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www.museucerrado.com.br
Uma iniciativa do Museu Cerrado
Elaboração
Arthur Marcos Soares Lacerda
Rosângela Azevedo Corrêa
Organização
Arthur Marcos Soares Lacerda
O sertão - Página 5
O Cerrado - Página 6
"Nem todo mundo tinha material de pesca. Por isso uns jogavam
tarrafas, uns mergulhavam para desenganchar, uns colocavam os
peixes na enfieira, etc., de forma que todos participavam.
Independente da atividade desempenhada por cada um, no final
todas as pessoas levavam peixes para casa e a medida era o que
desse para cada família comer até a próxima pescaria. Seguindo a
orientação das mestras e mestres, ninguém podia pescar para
acumular, pois melhor lugar de guarda os peixes é nos rios, onde
eles continuam crescendo e se reproduzindo[...] E a melhor
maneira de guardar os produtos de todas as nossas expressões
produtivas é distribuindo entre a vizinhança, ou seja, como
tudo que fazemos é produto da energia orgânica esse produto
deve ser reintegrado a essa mesma energia.
Com isso quero afirmar que nasci e fui formado por mestras e
mestres de ofício em um dos territórios da luta contra a
colonização."
Porque no Cerrado agente colhe os alimentos e remédios e agente
aproveita o Cerrado. É Muito importante que o Cerrado dê mais
frutos que na mata, na mata tem frutos mas é para os animais, mas
no Cerrado que tem mais frutos e remédios também do cerrado,
por isso que agente cuida e preserva e para não acabar. (Marcio
Apinajé)
Maria de Jesus Ferreira Bringelo, mulher cerratense, Dona Dijé. Foi uma
líder nacional do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco
Babaçu e lutou pela defesa dos territórios das comunidades
tradicionais. Sua vivência, representavam o anseio coletivo de se
afirmarem suas terras, as ameaças a esses territórios e o direito de
poder coletar o coco do babaçu livremente
"A onde tiver babaçu que ele seja livre. Primeiro porque a gente
entende que babaçu é obra de natureza, ninguém plantou ninguém
aguou e a natureza dá pra gente de graça[...] A amêndoa do coco pra
mim, o significado dela, foi a moeda de troca, que a gente teve pra
comprar.Alimento, a roupa, o calçado tudo. A gente torra o coco pra
fazer o azeite, a gente vende pra ter dinheiro. o azeite ele é feito,
tanto serve pra comestível, como serve pra cosmético.Agora babaçu
preso, é quando ele tá lá dentro da terra do proprietário, do
fazendeiro e do latifundiário, e que tem uma cerca, uma cancela e o
cadeado barrando a minha entrada. A gente não quer encher as
periferias das cidades. A gente não quer mudar o nosso modo de vida.
É a lei da sobrevivência, eu tenho que lutar pra viver, então eu tenho
que lutar pra comer. O coco livre. é onde eu posso ir e vir sem ninguém
me impedir, eu posso sair da minha casa ir na terra que está ao lado
da minha comunidade e se tem babaçu eu posso ir lá e pegar, ou outra
mulher pode ir lá e pegar, ou qualquer mulher pode ir lá e pegarEu
tenho uma esperança que se a gente conseguir preservar o que nos
resta ainda hoje, essas nossas criança vai ter um futuro brilhante."
A construção de Brasília
A imagem do sertão inabitado e deserto, terra sem lei, também
esteve presente nos discursos, fotos, jornais e revistas da
época da construção de Brasília. A construção da capital federal,
no interior do país, haveria de consolidar o movimento histórico da
expansão do estado brasileiro na apropriação dessas terras
interioranas. O cerrado, era desmatado, e em seu lugar, os prédios
que se tornariam símbolos nacionais eram erguidos. O cerrado,
cada vez mais fragmentado perde 54% de sua cobertura nativa em
velocidade avassaladora.Os planos de "modernização" do
território que favorecem a agricultura mecanizada em larga
escala, permitiram a abertura de campos de monocultura, assim
como a construção de grandes usinas hidroelétricas, alterando o
curso dos rios de forma permanente. Os povos do Cerrado, viram
de forma vertiginosa a diminuição da vegetação, assim como suas
comunidades ficarem cercadas pelos grandes empreendimento da
agroindústria (grandes plantações de soja, mineradoras,
barragens, usinas hidroelétricas etc). Isso quando não tinham
suas terras desapropriadas pelo estado para a criação de alguns
desses empreendimentos
A interiorização da capital, demonstra que o desejo destrutivo em
levar o progresso e o desenvolvimento para as regiões do Brasil
Central, sempre foi justificativa para desvalorizar o Cerrado e
seus habitantes. Colocando as riquezas do Brasil a mercê do
dinheiro e do interesse de terceiros.
A ocupação do Cerrado, vem se dando em sua maioria pela lógica da
apropriação de seu espaço para obtenção de lucro. Nesse sentido,
o modelo econômico brasileiro, que tem como base a agropecuária,
que tem grande peso no PIB brasileiro a partir da destruição do
Cerrado. Os setores do agronegócio então, argumentam que o
Cerrado pode ser destruído porque era uma terra inútil e foi
transformada em uma terra produtiva. As atividades econômicas
sempre viram o cerrado como terreno desempedido para sua
expansão. Desde o início da colonização do Brasil, a ocupação do
Cerrado, tinha como objetivo a extração dos recursos minerais e,
mais recentemente, a pecuária extensiva e, na última etapa, a
agricultura intensiva, com pouca valorização do que a vegetação
nativa poderia fornecer.
Territórios ameaçados
Os territórios de cerrado e de comunidades tradicionais,
estão historicamente situados em meio a conflitos, que
as colocam em oposição aos interesses de modernização
e progresso. Constantemente ameaçados pela expansão
do estado brasileiro, que em seu caráter histórico,
sustentou sua economia com base na extração
desenfreada de seus recursos naturais. Esse modo de
exploração da natureza em larga escala, se alastrou pelo
território interiorano do Brasil. E sempre viu nesses
espaços dominados pela vegetação, onde a presença
humana quase não era notada, justamente pela ausência
de uma sobreposição desses elementos “humanos” sob a
natureza, a oportunidade de perpetuar-se. Porém, essa
visão equivocada, baseada no conceito de civilização
europeia, ignora a diversidade de povos e culturas, sob o
território que constitui o Cerrado. E portanto, é
inadequada para mensurar a diversidade sociocultural
dos “sertões” brasileiros”.
o Cerrado e seus habitantes históricos permanecem,
assim, submetidos à violência da fronteira civilizadora.
Colocando em risco, não só a biodiversidade do
ecossistema, mas também a vida humana. Isso porque, as
árvores do cerrado por possuírem raízes muito
profundas, fazem com que a água penetre o solo
facilmente e atinja o lençol freático. A substituição
dessas árvores por soja, milho, cana de açúcar ou
outras monoculturas, faz com que a maioria da água não
atinja o lençol freático, ocasionando as grandes secas
nos rios e reservatórios de água.
Por que preservar o
cerrado ?
Como podemos ver, as comunidades tradicionais
desempenham importante papel na preservação da vida
no Cerrado, mantendo suas terras com boa parte de
vegetação nativa, resguardam diversas espécies, tanto
de plantas, animais, como a espécie humana. Que sempre
foi dependente dos recursos da natureza para
sobreviver.
Também podemos perceber, como o preconceito sobre a
vida nos sertões, criou uma imagem falsa de que seus
povos, assim como se o Cerrado, não tivessem valor
algum. O que por muitos anos, escondeu a história de luta
e defesa das comunidades tradicionais pelas suas terras
de cerrado, assim como sua biodiversidade.
Das plantas do Cerrado, seus habitantes tradicionais,
fazem seus remédios e sua medicina. São inúmeras plantas
medicinais que o Cerrado oferece. Infelizmente, a ciência
pouco tem pesquisado sobre a flora deste bioma e,
seguramente, muitas espécies desaparecerão antes de
descobrirem seu imenso valor medicinal e nutricional.
Sua localização no planalto central do Brasil, com
altitudes que variam de 300 a 600 metros, fazem que nele,
estejam as nascentes das principais bacias
hidrográficas do continente, sendo elas: Amazônica,
Tocantins, São Francisco, do Prata, do Jequitinhonha, do
Parnaíba e outras.
Entender os preconceitos criados sobre o cerrado e
seus povos, é essencial para descobrir as razões, que
ameaçam o bioma e seus habitantes. Atualmente já
perdeu 54% de sua cobertura nativa e continua na linha
da modernização que ameaçam, não só suas comunidades
tradicionais, mas a vida de todos os brasileiros.
Então, é fácil perceber, que a imagem negativa que se
construiu a seu respeito não condiz com a sua
Referências Bibliográficas
RIBEIRO, Ricardo Ferreira. 2005. Florestas Anãs do Sertão: o Cerrado
na história de Minas Gerais. Belo Horizonte: Autêntica. ____. 2006.