar desses avanços importantes, a melhoria da situação em que se encontrão as
8 P or meio da medida provisória nº 103 de 2003, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva transformou a
antiga Secretaria de Estado dos Direitos da Mulher, vinculada ao Ministério da Justiça, na Secretaria Especial de
Políticas para as Mulheres, ligada à presidência da República. Desde então ela vem se firmando como um órgão
importante para a defesa dos direitos da mulher. Seis anos depois, a SPM se tornou um ministério. O anúncio
veio na comemoração do Dia Internacional da Mulher, em 2009. Assim, a SPM passaria a ter liberdade
orçamentária e autonomia para a elaboração e monitoramento das políticas públicas de gênero. Apesar do
anúncio, só no ano de 2012 a SPM se tornou uma Unidade Orçamentária, ou seja, de fato foi reconhecida como
uma unidade independente da Presidência da República. Nesses 13 anos ocorreram em diversas pautas dos
movimentos de mulheres e feminista. Com certeza a Secretaria contribuiu para isso. A SPM participou, por
exemplo, na elaboração da proposta que subsidiaria o texto da Lei Maria da Penha, aprovada em 2007. Outras
políticas do Governo Federal passaram a privilegiar as mulheres como beneficiária, como o Bolsa Família e
o Minha Casa Minha Vida. Até mesmo o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), principal política do
Governo Dilma, inclui no conjunto de investimentos a construção de novas creches. Outro efeito político
interessante da criação da SPM foi que nesses últimos anos vem crescendo o número de secretarias e diretorias
para as mulheres nos estados e municípios de todo o país. Até a criação da SPM as ações para o enfrentamento
da violência contra as mulheres ficavam restritas à capacitação de profissionais para atender às mulheres e a
manutenção das casas-abrigo e das delegacias especializadas (DEAMS). Em 2 de outubro de 2015 a Secretaria
foi incorporada ao então recém-criado Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos
Humanos (MMIRDH), unindo a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, a Secretaria de
Direitos Humanos, e a Secretaria de Políticas para as Mulheres. Em maio de 2016, o presidente interino Michel
Temer extinguiu o MMIRDH e atribuiu novamente suas funções ao Ministério da Justiça, que passou a se
chamar oficialmente Ministério da Justiça e Cidadania, representante um verdadeiro retrocesso aos direitos da
mulher no Brasil. Disponível em: <http://www.cfemea.org.br/> Acesso em 10 de abr. 2017.
64
mulheres em nosso país especialmente as mais pobres, negras, e indígenas requer uma atenção
maior, pois os mesmo ainda continuam a vivencia em seu cotidiano a desigualdade, exclusão
social e violência.
O movimento de mulheres articulou-se internacionalmente para que as Nações Unidas ratificassem as conquistas
de Conferências anteriores e avançassem em direção à definição de direitos e das
estratégias necessárias para a concretização da cidadania da mulher (BARSTED;
HERMAN, 1999, p. 143).
9
CISNE, M. ; GURGEL T. Feminismo, Estado e políticas públicas: desafios em tempos liberais para a
autonomia das mulheres. Ser Social (UnB), v. 10, p. 69-96, 2008.
65
De acordo com Saffioti (2011), para que se compreenda a violência contra a mulher é
indispensável conceituar a violência na sociedade patriarcal, capitalista e racista. Nesse
sentido, coube destacar a forma natural em que a sociedade aceita que homens maltratem suas
mulheres, e que os pais maltratam seus filhos, usando o ensino da violência para educá-los,
favorece e incentiva a pedagogia da violência.
As mulheres, que, historicamente sempre foram consideradas como sexo frágil, têm
sido o principal alvo de humilhação, uma das piores vítimas de violência por parte
dos homens. E isto ocorre não somente porque a sociedade legitima o poder
masculino, mas também porque o homem tem necessidade de afirmar-se como sexo
forte, o sexo poderoso (CUNHA, 2007, p.21).
Avaliar esse processo histórico ajuda a entender toda a trajetória de como começou a
violência contra mulher, essa violência que é uma prática presente na história e que na
maioria das vezes vem sendo naturalizada e tem sido uma constante preocupação para
estudiosos das numerosas áreas do conhecimento e os defensores dos direitos humanos na
sociedade.
As relações entre os seres humanos constituintes da sociedade brasileira, homens e
mulheres, sempre foram marcadas pelas diferenças entre os sexos. Aos meninos eram sempre
delegando poderes e um lugar de privilégio, enquanto a menina era ensinada a ser a
“procriadora”.
A história da humanidade através dos séculos traz desde início de sua constituição da
sociedade por meio da força imposta pelo poder patriarcal, que forjada pela subjugação do
sexo feminino, moldando-se num cenário de divisão dos gêneros, controlando as relações
entre homem e mulher, condicionando afetivamente e socialmente pelos mecanismos de
manobra, chamado poder e submissão.
De acordo com Wezer-Lang (1991 apud SAFFIOTI, 2011, p. 74)
66
Ao falar de relação de Gênero, convém salientar que se trata de poder do forte sobre
supostamente mais fraco. Desde criança, elas são ensinadas que menino quer brincadeiras de
menino e são para meninos e de meninas para meninas, assim como a cor das roupas define a
sexualidade, entre outros fatores ligados diretamente a criação e “doutrinação dos sexos”.
Assim: “[...] é desde criança que se experimenta a dominação-exploração do patriarca, seja
diretamente, seja usando a mulher adulta” (SAFFIOTI, 2011, p.73).
Ou seja, a forma como são criadas, meninos e meninas, perpassa as fronteiras da
educação e profissionalização atribuída a família para com seus filhos e cria os muros entre os
sexos, através do poder patriarcal, limitando a menina e delimitando as fronteiras que menino
pode ultrapassar. E o sexismo não é somente uma ideologia, reflete, também, uma estrutura de
poder, cuja distribuição é muito desigual, em detrimento das mulheres (SAFFIOTI, 2011,
p.35).
A desigualdade entre os agentes envolvidos são alvo não só de uma ideologia, mas
força e poder impostos pelo sexismo, que alimenta as diferenças entre os sexos, contribuídas
efetivamente para desvalorização em detrimento do sexo feminino.
Entender que as diferenças pertencem ao reino da natureza, por mais transformada que esta tenha sido pelo ser
humano, enquanto a igualdade nasceu no domínio do político, parece fora do
horizonte de uma ideologia de gênero, que naturaliza atribuições sociais,
baseando-se nas diferenças sexuais (SAFFIOTI, 2011 p.77).
O consentimento social para que os homens convertam sua agressividade em agressão não prejudica, por
conseguinte, apenas as mulheres, mas também a eles próprios. A organização social
de gênero, baseada na virilidade como força-potência-dominação, permite prever
que há um desencontro amoroso marcado entre homens e mulheres (SAFFIOTI,
2011 p.75).
Os homens gostam de ideologias machistas, sem sequer ter noção do que seja uma ideologia. Mas eles não estão
sozinhos. Entre as mulheres, socializadas todas na ordem patriarcal de gênero, que
atribui qualidades positivas aos homens e negativas, embora nem sempre, às
mulheres é pequena a proporção destas que não portam ideologias dominantes de
gênero, ou seja, poucas mulheres questionam sua inferioridade social (SAFFIOTI,
2011, pp. 34-35.).
A violência contra a mulher não é algo recente, ela vem impregnada há milhares de
anos e a mulher é sempre dominada na sociedade. A violência psicológica, física, e sexual
contra a mulher – ou o achar que tem “direito” de agredir mulheres – está atrelada a uma
relação de poder construída na sociedade. É como se certa parcela da população tivesse o
domínio de ditar o que uma mulher deve ou não fazer e, se ela não se submeter às regras, deve
apanhar para colocar-se no seu lugar de inferioridade, escravidão e submissão.
“Rousseau dizia que (...) A mulher está feita para obedecer ao homem, deverá
aprender a sofrer injustiças e agüentar as tiranias de um esposo cruel sem protestar (...) a sua
meiguice fará que o esposo não seja tão bruto e raciocine (...)” (MAGALHÃES, 2010, p. 33.).
Nesse sentido, coube destacar que homens e mulheres são diferentes biologicamente
e esse diferencial determinava historicamente que cumprissem diferentes papéis sociais. Mas
desde o começo das sociedades essa divisão não significava nenhuma hierarquia. Não havia
propriedade privada e todos trabalhavam, cumprindo tarefas diferentes, mas complementares
para a comunidade, e produziam o necessário para garantia de sobrevivência de todos os
membros.
Analisar a desigualdade de gênero implica compreender relações que instauram ao
longo da história dos seres humanos, entre homens e mulheres em face à atribuição do poder e
das divisões dentro do contexto familiar que posteriormente foram se refletindo na esfera
68
social, no que tange a divisão do trabalho, buscando compreender essas atribuições, parte-se
da seguinte citação:
A sexualidade é, então, cuidadosamente encerrada. Muda-se para dentro de casa. A família conjugal a confisca.
E observa-se, inteiramente, na seriedade da função de reproduzir. Em torno do sexo,
se cala. O casal, legítimo e procriador, dita a lei . Impõe-se como modelo, faz reinar
a norma, detém a verdade, guarda o direito de falar, reservando-se o princípio do
segredo (FOUCALT, 1999, pp.9-10).
Gráfico 2: Evolução das taxas de homicídio de mulheres brancas e negras (por 100 mil). Brasil. 2003/2013
conjuntamente com ações judiciais efetivas na punição dos agressores, educação voltada para
não discriminação dos sexos, ensinando as crianças de hoje, a serem os adultos conscientes de
amanhã, com princípio da igualdade dos sexos.
Assim, o financiamento das ONGs, na maioria das vezes, por traz da aparente preocupação social do capital,
revela o interesse de gerar uma cultura de aceitação e naturalização do
neoliberalismo, dai o empenho do Estado neoliberal em investir grandes recursos
nessas instituições. Percebemos, portanto, que existem múltiplos aspectos em torno
do ´´fenômeno onguizaçao´´´que evidenciam muitas contradições no tocante a luta
por políticas publicas que precisam ser explicitadas. Nestes termos, mesmos que
muitas ONGs se assumam como sujeitos defensores das políticas publicas, e até
realizem ações políticas nesta direção, o interesse do capital em financia-las
concretiza a existência de políticas focalizadas e temporárias (CISNE; GURGEL,
2008, p 76).
desresponsabilizacão do Estado.
Segundo Lombardi (2010) a política de Estado é independente do governante em
ação, nela geralmente estão presente as leis, já a política de governo depende da alternância de
poder ou do partido, ou seja, depende da gestão governamental. Um exemplo notório de
política de partido é a política de enfrentamento a violência contra a mulher.
No Estado neoliberal, vivemos uma ambiguidade entre as necessidades de
transformação estruturais e a lógica de redução dos investimentos sociais nas políticas. No
caso especifico do Brasil essa situação se expressa de maneira ainda mais perversa, porque as
políticas assumem um caráter compensatório cada vez mais focalizado nos bolsões de pobreza
e sem nenhuma perspectiva de se apresentarem como direito (CISNE; GURGEL, 2008, p.
88).
Essas transformações se resumem em uma total precarização comandada pelo
Estado. Desta forma, reafirma-se que embora o Estado se apresente ilusoriamente como
neutro, porém o mesmo está a favor de determinada classe, favorecendo a lógica de
acumulação do capital em detrimento do trabalho, fortalecendo a estrutura patriarcal e racista,
por investir parcos recursos da redução das desigualdades, no enfretamento da violência
contra a mulher, e utilizar dos seus instrumentos ideológicos, por exemplo da escola, como
meio de reforçar estereótipos de gênero e raça.
Assim, a mobilização das mulheres em prol do reconhecimento do real significado de
violência doméstica e familiar contra as mulheres no Brasil, que até então era considerada um
assunto do âmbito privado se deu de forma longa, sua trajetória com já citado acima percorre
longos anos as quais serviram de avanços não só nas mobilizações de grupos e manifestações,
mas também no âmbito jurídico de forma gradativa.
Não só no caso de Doca Street10, mas diversos homens também tiveram as suas
causas absolvidas por júris populares e tribunais de assassinatos e agressões contra as
mulheres, fazendo uso da tese jurídica da “legítima defesa da honra”. Embora a honra alegada
nesta tese não faça sentido algum, seja pela discriminação e controle da sexualidade da
mulher que ela carrega, ou por não haver honra conjugal a ser protegida. Nesse sentido,
conforme foi destacado, esse argumento jurídico só foi possível ser derrubado com a pressão
popular dos movimentos feministas.
A Constituição Federal de 1988 prevê cerca dos direitos e deveres individuais e
coletivos, em seu Art. 5º é garantida a inviolabilidade do direito a vida, sem se fazer distinção
de qualquer natureza todos são iguais perante a lei, homens e mulheres, em direitos e
obrigações incluindo a livre manifestação do pensamento, e invioláveis a vida privada e a
honra. A partir do exposto é notório que na Constituição de 1988 ocorre ausência de proteção
especificas para mulheres vítimas de violência doméstica e familiar e a mínima proteção que
elas recebiam não tinha força para amenizar a vida das mulheres que tinha sua vida e sua
liberdade ameaçada e violada, levando os crimes a ficarem encobertos, e sem a devida
interferências do Estado.
A Convenção de Belém do Para11 que ocorreu em 1994 no seu artigo primeiro define
10
Quem ama não mata" Um forte movimento pela defesa da vida das mulheres e pela punição dos assassinos
voltou a ocorrer na década de 1970, tendo seu auge após 30 de dezembro de 1976, quando Angela Diniz foi
morta por Doca Street, de quem ela desejava se separar. A morte de Angela e a libertação de seu assassino
levantaram um forte clamor das mulheres que se organizaram em torno do lema: "quem ama não mata". Pela
segunda vez na história brasileira, repudiava-se publicamente que o amor justificasse o crime. A costumado à
subserviência conservadora, Lins e Silva, defensor de Doca, revelou seu espanto ante a extraordinária pressão
popular que acompanhou o julgamento. O caso teve enorme repercussão não só no Brasil, mas também no
exterior, havendo "publicidade nunca vista" sobre este caso, reclamou Lins e Silva (1991, p. 295). Grande
controvérsia ocupou a imprensa (Blay, 2003) acirrando-se a polêmica contra os direitos humanos das mulheres.
Os jornalistas Paulo Francis e Tristão de Ataíde mostraram-se indignados contra as feministas e suas
manifestações públicas que, segundo eles, pré-condenaram o réu; Lins e Silva (1991, p. 295) irritou-se com a
repercussão que transformou uma "briga entre amantes em acontecimento nacional". Referiu-se ao "incidente"
como se a vítima estivesse viva. Os prestigiados jornalistas e o advogado consideraram ilegítima a pressão da
opinião pública nestes crimes contra mulheres justificados pelo amor (BLAY, 2003, p.88-89).
11
Os fundamentos sobre os quais repousam a Comissão Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a
Violência contra a Mulher, adotada pela Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos, em 06 de
junho de 1994, e ratificada pelo Brasil, estão nos direitos humanos e, especificamente, em princípios como a
igualdade entre homens e mulheres, e a dignidade humana. A “Convenção de Belém do Pará”, como ficou
conhecida, reveste-se de importância no contexto internacional e muito mais para os Estados Americanos dado o
caráter generalizado da situação de violência contra a mulher. Tanto é assim que o tema já havia sido objeto de
deliberação da Organização das Nações Unidas (ONU) por intermédio da Convenção para a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher, de 18 de dezembro de 1979 (SALES; BRITO, 2011, pp.
99- 100).
75
que violência contra a mulher se trata de “qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que
cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher tanto na esfera pública
quanto privada”, no artigo segundo a referida violência pode acontecer “no âmbito da família
ou na unidade doméstica, ou em qualquer relação interpessoal, tendo o agressor
compartilhado ou não da mesma residência com a mulher. Nesse sentido, essa Convenção
representou um importante instrumento de pressão no Estado brasileiro para o combate da
violência contra a mulher.
Dentre a legislação que garantia direitos ou eliminava discriminações tínhamos a Lei 7.209/1984 que alterou o
artigo 61 do Código Penal, estabelecendo entre as circunstâncias que agravavam a
pena ser ele praticado contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge. A Lei
8.930/1994 estabeleceu que o estupro e o atentado violento ao pudor eram crimes
hediondos. Já a Lei 9.318/1996 agravou a pena quando o crime era praticado contra
criança, velho, enfermo ou mulher grávida. Em 1997 foi sancionada a Lei 9.520,
revogando o artigo 35 do Código de Processo Penal que estabelecia que a mulher
casada não podia exercer o direito de queixa sem consentimento do marido, salvo
quando estivesse dele separada ou quando a queixa fosse contra ele, podendo o juiz
suprir o consentimento caso o marido se recusasse a fazê-lo. O assédio sexual, após
intensas discussões e advocacy feminista, foi incluído no Código Penal pela Lei
10.224/2001 (CALAZANS; CORTES, 2011, p.39).
Nos poucos casos em que ocorria a punição do agressor, este era geralmente condenado a entregar uma cesta
básica a alguma instituição filantrópica. Os juizados especiais, no que pese sua
grande contribuição para a agilização de processos criminais, incluíam no mesmo
bojo rixas entre motoristas ou vizinhos, discussões sobre cercas ou animais e lesões
corporais em mulheres por parte de companheiros ou maridos. Com exceção do
homicídio, do abuso sexual e das lesões mais graves, todas as demais formas de
76
12
Frente ao desafio de ver uma lei integral de combate à violência, dentro do movimento de mulheres, seis
organizações não governamentais feministas idealizaram um Consórcio de ONGs Feministas para Elaboração de
Lei Integral de Combate à Violência Doméstica e Familiar contra as Mulheres. O Consórcio foi formado pelas
organizações CFEMEA – Centro Feminista de Estudos e Assessoria; ADVOCACI – Advocacia Cidadã pelos
Direitos Humanos; AGENDE – Ações em Gênero Cidadania e Desenvolvimento; CEPIA – Cidadania, Estudos,
Pesquisa, Informação, Ação; CLADEM/BR – Comitê Latino-americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos
da Mulher; e THEMIS – Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero, bem como por juristas e feministas
especialistas no assunto. A coordenação do Consórcio ficou sob a responsabilidade do CFEMEA, por estar
sediado em Brasília e ter expertise em advocacy no legislativo e executivo. Os trabalhos do Consórcio foram
iniciados em julho de 2002 e se estenderam até o primeiro ano da promulgação da lei. Daí em diante, os grupos
77
determinantes para avançarmos nas ações de combate a violência contra a mulher, pois
traziam em suas discussões a busca pelo fim da violência doméstica abarcando uma legislação
que não avaliasse somente a questão penal, mas também a necessidade de que ela perpassasse
todos os órgãos governamentais responsáveis pela segurança, educação, saúde, entre outros.
Segundo Calazans e Cortes (2011), inspirada em novas ações e com o seu aumento
dos movimentos em vários estados brasileiros, Recife traz a primeira vigília feminista pelo
fim da violência contra as mulheres, com pressão para o legislativo, judiciário e o executivo,
para a aprovação de uma lei que contribuísse com o combate da violência contra a mulher.
Mencione-se ainda, as recomendações da CIDH ao caso Maria da Penha Maia Fernandes, por não cumprimento
do previsto no artigo 7.º da Convenção de Belém do Pará e nos artigos 1º, 8º e 25 da
Convenção Americana de Direitos Humanos, e ainda, o dever do Estado brasileiro
de indenizar a vítima, monetária e simbolicamente. Ademais, a Comissão
recomendou que o Brasil adotasse várias medidas de combate à violência contra a
mulher, entre elas, a elaboração de uma lei específica para este fim. A Presidência da
República, com assessoria da SPM, decidiu, ao sancionar a Lei aprovada no
Congresso Nacional, cumprir a recomendação da OEA, nominando a nova lei de Lei
Maria da Penha, como uma forma simbólica de cumprir as recomendações da
Comissão. A sanção foi um grande evento no Palácio do Planalto, com a presença de
várias autoridades, representantes do movimento de mulheres, e da Senhora Maria
da Penha Fernandes, escolhida como um símbolo da luta contra violações dos
direitos humanos das mulheres (CALAZANS; CORTES, 2011, p. 56).
Nesse sentido, para o Estado brasileiro que em sua essência é burguês, patriarcal e
racista, aprovasse a lei Maria da Penha, foi central a articulação dos movimentos feministas e
a pressão internacional provocada pela visibilidade do Caso Maria da Penha (CUNHA, 2014).
Dessa forma, a significativa história de Maria da Penha Maia Fernandes, brasileira,
farmacêutica bioquímica que deu nome à Lei nº 11.340 de 2006 que como muitas outras
mulheres que transformaram sua dor em luta. Maria da Penha após várias agressões recebeu
um tiro de seu esposo Marco Viveros enquanto dormia em uma noite de maio de 1983. A
versão dada pelo esposo é que foi uma tentativa de assalto e que no decorrer disso, os autores
dispararam tiros em Maria da Penha, enquanto a mesma dormia. Durante quatro meses
estando em hospitais, submetida a diversas cirurgias, ocasionando a lesão que deixou ela
paraplégica. Posterior a esse fato, Maria da Penha voltou para casa e duas semanas depois
que participaram do Consórcio e os outros que se uniram para defender a aprovação do projeto de lei
continuaram a realizar ações, de forma isolada ou em parceria, com outras ONGs ou instituições governamentais
ou não (CALAZANS; CORTES, 2011, p.43).
78
sofreu mais uma tentativa de homicídio: o esposo tentou eletrocutá-la durante o banho. As
investigações apontaram que Marco Viveros foi o autor dos tiros que a deixou paraplégica e
desta nova tentativa de homicídio. Perante uma proteção de uma ordem judicial, Maria da
Penha conseguiu sair de casa, sem que isso significasse a perda da guarda de suas filhas e
abandono do lar e apesar das limitações físicas, começou a sua luta pela condenação do
agressor (COMPROMISSO E ATITUDE, 2012).
Após haver sofrido a violência, Maria da Penha com o apoio de movimentos de
mulheres organizados, consegue enviar o seu caso pela primeira vez para a Organização dos
Estados Americanos13denunciando a demora do Estado para agir perante o seu caso. Sendo
assim o inquérito é aberto, e o Brasil então é considerado, negligente pelo fato de descumprir
com a Convenção Americana de Direitos humanos14 e a Comissão interamericana para
Preveni, Punir e Erradicar à Violência Contra a Mulher, e os demais tratados internacionais
era signatário. O Estado brasileiro teve como punição o pagamento de uma indenização a
Maria da Penha, que o próprio governo brasileiro viria a definir, e a criação de uma legislação
adequada a esse tipo de violência, sendo criada a Lei nº 11.340 de 2006, conhecida como Lei
Maria da Penha. A Lei Maria da Penha em seu artigo 1° explicita que o seu objetivo é “criar
mecanismos para coibir e prevenir a violência contra a mulher”. Nesse sentido, essa Lei
representa uma importante conquista para as mulheres brasileiras, pois a violência doméstica
e familiar contra a mulher agora passa a ser tipificada em suas diversas formas como física,
psicológica, sexual, patrimonial e moral e passa a ser um agravante para os agressores.
É necessário que se compreenda que o caso de Leila Diniz e de Maria da Penha não
são casos únicos e isolados. Segundo dados do Mapa da Violência contra a mulher (2015), a
cada 2 horas uma mulher é assassinada no Brasil, 30% das mulheres brasileiras já sofreram
algum tipo de violência, e uma entre cinco mulheres consideram ter sofrido algum tipo de
violência cometida por algum homem. Os dados ainda destacam que seis entre dez brasileiras
conhecem alguma mulher que foi vítima de violência doméstica, e 68% das mulheres evitam
denunciar o seu agressor. A falta de informação faz com que diversas mulheres passem por
13
Aprovada na IX Conferência Internacional Pan-Americana, realizada em Bogotá, em 1948 a Organização dos
Estados Americanos (OEA) é a mais longa organização regional em atividade. Sua finalidade é construir uma
ordem de paz e de justiça no continente americano, levando a solidariedade e a cooperação entre os Estados da
região e defender a soberania, a integridade territorial e a independência de seus membros (MINISTÉRIOS DAS
RELAÇÕES EXTERIORES, 2017).
14
A convenção americana sobre direitos humanos entra em vigor em 1978, e define os direitos que os Estados
ratificantes que se comprometeram internacionalmente a dar garantias que sejam cumpridas para que s mesmos
sejam respeitados, definindo atribuições e procedimentos a serem seguidos (OEA, 2017).
79
essas situações e não percebam ou se culpabiliza pela violência. Torna-se mais difícil ainda a
realização da denúncia, pois ser responsável por tais violências, em 80% dos casos pessoas
que a vítima tem confiança, como marido, parceiro ou namorado.
Nesse sentido, percebe-se que a violência por meio da agressão física é um fenômeno
corriqueiro na sociedade brasileira mesmo após a aprovação da Lei Maria da Penha, pois a
cada 5 minutos uma mulher é agredida e diariamente 13 mulheres são assassinadas no Brasil
(WAISELFISZ, 2015).
Seja no âmbito público ou privado, conforme os dados apresentados no mapa da
violência (2015), os homicídios de mulheres vem aumentando no Brasil, mesmo depois da
aprovação da Lei Maria da Penha.
Com o aumento contínuo dos casos de assassinatos de mulheres, mesmo com a
aprovação da Lei Maria da Penha, foi sancionada em 09 de março de 2015, a Lei nº 13.104, a
Lei do Feminicídio15. O Feminicídio, conforme destacado anteriormente é considerado,
qualquer crime contra a mulher por razões da condição do sexo feminino. Com essa lei, o
assassinato de mulheres por razões da condição de seu sexo, foi incluído na lista de crimes
hediondos na (Lei n 8.072/1990), como já ocorre em casos de genocídio e latrocínio, cujas
penas previstas pelo Código Penal são de 12 a 30 anos de reclusão. No Brasil, o crime de
homicídio (assassinato) prevê pena de seis a 20 anos de reclusão.
De acordo com o art. 7 o a respectiva lei:
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime
for praticado: I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; II -
contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com
deficiência; III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima (BRASIL,
15
A partir de março de 2015, a Lei 13.104/2015 alterou o Código Penal Brasileiro e incluiu o feminicídio como
uma das formas qualificadas do homicídio, assim compreendida quando a morte de uma mulher decorre de
violência doméstica e familiar ou quando provocada por menosprezo ou discriminação da condição do sexo
feminino 6 . As diretrizes formuladas nesse documento abrangem o tipo penal, sem, contudo, se limitarem a ele,
devendo ser aplicadas a investigação, processo e julgamento de todas as mortes de mulheres com indícios de
violência, orientando a busca de evidências sobre as razões de gênero que motivaram o comportamento delitivo e
resultaram na morte da mulher. As mulheres serão consideradas independentemente de classe social, raça ou cor,
etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade, religião, procedência regional ou nacionalidade.
São crimes de natureza tentada ou consumada, que tenham sido praticados por pessoas com as quais as vítimas
mantenham ou tenham mantido vínculos de qualquer natureza (íntimas de afeto, familiar, amizade) ou qualquer
forma de relação comunitária ou profissional (relações de trabalho, nos espaços escolares, de lazer etc.) ou por
pessoas desconhecidas pela vítima. O documento reconhece também que os crimes podem ser praticados por
indivíduos ou por grupos, sejam eles particulares ou agentes do Estado. “Em conformidade com a Convenção de
Belém do Pará, o Estado é considerado como responsável nos casos de violência contra a mulher quer esta seja
‘perpetrada ou tolerada pelo Estado ou seus agentes, onde quer que ocorra’”(DIRETRIZES NACIONAIS
FEMINICIDIO, 2016, p.17).
80
2015).
Quando se fala em violência contra a mulher, podemos dizer que trata diretamente do
conceito de violência de gênero, pois a dominação e subordinação da mulher é naturalizada,
sendo considerado “normal” que o homem possa “corrigir” a mesma por meio da violência.
Ou seja, percebe-se que embora tenhamos importantes avanços na legislação de combate a
violência, com a aprovação da Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio, mas sociedade
ainda reproduz a violência contra a mulher como processo natural por se tratar de uma
construção histórica do patriarcado.
Percebe-se que essas relações de poder implicam na imposição de dominação, que
posteriormente coage, impõe regras e retira a capacidade mais expressivamente humana do
outro, a capacidade de expressão e decisão, e neste caso em detrimento ao sexo feminino, por
imposição do sexo masculino.
A mulher vem sendo vítima das contradições da sociedade patriarcal e capitalista
sendo expostas, tanto no âmbito privado quanto o espaço público por séculos a violência. Tal
violência ultrapassa as barreiras do trauma físico, convertendo-se nos sentimentos acima
citados (vergonha, humilhação, timidez, etc.) que por séculos prenderam a mulher a
submissão ao marido, companheiro, criando um silenciamento historicamente importante para
omissão da violência. Neste rumo de análise, é indispensável conhecer a tipificação da
violência contra a mulher, expressa na Lei Maria da Penha.
afinidade ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual
o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de
coabitação (BRASIL, 2006).
Nesse sentido, entende-se que a Lei traz um importante avanço para a compreensão
da violência contra a mulher, pois para a mulher ser amparada pela mesma, não é necessário
que ela tenha uma relação intima de afeto com o agressor que conviva em coabitação,
segundo o artigo 5º supracitado. Desta forma, a Lei Maria da Penha expressa que a violência
contra a mulher vai além de agressões e violência física que é a mais conhecida na sociedade.
O artigo 7o da Lei explicita os tipos de violência contra mulher que são assegurados
pela mesma, sendo:
Violência física - qualquer tipo de agressão que se dê sobre o corpo da mulher,
mediante a força física, que pode causar ou não lesões internas, externas ou as duas. A
punição repetida, considerada não severa, também pode enquadrar como violência física.
Dessa maneira essa violência pode se manifestar de várias formas:
● Mordidas;
● Tapas;
● Estrangulamentos;
● Socos;
● Lesões por armas ou objetos e etc.
Violência sexual - É qualquer atitude que a obriga a participar, presenciar e
manter relação sexual não desejada, por meio do poder da intimidação, ameaça, coação ou uso
da força.
● Estupro dentro do casamento ou namoro;
● Negação do direito de usar anticoncepcionais ou de adotar outras medidas de
proteção contra doenças sexualmente transmitidas;
● Investidas sexuais indesejadas ou assédio sexual, inclusive exigência de sexo
como pagamento de favores;
● Aborto forçado;
● Atos violentos contra a integridade sexual das mulheres, inclusive mutilação
genital feminina e exames obrigatórios de virgindade e etc.
Violência psicológica- É qualquer ato que lhe cause algum dano emocional, baixa da
auto-estima ou que à perturbe e prejudique em pleno crescimento ou que vise destruir ou
82
monitorar suas ações, ou qualquer outro meio que lhe cause danos à saúde psicológica e à
autodeterminação. Humilhação.
● Chantagem
● Insultos constantes
● Privação arbitraria da liberdade (impedimento de trabalhar, estudar, cuidar da
aparência pessoal, gerenciar o próprio dinheiro, brincar, etc.)
● Manipulação afetiva e etc.
Violência moral: é qualquer ato que fere a moral da mulher, é compreendida como
qualquer atitude que caracterize em
● Calunia
● Injúria.
● Difamação
Violência patrimonial- É qualquer atitude que caracterize subtração, retenção e
cause a destruição parcial ou total de seus objetos, valores e direitos ou recursos econômicos,
incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
● Retenção de documentos;
● Obrigar colocar bens no nome de outra pessoa;
● Destruição de objetos pessoais;
● Deixar de pagar a pensão alimentícia;
● Uso dos recursos econômicos da pessoa e etc.
Coube destacar que o tipo de violência mais registrada nos boletins de ocorrência das
Risp 2016 é a violência física. Entretanto, até a mulher tomar uma iniciativa para denunciar a
violência física, ela já passou por todas as outras citadas, que são as menos denunciadas. Por
isso, é de suma importância o conhecimento de tais violências contra as mulheres que
assegura a proteção segundo a Lei Maria da Penha. Entende-se que se as mulheres logo após
as primeiras violências denunciassem o agressor, evitariam chegar à física ou ao feminicídio.
Nesse sentido, em quase 60% dos casos registrados são causados por violência física, em
segundo lugar nos registros está à violência psicológica e em terceiro nos registros está a
violência sexual (MAPA DA VIOLÊNCIA, 2015).
Apesar da Lei Maria da Penha ter representado um importante avanço por ter criado
mecanismos e assegurando a proteção contra alguns tipos de violência, como foram descritas
anteriormente, porém, ainda existem outros tipos de violência que não são asseguradas na Lei,
83
mas que, ocorre em toda sociedade, como a violência institucional social, obstétrica,
estudadas por Cisne (2015).
Violência institucional- é qualquer tipo de violência movida por desigualdades
(étnico-raciais, econômicas e de gênero, etc) que prevalecem em diversas sociedades. Essas
diferenças formalizam e institucionalizam-nos diferentes órgãos privados e sistemas estatais,
como também em diferentes grupos presentes nessa sociedade (CISNE, 2015). Exemplo:
● Falta de escuta e tempo para a clientela;
● Maus-tratos dos profissionais para com os usuários, motivados por
discriminação, abrangendo questões de raça, idade, opção sexual, deficiência física, doença
mental;
● Desqualificação do saber prático, da experiência de vida, diante do saber
científico;
● Frieza, rispidez, falta de atenção, negligência;
● Peregrinação por diversos serviços até receber atendimento e etc.
Violência Obstétrica- É um tratamento desrespeitoso e desumano com as gestantes,
levando a traumas, passando a rejeitar próprio corpo, temem relações sexuais como medo de
outra gestação, e passar por todo constrangimento novamente (CISNE, 2015).Exemplo:
● Gritar com a gestante;
● Negar ou dificultar atendimento;
● Deixa - lá sem água ou comida;
● Não informar a mulher sobre algum procedimento médico que será realizado;
● Agressão verbal ou física por parte do profissional da saúde, etc.
Violência social- Apresenta nos preconceitos e discriminações sofridas pelas
mulheres que são consideradas sexo frágil na sociedade patriarcal, alguns exemplos são os
péssimos salários exercendo a mesma função e tendo a mesma escolaridade em relação aos
homens, a discriminação étnico-racial, e da baixa proporção representativa das mulheres na
política e nos espaços denominados de poder. Além do mais, a violência social se materializa
na mercantilização das mulheres, que é muito comum nas músicas, propagandas levando a
uma desqualificação da mulher e mostrando a como objeto fácil, que pode comprar, isso tudo
efeito de um sistema social que subordina e inferioriza a mulher a todo instante. Exemplo:
● Salários baixos;
84
● Discriminação de gênero;
● Mercantilização do corpo da mulher;
● Desvalorização do sexo feminino;
● Preconceitos de raça.
As mulheres estão propensas a todo o momento vivenciar algum tipo de violência na
sociedade, e por isso é necessário conhecer os tipos de violências e muitas outras que não
foram citadas, com o propósito de compreender que a luta pelo respeito à mulher precisa
alcançar outros campos, dando-lhe mais liberdade e protegendo-a cada vez mais, inibindo
novos casos.
Dessa forma, para inibir essas violências que vem encravada na sociedade patriarcal,
deve-se investir em políticas publicas, e garantir a divulgação desses direitos e a efetividade
de uma rede para prevenir e dar proteção as mulheres.
Para Cisne (2015, p. 151), “é preciso que essa rede atenda as mulheres do campo que
sofrem ainda mais com as dificuldades para enfrentar a violência, uma vez que há um forte
isolamento dessas no acesso aos equipamentos sociais e às políticas públicas”.
Os meios não justificam os fins, ou seja, independentemente de onde ocorre os atos
de violência contra a mulher, há de se buscar mecanismos de coibição, contra quaisquer que
sejam. Desta forma, destacamos que os tipos de violência estando cobertos pela Lei ou não,
devem ser coibidos rigorosamente para proteger todas as mulheres, como dever do Estado do
seu cumprimento. Embora a sociedade ainda se mostre cega a tantas violências que vem
acontecendo com as mulheres a todo instante e vem causando o aumentando com vários
ciclos de violência sofrida por elas em todos os tipos de localidades, seja no âmbito público
ou privado, conforme os dados do gráficos 1, assim apresentado pelo mapa da violência 2015
no tópico 2.1, o homicídios de mulheres vem aumentando no Brasil, mesmo depois da
aprovação da Lei Maria da Penha.
Vários são os avanços que as mulheres conseguiram para romper com essa
sociedade, machista racista e classista que imprime essas desigualdades e violência a todo
85
instante. É de suma importância a valorização desses avanços que conseguimos até hoje na
construção de uma historicidade que rompe com essa cultura de uma sociedade machista e
racista que imprime no seu bojo diversas desigualdades. No entanto, é necessário que sejam
tomadas várias medidas de enfrentamento a violência contra mulher, para além da Lei Maria
da Penha, da Lei do Feminicídio, sendo a Política Nacional de Enfrentamento a violência
contra a mulher um mecanismo importante para coibir e enfrentar a violência, conforme será
destacado abaixo.
Em meio às diversas políticas públicas criadas e implementadas com a finalidade de garantir que os direitos
humanos não sejam violados, surgiu a Política Nacional de Enfrentamento à
Violência contra as Mulheres, através da SPM. Seu objetivo era explicitar os
fundamentos conceituais e políticos sobre o enfrentamento à questão, assim como
orientar a formulação e execução das políticas públicas para garantir a prevenção, o
combate e o enfrentamento da violência, bem como dar assistência às mulheres que
se encontram nesta situação. O conceito de enfrentamento à violência contra a
mulher foi definido nesta Política a fim de estabelecer que não se tornasse referência
apenas ao combate da violência, mas que compreendesse também as dimensões de
prevenção, de assistência e de garantia de direitos das mulheres. Entende-se por
enfrentamento a implementação de políticas amplas e articuladas, que procuram dar
conta da complexidade da violência contra as mulheres em todas as suas expressões
(LEANDRO, 2014, p.14).
O processo de elaboração de uma política para as mulheres teve início na II Conferência Nacional de Políticas
para as Mulheres, no ano de 2007, onde foram reafirmados os acordos gerais e os
pressupostos, princípios e diretrizes de uma política que se tornou a linha principal
das diferentes ações que integram os planos nacionais criados. A Política Nacional
para as Mulheres,possui um caráter permanente e orienta-se pelos princípios de
igualdade e respeito à diversidade, bem como equidade, autonomia das mulheres e
laicidade do Estado, universalização das políticas, justiça social, transparência dos
atos (LEANDRO, 2014, p.2).
A dimensão de combate a violência não deve ser única e restrita do poder judiciário.
Para o enfrentamento da violência contra as mulheres outras dimensões também se fazem de
suma importância, em se prevenir reafirmando a assistência e garantia de direitos, que
estruturam a política nacional, em uma desconstrução de todos os estereótipos de gêneros que
rotulam e impõem padrões a serem seguidos, para homens e mulheres na sociedade.
O conceito de enfrentamento à violência contra a mulher foi definido nesta Política a fim de estabelecer que não
se tornasse referência apenas ao combate da violência, mas que compreendesse
também as dimensões de prevenção, de assistência e de garantia de direitos das
mulheres. Entende-se por enfrentamento “a implementação de políticas amplas e
articuladas, que procuram dar conta da complexidade da violência contra as
mulheres em todas as suas expressões (LEANDRO, 2014, p.14).
A ampla organização de ações que possam reeducar toda a sociedade, no que tange
os seus valores éticos e culturais de respeito a toda e qualquer diversidade de gênero, raça e
etnia, buscando o rompimento com a intolerância de sociedade frente a esses fenômenos, a
mudança de valores a respeito da cultura do silencio dentro do espaço doméstico e garantia de
punição de seus agressores
O enfrentamento a violência contra as mulheres antes da criação da secretaria de
políticas para mulheres em 2003, tinha suas iniciativas construídas em geral por ações
isoladas e desfocalizadas, se resumindo pela capacitação de profissionais da rede de
atendimento a mulheres a criação de serviços mais especializados como Casas-Abrigo e
Delegacias Especializadas, ou seja não se compreendia a necessidade em se discutir a
violência contra a mulher com um olhar mais focalizado, dando prioridade, de articulação e
maior transparência das ações governamentais (BRASIL, 2011).
Embora a legislação tenha alcançado um grande avanço, a cultura de submissão de
um sexo sob o outro continua enraizada gerando inúmeras contradições, por mais que exista
uma legislação que puna a violência contra a mulher em seus diversos tipos, a mesma
87
16
Deste modo, a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres torna-se um instrumento de
garantia da efetivação da Lei “Maria da Penha”, por meio de sua difusão e implementação, bem como a
ampliação e o fortalecimento da rede de serviços para as mulheres em situação de violência. Essas ações visam
proporcionar uma segurança do exercício da cidadania a todas as mulheres, incluindo o acesso à justiça
(LEANDRO, 2014, p.15,)
88
um atendimento humanizado, por meio da capacitação dos agentes, juntamente com a criação
de serviços especializados como:
percebe-se que a disputa pelo fundo público, pela fatia no orçamento destinada ao
fortalecimento da Política de Enfrentamento da Violência Contra a Mulher, é uma pauta que
se coloca aos movimentos de mulheres organizadas. Importante dizer que mesmo estando a
sociedade diante da conquista da Lei Maria da Penha, da Política de Enfrentamento a
violência contra a Mulher e de outros mecanismos que visem diminuir a desigualdade de
gênero, percebe-se que se no orçamento público não estipular investimento para fortalecer a
execução da Lei e diminuir a disparidades de gênero por meio de políticas públicas, os
números de violência contra a mulher, de feminicídio tendem a não diminuir e a política
pública tende a ficar apenas esquecida no arquivo dos órgãos públicos (CISNE, 2015). Desta
forma, o enfrentamento da violência contra a mulher é uma constante pauta de luta e disputa
dos movimentos de mulheres organizadas.
90
Ao trazer como pauta, o fato de que o Estado de Minas Gerais é permeado pela
relação de dominação e exploração de mulheres por homens, percebe-se que conforme foi
abordado no capítulo 1 e 2, a estrutura patriarcal e as relações desiguais de gênero vêm
resultando no continuo processo de violência contra a mulher. Minas Gerais possui um
número considerável de mulheres em relação à população masculina. Segundo o Mapa da
Violência (2015), no Estado de Minas Gerais, a cada 4 minutos, uma mulher sofre algum tipo
de violência no Estado. Por hora, o número chega a 15. Por dia, são 353 agressões.
Dados do IPEA - Instituto de Pesquisas Aplicadas (2013), no período entre
2009-2011, identificou o estado como o 13º lugar no Brasil em caso de homicídios feminino
(em média 6,24 a cada 100 mil habitantes), ficando atrás apenas do Espírito Santo, que se
encontra em primeiro lugar em caso de homicídios no país. Quanto ao perfil das vitimas de
homicídio em Minas Gerais, observou-se que 60% são de cor negra; 48 % das vitimas possui
baixa escolaridade; 54% das vitimas possui idade entre 20 a 39 anos. Já o agressor na
maioria, ou seja, mais de 50% deles, é o próprio companheiro, e mais de 20% são os ex
companheiros.
O Vale do Mucuri17, segundo o Plano Mineiro do Desenvolvimento Integrado, é um
17
Angelândia, Águas Formosas, Ataléia, Bertópolis, Campanário, Carlos Chagas, Catuji, Crisólita, Novo Oriente
de Minas, Franciscópolis, Frei Gaspar, Fronteira dos Vales, Itaipé, Itambacuri, Ladainha, Machacalis,
Malacacheta, Nanuque, Nova Módica, Ouro Verde de Minas, Pavão, Pescador, Poté, Santa Helena de Minas,
Serra dos Aimorés, São José do Divino, Setubinha, Teófilo Otoni, Umburatiba.
91
índices altos de ocorrências como “Risp 04 (Juiz de Fora), com 9% dos registros também nos
três anos e pela Risp 02 (Contagem), que apresentou 9% de registros no ano de 2014 e 8% nos
dois anos seguintes, 2015 e 2016” (SSPMG, 2016, p. 10).
A figura 02 abaixo demonstra os registros de violência doméstica e familiar contra a
mulher, taxas (por 1000.000 habitantes), por RISP18, semestre e ano no estado de Minas
Gerais.
Figura 2: Taxas de registros de violência doméstica e familiar contra a mulher (por 100.000 hab), por RISP,
semestre e ano 2014-2016
Nesse sentido, para refletir sobre a violência contra a mulher em Teófilo Otoni, serão
destacados aspectos da formação sócio histórica da região e alguns indicadores sociais, que
possibilitem compreender a realidade regional e quais as implicações da mesma sobre a vida
18
A Região Integrada de Segurança Pública-RISP é um modelo de gestão que pressupõe a atuação articulada e
solidária dos órgãos de Defesa Social (Polícia Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Secretaria de Estado
de Defesa Social) com outros órgãos do Poder Executivo (tanto estadual quanto municipal), Poder Judiciário e
sociedade civil. Nesse sentido, Minas Gerais são divididas em 18 RISP, sendo que os Vales do Jequitinhonha e
Mucuri pertencem a 15ª RISP de Teófilo Otoni (SSPMG, 2015).
94
das mulheres.
Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010), Teófilo Otoni
situa-se no sudeste de Minas Gerais, no Vale do Mucuri, e é considerado centro
macrorregional, isto é, o centro econômico de maior importância.
A área do município está estimada em 3.242 Km2 e a área urbana em cerca de 80
Km2. De acordo com o Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de Minas Gerais
(DER) as principais rodovias de acesso a Belo Horizonte são a BR-381 e a BR-116. No que
diz respeito ao perfil demográfico, a população teofilotonense em 2010, segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE constituía-se de 134.745 habitantes, possuindo
densidade demográfica de 41.565 habitantes/km2. Estimativa da população para 2016 foi de
141.502 habitantes. A Tabela 1 retrata a população residente do município no ano de 2010:
Teófilo Otoni %
que violência não é só aquela que deixa marcas por todo o corpo e sim qualquer ação que
viole a integridade física material e mental ou psicológica da mulher. Por mais que as
estatísticas vêm apontando ao longo dos anos sua ocorrência e aumento da violência, mesmo
depois da aprovação da Lei Maria da Penha conforme consta no gráfico 1 do item 2.1 deste
estudo. Fica expresso que para combater a violência contra a mulher, para além da Lei, é
necessário que o Estado trabalhe em prol de oferecer políticas públicas de efetivas e
integradas de prevenção, combate e enfrentamento da violência
Segundo dados do diagnóstico do Sistema Integrado de Defesa Social (2016), o
município de Teófilo Otoni (RISP 15) apresenta-se com uma das maiores taxas de homicídio
no estado mineiro, acima da média com 2,01% em 2016 (Fig.3).
Figura 3: Taxa de homicídio contra mulher, por Risp e semestre
Tabela 2: Taxas de violência doméstica e familiar contra mulher por município -RISP 15 - Teófilo Otoni.19
19
Esses dados apresentam os municípios da RISP 15- Teófilo Otoni, que apresenta a taxa de violência doméstica
acima da média mineira (média geral dos municípios menos um desvio padrão). Os mesmos são advindos dos
diagnósticos da violência doméstica e familiar em Minas gerais (2014-2016). Os dados desse diagnóstico foi
baseado no Armazém_Sids_Reds (Registro de Eventos de Defesa Social), do qual as informações extraídas são
baseadas na natureza dada ao Reds no momento de sua lavratura, o que significa que possíveis alterações nas
97
tipificações dos delitos realizadas no momento de aceite ou carga no PCnet, ou mesmo de validação posterior de
ocorrências, não serão captadas pelo banco de dados utilizado para este relatório. Ademais, por se tratar de um
sistema integrado, os dados tratados contemplam os registros feitos pela Policia Militar, Polícia Civil e Corpo de
Bombeiros Militar. Os dados utilizados na pesquisa são provenientes do Universo “envolvido”
(Armazém_Sids_Reds). Disponível em:<http://www.seds.mg.gov.br >.
98
3.2 A violência contra a mulher e a Lei Maria da Penha a partir da Percepção do Município de
Teófilo Otoni
(n) % (n) %
16-30 (23) 44% (22) 46%
31 e 50 (23) 44% (15) 31%
51-70 (06) 12% (11) 23%
TOTAL (52) (48)
Fonte: levantamento próprio
Conforme o gráfico 3, o maior número de participantes com idade entre 16-30 anos
foi de solteiros. Sendo assim, do total de 23 mulheres, 19(83%) se declaram solteiras, e de 22
homens, 21(95%) também disseram estar na mesma condição civil de solteiros. Os
participantes do sexo masculino com idade entre 31-50 anos ganhou destaque os solteiros e as
mulheres casadas. Sendo que do total de 23 mulheres, 11(48%) se declaram casadas, e 15
homens, 8(53%) disseram estar na condição de solteiros. Já os participantes com idade entre
51-70 a maioria foi homens e mulheres casadas. Do total de 6 mulheres, 4(67%) são casadas,
100
Conforme o gráfico 4 o maior número de participantes com idade entre 16-30 anos
têm o ensino médio. Sendo assim, do total de 23 mulheres, 15(68%) possuem o ensino médio,
e de 22 homens, 20(91%) também disseram ter apenas esse nível de escolaridade.
Os participantes com idade entre 31-50 anos, a maioria do total de 23 mulheres
apenas16(70%) têm o ensino médio, e dos 15 homens 7(47%)possuem apenas o ensino
fundamental. Já os entrevistados com idade entre 51-70 anos, do total de 6 mulheres, 4(67%)
possuem o ensino médio e dos 11 homens, 6(55%) declararam ter apenas o ensino
101
fundamental.
Observou-se que o ensino médio é uma declaração incidente entre homens e
mulheres, sendo que da mesma forma os homens se destacaram por apresentarem apenas o
ensino fundamental. Percebeu-se ainda que a tendência das mulheres a cursarem o ensino
superior é a partir dos 16-50 anos e dos homens a partir dos 31-50 anos. Lembrando que o
Caderno de Indicadores (2013) descreveu o Vale do Mucuri como sendo de pior acolhimento
de educação nas faixa etárias.
Ao refletir sobre o baixo nível de escolaridade da região e a violência sobre as
mulheres com o menor índice de escolaridade, compreende-se que o contexto ora reforçado
por Saffioti (2011), e que diz respeito ao padrão de comportamento de homens e mulheres,
advém de uma educação diferenciada para ambos os sexos.
Coadunando com esse contexto, observou-se que grande parte das mulheres
entrevistadas, possuía o ensino médio completo. Reforçando esse dado, conforme o estudo
efetivado pela Secretaria de Defesa Social em janeiro de 2013 a junho de 2015, no perfil das
vítimas de homicídios no estado de Minas Gerais se encontra uma porcentagem significativa
naquelas que possui baixa escolaridade. Confirmando também essa informação, estudos como
o de Moura, Albuquerque Netto e Souza (2012) identificaram que mulheres com menor nível
de escolaridade são as que mais vivenciam a violência de gênero.
Nesse sentido, é possível abstrair a compreensão de que talvez essas mulheres
possam estar arraigadas no patriarcado, e não conseguem deixar de ser manipuladas pelos
companheiros, a ponto de mesmo tendo conhecimento de seus direitos, e saber a quem e onde
recorrer para registrar o Boletim de Ocorrência, muitas vezes não fazem.
O quinto item do questionário foi para identificar se os participantes conheciam
alguém que sofre ou já sofreu agressão do marido ou namorado, seja do atual ou do
ex-companheiro. O gráfico 5 demonstrou resultados referentes a essa questão.
Gráfico 5: Participantes entre 16-70 anos que conhece alguém que sofre ou que sofreu agressão do marido ou
namorado, seja do atual ou do ex-companheiro.
102
conhecimentos dos fatos, são omissos à violência, vergonha, seja por medo de se envolver, e
por entenderem que o assunto é restrito ao casal, ou ainda compreende que tal delito seja
natural. Observa-se nesse momento a persistência do patriarcado acerca da violência contra a
mulher que ainda é tratada como propriedade particular do homem. Como já foi visto em
capítulos anteriores, por diversas vezes as mulheres são consideradas culpadas por situações
de agressão.
Interessante refletir sobre o alto número de pessoas entre homens e mulheres que
afirmaram não conhecer alguém que sofre ou sofreu violência do seu companheiro. Ocorre
que se na região de Teófilo Otoni os dados
A sexta questão levantada foi quanto ao conhecimento dos participantes em relação à
existência da Lei Maria da Penha. Resultado que pode ser conferido no gráfico 6.
Gráfico 6: Nível de conhecimento dos participantes com idade entre 16-70 a respeito da Lei Maria da Penha
Conforme o gráfico 6 o maior número de participantes com idade entre 16-70 anos
sabem razoavelmente a respeito da Lei Maria da Penha. Do total de 23 mulheres com idade
entre 16-30 anos 18(78%) e de 22 homens, 16(71%). Participantes com idade entre 31-50
anos sabe razoavelmente a respeito da Lei Maria da Penha: do total de 23 mulheres, 15(68%)
e de 15 homens, 11(73%). O maior número de participantes com idade entre 51-70 anos sabe
razoavelmente a respeito da Lei Maria da Penha: do total de 6 mulheres, 4(60%) e de 11
homens, 8(73%).
104
Gráfico 7: Tipos de violência que os participantes com idade entre 16-70 conhecem
pelos participantes foi a violência física, talvez seja pelo fato de que até a mulher tomar uma
iniciativa de denunciar ela já passou por todas as outras citadas, que são as menos
denunciadas. Por isso é de suma importância o conhecimento de tais violências contra as
mulheres na sociedade brasileira, se elas logo após a primeira violência denunciassem
evitariam chegar à física. Conhecer os direitos que as asseguram é essencial, ocorre que na
maioria das vezes as condições de vulnerabilidade não deixam essas mulheres romper com
esse ciclo de violência, tornando-se uma das principais causas a dependência financeira que
não ajuda para esse rompimento.
A questão oito do questionário aplicado aos participantes deste estudo, diz respeito
ao conhecimento dos mesmos quanto ao direito da mulher em estar assegurada pela Lei Maria
da Penha mesmo após a separação. O gráfico 9 revelou resultados a esse respeito.
Gráfico 9: Participantes entre 16-70 anos que sabem que a mulher é assegurada pela Lei Maria da Penha mesmo
após a separação.
Conforme o gráfico 9, tanto os homens quanto as mulheres com idade entre 16-30
anos revelaram saber que mesmo após a separação a mulher encontra amparo na Lei Maria da
Penha. Sendo assim, do total de 23 mulheres, 12(57%) disseram que sim, e dos 22 homens,
14(59%). Os participantes do total de 23 mulheres, 16(78%) disseram que sim, e de 15
homens na idade entre 31-50 anos, 9(67%) disseram que desconhece o fato. Dos 51-70 anos
do total de 6 mulheres, 4(67%) disseram que não, e dos 11 homens, 7(64%) disseram que tem
conhecimento a respeito da questão.
É interessante observar no gráfico 9 que todas as idades de ambos os sexos se
108
mostraram divididos em alguns ao dizer sim e não, e esse resultado vai de encontro à resposta
de todas as faixa etárias no gráfico 4 quando foram questionados se tinham conhecimento da
Lei Maria da Penha e responderam que razoavelmente. Dessa feita, observou-se que o pouco
conhecimento a respeito da Lei em comento possa estar vinculado a essa desinformação
quanto a proteção da mulher mesmo após sua separação. A Lei Maria da Penha é clara ao
dizer que a sua aplicação independe de parentesco, e que protege todas as mulheres, casadas
ou solteiras.
O número de mulheres que declararam não saber que estariam protegidas mesmo
depois da separação é ainda assustador, uma vez que a Lei Maria da Penha se encontra
vigente há 10 anos, e que naturalmente deveria ser algo mais divulgado, com informativos
incessantes nas instituições de maior aglomeração de pessoas, como escolas e igrejas, dentre
outras. Nesse caso, torna-se imprescindível que as políticas públicas sejam a via de acesso
para a conscientização a esse respeito, permitindo não somente as mulheres de qualquer
estado civil, bem como toda população obter maiores informações da Lei Maria da Penha.
Extraiu-se desse resultado a percepção de que muito embora toda a sociedade, sem
exceção de idade, tenha conhecimento da existência de situações em que as mulheres são
vítimas da violência doméstica, escondem por trás de evidências devido a uma cultura
machista. Cultura essa que reprime e impede a mulher de denunciar ou até mesmo de dar
continuidade a uma ação. Nesse caso bem descreveu Saffioti (2011), que se por um lado a
mulher revela um ser social de comportamento dócil, apaziguadora, por outro o homem
exerce o poder, condutas agressivas e perigosas.
A questão nove tratou de identificar entre os participantes, se conheciam alguém que
permaneceu convivendo com seu agressor mesmo após sofrer violência doméstica. O gráfico
10 revelou resultados a esse respeito.
Gráfico 10: Participantes entre 16-70 anos que conhecem alguém que continua vivendo com seu agressor
mesmo após a violência doméstica
109
20
ROCHA, L. M. L. N. Políticas públicas, violência doméstica e a relação público/privado. In: Casas-abrigo: no
enfrentamento da violência de gênero. São Paulo: Veras , 2007
110
Gráfico 11: Participantes entre 16-70 anos que sabem da existência do número de telefone gratuito para o qual
as vítimas de violência contra a mulher podem ligar para saber como pedir ajuda
homens que disseram saber, apenas 01 acertou ao dizer 180, outro disse 190 e errou, os 06
mais, também não souberam dizer o número. Já os participantes do grupo de idade entre
51-70 anos, homens e mulheres, que sabiam da existência do número do telefone citado,
nenhum soube descrevê-lo.
Denotou-se falta de informação em todos os grupos de idade quanto ao número
correto para o qual as vítimas de violência contra a mulher podem ligar para saber como pedir
ajuda. Em resultados de gráficos anteriores foi demonstrado que alguns participantes
conheciam pouco da Lei Maria da Penha, sob esse vértice é possível inferir nesse momento
que também não saberiam da existência do número do disque denúncia. Mesmo assim, é
possível compreender que o disque 180 também necessite de divulgação intensa, através dos
movimentos das mulheres, ou pelas instituições que abraçam a causa contra a violência
doméstica. Importante ressaltar que a ausência de conhecimento da população sobre a Lei
Maria da Penha e em especial sobre os mecanismos de denúncia, permite compreender que o
estado vem trazendo desde muito tempo uma postura omissa e sendo nesse caso conivente
com a violência contra a mulher.
Interessante dizer que o Estado foi responsabilizado internacionalmente a criar a Lei
Maria da Penha, mas cabe indagar se de fato tem assumido essa postura para sua efetivação?
A resposta para esse questionamento vem dos altos índices de homicídios de mulheres mesmo
após a aprovação da respectiva Lei. Remete essa questão a compreensão de que há
cumplicidade do Estado junto aos agressores das mulheres, pertencentes a um Estado
machista, racista e patriarcal. Recentemente, o governo de Michel “Temer reduziu a 61% a
verba que seria para atendimento à mulher em casos de violência. O corte foi R$ 42,9 milhões
para R$ 16,7 milhões”21. O que se vê nesse episódio é que o quadro de contra reforma do
Estado resulta na desmonte das políticas sociais, dentre essas políticas, a de enfrentamento à
violência contra a mulher. Fica nesse caso, em jogo a efetividade da Lei Maria da Penha e dos
demais mecanismos de prevenção e denúncia, com retrocesso nas conquistas obtidas pelos
movimentos feministas
Na questão de número 11 a abordagem foi em relação a opinião dos participantes
21
PITANGUY, Jacqueline. Retrocesso: Temer reduz em mais de 50% verbas de políticas para as mulheres.
Redação RBA • Publicado em: 02/04/2017. Disponível em:< https://www.cut.org.br> Acesso em 16/04/2017.
112
quanto a violência contra a mulher estar inserida apenas nas familias mais pobres. O gráfico
12 revelou o posicionamento de homens e mulheres nesse sentido.
Gráfico 12: Opinião dos Participantes entre 16-70 anos no que diz respeito a violência contra a mulher estar
inserida apenas nas familias mais pobres.
Gráfico 13: Opinião dos Participantes entre 16-70 anos no que diz respeito a frase “em briga de marido e
mulher ninguém mete a colher”.
condiciona os seus pensamentos à submissão – isso não é apenas prática social, vai muito
além de uma ideologia machista, é na verdade o Pilar do Patriarcado.
Oportuno refletir sobre a mudança dos parâmetros educacionais e culturais, para que
sejam incorporados de fato os conteúdos que tratem dos direitos da mulher e da igualdade
entre homens e mulheres. Nesse sentido, o papel da educação é preponderante, pois
contribuirá na conscientização da igualdade. É preciso destruir os muros em separam a
oportunidade diferenciada para homens e mulheres, pois, assim ajudará a quebrar o paradigma
patriarcal, e oportunizará a todos de forma igual seja no âmbito privado ou público, pois como
bem direcionou Saffioti (2011) as diversas áreas perpetua a estrutura de poder com
distribuição desigual, em detrimento das mulheres.
Os resultados apontaram que a percepção da população teofilotonense apresenta-se
de forma complexa, e deve ser vista sob olhar cuidadoso da sociedade e políticas públicas.
Acontece que a violência doméstica contra a mulher deve ser compreendida como um
fenômeno que merece atenção transdisciplinar. Observa-se que a cultura patriarcal, o
capitalismo são vertentes que ainda se posicionam no território do Vale do Mucuri, e mais
especificamente em Teófilo Otoni, campo deste estudo, e que traz altos índices de homicídio
contra a mulher. Portanto, há uma forte ligação entre aos baixos números de denúncias e a
percepção social que a população de Teófilo Otoni tem a respeito da Lei Maria da Penha. A
percepção é de que diante do pouco conhecimento da Lei, muitas vítimas ou não, se escondem
por detrás de uma realidade de omissão e desconhecimento dos direitos protetivos da Lei
Maria da Penha.
115
CONSIDERAÇÕES FINAIS
do principio de que, os casos registrados vão além do número de denúncias, pois muitas são
as mulheres que evitam esse processo.
A violência doméstica contra a mulher gera graves repercussões no âmbito familiar,
isso é fato. Essa “normalidade” precisa urgentemente ser desmistificada, de modo que se
identifique na família sua real magnitude e importância para o desenvolvimento saudável de
todos, a fim de que seja possível reconstruir a referência desse instituto.
O referencial teórico demonstrou que a violência contra a mulher tem sua formação
na sociedade patriarcal, e continua de forma articulada no capitalismo, nessa perspectiva a
categoria gênero é marcada pela influência do patriarcado na construção social dos papeis
desempenhados pela mulher. O espaço doméstico familiar local onde acontecem relações
contraditórias conflituosas e de poder tem se revelado propício para o exercício da violência,
na qual se cria um círculo vicioso para o agressor que na maioria das vezes é membro da
família e procura exercer um controle social, reafirmando seu poder sobre a mulher ao
longo da história, essa problemática foi diversas vezes banalizada.
Daí ser relevante, combater a violência doméstica contra mulheres, e que sejam
trabalhadas também as famílias, não apresentando a elas um modelo a ser seguido, mas
questionando e refletindo junto as mesmas o melhor caminho a ser adotado, ao identificar
como está sendo distribuído o poder entre seus membros, de forma que seja possível uma
convivência menos autoritária.
Os resultados da coleta de dados demonstraram que apesar de haver conhecimento
razoável da população em relação à violência doméstica e a Lei Maria da Penha, é preciso
trabalhos de conscientização e prevenção nesse sentido. Ocorre que muitas são as pessoas, a
própria vítima, ou, até mesmo parentes e/ou pessoas mais próximas que evitam a denúncia,
seja por medo das ameaças que são feitas ou por terem a opinião de que não devem procurar
as autoridades competentes. Isso contribui não só para a intensificação do problema, bem
como para o agravamento do abuso, revelando a ausência de compromisso com o bem-estar
do outro que pode trazer sérias consequências para sua vida.
Ressalta-se que quando se tem como objetivo combater a violência doméstica é
preciso pensar na aplicabilidade da lei, favorecendo as vítimas e protegendo-as, e não criando
vieses para atenuarem a conduta do agressor. E nesse caso, torna-se fundamental combater a
violência doméstica contra a mulher, tendo como parceira a sociedade e o Estado. Nesse
patamar, devem ser criadas estratégias voltadas para a exterminação desse mal que assola os
117
Concluiu-se que a violência contra a mulher configura-se como uma das muitas
expressões da questão social, ou seja, é um campo de intervenção para o Assistente Social,
onde profissionais como nós temos papel fundamental na formulação, execução e gestão de
políticas públicas de proteção à mulher, bem como no atendimento e na orientação das
mulheres em situação de violência e no processo de acolhimento destas mulheres.
120
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Maria de Fátima; MATTIOLI, Olga Ceciliato. Gênero e violência. São Paulo:
Arte&Ciência, 2004.
______. Lei n 8.072 de 25 de julho de 1990. Dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos
do art. 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal, e determina outras providências. Diário
Oficial [da] República Federativa do Brasil. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br>
Acesso em 20 de fev. 2017.
______. Lei n. 13.104, de 9 de março de 2015. Altera o art. 121 do Decreto-Lei no 2.848, de 7
de dezembro de 1940 - Código Penal, para prever o feminicídio como circunstância
qualificadora do crime de homicídio, e o art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, para
incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos. Diário Oficial [da] República Federativa
do Brasil. Disponível em:<http ://www.planalto.g ov.br> Acesso em: 20 de fev. 2017.
______. Lei. nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal,
da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e
da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher;
dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera
o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras
providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Disponível
121
BRAZÃO, Analba; OLIVEIRA, Guacira César . Violência contra as mulheres: uma história
contada em décadas de luta. Brasília: CFEMEA, 2010.
BLAY, Eva Alterman. Violência contra a mulher e políticas públicas. Rev. EST. Ava. V.17
n.49, 2003. Disponível em:< http://www.revistas.usp.br> Acesso em 20 de fev. 2017.
BIROLI, Flávia; MIGUEL, Luiz Felipe. Feminismo e Política: uma introdução. São Paulo:
Boitempo, 2014.
CISNE, Mirla. Direitos humanos e violência contra as mulheres: uma luta contra a sociedade
patriarcal-racista-capitalista. Rev. Ser. Soc. Londrina, v 18, n. 1, p. 138-154, dez. 2015.
Disponível em: < http://www.uel.br> Acesso em 20 de jan. 2017.
CUNHA, Tânia Rocha Andrade. O preço do silêncio: Mulheres ricas também sofrem
violência. São Paulo: UESB, 2007.
DUARTE, Constância Lima. Feminismo e literatura: discurso e história. Rev. Est. Ava. da
USP. São Paulo, USP, v. 17, n. 49, setembro/dezembro 2003. p. 151-172. Disponível em: <
http://www.letras.ufmg.br/poslit> Acesso em 20 de fev. 2017.
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: A vontade de Saber. 13 ed. Rio de Janeiro:
Graal Ltda,1999.
GOMES, Nadiele Pereira et al. Compreendendo a violÍncia domÈstica a partir das categorias
gÍnero e geração. Rev. Acta Paul Enferm. V.20, n. 4. pp.504-8, Salvador/BA, 2007.
Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ape/v20n4/19> Acesso em 20 fev. 2017.
MAGALHAES, Tereza. Violência e Abuso: respostas simples para questões complexas. 1 ed.
Coimbra: Universidade de Coimbra, 2010.
OLIVEIRA, Nayara Hakime Dutra. Recomeçar: família, filhos e desafios [online]. São
124
PASINATO, Wânia. Oito anos de lei maria da penha. Entre avanços, obstáculos e desafios,
Florianópolis. Rev. Est. Fem, Florianópolis, v 23, n. 2, pp 533-545, maio-agosto/2015.
Disponível em: < http://www.scielo.br> Acesso em 20 de fev. 2017.
PINTO, Céli Regina Jardim. Feminismo, História e Poder. Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 18,
n. 36, p. 15-23, jun. 2010. Disponível em: < http://www.scielo.br> Acesso em 20 de jan.
2017.
PIRES, Amom Albernaz. A opção legislativa pela política criminal extrapenal e a natureza
jurídica das medidas protetivas da Lei Maria da Penha. Rev do Min. Púb. do Dis. Fed. e Ter.
V.1, n. 5, 2011. Disponível em: < https://www.mpdft.mp.br> Acesso em 20 de jan. 2017.
SALES, José Edvaldo P.; BRITO, Paulo Juaci de Almeida. A “Convenção de Belém do Pará”
e a diversidade cultural. R. Minist. Públ. Est. PA, Belém, n. 6, pp. 1-300, 2011. Disponível
em: < http://biblioteca.mppa.mp.br> Acesso em 20 de fev. 2017.
SANCHEZ, Beatriz Rodrigues. Gênero e política: uma análise da atual conjuntura brasileira.
Rev. Em Deb. V. 8, n. 5, pp.5-7, jul. 2016. Belo Horizonte. Disponível em:
<www.opiniaopublica.ufmg.br> Acesso em 20 de jan. 2017
SANTOS, Silvana Mara de Morais; OLIVEIRA, Leidiane. Igualdade nas relações de gênero
na sociedade do capital: limites, contradições e avanços. Rev. Katál. V 13, n. 1 p. 11-19
jan./jun., Florianópolis, 2010. Disponível em: < http://www.scielo.br> Acesso em 19 de jan.
2017.
SARTI, Cynthia A. Feminismo e contexto: lições do caso brasileiro. Cadernos Pagu. N. 16
2001, pp.31-48. Disponível em:< http://www.scielo.br > Acesso em fev. 19 2017
SILVA, Sueli de Fátima. Mulheres e política: a atuação feminina nos diversos espaços de
poder e decisão no Brasil contemporâneo. 42 fls. 2012. Monografia (Especialização Educação
para a diversidade ) Universidade Federal de Ouro Preto. Conselheiro Lafaiete, Minas Gerais,
2012. Disponível em: < http://www.amde.ufop.br> Acesso em 19 de fev. 2017.
SILVEIRA, Clara Maria Holanda. Prometo te querer até o amor cair doente: uma análise
das relações de gênero entre casais que vivenciam a violência conjugal, 2014. 175 fls.
Dissertação (Mestrado em Políticas Públicas e Sociedade) Centro de Estudos Sociais
Aplicados, da Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza/Ceará, 2014. Disponível em: <
http://uece.br> Acesso em 20 de fev. 2017.
WELZER-LANG, D. Les hommes violents. Paris, Lierre & Coudrier Editeur, 1991.
YANNOULAS, Silvia Cristina. Iguais mas não idênticos. Rev. Est. Fem. v. 2 n.3, 1994.
Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br> Acesso em 19 jan. 2017.
126
1-Identificação
2-ESTADO CIVIL?
( )SOLTEIRO (a) ( ) CASADO (a) /MORA JUNTO ( ) SEPARADO (a)
( ) VIÚVO (a)
3-SEXO ?
( )MASCULINO ( ) FEMININO
4-ESCOLARIDADE
5-VOCÊ CONHECE ALGUÉM QUE SOFRE OU JÁ SOFREU AGRESSÃO DO MARIDO OU NAMORADO, SEJA
DO ATUAL OU DO EX?
8-VOCÊ SABIA QUE MESMO DEPOIS DA SEPARAÇÃO, A MULHER É ASSEGURADA PELA LEI MARIA DA
PENHA?
( )SIM ( )NÃO
9-VOCÊ CONHECE ALGUÉM QUE MESMO SOFRENDO VIOLÊNCIA CONTINUAM COM SEUS
AGRESSORES?
( )SIM ( )NÃO