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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS, COMUNICAÇÃO E ARTE (ICHCA)

Disciplina: História de Alagoas III.


Docente: Vitor Barbosa.

A TRAGÉDIA DO POPULISMO: O IMPEACHMENT DE MUNIZ FALCÃO


Douglas Apratto Tenório1 (autor)
Roberta dos Santos Sodó2

Nesta obra, Douglas Apratto Tenório busca trazer contribuições a historiografia


alagoana se detendo na cena política do estado na década de 1950. O acontecimento
do governo de Muniz Falcão ensejou o autor a perscrutar sobre o projeto de
modernização da indústria de Alagoas, as disputas partidárias protagonizadas pela
elite e os aparatos de controle da população (populismo e violência). A pesquisa que
viabilizou o livro em questão foi realizada durante o doutoramento de Tenório, entre
1992-1994, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), sendo sua primeira
edição publicada em 1995.
O autor é formado em História pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL),
tendo cursado mestrado e doutorado na UFPE também na área de História. No
presente, atua como professor do Centro Universitário de Maceió (CESMAC). Outras
obras de destaque de Tenório são: Capitalismo e Ferrovias no Brasil (Curitiba, HD
Livros, 1996) e Metamorfose das oligarquias (Curitiba, HD Livros, 1997).

Douglas Tenório Apratto no 36ª Chá de Memória, realizado no Arquivo Público de Alagoas – APA,
24/09/2019.

1
TENÓRIO, Douglas Apratto. A tragédia do populismo: o impeachment de Muniz Falcão. – 2. ed. –
Maceió: EDUFAL, 2007.
2
Graduanda no curso de Licenciatura em História do Instituto de Ciências Humanas Comunicação e
Arte – ICHCA, da Universidade Federal de Alagoas.
Alagoas na década de 50: as transformações pedem passagem (p. 27- 48).

No início da década de 50, Arnon de Mello é eleito governador. Desde 1941 os


candidatos do Partido Social Democrático (PSD) governavam Alagoas, no regime
varguista (1930-1945) e ainda após com a eleição de Silvestre Péricles (1947-1951).
Sendo candidato pela União Democrática Nacional (UDN), Mello só conseguiu a
vitória através da aliança feita com o PSD, “dirigido pelo coronel Ismar, da ala
dissidente dos Góis Monteiros” (p. 27), que segundo Tenório era também um partido
de forte representação das oligarquias do estado. A ocupação do cargo por Mello
simbolizava uma mudança de rumos, “Ele era a imagem do liberalismo, dos novos
tempos, da modernidade, que se confrontava como o arcaico mundo populista de
Silvestre. Um new-look político” (p. 28). Algumas inovações na característica da
eleição daquele ano serão apontadas pelo autor, porém é sobretudo “a propaganda,
com sua linguagem simbólica diante das necessidades e aspirações, que é utilizada,
à larga pelo candidato vitorioso” (p.28). Mello irá recorrer a viagens pelos municípios,
“jingle”, “fotos coloridas”, “rádio”, “santinhos”, “jornais”, etc. O que entra em questão é
menos a mudança no governo do que as transformações em nível local e nacional,

[...] estão surgindo no quadro econômico e social em todo o país e que


só vão ser percebidas com maior intensidade no final dos anos 50 e
durante os anos 60. Podemos entender a década de 50 como um
período de passagem de uma sociedade em vias de se inserir no
esforço brasileiro de industrialização, com suas contradições e
conflitos (p. 28-29).

Recorte do Jornal
do Brasil de 1963
que noticia o
assassinato de
Cairala dentro da
câmera legislativa,
quando Arnon tinha
mandato de
senador.
A questão populacional

Este período será também marcado pelo crescimento populacional


acompanhado pelo fluxo migratório das zonas rurais para os espaços urbanos.
Alagoas não deixa de participar dessa movimentação que ocorre por todo país, sendo
um fenômeno partícipe deste contexto a migração de pessoas para os centros
econômicos, como Rio de Janeiro e São Paulo. Alagoas passa por uma reorganização
com o surgimento de novos municípios, o aumento da densidade demográfica e a
oferta crescente dos serviços de abastecimento de água e esgoto, especialmente na
capital Maceió.

As famílias não apenas vão ouvir falar das novidades como a luz da
Chesf e de uma espécie de cinema caseiro – a televisão ainda
inacessível. Conhecem também muitas outras engenhocas que
chegam com a importação maciça de bens de consumo iniciada no
governo Dutra, alterando o pacato dia-a-dia dos anos 50. (p. 31)

A questão econômica e social

Segundo Tenório, o período que ele se propôs a estudar recebeu uma herança
bastante evidente do processo de industrialização dos anos 40. O Nordeste do país
perde a hegemonia da produção do açúcar frente a maquinaria da indústria paulista,
contudo, a elite do estado não abre mão de disputar o setor de produção. Nesse
sentido, “A agro-indústria alagoana do açúcar entendeu os sinais de estímulo e,
altamente subsidiada, partiu para o reequipamento de suas unidades, elevando a
produção de forma considerável, principalmente com a melhoria de seu nível técnico”
(p. 32). Acompanhando a modernização industrial a construção de rodovias acarretou
a “aproximação entre as regiões do Estado e do interior com a capital” (p. 33). O rádio
seria outro elemento para abeirar a população alagoana.
A produção têxtil passa por severas dificuldades na entrada da década de 50,
“estará irremediavelmente condenada à decadência” (p. 33). Por outro lado, Arapiraca
surge enquanto forte produtora de fumo, “baseada em minifúndios e pequenos
estabelecimentos agrícolas com diversificação de culturas que estimularão notável
expansão comercial” (p. 33). Além dessas produções, Tenório destaca a “bacia
leiteira” e “o arroz na zona do São Francisco”, “feijão, coco, mandioca, [e] milho” (p.
34). Entretanto, a cana de açúcar não perderia sua posição de principal produção
agrícola do estado, sobre ela ainda é possível assinalar outros efeitos.

[...] a utilização da mão-de-obra em regime sazional, a concentração


de renda mais e mais fortalecida nas cidades canavieiras, a poluição
dos córregos e rios de açúcar, a devastação do que restou da Mata
Atlântica, os conflitos e a resistência patronal em obedecer a
legislação do trabalho constituem outra face do problema. (p. 32)

As transformações não se darão apenas no setor produtivo ou econômico,


mesmo considerando a maior circulação de crédito, seja nas obras voltadas para o
serviço público financiadas pelo Estado, quanto na chegada de vários bancos à
Alagoas. O ensino estatal é expandido tanto em nível básico quanto superior, assim
em algumas cidades se “instalou escolas técnicas de comércio e cursos pedagógicos
noturnos, facilitando o ingresso de inúmeros jovens” (p. 38). É necessário a formação
de profissionais para as novas demandas do estado. Não por acaso, Porto 3 (2009)
relaciona a consolidação de vários cursos, especialmente os de licenciatura na
década de 1970, pelo seu caráter utilitarista, de formação de mão-de-obra para o
funcionalismo público. A UFAL é então fundada em 1961, enquanto Juscelino
Kubitschek era presidente, unindo numa só instituição as Faculdades de Direito
(1933); Medicina (1951), Filosofia (1952), Economia (1954), Engenharia (1955) e
Odontologia (1957). Para Tenório “é o marco de um tempo de transição, de
emergência da classe média” (p. 38). Esse momento se caracteriza pela oportunidade
de ascensão de “indivíduos que não pertencem às famílias tradicionais”, também de
mulheres e negras/os. A partir daí ganhará força a representação estudantil enquanto
movimento de reivindicação e resistência, como se verifica durante o regime militar.
Com maior lentidão no interior do que na capital os cenários começam a mudar.
Podemos ver agora a vida movimentada de Maceió com seus cafés, igrejas, a “Feira
do Passarinho”, estabelecimentos como as Lojas Renner e a Brasileira. A presença
da Coca-cola é uma representação do fim do “prestígio da cultura francesa no Brasil.
Imitam-se, agora, os ianques” (p. 44). Esse espaço pode ser melhor vislumbrado pelos
romances da época, a exemplo, “Angústia” de Graciliano Ramos. A diversão ficava
por conta do futebol, das idas aos clubes sociais, ao cinema e as festas religiosas.
Mesmo assim, “Ainda perduravam as relações de vizinhança e compadrio, as cadeiras

3
PORTO, Ana Luiza Araújo. O Curso de História na Universidade Federal de Alagoas: dos Primórdios
a sua Consolidação (1952-1979). Maceió, 2009. (Dissertação).
nas portas para o bate-papo do fim da tarde; as pessoas se conheciam mais por se
relacionar do que por competir” (p. 40).
As alterações no espaço geográfico podem servir de espelho para imaginarmos
as mudanças também dos costumes. “Outro setor onde os laços da velha sociedade
patriarcal vão-se afrouxando é o da sexualidade” (p. 44). As mulheres passam a ter
mais “liberdade” para usar roupas mais curtas e saírem sozinhas. A Igreja Católica
reagiu a esses “atentados à moral”. Usando dos cultos aos jornais (a exemplo, O
Semeador), a pregação se dirigia especialmente à condenação de outras religiões
(protestantes, espíritas e afro-brasileiras) e aos atos que desafiavam o pensamento
conservador da Igreja.

A sociedade de classes adquire status de reconhecimento cultural.


Superar o atraso passa a ser a grande palavra de ordem nos
concorridíssimos comícios e nas campanhas políticas que agitam o
Estado, sobretudo, a partir de 55. Alagoas recebe o influxo de um novo
projeto ideológico concebido em âmbito nacional, baseado na
projeção de um futuro melhor a ser conquistado pelo trabalho. (p. 46)

Cinearte em 1945. Disponível em: historiadealagoas.com.br.

Uma tragédia anunciada: sexta-feira, 13 de setembro de 1957 (p. 49- 64)

O dia 13 de setembro de 1957 entraria para a história de Alagoas como mais


uma demonstração da política violenta que impera neste estado. Deveria ser votado
na Assembleia Legislativa o impeachment do então governador Muniz Falcão, do
Partido Social Progressista (PSP). Nas palavras de Tenório, o conflito que se daria
ali era esperado, pois, “Quem conhece os costumes da terra bem poderá
compreender que os dois grupos em conflito jamais renunciariam a essa batalha
eminente” (p. 49). Para tentar entender o que levou a tamanho conflito, o autor traz a
posição do jornalista Alberto Jambo, que escrevia seis meses antes para o Diário de
Pernambuco.

Um observador, Alberto Jambo, jornalista que acompanhou a crise nos


seus primórdios, diz que foram os usineiros os verdadeiros
responsáveis pela revolta dos deputados, atiçando o movimento de
rebelião após o lançamento da taxa Pró-Economia. Disse que a
oposição irascível e sem descanso encontrou do outro lado um bloco
governista composto também de gente violenta como o falecido
Humberto Mendes e Claudenor Lima. (p. 58)

Como podemos perceber, Muniz Falcão desafiou os interesses da elite agrária


do estado. A taxa Pró-Economia previa o pagamento de um tributo por parte dos
usineiros, também recaia sobre os produtores de coco, algodão e fumo. Depois de
arrecadado o recurso deveria ser investido em educação, saúde e infraestrutura. Se
no início de seu governo Muniz Falcão tinha a maioria da câmera com posições
favoráveis, agora vinte e dois deputados pediam sua saída do cargo.
As tentativas de acalmar os ânimos foram vãs, as facções não quiseram
escutar os apelos do Arcebispo de Maceió, nem se intimidaram com a presença de
“tropas federais e estaduais [que] ficariam nas imediações do legislativo, prontas para
atender ao chamado do presidente da casa” (p. 51), decisão tomada junto ao
procurador Arnóbio Tenório Wanderley, enviado pelo Poder Federal. “Muniz Falcão
ainda convocou os membros da sua bancada e pediu-lhes que não fossem à sessão.
Deixassem seus adversários votar sozinhos o impedimento e se evitaria o pior” (p.
51). Porém, a disputa não poderia ser evitada apenas pelos pedidos de Falcão, os
deputados estavam obstinados a resolver a situação, mas a eles as formas pacíficas
de assim o fazer pareciam esgotadas. Corriam boatos que “o sogro do governador, o
deputado Humberto Mendes, tinha encomendado vinte e dois caixões para o enterro
coletivo da bancada” (p. 52). Mendes e os demais apoiadores de Falcão,

Já haviam dito que só passaria impeachment em cima de seus


cadáveres. Saíram determinados, armaram-se de revólveres e
metralhadoras e vestiam enormes capas de chuva, apesar do tórrido
calor que fazia, e assim dirigiram-se ao plenário. Seguindo o ritual de
autêntica guerra tribal primitiva, atravessaram a Praça Pedro II, com
os canos das armas salientes entre suas vestes insólitas, passando
pela lateral do comício onde oradores exaltados condenavam os
golpistas sob o aplauso da multidão. (p.52)
Tropas na Praça D. Pedro II. Deputados chegando na Assembleia.
Disponível em:historiadealagoas.com.br

Quando os deputados governistas chegaram à Assembleia, o cenário de


guerrilha já estava pronto. A oposição também muito bem armada esperava em meio
a sacos de areia que serviriam de barricada. Possivelmente nenhuma palavra tenha
sido dita, o que se seguiu foi os estampidos dos revólveres e metralhadoras. As
pessoas que ocupavam a Praça D. Pedro II corriam tentando se abrigar em meio a
chuva de projéteis. “Mais de mil tiros foram disparados, inclusive alguns de fora para
dentro” (p. 52). O resultado foi o de vários feridos e o assassinato de Humberto
Mendes.
Kubitschek se viu obrigado a mandar um interventor para o estado, Armando
Morais Âncora. Só parcialmente Falcão poderia usar de seus poderes, mesmo assim,
“afirmando em documento que não aceitava dividir sua autoridade” passa o cargo ao
vice-governador. A UDN aproveitava o momento para acusar o governo federal, “A
existência daquela zona conflagrada em Alagoas interessava-lhe para atingir JK como
conivente e responsável pelo clima de violência e agitação no país” (p. 56). Tenório
conclui que:

Não houve, pois, vencedores; todos perderam, principalmente o


Estado, cuja imagem de violência ficou ainda mais fortalecida. A morte
de Humberto Mendes, contudo, ofereceu uma espécie de trégua aos
encarniçados desafetos. Não que ninguém arredasse pé de suas
posições, mas os participantes deixaram que o julgamento seguisse o
seu curso normal no Judiciário e acataram sua decisão. ‘É como se as
facções em conflito se tivessem horrorizado com a própria violência,
sofressem uma ressaca depois da orgia e decidissem adotar a
sobriedade.’ Muniz retornaria com a definição final do Tribunal Misto e
governaria o restante do seu mandato sem aquele antigo jorro
intermitente de rede de intrigas a barrar-lhe os passos, a impedir-lhe
qualquer iniciativa de governar. (p. 61)
São consideráveis os entraves que a historiografia encontra para narrar o
passado de Alagoas. Seja pela disposição das fontes, do interesse em tais pesquisas
locais ou mesmo pelo campo de intrigas que ainda permeia o estado. Por certo,
Tenório se destaca ao tentar fazer possível esses trabalhos. Sua obra é, entretanto,
mais descritiva. Ele tentou registrar no campo da história o que só estava disponível
nas folhas dos jornais da época, sem ainda fazer incursões mais profundas sobre
aquela sociedade dos anos de 1950/60. Podemos concluir que a historiografia
alagoana busca ainda sua maturidade, desafio lançado aos/as novos/as
pesquisadores/as.

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