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ARTHUR OSBORNE
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ARTHUR OSBORNE
RAMANA ARUNACHALA
Sri Ramanasraman
Tiruvanamalai
S. Índia
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1958
ÍNDICE
Prólogo......................................................................05
Ramana Arunachala..................................................13
Ramana, o Homem....................................................39
O Caminho Direto.......................................................56
Arunachala Ramana...................................................63
Testemunho Literário..................................................70
Afinidades com o Budismo..........................................79
Ramana Sad-Guru.............................
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PRÓLOGO
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Impressionaram-se vivamente a beleza e a força de seus livros e fotografias,
mas, embora contrariando meu ultimo sentir, classifiquei tudo aquilo de luxo e sem
utilidade prática.
Acresce que de modo algum poderia tomar contato pessoal com ele em
Tiruvanamalai, visto que, por então, eu realizava conferencias numa universidade
do Sião. Mas a oportunidade chegou em 1941 – quando fui passar seis meses de
férias na Índia. Contudo não fui a Bhagavan – porque eu estava sob o império da
seguinte idéia: deveria agir de modo objetivo, e só uma aspiração menor seria
prática; buscaria, portanto, submeter-me a uma pretensamente eficaz orientação
menos iluminada.
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Tiruvanamalai era rever a família e não visitar Bhagavam. Mais correto seria
afirmar: uma compulsão intuitiva impelia-me para Tiruvanamalai.
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ou Deepavali, não me lembro bem. Uma grande multidão estava presente para as
festas, e nós do Ashram ficamos sentados no pátio do salão. Bhagavan reclinado
no sofá; eu achava-me frente a ele. Subitamente, Bhagavan endireitou o corpo,
encarou-me, e seu penetrante olhar adquiriu uma intensidade que não posso
descreve. Parecia dizer – “Mas você já foi informado! Por que não se realizou?”.
Então desceu sobre mim uma quietude, uma pás profunda, uma leveza e
felicidade indescritível.
Diziam-m que ele era o guru, elo entre o céu e a terra, entre Deus e eu, entre
o Ser-sem-forma e o meu coração. Tornei-me cônscio da enorme graça d sua
presença. Até mesmo exteriormente manifestava-se a graça da sua presença. Até
mesmo exteriormente manifestava-se a graça: sorriso carinhoso, sinal para que eu
me sentasse no salão num ponto onde ele pudesse vigiar-me na meditação. Certo
dia, subitamente, percebi a verdade – o elo com o Ser-sem-forma? Mas ele era o
Ser-sem-forma!
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Comecei a captar o significado de sua Jnana, compreendi porque seus
devotos chamavam-no de Bhagavan. Bhagavan – o nome de deus! Então pateou-
se o que ele tinha afirmado em seus ensinamentos – “o guru externo serve para
despertar o Guru no Coração”.
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administrados diretamente, no silencio, e a alquimia deles processava-se no
coração.
Apesar dele jamais haver indagação da minha situação particular, ele estava
a par de tudo e inundava-me o coração de paz.
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Levei comigo um retrato de Bhagavan, em tamanho natural, retocado a óleo
– um presente do Dr. T. N. Krishnaswami, devoto que era fotografo. Tal retrato foi
o mais precioso presente que recebi. Mostrei-o a Bhagavan antes de mudar-me:
ele o tomou nas mãos e devolveu-o a seguir, dizendo: - “Esta levando o Swamy
com ele”.
Desde então, aquele retrato te olhado para mim com o amor e a força dum
Guru, e em tem falado mais profundamente que qualquer outro retrato.
Eu estava lá naquele dia triste em que seu corpo morreu. Senti calma sob a
tristeza, admirei-me da fortaleza com que Bhagavan comunicara a seus devotos
para poderem suportar a perda.
Desde então, a presença de bhagavan tem se tornado cada vez mais vital
em cada coração: o derrame de sua Graça, mais abundante; o seu apoio, mais
poderoso.
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Durante todos estes anos, jamais senti impulso de escrever a respeito de
Bhagavan. Mas, depois da morte de seu corpo, e após a sua afirmação: “Não irei
embora; estou aqui; para onde iria eu?” – tive um sonho, no qual ele me chamou
e, ao ajoelhar-me perto do seu sofá, ele colocou suas mãos sobre a minha cabeça
e me abençoou. Logo surgiu o desejo de escrever sobre Bhagavan, especialmente
para esclarecer quanto à viabilidade do caminho de Auto-investigação que ele nos
legou. Quase todos os capítulos deste livrinho foram inicialmente escritos na forma
de artigos de jornal e publicados em diversos periódicos – nos meses
subseqüentes ao seu Maha-Samadhi.
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RÂMANA ARUNÁCHALA
Capítulo I
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devotos estranhavam tais fatos, perplexos, ante um Ser com Divino conhecimento
pudesse ignorar se um remédio fizera ou não efeito, ou se um navio chegara.
Duma feita, um devoto mais curioso perguntou-lhe: - “Um Jnani sabe todas
as coisas?”.
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Aceitando a dor e a ignorância como peculiares á humana forma, mostrou
que elas não podem tocar a imperturbabilidade do Jnani, aquele que permanece
imóvel no Ser Real. Isto fortaleceu os seus ensinos, posto que eivados de
exemplos para seus devotos imitarem-no, agindo como ele agia.
Qualquer coisa que se refira aos poderes de Bhagavan, deve ser coteja com
o seu conhecimento.
Alguns devotos o encaravam com uma fé simples, como se lhes fosse pai ou
mãe: a ele voltavam-se quando lhes surgiam pequenas ou grandes dificuldades –
suas preces eram atendidas. Dificultardes ou doenças sumiam, os casos difíceis
dissolviam-se. Isto, às vezes, acontecia no momento mesmo em que Bhagavan
recebia um apelo pessoal ou uma carta. Se não havia boa solução, um sentimento
de alento e resignição cresciam no devoto, e ele varava as dificuldades antes
intoleráveis.
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Devotos que observavam tais resultados iam mais tarde relatá-los a
Bhagavam que, humanamente, não sabia do que ocorrera.
Nós, desta época materialista, fomos abençoados por uma presença que
somente pode ser comparada por uma presença que somente pode ser
comparada a de Buda, de Cristo e de Shankara; e a medida de tal materialidade
esta na indiferença que o mundo em geral demonstrou para com esse Mestre.
Falando em idéia e grandes questões, o mundo não soube ver a real benção eu
recebia a nossa época, repetindo a omissão dos Romanos quanto a Cristo.
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São palavras de Bhagavan; “Um só Jnani estando presente no mundo, sua
influencia beneficiara a todo o mundo e não somente a seus discípulos”.
Tal coisa foi conseguida por Bhagavan Sri Ramana, abrindo para a
humanidade o perdido caminho da Auto-investigação; isto foi feito em nova forma,
conveniente as condições de nossa época. Num capítulo adiante,
demonstraremos o que ora afirmamos. Sem dúvida, era uma senda composta e,
na sua integridade, continha os três elementos (Jnani, Bhakti e Karma-Marga),
permitindo que, conforme a natureza do praticamente, tivesse ênfase um ou outro
elemento. Na criação de tal senda estava a significação e o segredo da vida de
Bhagavan entre nós. Sobre isto falaremos.
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próprias palavras: “Auto-investigação é o meio infalível, único e direto, para
realizar o Ser-Absoluto-sem-condição que realmente sois.”
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RAMANA, O HOMEM
Capítulo II
Ali estava o Monte Arunáchala – a face que apresentava aos que o olhavam
da praça do Ashram – e, descendo por um dos caminhos, um homem alto e
magro, cor clara, cabelos brancos, apoiando-se numa vara. Mais tarde, ei-lo
saindo da sala do Ashram, detendo-se a sorrir para uma criancinha, e continuando
a caminhada através da praça...
Tez pálida, quase dourada. Cabelo e barba braços, sempre curtos: atendia,
assim, as exigências dos tradicionalistas do Ashram, segundo os quais um
Sanyasin deve fazer a barba e o cabelo nos dias de lua cheia.
Abatido, mais envelhecido que sua idade exigia (por haver carregado o fardo
de nossas tristezas), caminhava, joelhos duros de reumatismo, inclinando-se
pesadamente sobre uma vara, olhos postos no caminho.
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A historia da vida de Sri Bhagavan nada tem de complexo. Nasceu num lar
pobre, família Brahmin, no sul da Índia; fez curso escolar em missão inglesa local
(origem do conhecimento deste idioma).
Tais pensamentos não eram sem conteúdo. Então, a verdade brilhou ante
ele, como um relâmpago! Compreendeu que ele não era aquele corpo sobre a
cama, nem os pensamentos que vinham e passavam; sentiu que ele era o Eu
Eterno, o Espírito imperecível.
Naquele instante, a morte morrera para ele, que acabara de acordar para o
Conhecimento do Ser Eterno.
Uma vida inteira e esforço e sadhana reduziu-se, para ele, a alguns poucos
instantes.
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Teorias a propósito de tais eventos ele as aprendeu mais tarde, tal como uma
mulher que, tendo dado a luz, lê a respeito de partos posteriormente.
Seu irmão mais velho que, sob a tutela de seu tio, dirigia a família após a
morte do pai, sentiu a alteração processada no jovem, e repreendeu-o. Achava
que ele procedia como um sadhu, embora gozasse os privilégios duma vida
familiar.
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Por algum tempo, sua morada foi uma galeria subterrânea do grande Templo
de Tiruvanamalai (outro nome de Arunáchala), seu lar, onde submerso no
Samadhi, viveu sem atentar nas formigas e vermes que cortavam e comiam a pele
de seu corpo.
O corpo tinha-o de tal modo destratado, que por pouco mais tempo poderia
viver. Talvez o abandonasse sem esforço, caso outros não tomassem a
providencia de acudi-lo.
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características, libertas, crescem sem diminuir ou desvirtuar o que é comum. Em
Mestres que são Perfeitos, a Graça Divina é a mesma, apesar das características
dos veículos humanos serem diferentes.
Em tudo, ele era preciso e ordenado. O Ashram, varrido várias vezes ao dia;
livros e revistas estavam sempre no devido lugar. Colcha destinada a cobrir seu
divã era encontrada escrupulosamente lavada e dobrada. A tanga, única e toda a
roupa pessoal que usava, era sempre alva como a neve.
A vida do Ashram, desde a arte, fluía dentro dum padrão regular, exato e
simples.
Râmana era muito amável e cordial para os visitantes; não havia a mais leve
cerimônia pontifical nas suas exposições. Ao contrário, suas dissertações, fossem
sobre assuntos comuns ou doutrinários, eram sempre animadas e alegres, sob
seu Constant sorriso. Seu riso, era tão contagioso que, mesmo aqueles que não
entendiam o tamil (idioma em que quase se expressa), espontaneamente riam
com ele.
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ao ver o câncer surgir em outro ponto de seu corpo, comentou rindo: - “ Por que
este alarma? A natureza dele é mesmo eclodir!”
Uma senhora, em prantos, batia com a cabeça num poste, do lado de fora,
apesar da insistência de Râmana de que não havia motivo de tristeza pela morte
do corpo; Râmana escutou um instante e observou: “Até parece que alguém tenta
quebrar um coco”.
A um devoto que lhe perguntava porque as suas preces não eram atendidas,
Bhagavan, rindo, respondeu: “Se elas fossem atendidas, pararias de rezar”.
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Um velho pandit que conhecera Sri Râmana menino, e que já tinha visitado a
muitos Yogis, resolveu apresentar-se ao Yogi Râmana para consultá-lo. Uma vez
diante de seu leito, quedou-se eletrizado e, muito espantado, sem que percebesse
claramente o que lhe ocorria, caiu para frente, rígido. Um “coolie” apanha do chão
um folheto com o seu retrato, exclamando “Bhagavan”, e logo dobra o papel
reverentemente, guardando. As crianças eram atraídas a ele, e ficavam felizes a
seu lado.
Certa vez, uma cobra venenosa cruzou sobre sua perna imóvel. Indagado do
se que sentira, o Mestre disse, rindo; “Fria e úmida”.
Durante os últimos anos de sua vida, seu programa diário era o seguinte. As
cinco da manha a sala (onde Bhagavan dormia num divã) era aberta a visitação
dos devotos, que lá iam meditar ao som de cânticos védicos.
Muitas vezes reinava pleno silencio, vibrante de sua Graça. Era uma paz e
contentamento além de todas as palavras. Outras vezes, realizava-se um
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Sadhana (esforço espiritual) que ele vigiava e guiava sem, contudo, dar nenhuma
indicação de que o fazia.
O almoço era às onze horas, e, nos últimos anos, bhagavan consentia que
seu frágil corpo descansasse um pouco após essa refeição, antes da abertura da
sala aos fieis. Os esquilos regalavam-se, então, pois bhagavan jogava ao
assoalho amendoim para eles. Das três as cinco da tarde, voltavam os devotos à
sala, mas Sri Bhagavan ausentava-se durante meia hora para o seu habitual
passeio pela colina. Já nos seus últimos anos, teve de abandonar tal passeio, pois
estava muito enfermo. Os joelhos, inchados de reumatismo, para atravessar a
praça do Ashram. Antes das cinco e trinta, os cantos dos Vedas eram iniciados.
As seis e trinta as senhoras partiam; meia hora depois era a vez dos homens.
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A comida, por exemplo, jamais era desperdiçada. Um presente de presente
de frutas deveria ser distribuída as crianças, ou dado aos macaquinhos travessos
que tentavam roubá-las! – mas jamais dever-se-ia permitir que as frutas se
estragassem. Assim se vê que é uma noção errônea pensar que a economia
acompanha a parcimônia, e a generosidade é parceira da extravagância. Muitas
vezes os parcimoniosos são como esbanjadores, e os generosos revelam-se
cuidadosos.
Duma feita, um assistente criticou uma senhora européia por sentar-se com
as pernas esticada a frente; prontamente Sri Bhagavan reagiu, se sentado com as
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pernas esticadas no mesmo sentido, a despeito da intensa dor que tal posição lhe
causava.
Mas, até nisso, nada se fazia sem a autorização das autoridades do Ashram.
Se atualmente existe uma tendência a encarar a submissão como sinal de falta de
espírito ou vontade própria, é porque o egoísmo é considerado como sendo
natural. Sem dúvida alguma, lutar contra nossos próprios desejos exige muito
mais espírito que relutar em negá-los. Bhagavan mostrou-nos o caminho livre de
desejos. Tal liberdade não é submissão a nada de objetivo; é a felicidade da
concórdia, pois é ao próprio Ser, e não a um estranho, que nos submetemos.
Bhagavan procurou liberar-nos, não só dos desejos físicos, mas também dos
desejos psíquicos, desaprovando todas as anormalidades e excentricamente, todo
interesse em visões e poderes psíquicos.
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chamados “superiores” ou “miraculosos” são ilusórios, tanto quanto o são os
físicos.
Certo visitante contou que seu Guru tinha morrido sido enterrado, para mais
tarde, três anos após, voltar ao mesmo corpo físico a fim de instruir seus devotos.
Bhagavan continuou sentado, imóvel, como se nada tivesse ouvido. Então soou a
campainha do almoço e, a porta, quando se retirava, encarou o visitante: “Mesmo
que um homem possa entrar em muitos corpos, isto significa que já encontrou o
seu verdadeiro Lar?”
Um dos belos exemplos de seu bom humor temo-lo quando alguém lhe
perguntou se uma pessoa, desejosa de vários poderes, conseguiria obtê-lo
automaticamente quando através da força de seu sadhana, obtivesse “Mouksha”,
certamente tais poderes não prejudicariam tal pessoa.”
Ao ver que um assistente, numa das refeições, pusera metade duma manga
para ele, enquanto os demais recebiam somente uma quarta parte da fruta,
recusou zangado, tirando para si a menor porção.
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Podemos dizer zangados, porque ele muitas vezes manifestava “cólera”
contra as faltas cometidas pelos assistentes. Mas eram simples demonstrações
externas de reprovação, contra lapsos mínimos. No que se referia, porém a faltos
e lapsos graves, era de ilimitada paciência para com seus devotos.
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história e Bhagavan tomou-o com a mesma Graça e o mais vivo interesse. O
livrinho estava rasgado e Bhagavan guardou-o para supervisionar pessoalmente o
conserto; e devolveu no dia imediato, recomposto.
Sua gentileza, que a toda abrangia, punha-os à vontade, mesmo quando não
pronunciava uma única palavra.
Entretanto, por trás daquela amabilidade para com todos, havia minuciosas
supervisões individuais, referentes a cada devoto, cuja submissão ele havia
reconhecido.
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tapas bem amargo. Mas, a medida que a sabedoria e constância apoderava-se do
discípulo, este passava a receber um sorriso ocasional de reconhecimento, ou um
profundo e envolvente olhar de amor e reconhecimento.
Era pouco comum o devoto passarem todo o dia no salão da Ashram. Muitos
deles eram pais e mães de família, que viviam nas casas de colono construídas
em torno do Ashram. E tinham de voltar aos lares, a fim de atenderem aos
afazeres diurnos. Outros, ainda, viviam nas aldeias próximas.
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devoto seu anunciou-lhe um plano de retirar-se de Tiruvanamalai e empregar-se
com salário fixo. Bhagavan observou-lhe, rindo: "Todos são livres de fazer plano”.
Mas o plano dele jamais se realizou.
Poucos meses após a minha chegada ao Ashram, tive que ir a uma cidade
próxima tratar de negócios. Pensando que coisas mundanas não suscitassem
interesse em Bhagavan, apenas roguei-lhe permissão para sair. Bhagavan
concedeu à permissão pedida, não sem observar, posteriormente, que eu deveria
ter mencionado, a finalidade da minha partida. Muito indagarão quais a
necessidade de tal secretividade nos métodos de orientação, e porque Bhagavan
não podia distinguir pessoas, ao conceder suas gentilezas e Graças. Não Ihe era
possível estabelecer distinção entre antigos devotos e recém-chegados; entre os
que se haviam entregado a ele, totalmente, e os outros. Os de total entrega a ele
tinham direito à estrita orientação do Mestre. Também se pode dizer que não
desejava provocar polemicas relativas à sua condição de Guru, ou suscitar, nos
indiscretos, exigências desgovernadas de iniciam. Além de que, tudo ficaria
inteiramente claro a todos os que ultrapassassem o umbral da mente.
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Bhagavan, silenciosa, atuando diretamente sobre o coração, destinava-se a
retificar a natureza do homem; como resultado, fruto sadio surgiria da árvore
sadia. Controle das ações seria método mais exterior que interior, funcionando do
efeito para a causa, e não da causa para o efeito.
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a tal ponto de aniquilamento físico.
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inevitável. Vez por outra, alguém lhe implorava que desejasse ficar bom, mas, no
íntimo, sabia que Bhagavan jamais faria uso de poderes que não tivesse ao
alcance de todos.
Dizia: - “Eu não estou indo embora. Para onde iria eu?”
Durante anos, seu corpo foi torturado pelo reumatismo. Seu joelho estava
inchado e ele caminhava com dificuldade, sendo forçado a desistir do passeio
diário ao Sagrado Monte Arunáchala. Há mais de um ano surgiu-lhe pequeno
tumor no cotovelo esquerdo. Foi removido. Reapareceu mais ativo ainda. Então
reconheceram a natureza maligna da doença. Diversos tipos de tratamento foram
aplicados, e Bhagavan muito humildemente submetia-se a tudo. Foi operado três
vezes. E o tumor sempre reaparecendo, pior e cada vez mais acima do cotovelo.
Mesmo assim ele insistiu em que todos que o buscassem receberiam seu
darshan (entrevista) duas vezes ao dia, passando diante de sua cama.
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Não mais veremos a Graça Divina em forma humana o Amor e a ternura de
seus olhos! Mas, em nossos corações, sempre estará rediviva a sua constante
Presença. Sua Graça continuará derramando-se, não só sobre os que
compreenderam o milagre de sua forma física, mas também sobre todos aqueles
que a ele voltaram os seus corações -agora como sempre.
Sei que não consegui transmitir um quadro lúcido do homem que era
Râmana - mas como retratar o Divino?
O que mais impressionava a todos era, como uma criança. Sua Divindade e
intensa humanidade. Essa Divindade era reconhecida pelos que ante ele se
prosternavam.
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Era todo compaixão; entretanto, seu rosto aparentava impassibilidade, firme
como um rochedo.
Era todo amor; entretanto, durante semanas não dirigia a um devoto um olhar
sequer. Respondia a todos carinhosamente; entretanto, muitos ficavam mudos e
medrosos ao dirigir-lhe a palavra. Seus traços fisionômicos não eram formosos;
entretanto, sua orientação e supervisão em constantes, assim como o são
AGORA.
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CAMINHO DIRETO
Capítulo III
As exposições dos Mestres não podem ser rotuladas de filosofia (no sentido
corrente do termo), pois não configuram especulações sobre a natureza do ser.
Melhor seriam consideradas base teórica para trabalho pratico no Caminho.
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Heráclito (Heráclito declarou: "Panta rhei, ouden menei". - Tudo nada permanece),
PARMENIDES afirmou: "O Ser É, não é". E mais: "O que não e, jamais pode vir a
ser". Isto em síntese significa que o "tudo passa nada permanece", de Heráclito,
não se refere ao real, é errôneo. Aquilo que É, permanece, não passa.
Pensamento de Maharshi, também, Então o "Panta rhei ouden menei...” seria
exato no que se refere aos fenômenos materiais, "Maya", seria paralelo ao
pensamento budista essencial: "São caducos todos os elementos desta vida;
todas as formas criadas são irreais".
Isto é dizer que uma pessoa cria, no seu sonho, as demais pessoas.
Obviamente, um absurdo.
Verdade é que a mente do Sonhador cria a pessoa (ou seja, um ente que
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atribui a si mesmo vida separa), bem com as todas as pessoas.
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igualmente abriram novo Caminho aos que, conscientemente, sentem-se atraído
para a Meta a que, fatalmente, todos hão de apontar no final. Conseqüente,
devem, revestir seus ensinamentos de símbolos e parábolas que tenham
significação externa para os que nada aspiram, além da devoção e da ética
religiosa.
Bhagavan Sri Râmana não está em nenhuma dessas categorias. Ele não
veio fundar nova religião nem tampouco para orientar estritamente no caminho
duma já existente.
Veio para abrir Caminho aqueles que, nas religiões de todo o mundo, estão
procurando ir além do que elas ensinam. A sua instrução correspondo às
condições do mundo que ele encontrou. Nesta época-final da Kali-Yuga - o mundo
atingiu treva espiritual sem precedentes.
Na, maioria dos casos, tornaram-se caminhos “ocultos”, e seus Mestres são
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dificilmente encontrados. Atualmente, surgem "mestres" muito faladores e
perigosos, revestindo as antigas verdades de formas confusas, misturando-a com
erros da época presente.
Isto está levando muitos homens, tanto no Ocidente como Oriente, a retirar-
se, desgostosos, da violência e da redundância vazia de uma civilização material;
de uma civilização que faz esforços fúteis na procura de uma Realidade cuja
essência é oposta a sua materialidade, - cuja essência é espiritual.
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Não fora a Graça de Bhagavan, permaneceria inacessível ao homem
moderno, - de tão simples e direto! Entretanto, é realmente o mais acessível e,
na maioria dos casos, o único acessível - pelo pouco do exigência que ontem;
isto e, na forma direta não são necessários rituais, métodos de culto, sacerdócio,
congregação; não obrig a nenhum sinal ou externou oi observção especial, mas
pode ser praticado tanto no escritório como na oficina; na cozinha como no
salão; no convenio como na ermida.
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As ciências da Yoga, os complexos Tantras de poderes não-físicos assim
como as características humanas, e a técnica dos vários desenvolvimentos,
tornam-se supérfluos porque (já) somou o Ser.
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Amor sem fim; a este Ser ele denomina - Deus.
Tarefa que tem pela frente - É extinguir o sentido-ego, de tal modo que o
Ser, único que era e será. Permaneça na consciência observando todo este
panorama como sendo a sua própria manifestação, Expressando-se nesse
sentido, dizia sorrindo o Bhagavan: - “Somente tendes que” desrealizar “o irreal, e
a Realidade Iogo aparece”.
Maneiras de realizar a tarefa - São inúmeras, mas para nós, estão divididas
em categorias gerais; uma delas é a da religião externa, ou seja, caminho
espiritual indireto; outra, a do Caminho direto da Auto-lnvestigação.
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Por isso tudo, Bhagavan incentivava muitos a seguirem tal caminho,
principalmente quando observava que a natureza do ouvinte não o atraía para
uma, sadhana mais consciente.
Bhagavan jamais negou a eficácia de tais métodos. Certa vez, quando uma
senhora afirmou que a Auto-Investigação não parecia ser muito efetiva, e
perguntou-lhe se devia seguir outro método, ele replicou: “Todos os caminhos são
bons”. Entretanto, desde que, por sua Graça, estava aberto um Caminho mais
potente e direto, também mais adequado as condições da vida moderna, ele
constantemente aconselhava todos a não seguirem caminhos indiretos muitas
vezes, referia-se a tais caminhos como sendo “o ladrão que transformou-se em
policial, para pegar o ladrão que era ele mesmo”. O ladrão é o ego,ou mente, que
usurpa a realidade do Ser; fez-se policial, pois, nos caminhos indiretos do
Sadhana, a mente é treinada para policiar-se, conter e condenar a si mesma.
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De qualquer modo, importa é a extinção da mente dissolvê-la no Ser que
por si mesmo É. Então, por que não se esforçar desde o início, despertando a
autoconsciência, serenada o ego ante essa consciência?
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Bhagavan insistia em que era necessário esforçar-se por praticar, em lugar
de discutir tais assuntos. Estas é a sua frase – “Deveis esforçar-vos por conseguir
a experiência e não buscar localizá-la; um homem não precisa saber onde estão
os seus olhos, a fim de enxergar. Se quiserdes entrar nele, o Coração, a fim de
enxergar. Se quiserdes entrar nele, o Coração está sempre lá, aberto para vós e
apoiando os vossos movimentos, mesmo quando estiverdes inconscientes disso”.
Após uma esta prática, essa meditação preconizada desperta uma corrente
de consciência, - a consciência do “Eu”, - no Coração que é o Ser universal, e que
nunca é afetado nem pelo bem, nem pelo mal, nem pela fortuna, doença ou
saúde.
O ego procura o que existe antes de sua origem e além de sua fonte. Mas,
uma vez encontrada a resposta, essa mesma resposta o devora.
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“Eu vim para vos devorar, mas por Vós fui devorado; agora existe paz, ó
Arunachala” (vers. 22 – “Grinalda de Pérolas” – “Cinco hinos”).
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Bhagavan comparava tal situação a se um caixa-de-banco, que manuseia
desinteressadamente muitos milhões, sabendo que nada daquilo lhe pertence.
Assim, impessoalmente, pode-se atender a todos os afazeres da vida diária,
sabendo que Ele, o Ser Real, seu verdadeiro e único Ser, não será afetado. Todo
assalto de cobiça, ira ou desejo, pode ser impedido pela Vichara. Tem que ser
impedido! – pois não se pode admitir que de um lado sejamos Ser e,a de outro,
venhamos a agir como se fossemos o ego. A consciência do Ser, ainda que
parcial e embrionária, sempre enfraquece o egoísmo.
Tal coisa é obtida pela prática de vichara, seja na solidão do bosque, pelo
renunciador, seja na azafama da cidade, pelo auto-investigador.
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sentido-ego no seu próprio interior. Isto significa que ninguém renuncia
verdadeiramente, senão quando se retira para “dentro”, quando permanece na
solidão universal do coração – onde ninguém mais existe, onde se realiza a
Unidade, sejam quais forem as formas assumidas pelo Ser.
Vale uma pergunta ainda; - não há lugar para a devoção e o amor (Bhakti),
no caminho tão completo da Auto-Investigação?
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admitiu Bhakti no caminho novo que abriu. Ele disse – “Existem dois caminhos: ou
indagais “Quem sou eu?” – ou vos submeteis”. Mais explicitamente – “Submetei-
vos a mim e eu aniquilarei a mente”.
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confunde o corpo com o Ser, esquecendo que ele é na verdade o Ser. Tendências
há muito tempo cultivado terão que ser apagadas, mediante contínuas e
prolongadas meditações”.
_______
Nota do Tradutor: (*) Transposição de mantras ensinados comumente na
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Índia ao aspirante.
30 – “Se com a mente interiorizada alguém indaga “Quem sou eu?” – o seu
individual rende-se envergonhado tão logo é alcançado o coração, e
imediatamente a Realidade manifesta-se espontaneamente como “Eu-Eu”.
Embora se revele com ‘eu’ ela não é o go, mas sim o perfeito Ser, o Próprio
Absoluto”.
“Deus e o guru não são realmente diferentes; pelo contrario: são idênticos.
Aquele que merecer a Graça do guru será salvo e jamais abandonado, como a
presa que caiu nas garras do tigre não escapa. Mas o discípulo, por sua vez,
deverá seguir, sem o menor desvio, o roteiro indicado pelo Mestre”.
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ARUNACHALA RÂMANA
Capitulo IV
Mas aqueles cujos corações tenham sido penetrados pelo sentido dos
ensinamentos de Sri Bhagavan – entenderiam. Há níveis e modalidades de
aspiração espiritual; pedidos e desejos são justificáveis quando o peticionário crê
sinceramente no benefício que lês comportam, mesmo visando felicidade
mundana ou bem estar; melhor seria que fossem solicitações inteiramente
impessoais.
Ele ensinou o puro caminho da Advaita, o mais alto, o mais sereno. Não
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havia meias medidas, desvio ou acordo. O ego ilusório tinha que ser negado –
como se poderia pedir algo em favor dele?
Talvez pareça que tal caminho de puro entendimento sirva para os filósofos
e entendimento sirva apenas para os filósofos e intelectuais; era, o povo, ricos e
pobres que procuravam o bhagavan, vinha com preces, pedidos e desejos a
serem atendidos. Em todos os casos, o silencioso fluxo de Graça, a paz,
penetrava-lhes o coração, e seus apegos a qualquer coisa que causasse mal estar
e ansiedade eram transmudados em amor por Bhagavan.
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Uma senhora de mentalidade simples disse: “Eu não entendo a filosofia,
mas, quando Ele olha para mim, eu me sinto como uma criança nos braços de sua
mãe”. Um negociante falando de milagres, dizia orgulhosamente; “Meu bhagavan
não dá nada por essas coisas”.
Sentia-se que ele não desejava que lhe pedisse coisa alguma, e que seu
amor era muito mais precioso que qualquer dádiva que rogassem; por isso, as
petições dissolviam-se, deixando-os submissos e de coração aberto na Sua
Presença.
Que será então esse Arunachala, que satisfaz todos os desejos; e porque
foi que Bhagavan tomou-o por derradeira morada (moral abode), alem de motivo
para os hinos que compôs?
58
todos; a auto-Investigação.
Diz a lenda que, através das idades, dakshinamurti permanece sentado sob
uma enorme árvore (banyan), na encosta norte do Arunachala, num lugar
inacessível aos forasteiros, e que a sua silenciosa upadesa daria a realização a
qualquer um que dele se aproximasse.
Agora, porém, o caminho direto foi aberto para nós, graças novamente a
Siva na forma de Sri Râmana; o que era anteriormente inacessível, foi tornado
acessível; o que estava oculto no alto da montanha, foi trazido ao pé desta; para o
Asram primeiro e, agora, para o templo onde os devotos sentam-se no silencio da
meditação.
59
mundo, porque o caminho representado por Arunachala converteu-se, de novo, no
tema central das aspirações humanas.
Foi uma escolha espiritual, e não racional; e seria mais correto dizer que
Arunachala escolheu Sri Râmana. Já em pequeno, o nome Arunachala o
fascinava.
60
Na sua ultima noite nesta terra, quando seu corpo morria, um grupo de
devotos entoava o mesmo hino ao lado de seu pequeno quarto.
Ele ouvia o hino exatamente antes de exalar o último sopro, e logo das
lágrimas de felicidade tombaram de sues olhos.
_________________
Nota do Tradutor; - O AQUI tem caráter real, e pode ser dito em qualquer
lugar, mesmo fora de Arunachala, pois se refere ao INESPACIAL, ao Uno.
61
Se assim não fosse, Siva não teria necessidade de manifestar-se como
Arunachala ou como Sri Râmana.
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TESTEMUNHO LITERÁRIO
Capítulo V
Nesta idade em que a mente parece ser mais ativa do que o Espírito, é
natural medir a influencia de um Mestre pela bagagem literária que deixou. Tal,
critério, porém, nem sempre é verdadeiro.
Nada possuímos que tenha sido escrito pelo Budha. Cristo nada escreveu.
Quando Lao-Tsé declarou haver findado o trabalho de sua vida e montou a cavalo
partindo para o acidente, também nada deixou escrito. O guarda do desfiladeiro de
Hankow, por onde Lao-tsé passava, rogou-lhe que escrevesse seus
ensinamentos; o filósofo deteve-se à entrada da aldeia e ali escreveu o Evangelho
Taoísta. É interessante refletir que, se ele não houvesse escrito, os modernos
eruditos poriam em dúvida a sua existência e o apresentariam como pessoa
fictícia.
63
parte sem que sua vida passe pela menor modificação? Comparei com outro
homem que se senta ante uma Presença Sagrada e sai após algum tempo com
sua concepção de vida inteiramente mudada! O que é melhor: pregar em voz alta
sem impressionar o ouvinte, ou sentar-se silenciosamente irradiando a Força
Interior? E de onde surge a palavra falada? Há o puro conhecimento – de onde
brota o ego, - que por sua vez da origem ao pensamento: e o pensamento faz-se
palavra falada. Vemos, assim, que a palavra é o tetraneto da fonte original. Se a
palavra pode ser eficaz, julgai do efeito produzido pela pregação silenciosa”. Tudo
que aqui dizemos a propósito da pregação, aplica-se obviamente, de modo
idêntico, ao que é escrito.
A instrução silenciosa de Sri Bhagavan não significa que ele não se dirigisse
verbalmente aos que lhe faziam perguntas. Ele sempre respondia plenamente ás
questões doutrinárias, e um certo número de suas respostas foi anotado e
publicado pelo Ashram.
Desde que sua verdadeira instrução foi silenciosa, Sri Bhagavan Mui
raramente fazia qualquer afirmação doutrinária, exceto quando respondia a
alguma pergunta. Pela mesma razão, ele raramente escrevia qualquer coisa.
Muitos dos livros publicados como seus, são meros registros de perguntas e
64
respostas anotadas no momento e subseqüentemente publicadas com a sua
aprovação.
Os únicos volumes em prosa escritos por Sri Bhagavan são “Quem” sou eu ?
e “Auto – Indagação”- escritos para instruir devotos que solicitavam-lhe
explicações, nos seus anos iniciais, quando Sri Bhagavan estava ainda em
silêncio, não obstante jamais tenha sido estritamente um mouni (*).
Mesmo esses livrinhos tiveram muitas edições, sendo que “Quem sou eu” era
inicialmente conhecido como respostas a quatorze perguntas.
O “Evangelho de Maharshi” que por muitos anos foi o compêndio favorito dos
ensinamentos de Bhagavan é, em sua mor parte, composto de extratos dos dois
livros acima citados, agora publicados em sua totalidade.
_______________
*N. do T: Mouni – o que faz voto de silêncio permanente.
65
Tudo que ele escreveu foi redigido em tamil, e as complicações também
registram respostas quase sempre dadas em tamil, mesmo quando as perguntas
eram feitas em inglês e os diários anotados em inglês.
Conquanto Sri Bhagavan entendesse o idioma inglês, ele dava todas as suas
respostas, exceto as muito curtas através de um intérprete, - ouvindo-o
cuidadosamente e detendo-o ao menor engano de tradução.
66
de Sri Shankracharya; Bhagavan pessoalmente deu-lhes formas em tamil. Eles
são tão concisos quanto profundos, e há comentários sobre cada verso.
67
O elemento Bhakti de amor e devoção é mais evidente nos “Cinco Hinos a
Sri arunachala”, especialmente no primeiro e maior deles, comumente conhecido
como “Arunachala Aksharamanamala”, a que já nos referimos.
“Em meu ser sem amor, tu criaste uma paixão por ti, portanto não me
abandones, ó Arunachala”.
Este capítulo não ficaria completo sem uma menção dos hinos a respeito de
Bhagavan. A bibliografia relativa ao mestre é grande e cresce constantemente,
não só em inglês como também noutros idiomas, para não falas dos idiomas da
índia.
Sem dúvida, o livro que mais contribuiu para tornar Bhagavan conhecido,
tanto no oriente como no ocidente, foi o de Paul Brunton “A Search in the secret
India” (*) publicado por M. Rider & Co, Londres. A biografia oficial é “Auto-
Realização” de Swami Narasinhaswamy publicado pelo Ashram. Mas esta só
___________________
*N. T. – já traduzido para o português com o título “A índia Secreta” pela
Editora
68
só .alcança o ano de 1936 e foi, de certo modo substituída pelo trabalho deste
autor intitulado “Ramana Maharshi e o Caminho do Auto-Conhecimento”(publicado
por Rider de Londres sob o título “Ramana Maharshi and the Path of Self
Knowledge”). Outros livros em inglês, não são biografias, mas apenas estudos,
relatórios e tributos de diversos. Devotos. Todo este material literário poderá ser
obtido no Ashram. Os poemas em louvor de Bhagavan, assim como suas
biografias em prosa e em verso escritos nos diversos dialetos hindus, são
inumeráveis.
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AFINIDADES COM O BUDISMO
Capítulo VI
Não me referi a cosmologia budista que, de fato, está quase ausente das
verdadeiras instruções de Budha, pertencendo mais a seus seguidores; falo do
tema central do budismo. Assim como Bhagavan, Budha preferia não tocar nos
assuntos teóricos de menor importância, a fim de não transviar o discípulo do
esforço espiritual prático.
70
É claro que tal verdade básica encontra-se, duma forma ou de outra, nas
várias religiões e instruções espirituais; mas ela e o tema central do Budha e de
Bhagavan.
Disso resulta que há, em ambos, injunção direta para repudiar a ilusão e
buscar a iluminação, em lugar do processo indireto da recompensa pela virtude e
do castigo pelo pecado.
Mesmo que tais estados sejam mais altos e reais do que a vida presente,
continuam a ser ilusório à luz da verdade final da advaita.
Chegou afirmar explicitamente: “Ao homem sequer lhe apraz ouvir esta
verdade, embora esteja pronto a conhecer o que há no além, e sobre o céu,
inferno e reencarnação”.
71
“Porque todos gostam do misterioso, mas não do verdadeiro, as religiões a
todos atendem, a fim de que tal coisa os conduza de volta ao ser”.
Vale dizer: porque parar ante, mesmo, à mais alta manifestação do Ser?
Busque a última verdade do Ser que você é.
Verdade é que Bhagavan falava de Deus muitas vezes, posto que, enquanto
continuar a concepção do ser individual, a concepção de Deus como Criador Amor
e Juiz, terá que continuar também.
72
Nenhuma religião foi jamais tão desagradada como a daqueles budistas que,
tentando acomodar-se ao modernismo, interpretam como ateísmo ou
agnosticismo a recusa do Budha de fala de Deus. A baixo do nível de Deus e
homem, encontra-se, apenas, a ilusão do ego; e acima dela está somente a
Realidade do ser. Abaixo da aparência dos mundos superiores, está a este mundo
físico; e acima disto está o ser em forma. Estes budistas “agnósticos”confundiram
o inferior com o superior.
Seria como querer encerrar o oceano num balde. Bhagavan afirma: “o Ser é
auto-efulgente. Não podemos dar-lhe um retrato mental. O pensamento que
imagina é, em si mesmo, um grilhão. Sendo que o Ser é a auto-efulgência que
transcende a luz e a escuridão, não podemos pensar nele com a mente. Tal
73
imaginação nos levará à escravidão, enquanto que o Ser cintila espontaneamente
como o Absoluto”.
Além disso, Sri Bhagavan ensinou, também, que não existe um ser individual,
não apenas no sentido que não perdurará depois da morte, mas que também não
existe agora. “Não vos preocupeis com o que sereis após a morte; tratai de saber
o que sois agora”.
Qualquer outra vida ou mundo é tão real quanto este, mas a verdade é que
tudo isto é irreal. Por conseguinte, em lugar de conduzir o homem na busca dum
nível de relatividade superior, Bhagavan e o budha insistem em que o ego é
totalmente irreal – seja nesta vida ou em qualquer outra. “Primeiro buscai o que
sois agora”.
74
ser e da ilusão. Mesmo assim, os teóricos apossaram-se de seus ensinamentos,
criando padrões que em nada contribuíram para que eles mesmos, ou outros
possam escapar do sofrimento. É possível que eles queiram aferrar-se aos
ensinamentos de Sri Bhagavan, mas seu real ensinamento jamais poderá a ser
encerrado em suas exposições, pois seu ensinamento é abandonar o não-
essencial e seguir o caminho da auto-realização.
Todo aquele que provava ser capaz de seguir a Senda, era considerado
capacitado.
Bhagavan teve essa mesma atitude mas, como seu propósito não era formar
uma nova religião – ou nova ordem social, - jamais disse coisa alguma contra ou a
favor das castas.
75
Brahmas. Bhagavan aprovava os recitáveis védicos no hall, pela manhã e à noite,
mas nenhum devoto – fosse mulher, fosse de casta inferior, ou forasteiro, - podia
ser excluído de sua presença durante a cerimônia.
76
ignorância, do que o do sofrimento; mais o Conhecimento, do que o alívio do
sofrimento.
Não formulando uma nova religião para o mundo, ele não desvia seus
devotos da vida do mundo.
Bhagavan absolve dessa necessidade a todos para ele se voltam. Este é seu
grande donativo de compaixão. Não somente hindus, mas budistas, cristãos,
muçulmanos, judeus, parsis, dirigiam-se a ele, e jamais qualquer um recebeu
conselho de trocar duma religião para outra.
77
“Somente a Auto-investigação pode revelar a verdade de que nem a mente
nem o ego existem realmente, permitindo ao homem realizar o Próprio Ser puro
indiferenciado, ou o Absoluto”.
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78
RÂMANA SAD-GURU
Capítulo VII
Todos sabiam que eram os discípulos e que ele era o Guru. Em privado,
falava-lhes como um Guru; de outras vezes, instruía-os nas praticas.
79
livrinho. Quando perguntado se ele era um Guru, e se dava iniciação, sempre
evitava resposta direta. Evidentemente, se a resposta devesse ser negativa, ele
teria dito “não”. Mas se ele pronunciasse um “sim”, seguir-se-iam inúmeros
pedidos de iniciação, cabendo-lhe fazer distinção entre verdadeiros devotos e
visitantes que não se submetiam em seus corações, nem seguiriam sua
orientação. Seu amor, porem, era demasiadamente grande e compassivo, e sua
sabedoria igualmente profunda, para que ele agisse de modo a levar uns poucos e
se julgarem privilegiados. Verdadeiramente tal não poderia fazer, pois ele via o
Ser em todos.
Assim, levava o indagador a concluir por si mesmo. A tradição quer que tais
iniciações sejam simbolizadas do seguinte modo; a primeira, pelo passaro, que
necessita sentar-se sobre seus ovos para chocá-los; a segunda, pelo peixe, que
basta olhá-los; e a terceira, pela tartaruga, que tão-só pensa neles.
Bhagavan foi o “Sad-guru” o “Jivan Mukta”, o perfeito “Jnani”, para quem não
existe outro se não o Ser e, portanto, nenhum parentesco pode se invocado.
Algumas vezes lembrava a seus devotos que o outro Guru é somente uma
forma tomada em consideração a ignorância dos discípulos, e serve para torná-los
para “dentro”, a fim de que descubram o guru-interno, que é o próprio Ser.
80
guardando reserva sobre as técnicas que prescrevem; desse modo, evitam que
alguém as pratique sem a devida autorização, causando prejuízo a si mesmo.
Sobre quem quer que para ele se voltasse no próprio coração, podia descer
a iniciação, onde quer que estivesse; e qualquer que em seus livros aprendesse a
técnica, poderia usá-la . de fato, Bhagavan, as vezes, recordava a sus devotos
que mesmo a viagem a Tiruvanamalai é somente ilusória; a rela peregrinação teria
de ser feita no coração; e aludia ao trechos publicados sobre o Caminho a ser
seguido.
Nesta altura, poderá surgir outra pergunta ao leitor deste livro; se o caminho
direto aberto por bhagavan vigorava apenas durante a sua vida, ou continua
aberto ao que o busca. Contra a sua validade permanente, levanta-se a idéia de
que o guru é necessário para cada buscador – como bhagavan mesmo disse; -
acrescentou, entretanto, que o Guru não precisa ter abrigatoriamente a forma
humana.
Tal assertiva sua aplicava-se apenas a casos raros, mas sua intervenção não
terá tornado efetivo para seus devotos aquilo que foi para ele? Como se
depreende do acima referido, seu trabalho difere totalmente dos habituais
sistemas de orientação espiritual. Através das idades, tem existido correntes
iniciativas paralelas, fluindo para o oceano, cada uma com suas próprias margens;
mas no presente, no fim da “Kali-Yuga”, muitas sumiram no deserto ou no
pantanal, enquanto outras se reduziram a um fio. Foi ante tal estado de coisas que
Bhagavan surgiu com a resposta, com a corda salvadora par todos que a ele se
voltam.
81
Se o método é diferente, basta-nos recordar que é bhagavan o autor – e
protestar seria ridículo. Tais fizeram os judeus, negando o cristo porque Ele não
aparecera na forma em que eles o esperavam. E se bhagavan pode dispensar a
habitual forma de iniciação durante a sua permanência entre nós, por que não
depois? Consideremos que as condições que exigem a inovação ainda perduram.
Antes de morres, afirmou: “Dizem que estou morrendo, mas não me irei
embora. Aonde poderia ir? Eu estou aqui mesmo”. Esta é uma afirmação
doutrinária simples, porque o “Jnani” é universal e não há para ele o CÁ ou LÁ,
nem o ir ou o vir, no AQUI e AGORA da eternidade. Tal foi sempre o modo de
Bhagavan fazer uma afirmativa doutrinária, que, assentando uma verdade
universal, responde igualmente à particular necessidade do devoto. Mesmo que
nós possamos abandoná-lo, em nossa cegueira, ele não nos pode abandonar,
pois ele é o Ser.
82
de vida. Desde que o verdadeiro propósito dos livros era espalhar o conhecimento
do “vichara” (Caminho da auto-investigação); se tal não continuasse a ser valido
desapareceria, evidentemente, a necessidade de tais publicações.
Seus devotos sabem que ele é ainda o Guru. Eles têm sentido a continuação
de sua orientação, não só tão potente como completa e sutil, tal qual era de antes.
Aos que buscam voltar-se para ele, o melhor a dizer (como ele fazia com
que especulavam sobre o Centro-Coração de que ele lhes falava) é que tal não é
assunto de discussão, mas de pratica.
Poucos poderiam imaginar quão amado era ele pela vizinha cidade de
83
Tiruvanamalai; mas, durante toda a noite, vastas multidões vinham e passavam
através do Ashram, tristes e lacrimosas, para o ultimo “Darshan” ante a sua face já
agora sem vida.
Não somente isto (pois isto vale quer que esteja o devoto), mas a
revitalização espiritual que se conseguia de uma visita a Tiruvanamalai, ainda
continua, embora sua bem-amada face esteja oculta.
84
que dedicamos ao Guru-externo auxilia-nos nesse sentido; num certo aspecto,
entretanto, é mais um obstáculo. Agora, ele toca, cumpre-nos eliminar nossas
impurezas, para descobri-lo, o Ser, a Essência de nosso Ser; mais do que nunca,
ele nos auxilia em tal empreendimento.
Sri Ramana é Dakshinamurthi. Ele tornou acessível o que era oculto, pois
agora a Graça radia de seu “Samadhi”. O Caminho Direto, que havia sido fechado,
foi reaberto.
A morte corporal deu-nos, talvez, uma modificação. Ele sempre mos disse;
“Perguntai:” Quem sou eu?”Mas nos disse também:” Submetei-vos a mim, e
abaterei vossa mente ““. Agora, a pergunta sobre o Ser (“Quem sou eu?) e a
submissão a Bhagavan no coração, tornaram-se uma só coisa”. A fusão de
“Jnana” e de “Bhakti” tornou-se mais perfeito.
“Quem Te pode encontrar? O olho do olho és Tu, mas – sem olhos – Tu vês,
Oh Arunachala!”
(Versículo do Aksharamanamala).
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85
Traduzido para o Português
por
Caesar Mello, Jr
Grupo Arunachala
do
Rio de Janeiro
86
SRI RAMANA GITA
do original em Sânscrito
por
KAVYAKANTHA GANAPATHI MUNI
Tradução do inglês
por
G. V. Subbaramayyah M. A. (Hons.)
Diretor do Departamento Inglês
V. R. College, Nellore
87
PREFÁCIO *
Em honra ao nome do grande instrutor (Sri Ramana), esta obra foi intitulada
“Ramana Gita”.
O autor deixou claro que esta serie de perguntas não surgiram num só dia
como o demonstra sua apresentação cronológica.
Deve ser desde logo compreendido que tanto as perguntas feitas como as
respostas dadas e as elucidações que o Mestre acrescentava, eram no mesmo
momento transcrito pelo autor em slokas (versículos, em Sânscrito).
________________
(*) Traduzido do Sânscrito.
88
O autor, usando a primeira pessoa do singular (Eu), claramente destaca suas
próprias perguntas. O segundo versículo do segundo canto foi composto pelo
próprio Sri Bhagavan. Nos restantes versículos daquele conto, o autor apenas se
limita a analisar o seu conteúdo.
O que Sri Maharshi nos ensinou, não depende dos conhecimentos das
Escrituras, nem tampouco de Anumana (inferência lógica). Ou Pramana
(autoridade precedente). Ensinou-se somente aquilo que ele mesmo experimentou
ou viu com o Seu olho interno de meditação. Ele é adorado como guru (Mestre)
por muitos que pertencem aos três cultos (Adwaita, Dwaita e visishtadwaita).
Muitos dos Seus discípulos iluminados, vem em Sri Maharshi, que resplandece na
sua incessante permanência no Ser natural, a encarnação do Senhor Guha
(Skanda). O próprio autor, que chefia os discípulos, enaltece o Mestre como tal. O
que pode ser aprendido somente através da sabedoria espiritual, não estamos, de
modo algum, à altura de comprovar. Apenas, podemos declarar que também
acreditamos nisso.
89
homem da penitencia, submergiu na luz na luz eterna no ano “Dhatru”, no sétimo
dia parte clara do mês “Sravana”.
90
RÂMANA GITA
Introdução
Por
GRANT DUFF
The Athenaeum,
Pallmall-London
Embora um só dos Slokas do Sri Râmana Maharshi, toda esta obra foi
inspirada diretamente pela Sua inefável Presença. Esse Presença significa mais
que a ação do Seu pensamento, pois inclui toda Sua manifestação que por alguns
anos mais será conhecida como O Iluminado da Monte Arunachala, Râmana
Maharshi.
Isto, entretanto, não quer dizer que o alcance é feito extremamente fácil pois
exige o máximo de concentração mental baseada no firme propósito de encontrar
a Senda. Se um em mil conseguir realizar-se nesta vida, as possibilidades em
vidas vindouras aumentarão para outros.
91
Os fisiologistas surpreender-se-ão ao saber que o Coração, o Ser “Eu-Eu”
está localizado no lado direito do peito e não no esquerdo (*). Não se pode discutir
este assunto de um modo científico (*). Este coração tem sido visto, e ali é visto,
em resplendor constante por Maharshi; e esta afirmação é suficiente para que o
peregrino sincero tenha absoluta certeza. Ele saberá onde, no seu corpo, terá de
“mergulhar profundamente”, embora bem cônscio que de uma pequena fração de
seu corpo físico não revelaria coisa alguma que venha confirmar sua convicção da
existência desse centro resplandecente.
“O Mundo não é outra coisa senão a mente: a mente não é outra coisa senão
o Coração – e isto é toda a Verdade.”
92
Jamais, talvez, na historia humana, foi colocada tão facilmente ao alcance de
tão vasta multidão, a Verdade-Realidade, Suprema, Sat. Em casos anteriores
haviam dificuldades e perigos de toda a espécie a enfrentar. Agora, sem especial
merecimento de nossa parte, podemos aproximar-nos da realidade. A única
dificuldade estaria no custeio da viagem; não há perigos e a recompensa é o
Conhecimento do Ser.
Acrescentar mais coisa alguma, seria um absurdo, pois nada mais existe
além do Ser.
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NOTA DO TRADUTOR
Estamos certos de que aqueles que “buscam”, lerão este livrinho “7 vezes”,
no mínimo, perdoarão os erros do tradutor e acabarão por compreender a sublime
mensagem do Grande Sri Râmana Maharshi, a nós comunicada pelo seu Bem
amado discípulo, Vasistha Ganapati.
CAESAR MELLO, JR
28-02-1962
94
GRAÇAS
95
SRI RÂMANA GITA
1° CANTO
No ano mil novecentos e treze da Era cristã (1913), no dia vinte e nove de
um dezembro frio, quando todos os discípulos, com suas mentes controladas, se
achavam sentados em volta Dele, eu apresentei a Bhagavan Sri Maharshi (as
seguintes perguntas).
Primeira pergunta:
Pode uma pessoa ser libertada plena mera discrição entre a realidade e
irrealidade? Ou existe qualquer outro meio para a destruição da escravidão?
Segunda pergunta:
Terceira pergunta:
96
Pode uma pessoa de consciência firme (Jnani) reconhecer a si mesma como
tal por Ter conhecido a perfeição, ou pelo abandono da consciência objetiva?
Quarta pergunta:
Quinta pergunta:
Sexta pergunta:
97
Mera investigação das escrituras não traz a plenitude do Conhecimento ao
investigador. Não pode haver realização sem “Upasana”. Esta é toda a verdade.
98
Escritura de Yoga, composta pelo discípulo
de Râmana, Vashistha Gnapathi, este
é o primeiro Canto, intulado:
99
2° CANTO
O CAMINHO TRIPLO
Somente ali a marca distintiva (do Ser) foi indicada. Sua diferenciação de
Deus foi eliminada. Sua independência absoluta, que evita os vários símbolos, foi
também afirmada.
___________
(*) Tradução – verso do sloka, corrigido e aprovado por Sri Bhagavan:
100
“No âmago do “Coração”
Brilha sozinho o Brahman
Como “Eu-Eu”, o Ser consciente!
Entrai profundamente no Coração
Pela investigação do ser, ou mergulhando profundamente,
Ou com a respiração controlada;
Assim “nishtha” estará sempre no Atman.
O CAMINHO TRIPLO
101
3° CANTO
O DEVER SUPREMO
Daivarata disse:
Bhagavan respondeu:
Daivarata perguntou:
Conhecer o nosso próprio ser, o que resumidamente quer dizer isso? Por que
esforço pode se obter essa visão interior sublime?
Bhagavan respondeu:
102
Daivarata perguntou:
Bhagavan respondeu:
Bhagavan respondeu:
Este maravilhoso dialogo deu-se no sétimo dia do sétimo mês no ano mil
novecentos e dezessete da Era Cristã (1917).
O DEVER SUPREMO
103
4° CANTO
QUE É “JNANA”
Primeira pergunta:
Primeira resposta:
Após ouvir esta afirmação do Guru que destroi todas as duvidas, eu O inquiri
novamente sobre a outra dúvida que surgiu em mim.
Segunda pergunta:
104
Ao ouvir esta pergunta, Maharshi, o amigo daqueles que servem Seus pés,
Inundou-se com Seu benevolente olhar, e proferiu o seguinte:
A resposta:
QUE É “JNANA”
105
5° CANTO
SOBRE O CORAÇÃO
A mesma Luz, (do Sahasrara) flui para o corpo inteiro. Então ocorreram as
experiências do mundo. Julgando estas experiências diferentes no Samsara (o
ciclo de nascimentos e mortes).
106
O Sahasrara (cérebro) daquele reside no Ser é puro e chamejante como a
Consciência. Qualquer Sankalpa 9pensamento) que entre, não pode sobreviver
nas suas imediações.
O mundo não é outra coisa senão a mente, e a mente não é outra coisa
senão o Coração. Por conseguinte, toda a historia (do universo) termina no
Coração.
O mundo não é outra coisa senão a mente, e a mente não é outra coisa
senão o Coração. Por conseguinte, toda a historia 9do universo) termina no
Coração.
Assim como o sol dá luz à lua, do mesmo modo o coração fornece luz ã
mente.
107
Inconsciente do Coração, o mortal percebe apenas a mente, assim como (ele
vê) luz na lua, à noite, quando o sol está ausente,
108
6° CANTO
Para as pessoas ocupadas, com mentes apegadas aos objetos dos sentidos,
é difícil controlar a mente em vista da força superior de suas “vasanas”
(tendências inerentes).
109
Ou, até mesmo pela repetição e Mantras, a mente pode ser controlada.
Então, o Mantra e Prana (respiração) se unificam com a mente.
110
7° CANTO
Karshni perguntou:
Quando o ego, que é apenas uma aparência irreal do Ser, desaparece, fica o
Ser que é o real, a plenitude, o absoluto, em tudo e por tudo.
111
Bhagavan respondeu:
Aquele que esta purificado por “Upasanas” etc. (nesta vida) ou por boas
obras de vidas pregressas, cuja mente percebe os males do corpo e os objetos
dos sentidos; sempre que a sua mente funciona, sente uma aversão completa
pelos objetos externos; e compreende a natureza transitória do corpo, esse está
em condições (para a Autopesquisa).
Karshni perguntou:
Bhagavan disse:
112
Os sábios que estão maduros, fazem Karma (ação) para instrução e bem-
estar do próximo, e não por temor aos preceitos das escrituras.
Karshni perguntou:
Bhagavan respondeu:
Para aquele que vem meditando sobre (alguma Deidade, Mantra ou qualquer
outra meta elevada, o objeto da meditação finalmente funde-se no esplendor do
Ser.
113
Assim, tanto para o mediador como para o Autopesquisador, a meta é a
mesma. Um, pela meditação alcança – tranqüilidade; o outro, ficando cônscio do
Ser, funde-se com ele.
114
8° CANTO
SOBRE “ASHRAMAS”
“Sannyasa” é “Jnana” puro – e não está no (uso da) veste alaranjada nem no
raspar da cabeça. O Ashrama (Sannyasa) é indicado par a remoção dos
numerosos obstáculos (encontrados no caminho espiritual).
115
No encarnado, que apesar de ser um Grihastha (chefe de família), está sob
todos os aspectos livre de apegos, cintila a Luz Suprema. Não há dúvida
absolutamente sobre isto.
Para o yogi, cuja impureza já foi queimada pela penitência, e cuja mente
tornou-se amadurecida, o quarto Ashrama (Sannyasa) virá a seu tempo,
automaticamente.
SOBRE “ASHRAMA”
116
9° CANTO
No decimo quarto dia do oitavo mês (14 de agosto) à noite, eu interpelei Sri
Maharshi sobre um assunto em que até mesmo os eruditos têm duvidas, ou seja,
sobre o desatamento do “Granthi” (nó).
117
Irradiando de um determinado centro, a Luz brilhante da Consciência ilumina
o corpo inteiro, assim como o sol (ilumina), no corpo.
Pela difusão dessa luz, ocorrem experiências no corpo. A esse mesmo centro
os sábios denominavam de “Hridayam” (o Coração).
Para quem quer que veja unicamente o Ser brilhando – fora, dentro e em
toda parte, como as formas, etc., (aparecem) ao ignorante esse se diz Ter cortado
o (nó) “Granthi”.
118
O “Granthi” é duplo – o vinculo dos “Nadis” e a consciência-ego. Através do
vínculo Nadi, o Espírito, apesar de ser sutil, se apercebe de tido que é grosseiro.
Assim como a bola de ferro aquecida ao fogo parece cheia de fogo, assim
tudo isto aquecido com o fogo da autopesquisa, se torna cheio do Ser.
Não tendo sensação de ser autor, seu “karma” se diz Ter sido destruído.
Sendo que nada mais existe e não ser o Ser, nenhuma dúvida surge nele.
Aquele cujo “Granthi” (nó) foi cortado, jamais se diz Ter sido destruído. Sendo
que nada mais existe e não ser o Ser, nenhuma dúvida surge nele.
119
10° CANTO
SOBRE A SOCIEDADE
Yoganatha perguntou;
Bhagavan respondeu:
Ó Yati, assim como o membro serve para o bem do corpo, assim também o
indivíduo contribui para o bem da Sociedade, e prospera.
Todos nós sempre devemos assim agir, na mente, palavra e o corpo, a fim
de promover o bem da Sociedade e também despertar os nossos semelhantes
nesse sentido.
120
Bhagavan respondeu:
Bhagavan respondeu:
No décimo quinto dia do oitavo mês (15 de agosto), esta conversa ocorreu
entre Yoganatha Yati e o benigno Maharshi.
121
11° CANTO
Todos estes objetos visíveis são apenas uma sombra para Vós. Quem,
então, poderá descrever Vosso estado (real), ó Bhagavan?
Para aqueles que, iremos no terrível Samsara (ciclo dos nascimentos e das
morte), são arremessados para cá e para lá, e procuram escapar deste grande
tormento, Vós sois o único refúgio.
122
Em verdade, ó Senhor, vós não estais em “Swamigiri” (Wmimlai) nem em
“Kshabika Parvata” (Monte Tirupati). Mas estais de fato em Arunáchala.
123
Deste modo louvado e inquirido por mim, o Bhagavan fixou-me
profundamente e assim falou:
Aquele que se elevou ao “Sahaja Sthitti”, (Estado Natural), está, sem esforço
algum, praticando tremendo “Tapas”(penitencia) dia após dia. Não existe inércia
absolutamente em “Sahaja Sthitti”.
Assim como o mundo não é reconhecido pelo sábio como outro que não o
Ser, assim também esses Poderes em ação não serão, para Ele, outra coisa que
não o Ser.
Ó sábio que não tem tal Prãrabdha, embora Todo-Poderoso, não se agita
absolutamente, e é como um oceano sem ondas.
124
Aquele que pensa que “Jnana” está isento do Poder, é realmente ignorante.
Porque o “Jnani” está na verdade identificado com seu Sr Real o qual é todo
penetrante e todo poderoso.
125
12° CANTO
SOBRE “SAKTI”
Kãpali (falou):
Então, qual a distinção que torna o Jnani superior à pessoa ignorante? Cabe-
vos, ó Senhor, mover esta minha dúvida.
Bhagavan respondeu:
Kapali perguntou:
126
Ó Senhor, o Ser no qual estas diferenças que consistem de tríades aparecem
é dotado ou desprovido de Skti (poder)?
Bhagavan respondeu:
Bhagavan respondeu:
Kapali perguntou:
127
Se esta atividade de Deus, que criou os inúmeros mundos visíveis, é eterna
ou efêmera, cabe ao Bhagavan responder.
Bhagavan explicou:
128
O Ser, por ser iminência em todos, não depende absolutamente de outra
coisa. Quem conhecer Sakti como Atividade e Substratum é verdadeiro
(conhecedor).
Onde não existe atividade Satta (Existência) não pode ter diversidade. Se
satta transcende Sakti, não pode de modo algum surgir qualquer atividade.
Toda esta atividade jamais teria lugar sem Sakti; tampouco pode haver
criação ou este conhecimento que consiste da tríade.
Ao único Sakti transcendental são dados dois nomes: Ser (como substratum),
e Atividade (em virtude da sua propriedade criadora).
129
Meu filho, o Sr, dizem, é o Substratum e a atividade é seu atributo. Pela
atividade, conhecendo a sua fonte, a criatura permanece no Ser.
SOBRE “SAKTI”
130
13° CANTO
A luz suave emanando da linha Atreya, casou com a linha Vasishtha, a mãe
do bravo e sábio Mahadeva (um exemplo para as senhoras), dedicada ao serviço
do mundo e à pratica de grande Sri Vidya, que começa com “Ka”, e louvada pelos
sábios, o primeiro Guru ao sul as Vindhyas), para o Tara-Vidya, minha associada
no penitencia e companheira de minha vida, a formosa Visãlãkshi de grande
renome, apresentou duas perguntas por meu intermediário ao benemérito
universal, o sábio denominado Râmana.
Tendo ouvido estas duas perguntas, Bhagavan, o grande sábio que conhece
a verdadeira interpretação de todas as escrituras, seu veredicto a respeito.
Até mesmo para as mulheres que agem permanecendo no Ser e que estão
suficientemente amadurecidas, porque as proibições não lhes são aplicadas,
Sannyãsa (santidade) não está errado.
131
Quaisquer que sejam os males que resultem da cremação do corpo do
homem liberto, resultarão da cremação do corpo da mulher libertada.
132
14° CANTO
Também a experiência do Mahatma, cuja força vital é absorvida (no Ser) aqui
somente (no momento da morte), é idêntica, ó homem sábio, à desses dois
anteriormente mencionados.
133
Ó melhor dentre os homens, quanto ao Mahatma, que intensificando-se com
o Ser, se liberta em vida, suas forças vitais são absorvidas aqui somente 9ao
morrer).
Sendo maior a sua maturidade, a invisibilidade também virá. Tal Siddha pode
então vaguear por aí, fruindo da pura consciência.
Este pode vaguear por todos os mundos à vontade; pode tomar qualquer
corpo que desejar; e até pode redimir (outro) pela sua Graça.”
____________
(*) – Vide Apêndice I.
134
Ó ser ilustre, todos aqueles mundos de Muktas, como estes mundos
terrestres, são criados no Ser pelo Maravilhoso poder da manifestação da Sakti.
135
15° CANTO
Alguns dizem que ouvir do Guru textos Védicos com seus significados e
comentários é “Sravanam”.
Outros dizem que ouvir do Guru Auto-realizado, nas suas palavras e na sua
própria linguagem, a explanação sobre o Ser, é (também) “Sravanam”.
136
O mero conhecimento das escrituras referente à Unidade, não obstante livre
de erro e de dúvida, não pode conferir experiência.
Ó bem amado, todo são eliminados somente pela experiência do Ser, sente
inclinação para o exterior, jamais terá Conhecimento direto mesmo sendo Versado
em centenas de escrituras.
137
16° CANTO
SOBRE A DEVOÇÃO
O Ser é querido por todos, nada tá mais precioso que o Ser. O Amor contínuo
como um fio de azeite, é chamado Devoção.
O Sábio (“Jnani”), através do amor, sabe que Deus não é outro senão seu
próprio Ser. O outro (devoto), mesmo considerando Deus como separado,
submerge-se e permanece no Ser.
Esse amor que flui para o Todo-Poderoso, como um fio de azeite, mesmo
sem o desejo (mental).
138
Aquela Devoção que não tem um fluxo contínuo se diz ser intermitente. Isso,
em devido tempo, resultará em Devoção Suprema.
Tal Devoção crescente, será perfeita a seu tempo. Pela Devoção perfeita e
suprema, se atravessa o oceano do nascimento. Assim como pelo Conhecimento.
SOBRE A DEVOÇÃO
139
17º CANTO
Vaidarbh perguntou:
Bhagavan respondeu:
Vaidarbha perguntou:
Bhagavan respondeu:
Vaidarbha perguntou:
140
Ó melhor entre os santos, certas fases do “Jnana” tem sido descritas nas
escrituras pelos mais doutos, Como poderão elas ser interpretadas?
Bhagavan respondeu:
Vaidarbha perguntou:
Bhagavan replicou:
141
18° CANTO
(Daquele) que foi nascido na linha ilustre de Parasara, que trouxe renome
para a comunidade Brahmanin, filho de Sundara Pandita, de alma pura, de olhos
grandes como as pétalas de lotus;
Aquele cujo corpo reluz com o brilho de uma manga, que tem absoluto
controle sobre os sentidos volúveis, cuja esposa é a grande Valli (*), de imortal
Chit, cujas poucas palavras proferem a essência das Agamas (Escrituras).
__________
(*) Valli – uma das duas consortes do Senhor Subrahmaya.
142
Aquele cuja palavra é a própria brandura, de olhar meigo e a face de lótus
desabrochado, de mente vazia, como a lua à luz do dia, que está brilhando no
Coração como o sol no céu.
Que é severo para com Seu próprio corpo, que é rigorosamente austero, cuja
mente auto contida é adversa a toda a multidão de objetos dos sentidos, que,
nascido nas ondas do Espírito, está submerso na felicidade;
Que é deidade oculta indicada pelo Mantra (*) “OM VACHADHUVE NAMAH”
(Saudação aquele nascido da Palavra);
___________
Vide Apêndice II
143
Que em graça se assemelha à lua, em brilho é igual ao sol, e pela
permanência em Brahman (o Supremo) lembrai-nos do Pai (Senhor
Dakshinãmurti), que habita ao pé da arvore de “banyan”, que está imperturbável,
que é mais novo do que (Ganapathi);
O Mestre que compôs as cinco jóias do Hino a Arunáchala (**) que contêm a
quintessência de toda a Vedanta o que, apesar de puros e curtos, são todos
aforismos compreensíveis;
__________
(*) Bhattapada Kumarila Bhatta) foi um firme aderente dos Vedas e de Perva-
Mimãnsa da escola de Jaimini, enquanto que Sri Bhagavan, apesar de
anteriormente encarnado como Kumarila Bhata, está ocupado no exposição da
Vedanta, a Uttara-Mimãnsa da escola de Vyasa.
(**) Vide Apêndice III.
144
Que, apesar de conhecer Sânscrito e de não Ter tido qualquer contato com a
literatura, tem tal inspiração em composição, que as palavras lampejam numa
torrente de idéias;
145
A tal ser, embelezado com todas as boas qualidades, que é conhecido como
Bhagavan Râmana, Amritanatha Yatindra, inquiriu a respeito da Glória sem limites
de “Siddhas” (Seres aperfeiçoados).
146
APÊNDICE I
ARCHIRADI – MARGA
Os raios solares unem este mundo ao Sol e estão igualmente ligados aos
Nadis dos indivíduos. A alma desenvolvida alcança deste modo o sol que é a
Porta-de-entrada para o Brahma-Loka.
147
Dos cento e um Nadis do Coração, um segue para a cabeça. Aquele que
sobe por este Nadi atinge a imortalidade; os outros Nadis conduzem para outras
regiões (inferiores) Vide Canto 15,12, Sri Ramana Gita).
148
APENDICE II
149
APENDICE III
CINCO JÓIAS
de
HINO A ARUNÁCHALA
150
Vos vislumbra, e como Vossa Forma sempre Vos adora com amor indivisível,
Aquele brilha, Ó ARUNÁCHALA, em Vós – a Bemaventurança Eterna.
151
ÍNDICE
Prefácio ...................................................................................................88
Introdução .................................................................................................91
1º Canto – Sobre a Importância de “Apasana”..........................................96
2º Canto – O Caminho Triplo.....................................................................100
3º Canto – o Dever Supremo.....................................................................102
4º Canto – Que é “Jnana”..........................................................................104
5º Canto – Sobre o Coração......................................................................106
6º Canto – Conhecimento sobre o Controle da Mente...............................109
7º Canto – Da Capacidade para a Autopesquisa e seus Pormenores.......111
.8º Canto – Sobre “Ashramas”....................................................................115
9º Canto – Sobre o Desatamento de “Granthi”...........................................117
10º Canto – Sobre a Sociedade.................................................................120
11º Canto – Sobre a Harmonia de “Jnana” e “Siddhis”...............................122
12º Canto – Sobre “Sakti”...........................................................................126
13º Canto – Igualdade de Direitos do Homem e da Mulher para
o “Sannyasa”. ............................................................................................131
14º Canto – Sobre a Liberdade ainda nesta Vida.......................................133
15º Canto – Sobre “Sravanam. “Manavam” e “Nididhyasanam”..................136
16º Canto – Sobre a Devoção.....................................................................138
17º Canto – Sobre o Alcance de “Jnana”....................................................140
18º Canto – Rapsódia sobre “Siddhas”.......................................................142
Apêndice I – Archiradi-Marga......................................................................147
Apêndice II – Explicação do Décimo Versículo, Décimo Oitavo
Canto, que expõe o Mantra-Guru..............................................................149
Apêndice III – Referente ao Versículo 17 – Capítulo XVIII.........................150
152