Sunteți pe pagina 1din 7

LIMA BARRETO E OS SUBÚRBIOS CARIOCAS

Mariah de Resende Gonçalves1

I. INTRODUÇÃO

Não foram poucas vezes em que nos diários, crônicas e novelas, Lima referiu-se
aos subúrbios e a linha da estrada de ferro da Central do Brasil. A “cidade”, que
é a maneira como os suburbanos chamam até hoje a região central da capital do
Rio de Janeiro, era sem dúvida sua boa companheira. (SCHWARCZ, 2017, p.
163).

Ao ler as obras de Lima Barreto2, podemos observar que a cidade do Rio de


Janeiro foi um tema recorrente em sua literatura. Além disso, como já era de se esperar,
ele não se limita a apenas escrever sobre a cidade e seus subúrbios a partir de um tom
acrítico. Ao invés disso, o autor não deixa de marcar as desigualdades discrepantes entre
o centro e os subúrbios cariocas, conforme afirma Igor Fernandes Viana de Oliveira:

O tipo de perspectiva literária abraçado por Lima Barreto contribuiu


para que ele se voltasse para um Rio de Janeiro diferente daquele que
era imaginado pela elite republicana como a representação ordenadora
da modernidade nacional. Desconfiando do poder do remodelamento
urbano em resolver definitivamente os embates da cidade, bem como
com a capacidade do discurso científico de sua época em construir um
mundo completamente estável, previsível e ordenado. (OLIVEIRA,
2013, p.108.).

É possível dizer, então, que da mesma maneira que a cidade era uma
personagem recorrente de Lima Barreto, sempre presente em suas crônicas e romances,
Lima foi um frequentador assíduo do trem –de segunda Classe – para transitar
cotidianamente entre o subúrbio e a região central, era um personagem importante da
cidade do Rio de Janeiro.
Nesse sentido, o subúrbio sempre representou parte da literatura de Lima
Barreto, assim como a questão racial, outra realidade vivenciada por ele e denunciada
em seus escritos, e, portanto, Lima era também era um personagem que representava o
subúrbio, conforme afirma Lilia Schwarcz:

1
Acadêmica do curso de Letras/Literaturas da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Este trabalho foi apresentado como avaliação da disciplina Fundamentos da Cultura Brasileira,
ministrado pela Prof.ª Dr.ª Luciana Nascimento no 1º semestre de 2018.
2
Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro em 1881. Autor de inúmeros romances,
contos e crônicas, escreveu regularmente sobre a cidade e a vida urbana do Rio de Janeiro, onde faleceu
em 1922.
Formatted: Footer
Os subúrbios cariocas e a linha da Estrada de Ferro Central do Brasil
foram motes prediletos na obra de Lima Barreto. Por vezes eles
surgiam como coadjuvantes; por vezes, viravam atores principais. No
"centro" ele trabalhava como amanuense, encontrava sua turma de
farras, percorria os bares e as redações de jornal (cf. Resende, 2016).
Era também por lá que perambulava e colhia material, andava
como flâneur, ou simplesmente acompanhava o ritmo acelerado da
cidade. Era, porém, no percurso que percorria todos os dias - do
subúrbio de Todos os Santos, na Rua Boa Vista, até a Secretaria da
Guerra, que ficava na Praça da Aclamação (atual Praça da República),
e vice-versa -, que o escritor encontrava tempo para observar não só
passageiros, como as arquiteturas das várias estações, os vizinhos, os
"aristocratas do local", os funcionários públicos como ele, os
estudantes, os humilhados, os operários, as moças. O trajeto do trem
era pretexto, ainda, para marcar diferenças sociais que delimitavam
classe, raça, gênero e região, singularidades que ficavam ainda mais
claras quando comparadas com a população da capital. O importante é
que no conjunto de sua obra o escritor vai elaborando essa geografia
íntima, a partir do percurso que empreendia entre os subúrbios e o
centro do Rio, e o oposto também. (SCHWARCZ, 2017, P. 123.).

Como se pode observar, Lima Barreto foi um crítico mordaz da República


Velha, estabeleceu ruptura com o nacionalismo ufanista e tomou a ‘literatura como
missão.” (SEVCENKO, 2003).

II. A CIDADE E OS SUBÚRBIOS DE ANTIGOS TEMPOS NA


CRÔNICA BARRETIANA

Lima Barreto estabeleceu uma militância na imprensa, ao publicar crônicas nos


jornais. Nas crônicas, o escritor manifestava a sua visão acerca dos governantes da
cidade do Rio de Janeiro, constatando que esses buscaram na modernização da cidade
somente a cópia de modelos estrangeiros, com vistas a inserir o Brasil na nova ordem
capitalista, sem que houvesse, de fato, melhorias para o cidadão. Num texto fluido e em
tom de conversa, o que caracteriza o gênero crônica, Lima se apodera da palavra para
denunciar as injustiças sociais.
Antonio Candido, em seu texto, a Vida ao rés do chão, nos mostra que a crônica
se caracteriza por ser um texto leve, de comentários sobre o cotidiano, tendo nascido
dentro do jornal como folhetim. Folhetim era o espaço do jornal dedicado à publicação
de assuntos variados, dentre eles, os romances folhetinescos, ocupando o espaço do
rodapé do jornal, também chamado, em francês, rez-de-chaussée (rés-do-chão).
Formatted: Footer
Antes de ser crônica propriamente dita foi "folhetim", ou seja, um
artigo de rodapé sobre as questões do dia — políticas, sociais,
artísticas, literárias (...) Aos poucos o "folhetim" foi encurtando e
ganhando certa gratuidade, certo ar de quem está escrevendo à toa,
sem dar muita importância. Depois, entrou francamente pelo tom
ligeiro e encolheu de tamanho, até chegar ao que é hoje.
Ao longo deste percurso, foi largando cada vez mais a intenção de
informar e comentar (deixada a outros tipos de jornalismo), para ficar
sobretudo com a de divertir. A linguagem se tornou mais adentro.
Creio que a fórmula moderna, na qual entra um fato miúdo e um toque
humorístico, com o seu quantum satis de poesia, representa o leve,
mais descompromissada e (fato decisivo) se afastou da lógica
argumentativa ou da crítica política, para penetrar poesia
amadurecimento e o encontro mais puro da crônica consigo mesma .
(CANDIDO, 1980. P24)

Conforme afirma Beatriz Resende, Lima Barreto foi colaborador de variadas


revistas e jornais:
Após fracassada tentativa de criar sua revista, Floreal, em 1907, e de
rápida passagem pela Fon-Fon, Lima Barreto passa a colaborar em
revistas ilustradas sem A Careta, onde foi redator efetivo, escrevendo
por 15 anos , e O Malho, inicialmente humorístico mas que vai
adquirindo perfil político. Lima Barreto foi cronista apenas episódico
em revistas e jornais mais conhecidos como O País, A Notícia, O
Diário de Notícias, o Rio-Jornal. (RESENDE, 1989. P90)

Nesse sentido, apresentamos uma leitura de duas crônicas de Lima Barreto, a


saber: A Polícia suburbana e As enchentes, publicadas nos anos 1914 e 1915 no jornal
O correio da noite. Em A polícia suburbana, de 1914, o autor não hesita em mostrar seu
posicionamento sobre o policiamento no subúrbio e sobre “as intervenções” às quais os
subúrbios são submetidos a mando de não suburbanos:

Moro nos subúrbios há muitos anos e tenho o hábito de ir para a casa


alta noite. Uma vez ou outra encontro um vigilante noturno, um
policial e muito poucas vezes é-me dado ler notícias de crimes nas
ruas que atravesso. A impressão que tenho é de que a vida e a
propriedade daquelas paragens estão entregues aos bons sentimentos
dos outros e que os pequenos furtos de galinhas e coradouros não
exigem um aparelho custoso de patrulhas e apitos. Aquilo lá vai muito
bem, todos se entendem livremente e o Estado não precisa intervir
corretivamente para fazer respeitar a propriedade alheia. (BARRETO,
1914)

Formatted: Footer
Em seu texto, Charles Baudelaire um lírico no auge do capitalismo, Walter
Benjamin refere-se ao termo flâneur como sendo uma espécie de sujeito atento e
observador que vaga pelas ruas em uma reflexão sobre a cidade moderna. Esse conceito
pode ser observado em vários aspectos desta crônica de Lima Barreto, em que é
possível acompanhar um sujeito que vaga pelo subúrbio, observa e conhece suas ruas.

A rua se torna moradia para o flâneur que, entre as fachadas dos


prédios, sente-se em casa tanto quanto o burguês entre suas quatro
paredes. Para ele, os letreiros esmaltados e brilhantes das firmas são
um adorno de parede tão bom ou melhor que a pintura a óleo no salão
do burguês; muros são a escrivaninha onde apoia o bloco de
apontamentos; bancas de jornais são suas bibliotecas, e os terraços dos
cafés, as sacadas de onde, após o trabalho, observa o ambiente. Que a
vida em toda a sua diversidade, em toda a sua inesgotável riqueza de
variações, só se desenvolva entre os paralelepípedos cinzentos e ante o
cinzento pano de fundo do despotismo: eis o pensamento político
secreto da escritura de que faziam parte as fisiologias. (BENJAMIN,
1989, P35.)

Nesse sentido, em “A policia suburbana”, é possível construir uma imagem clara


de um observador anda pelo subúrbio e tem suas ruas como moradia. Ele as conhece tão
bem que entende seu cotidiano e tem segurança o suficiente para afirmar com firmeza
que “Aquilo lá vai muito bem”, trazendo reflexões sobre o Rio de Janeiro e a cidade
moderna.

No contexto do início do século XX, na Primeira República, o autor escrevia


sobre questões que dizem respeito à cidade como um todo, problemas estes, que são
muito semelhantes aos que o Rio de Janeiro enfrenta na atualidade. Em As Enchentes,
texto de Lima publicado em 1915, o autor escreve sobre um problema que até hoje
atinge os cariocas. Com um tom claro de crítica e ironia, sempre presentes em sua
escrita, Lima mostra também uma relação de reprovação explicita à Reforma Pereira
Passos, iniciada em 1903.

Não sei nada de engenharia, mas, pelo que me dizem os entendidos, o


problema não é tão difícil de resolver como parece fazerem constar os
engenheiros municipais, procrastinando a solução da questão. O
Prefeito Passos, que tanto se interessou pelo embelezamento da
cidade, descurou completamente de solucionar esse defeito do nosso
Rio. Cidade cercada de montanhas e entre montanhas, que recebe
violentamente grandes precipitações atmosféricas, o seu principal
defeito a vencer era esse acidente das inundações. Infelizmente,
porém, nos preocupamos muito com os aspectos externos, com as
Formatted: Footer
fachadas, e não com o que há de essencial nos problemas da nossa
vida urbana, econômica, financeira e social. (BARRETO, 1915).

No que diz respeito às reformas e as mudanças provocadas na cidade que tentava


“civilizar-se”, Paulo Sérgio Pinheiro escreve para a Folha de São Paulo em 1986.

Como os pastiches de “belle époque” parisiense que se construíram


toda a América Latina colonizada. Em meio à escravaria recém-
libertava o Rio de Janeiro se civilizava, com a ajuda de urbanismo
despótico que limpava o populacho do centro da cidade. Em 1890,
[..} 34% da população eram negros. As classes cultas fingiam não ver,
para não empanar um “Champs Elysées” tropical. (PINHEIRO, 1986)

Além de outra visão sobre o centro da cidade reformada, “As Enchentes” nos
fornece exemplos concretos de um traço da escrita de Lima que se faz tão presente
quanto o tom crítico: a ironia. Essa característica marcante do autor, na verdade, anda
ao lado da critica como explica Áureo Joaquim Camargo:

Ao invectivar e ironizar as situações e personalidades, o escritor não


quer apenas rebaixar, ele quer transformar. Lima Barreto constrói sua
crítica na justa medida de quem procura no horizonte um novo
momento para sua nação. Ele procura desconstruir uma sociedade
viciada e injusta, mas, acima de tudo, propõe soluções. É a chave da
ironia: aquilo que está escrito é na verdade o reverso do espelho.
(CAMARGO, P12, 2010)

É possível através dessa crônica, observar como o autor “ironiza as situações e


personalidades”, na maneira como ironiza a figura de Pereira Passos em: “Prefeito
Passos, que tanto se interessou pelo embelezamento da cidade, descurou completamente
de solucionar esse defeito do nosso Rio”. Toda a situação controversa em que o Rio se
encontrava enquanto tentava parecer mais civilizado e excluía parte da população e não
levava em conta infraestrutura básica é ironizada por Lima. Como destacado no trecho
acima, a critica social atrelada à ironia está ligada ao fato de que Lima enxergava na
literatura o meio de transformação social.

III. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Lima Barreto, conhecido por suas ironias, denuncias e teimosias, não deixou sua
experiência suburbana fora de sua “literatura militante”. Em seus escritos, Lima mostra
o subúrbio através de diferentes perspectivas, algumas vezes de maneira mais distante e

Formatted: Footer
coadjuvante, outras de forma mais central e protagonista. Entretanto, não se pode negar
que o subúrbio sempre foi um personagem significativo para Lima Barreto.

Através de seus escritos, como se pode ver pelas crônicas aqui analisadas, Lima
apontava as contradições dessa cidade marcada por desigualdades. Ao ironizar tais
contradições, Lima se apropriava dos personagens controversos desta cidade, por isso,
políticos –e outras figuras das quais o autor descordava –estavam constantemente
presentes em sua literatura.

Por conta disso, quando trata das desigualdades, o autor não ignora as diferenças
entre o subúrbio e o centro. E quando aponta as contradições, Lima não deixa de
apresentar a visão de um suburbano, uma vez que vivenciou essa realidade. Portanto,
Lima acrescenta essa visão para literatura, além de apontar a diferença entre o subúrbio
e o centro como uma contradição por si só.

Assim, quando se trata de Lima Barreto, é possível destacar traços


característicos deste escritor ímpar da literatura brasileira. Lima é sempre lembrado por
suas criticas e ironias, no que diz respeito ao seu estilo de escrita. Entretanto, é preciso
lembrar também, desse personagem importantíssimo para Lima: o subúrbio.

IV. REFERÊNCIAS

BARRETO, Lima. Vida Urbana: Artigos e Crônicas. São Paulo: Brasiliense, 1956.

BENJAMIN, Walter. O Flâneur. In: _____Obras escolhidas III – Charles Baudelaire


um Lírico no Auge do Capitalismo. Trad. José Carlos Martins Barbosa e Hemerson
Alves Baptista. São Paulo: Brasiliense, 1989.

CAMARGO, A. J. Da invectiva à ironia em Lima Barreto. In: SEL – SEMINÁRIO DE


ESTUDOS LITERÁRIOS, 10.,2010. Assis. Anais...Unesp. 2010. P.13

CANDIDO, Antonio. A vida ao rés do chão. In: In: ______. A crônica: o gênero, sua
fixação e suas transformações no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa,
1992.

OLIVEIRA, Igor Fernandes Viana de. O escritor e a cidade: literatura, modernidade e


o Rio de Janeiro na obra de Lima Barreto. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro. Dissertação apresentada como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em História Social da
Cultura do Departamento de História do Centro de Ciências Sociais da PUC-Rio, 2013.

Formatted: Footer
Disponível em https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/23905/23905_1.PDF. Acesso em
30/06/2018

PINHEIRO, Paulo Sérgio. Viagem ao lado obscuro da Belle Époque carioca. Folha de
S.Paulo, São Paulo, 4 de maio de 1986. Livros, p. 92.

REZENDE, Beatriz. Lima Barreto e a República. Revista USP, Brasil, n. 3, p. 89-94,


nov. 1989. ISSN 2316-9036. Disponível em:
<http://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/65409>. Acesso em: 14 july 2018.
doi:http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i3p89-94.

SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na


Primeira República. 4. ed. São Paulo: Brasiliense. 1995

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Da minha janela vejo o mundo passar: Lima Barreto, o
centro e os subúrbios. In: Estudos Avançados. vol.31 no.91 São Paulo Set./Dez. 2017,
p. 123-142. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ea/v31n91/0103-4014-ea-31-91-
0123.pdf. Acesso em 01/06/2018.

______. Lima Barreto, triste visionário. São Paulo: Cia. das Letras, 2017

Formatted: Footer

S-ar putea să vă placă și