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NOTAS

6CH-PERi.)D\COS
I e 2: Ver "Cultura do Povo e o Autoritarismo das Elites". Marilena de
Souza Chaui. In Separata da Revista Cinema BR. p. 3, n. 0 1, 1977,
São Paulo. Sobre o assunto, consultar ainda: "Cultura y domina-
ción". Aníbal Quijano. In Cultura y Dependencia Alfredo Chacon.
Montevidéu, 1974.
3: Sobre a utilização do conceito "política instrumental" c "agir ins-
CULTURA POPULAR: CONSERVADORA?(*)
trumental", ver: '·Crítica de Ia Razón instrumental". Max Hork-
heimer, Ed. Sur, Buenos Aires, 1973 e "La techniqu~ et Ia sciences
comme idéologie". Jürgen Habermas, Ed. Gallimard, Paris, 1973: Antônio Augusto Arantes Neto
Ver ainda "Conhecimento e Interesse", de Jiirgen Habermas, in Pen-
sadores, n. 0 48. Ed. Abril, 1975.
4: Consultar "A Cultura afirmativa". Herbert Marcuse. In "Cultura e A minuta apresentada pela coordenação da mesa aponta
Sociedade". Ed. Presença, Lisboa, 1970.
para a dimensão política da "questão da cultura popular" ao
5 e 6: Consultar "Formalismo e Tradição Moderna", José Guilherme Mer-
quior. p. 133, Ed. Forense/USP. São Paulo, 1974.
referir-se ao que ela chama de "ambigüidade" das .manifes-
7 e 8: ''Literatura e Vida Nacional". Antônio Gramsci. p. 184, Ed. Civili- tações culturais populares. Diz ela: "se, por um lado, elas têm
zação Brasileira, Rio de Janeiro. 1968. Ver ainda "Analisis de la um nítido valor de resistência à apropriação e ao controle (en-
Cultura Subalterna''. L. Sartriani. Ed. Gallerna. Buenos Aires, 1974. quanto são a reinvenção da capacidade de simbolizar, de vi-
SI: "Formas de Organização da Atividade Econômica e Estrutura Ocu- ver, de uma classe), por outro, assinalou Cavalcanti Proença
pacional". Elizabeth Jalin. In Cadernos Cebrap, n. 0 9, pgs. 53/54.
São Paulo, 1976. que " ... há na literatura (cultura?) popular muito conservado-
10: "Ideologia, Estrutura e Comunicação". Eliseo Veron. Ed. Cultrix, rismo e uma tendência ao equilíbrio social ( ... )" (p. 6).
São Paulo, 1969. Esta é, ao meu ver, uma falsa questão que decorre em
li e 12: "Lenguaje e Comunicación Social". Eliseo Veron. pgs. 141 e 142. grande parte do fato de se analisar as manifestações culturais
Ed. Nueva Vision. Buenos Aires, 1974.
como "coisas", ou, na melhor das hipóteses, como "bens aca-
13: Consultar ainda: "O Bloco Histórico". Hugo Portelli. Ed. Paz e
Terra. Rio de Janeiro, 1976.
bados", de pior ou melhor qualidade, conforme seja o caso e,
14: "Cultura do Povo e Autoritarismo das Elite>". op. cit., p. 3. sobretudo, o critério de quem julga, mais ou menos conserva-
doras, e que, uma vez produzidas, são reincorporadas à vida
OBSERVAÇÕE~·: As fontes assinaladas sem referência de página~ se consti- social que as gerou.(!)
tuem apenas em subsídios para o aprofundamento das questões Gostaria de colocar, a esse respeito, dois problemas.
suscitadas no trabalho.
Primeiro, até que ponto esse caráter conservador ou de
resistência ·são características intrínsecas às manHestações
culturais populares; ou, em outros termos, qual a estratégia de
análise mais adequada à compreensão da ideologia presente

( *) Trabalho apresentado na XXIX Reunião da Sociedade Brasileira Para o


Progresso da Ciência, em São Paulo, 1977.
(1) Cf.: E. R. Durham: "A dinàmica cultural na Sociedade Moderna", in
Cadernos de Opinião, n. 0 4.

162 REV. C. SOCIAIS, FORTALEZA, V. VIII, N.os 1-2 (1977) 143-162 REV. C. SOCIAIS, FORTALEZA, V. VIII, N.os 1-2 (1977), 163 - 169 163
ou expressa através delas? E, segundo, que tipo de política
cultural seria efetivamente favorável ao fortalecimento e ao Esta, que É: uma exortação ainda oportuna nos dias de hoje
desenvolvimento (e não à conservação) da cultura das classes em que vivemos de certo modo numa perplexidade teórica
populares? Parece-me que estas duas questões estão na ver- face aos fenômenos culturais populares - ao trabalho de cam-
dade intimamente relacionadas. O ponto de vista que eu gos- po, a que se veja, registre e testemunhe que o evento cultural
taria de desenvolver aqui é o de que um encaminhamento ade- vive "no contexto da vida tribal" (p. 146), sugere por outro lado
quado da reflexão sobre esses problemas depende de que se ao analista que, para ser compreendido adequadamente, esse
desloque o foco que ora incide sobre os produtos terminais para e~.;ento deve ser relacionado com o "todo social" ... essa pers-

as componentes políticas do processo através do qual os even- pectiva, coloca esse autor, vê-se que "o mito (e como ele ou-
tos culturais são produzidos. Esse é, ao meu ver, o lugar privi- tros produtos culturais) corresponde efetivamente a uma rea-
legiado onde as manifestações culturais como produtos assu- lidade cultural definida, pois todas as manifestações concre-
mem suas características políticas fundamentais. Com o risco tas das crenças, sentimentos e apreensões nativos com rela-
ele ser taxado aqui de antiquado, espero contribu:r ao debate ção à morte e à vida extra-terrena são unificados e formam
sobre "a questão da cultura popular" desenvolvendo esse ponto uma grande unidade orgânica". (p. 136).
de vista. Pois, na verdade, o seu fundamento teórico remonta ao Aí está, na verdade, e como é sobejamente conhecido,
livro Política/ Systems ot Highland Burma de Edmund Leach, uma das formulações mais criticáveis do funcionalismo.
publicado em 1954, em Londres, e certamente bastante conhe- Pois, se por um lado, ela é crítica da perspectiva difusio-
cido de todos. Mas como me parece que nossos pesqu·sadores nista que teve o efeito de justicar perante os intelectuais e
não levaram suficientemente em consideração a sua tese cen- administradores a apropriação, a descontextualização e sobre-
tral que me parece altamente pertinente para as anál ises que tudo a desvitalização dos produtos culturais (materiais ou não)
nos temos proposto, vou reproduzi-la aqui após uma rápida di- de vários povos num momento preciso da História, por outro
gressão sobre o contexto teórico em que ela foi formulada. ela elimina da reconstrução dos fenômenos sociais o que estes
Em seguida, para dar um mínimo de concre tude às minhas possuem de dinâmico e vivo, trabalhando no interior de mode-
reflexões, vou me apoiar em material coletado por mim mesmo los conceituais que primam a noção de "equilíbrio" é, conse-
em trabalho de campo na Bahia. qüentemente, que absorvem, abafam as tensões, oposições,
Em oposição ao difusionismo que tanto influenciou e tem contradições que existem nas sociedades reais. E, em conse-
influenciado as pesquisas na área do folclore, e onde uma das qüência disso, os eventos culturais em geral e em particular
peocupações básicas foi - e tem sido - a de traçar as traje- aqueles que se referem de perto aos valores mais "sagrados"
tórias dos costumes, objetos, ritos, mitos, no tempo e no espaço, dos grupos sociais são vistos necessariamente como se
para além dos limites políticos dos povos e grupos sociais, Ma- fossem intrinsecamente, e em grifo esse termo, imbuídos de um
linowski num de seus ensaios hoje clássicos afirmou o se- caráter predominantemente conservador.
guinte: "os contos populares, as lendas e os mitos precisam
Além disso, como afirma Leach: "No esquema malinows-
ser soerguidos de sua existência achatada no papel e coloca-
kiano os vários aspectos de uma cultura são necessariamente
dos na realidade tridimensional da vida vivida" (MPP, p.
integrados de modo a formar um todo consistente; por conse-
146) (2).
guinte, os mitos de um povo são vistos como se fossem mu-
(2) B. Malinowski: "Myth in Primitive Psychology", in Magis, Science and tuamente coerentes- é como se para qualquer grupo de pes-
Religion. soas houvesse apenas uma cultura, um sistema estrutural, um

164 REV. C. SOCIAIS, FORTALEZA, V. VIII, N.os 1-2 (1977), 163- 169
REV. C. SOCIAIS, FORTALEZA, V. VIII, N.os 1-2 (1977), 163 - 169 165
ou expressa através delas? E, segundo, que tipo de política
cultural seria efetivamente favorável ao fortalecimento e ao Esta, que 6 uma exortação ainda oportuna nos dias de hoje
desenvolvimento (e não à conservação) da cultura das classes em que vivem os de certo modo numa perplexidade teórica
populares? Parece-me que estas duas questões estão na ver- fnce aos fenômenos culturais populares - ao trabalho de c am-
dade intimamente relacionadas. O ponto de vista que eu gos- po, a que se veja, reg istre e testemunhe que o evento cultural
taria de desenvolver aqui é o de que um encaminhamento ade- vive "no contexto da vida tribal" (p. 146), sugere por outro lado
quado da refl exão sob re esses problemas depende de que se ao analista que, pa ra ser compreendido adequadamente, esse
desloque o foco que ora incide sobre os produtos terminais para e~.;ento deve ser relacionado com o " todo social" . .. essa pers-

as componentes políticas do processo através do qual os even- pectiva, coloca esse autor, vê-se que "o mito (e como ele ou-
tos culturais são produzidos. Esse é, ao meu ver, o lugar privi- tros produtos culturais) corresponde efetivamente a uma rea-
legiado onde as manifestações culturais como produtos assu- lidade cultural definida, pois todas as manifestações concre-
mem suas características políticas fu ndamentais. Com o risco tas das crenç as, sentimentos e apreensões nativos com rela-
ele ser taxado aqui de antiquado, esp ero contribu :r ao debate ção à morte e à vida extra-terrena são unificados e formam
sobre "a questão da cultu ra popular" desenvolvendo esse ponto uma grande unidade orgân ica". (p. 136).
de vista. Pois, na verdade, o seu fundamento teórico re monta ao Aí está, na verdade, e como é sobej amente conhecido,
livro Política/ Systems ot Highland Burma de Edmund Leach, uma das formulações mais criticáveis do func ionalismo.
publicado em 1954, em Londres, e certamente bastante conhe- Pois, se por um lado, ela é crítica da perspectiva difusio-
cido de todos. Mas como me parece qu e nossos pesqu ·sadores nista que teve o efeito de justicar perante os intelectuais e
não levaram suficientemente em consideração a sua tese cen- administrad ores a aprop riação, a descontextualização e sobre-
tral que me parece altamente pertinen te para as anál ises que tudo a desvitalização dos produtos culturais (materiais ou não)
nos temos proposto, vou reproduzi-la aqu i após uma rápida di- de vários povos num momento prec iso da História, por outro
gressão sobre o contexto teórico em que ela foi formulada. ela elimina da reconstrução dos fenômenos sociais o que estes
Em seguida, para dar um mínimo de concret ude às minhas possuem de dinâmico e vivo, trabalhando no interior de mode-
reflexões, vou me apoiar em material coletado por mim mesmo los conceituais que primam a noção de "equilíbrio" é, conse-
em trabalho de campo na Bahia. qüentemente, que absorvem, abafam as tensões, oposições,
Em oposição ao difusionismo que tan to influenciou e tem contradições que existem nas sociedades reais. E, em conse-
influenciado as pesquisas na área do folclore , e onde uma das qüência disso, os eventos culturais em geral e em particular
peocupações básicas foi - e tem sido - a de t raça r as traje- aqueles que se referem de perto aos valores mais "sagrados"
tórias dos costumes, objetos, ritos , mitos, no tempo e no espaço, dos grupos sociais são vistos necessariamente como se
para além dos limites políticos dos povos e grupos soc iais, Ma- fossem intrinsecamente, e em grifo esse termo, imbuídos de um
linowski num de seus ensaios hoje clássicos afirmou o se- caráter predominantemente conservador.
gu inte: "os contos populares, as lendas e os mitos precisam
Além disso, como afirma Leach: "No esquema malinows-
ser soergu idos de sua existência achatada no papel e coloca-
kiano os vários aspectos de uma cultura são necessariamente
dos na realidade tridimensional da vida vivida" (MPP, p.
integrados de modo a formar um todo consisten te; por conse-
146) (2).
guinte, os mitos de um povo são vistos como se fossem mu-
(2 ) B . Malinows ki: "M yth in Prirnitive Psychology", in Magis, Science and tuamente coerentes- é como se para qualquer grupo de pes-
R eligion. soas houvesse apenas uma cultura, um sistema estrutural, um

164 REV. C. SOCIAIS , FORTALEZA, V. VIII, N.os 1-2 (1977), 163- 169
REV. C. SOCIAIS, FORTALEZA, V. VIII, N.os 1-2 (1977), 163 - 169 165
conjunto coerente de mitos" (PSHB, p. 265) (3) . A consequên- Para baixar de· novo à terra, consideremos um exemplo.
cia disso, em termos de trabalho de campo, e certamente em No período do Governo Castelo Branco um poeta (de cor-
termos de uma política cultural que indague sobre "o que con- del) escreveu um Padre Nosso numa cidade da Bahia. Pensan-
servar", é que se procurará erroneamente a versão autêntica, do em imprimi-lo para vender nas feiras, conhecendo as leis
primeira, verdadeira, completa e sobretudo "correta" dos even- de censura e preocupado com a repressão, o seu autor consul-
tos culturais, deixando de lado as discrepâncias reais entre tou um amigo e ambos resolveram tornar o texto publicável,
as suas diferentes manifetações ou versões. modificando estrofes que acharam "fortes demais".
"No caso da mitologia Kachin", diz Leach - (p. 265/6) Para que se possa avaliar o peso dessas modificações em
"não há possibilidade de eliminar as contradições e incoerên- termos da perspectiva política efetivamente expressa pelo
cias. Elas são fundamentais ( ... ) e contar uma estória ( . .. ) texto publicado, apresento aqui a versão modificada e em se-
tem uma finalidade; serve para validar o status do indivíduo guida a versão original de algumas estrofes desse Padre Nosso:
que a conta, ou melhor, do indivíduo que paga a um contador
para contar estória ( ... ) Mas se o status de um indivíduo é va- PAI NOSSO DA POBREZA
lidado, isto significa quase sempre que o status de outro é de-
negrido. PAI NOSSO QUE ESTAIS NO CEU
Pode-se mesmo partir da premissa de que todo conto tra-
dicional ocorrerá em diferentes versões, cada uma tendendo a criador do mundo inteiro
apoiar as reivindicações de diferentes grupos de interesse. vem livrar os nossos filhos
(p . 265/6). da guerra e do cativeiro
Este modo de colocar o estudo da cultura recupera, ao livra o mundo que nos deste
meu ver, uma das dimensões de seu aspecto dinâmico. "O mito da fome, da guerra e peste
e o rito são uma linguagem de signos", diz esse mesmo autor, do Brasil e do estrangeiro
"em termos da qual são expressas reivindicações de direito e
de status, mas são uma linguagem de discussão e não um coro SANTIFICADO ~t O TEU NOME
de harmonia" (p . 278).
Ou seja, entre, de um lado, os sistemas simbólicos que e os anjos digam amém
podem ser descritos como linguagens, ou seja, através de sua a pobreza está morrendo
sintaxe e semântica próprias e, de outro, os eventos culturais sem proteção de ninguém
efetivamente produzid os por um grupo social, ou seja, entre para uns tanta riqueza
a língua e· a fala, e quisermos recorrer a imagens saussurea- outros com tanta pobreza
nas, há a mediação necessária e· determinante do jogo de in- dai-nos um pouco também
teresses políticos. Este é quem gera, no final de contas, as di-
ferentes versões de um fenômeno cultural e determina os seus VENHA A NóS O VOSSO REINO
limites de variação, este é quem dá sentido a cada um deles
e ao seu conjunto. e a vossa santidade
fazei que o rico tenha
(3) - E. R . Leach - Política[ systems of Highland Burma, London, 1954. um pouco de humanidade

166 REV. C. SOCIAIS, FORTALEZA, V. VIII, N.os 1-2 (1977), 163- 169 REV. C. SOCIAIS, FORTALEZA, V. VIII, N.os 1-2 (1977), 163- 169 167
~

conjunto coerente de mitos" (PSHB, p. 265) (3). A consequên- Para baixar de· novo à terra, consideremos um exemplo.
cia disso, em termos de trabalho de campo, e certamente em No período do Governo Castelo Branco um poeta (de cor-
termos de uma política cultural que indague sobre "o que con- del) escreveu um Padre Nosso numa cidade da Bahia. Pensan-
servar", é que se procurará erroneamente a versão autêntica, do em imprimi-lo para vender nas feiras, conhecendo as leis
primeira, verdadeira, completa e sobretudo "correta" dos even- de censura e preocupado com a repressão, o seu autor consul-
tos culturais, deixando de lado as discrepâncias reais entre tou um amigo e ambos resolveram tornar o texto publicável,
as suas diferentes manifetações ou versões. modificando estrofes que acharam "fortes demais".
"No caso da mitologia Kachin", diz Leach - (p. 265/6) Para que se possa avaliar o peso dessas modificações em
"não há possibilidade de eliminar as contradições e incoerên- termos da perspectiva política efetivamente expressa pelo
cias. Elas são fundamentais ( ... ) e contar uma estória ( . .. ) texto publicado, apresento aqui a versão modificada e em se-
tem uma finalidade; serve para validar o status do indivíduo guida a versão original de algumas estrofes desse Padre Nosso:
que a conta, ou melhor, do indivíduo que paga a um contador
para contar estória ( ... ) Mas se o status de um indivíduo é va- PAI NOSSO DA POBREZA
lidado, isto significa quase sempre que o status de outro é de-
negrido. PAI NOSSO QUE ESTAIS NO GEU
Pode-se mesmo partir da premissa de que todo conto tra-
dicional ocorrerá em diferentes versões, cada uma tendendo a criador do mundo inteiro
apoiar as reivindicações de diferentes grupos de interesse. vem livrar os nossos filhos
(p. 265/6). da guerra e do cativeiro
Este modo de colocar o estudo da cultura recupera, ao livra o mundo que nos deste
meu ver, uma das dimensões de seu aspecto dinâmico. "O mito da fome, da guerra e peste
e o rito são uma linguagem de signos", diz esse mesmo autor, do Brasil e do estrangeiro
"em termos da qual são expressas reivindicações de direito e
de status, mas são uma linguagem de discussão e não um coro SANTIFICADO :~ O TEU NOME
de harmonia" (p. 278).
Ou seja, entre, de um lado, os sistemas simbólicos que e os anjos digam amém
podem ser descritos como linguagens, ou seja, através de sua a pobreza está morrendo
sintaxe e semântica próprias e, de outro, os eventos culturais sem proteção de ninguém
efetivamente produzidos por um grupo social, ou seja, entre para uns tanta riqueza
a língua e· a fala, e quisermos recorrer a imagens saussurea- outros com tanta pobreza
nas, há a mediação necessária e· determinante do jogo de in- dai-nos um pouco também
teresses políticos. Este é quem gera, no final de contas, as di-
ferentes versões de um fenômeno cultural e determina os seus VENHA A NóS O VOSSO REINO
limites de variação, este é quem dá sentido a cada um deles
e ao seu conjunto. e a vossa santidade
fazei que o rico tenha
(3) - E . R . Leach - Political systems of High land Burma, London, 1954.
um pouco de humanidade

166 REV. C. SOCIAIS, FORTALEZA, V. VIII, N.os 1-2 (1977), 163- 169 REV. C. SOCIAIS, FORTALEZA, V. VIII, N.os 1-2 (1977) , 163- 169 167
não para dar sua riqueza Strauss em várias de suas obras são relativamente a-históricos,
mas que ajude a pobreza de certo modo a-temporais , e devem ser descritos e anal isa-
com pequena quantidade dos em si mesmos e por si mesmos. Por outro lado, modelos,
formas padronizadas de se articular símbolos culturais de modo
* SEJA FEITA A VOSSA VONTADE a se produzir o que chamamos aqui de eventos ou produtos
culturais são legados pela tradição de cada grupo social. Refi-
de acordo com o vosso gosto ro-me aqui , por exemplo, aos princípios estruturais especifica-
é o que nós desejamos mente literários e musicais, numa palavra estéticos, que orien-
de manhã ao sol posto tam a criação poética, a literatura oral; refiro-me à estrutura
pois queremos trabalhar que venhas meter o pau das festas e danças, dos ritos; dos estilos de pintura, escultu-
para assim poder pagar neste governo tão mau ra, cerâmica etc. Estes também podem e devem ser descritos
com ma:s prazer o imposto que só faz cobrar imposto e analisados em si mesmos e por si mesmos.
rt no contexto da vida social , entretanto, no âmbito da
~' ASSIM NA TERRA COMO NO CtU história de homens reais, que essas matrizes abstratas preen-
chem esses modelos, essas "maneiras corretas" de dizer e de
é que queremos viver fazer, e ganham a sua significação.
não pode tudo ser rico todos iguais em riqueza Deste ponto de vista, pensar a cultura como acervo que se
e nem igual no poder todos iguais em poder transmite de geração a geração, como patrimônio ou tradi-
porém eu me aperreio venha reinar em nosso me!o ção, é perder de vista que ela vive e só ganha sentido na di-
de ver trabalhar o feio para que não trabalhe o feio nâmica da história do grupo social que a produz. Assim, falar
para o bonito comer para o bonito comer de preservação da cultura e da arte populares por exemplo
me parece no mínimo falacioso pois elas florescerão necessa-
* O PÃO NOSSO DE CADA DIA riamente desde que os seus produtores e fruidores tenham
espaço e liberdade para expressar a sua percepção das con-
os avarentos tomaram os homens ricos tomaram tradições estruturais por eles vividas.
os direitos dos pequenos e· todo o nosso produto
os tubarões embargaram em armazéns depositaram
estamos morrendo à fome
e de Deus o Santo nome
há tempos negociaram
etc.

Duas versões de um mesmo texto. Pergunto: conservador?


Qual a versão "correta"?
Gostaria de frizar aqui que não estou propondo que se
reduza o estudo da cultura ao das condições que determinam
a sua produção. Os sistemas simbólicos, como most ram C. Levi

168 REV. C. SOCIAIS , FORTALEZA, V. VIII, N.os 1-2 (1977) , 163- 169 REV. C. SOCIAIS, FORTALEZA, V. VIII, N.os 1-2 (1977), 163- 169 169
não para dar sua riqueza Strauss em várias de suas obras são relativamente a-históricos,
mas que ajude a pobreza de certo modo a-tempo rais , e devem ser descritos e analisa-
com pequena quantidade dos em si mesmos e por si mesmos. Por outro lado, modelos,
formas padronizadas de se articular símbolos culturais de modo
* SEJA FEITA A VOSSA VONTADE a se produzir o que chamamos aqui de eventos ou produtos
culturais são legados pela tradição de cada grupo social. Refi-
de acordo com o vosso gosto ro-me aqui , por exemplo, aos princípios estruturais especifica-
é o que nós desejamos mente literários e musicais, numa palavra estéticos, que orien-
de manhã ao sol posto tam a criação poética, a literatura oral; refiro-me à estrutura
pois queremos trabalhar que venhas meter o pau das festas e danças, dos ritos ; dos estilos de pintura, escultu-
para assim poder pagar neste governo tão mau ra, cerâmica etc. Estes também podem e devem ser descritos
com ma:s prazer o imposto que só faz cobrar imposto e analisados em si mesmos e por si mesmos.
r~:: no contexto da vida social , entretanto, no âmbito da
* ASSIM NA TERRA COMO NO CtU história de homens reais, que essas matrizes abstratas preen-
chem esses modelos, essas "maneiras corretas" de dizer e de
é que queremos viver fazer, e ganham a sua significação.
não pode tudo ser rico todos iguais em riqueza Deste ponto de vista, pensar a cultura como acervo que se
e nem igual no poder todos iguais em poder transmite de geração a geração, como patrimônio ou tradi-
porém eu me aperreio venha reina r em nosso me !o ção, é perder de vista que ela vive e só ganha sentido na di-
de ver trabalhar o feio para que não trabalhe o feio nâmica da história do grupo social que a produz. Assim, falar
para o bonito comer para o bonito comer de preservação da cultura e da arte populares por exemplo
me parece no mínimo falacioso pois elas florescerão necessa-
~~ o PÃO NOSSO DE CADA DIA riamente desde que os seus produtores e fruidores tenham
espaço e liberdade para expressar a sua percepção das con-
os avarentos tomaram os homens ricos tomaram tradições estruturais por eles vividas.
os direitos dos pequenos e todo o nosso produto
os tubarões embargaram em armazéns depositaram
estamos morrendo à fome
e de Deus o Santo nome
há tempos negociaram
etc.

Duas versões de um mesmo texto. Pergunto: conservador?


Qual a versão "correta"?
Gostaria de frizar aqui que não estou propondo que se
reduza o estudo da cultura ao das condições que determinam
a sua produção. Os sistemas simbólicos, como mostram C. Levi

168 REV. C. SOCIAIS , FORTALEZA, V. VIII, N.os 1-2 (1977) , 163- 169 REV. C. SOCIAIS, FORTALEZA, V. VIII, N.os 1-2 (1977 ) , 163 - 169 169

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