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POST-A-POST V1.0
Uma Coletânea de Publicações de Fábio Henriques
Mixagem Sem Segredos: O Grupo
https://www.facebook.com/groups/744276519018138/
1) Comparando Áudios
PARTICULARIDADES DO ÁUDIO
Quem já jogou um Jogo dos Sete Erros, em que dois desenhos muito
parecidos são apresentados, mesmo sem perceber, estava exercitando
sua capacidade de comparação. O que diferencia este jogo de
qualquer situação em áudio é o fato de que as imagens estão ali, lado
©2019 by Fábio Henriques
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Tudo bem que não dizemos que um som está "salgado", mas o que dizer
da flauta "doce"? Mas estes empréstimos não são causados por um
defeito de nossos cérebros. Agora, entrando no perigoso terreno das
opiniões, tenho uma teoria particular a este respeito. A audição é um
sentido especial, na medida em que a gente não precisa dar atenção
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exclusiva a ele.
Sobre este último, alguém pode argumentar que são variações muito
pequenas e que podem ser desprezadas, e, realmente, se a gente não
aprendesse a trabalhar com este tipo de incertezas, não haveria
nenhuma obra de engenharia (de qualquer tipo) no mundo, mas o nível
de detalhe que os nossos ouvidos são capazes de perceber é
extremamente alto, e os objetos de comparação hoje em dia são tão
sutis em suas diferenças que este tipo de coisa merece especial
atenção.
COMO COMPARAR
Null Test
Existe, porém, um problema sério com o null test: uma vez que a
subtração é feita, perdemos a informação de quem gerou qual
diferença. Ou seja, se pegar dois arquivos em MP3 e fizer um null test,
não tem como eu saber qual dos dois provocou qual alteração.
ABX
Existe um famoso trabalho, já citado aqui, feito com todo rigor científico,
em que testes ABX que compararam áudios de CD com áudios de "alta
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http://www.trustmeimascientist.com/2013/09/03/think-you-have-golden-ears-
take-the-scientist-challenge/
CONCLUSÕES
CRONOLOGIA
O telegrafone usava como mídia não uma fita, mas um fio metálico.
Durante os anos seguintes vários progressos foram conseguidos usando
mídias como fita metálica, fitas de papel recobertas de material
magnético e, finalmente, fitas plásticas recobertas. Por volta do final dos
anos 1930, o "magnetofone", desenvolvido pelos alemães, era usado
principalmente para broadcast e trabalhava já com fitas. Durante a
guerra, o desenvolvimento da tecnologia pelos alemães foi significativo,
enquanto que estagnava nos EUA. Com o fim da guerra, muito deste
material foi apreendido pelos americanos, notadamente por Mullin, que
"importou" esta tecnologia, que foi aprimorada e reintroduzida no
mercado através, principalmente, da Ampeg, entre outras empresas,
como a EMI. A popularização do formato ocorre primeiro em
aplicações profissionais (estúdios de rádio, cinema e gravação de
música), e a partir de 1948 começam a aparecer gravadores de fita
para consumidores domésticos.
A FUNÇÃO DO GRAVADOR
PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO
BIAS
PROBLEMAS MECÂNICOS
CONCLUSÕES
Alguém pode até ser um pouco mais sarcástico e dizer que se as fitas
analógicas não fossem tão complicadas, talvez o áudio digital ainda
demorasse bem mais pra aparecer. Independentemente disso, o fato é
que sempre aproveitamos este espaço para não só apresentar fatos,
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mas também para fornecer maior base teórica aos leitores. Por isso,
vejamos, antes de mais nada, uma diferença fundamental entre áudio
analógico e digital.
O BOLO DE CHOCOLATE
A primeira maneira de conseguir comer o tal bolo é pedir que sua mãe
o faça e, usando o melhor método possível, o envie para ele. Porém,
para que o bolo chegue em perfeito estado, ela terá que se preocupar
muito no modo como embalá-lo, por exemplo. Da mesma forma,
precisará escolher um meio de transporte que o submeta ao menor
castigo possível. Ou seja, o bolo que vai chegar a Joãozinho
provavelmente não será exatamente o mesmo que saiu da casa de sua
mãe: ele terá sofrido os efeitos da temperatura, dos solavancos da
estrada e até mesmo da passagem do tempo. Por mais que ela
capriche na embalagem e que a transportadora seja zelosa, o bolo
ainda não será, ao chegar, exatamente o mesmo. Além disso, quanto
melhor for a embalagem, o transporte e a rapidez, mais caro será enviar
o bolo. Enviá-lo de helicóptero talvez fosse a melhor opção em termos
de fidelidade, mas certamente a mais dispendiosa.
Ou seja, o áudio digital foi uma ótima novidade, exceto, talvez, pros
mais arraigados às suas próprias limitações pessoais, e aos que, por
natureza, temem a novidade.
Pode-se notar hoje em dia dois movimentos muito fortes no áudio. Por
um lado, o conceito muito difundido de que "quanto mais alta a sample
rate, melhor", e, de outro, a ideia de que as gravações em vinil e em fita
são mais "fiéis". Independentemente da veracidade destas afirmações,
sobre as quais falaremos mais adiante, existe, antes de tudo, uma
questão que precisa muito ser abordada. Maior do que qualquer mito
técnico, existe não só uma lenda urbana, mas uma verdadeira crença
quase religiosa na dissociação entre o caráter "matemático e físico" e o
"emocional e espiritual" da música e do áudio. Toda vez que qualquer
assunto técnico vem à tona, lá vêm os "românticos" a criticar a frieza
dos números e defender o lado poético da coisa.
Sendo assim, por mais que um sinal de 1 kHz ou um ruído rosa sejam uma
pálida amostra do que a maravilha da informação musical pode atingir,
isto não quer dizer que a estejamos resumindo através deste tipo de
simplificação. Este é apenas um jeito simples de lidar com coisas
complexas para que seja possível trabalharmos com elas. Imaginem se
para alinhar um PA precisássemos ficar esperando a chegada de um
superaudiófilo para julgar se o "calor", a "envolvência" e a
"expressividade" do ambiente da micareta estão ok. Por outro lado,
ainda é, sem dúvida, necessária uma boa dose de avaliação
intelectual do técnico de PA, que vai além dos meros testes que os
aparelhos fornecem. Escolher as tintas e os pincéis é apenas uma etapa
para se conseguir uma bela pintura.
A ATMOSFERA DO VINIL
pois não acho que contribua em nada, pelo menos neste tipo de
discussão, dar uma mera opinião. Dizer ao leitor o que eu gosto ou
prefiro não o ajudará em nada, mas fornecer-lhe dados palpáveis e
verídicos pode ser uma ferramenta bem útil.
Pois bem. Para executar a última volta do LP no final de Far More Blue, a
Pedindo licença aos leitores para emitir, agora sim, minha opinião, acho
um absurdo eu ter que ouvir Far More Blue com a metade da qualidade
de It's a Raggy Waltz. Fim da opinião.
O MITO DA ESCADINHA
Fourier
Se a gente olha no Pro Tools um trecho de um áudio, vai ver uma onda
bem complicada. A partir de agora a gente pode analisar esta onda
não a partir deste desenho complicado, mas a partir das diversas
senóides simples que na verdade a compõem. A coisa vai mais longe.
Se a onda é periódica e tem uma fundamental de, digamos, 100 Hz,
estas senóides que a compõem são de frequências múltiplas inteiras
deste valor. Ou seja, uma onda complicada cuja frequência
fundamental é 100 Hz é a soma de uma senóide de 100 Hz mais uma de
200 Hz mais uma de 300 Hz mais uma de 400 Hz, e assim por diante.
Sinistro! Chamamos, em música, a primeira frequência de "fundamental"
e as demais são os seus "harmônicos".
Nyquist
Mas reparem que o texto diz que deve haver uma frequência máxima
(B) na tal função para que se possa estabelecer a frequência de
amostragem correta. Assim, se temos uma onda mais complexa e
admitimos que ela tem uma frequência máxima, amostrá-la no dobro
desta frequência capta todas as informações a respeito de seu
conteúdo harmônico.
garantia.
Imagine um casal que tem 7 filhos. Toda vez que a família vai sair junta,
é um problema. É gente demais para um carro. Aí então eles decidem
comprar um meio de transporte em que caiba todo mundo.
Eles podem comprar uma van de 10 lugares, que vai servir muito bem a
todos, ou um ônibus de 40 lugares. Em ambos os casos, a família terá
condições de sair junta com conforto, mas um deles é nitidamente um
exagero. Um ônibus custa bem mais do que uma van. E se a família tem
uma verba limitada, com o mesmo dinheiro vai conseguir comprar uma
van novinha ou um ônibus caindo aos pedaços.
Pra começar, acho meio difícil que tanto um quanto o outro prefiram
sua música codificada em AAC, mas tudo bem. É certo que os
encoders atuais são extremamente eficientes, bem mais do que os que
já codificaram (em 128 kbps) mais de 100 milhões de canções em
pouco mais de um ano de lançamento do catálogo do iTunes, em 2003.
Através do atual iTunes Plus, pode-se ter acesso a um conversor que
gera codificação em 256 kbps VBR AAC. A Apple, então, apresenta no
documento o conceito e as ferramentas do "mastered for iTunes". Sem
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Ethan Winer, em seu livro Audio Expert, defende que o uso de taxas
como 96 kHz se justifica apenas quando a representação da
informação acima do limite da audição é importante, como no caso
dos softwares que retiram clicks e outros ruídos impulsivos. Isto porque os
ruídos com esta característica - curtíssima duração e alta intensidade -
possuem amplo espectro de frequências, indo bem acima do que
podemos escutar, e o software pode usar isto como método de
detecção, por exemplo.
Ethan Winer mostra em seu livro o caso clássico do Aphex Aural Exciter.
Este equipamento reivindicava a capacidade de recuperar a estrutura
harmônica perdida pela inserção de cabos e diversos circuitos no
caminho do áudio. Quando ele apareceu, nem era vendido. Só podia
ser alugado, para manter o segredo de seu funcionamento. Uma
senhora estratégia de marketing, sem dúvida. Houve uma época em
que o Aphex era algo tido como o segredo do sucesso. Acontece que,
analisando o circuito, a gente descobre que o que ele fazia era gerar
uma pequena distorção acima de 5 kHz.
O QUE EU DEFENDO
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Acho que a esta altura precisamos, afinal, definir o que seria a minha
sugestão para o trabalho cotidiano. O fato evidente é que não existe
disponibilidade de equipamentos com taxa de 60 kHz. Pesando os prós
e contras, então, eu trabalho tranquilamente gravando em 44.1 kHz no
caso de CDs e em 48 kHz nos DVDs (por força do padrão), e nunca tive
qualquer problema de qualidade final do produto. Para aqueles que
fazem questão absoluta de capturar em taxas maiores, minha primeira
recomendação é analisar se a situação da gravação justifica. Afinal, se
gravar uma orquestra sinfônica pode recomendar tal cuidado, por
outro lado, humming de guitarra captado em 96 kHz é tão ruim quanto
em 48 kHz. E mesmo quando valer a pena gastar mais memória e usar
menos tracks, se o produto final for um CD, a melhor frequência a usar é
88.2 kHz, pois a conversão para o padrão de 44.1 kHz é muito simples.
Gravar em 96 kHz vai obrigar o uso de uma conversão complicada que
anula e até piora qualquer suposto benefício.
CONCLUINDO?
Isto tudo que vimos aqui apenas reforça um fator fundamental em tudo
o que se relaciona a tecnologia de áudio. Esta é uma área da ciência e
da engenharia que é fortemente influenciada pela subjetividade
humana. Lidar com música gravada atua em dois extremos da nossa
consciência. De um lado, temos a emoção em seus aspectos mais
profundos. De outro, a frieza dos números que geram a tecnologia. Não
há como separar estes dois extremos. Caberia a nós, profissionais e
amadores, estabelecer um balanço, de forma que a tecnologia
estivesse a serviço da emoção. O que acaba acontecendo é que a
pressão da tecnologia afeta o nosso lado emocional, em um efeito
reverso. Pensamos que se uma ferramenta é mais "poderosa", o
resultado percebido é certamente melhor. Infelizmente, isto não é a
verdade nua e crua. Somos praticamente forçados a concluir que algo
é mais agradável quando vem de um equipamento mais caro ou mais
avançado. Um colega conta que, certa vez, perguntou ao técnico de
uma mesa megacara que ele instalava: "Por que quando a gente
escuta até mesmo um CD nesta mesa ele soa tão melhor?". E obteve do
técnico a resposta: "Porque você sabe quanto ela custou".
O QUE É MIXAGEM
Antes de mais nada, o que nunca se deve dizer: "ok, afinal é seu rosto
que está na capa...". Isto, além de ser muito mal educado, demonstra
falta de comprometimento da gente com o trabalho. O bom mixador é,
acima de tudo, um parceiro. É aquele jogador que entra aos 30 do
segundo tempo pra decidir a partida e precisa se integrar ao time
rápida e competentemente.
Assim, quando alguém perguntar por que você fez alguma coisa, tenha
sempre uma resposta pronta. Não há problema se o motivo foi só pra
ver como ia soar, afinal, não se deve nunca abandonar a
experimentação e o gosto pelo inusitado. Só que se o tecladista
perguntar por que você tirou o grave do pad, se você responder que foi
porque brigava com o grave do baixo, não só é verdade (o que faz
toda a diferença), mas soará razoável.
Mixar é uma manifestação artística. Por isso não há como esperar que
haja valores pré-estabelecidos do que se considera uma boa mix.
Vejamos alguns fatores que influenciam o conceito de qualidade:
Fatores prévios
Fatores intrínsecos
Fatores Externos
Estilo, tecnologia, público alvo. Mixagem tem moda. Tem época que
todo mundo usa reverb, outras em que ninguém usa reverb.
Normalmente a gente consegue identificar a data de uma gravação
pelo som das coisas. Com a instrumentação também é assim. Som de
piano elétrico do DX7? Então provavelmente é de meados dos anos
1980, por exemplo. Este tipo de coisa normalmente é ditado pela
tecnologia, e o normal é que algo novo seja superutilizado e depois a
coisa se normalize. Assim é que justamente foi quando surgiram os bons
aparelhos processadores, como o REV7 ou a 480. As pessoas passaram
a encher tudo de reverb. E isso se estende culturalmente até as pessoas
que escutam o estilo. Como seria recebido um pagode sem surdão
alto? Ou um "trio" sertanejo?
Resumindo, não existe uma única boa mixagem, mas muitas opções,
que dependem de muitos fatores, mas que acabam resultando em
muitas possíveis mixagens. Pensar nisso com objetividade pode
economizar muitas horas de dúvidas tensas. O fato de que há vários
caminhos não pode nos tirar o foco. No momento em que se está
tomando decisões - o que acontece praticamente o tempo todo -,
temos que agir como se aquela fosse a única decisão correta. Não há
problema se dali a cinco minutos mudarmos de ideia. Ou seja, se você
partir pra equalizar um bumbo e pensar que só ficará feliz quando testar
todas as possibilidades sonoras que pode extrair dele, você vai perder a
novela hoje à noite.
VOLUMES
A gente tem que começar por algum canal, e a enorme maioria dos
profissionais começa pelo bumbo. Para quem trabalha com música
pop, vale lembrar que o trinômio bumbo, caixa e baixo são os pilares da
mixagem. O volume destes três canais estabelece o volume da mix
inteira para o ouvinte. Assim, começar pelo bumbo é prudente. E, mais
ainda: é importante que somente com bateria, baixo e voz a música já
funcione.
É claro que devemos cuidar para que este limiter da bateria não esteja
atuando exageradamente, o que se consegue estabelecendo os
volumes adequados nos diversos canais do instrumento.
VOLUME DA SALA
Uma dica importante: se sua mix está com tudo muito alto, é provável
que você esteja monitorando com o volume da sala baixo demais, e
vice-versa. A gente costuma ter um volume preferido para ouvir a
monitoração, e é bom que a gente memorize este volume no botão do
controle da sala. Deixe este controle de volume sempre na posição em
que a audição está mais confortável. Eventualmente, se desejar ouvir a
mix mais alta ou mais baixa para verificar estas situações, volte assim
que possível a este valor pré-determinado. Aproveitando esta
tendência, se você está achando que seria melhor ser mais prudente
com o volume da mix, aumente um pouco o volume da sala.
AUMENTANDO NO PLUG-IN
É preciso, porém, alguma cautela. Este tipo de mexida deve ser feita no
último plug-in para que a variação do ganho não afete os demais - um
compressor, principalmente. E, além disso, deve-se manter o nosso
cuidado constante de observar se ao dar ganho não saturamos o
áudio.
A PRIMEIRA LEVANTADA
AMBIÊNCIAS E REVERBS
A ORDEM
Agora que temos uma ideia de como a música está soando e de como
deverá soar no final, podemos começar a fazer a coisa de uma
maneira mais formal. Iremos agora nos preocupar não só com volumes
e pans, mas também com os timbres e equalizações. Imaginando
música pop/rock e similares, uma boa ordem para se trabalhar é
começar pela bateria e baixo. Como já dissemos, eles são a fundação
da mixagem. Se não soarem bem juntos, toda a mix deixa de funcionar.
E nunca é demais enfatizar que deve-se evitar deixar para colocar a
voz muito tarde na mix. O ideal é que já neste ponto a gente teste
como a voz está soando em comparação com bateria e baixo.
EQUALIZAR OU NÃO
A primeira coisa que precisa ficar bem clara a alguém que se inicia no
mundo das mixagens é que a gente não é obrigado a equalizar um
canal. Tem gente que se sente culpada se não equaliza, mas ela nem
sempre é necessária. Existem duas motivações básicas para equalizar: a
corretiva e a criativa. Vejamos como são estas situações.
MASCARAMENTO
"Uma mixagem não é a soma do som mais bonito de cada canal, mas
a soma do som mais eficiente de cada canal"
COMO EQUALIZAR?
Da mesma forma que as médias baixas (por volta de 150 a 400 Hz) são
fortes candidatas à atenuação, a região entre 3 e 6 kHz se beneficia de
uma certa acentuação. Esta região, pela alta sensibilidade do ouvido
humano a ela, torna-se fundamental para ajudar a definir e dar nitidez
a um canal. Deve-se, porém, tomar cuidado para se evitar os exageros,
pois, por causa deste mesmo efeito, os excessos podem se tornar bem
desagradáveis e mascarantes.
AIR
Qualquer que tenha sido o fato gerador, minha sugestão é que se atue
individualmente nos canais que contribuíram para essa deficiência na
equalização geral. Afinal, se o problema não é extremo, o fato de
ainda contar com uma masterização acabará produzindo, no mínimo,
o mesmo resultado que uma equalização no master fader. Por
segurança, você pode até mesmo alertar o masterizador de que
desconfia que há falta ou excesso desta ou daquela região.
DISTORÇÃO E RUÍDO
O fato inevitável no mundo real é que por mais que o gravador seja
bem construído, sempre haverá uma parcela da informação que
acaba sendo modificada pelo processo (algo que a própria Segunda
Lei da Termodinâmica implica). Alguns gravadores modificam bem
pouco, outros modificam pesadamente.
O PRINCÍPIO BÁSICO
Para mantermos o foco, não vou nem lembrar que as não linearidades
das mídias e dos equipamentos/processos provocam, além disso,
alterações na própria informação em si (os defensores do áudio
analógico admitem que estas modificações "melhoram" o som),
modificando as características do sinal original, além de acrescentar
ruído. Por isso, então, é conveniente se gravar bem alto, para que a
informação útil fique bem acima do ruído da mídia/equipamento (ruído
de fundo), mascarando-o.
GUERRA DE VOLUMES
AS FERRAMENTAS
O DESAFIO
CHANGE GAIN
Todo programa de mixagem hoje em dia possui uma função que nos
permite alterar o volume de um trecho de um arquivo de áudio.
Chamaremos aqui essa função com o nome genérico de change gain.
Vejamos como usá-lo e qual é a sua enorme importância. O que
recomendo que se faça é algo mais visual do que auditivo: uma boa
olhada no desenho do track. Se a gente percebe que certos trechos
estão muito baixos, usamos o change gain para uniformizá-los. Isso vai
economizar tremendamente o tempo de mixagem.
totalmente clara: eu adoro a música por tudo que está ali em termos de
composição e execução, sendo que dizer que Hendrix era um gênio é
chover no molhado. Mas tecnicamente, ouvindo com os critérios de
hoje em dia, o som pelo som é uma catástrofe. Além das enormes
limitações de timbre, há um chiado enorme. Dá pra ouvir a hora em
que o microfone de voz é ligado, o pedal do bumbo está guinchando,
o reverb da voz é bem feio, o som geral da bateria e baixo é bem
pobre etc. Sem contar que nesta época o pessoal não sabia o que
fazer direito com o estéreo e a voz está só de um lado, por exemplo.
Tomemos outro exemplo - e agora uma legião de leitores irá se revoltar -
, que foi gravado em 1969: Come Together. Ok, ok, os Beatles são
geniais e tal, mas mesmo com esta gravação soando muito melhor do
que Purple Haze, se analisarmos friamente, segundo a tecnologia de
hoje, desafio qualquer produtor a colocar aquele som de bateria numa
gravação moderna e conseguir que o músico fique feliz. O que nos leva
a outra questão importante, que é a constatação de que mesmo com
evolução técnica, já não se fazem mais Beatles como antigamente. Ou
seja, evolução técnica não tem nada a ver com evolução artística. Mas
isso é algo que poderemos discutir no futuro.
TODA GRAVAÇÃO DA ÉPOCA ERA RUIM?
De modo algum. Havia gravações extremamente boas, embora fossem
em número muito pequeno. Tudo dependia mais da filosofia de
gravação do que de qualquer outra coisa. No final dos anos 1950 e
início dos 1960, por causa da limitação de número de microfones e
canais disponíveis, a tendência era gravar com pouquíssimos
microfones, colocados em posições estratégicas. Isso levava a uma
sonoridade muito natural, embora limitasse fortemente o que podia se
fazer em termos de processamento sonoro. Este tipo de técnica chegou
ao auge nas mãos da galera que gravava jazz nesta época, e, para
mim, muitas das melhores gravações de todos os tempos vêm
justamente daí. Duas das melhores que já ouvi (se não as melhores) são
Stardust, de John Coltrane (11 de julho de 1958) - o engenheiro foi o
sensacional Rudy Van Gelder - e 'Round Midnight, de Miles Davis (1956) -
com Frank Laico como engenheiro. Em ambas o som é tão natural que,
no estúdio, com acústica controlada, a gente tem a nítida impressão de
que eles estão ali, tocando na frente da gente. É arrepiante.
EQUIPAMENTO VINTAGE
Feitas estas exceções, a grande maioria do que se gravava na década
de 1960, comparando-se com o que dispomos hoje, tem um som bem
pobre. Daí me causar tanta surpresa as pessoas endeusarem justamente
os equipamentos que fizeram estas gravações. Se o leitor conseguir se
desvincular do pensamento padrão, vai concordar comigo. Mas
normalmente o cara vê aquela mesa da EMI, com os faders de
manivelas e botões de fogão, e conclui que esse equipamento dava
pessoa pensar que é preciso passar por ele para se ter um hit.
Resumindo, portanto, analisando objetivamente, compressores
diminuem a diferença entre o maior e o menor volume de um canal,
facilitando sua colocação em uma mixagem. Ao mesmo tempo,
subjetivamente falando, os compressores deixam o som com uma
característica interessante em termos de estilo, e familiar ao ouvinte.
TIPOS DE COMPRESSORES
Variando a filosofia com que se ajustam o threshold e a ratio, podemos
ter reduções de ganho semelhantes com ajustes bem diferentes. Um
caso clássico são os compressores em que não se permite a escolha da
ratio, sendo esta pré-ajustada e muitas vezes comportando-se de
acordo com as características do sinal de entrada.
Um dos modos de operação muito interessantes é o "leveler", que usa
uma ratio muito baixa (menor que 2:1) e um threshold também baixo,
de forma que sempre haja compressão, mas que esta seja em taxa
baixa, para diminuir a audibilidade. Este tipo de filosofia é bem
interessante no caso da voz, onde regiões de volume com e sem
compressão muito nítidas podem ser problemáticas.
Um outro tipo de filosofia é o "limiter". Em tese, costuma-se considerar
que um compressor está atuando como limiter se os tempos de attack e
release são curtos e se a ratio é igual ou maior que 10:1. Em um caso
ideal, e no caso dos plug-ins de limiter, como o L1 e o Maxim, pode-se
considerar a ratio como infinito:1, ou seja, para qualquer amplitude
acima do threshold na entrada, o valor de saída é o mesmo.
Com a evolução da mixagem e, principalmente, masterização em
ambiente digital, o uso de limites se propagou rápida e ubiquamente no
áudio. Levando-se em conta que, em digital, quanto maior o volume,
maior a qualidade, o limiter se mostrou uma ótima ferramenta, pois
segura os picos de curta duração e permite subir o nível geral de uma
mix ou de um instrumento. Seu uso exagerado, porém, pode levar a
diminuição exagerada da dinâmica, e muitos consideram que foi a
ferramenta que impulsionou a "guerra de volumes" tão mal vista hoje em
dia.
COMPRESSÃO PARALELA
De tempos em tempos surgem os "melhoraisers", que são equipamentos
ou procedimentos sem os quais é "impossível" se conseguir uma mix
moderna, decente e com "pressão". Por um breve tempo, a
compressão paralela foi o melhoraiser da vez. Mas vejamos do que se
trata.
A técnica consiste em se pegar o sinal original e somar com uma versão
dele pesadamente comprimida. Antes de mais nada, precisamos fazer
uma ressalva. É preciso tomar muito cuidado para se manter a
coerência de fase entre estas duas componentes, sob pena de se
alterar o timbre e até gerar um filtro pente. Assim, se você quer usar
resultante (já que ele será similar em muitos casos), mas a facilidade,
comodidade e rapidez de se chegar até ele com esta ou aquela
ferramenta.
UMA RECEITA DE BOLO
Antes de mais nada, é preciso ter uma ideia do que se quer. Desejo
manter o volume geral do track mais uniforme? Preciso
diminuir/aumentar a relação entre o volume do ataque e da
ressonância de um instrumento? A compressão poderá ser audível ou
não?
As ferramentas para este tipo inicial de decisão já fornecemos acima.
Agora vejamos, uma vez escolhido o compressor a usar, como fazer um
pequeno ajuste.
1) Parta de um attack e release médios ou de preferência em uma
posição "auto";
2) Escolha uma ratio inicial. Para voz, entre 1.5 e 3:1; para instrumentos,
de 2 a 4:1;
3) Deixe o threshold no máximo;
4) Coloque para tocar um trecho em que haja variações de volume
importantes no track;
5) Venha descendo o valor do threshold até que a redução de ganho
no medidor esteja atingindo no máximo em 6 dB;
6) Se a compressão estiver muito audível, reavalie a ratio e verifique a
forma do "joelho", alternando entre "soft" e "hard" knee;
7) Avalie se o compressor teria que ser mais rápido no attack ou no
release.
Embora muito básico, você vai verificar que este procedimento se
aplica à maioria dos casos. Ele, obviamente, é um mero ponto de
partida, e as experimentações são bem-vindas, desde que não se deixe
para tentar todas elas durante o horário do cliente. Nestas horas, o
"dever de casa" faz uma enorme diferença.
Quando vejo hoje em dia alguém usando seis ou sete reverbs em uma
música fico pensando como esta pessoa faria naquelas épocas. E não
estou falando de muito tempo atrás, não. Até meados da década de
1990 era basicamente isso: poucos recursos e muita criatividade.
Mas vejamos, afinal, o que determina se precisamos ou não moldar o
som de um canal.
A INTERAÇÃO DOS INSTRUMENTOS
Imaginemos um recital de música clássica em que uma cantora
interpreta uma peça acompanhada de uma orquestra de cordas. Será
que o som que sai dos violinos muda o som da voz? Ou será que a voz
muda o som dos violinos? De fato, ouvir voz e violinos é diferente de
ouvir cada um em separado, mas a interação deles é um fator
artisticamente construtivo, e não destrutivo. Como não há jeito de
"equalizar" os violinos ou a cantora acusticamente, por que será que
surge a necessidade de fazê-lo eletronicamente, num ambiente de
mixagem?
A primeira diferença é o jeito como se grava. A situação em que
ouvimos uma cantora e uma orquestra de cordas ao vivo (e sem
amplificação) equivale eletronicamente a colocarmos um microfone
estéreo na mesma posição e altura de nossos ouvidos. Desta forma, na
"mixagem", certamente não precisaríamos mexer nem no som de um
nem de outro (descontando momentaneamente as colorações
provocadas pelo microfone). Na verdade, este tipo de gravação é
extremamente realista, e existem situações, tipicamente na música
clássica, em que se grava exatamente assim: numa sala de concerto
com uma acústica excepcional, com apenas dois microfones
estrategicamente colocados. Um belo exemplo é Moussorgsky: Pictures
at an Exhibition/Night on The Bald Mountain, com Lorin Maazel regendo
a Cleveland Orchestra, da Telarc/Lim, que mesmo sendo uma
gravação de 1979 (uma das primeiras gravações em digital a aparecer
no mercado), continua em catálogo. É uma performance fantástica e o
som é de tirar o fôlego. Pode ser encontrada em diversas lojas na
internet, como na Amazon, em http://tinyurl.com/nightmountain.
Porém existem dois aspectos importantes a considerar. Gravar deste
jeito nos impede de mexer à vontade no som de cada instrumento, e
nem sempre as performances de todos os músicos são equivalentes em
termos de qualidade. Assim, em nome de termos o poder de controlar à
vontade (dentro de certos limites) o som de cada instrumento,
gravamos em separado e/ou colocamos os microfones mais próximos a
cada um deles. E este jeito de gravar, embora seja extremamente útil,
é, infelizmente, completamente antinatural. Não quer dizer que a falta
de naturalidade seja ruim. Nada nos obriga a ficarmos presos à
naturalidade de uma situação. A possibilidade de mexer diretamente
em cada canal é uma ferramenta criativa importante e por isso
universalmente utilizada.
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Antes de mais nada, o áudio digital nos libertou daquela vitrolinha cor
de abóbora com agulha de cerâmica que ligava movendo o braço
para a direita até fazer "clock" e desligava para a esquerda fazendo
"cleck". Se observarmos os equipamentos acessíveis ao consumidor,
veremos que existe muito mais qualidade hoje com os CD players do
que com o vinil em qualquer nível e em qualquer tempo. Basta
perguntar a qualquer amante de música clássica e ele não pestanejará
em preferir ouvir os pianíssimos em vez dos arranhados, ou ouvir os tiros
de canhão da Abertura 1812 sem que a agulha salte do sulco.
O ALCANCE DA DIGITALIZAÇÃO
Ao levarmos a discussão para o lado de "maciez" ou "quentura",
estamos nos referindo a uma minoria seleta de ouvintes que possuem
condições suficientes para avaliar tais sutilezas. E mesmo assim essa elite
audiófila ouve mais com as opiniões pré-concebidas que com os
ouvidos. O objeto do artista é o público, e é inegável que a
digitalização permitiu se chegar a um público muito maior com muito
mais qualidade. Isso vale não só para o áudio, mas também para a
indústria do cinema com o DVD. Hoje, após quatro anos de seu
lançamento, existem nos EUA 20 milhões de DVD players. Os CD players
levaram oito anos para atingir esta marca, enquanto os videocassetes
levaram 12 anos. Agora, se a democratização da tecnologia musical
levou a um crescimento do nível artístico aí já são outros quinhentos.
Deixo para uma próxima oportunidade esta discussão. Por ora, sugiro
conhecermos um pouco melhor o processo de digitalização do áudio,
com suas vantagens e desvantagens, para que tenhamos mais subsídios
na hora de criticar ou elogiar.
AS VANTAGENS DA CODIFICAÇÃO
Desde os tempos dos tambores da selva ou dos sinais de fumaça, que o
homem sabe a utilidade da codificação para a transmissão de
informações. O código Morse, por exemplo, permitiu transmitir
mensagens através de linhas sem qualidade suficiente para a
transmissão de voz. A escrita nada mais é que um código visual para a
representação de palavras.
O áudio digitalizado é nada mais que uma série de números, e como tal
podem ser submetidos a infinitas operações matemáticas, tornando
possível obter resultados inimaginá-veis no campo analógico. O primeiro
fator a ser subvertido é o tempo. Enquanto as operações com o áudio
analógico são dependentes do tempo, digitalmente é possível por
exemplo verificar instantaneamente em que ponto acontece uma
virada de bateria ou um evento qualquer.
OS PRINCÍPIOS DA CONVERSÃO
No nosso caso (figura 5), a forma da onda começou a ser mais fiel
quando o número de pontos foi tal que ficou possível representar todas
as sinuosidades da curva. Será que se pode calcular o número mínimo
de pontos que satisfaça esta condição?
É claro que se poderia ter optado por uma freqüência bem maior
(100kHz, por exemplo), garantindo um aliasing desprezível, mas as
limitações do hardware da época (final dos anos setenta) não o
permitiu. Esta necessidade de se ficar perto dos 40kHz implicava no uso
de filtros que, embora factíveis, ainda eram extremamente caros.
Preocupados com a aceitação comercial dos novos produtos, os
engenheiros de então pensaram em aumentar um pouco mais esta
freqüência - perdendo qualidade na conversão devido à rapidez
excessiva, mas podendo usar filtros mais baratos. Este padrão mais
popular, dito consu-mer digital audio, usaria então a freqüência de
48kHz. Então fica aqui o alerta aos menos avisados. Usar a freqüência
de 48kHz, pelo menos nos equipamentos mais antigos, não melhora a
resposta de agudos! O que se tem na verdade são filtros mais baratos e
conversores menos precisos.
CONVERTENDO AMPLITUDES
Muito bem, já sabemos quantas amostras por segundo temos que tirar
de um sinal para representar todas as suas componentes de freqüência.
Agora veremos como fazer para registrar as medidas de amplitude
obtidas na amostragem.
Representação binária
RESUMINDO...
Concluímos então que a freqüência de amostragem é responsável por
garantir a resposta em freqüência do sinal convertido, enquanto que o
número de bits por amostra indica a precisão das medidas e
consequentemente a faixa dinâmica do sinal.
Mês que vem iremos mais a fundo nos conversores. Até lá.
Para um caso mais prático, tente abrir uma empresa com mais dois
sócios e um capital inicial de R$ 1.000,00. Quanto caberá a cada sócio?
Quem respondeu R$ 333,33 está desprezando um centavo. O mais
correto seria dizer que cada um tem "um terço de mil reais".
27)MASTERIZAR EM ANALÓGICO?
Tema delicado aqui. Muitas vezes um cliente me procura e pergunta se
faço master analógica. A minha resposta é sempre uma pergunta: "Por
quê?".
Antes de mais nada, eu não estou aqui criticando os métodos de
trabalho de nenhum colega. Vou apenas falar do meu, ok?
Pois bem, o cliente grava e converte para dentro de uma DAW. A partir
do momento da gravação, toda a informação está digitalizada. A
mixagem foi toda feita in-the-box e gerou arquivos WAV que vão ser
masterizados.
Ora, o resultado da masterização serão dados digitais (exceto no caso
da mídia vinil).
Fica então a pergunta: se converter de analógico para digital não
preocupou, mixar em digital não preocupou, entregar o resultado
digital não tem alternativa, por que então justamente a masterização
tem que usar uma conversão digital/analógico e outra
analógico/digital a mais? O uso de equipamento analógico justifica
essas duas conversões a mais? Dependendo do equipamento (um
pouco) e do masterizador (muito), pode ser que sim, ou não.
O que acaba acontecendo é que o cliente é obrigado, por força das
limitações de orçamento de hoje em dia a percorrer todo o caminho
de gravação e mixagem ciente de que a coisa poderia ficar melhor, e
atribui à masterização este poder de resolvedora dos problemas. Ela de
fato pode melhorar as coisas, mas não por ser analógica, e sim pela
habilidade do masterizador.
No meu caso, se o cliente pergunta por que não ofereço uma master
analógica minha resposta é : "Porque não quero piorar seu áudio com
duas conversões a mais".
Como sempre defendo aqui, o que importa são os resultados. E para se
avaliar resultados há que se testar. Decidir por masterizar em analógico
só porque a master de fulano foi assim não leva em conta que as
condições em que a mix foi entregue ao masterizador interferem
decididamente no resultado, quer a master seja digital ou analógica.
Quando contrato os serviços de um masterizador, francamente não me
preocupo com o que ele usa. Me preocupo em ouvir o que ele me
entrega. Se me agrada, ótimo, independente do método.
P.S. - para o caso em que a mix foi analógica e gerou arquivos WAV
como resultado, a situação é pior ainda, pois há mais conversões
envolvidas.
ouvidos não vai mudar, a menos que você mova a cabeça, mas a
maneira como você percebe cada execução certamente irá variar.
Q=T+A
Onde
Q = constante de qualidade da música em geral
T = quantidade de tecnologia disponível
A = quantidade de criatividade artística disponível.
Traduzindo, quanto menos tecnologia disponível, maior a necessidade
de criatividade artística (ex década de 1970) e quanto mais tecnologia,
menos criatividade é necessária e a qualidade artístico-musical geral
cai (precisa de exemplo?).
Nos casos extremos, até 1876 toda a música do mundo era só artística,
sem tecnologia (se esquecermos a tecnologia dos instrumentos e das
escalas, por simplificação). E se hoje a gente cria um software auto-
criador de música, nenhuma criatividade artística é necessária.
lo um formador de opinião, mas não fazem com que ele só fale coisas
comprovadamente certas.
Conheço vários profissionais que falam os maiores absurdos, mas que
quando vão pra frente dos botões, são brilhantes. O problema é
quando tentam teorizar.
Esse papo todo veio de nossa saudável e animada discussão hoje a
respeito de hard panning. Acho muito compreensível que as pessoas
tomem um depoimento de um cara como o Chris Lord-Alge (talvez o
mixador mais famoso da atualidade) como uma diretriz. No caso do
hard panning, segundo me disseram, ele só mixa assim, e ele é o melhor,
então mixar assim é que é bom.
Não!!! Primeiro, não consegui achar nenhum exemplo de mix dele com
hard panning (pode ser um problema meu, reconheço), e mesmo
assim, sejamos racionais. Um grande amigo meu (um excelente
profissional) foi fazer o "mixing with the masters" do Chris Lord. Quando
voltou me disse: "cara, tenho todos os presets dele! Vou te passar!".
Agradeci e disse que não queria. Não são os presets, nem os plugins
(que ele não usa, diga-se de passagem), nem os consoles, nem os
estúdios que fazem um Chris Lord-Alge. O que faz a diferença é ele, é o
ouvido dele que diz que um som está bom, não o preset. E se ele não
usa o que diz que usa, sinceramente, não me importo.
Acho que o que importa é ouvir o resultado dele e pensar como eu
chegaria até lá? E convenhamos, se a gente lutar pra ser "tipo" Chris
Lord, o máximo que iremos conseguir é ser uma boa imitação.
- A Gravação Magnética
- A Era “Moderna”
- A Era Digital
- O Grande Cisma
- Século XXI
Mas a minha opinião definitiva virá só depois dos testes. Por enquanto,
fica o suspense. http://reaper.fm/download.php
P.S> uma das coisas mais fascinantes do áudio digital é que qualquer
sinal, por mais complexo que seja, matematicamente é apenas uma
sucessão de números.
38) O BRUFFLE
Não sei se é só comigo, mas frequentemente recebo material
problemático onde a música é um shuffle. Para quem não está
familiarizado, uma breve explicação. E por favor, quem tem mais estudo
que eu na área, me corrija nos escorregões.
Uma música "shuffle" é aquela em que todas as subdivisões de tempo
são em tercinas. Pode-se até interpretar que é um 4/4 tocado em 12/8.
O caso mais clássico é o jazz tradicional, onde aquela levada de prato
de condução é o shuffle típico. No rythm and blues é frequente
também. Só que dá um trabalhão ficar escrevendo um monte de
quiálteras e o pessoal escreve como se fosse um quaternário ou binário
normal, apenas com a observação "shuffle". Daí todo músico saberá
que onde se leem, por exemplo, duas colcheias, na verdade é pra
tocar uma quiáltera formada por colcheia, pausa de colcheia e
colcheia (ou semínima e colcheia). É comum que essa proporção varie
um pouco, gerando o que se chama de "swing". Cada baterista de jazz
tem o seu swing característico que estabelece quanto dura a primeira
nota e a última do grupo de colcheias. (no samba tb rola um swing na
duração da semicolcheia do grupo colcheia pontuada-semicolcheia ,
no bumbo - P.S. aquele "samba de japonês" que vem nos presets de
bateria eletrônica soa esquisito justamente porque coloca a
semicolcheia exatamente no tempo, derrubando o swing).
E todas as subdivisões da música são assim. Isso está no sangue dos
americanos, mas nós, brasileiros temos uma certa dificuldade com isso.
Somos binários e quaternários por natureza - vide o samba. E já vi gente
muito boa escorregando no shuffle feio. Com os bateristas é o caso mais
comum. A levada vem em shuffle bonito, e na hora da virada, lá vêm as
benditas colcheias e semicolcheias quadradinhas pra bagunçar tudo.
Daí eu criei um termo que designa o shuffle frequente no Brasil : o Bruffle.
E a coisa se estende a outros instrumentos. É muito comum encontrar
tracks de shaker e pandeirola numa música shuffle. E preciso alertar:
não dá pra colocar shaker e pandeirola em shuffle !!!!!!!! porque a
tendência é sempre tocar reto - é claro que sempre se pode editar, ou
pode haver caras que conseguem shufflear a pandeirola, mas
naturalmente, não rola.
Então, já que é muito difícil acabar com o Bruffle, se vc notar que o
shaker e o hi-hat não se encaixam, pode ir lá ver que a música pode ser
shuffle, e vc vai ter bastante trabalho pra coisa soar.
Os Elementos Necessários
Será que alguém pode imaginar que uma pessoa possa ser um bom
©2019 by Fábio Henriques
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músico sem saber e praticar escalas? Sem ouvir outros músicos? Sem
estudar teoria ? Bom, na verdade isso é possível em alguns raríssimos
casos, mas para nós, meros mortais, estudar e praticar precisa fazer
parte do dia-a-dia. Mixar é exatamente como executar um instrumento,
neste aspecto.
Sem Segredos
O Que Veremos
A partir dessa sólida base teórica, poderemos nos concentrar nos quatro
parâmetros técnicos envolvidos na mixagem:
usar no mundo real. Como conviver com a acústica de seu estúdio sem
traumas e conseguir resultados úteis é uma preocupação da enorme
maioria das pessoas, e falaremos disso bastante.
Resumindo
Já deu pra ver que temos um longo caminho pela frente, mas iremos
paulatinamente nos aprofundando de maneira sólida e consistente no
mundo da mixagem.
Embora tudo o que vimos aqui possa acabar dando uma ideia de que
seremos excessivamente técnicos, na verdade iremos sempre manter a
dualidade técnico x prática em foco, para que seja possível aplicar
imediatamente os conhecimentos.
Para encurtar uma história longa, felizmente eu hoje consigo ficar dentro
de um limite de + ou - 1.5dB do resultado da norma, o que considero
beeemm razoável. No final , isso reduziu o tempo de mixagem à
metade para cada vídeo, sem perda de qualidade, embora no início
eu acabasse gastando mais tempo que o normal. E o melhor, servirá
para os próximos trabalhos.
45) COMO CONSEGUIR UMA MIX QUE SOA BEM EM QUALQUER LUGAR?
Faz sentido conferir a mix em um monte de lugares?
Frequentemente leio ou ouço uma frase vinda de clientes e de colegas:
“Ouvi em um monte de lugares e ...”.
Para alguém que deseja que sua mixagem agrade ao maior número
possível de pessoas (de preferência TODAS as pessoas), é natural que se
procure verificar como ela está soando no maior número possível de
lugares.
Mas isso faz realmente sentido? Contrariando o senso comum, posso
tranquilamente dizer que não: não vale a pena ouvir em um monte de
lugares.
Antes de mais nada precisamos pensar no que são esses “lugares”. A
coisa vai muito além de caixas e salas. Isso porque é preciso levar em
conta que diferentes formatos soam diferentes (mesmo que muito
pouco). Então, seria preciso verificar o trabalho em WAV, mp3, AAC,
FLAC, e por aí vai. Além disso, há diferentes mídias onde o trabalho irá
soar: rádio AM e FM, TV analógica e digital, vinil e CD, celulares,
streaming ...
Só aí é que entram os monitores e salas. E de uma coisa você pode
estar certo: sabe como os grandes mixadores têm certeza de que suas
mixes vão soar bem em TODOS os lugares? Eles não têm. Nenhum deles.
O que eles fazem é primeiro saber como sua mix soa em seus ambientes
de trabalho. Ao mesmo tempo eles procuram saber como uma mix
notoriamente boa no mercado soa lá. A partir do julgamento de como
uma mix “famosa” soa na sua sala isso vai servir de parâmetro para
julgar sua própria mix.
O processo é justamente o inverso: em vez de tentar saber como sua
mix vai soar em um monte de lugares, descubra como um monte de
mixes soam em seu lugar de trabalho.
Por via das dúvidas, vale a pena investir no jeito em que você espera
que sua mix vá ser ouvida pela maioria das pessoas. Hoje, praticamente
todo mundo ouve música no fone de celulares – mas como não dá pra
saber qual fone seu ouvinte vai usar, procure apenas saber como sua
mix soa em um bom par de fones. Procure o equilíbrio e não o realce –
relaxe que o Beats vai aumentar os graves pra você, e se você fizer isso
antes sua música vai acabar distorcendo nos graves. Neste caso,
confira apenas se os pans estão funcionando bem e se os reverbs não
estão exagerados, pois é isso o que dá problema nos fones.
Outro lugar onde muita gente ouve é no carro, mas cada carro é um
carro, então, da mesma forma que nos fones, confira em seu carro se os
pans estão ok e se a dinâmica está tão grande que as partes mais
suaves somem no meio do trânsito – sim, há lugares, como os carros, em
que você ainda quer a guerra do loudness.
algum problema. Mas você pode ficar tranquilo: o seu único problema
será como fazer pra pagar os 3 mil dólares.
50) POR QUE O MIXADOR MEXE NO MEU SOM????
Um leitor me indaga a respeito de um post indignado que leu de um
músico importante onde ele reclama que os músicos investem um
tempo enorme e uma significativa quantidade de dinheiro para
conseguirem o seu "som", um timbre único e pessoal que os caracteriza
e individualiza perante outros músicos.
E realmente a gente tem que concordar que quando ouve um Dave
Gilmour, já sabe que é ele só pelo som (mas eu acredito que o fraseado
tb tenha a ver).
Muito bem, a reclamação é: "Por que diachos vem um mixador e mexe
no meu som?".
A resposta não é simples. Primeiro, é preciso distinguir entre dois tipos de
mixadores: os ruins e os bons. Infelizmente não tem uma placa na frente
do estúdio dizendo "Aqui se mixa mal". A pessoa tem que usar trabalhos
anteriores que ouviu como referência ou tem que acreditar no cara. Eu
não preciso me estender aqui falando de gente incompetente, porque
isso é óbvio demais: o cara mexe porque não sabe o que está fazendo.
Eu já escrevi isso algumas vezes: "Mixar não é fazer o som que a gente
quer, mas fazer o som que o cliente quer." A verdadeira habilidade está
em conseguir que a gente e o cliente queiramos a mesma coisa - mas
isso é outro papo.
Existem situações em mixagem em que infelizmente é necessário alterar
o timbre original do instrumento que o músico gosta - vou chamar aqui
por comodidade de TOIMG. (Pessoal, desculpem me alongar mas a
questão merece.)
Primeiro, é preciso saber se a gravação foi fiel ao TOIMG ou não. Às
vezes o que está na gravação não foi bem microfonado, ou foi
equalizado na gravação, o que muda tudo. Mas vamos admitir que o
músico está feliz com o som da gravação e já ouviu um monte de vezes
a cópia de monitor e considera isso tudo ok.
O problema tem nome: Mascaramento. Uma mixagem não é a soma
do MELHOR som de cada canal, mas a soma do som mais EFICIENTE de
cada canal, para que a soma resulte.
Se o músico tem um som inconfundível de violão de nylon e a mix tem
ele e grande orquestra, o som do violão no resultado será diferente do
violão solado MESMO QUE O MIXADOR NÃO MEXA NELE!!!! O problema
é da audição humana.
Um guitarrista de rock que vai mixar sua própria banda e quer ser fiel ao
TOIMG vai deixar 250Hz em todos os canais de guitarra que tocam
juntos, e sua mixagem será embolada e confusa.
quando elas estarão dispostas a irem a shows que estão mais e mais se
transformando em dublagens de luxo.
Áudio digital
Vamos recordar rapidamente como se obtém áudio digital a partir de
uma fonte analógica. Para convertermos um sinal analógico, fazemos
periodicamente uma medida de sua amplitude e anotamos seu valor.
Esta medição é chamada de amostra (sample) e é feita de acordo
com a taxa de amostragem (sampling rate). Se usamos a taxa de
amostragem de 44.100Hz, a cada segundo são lidas 44.100 amostras do
sinal. Cada amostra é convertida para um número binário
(representado por uma série de zeros e uns) e armazenada ou
transmitida, de acordo com o caso. Para converter-se de volta ao
analógico, lemos cada um destes valores, convertendo-os para
amplitudes na mesma taxa em que foram escritos (44.100 vezes por
segundo). Passamos então o sinal por um filtro passa-baixas e obtemos
a forma de onda original.
Reverbs analógicos
A recriação de reverbs era uma das tarefas mais ingratas para os
sistemas analógicos. Se por um lado os ecos eram relativamente simples
(a própria máquina analógica já fornecia o famoso tape echo), a
complexidade envolvida na simulação de reverberações nos obrigava
a processos curiosos.
Antes dos reverbs digitais, a única chance era usar um transdutor
©2019 by Fábio Henriques
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Reverbs digitais
A partir de 1978, aparecem os reverbs digitais, que na verdade
empregam um processo mais ou menos simples para criá-los.
Basicamente usam uma boa quantidade de delays e realimentações
para criar uma densa série de ecos que vão diminuindo de intensidade
no tempo. A qualidade dos reverbs está intimamente relacionada aos
algoritmos (software) que vão estabelecer os diferentes delays e
realimentações, além da própria topologia (o modo como são
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Convolução e reverb
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Figura 7
As más notícias
O que acabamos de ver é que, se formos capazes de produzir um som
com as características do impulso ideal em uma sala, e se conseguirmos
registrar o que acontece logo depois disso dentro da sala, teremos
definido completa e perfeitamente suas características de resposta. Em
outras palavras, sua ambiência, seu reverb. O problema é sempre o "se".
Primeiro, não se consegue produzir um impulso ideal, mas só
aproximações. Segundo, o impulso ideal possui todas as freqüências
dentro dele com igual energia, só que esta energia é infinitesimalmente
pequena, e na prática nosso gráfico da resposta teria valores baixos
demais. Mais adiante veremos como os engenheiros contornam estes
dois obstáculos.
Pode-se, por enquanto, admitir que o nosso impulso, na prática, é uma
batida de palma, uma descarga de centelha elétrica ou, quem sabe,
uma bombinha de festa junina. De fato, mede-se a característica
acústica de uma sala desta forma. A aproximação é suficiente para
estimarmos seu RT60 (tempo que o som na sala leva para cair 60dB
depois do impulso) e de que modo este decaimento ocorre. Mas, se
queremos recriar fielmente um ambiente através de um equipamento
de reverb, esta aproximação é insuficiente. Precisamos ser mais precisos.
Figura 9
Simples, não?
Simples, mas trabalhoso. Suponhamos que a IR de uma sala tem três
segundos de duração. Se vamos tocar uma nota com duração de um
segundo, teremos:
N = número de samples da IR = 3 × 44100 = 132.300 samples
M = número de samples do sinal de entrada = 1 × 44100 = 44100 samples
Cada sample do sinal de entrada será multiplicado por 132.300 samples
da IR. Portanto, teremos:
132.300 × 44100 = 5.834.430.000 de multiplicações
Depois, temos que somar todos os resultados obtidos, o que nos dá mais
5.834.430.000 somas para fazer.
Em resumo, tudo se resume a contas simples, mas são bilhões e bilhões
delas, e muito poder de processamento é necessário. Por isso, os
equipamentos digitais evitaram usar convoluções como forma de
processar os sinais porque não tinham velocidade e capacidade
suficiente. Depois partiram para o outro método já visto, que usa
múltiplos delays para criar ecos complexos, simulando reverberações.
Finalmente a convolução
Em 1999 já começava a haver tecnologia para produzir chips de DSP
com a capacidade de realizar o número necessário de operações em
tempo hábil de produzir equipamentos viáveis, mas ainda com certa
©2019 by Fábio Henriques
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Capturando salas
Lembram lá atrás, quando falamos sobre a dificuldade de se obter as
condições ideais para a captura da IR de uma sala? Vejamos como
foram ultrapassadas essas dificuldades.
Gravar um reverb não parece ser muito difícil, a não ser que se queira
usar o resultado para a convolução. Como já vimos, apesar do impulso
ideal conter todas as freqüências, suas amplitudes são infinitesimais e,
na prática, impossíveis de registrar. Aumentar a largura do impulso para
que ele contenha mais energia faz com que ele deixe de ter uma
resposta em freqüência uniforme.
Outro aspecto é a respeito da faixa dinâmica (e conseqüentemente da
relação sinal/ruído), que deve ser maior que a do sistema de
reprodução do som então capturado.
A solução dada pelos engenheiros da Sony foi a seguinte: em vez de
usar um impulso, eles usam uma varredura de freqüências (sinal senoidal
que começa no extremo mais grave e vai subindo até o mais agudo do
espectro) gerada por computador e reproduzida em um enorme PA de
extrema fidelidade, colocado no ambiente a ser capturado. O reverb
resultante é capturado por quatro microfones colocados em lugares
estratégicos da sala. As distâncias e os ângulos entre eles são
rigidamente determinados para, posteriormente, serem reproduzidos em
surround de quatro canais. A varredura de freqüências é então
executada e gravada 16 vezes.
As informações destas 16 gravações recebem um intenso tratamento
posterior em computador, que consiste primeiro em alinhá-las quanto à
fase. Como todas as medições têm coerência de fase, os valores se
somam, melhorando o nível final em 24dB. O ruído de fundo, como é
©2019 by Fábio Henriques
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IR Doméstico
O próximo passo na evolução tecnológica é óbvio. No início de 2001, a
Sony lançava a segunda versão do S777, permitindo agora (por
aproximadamente US$ 10 mil) ao usuário capturar suas próprias salas. O
processo de captura é praticamente o mesmo descrito acima, e está
ao alcance do usuário. As aplicações, principalmente para som de
cinema e TV são então bastante ampliadas.
Chega a concorrência
Inevitavelmente a concorrência chegou para desafiar a Sony, e fez
bonito. Ainda em 2001, a Yamaha lançava o SREV1 Sampling
Reverberator, usando 32 DSPs e conseguindo 520 mil cálculos por
sample!!! Como o S777, o SREV1 também permite que o usuário amostre
suas próprias salas, usando o mesmo princípio de sinal de varredura,
chamado TSP (time-stretched pulse - pulso estendido no tempo).
Só reverbs?
Mas será que só os reverbs podem ser objeto da convolução? Porque
não podemos usar o mesmo processo para capturar o comportamento
de equalizadores, compressores, prés e microfones?
A principal dificuldade é que para capturarmos fielmente estes
equipamentos não podemos nos basear naqueles dois princípios
básicos - linearidade e invariância no tempo. Alterar o nível do sinal de
entrada muda a resposta ao impulso em função da não-linearidade de
seus componentes. No caso do compressor, por exemplo, cada posição
do controle de ratio, por exemplo, muda a sala em questão, tornando
necessária a captura de nova IR. Mas como não poderia deixar de ser,
alguém conseguiu um jeito de aplicar a convolução nestes casos - o
engenheiro Mark Kemp, cujo trabalho levou ao artigo do próximo mês,
quando falaremos também da convolução aplicada a compressores,
equalizadores e prés - o Sintefex e seu derivado Liquid Channel, da
Focusrite.
77) VINIL HD
Várias pessoas me trouxeram, inclusive o nosso colega Luis Gustavo essa
informação, querendo colocar em discussão aqui. Esse assunto é
sempre empolgante e toca em pontos chave do mundo do áudio,
então, vamos lá.
Que tal olharmos a situação primeiro como fenômeno? Pois bem,
imaginemos que temos a gravação mais sensacional do mundo. Um
som inigualável, uma coisa do outro mundo. Bom, existem duas
possibilidades. A primeira, de que foi gravado em fita analógica, o que
hoje é raríssimo, mas que se aconteceu, eu preciso dizer que não se
enquadra, porque em minha opinião um som inigualável não pode vir
com chiado junto, e com fita SEMPRE vem.
Então vamos para o caso em que esse som incrível foi gravado em um
sistema digital. Mesmo que tenham sido usados equipamentos
analógicos na mix e master, o que temos são 0s e 1s, mais nada. Se
transferimos esta master para uma mídia com procedimentos lossless, o
que teremos são os mesmos 0s e 1s. O que está na master está na mídia.
Agora, alguém decide prensar em vinil. Pergunto por quê? O som
"melhora"? Mas ele já não era inigualável e perfeito? Será que vai ficar
"perfeito 2.0"? Ou mais que perfeito? Mas beleza, vamos dizer que o som
não melhora, porque afinal tem menos faixa dinâmica e todos os
problemas que conhecemos, mas que fica mais "quente", mais
"humano", mais agradável ou outro adjetivo obscuro.
Temos então uma situação onde quem gravou, quem mixou e quem
masterizou, coitados, tomaram todas as decisões ouvindo ainda de um
jeito que não era o mais legal. Como eles não ouviram a coisa pós vinil,
o resultado final foi conseguido por sorte?
O vinil tem problemas sérios - e não vou me repetir em numerá-los - mas
ninguém é proibido de preferir sua sonoridade. NInguém é dono do
gosto de ninguém. `Só que pra ser totalmente honesto ao conceito de
que o áudio de uma gravação soa melhor em vinil, essa teria que ter
sido feita como nos antiquíssimos tempos, onde da mesa se ia direto
para uma mesa de corte de acetato. Se uma pessoa afirma que o som
gravado em digital melhora ao passar para o vinil, indiretamente está
admitindo que o som digital foi fiel durante o processo de gravação.
E agora vem a maior sensação de todos os tempos dessa semana: o
vinil HD, prometendo 30% mais volume e o dobro da "fidelidade", seja lá
o que isso for. Admitindo que isso seja verdade, pergunto: se precisava é
porque não era tão bom. E preciso dizer, o áudio digital não ganha
nada em qualidade quando é sampleado em "alta" resolução - apesar
do que um bando de gente afirma sem provar. Se o vinil ganha, é
porque não era tão bom.
E uma pergunta final: mesmo em HD, a agulha seguirá atritando a
mídia, e com a velocidade angular constante, a qualidade do início da
intensos que os agudos, não por causa do efeito do PZM, mas por uma
questão de acústica básica.
Mas e quando for DVD e CD? Bom, aí a gente tem que escolher pra
quem vai dar mais atenção, e se for ao 48kHz, cuidamos de
converter para 44.1kHz antes de masterizar o CD.
200 Hz.
Um gráfico desses, onde o eixo horizontal cresce desta forma, enquanto
o eixo vertical cresce linearmente, é chamado Mono-log (pois esse
crescimento no eixo horizontal é chamado logarítmico). Independente
do nome complicado, o motivo na verdade é simples, como vimos: nos
aproximar da relação entre o que vemos e ouvimos.
No próximo post, ruído branco e ruído rosa.
não chegaria nos níveis de qualidade técnica que é possível hoje. Isso
não os faz artisticamente piores, nem nós melhores. Só deixa as coisas
hoje mais fáceis, rápidas e baratas.
Se eu tenho a pretensão de ter conseguido um som melhor que o do
Hendrix? Claro que não. Mas conseguir aquela sonoridade com as
ferramentas de hoje é só questão de opção. Antigamente, era falta de
opção.
lá. maior ou menor. Hoje eu gravei o ruído de fundo de dois prés tidos
como entre os melhores do mundo: os Neve 1084 e 1073. Mas o
resultado seria o mesmo com quaisquer prés de qualidade.
Na primeira figura, temos o ruído de fundo do 1084 e na segunda o
ruído de fundo do 1073, gravados em 96kHz. Em ambos eu passei um
filtro de graves em 10kHz, Então só estamos registrando frequências
acima de 10kHz.
Reparem que há ruído (extremamente pequeno, é verdade) , até os
48kHz, como era de se esperar. Na terceira figura, eu somei esses dois
áudios, sem nenhum filtro. Ora, deveriam aparecer frequências abaixo
de 10kHz, resultantes da interação entre as frequências altas dos dois. Só
que não aparece nada, mesmo dando um zoom até -150dB (muito
abaixo do limite da audição).
Ou seja, com ruído branco, que tem todas as frequências possíveis, não
registrei nada pela combinação delas abaixo de 10kHz.
Assim, não há vantagem nenhuma em usar 96kHz. E mais ainda,
concluindo o item (3): Já que pode, por que não? Porque ao gravar em
96kHz vc estará captando chiado acima de 20kHz, que pode ser bem
alto. Ele estará sempre lá, mesmo que o áudio que nos interessa não
esteja.
Quando é possível contar com alguém para dar aquela mexida final,
consertando deficiências de sonoridade, e até mesmo deixando a
coisa mais amistosa para os ouvintes, é ótimo. É um conforto saber que
minha mix, sobre a qual tenho dúvida, será mandada para um cara dar
uma polida, um acerto final. Tudo certo. É uma consequência dos novos
tempos, e é totalmente válido.
Porém, e quando não haverá esse "Masterizador"? E quando é você
mesmo que vai aprontar sua mix para o mercado? Esse é meu ponto:
nesse caso, ESQUEÇA A MASTERIZAÇÃO.
OBS: (Antes que os mais afoitos venham aqui reclamar do absurdo disso,
lembro que essas frases de efeito são propositalmente radicais, para
chamar a atenção para um fato. Então, leia até o final com calma.
Pegue uma fatia de panetone e meia dúzia de castanhas e
prossigamos)
Vamos lá. Você mixou a música e está achando perfeita - o que já é
uma vitória - e agora se transforma em masterizador e subitamente a
mix não consegue chegar no que você queria. Bom, ou a mix sofreu
uma transformação durante a noite ou a porção mixador que existe em
você não está se dando muito bem com a porção masterizador.
Minha proposta é que você esqueça que haverá uma masterização,
Não conte com ela, porque vc não precisa soar dentro de um conceito
de álbum, não precisa ficar com um loudness absurdo e não tem como
corrigir vícios de sonoridade que você mesmo gerou.
Você não troca de ouvidos quando se propõe a masterizar!
Agora que você não está mais contando com uma self-MASTER , as
coisas só ficaram um pouco mais complicadas, porque vai ter que rever
seus conceitos. A mix só estará "top" quando for comparada com o
mesmo critério que vc usaria quando fosse se masterizar "a si mesmo". A
vantagem está em não se contar com algo depois da mix pra consertá-
la.
Corrija sua mix antes de uma "masterização", porque se é você mesmo
o masterizador, você tem o poder de resolver tudo na mix aberta, coisa
que um masterizador externo não tem.
Mas para não ficarmos neuróticos com isso, vamos então dar um nome
novo para uma coisa importante. É preciso também não ser tão radical.
Particularmente trabalho minhas mixes para precisarem de pouquíssima
correção no final, mas que mal há em se permitir que isso aconteça?
Principalmente na questão do loudness, é perfeitamente pertinente dar
um ajuste final no ganho , e até mesmo fazer pequenas correções de
equalização.
Só que pra tirar o peso dessa etapa de polimento, porque não
passamos a chamar de Pós-Mixagem? Reconheço que às vezes é útil a
gente se colocar um pouco fora da mix e ouvir de um jeito mais
Quando vc estiver sendo capaz de prever o som que vai sair ao mexer
em um controle, siga adiante. Enquanto isso não acontecer, continue
praticando junto com o item anterior.
- USE EQUALIZADORES SÓ PARA CORRIGIR
Volta na gravação que agora vc já sabe equilibrar nos faders e teste o
que está ainda te incomodando em cada canal. Tem um grave
desnecessário no Hihat? Tem agudos demais na guitarra? A voz não
consegue aparecer? Pois bem, insira equalizadores e só atenue. Não dê
ganho em nada. Filtre o que não ajuda e atenue o que está
atrapalhando. Reequilibre os faders e repita até que sua mix soe melhor
do que estava. Perseverança!!!!
- LIBERTE-SE DE PENSAR EM SÓ UM CANAL
Como desafio maior dessa etapa, vc deve chegar ao ponto de atenuar
uma região de um canal para beneficiar os outros. Se vc conseguir
descobrir que atenuando 300Hz no piano vai deixar lugar pra voz, vc
está no caminho certo.
Uma onda senoidal tem esse nome porque está associada a coisas que
giram. Como todo mundo que estudou trigonometria (com licença da
má palavra) um dia na vida sabe, pontos de um círculo estão
associados a ângulos, e a seus senos e cossenos. Para nós, felizmente,
isso não importa muito. Basta saber que podemos dividir um
comprimento de onda em 360 partes, 360 “graus”. A figura 2 assusta um
pouco mas explica. Dessa forma, metade do comprimento de onda
são 180 graus e um quarto de comprimento de onda são 90 graus, No
nosso caso, temos uma diferença de um oitavo do comprimento de
onda, ou seja, 45 graus.
Então, agora podemos interpretar que existe uma diferença de fase
entre essas duas ondas da primeira figura de 45graus, e para dizer isso
não precisamos saber sua frequência nem seu comprimento de onda.
Resumindo, podemos interpretar que o ângulo de fase é uma medida
do quão deslocada uma onda está em relação a outra, independente
de sua frequência.
Isso tem um monte de vantagens para a análise de ondas. Para nós,
acho que já é informação suficiente para uma manhã de domingo.
Fiquemos aqui por enquanto.
P.S. – embora tenhamos usado a letra grega Teta para demonstrar uma
diferença de fase, o símbolo tradicional para o ângulo de fase é a letra
grega Phi (fi), que aparece muitas vezes nos consoles e prés, e muito
mais ainda estilizada por um zero cortado.
DESMASTERIZE-SE!!
Se não houver espaço para um mixador no orçamento, assuma. Mixe o
melhor possível e dê uma boa caprichada no final. Até chame isso de
masterização, por falta de nome melhor, mas tenha um trabalho do
qual você se orgulhe, sem precisar comparar excessivamente com
outros.
Há um lado cruel e elitista no music business: o fato de que quanto
maiores os recursos, quanto melhores os profissionais envolvidos, melhor
tende a ser o resultado. Porém, o lado bom desse mundo é que mandar
pro Al Schmitt mixar e o Bob Ludwig masterizar não garantem que sua
música será um sucesso. Isso vai depender de um monte de fatores,
como oportunidade, temporalidade, qualidade de todos os seus
elementos. É isso que faz nosso mundo tão fascinante.
Não estou dizendo que não merece ser usado. Acho até legal, mas daí
a achar que ele deixa o bumbo mais grave do que ele é, há uma longa
distância.
130) LUFS
Essa misteriosa sigla significa "Loudness Units relative to Full Scale". É uma
medida em dB cujo objetivo é quantificar o jeito como percebemos o
volume, e não apenas a amplitude de um sinal.