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I. Introdução
Art. 6º - Qualquer cessão autorizada por esta Lei será objeto de instrumento específico, com
identificação dos créditos cujo fluxo financeiro estará incluído.
§ 1° - A cessão se fará em caráter definitivo, sem assunção, pelo Estado, perante o cessionário,
de qualquer responsabilidade pelo efetivo pagamento a cargo do contribuinte ou de qualquer
outra espécie de compromisso financeiro que possa, nos termos da Lei Complementar Federal
n° 101, de 4 de maio de 2000, caracterizar operação de crédito.
Essa definição é crucial, pois somente os direitos creditórios, cujo fato gerador é
pretérito em relação à operação de securitização, podem fazer parte da operação de securitização
e não os direitos creditórios que sejam fruto de fatos geradores posteriores à operação.
Em reforço à tese de que não se trata de operação de crédito – e se assim o fosse, estaria
essa operação enquadrada na Resolução nº 43 do Senado Federal e, necessariamente, exigiria
manifestação da STN – a PGFN, no mesmo parecer, aventa (e afasta, como será mostrado a
seguir) a possibilidade de a simples antecipação de receita futura seria condição suficiente para
a caracterização de operação de crédito. Explicitamente, coloca: “(...) única questão de natureza
jurídico-conceitual, relevante para a resposta aos questionamentos postos pelo ente à STN, ainda
não abordada explicitamente nos pareceres da PGFN sobre o tema. Trata-se do argumento,
esposado pela douta Procuradoria Especializada junta à CVM, segundo a qual a antecipação
de recursos futuros, por si só, seria condição suficiente para a caracterização de operação
de crédito.” (grifo nosso).
O Refis
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Disponíveis respectivamente em:
http://www.fazenda.rj.gov.br/sefaz/faces/menu_structure/legislacao/legislacao-indice-remissivo-
navigation/folder/indice_remissivo?_afrLoop=1016830068800000&datasource=UCMServer%23dDocName%3AW
CC226805&_adf.ctrl-state=ga6ajksnk_37;
http://www1.fazenda.gov.br/confaz/confaz/Convenios/ICMS/2013/CV128_13.htm;e
http://www.fazenda.rj.gov.br/sefaz/faces/menu_structure/legislacao/legislacao-indice-remissivo-
navigation/folder/indice_remissivo?_afrLoop=1023235192181000&datasource=UCMServer%23dDocName%3AW
CC230104&_adf.ctrl-state=y9us8wvgf_167
2
Valor original refere-se ao montante de débito consolidado, apurado no momento da solicitação de ingresso no
Programa de Parcelamento.
3
Valor apurado quando aplicadas as regras de descontos previstas no Programa de Parcelamento.
4
Valor apurado com a aplicação de juros incidentes sobre o valor com desconto, uma vez definido o prazo de
parcelamento.
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Os valores de setembro/2014 e outubro do mesmo ano foram descartados porque apresentaram comportamento
totalmente atípico. O primeiro mês com valor muito reduzido e o segundo com valor de R$ 331 milhões referentes ao
parcelamento em quota única. A inclusão de ambos prejudicaria a visualização gráfica.
ANEXO 24
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30,00
27,00
24,00
21,00
18,00
15,00
12,00
9,00
6,00
3,00
set/15
set/20
jan/19
jan/24
nov/14
abr/15
jul/16
dez/16
nov/19
jul/21
dez/21
nov/24
out/22
fev/16
mai/17
out/17
mar/18
abr/20
ago/18
fev/21
mai/22
mar/23
ago/23
jun/19
jun/24
Fonte: Sefaz. Elaboração CFSEC.
A Dívida Ativa
A dívida ativa é composta por todos os créditos tributários e não tributários que não
efetivados tempestivamente e esgotadas todas as etapas administrativas são encaminhados à
Procuradoria Geral do Estado para cobrança na esfera administrativa ou judicial.
A dívida ativa é, certamente, um ativo com características peculiares. Não se trata, por
exemplo, de um ativo real, como um terreno, um prédio ou ouro. Trata-se de um ativo
financeiro com características muito distintivas que merecem análise detalhada. Mas suas
peculiaridades não mudam sua essência, ou seja, não mudam sua característica fundamental de
ser ATIVO do Estado.
A primeira característica desse ativo é que ele é composto por diferentes tipos de
créditos tributários ou não, cujos fatos geradores ocorreram em tempos pretéritos e foram
inadimplidos pelos contribuintes. Podem ser fruto de tributos não pagos, de parcelamentos não
quitados, de acordos firmados e inadimplidos e que foram inscritos em Dívida Ativa do ente
federativo. Podem estar em fase de cobrança administrativa, em fase de cobrança judicial e
mesmo em fase de execução decorrente de sentença julgada. Trata-se assim de um ativo
heterogêneo em sua composição. Desfrutam, no entanto, de uma característica comum: todos os
créditos decorrem de fatos geradores pretéritos que transitaram em todas faz fases de cobrança
administrativa, garantido amplo direito de defesa do contribuinte.
Uma segunda característica desse ATIVO é que seu valor monetário reflete não apenas
o crédito original, como também acréscimos de juros e mora (e, eventualmente, outros
acréscimos decorrentes de particularidades do crédito6), fato esse que demonstra o não
cumprimento tempestivo de obrigação tributária por parte do contribuinte, caracterizando
frustração de receita devida pretérita, suportada pela Administração quando de sua frustração,
por meio de ajustes orçamentários. O não adimplemento tempestivo representou, por certo,
subtração equivalente no volume de recursos à disposição da Administração para honrar seus
compromissos correntes à época. A contrapartida desse inadimplemento, dessa frustração de
receita é a constituição de um ATIVO à disposição da Administração em momento posterior.
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Destaque-se como exemplo os casos em que a inadimplência ocorre em programas especiais de parcelamento com
descontos no valor consolidado do crédito tributário no momento em que o acordo é selado com a Administração
Pública. Nesses casos, a dívida consolidada retroage aos valores originais, sendo assim acrescidos os valores de
desconto ofertados, quando da ocorrência do acordo.
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Ainda em relação às peculiaridades desse ATIVO há que se destacar que seu valor
monetário depende também da qualidade de cada crédito, entendida qualidade como
possibilidade de transformação efetiva de um direito em valor monetário. E isso depende dentre
outros, de características específicas do próprio crédito, dos instrumentos de “enforcement” à
disposição da Administração Pública, da eficiência de cobrança da Administração Pública e da
capacidade contributiva do devedor. Essa última, por sua vez, depende de particularidades do
contribuinte devedor e de condições macroeconômicas. Isso faz com que o valor monetário
desse ATIVO não seja o seu valor contábil, mas uma fração desse último.
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Esse valor é superestimado por conta dos programas de parcelamento com descontos e também devido à
compensação de precatórios. Retirados esses pontos da amostra, a média é reduzida para 1,4% ao ano.
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Fixou-se um valor reduzido de forma prudencial. Entretanto, é possível elevar esse valor para patamar que
corresponde ao dobro desse piso, a depender das condições de recuperação da economia e, por consequência dos
níveis de inadimplência observados e amplificados com nossas hipóteses bem conservadoras. O desempenho da
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representa o valor presente do fluxo nominal de pagamentos esperados do REFIS dos 60 meses
desde março de 2016 a fevereiro de 2022 considerando a possibilidade de inadimplência, as
parcelas destinadas aos municípios e ao FUNDEB e o spread devido ao risco. A metodologia
usada para o cálculo desse valor estimado de emissão das debêntures pode ser detalhada da
seguinte forma:
economia depende crucialmente as ações de política econômica do Governo Federal e da aprovação de reformas,
entre as quais a reforma da previdência.
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São aqui considerados parcelamentos ativos aqueles cuja inadimplência é inferior a 90 dias (ou menos de três
parcelas em atraso).
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investimento. Buscou-se, com isso, a obtenção de uma estimativa bastante conservadora dado o
período de crise no Estado do Rio de Janeiro: de acordo com o Informe Econômico da SEFAZ
(out/2016), as rendas da indústria e do comércio varejista fluminenses entre janeiro e agosto de
2016 caíram 7,3% e 8,1%, respectivamente, em comparação com o mesmo período do ano
anterior e até o final de 2016 mostraram-se relativamente estáveis nesses patamares.
A expectativa da meta para a taxa over-selic foi extraída do site do Banco Central
(Sistema Gerenciador de Séries Temporais - Sistema de Expectativas de Mercado) em
23/02/2017 com projeções feitas em fevereiro de 2017. Essa taxa é apresentada como médias
anuais no período de 2017 a 202110 e, posteriormente, colocada em base mensal para descontar
o fluxo de caixa do ano correspondente.
O valor do spread sobre a taxa over-selic é de 3,5%. Para encontrar esse valor do spread
na emissão da CFSEC, consideramos resultado da literatura científica nacional em economia
que revela uma relação negativa entre spread e classificação de risco: quanto pior a qualificação
de risco, maior o spread (vide artigos como Sheng e Saito (2005), Mellone Jr., Eid Jr. e
Rochman (2002), Fraletti e Eid Jr. (2005), Bone e Ribeiro (2009), Calbo et. al (2008), Martinez
e Castro (2009) apud Costa (2009)).
10
A partir de 2021, repetiu-se a informação de dezembro de 2021.
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Portanto, o spread sobre a taxa over-selic oferecido na emissão da CFSEC pode ser estimado em
3,5%.
Usando essas premissas, o valor presente dos valores nominais descontados pela taxa de
inadimplência, pela taxa de juros e pelo spread ficou em R$ 107.351.496,47 (cento e sete
milhões, trezentos e cinquenta e um mil, quatrocentos e noventa e seis reais e quarenta e sete
centavos). Por isso, realizando um arredondamento para baixo até a classe do milhão, estimou-
se o valor de emissão das debêntures em R$ 100.000.000,00 (cem milhões de reais). Assim, o
valor estimado de emissão das debêntures pela CFSEC corresponde a 14,2% do valor nominal
previsto do fluxo dos parcelamentos contratados no REFIS. Para efeito de comparação, no caso
da emissão efetivamente realizada pela CPSEC em 2015, esse percentual era de 18,8%.
Supõe-se que o valor nominal inicial no último dia útil de fevereiro, quando a operação
de venda das debêntures se realizaria, será de R$ 100 milhões. Nos três primeiros meses, não há
pagamento de amortização nem de remuneração aos investidores. Os valores das parcelas do
REFIS pagas são destinados a compor um fundo de amortização, correspondente a três parcelas
de amortização mais rendimentos. Nesse período, tudo o que seria pago de remuneração é
incorporado ao valor nominal inicial.
A securitização dos direitos creditórios, por sua definição e características, não implica
em ampliação do volume total de receitas, mas tão somente sua antecipação no tempo. Isso é
particularmente relevante quando se tem um quadro fiscal de insuficiência de recursos no curto
prazo. A Tabela 7 apresenta para quatro anos (2017 a 2020) as estimativas de receitas sem
ocorrência da securitização e com sua ocorrência. O cálculo é feito consideradas as receitas
líquidas de cada uma das receitas deduzidos os custos anuais estimados da operação de
securitização11.
11
Para as estimativas de receita do Refis foram utilizadas as projeções de pagamentos mantidas as hipóteses de
inadimplência adotadas anteriormente. Para a receita de DA foi considerada a inflação prevista para 2017 e 2018
(Focus) e de 4% para 2019 e 2020. Adotou-se hipótese de crescimento do PIB de 2% em 2018 e 2,5% em 2019 e
2020. Admitiu-se elasticidade unitária para a receita de DA. Deve-se considerar que se o Governo Federal conseguir
implementar os ajustes necessários à retomada do crescimento econômico sustentável, as condições de inadimplência
devem ser melhoradas, de modo a produzir um resultado ainda mais positivo para a medida proposta.
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Tabela 7: Quadro comparativo de receitas com cenário base e cenário da medida proposta
de securitização (R$ milhões)
Cenário base Securitização
Ano
Refis DA Total Refis DA Total Var. %
2017 66,00 550,00 616,00 154,25 550,00 704,25 14,3%
2018 57,80 583,44 641,24 25,78 1.383,44 1.409,22 119,8%
2019 51,67 621,95 673,62 29,93 366,26 396,19 -41,2%
2020 46,78 663,00 709,78 22,46 444,12 466,58 -34,3%
Soma 222,25 2.418,38 2.640,64 232,42 2.743,81 2.976,23 12,7%
Elaboração CFSEC.
Ora, se o licitante paga de imediato esse valor para obter uma concessão que irá durar,
digamos, trinta ou quarenta anos, estaria, no entendimento alargado do TCU, configurada uma
operação de crédito. Afinal, ao pagar antecipadamente o valor da outorga, o licitante irá oferecer
um lance inferior àquele que ofereceria se o direito de outorga, em vez de ter de ser pago à vista,
fosse pago ao longo de todo o contrato de concessão. A diferença entre esses valores
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De toda forma, visando mitigar parcialmente esse risco, o Edital do Pregão foi
previamente submetido ao Tribunal de Contas do Estado para análise e lá se encontra para
deliberação. A operação, portanto, somente será levada a cabo, após a devida aprovação pelo
órgão de controle local.
V. Conclusão