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CAMPINAS
2014
i
ii
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE ARTES
______________________________________
CAMPINAS
2014
iii
iv
INSTITUTO DE ARTES
COMISSÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO
v
vi
RESUMO:
A década de 1960, no Brasil, foi marcada por uma proliferação de trios formados por piano,
baixo a bateria. Nota-se, então, uma mudança na maneira de tocar contrabaixo no contexto da
música instrumental no país. A partir do estudo das linhas de contrabaixo de Humberto Clayber
de Souza Voto e de Sérgio Portella Barrozo Netto, o presente trabalho pretende identificar alguns
padrões rítmicos e melódicos de condução do samba. Num primeiro momento, foram
identificados alguns particulares de cada contrabaixista. A seguir, foram encontrados alguns
padrões em comum entre os dois contrabaixistas, a fim de descobrir padrões característicos do
estilo. Além disso, na construção da linha de contrabaixo, foram extraídos alguns pontos de
interação entre os integrantes do trio, interações essas que influenciam diretamente na construção
dessas linhas.
vii
ABSTRACT:
The 1960s in Brazil were marked by a proliferation of trios consisting of piano, bass and drums.
It was noticed a change in the way of playing the bass in the context of instrumental music in the
country. From the study of the bass lines of Humberto Clayber de Souza Voto and Sergio
Barrozo Portella Netto, this work aims at identifying some rhythmic and melodic patterns of the
bass line in samba. Initially, some particular patterns of each bassist were identified. Afterwards,
some common standards and characteristic stylistic patterns were found. Moreover, while
studying the bass lines, some points of interaction between the members of the trio were detected,
which have a direct influence on the construction of the bass line itself.
KEY WORDS: Humberto Clayber, Sérgio Barrozo, bass line, interaction, improvisation
viii
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 21
1.2 OS TRIOS.............................................................................................................................. 31
O CONTRABAIXO ..................................................................................................................... 36
A PESQUISA .............................................................................................................................. 44
ix
4.1.2 SAMBA NOVO: DADOS CONTEXTUAIS DO FONOGRAMA ................................................................... 98
x
DEDICATÓRIA
xi
xii
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Luiz Antônio "Monó" e Mônica Arantes, e a minha irmã Débora, que estão
comigo desde sempre;
À minha esposa Lígia Rodrigues, pela parceria, grandiosa força e por compartilhar suas ideias
valiosas;
Aos grandes músicos Humberto Clayber e Sérgio Barrozo, por dividirem comigo suas histórias;
A Budi Garcia, Marcelo Coelho, Beto Vianna e José Roberto Zan, pelas contribuições preciosas
nas bancas de qualificação e de defesa;
Aos mestres e amigos Alberto Luccas, Zé Alexandre, Bob Wyatt, Djalma Lima, pelos
ensinamentos musicais e extras musicais;
Aos amigos Felipe Silveira e Helder Samara, pelas experimentações musicais valiosas à pesquisa
que realizamos tocando juntos;
Aos amigos Juan Megna, João Vitor, Vinícius Corilow, Ernani Teixeira, Sidney Ferraz, Caco
Cren, Martina Marana, Lucas Casácio, Geremias Tiófilo "Juninho", Jair Teixeira, Albano Sales,
Fábio Bergamini, Leandro Cruz, Edmar Pereira, Klésley "Pé de Pano";
xiii
A todos que contribuíram de forma direta e/ou indireta para a elaboração deste trabalho.
xiv
LISTA DE FIGURAS
xv
Figura 26 - Samba Novo - Ponto de interação 12 .................................................................. 126
Figura 27 - Samba Novo - Ponto de interação 13 .................................................................. 127
Figura 28 - Samba Novo - Ponto de interação 14 .................................................................. 127
Figura 29 - Samba Novo - Ponto de interação 15 .................................................................. 128
Figura 30 - Samba Novo - Ponto de interação 16 .................................................................. 129
Figura 31- Ponte Aérea - Ponto de interação 1 ....................................................................... 158
Figura 32 - Ponte Aérea - Ponto de interação 2 ...................................................................... 159
Figura 33 - Ponte Aérea - Ponto de interação 3 ...................................................................... 160
Figura 34 - Ponte Aérea - Ponto de interação 4 ...................................................................... 160
Figura 35 - Ponte Aérea - Ponto de interação 5 ...................................................................... 161
Figura 36 - Ponte Aérea - Ponto de interação 6 ...................................................................... 162
Figura 37 - Ponte Aérea - Ponto de interação 7 ...................................................................... 162
Figura 38 - Ponte Aérea - Ponto de interação 8 ...................................................................... 163
Figura 39 - Chorinho A - Ponto de interação 1 ...................................................................... 187
Figura 40 - Chorinho A - Ponto de interação 2 ...................................................................... 187
Figura 41 - Chorinho A - Ponto de interação 3 ...................................................................... 188
Figura 42 - Chorinho A - Ponto de interação 4 ...................................................................... 188
Figura 43 - Chorinho A - Ponto de interação 5 ...................................................................... 189
xvi
LISTA DE TABELAS
xvii
Tabela 26 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 21 ............................................. 115
Tabela 27 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 22 ............................................. 116
Tabela 28 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 24 ............................................. 116
Tabela 29 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 26 ............................................. 117
Tabela 30 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 36 ............................................. 117
Tabela 31 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 37 ............................................. 118
Tabela 32 - Padrões rítmicos particulares de Clayber ............................................................ 130
Tabela 33 - Padrões particulares de Clayber 1 ....................................................................... 131
Tabela 34 - Padrões particulares de Clayber 2 ....................................................................... 131
Tabela 35 - Padrões particulares de Clayber 3 ....................................................................... 132
Tabela 38 - Padrões rítmicos "Ponte Área" ............................................................................ 147
Tabela 39 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 1 ............................................... 149
Tabela 40 Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 2 ................................................. 150
Tabela 41 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 5 ............................................... 151
Tabela 42 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 7 ............................................... 152
Tabela 43 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 10 ............................................. 152
Tabela 44 Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 12 ............................................... 153
Tabela 45 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 14 ............................................. 155
Tabela 46 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 16 ............................................. 155
Tabela 47 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 17 ............................................. 156
Tabela 48 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 19 ............................................. 156
Tabela 49 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 20 ............................................. 157
Tabela 50 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 21 ............................................. 157
Tabela 51 - Padrões rítmicos "Chorinho A" ........................................................................... 176
Tabela 52 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 1 ............................................... 178
Tabela 53 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 2 ............................................... 178
Tabela 54 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 3 ............................................... 179
Tabela 55 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 1 ............................................... 180
Tabela 56 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 6 ............................................... 181
xviii
Tabela 57 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 7 ............................................... 182
Tabela 58 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 8 ............................................... 182
Tabela 59 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 9 ............................................... 183
Tabela 60 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 10 ............................................. 183
Tabela 61- Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 13 .............................................. 184
Tabela 62 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 16 ............................................. 185
Tabela 63 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 17 ............................................. 185
Tabela 64 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 19 ............................................. 186
Tabela 65- Padrões rítmicos particulares de Barrozo ............................................................. 190
Tabela 66 - Padrões particulares de Clayber 1 ....................................................................... 191
Tabela 67 - Padrões particulares de Clayber 2 ....................................................................... 192
Tabela 68 - Padrões particulares de Clayber 3 ....................................................................... 193
Tabela 69 - Padrões particulares de Clayber 8 ....................................................................... 193
Tabela 70 - Padrões particulares de Clayber 9 ....................................................................... 193
Tabela 71 - Padrões particulares de Clayber 10 ..................................................................... 194
Tabela 72 - Padrões identificados a partir de "Samba pro Pedrinho" .................................... 200
Tabela 73 - Padrões identificados a partir de "Samba Novo" ................................................ 202
xix
xx
INTRODUÇÃO
fonográfica nos dias atuais, buscam, de forma independente, manter um trabalho autoral de
bastante consistência. Alguns grupos, como o Trio Corrente, o Trio Curupira, o Nenê Trio,
atuantes na cidade de São Paulo, e o Samba Jazz Trio e Nosso Trio, atuantes na cidade do Rio de
Janeiro, além de tantos outros, vêm contribuindo para uma renovação da música instrumental
brasileira.
Esta formação de trio – piano, baixo e bateria –, comum a todos os grupos citados acima,
teve um período de destaque na década de 1960, com grande proliferação em um cenário bastante
Um dos instrumentos responsáveis pela execução das notas mais graves da harmonia
primórdios do jazz, o baixo desempenha um papel central dentro da seção rítmica, interpretando e
orquestrada, até que o som das cordas dedilhadas ganhasse lugar no jazz, substituindo a tuba. No
Brasil, esse instrumento, em grande parte por influência dos grupos de jazz, começou a se
1
Tradução nossa.
21
destacar por volta da década de 1950, como abordamos na pesquisa, a partir dos depoimentos do
Nota-se, por experiência própria do pesquisador, que essa maneira de tocar, desenvolvida
na década de 1960, ainda não é muito explorada no ensino de contrabaixo. Além de haver poucos
métodos que abordam o estilo, os discos são de difícil acesso. Há de se lembrar que uma das
ferramentas principais para o estudo de algum estilo musical é a transcrição a partir dos discos,
música brasileira, com foco nos ritmos. O método disponibiliza vários padrões de condução no
maxixe para o samba, é uma dissertação de mestrado que aborda a construção e a evolução da
linha de contrabaixo no período do surgimento do maxixe até o samba, nem sempre executada
Esta pesquisa tem como objetivo explorar aspectos da linha de contrabaixo destes músicos
22
deles. Como delimitação do objeto de estudo, optou-se pela formação do trio clássico jazzístico
(piano/baixo/bateria), por ser uma formação instrumental mais compacta e que possibilita maior
Souza Voto e Sérgio Portella Barrozo Netto. Ambos atuaram nos principais grupos instrumentais,
além de participarem de vários trabalhos com os cantores da Bossa Nova e da (futura) MPB. A
metodologia foi embasada nos estudos de Giffoni (1996) e de Carvalho (2006), que abordam a
instrumental no Brasil e dos trios que mais atuaram no período em questão. Na segunda parte,
23
instrumento, a criação da linha de contrabaixo e sua função, o estudo dos padrões e a
"Samba Novo" de Humberto Clayber; "Ponte Aérea" e "Chorinho A" de Sérgio Barrozo. Após a
identificação dos padrões rítmicos, dos padrões melódicos e dos pontos de interação, foi realizada
uma análise dos resultados a fim de identificar alguns traços estilísticos dos contrabaixistas. Após
24
A MÚSICA INSTRUMENTAL E OS TRIOS BRASILEIROS NA DÉCADA
DE 1960
A década de 1960 foi um período marcante para a música brasileira. O boom causado pelo
disco de João Gilberto, Chega de Saudade, na transição do ano de 1959 para 1960, trouxe
de Tom Jobim. O autor Jairo Severiano (2013), que denomina este período como o da
Modernização, cita algumas características musicais presentes neste estilo de interpretar de João
Gilberto, como o jogo rítmico entre a voz do cantor e a seção rítmica, de modo a gerar uma certa
polirritmia.
aperfeiçoamento técnico, o que ocorreu, segundo Medaglia (1968), que descreve algumas
A estrutura musical é mais rebuscada; as melodias são em geral, mais longas e mais
dificilmente cantáveis; as harmonias mais complicadas, plenas de acordes alterados e
pequenas dissonâncias, os efeitos de interpretação são mais sutis e mais pessoais,
permitindo pequenos artifícios, como o silêncio ou pausas expressivas, assim como
detalhes de execução instrumental mais sofisticada (MEDAGLIA, 1968, p. 72).
Anos antes desse boom causado pelo disco de João Gilberto, percebe-se um outro fator de
destaque que já vinha ocorrendo no país. A música americana passou a ocupar um grande espaço
no rádio, chegando ao Brasil "em quantidades imensas, tanto em disco quanto através do cinema"
25
(CABRAL, 1996 apud GOMES, 2010, p. 92) e também em apresentações de grandes artistas do
jazz, como Nat King Cole, Coleman Hawkins, Dizzy Gillespie, entre outros. Esse elevado
consumo do jazz, por certo, também atingiu diretamente os instrumentistas. Saraiva (2007)
comenta que:
Segundo Sadie e Tyrrel (2003, p. 1141-J), a jam session é "uma reunião informal de
músicos de jazz ou rock tocando para seu próprio prazer". Ainda segundo os autores, esse hábito
se iniciou na década de 1930 e tinha a função de educar os jovens estudantes de música, já que
não havia ensino formal nas instituições acadêmicas, pelo menos até 1960.
segundo Saraiva (2007), há indícios de que, no Brasil, elas tenham se iniciado em eventos
particulares promovidos pelo cantor Dick Farney e um membro da socialite carioca, Jorginho
Guinle. Além disso, essas reuniões musicais passaram a ocorrer também em algumas boates da
noite carioca, organizadas pelo maestro e saxofonista Orlando Silva de Oliveira Costa, conhecido
como "Cipó". Para estas jam sessions, o maestro selecionava pequenos trios, quartetos ou
quintetos.
O que estava em jogo, nestas situações, era o quanto cada instrumentista conseguia se
expressar com desenvoltura nesta linguagem. E pela lista dos participantes destas ‘jam
sessions’, não eram poucos os músicos profissionais atuantes no Rio de Janeiro que
estavam já bastante à vontade com tal linguagem (SARAIVA, 2007 p. 37).
26
Além dessa popularização das jam sessions entre os instrumentistas brasileiros, segundo
Cirino (2005), nota-se uma grande expansão da indústria fonográfica nas décadas de 1940 e
Após essa fase inicial, as jam sessions se disseminaram pelas boates do Rio de Janeiro. A
partir de meados da década de 1950, começaram a ocorrer em lugares públicos da alta sociedade,
como no hotel Copacabana Palace, na boate Vogue, Sacha’s e, mais tarde, nas boates do "Beco
das Garrafas".
Janeiro, voltadas para turistas e membros do café society. O ambiente era tão atraente que os
músicos frequentemente circulavam de boate em boate, chegando a tocar mais de uma vez por
O café society foi, portanto, o público de poder aquisitivo mais elevado que consumiu a
música produzida por esses grupos. O meio era muito propício para o desenvolvimento desta
música e havia uma rotatividade intensa de músicos e conjuntos. Além das já citadas acima, havia
as boates Plaza, Drink e Fred’s, na avenida Princesa Isabel, voltadas a um público de nível social
mais elevado, e as boates Club 36, Manhatan, Carrousel, Dominó, Ma Griffe, Bottle’s, Baccará e
27
Little Club, situadas no Beco das Garrafas e voltadas para o público de nível social menos
Em São Paulo não foi muito diferente. Em entrevista concedida ao autor, o contrabaixista
Humberto Clayber (VOTO, 2014) afirma que havia por volta de 100 casas de show onde os
São Paulo, tocou nas boates do Rio de Janeiro também. Além disso, o contrabaixista disse que
Toda aquela concentração de músicos que tinha na época se reunia na esquina dos
músicos, ali, no ponto dos músicos de São Paulo, que ficava na esquina da avenida
Ipiranga com a São João, num bar, chamado Bar Avenida. Ali, a gente se
confraternizava, se encontrava, trocava ideia, informações musicais. Tocávamos no Bar
do Dick Farney no João Sebastião Bar, além das boates do Rio de Janeiro, como a Zum
Zum e no Beco das Garrafas (VOTO, 2014).
Além disso, notamos que a questão musical também era discutida. Em entrevista de
Rubinho Barsoti, concedida a Gomes (2010), o baterista afirma que o processo de inovação da
Some-se a isso que Rubens Barsoti (2005), em entrevista concedida ao autor, afirma que
o processo de improvisar a partir do samba em São Paulo acontece antes do
estabelecimento da Bossa Nova. Rubinho menciona uma mudança na concepção técnica
da bateria que parece fundamental para uma melhor visão do que estava acontecendo: a
mudança do samba cruzado para o samba de prato, ou seja, troca-se uma condução
rítmica nesse instrumento carregada de tambores, por formas de acompanhar mais
"abertas", conduzidas no prato [...] (GOMES 2010, p. 38).
Ainda segundo Gomes (2010, p. 46), "essa nova abordagem agora libera os instrumentos
harmônicos, bem como o bumbo e caixa da bateria, de um papel apenas figurativo de sustentação
do "balanço” de pano de fundo [...]", ou seja, o nível de interação entre os membros do conjunto
28
ainda salienta que esta influência da abordagem jazzística sobre o samba se intensifica no pós-
guerra e que o repertório desses instrumentistas executado nos bares, boates e táxi-dancings era
Outro indício dessa mudança na maneira de tocar foi notado no Rio de Janeiro. A Turma
Segundo Barsalini (2009), no disco Turma da Gafieira – Músicas de Altamiro Carrilho e lançado
pela Musidisc em 1956, há o início do processo de síntese no qual o baterista Edison Machado
determina alguns padrões de execução do samba na bateria, atingindo o seu auge dez anos mais
tarde com o Rio 65 Trio. Segundo o autor, o disco traz ainda uma concepção composicional
própria e a presença do improviso dentro dos moldes jazzísticos, além de ser reconhecido como
Complementando essa questão, Cirino (2005) destaca o disco O Som (1964) do quinteto
J.T. Meireles e os Copa 5. Essa gravação retrata bem as características adotadas na maneira de
Meirelles nos seus solos como nas suas composições parece hesitar entre seus modelos
norte-americanos. "Quintessência" lembra bastante Horace Silver, enquanto "Solitude"
poderia ser uma balada de Monk arranjada por Benny Golson. "Nordeste" e "
Contemplação" fazem sentir a influência da concepção modal de Miles Davis
(CELERIER, 1964, p. 2).
Nesta descrição sobre o disco do saxofonista, Celerier (1964) cita as influências prováveis
nas quais J.T. Meirelles se inspirou. Sem entrar na discussão sobre as influências particulares do
29
músico, o texto mostra, de certa maneira, a influência musical dos grupos de hardbop, como os
Portanto, o repertório desses músicos passou a ser um misto entre samba e jazz. De
acordo com Cirino (2005), eles passaram a utilizar as concepções rítmicas e harmônicas das
canções populares, como do samba e do baião, dentro deste contexto instrumental. Como
resultado, o repertório realizado por esses grupos passou a ser composto por canções dos
samba tradicional.
Ainda nesse período, essa maneira de tocar chegou a ser nomeada de samba-jazz.
pesquisa de Saraiva (2007), o termo foi usado pelos americanos para denominar uma "bossa nova
instrumental" em que há destaque para um improviso com características jazzísticas e ritmo com
"acentuação" e swing do samba. Já Celerier (1964) afirma que o primeiro disco de samba-jazz foi
Nota-se que esse período foi fundamental para o desenvolvimento de uma linguagem
bossa-nova e do samba, os músicos deste período atuaram bastante, tanto no cenário carioca,
quanto no paulista.
30
1.2 Os Trios
Carvalho (2006) chama o trio de "seção rítmica moderna". Popularmente conhecida por
contrabaixo, a bateria e o piano (ou a guitarra). Além disso, eles estão na base de pequenos
combos com o acréscimo de algum instrumento solista e até em formação de big bands, pois
fornecem a base harmônica e rítmica para o conjunto. Apesar de existirem outras formações
instrumentais em trio, o surgimento dos trios no Brasil ocorreu, possivelmente, por grande
influência dos grupos de Oscar Peterson e Bill Evans, ícones do jazz norte-americano. Sobre essa
influência dos trios, Sérgio Barrozo (BARROZO NETTO, 2014) explica em entrevista concedida
ao pesquisador:
[...] eu me lembro de que naquela época um disco que todo mundo ouvia, quando saiu,
foi o disco do Oscar Peterson trio. Que era com o Ray Brown e o baterista chamado Ed
Thigpen. Era o disco West Side History. Esse disco "fundiu" a cabeça de todo mundo
porque era um negócio muito bem arranjadinho e os músicos eram excelentes. Aí, todo
mundo começou a fazer trio.
Como foi mencionado na seção anterior, no Brasil, entre meados da década de 1950 e
meados da década de 1960, os trios se depararam com um cenário muito propício para o trabalho.
Diversos trios surgiram a partir de apresentações em casas noturnas, dentre os quais o conhecido
Tamba Trio (formado por Luisinho Eça, Hélcio Milito e Bebeto, que a princípio foi chamado de
Samba Trio) veio a ser um dos primeiros a entrar no mercado fonográfico da década de 1960.
Segundo Castro (2008, p. 374), "[...] a explosão do Tamba Trio no Beco das Garrafas, no final de
1961, provocara uma enxurrada de conjuntos à base de piano, baixo e bateria [...]".
31
Outro importante trio que surgiu nesse período no Beco das Garrafas foi o Bossa Três,
formado por Luís Carlos Vinhas (piano), Tião Neto (contrabaixo) e Edison Machado (bateria). A
princípio chamado de Samba Três, segundo Saraiva (2007, p. 34), "este teria sido o primeiro trio
a tocar no Beco das Garrafas em 1958". A autora ainda menciona que há evidências de que esse
trio não teria sido bem recebido pelo público devido à maneira "moderna" que tocava,
Grande parte dos pianistas do Beco das Garrafas, como Don Salvador, Sérgio Mendes,
Tenório Jr., além dos bateristas Milton Banana e Edison Machado, formaram seus próprios trios.
Porém, notou-se uma cena musical mais forte para estes trios em São Paulo. O cenário paulista
possuía uma quantidade maior de gravadoras e boates interessadas nesse tipo de som
instrumental. Alguns dos trios mais importantes foram: Jongo Trio, Sambalanço Trio e Zimbo
Trio. Nota-se que os trios atuavam também com os cantores de maior destaque do período, como
Elis Regina, Jair Rodrigues e o Jongo Trio lotaram o Paramount nas noites de 9, 10 e 11
de abril de 1965, com a sua altissonante combinação de temas de Bossa Nova e sambões
tradicionais, cimentada por uma forte base jazzística no acompanhamento (CASTRO
2008, p. 374).
Sobre o Jongo Trio, Castro (2008, p. 374) afirma que "[...] ninguém poderia imaginar que
ainda pudesse surgir algo espetacular sob os céus da Bossa Nova no departamento dos trios".
Esse trio – formado por Cido Bianchi (piano), Sabá (contrabaixo) e Toninho Pinheiro (bateria) –,
assim como o Tamba Trio, utilizava-se de arranjos vocais em conjunto com os arranjos
instrumentais. Eles realizaram gravações de bastante destaque nas rádios de São Paulo, como
32
"Feitinha pro Poeta", de Baden Powell e Lula Freire, e "Seu Chopin, desculpe", de Johnny Alf,
Paramount.
Outro importante trio paulistano foi o Zimbo Trio. Formado por Amilton Godoy (piano),
Rubinho Barsoti (bateria) e Luís Chaves (baixo), o grupo teve, segundo Medaglia (1968), grande
destaque na cena paulistana. Amilton é um pianista de formação erudita que possui técnica
impecável. Luís Chaves, que também era um contrabaixista virtuose, trouxe novas maneiras de
execução do instrumento, até então inexistentes no Brasil. Juntamente com o baterista Rubens
Barsoti, o trio foi considerado um dos maiores conjuntos brasileiros, atuando também com
Sambrasa. Segunto Humberto Clayber, em entrevista concedida ao autor (VOTO, 2014), o trio
O meu primo chamava Paulo Cotrim. Ele montou uma casa, aqui em São Paulo,
chamada João Sebastião Bar, que foi considerado o templo da Bossa Nova no mundo
inteiro. Então era uma casa que só se tocava realmente Bossa Nova. E antes da
inauguração, ele me chamou e falou: – Primo, e aí, tá com um Trio aí? – Falei: – Não, tô
tocando com várias pessoas. – Monta um Trio que eu quero que você estreie na minha
casa, que vai ser sua casa também. – Walter Wanderley já tocava lá na época e eu já
estava contratado. Bem, aí Sambalanço Trio. Eu criei o nome e já de cara foi bom:
Sambalanço.
Segundo o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira (2012), o grupo foi
formado em São Paulo, em 1964, por César Camargo Mariano (piano), Humberto Clayber
(baixo) e Airto Moreira (bateria), gravando dois discos em 1965: À vontade mesmo, com Raul de
33
Souza, e Reencontro com Sambalanço Trio. Na casa João Sebastião Bar, conheceu o coreógrafo,
dançarino e cantor norte-americano Lennie Dale, realizando um show dirigido por Solano Ribeiro
convidando o pianista Hermeto Pascoal para se juntar ao grupo. O grupo lançou, em 1965, seu
Já no Rio de Janeiro, o Rio 65 Trio começava a se formar. Este trio gravou apenas dois
discos, o Rio 65 Trio e A hora e a vez da MPM, consolidando o estilo particular do baterista
NETTO 2014),
Além destes, de acordo com Castro (2008) e Saraiva (2007), podem-se destacar os
principais trios que atuaram neste período: no Rio de janeiro, o Milton Banana Trio, formado por
Wanderley (piano), Guará (baixo), Milton Banana (bateria), e, em São Paulo, o Som 3, formado
com os ex-integrantes do Jongo Trio agregando Cesar Camargo Mariano (piano). No baixo,
34
Apesar da existência curta de alguns desses trios, eles são de enorme importância para a
música instrumental do Brasil. Com um mercado amplo para trabalho na década de 1960, foram
35
O CONTRABAIXO
instrumentos responsáveis pela execução das notas mais graves da harmonia, podendo também
contrabaixo tocado com o arco em orquestras de ragtime dos anos de 1890, até que, em 1920,
passou a predominar o uso do segundo. Com o uso dos microfones para amplificação, o som das
cordas puxadas (pizzicato) no contrabaixo era mais claro que o som das notas da tuba. Os autores
Sadie e Tyrrel, em nota sobre o período do jazz denominado Swing, descrevem como se deu esta
[...] o swing foi caracterizado por uma maior ênfase na improvisação solo, conjuntos
maiores, um repertório baseado principalmente em canções Tin Pan Alley, e acima de
tudo uma maior "distribuição do peso" nas quatro batidas do compasso (daí o termo
four-beat jazz, ocasionalmente aplicado a este modelo). Esta mudança importante no
ritmo jazz ocorreu gradualmente entre 1930 e 1935, quando a tuba foi substituída pelo
contrabaixo (tocado no estilo walking bass) e o banjo pela guitarra, e o pulso básico foi
transferido da caixa para o chimbau ou prato de condução [...] (SADIE, TYRREL, 2003
p. 5594-S)2.
Porém, há evidências sobre essa mudança técnica utilizada na execução (arco para
pizzicato) já em 1911. Segundo Berendt (1987), a técnica de pizzicato foi utilizada pela primeira
2
Tradução nossa.
36
vez pelo contrabaixista Bill Johnson. Há um episódio em que o arco desse contrabaixista quebrou
em uma apresentação e ele passou a utilizar-se dessa técnica. Grande parte dos músicos preferiu
esse tipo de sonoridade, o que fez com que ela começasse a predominar. Juntamente com Bill
Johnson, outros contrabaixistas seguiram a mesma linha, como Pops Foster, John Kirby e,
Alguns anos mais tarde, no final dos anos de 1930, outro contrabaixista que se destacou
foi Jimmy Blanton. Por ter um domínio acima da média da técnica do instrumento, Duke
Wellman Braud, que já tocava de uma maneira bastante melódica. Hobsbawn (1990, p. 139)
O desenvolvimento melódico do contrabaixo até a metade dos anos de 1940 é quase que
totalmente obra de Duke Ellington, que persistentemente tentava capturar a tonalidade
especial do instrumento para sua paleta orquestral (com o auxílio do microfone de
gravação, que podia torná-lo audível para o resto da banda). Ele revelou ao mundo
Wellman Braud, porém, mais do que tudo, descobriu Jimmy Blanton, com o qual tocava
duetos.
Segundo Berendt (1987), na década de 1940 temos como contrabaixistas que mais
atuaram: Eddy Safransky, Chubby Jackson, George Duvivier, Percy Heath, Slam Stewart. Em
meados desta década e início dos anos de 1950, de acordo com Sadie e Tirrel (2003), houve uma
favorecendo a audição das linhas de uma forma mais clara. Outro fator importante foi a
construção de instrumentos com o cavalete mais baixo, o que facilitava a execução de linhas mais
virtuosísticas.
37
Nesse período, três baixistas se destacam, segundo Berendt (1987): Oscar Pettiford,
Charles Mingus e Ray Brown. Sobre o primeiro, de acordo com esse autor (BERENDT, 1987, p.
238): "[...] talvez houvesse contrabaixistas mais perfeitos do que ele, mas nenhum conseguia em
seus solos, como Pettiford, contar uma história". Charles Mingus iniciou sua carreira no grupo de
Louis Armstrong e se destacou na era do bebop em gravações com Charlie Parker e Dizzy
Gillespie. O último, considerado por Berendt (1987, p. 238), "ritmicamente, o mais seguro e
tenso entre os contrabaixistas modernos", em meados dos anos de 1940, foi solista de um
entrevista concedida a este pesquisador, refere-se à qualidade precária das gravações às quais
tinham acesso:
Antes da década de 1960, o baixo na música brasileira tinha uma função muito
"nebulosa". Era aquele baixo, geralmente, mal gravado e que tocava apenas fundamental
e quinta. Eu comecei a realmente prestar atenção em contrabaixo ouvindo música
americana (BARROZO NETTO, 2014).
Ele frisa ainda que, em sua vivência musical pessoal, ouviu bastante os discos que o
contrabaixista Ray Brown gravou. A nitidez do som de Ray Brown foi algo que causou certo
O problema do baixo naquela época é que geralmente, nas gravações mais antigas, era
muito mal gravado. Era difícil você ouvir as notas com nitidez, né? Então, quando o Ray
Brown apareceu, suas gravações eram todas limpas. Eu aprendi a fazer walkin’ bass
ouvindo Ray Brown (BARROZO NETTO, 2014).
38
Segundo Carvalho (2006), a linha de contrabaixo no samba herdou algumas
características da música europeia, como a marcação regular acentuada nos graves e a utilização
acima, o baixo acústico passa a ser utilizado de maneira predominante apenas nos anos de 1930
na música popular.
Além de Ray Brown, outro contrabaixista que causou grande impacto nos ouvintes,
Humberto Clayber (Voto, 2014) cita que ouviu bastante Scott LaFaro. Segundo Berendt (1987), o
contrabaixista, em suas gravações com o Bill Evans Trio, mostra mais uma emancipação técnica
Humberto Clayber de Souza Voto, nascido no dia 25 de setembro de 1937, iniciou sua
carreira como gaitista aos oito anos de idade, fazendo parte de uma banda que acompanhava
calouros em um programa da Rádio Cultura. No baixo, começou como autodidata quando foi
fazer o "tiro de guerra" na cidade de Itapeva, no interior de São Paulo. Lá, havia uma orquestra de
baile chamada Gabinete de Leitura, da qual ele participava tocando gaita como solista. A maioria
dos músicos dessa orquestra não trabalhava apenas com música. Certo dia, um dos músicos que
era sapateiro se machucou e Clayber foi convocado a assumir o contrabaixo. Já desde pequeno,
Bom, eu tinha um ouvido musical já. Já me sintonizava com as coisas, isso porque
também eu tive uma forma de aprendizado de dentro da minha casa: meu pai tocava bem
39
violão. E em casa se reunia todo aquele pessoal da antiga que vinha para São Paulo. O
Francisco Alves ia lá cantar, tocar. O papai tocando violão e eu com uma régua, uma
régua em cima da mesa de madeira, eu ia puxando a régua fazendo som, botava o ouvido
na coisa ia procurando as notas musicais que correspondiam ao que estava acontecendo.
Seu primeiro trabalho foi numa casa de shows em São Paulo que se chamava Caprice Bar.
Clayber foi convidado pelo pianista Ernani Turini, pois o baixista não iria tocar mais na casa.
Assim, ele começou a tocar com o pianista Bert Serge, que, segundo o contrabaixista, era um
Já em 1962, Clayber recebeu uma premiação com o título de "O melhor contrabaixista da
Bossa Nova do Brasil". Nesse tempo, ele realizou uma temporada com o saxofonista norte-
americano Booker Pittman, com o qual começou a tocar na boate Cabe Bar. Sobre esse fato,
Clayber diz:
E o dono de uma casa, boate Cabe, na época, reconheceu-o numa viagem. Aí o convidou
para vir a São Paulo para tocar na Boate Cabe Bar, e eu fui o contrabaixista. Só
contrabaixo, bateria e sax. Então aprendi a fazer harmonia no contrabaixo. Logo em
seguida, eu ganhei como o melhor contrabaixista de Jazz pela Folha de São Paulo
(VOTO 2014).
Após integrar o Manfredo Fest Trio, com o qual gravou três discos, forma o seu próprio
trio, o Sambalanço Trio. Com o término deste trio, substitui Chu Vianna no Sambossa 5,
gravando dois discos. E já na década de 1970, reagrupa o Jongo Trio (conjunto vocal e
instrumental), gravando dois discos. Além disso, realiza pequenas temporadas com os pianistas
Sergio Portella Barrozo Netto nasceu em 16 de junho de 1942. Estudou piano e teoria
musical com sua tia. No início da carreira profissional, atuou em alguns bailes da década de 1950
40
como baterista de um trio formado por piano, guitarra e bateria. Pouco tempo depois, tocou em
alguns bailes com um baixo feito por ele e os integrantes do trio, visto que a formação mais
comum da época era piano/baixo/bateria. Mais tarde, comprou um baixo e iniciou os estudos
como autodidata. Depois de alguns anos, passou a fazer aulas com um contrabaixista da
Logo conheceu Roberto Menescal e se integrou a seu grupo em 1962. Pouco tempo
depois, participaram de vários shows com as cantoras Nara leão e Maysa. Até que, em 1965,
formou o Rio 65 Trio, juntamente com Edison Machado e Dom Salvador. O trio fez uma turnê
internacional acompanhando artistas como Edu Lobo, Sylvia Telles, J. T. Meireles e gravou o
disco de Elis Regina Samba eu canto assim. Sérgio fez parte também do trio de Dom Salvador e
Dentre outros baixistas, temos, de São Paulo, Luiz Chaves, Sabá e Chu Vianna. Luiz
Chaves Oliveira da Paz destacou-se bastante por utilizar recursos técnicos do contrabaixo até
então não encontrados em outros contrabaixistas. Filho de músicos, logo começou a atuar
profissionalmente depois de ter contato com a música de Nat King Cole e do quarteto de
Radamés Gnatali. Apesar de ter apenas um disco solo, gravou com muitos artistas da música
Outro contrabaixista que se destaca é seu irmão mais velho, Sebastião Oliveira da Paz
(PAIVA, 2012), o Sabá. Assim como o irmão, teve contato com discos de jazz de artistas como
Glenn Miller e Count Basie. Autodidata no início de sua carreira, não teve estudo formal, porém
41
possuia um bom ouvido e tinha em seu repertório uma grande quantidade de músicas norte-
americanas e brasileiras. Com 30 anos de idade, mudou-se pra São Paulo e começou a trabalhar
com o pianista Rogério Robledo. Sabá, juntamente com Toninho Pinheiro e Cido Bianchi,
formaram o Jongo Trio. Mais tarde, César Camargo Mariano entrou no lugar de Cido Bianchi,
formando o Som 3.
ainda o contrabaixista Chu Vianna.. Ele menciona Chu como um dos contrabaixistas mais
importantes que atuavam em São Paulo. Chu Vianna iniciou a carreira no começo dos anos de
1950, atuou na noite paulista e frequentava o Ponto dos Músicos localizado na avenida Ipiranga.
Fez parte do quinteto Os Cincopados, em sua formação original, dos trios de Dick Farney e de
Pedrinho Mattar. Em 1964, passou a integrar o grupo Sambossa 5. Nesse mesmo ano, integrou o
Além de Sérgio Barrozo, outros grandes baixistas já atuavam na cena musical do Rio de
Janeiro, dentre eles, Tião Neto e Bebeto. O primeiro, Sebastião Costa Carvalho Neto, iniciou a
carreira nos anos de 1950 e trabalhou durante muito tempo nas boates do Beco das Garrafas.
Formou o trio Bossa 3 com Luiz Carlos Vinhas (piano), e Edison Machado (bateria) e logo
depois foi para Nova York fazer parte da gravação do disco Getz-Gilberto. Voltou para o Brasil
em 1964 e fez parte do Sérgio Mendes Trio, gravando o disco The Swinger from Rio.
Segundo o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira (2012), Adalberto José
de Castilho e Souza, o Bebeto, iniciou sua carreira em 1955, tocando contrabaixo no grupo de Ed
42
Lincoln. Em 1957, convidado por Roberto Menescal, formou a banda que acompanhava a cantora
Maysa, formada por Luís Eça (piano), Hélcio Milito (bateria), Roberto Menescal (guitarra) e Luiz
Carlos Vinhas (revezando o piano com Luís Eça). Poucos anos mais tarde, juntamente com Luís
Eça e Hélcio Milito, formou o Tamba Trio, tornando-se um dos expoentes dessa formação no
país.
Sérgio Barrozo (BARROZO NETTO, 2014) afirma ainda que no Rio, além destes dois
citados acima, havia também os contrabaixistas Manuel Gusmão, Octávio Bailey e Carlos
Monjardim. Nota-se, portanto, que o contrabaixo passou a ser predominante em várias formações
contrabaixistas norte-americanos Ray Brown e Scott LaFaro, e é bastante provável que esses
dois, a partir de sua influência nos contrabaixistas brasileiros, tenham contribuído para o
43
A PESQUISA
estilísticos característicos desse período. Além disso, a pesquisa lida algumas premissas relativas
linhas.
criativo, discutem-se alguns tópicos importantes, como a composição como um meio de criação
bem como o modo como o contrabaixista utiliza alguns artifícios musicais, a fim de desenvolver
suas linhas.
interessante a se trilhar pode ser a reprodução de solos improvisados de alguns ícones do jazz.
Berliner (1994, p. 95) afirma que, assim "[...] como crianças aprendem a falar a sua língua nativa
44
imitando os mais velhos, os jovens músicos aprendem a ‘falar’ jazz imitando improvisadores
experientes".
Bishop Jr.: imitação, assimilação e inovação"3. Portanto, o primeiro passo seria a imitação de um
solo improvisado, o segundo, a assimilação deste solo, compreensão das candências harmônicas,
das escalas utilizadas, e o terceiro, a inovação a partir destes elementos assimilados, a fim de
Para Meyer (1996), estilo vem a ser "[...] uma replicação de padrões, tanto no
comportamento humano como em artefatos produzidos por este comportamento que resultam de
uma série de escolhas feitas dentro de um conjunto de restrições" (MEYER, 1996, p. 3). No caso
desta pesquisa, podemos adotar, com base nessa afirmação, que o estilo é moldado a partir de
escolhas de padrões rítmicos, melódicos e harmônicos que o indivíduo faz dentro do contexto da
Porém, antes de iniciar a discussão sobre os padrões, iremos abordar alguns aspectos
relevantes para esta pesquisa, como melodia, ritmo, acompanhamento, harmonia e forma da
música.
3
Tradução nossa.
45
Lawn e Helmer (1993 p. 66) definem melodia da seguinte forma: "[...] melodia é uma
série de alturas consecutivas organizadas de uma forma linear por uma série de passos e saltos
pontuados por espaços ocasionais, ou pausas"4. A melodia de uma canção é construída a partir
O acompanhamento não deve ser uma mera adição à melodia. Deve ser o mais funcional
possível e, nos melhores dos casos, atuar como complemento às essências de seu assunto:
tonalidade, ritmo, fraseio, perfil melódico, caráter e clima expressivo. Deve revelar,
também, a harmonia inerente do tema, estabelecer um movimento unificador, satisfazer as
necessidades e explorar os recursos instrumentais.
conceito de "acompanhamento" não é muito diferente para a música popular improvisada. Neste
improvisados, complementando e contribuindo com ideias. Com uma visão mais direcionada à
música popular, Berliner (1994, p. 315) nos dá uma definição do termo "comp": "de acordo com
o senso comum, a função coletiva da seção rítmica é o ‘comp’, um termo que carrega a dupla
groove. Para Monson (1996), o objetivo de um pequeno combo de jazz é atingir um groove ou
4
Tradução nossa.
46
feeling que unem os papéis do baixo, da bateria, do piano e o solista num todo. Para atingir esse
groove, é importante que os músicos estejam muito conectados no âmbito musical, ouvindo
atentamente o que o outro está tocando. Algumas vezes, o baixo pode antecipar figuras rítmicas
o que o outro toca. A bateria ou o contrabaixista, por exemplo, podem preencher algum momento
em que o pianista deixa espaços. Monson ainda complementa (1996, p. 26): "manter o tempo,
acompanhar e solar são as três funções musicais trocadas entre os integrantes de um grupo
improvisador e cada instrumento da seção rítmica tem a sua maneira particular de completá-los"
5
.
música improvisada é o ritmo. Lawn e Helmer (1993, p. 66) salientam a importância do ritmo na
caracterização de um gênero, sendo um dos principais responsáveis por sua definição: "Não é
raro que alguns ritmos são característicos e idiomáticos de certos gêneros de música e, portanto,
No jazz, que durante certo período foi bastante voltado para a dança, surge a necessidade
de bandas com um senso rítmico bastante preciso. Daí nasce o conceito de swing. O termo swing
foi utilizado para definir um período do jazz entre as décadas de 1930 e 1940, durante o qual
houve a predominância das big bands norte-americanas, que tocavam música para dançar, como
5
Tradução nossa.
6
Tradução nossa.
47
foi dito acima. Porém, o sentido aqui utilizado é o de swing como "balanço". Segundo Lawn e
Helmer (1993, p. 154): "O swing existe quando um pulso regular encontra um ritmo em constante
fundamental importância que o grupo mantenha uma pulsação precisa que possibilite ao ouvinte a
referência do pulso e lhe permita "bater os pés". Freddie Green, guitarrista da orquestra de Count
Basie, afirma que "[...] a seção rítmica é a base para o swing. Se a seção rítmica não está
‘swingando’, estão esqueça. Se está clicando, andando junto... [...]"7 (LAWN, HELMER, p.154).
Muitos músicos utilizam a expressão "swingar", referindo-se à articulação rítmica fluente, que
necessários para a criação do solo. Segundo Guest (1996), a escala utilizada para o arranjo ou
improvisação deve ser escolhida a partir de uma análise harmônica. Esta maneira de pensar a
improvisação foi constituída a partir do bebop, período do jazz em que os músicos passaram a
utilizar escalas dos acordes (uma escala para cada acorde), o que consiste em uma improvisação
mais livre do tema, restrita apenas ao esquema harmônico8 (BERENDT, 1987). Notamos que foi
a partir dessa concepção que a improvisação atingiu maior sofisticação do que havia alcançado
7
As reticências utilizadas na afirmação do guitarrista se referem a uma expressão de continuidade da frase,
sugerindo que se a banda está "swingando", o som vai fluir naturalmente.
8
O que não impedia a utilização de elementos melódicos presentes nos temas das composições.
48
no jazz tradicional. A partir da harmonia de um tema, o improvisador pode criar inúmeras
melodias.
a criação de melodias instantâneas. Essa seria uma maneira de utilização das composições como
um veículo para a improvisação. Sobre esse aspecto, Berliner (1994, p. 63) comenta: "Peças ou
jazz". Ele salienta ainda que se tornou uma convenção, na qual o músico expõe a melodia com
solo pode durar um chorus ou vários choruses. As progressões de acordes ainda podem destacar
A cada chorus, portanto, o solista e a seção rítmica podem sugerir várias ideias,
abordando todos esses aspectos já citados. Em muitos discos e jam sessions são desenvolvidas
longas improvisações sobre a harmonia de uma determinada canção. Estas canções, geralmente
possuem uma forma em comum e segundo Lawn e Helmer (1993), muitas delas vem da forma-
canção norte-americana que seria um "AABA", em que cada uma destas letras define uma frase
musical nova. O "B", neste caso, seria uma espécie de ponte em que pode haver modulação para
49
Portanto, para uma análise mais aprofundada, optamos por abordar estes quatro aspectos:
criação instantânea, tanto para o solista quanto para a seção rítmica: a interação.
improvisatório é a interação entre os músicos. Segundo Monson (1996), cada músico deve estar
muito atento ao que os demais colegas de grupo estão tocando, pois pode se utilizar de ideias
sugeridas por eles, simplesmente copiando ou complementando-as. Pode-se comparar isso a uma
conversa na qual, para que haja fluência, todos devem ouvir o que o outro está dizendo,
música improvisada, a sugestão de figuras rítmicas da melodia do tema interpretada pelo solista
ou sugestões rítmicas realizadas pelos outros instrumentos da seção rítmica podem ser
Mondon (1996, p. 74, apud Cook 2007, p. 7) afirma que "[...] a teorização de significado
na improvisação nos grupos de jazz deve considerar, como ponto de partida, o contexto interativo
que o outro está tocando e complementar a "conversa". Ainda sobre este assunto, Schutz:
50
[...] cada performer "tem de prever o outro por meio da audição, atrasos e antecipações,
qualquer virada na interpretação do outro, e estar preparado, a qualquer momento, para ser
líder ou acompanhador" (SCHUTZ 1964, p.176, apud COOK, 2007, p. 8).
A partir da afirmação de Schutz, notamos que o músico deve estar atento ao que o outro
músico toca e este tipo de conversa e interação se intensifica de acordo com o nível de
cita o "ESP" 9 , termo utilizado por alguns músicos significando "algo que simplesmente
acontece", ou até uma compatibilidade pessoal com o outro músico do grupo. Como exemplo, na
Figura 1 temos a linha de baixo antecipando o acorde do compasso seguinte a partir de uma
sugestão do pianista:
Com base nestes conceitos, Monson (1996) aborda os seguintes aspectos da interação10:
Unidade rítmica: quando o grupo executa células rítmicas iguais ou apenas alguns
pontos como algumas síncopas e antecipações. O exemplo citado acima (Figura 1)
pode ser considerado como unidade rítmica.
9
Extra Sensory Perception: Percepção extra-sensorial.
10
Todos estes termos são de tradução nossa.
51
Preenchimentos: Monson cita um exemplo de quando os músicos preenchem o
turn-around final. É um tipo de interação bem comum, porém o músico pode se
basear na rítmica do outro durante o desenvolvimento do improviso. Por exemplo:
52
Figura 4 - Ponto de interação-mudança de caráter rítmico 2.
Com esses quatro itens, temos os parâmetros de análise da linha de contrabaixo criada a
partir da interação entre os músicos.
53
3.3. A função e a criação da linha de contrabaixo no contexto da "cozinha"
Um meio para que o contrabaixista trabalhe e desenvolva todos esses conceitos abordados
acima é o estudo de transcrições. Esse tipo estudo, realizado a partir das gravações ou estudado
pretende tocar. Porém, este não seria o único caminho. É importante que, a partir do estudo, o
contrabaixista desenvolva as suas próprias linhas, criando padrões particulares do seu estilo.
Para desenvolver este vocabulário ainda mais, Berliner (1994) acrescenta que, em um
próprio estilo, ou seja, a cada performance, considerada única, ele utiliza padrões de estilo,
para o solista improvisador. Ele tem um papel harmônico e rítmico que serve de "liga" entre o
piano e a bateria, unificando a base rítmica da bateria com a base harmônica do piano. Portanto, é
11
Tradução nossa.
54
responsável principalmente por definir a harmonia juntamente com o piano (ou outro instrumento
Coker (1987) complementa ainda dizendo que o contrabaixo deve delinear as notas da
harmonia, utilizando-se principalmente das fundamentais e quintas ou, pelo menos, de notas da
entre os músicos, como foi discutido acima. Por exemplo, o contrabaixo, geralmente, completa o
acorde executado pelo piano, tocando a nota fundamental da harmonia da canção. No aspecto
bumbo.
Durante uma apresentação, um baixista pode fazer três tipos gerais de escolhas
interativas: tocar o tempo (walkin), interagir melodicamente (ou ritmicamente)
com o solista, ou sustentar uma nota pedal abaixo da textura do conjunto 12.
O termo walkin é usado por Monson para se referir à condução no jazz. Sendo o samba o
ritmo objeto desta pesquisa, adotamos como padrão básico do tempo a tabela de células estruturais
12
Tradução nossa.
13
Extraímos da tabela apenas os padrões rítmicos do samba.
55
Figura 6 - Padrão básico do samba (CARVALHO, 2006, p. 85).
Milton Banana influenciou a mim e ao Bebeto com aquela batida: tum tumtum
tumtum14. Eu e o Bebeto fomos ao mesmo tempo, ninguém copiou ninguém. Nem eu
copiei o Bebeto nem o Bebeto me copiou, e sim a bumbada do Milton. Eu tirei essa ideia
pela bumbada dele, porque eu tocava uma nota só: tum tum tum15.
Monson:
14
Esta é uma representação onomatopaica do padrão a que Humberto Clayber se referiu na entrevista, que
corresponde ao padrão rítmico pontuado da tabela de Carvalho (2006).
15
Este corresponde ao padrão rítmico acentuado da tabela de Carvalho (2006).
56
A autora frisa que nem sempre esse tipo de interação deve ser uma figura de
resposta imitativa apenas. Pode ser também uma outra linha melódica, um riff ou uma
relação de chamada-resposta.
Outro recurso que o baixista pode utilizar é a sustentação de uma nota pedal em
algum trecho da composição musical. Segundo Monson (1996), o baixista pode sustentar
uma nota por alguns compassos, enquanto o resto do grupo continua executando as
progressões harmônicas. Além disso, ele pode sustentar a nota pedal e interagir
Tocar o tempo;
Por fim, o contrabaixo, inserido no contexto da "cozinha", fornece alguns subsídios que
57
3.4 Metodologia
Este trabalho propõe identificar alguns padrões na criação da linha de contrabaixo que
identificação de padrões comuns a ambos. Para tal, foram selecionados os seguintes músicos:
Humberto Clayber de Souza Voto, dos trios Sambalanço e Sambrasa, e Sérgio Portella Barrozo
musical para a análise. A partir da transcrição musical, é possível identificar alguns fatores
Aspectos temporais;
Aspectos melódicos.
Para a análise de um estilo, Meyer sugere que se realize a identificação de alguns aspectos
musicais que podem ser tomados fora do tempo e tratados como entidades isoladas:
58
semelhanças nos levam a agrupar as entidades em conjunto, como membros de alguma
classe de eventos16 (MEYER, 1996, p. 39).
O autor ainda afirma que esses padrões podem ser relacionados entre si, além de agrupá-
los como membros de uma mesma classe. Baseando-se nessas afirmações e na tabela de células
estruturais proposta por Carvalho (2006)17, delimitamos os padrões extraídos dentro do espaço de
um compasso.
interação entre os integrantes do conjunto. Como foi visto, a interação pode influenciar a escolha
de notas, ritmos, antecipações que o baixista pode utilizar dentro do contexto da improvisação;
interação, foi realizado um cruzamento de dados. A partir da metodologia utilizada por Berliner
16
Tradução nossa.
17
Vide tabela no item: 3.3.2 O pensamento na criação da linha de contrabaixo e sua função.
59
(1994), na qual o autor realiza análises de algumas gravações emblemáticas do jazz,
particularmente na análise das linhas de contrabaixo, os dados são expostos da seguinte maneira:
Nesta análise, Berliner retira trechos harmônicos do início, do meio ou do final do chorus,
comparando as soluções melódicas para a criação das linhas encontradas pelos baixistas com as
outras que este mesmo músico toca em outros choruses18. Com isso, é possível identificar alguns
padrões comuns do próprio contrabaixista. A seguir, realiza uma comparação dessa linha com
outras, a partir de uma mesma progressão harmônica, a fim de descobrir os padrões comuns
contrabaixo no jazz.
Portanto, a partir dos conceitos acima mencionados, esta pesquisa propõe a seguinte
metodologia:
de contrabaixo.
18
Em cada chorus o baixista pode tocar o mesmo trecho de maneiras diferentes.
60
Num primeiro momento, foi realizada uma identificação de padrões rítmicos
similaridade rítmica, como o que ocorre na Tabela 1, os padrões foram agrupados no mesmo
campo da tabela.
Estes foram encontrados a partir dos padrões rítmicos relacionando os intervalos à harmonia para
que se encontrem as diferentes soluções melódicas. Para a classificação dos intervalos dos
padrões melódicos, esta pesquisa adota o método Contrabaixo na música brasileira, de Giffoni
(1997), que propõe uma análise intervalar que relaciona as notas utilizadas na construção da linha
19
Vide tabela exposta no item 3.3.2 O pensamento na criação da linha de contrabaixo e sua função.
61
0 – Notas mortas20;
Portanto, a descrição do padrão foi exposta em tabela da seguinte maneira. A barra "/" foi
Notas do acorde;
Notas de passagem;
20
Encontrado em métodos norte-americanos de contrabaixo como dead notes. São notas em que o contrabaixista não
pressiona o braço com a mão esquerda, apenas abafa a corda e executa o pizzicato com a mão direita.
62
Aproximações cromáticas;
Aproximações diatônicas;
Antecipações;
Appogiatura.
63
Realizadas as análises individuais de cada fonograma, foi feita uma comparação a fim de
extrair novos padrões rítmicos e melódicos em comum entre as linhas de baixo de um mesmo
1º passo
2º passo
Padrões melódicos: exposição em tabela dos padrões melódicos com uma análise
intervalar relacionada à harmonia e uma descrição;
64
Identificação dos padrões particulares de Humberto Clayber;
3º passo:
arranjadas.
Seguindo esses critérios de seleção dos fonogramas, optamos pelos seguintes discos:
Reencontro com Sambalanço Trio e Sambrasa em Som Maior. As faixas selecionadas foram:
65
Samba pro Pedrinho (1965);
Em entrevista concedida ao pesquisador, Humberto Clayber (Voto, 2014) fala sobre como
Nada era escrito, nunca foi nada escrito. Primeiro porque eu não lia, segundo
porque o César também não lia, terceiro porque o Airton também não lia. O
César aprendeu a escrever muito depois do Sambalanço Trio. Ele aprendeu a
escrever música quando nós gravamos o disco do octeto do César Camargo
Mariano.
7. Pout-Pourri
66
a. "Samblues" – Cesar Camargo Mariano
O outro disco selecionado para a pesquisa foi o Sambrasa em Som maior. Sobre o
O contrabaixista frisa ainda que Hermeto acrescentou uma nova concepção musical. O
contrabaixista e Airto Moreira mudaram a maneira de tocar trazendo uma nova noção rítmica.
Comparando os dois trios, Clayber afirma ainda que o Sambalanço tinha uma concepção mais
67
O Trio logicamente foi uma coisa homogênea entre nós três, então houve aquela
reunião de três. Três pessoas que funcionavam perfeitamente, pensavam da
mesma forma. Isso tanto harmonicamente, como ritmicamente. E foi uma escola
tanto para nós, como para uma porção de gente que veio depois.
Seguindo os critérios de seleção, optamos pelas faixas "Chorinho A" e "Ponte aérea" do
68
Segundo entrevista concedida ao pesquisador, Sérgio Barrozo (Barrozo Netto, 2014)
afirma que MPM foi uma sigla inventada pelo trio para a definição da música que eles se
propuseram a realizar. Significa "Música Popular Moderna". Sobre a gravação, Barrozo comenta:
"A gente só tocava alguns arranjos e, antes de gravar, a gente ensaiava a música no estúdio e
Embora a transcrição tenha sido feita com o máximo cuidado, o acesso às gravações tem
69
70
ANÁLISE E DISCUSSÃO
fonogramas "Samba pro Pedrinho e "Samba Novo". O primeiro foi executado pelo Sambalanço
Trio, no qual Clayber toca com César Camargo Mariano ao piano e Airto Moreira à bateria. O
segundo é interpretado pelo Sambrasa Trio, que tem Hermeto Pascoal como pianista.
Os fonogramas selecionados para a análise do estilo de Sérgio Barrozo foram, por sua
vez, "Ponte Aérea" e "Chorinho A". Ambos são executados pelo Rio 65 Trio, que tem como
piano.
Após a identificação dos padrões rítmicos, dos padrões melódicos e dos pontos de
interação, foi realizada uma análise dos resultados, a fim de identificar alguns traços estilísticos
71
Álbum: Reencontro com Sambalanço Trio
Ano: 1965
Forma: AA1, B1, A1/AA2, B2, A2/AA3, B3, A3/ AA4, coda
Andamento: 90 bpm
72
a) Transcrição da linha de contrabaixo com a melodia do tema e alguns trechos de
interação
73
74
75
76
77
78
79
80
81
b) Padrões rítmicos
2 vezes
2. 3, 11
2 vezes
3. 4, 12
8 vezes
5, 13, 29, 37, 57,
4. 69, 93, 102
ou
82
PADRÃO RITMO COMPASSO REPETIÇÕES
1 vez
5. 10
1 vez
6. 14
2 vezes
7. 15, 16
1 vez
8. 17
6 vezes
20, 21, 48, 52,
9.
62, 63
5 vezes
10. 22, 23, 28, 46, 54
1 vez
11. 24
1 vez
12. 25
1 vez
13. 26
2 vezes
14. 27, 37
1 vez
15. 31, 18
1 vez
16. 34
2 vezes
17. 35, 64
1 vez
18. 36
83
PADRÃO RITMO COMPASSO REPETIÇÕES
1 vez
19. 40
2 vezes
20. 41, 97
1 vez
21. 44
1 vez
22. 47
1 vez
23. 50
1 vez
24. 51
1 vez
25. 53
1 vez
26. 55
1 vez
27. 56
1 vez
28. 58
1 vez
29. 59
1 vez
30. 60
1 vez
31. 61
1 vez
32. 65
4 vezes
33. 66, 74, 90, 98
2 vezes
34. 67, 75
4 vezes
35. 68, 76, 92, 100
84
PADRÃO RITMO COMPASSO REPETIÇÕES
1 vez
36. 91
1 vezes
37. 94
1 vez
38. 95
1 vez
39. 96
Os padrões melódicos foram identificados a partir dos ritmos que aparecem no mínimo
duas vezes ao longo da transcrição. Na tabela, podemos ver o número do padrão, o compasso em
Padrão rítmico 2 –
PADRÃO
COMPASSOS PADRÕES MELÓDICOS ANÁLISE MELÓDICA
MELÓDICO
1. 3
2. 11
1, 5↑, 1/b7, 5↓
85
Ambos os padrões melódicos são executados em uma progressão de dois acordes e
possuem o mesmo perfil melódico; porém, o primeiro com o padrão melódico no segundo tempo
1, b7↓ e o segundo b7, 5↓.
Padrão rítmico 4
ou
1, b3↑, 1/b7↓,5↓,1
5. 57
1, b5↑, 1/1, 5↓, 1
6. 69
1, b3↑, 1/b7↓,5↓,1
86
da 6ª do acorde e antecipando ao final o acorde do próximo compasso (Em7). No padrão 4,
Clayber executa notas do arpejo de Bb7 (a 7ª e a 5ª) e antecipa o próximo acorde (Em7). No
padrão 5, o primeiro tempo tem um perfil melódico diferente dos demais e, no segundo tempo,
um perfil descendente utilizando a fundamental e a quinta do acorde de G7.
Padrão rítmico 7
PADRÃO COMPASSO
PADRÕES MELÓDICOS ANÁLISE MELÓDICA
MELÓDICO S
7. 15
1, 5↑/1, 1↓, 1
8. 16
1, 4↑/5↑, 7↑, 1
O padrão melódico, realizado sobre a progressão Dm7/G7, inicia o primeiro tempo com
fundamental, e quinta no primeiro acorde (Dm7). No segundo tempo, na figura rítmica do
segundo tempo (colcheia + 2 semicolcheias), o contrabaixista tocou fundamental, fundamental
oitava abaixo, antecipando a nota do acorde do próximo compasso.
Padrão rítmico 9
87
Tabela 7 - Padrões melódicos extraídos a partir do padrão rítmico 9
1, #4↑/ 5↑, 5↑
10. 48
1, 1/ 5↓, 5↓
11. 52
1, 5↑/ 5↑, 5↑
12. 62
1, 5↑/ 1, 5↓
13. 63
1, 5↑/1, 3↑
primeiro tempo e repetição de notas no segundo tempo. Nos padrões 12 e 13, utiliza-se de perfil
Padrão rítmico 10
88
PADRÃO MELÓDICO COMPASSOS PADRÕES MELÓDICOS ANÁLISE
MELÓDICA
14. 22
1, #4↑/5↑, 1, #4↑,
1
15. 23
1, 5↓/1, b7↓, 6↓,
5↓
16. 28
1, b3↑/1, 5↓, b7↓,
5↓
17. 46
1, 5↑/1, 5↓, b3↓,
1↓
18. 54
1, 1/5↑, 1, #4↑, 1
Nos padrões 14, 16 e 18, o contrabaixista faz uso de nota pedal na figura rítmica do
segundo tempo. Já nos padrões 15 e 17, utiliza um perfil melódico descendente no segundo
tempo. O primeiro (15) desce diatonicamente, e o segundo (17), por arpejo de Lá maior.
Padrão rítmico 14
89
PADRÃO COMPASSOS PADRÕES MELÓDICOS ANÁLISE
MELÓDICO MELÓDICA
20. 37
1, b3, 1/6↓, 5↓,
4↓
Esses padrões melódicos são semelhantes aos originados do padrão rítmico 4; porém, não
antecipam o acorde do próximo compasso.
Padrão rítmico 15
22. 38
90
Padrão rítmico 17
1, 5↑/1, b7↓5↓1
24. 64
Esses dois padrões (23 e 24), apresentam perfil melódico semelhante, no segundo tempo,
aos padrões melódicos 21 e 22. Porém, diferenciam-se ritmicamente no primeiro tempo dos
padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 15. No padrão 23, no segundo tempo, Clayber
utiliza notas de aproximação melódica para o Em7 (Fá e Ré), antecipando logo em seguida a
fundamental deste acorde.
Padrão rítmico 20
Esse padrão foi repetido duas vezes e realizado sobre uma progressão de dois acordes
(Dm7, G7).
91
Padrão rítmico 33
Esse padrão foi repetido quatro vezes e realizado sobre progressão de Cmaj7 e Am7.
Padrão rítmico 34
Padrão rítmico 35
92
Tabela 15 Padrões melódicos extraídos a partir do padrão rítmico 35
Esse padrão foi repetido quatro vezes e realizado sobre a progressão de Em7 e A7.
Neste trecho, o contrabaixista acentua de três em três colcheias, assim como a acentuação
da melodia, causando a impressão de um compasso ternário.
93
Figura 8 – "Samba pro Pedrinho" – Ponto de interação 1.
Neste trecho, o baixo cria juntamente com a bateria um momento de maior densidade
rítmica. Ao mesmo tempo, os dois instrumentos realizam figuras rítmicas em comum. Clayber
utilizou o padrão melódico 1, 5↑/1, 7↓, 5↓/ 1.
Neste trecho, após a execução de uma ideia melódica no solo de César Camargo, Clayber
realiza um preenchimento na pausa após a execução da ideia do piano.
94
Figura 10 – "Samba pro Pedrinho" – Ponto de interação 3.
Neste trecho, o baixo toca a mesma figura rítmica que o piano e a bateria no último tempo
do compasso.
95
Figura 12 – "Samba pro Pedrinho" – Ponto de interação 5.
Neste trecho, Clayber, após a sugestão de um lick característico do Blues realizado por
César Carmargo, Clayber sugere um walkin’ bass no primeiro tempo compasso 64.
96
Figura 14 – "Samba pro Pedrinho" – Ponto de interação 6.2.
97
4.1.2 "Samba Novo": dados contextuais do fonograma
Ano: 1965
Forma: A1, A’1, B1, B’1/ A2, A’2, B2, B’2 / A’3, B3, B’3
98
a) Transcrição da linha de contrabaixo com a melodia do tema e alguns trechos de
interação
99
100
101
102
103
104
105
106
b) Padrões rítmicos
4 vezes
2. 4, 15, 31, 84
1 vez
3. 5
3 vezes
4. 6, 26, 98
4 vezes
5. 7, 11, 35, 99
3 vezes
6. 8, 30, 94
1 vez
7. 9
107
PADRÃO NOTAÇÃO COMPASSOS REPETIÇÕES
6 vezes
8. 10, 14, 24, 34, 38, 90
1 vez
9. 12
1 vez
10. 13
1 vez
11. 16
1 vez
12. 19
1 vez
13. 20
1 vez
14. 21
3 vezes
15. 22, 46, 86
4 vezes
16. 23, 29, 47, 87
2 vezes
17. 25, 27
1 vez
18. 32
1 vez
19. 33
2 vezes
20. 36, 92
2 vezes
21. 37, 101
1 vez
22. 41
2 vezes
23. 42, 85
1 vez
24. 43
108
PADRÃO NOTAÇÃO COMPASSOS REPETIÇÕES
2 vezes
25. 44, 56
1 vez
26. 45
1 vez
27. 48
1 vez
28. 49
1 vez
29. 50
1 vez
30. 51
1 vez
31. 52
1 vez
32. 53
1 vez
33. 54
1 vez
34. 55
3 vezes
35. 89, 93, 97
1 vez
36. 91
2 vezes
37. 95, 96
1 vez
38. 100
1 vez
39. 102
Padrão rítmico 1
109
Tabela 17 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 1
3, 83 1, b3↑, 1
Padrão rítmico 2
3.
15 1, 1, 5↑/5↑, 2↑, 5
4.
O primeiro padrão melódico (2) foi repetido duas vezes. Apesar do acorde ser D7,
Clayber faz uso de terça menor (Fá). No segundo tempo desse padrão, utiliza-se da quinta e da
terça menor. No padrão melódico (3), diferentemente do padrão anterior, Clayber faz uso de
110
repetição de notas, como a nota ré no primeiro tempo e a nota Lá no segundo. Ao final desse
padrão, antecipa a quinta do acorde de Db7 (a nota Láb). No padrão melódico 4, o contrabaixista
utiliza as notas da tríade de Em7(b5) no primeiro tempo e notas de passagens diatônicas no
segundo (Lá e Sol), antecipando a nona menor do acorde de A7 (Sib).
Padrão rítmico 4
PADRÃO
COMPASSOS PADRÕES MELÓDICOS ANÁLISE MELÓDICA
MELÓDICO
5.
6 1, 3↑, 5↑/1↑, 1
6.
26 1, 5↑, 1/b5↑, 1
7.
98 1, 1↑, 5↑/b5↑, 1
No padrão melódico 5, Clayber toca no primeiro tempo o arpejo de Dó maior (Dó, Mi,
Sol). No segundo tempo, toca a fundamental oitava acima e antecipa a fundamental do acorde de
Fmaj7. Os padrões 6 e 7 são bem semelhantes; a diferença é que, no primeiro tempo de cada um,
inverte-se a configuração 1, 5↑,1 (padrão 6) para 1, 1↑, 5↑ (padrão 7).
Padrão rítmico 5
PADRÃO PADRÕES
COMPASSOS ANÁLISE MELÓDICA
MELÓDICO MELÓDICOS
111
8.
7 1, 1/5↓, 5↓
9.
11 1, 4↑/ 5↑, 7↑
10.
35, 99 1, 1/b5↑, 1
A partir desse padrão rítmico, o contrabaixista apresentou três perfis melódicos diferentes.
No padrão melódico 9, utilizou notas de passagem (as notas Fá e Si).
Padrão rítmico 6
12.
30 1, 5↑/1, 7↓, 1
Padrão rítmico 8
112
Tabela 22 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 8
PADRÃO
COMPASSOS PADRÕES MELÓDICOS ANÁLISE MELÓDICA
MELÓDICO
13.
10 1, 5↑/1, 1
14.
14 1, 3↑/ 5↑, 1
15.
24 1, 7↓/1, 1
16.
34, 90 1, 1↑/b5, 1
17.
38 1, 5↓/1, 1
Padrão rítmico 15
PADRÃO
COMPASSOS PADRÕES MELÓDICOS ANÁLISE MELÓDICA
MELÓDICO
18.
22, 46 1, 4↑, 5↑/1, 0
113
19.
86 1, 4↑, 5↑/1, 1
Os dois padrões são praticamente iguais; porém, no primeiro, o contrabaixista faz uso de
notas mortas.
Padrão rítmico 16
PADRÃO
COMPASSOS PADRÕES MELÓDICOS ANÁLISE MELÓDICA
MELÓDICO
20.
21.
29 1, b3↑/5↑, 3↑
O padrão melódico 20 é repetido três vezes e tem um perfil melódico diferente do padrão
melódico 21. O segundo padrão utiliza notas do arpejo de Dm7 (Ré, Fá, Lá, Fá).
Padrão rítmico 17
25, 27
PADRÃO
COMPASSOS PADRÕES MELÓDICOS ANÁLISE MELÓDICA
MELÓDICO
114
22.
25 1, 1↓/1, b5↓
23.
27 1, 1↓/b3↓, b5↓
Padrão rítmico 20
PADRÃO
COMPASSOS PADRÕES MELÓDICOS ANÁLISE MELÓDICA
MELÓDICO
24.
25.
115
Padrão rítmico 21
PADRÃO
COMPASSOS PADRÕES MELÓDICOS ANÁLISE MELÓDICA
MELÓDICO
26.
Esse padrão foi repetido duas vezes. O contrabaixista utilizou notas do arpejo de Dm7
(Ré, Fá, Lá, Ré).
Padrão rítmico 23
42 1, b5↑/1, 5↑
28.
85 1, 5↓/1, 5↓
O padrão melódico 27 foi realizado sobre dois acordes e possui dois saltos de quinta
ascendentes. O padrão 28, ao contrário, possui dois saltos de quinta descendentes.
Padrão rítmico 25
116
Tabela 29 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 26
30.
No padrão 29, o contrabaixista inicia com a nota Mi, que é a segunda maior em relação ao
acorde. No segundo tempo, o contrabaixista toca a tríade completa de Dm, utilizando a terça
menor sobre o acorde D7. No padrão 30, o baixista utiliza a repetição da quinta no primeiro
tempo e a repetição da fundamental no segundo tempo.
Padrão rítmico 35
89, 97 1/ 1, b5
32.
93 4/ 1, 5↑
117
Padrão rítmico 37
34.
96 b2, 1, 7↓/b3↓, 1
118
Figura 15 – "Samba Novo" – Ponto de interação 1.
Neste trecho, pelo acompanhamento que o piano vinha fazendo, o baixista prevê a célula
rítmica do piano, antecipando o acorde de Dm7.
119
Neste trecho, no compasso 9, a rítmica da melodia é a mesma do compasso seguinte, o
que pode ter feito com que o contrabaixista previsse a rítmica do compasso 10.
No compasso 11, a melodia sustenta a nota Sol e o baixo preenche esse espaço com um
padrão melódico realizado sobre o acorde de Cmaj7. No compasso 12, Hermeto preenche o
120
Figura 18 – "Samba Novo" – Ponto de interação 4.
a linha de baixo. Nos compassos seguintes, o contrabaixo antecipa algumas notas, pontuando a
121
Figura 19 – "Samba Novo" – Ponto de interação 5.
122
Figura 21– "Samba Novo" – Ponto de interação 7.
Neste trecho há uma chamada-resposta, na qual Clayber antecipa o que o piano irá tocar
123
Neste trecho, o contrabaixo antecipa o acorde de Em7(b5) juntamente com o piano; No
compasso 36, o baixo executa um padrão melódico com o preenchimento em relação à melodia.
Neste trecho, temos dois tipos de interação. A primeira é uma unidade rítmica entre os
três integrantes do trio no segundo tempo do compasso: no compasso 42, o baixo antecipa o
acorde de Bm7(b5), toca um padrão de colcheias, que concretiza uma união rítmica com a
melodia do piano; nos compassos 43 e 44, o baixo realiza um preenchimento em relação à nota
longa da melodia.
124
Figura 24 – "Samba Novo" – Ponto de interação 10.
125
Ponto de interação 12 – Compassos 55 e 56 – Unidade rítmica
Neste trecho, Clayber prevê a partir da ideia melódica do compasso 55 e toca o mesmo
padrão rítmico do piano no compasso 56.
Neste trecho, no compasso 83, os três músicos tocaram a mesma figura rítmica, formando
uma unidade rítmica; no compasso 84, o baixo e a bateria antecipam a semicolcheia e, no final
deste, todos antecipam a última nota do compasso.
126
Figura 27 – "Samba Novo" – Ponto de interação 13.
Neste trecho houve uma antecipação rítmica do acorde de F#m7(b5) juntamente com a
rítmica da bateria.
.
Figura 28 – Samba Novo – Ponto de interação 14.
127
Ponto de interação 15 – Compassos 95 e 96 – Unidade rítmica
Neste trecho, há uma unidade rítmica da linha de baixo com a melodia; no compasso
seguinte, o baixo realiza um preenchimento com a mesma rítmica da bateria, antecipando o
acorde do próximo compasso.
128
Figura 30 – "Samba Novo" – Ponto de interação 16.
Esta foi a linha de contrabaixo em que houve o maior número de pontos de interação, num
total de 16. Provavelmente o pianista Hermeto Pascoal proporcionou esse tipo de interação, tanto
no acompanhamento do piano, como nas ideias em seus improvisos. Além disso, foram extraídos
encontrados a partir de uma comparação entre os dois fonogramas. No item "a" estão os padrões
rítmicos em comum aos dois fonogramas. A partir destes padrões rítmicos, foram encontrados
129
novos padrões melódicos. Os padrões melódicos que já foram expostos, nos itens acima, não
a) Padrões Rítmicos
Foram identificados três padrões rítmicos na comparação das duas linhas de contrabaixo.
1. 43
22, 23, 28, 46, 54
2. 25 32
3. 40 50
b) Padrões Melódicos
Padrão 1
130
Tabela 33 - Padrões particulares de Clayber 1
Padrão 2
3.
No padrão número 2, o contrabaixista utilizou de uma nota de tensão (a nona – nota mi)
do acorde de Dm7. No segundo tempo, utilizou-se de notas do acorde de G7. O padrão 3 inicia
com uma nota de tensão do acorde (a nona bemol – nota Sib) e executa um perfil melódico com
notas do acorde.
131
Padrão 3
5.
50 1, 3↑, 1/0, 0, 0
Clayber:
Sobre os padrões rítmicos de "Samba pro Pedrinho", podemos considerar que o mais
repetido foi o número 4 num total de 8 repetições. Ele foi utilizado nas progressões Fm7 Bb7 e
132
Dm7 G7 e provavelmente se baseou na rítmica da melodia. Foi executado principalmente na
seção A, com exceção do compasso 57, que está localizado no final da seção B da composição.
Padrão rítmico 4
ou
Padrão rítmico 9
133
O uso de nota pedal em alguns padrões.
"Samba Novo"
padrão que mais se repetiu (6 repetições). Ele foi utilizado em praticamente todas as seções da
composição, além de ser usado em alguns pontos de interação, executando a mesma rítmica da
bateria.
Padrão rítmico 8
134
Uma das células rítmicas básicas da condução no samba foi repetida 4 vezes
Padrão rítmico 16
Pedrinho", Porém, essa foi a linha de baixo em que o contrabaixista mais interagiu com os
integrantes do grupo. No total, foram 16 pontos de interação, e a maioria deles foi de unidade
rítmica.
1, #4↑/5↑, 5↑
135
1, 1/5↓, 5↓
1, 5↑/5↑, 5↑
1, 5↑/ 1, 5↓
1, 5↑/1, 3↑
"Samba Novo"
1, 1/5↓, 5↓
1, 3↑/5↑, 3↑
O único padrão melódico em comum entre as duas gravações foi "1, 1/5↓, 5↓" Portanto,
não foram encontrados muitos padrões melódicos a partir da identificação dos rítmicos entre as
duas gravações. Provavelmente isso ocorreu em razão do fato de haver mais pontos de interação
no fonograma "Samba Novo". O contrabaixista interagiu mais no contexto do trio com o pianista
136
4.2 Condução de Sérgio Barrozo
Compositor: Zé Keti
Ano: 1965
Andamento: 90 bpm
137
a) Transcrição da linha de contrabaixo com a melodia do tema e alguns trechos de
interação
138
139
140
141
142
143
144
145
146
b) Padrões rítmicos
Tabela 36 - Padrões rítmicos "Ponte Área"
1 vez
3 9
1 vez
4 10
4 vezes
5 12, 20, 40, 67
1 vez
6 15
2 vezes
7 16, 18
1 vez
8 23
1 vez
9 24
3 vezes
10 25, 62, 65
1 vez
11 26
2 vezes
14 31, 57
147
PADRÃO RITMO COMPASSO REPETIÇÕES
1 vez
15 36
2 vezes
16 37, 77
3 vezes
17 38, 78, 80
1 vez
18 39
2 vez
19 41, 50
3 vezes
20 42, 81, 82
2 vezes
21 43, 83
1 vez
22 46
1 vez
23 49
1 vez
24 51
1 vez
25 53
1 vez
26 56
1 vez
27 58
1 vez
28 61
1 vez
29 64
1 vez
30 66
148
PADRÃO RITMO COMPASSO REPETIÇÕES
1 vez
31 70
1 vez
32 71
1 vez
33 79
Padrão rítmico 1
1, 1/3↑, 1
2. 11, 17, 19
1, 0/1, 1
3. 33
1, 0/1, 1↑
149
PADRÃO MELÓDICO COMPASSOS PADRÕES MELÓDICOS ANÁLISE
MELÓDICA
4. 63
1, 5↑/5↓, 1↑↑
Padrão rítmico 2
8 1, 1/1, 2
6.
34 1, 1/5↓, 1
150
7.
54 3↓, 5↓/1, 6↓
Padrão rítmico 5
8. 1, 0/1, b7↑
12
9.
20 1, 1/1, b7↑
10. 1, 1/ b3↑, 0
40
11.
67 1, 1/5↑, 0
151
fundamental. Os padrões 10 e 11 também são similares; porém, no padrão 10, Barrozo usou a
terça no segundo tempo e, no outro, usou a quinta.
Padrão rítmico 7
ANÁLISE
PADRÃO MELÓDICO COMPASSOS PADRÕES MELÓDICOS
MELÓDICA
12.
16, 18 1, 1/1, 2↑
Esse padrão foi repetido duas vezes e realizado sobre o acorde de D7.
Padrão rítmico 10
ANÁLISE
PADRÃO MELÓDICO COMPASSOS PADRÕES MELÓDICOS
MELÓDICA
13.
25, 65 1, 1/3↓
14.
63 5, 0/3↓
152
Os dois padrões possuem o mesmo perfil melódico; porém, o primeiro (13) inicia-se na
fundamental e o segundo (14), na quinta.
Padrão rítmico 12
15.
27 1, 0/5↑, 0
16.
28 1, 0/5↓, 0
17.
29 1, 1/5↑, 0
18.
32 1, 0/1, 5↑
19.
35 1, 1/1, 1
20.
47 1, 1/5↓, 1
153
21.
48, 69 1, 1/5↑, ↑
22.
52 7, 0/1, 0
23.
55, 59 1, 0/3↑, 0
24.
56 1, 1/4↑, 6↑
25.
60, 1, 0/5↑, 4↑
26.
68 1, 0/5↓, 1
27.
72 1, 0/1,0
28.
73 5↑, 5↑/1, 1
29.
74 1, 1/5↓, 1
Este padrão rítmico foi repetido 15 vezes. Na maioria das opções melódicas, o
contrabaixista utilzou-se de notas do acorde. Porém, em 21, 24, e 25, o contrabaixista utilizou
algumas notas de passagem.
154
Padrão rítmico 14
ANÁLISE
PADRÃO MELÓDICO COMPASSOS PADRÕES MELÓDICOS
MELÓDICA
30.
31 1, 1/5↓, 1, 5↓
31.
57 1, 1/5↓, 1, 5↓
Padrão rítmico 16
ANÁLISE
PADRÃO MELÓDICO COMPASSOS PADRÕES MELÓDICOS
MELÓDICA
32.
155
Padrão rítmico 17
ANÁLISE
PADRÃO MELÓDICO COMPASSOS PADRÕES MELÓDICOS
MELÓDICA
33.
38, 78 1/ b5, 1
34.
80 1/1, 1
Padrão rítmico 19
ANÁLISE
PADRÃO MELÓDICO COMPASSOS PADRÕES MELÓDICOS
MELÓDICA
35.
41 1, 1/5↑, 1, 1
36.
50 1, 0/1, 2↑, 1
156
Padrão rítmico 20
PADRÃO ANÁLISE
COMPASSOS PADRÕES MELÓDICOS
MELÓDICO MELÓDICA
37.
42, 82 1/1, 1
38.
81 1/1, 1
Padrão rítmico 21
ANÁLISE
PADRÃO MELÓDICO COMPASSOS PADRÕES MELÓDICOS
MELÓDICA
39.
43 1, 1/ 1
40.
83 1, 1/1
157
Mesmo padrão; porém, na primeira opção, o contrabaixista optou pelo Lá mais grave
(corda solta) e, na segunda, pelo Lá mais agudo.
158
Nesse trecho, o contrabaixista antecipa a fundamental do acorde de D7 na última
semicolcheia do compasso.
Neste trecho, houve uma unidade rítmica entre o baixo e o piano no segundo tempo do
compasso.
159
Ponto de interação 3 - Compasso 18 – Unidade rítmica
Neste trecho, houve uma unidade rítmica entre o acompanhamento do piano, o baixo e a
bateria.
160
Nesse ponto de interação, no segundo tempo, a melodia sustenta a nota Lá e o baixo
executa um preenchimento.
161
Figura 36 – "Ponte Aérea" - Ponto de interação 6.
162
Ponto de interação 8 – Compasso 47 – Unidade rítmica
Nesse trecho, há uma unidade rítmica com o baixo e o improviso do piano no segundo
tempo do compasso.
163
164
4.2.2 "Chorinho A": dados da composição
Ano: 1966
Andamento: 91 bpm
165
a) Transcrição da linha de contrabaixo com a melodia do tema e alguns trechos de
interação
166
167
168
169
170
171
172
173
174
175
b) Padrões rítmicos
Tabela 49 - Padrões rítmicos "Chorinho A"
7 vezes
2 2, 18, 21, 29, 45, 88, 96
13 vezes
3, 5, 10, 11, 13, 19, 26, 27, 42,
3
43, 85, 86, 93
4 vezes
4 6, 30, 46, 89
1 vez
5 9
3 vezes
6 14, 52, 97
4 vezes
7 17, 68, 70, 76
1 vez
8 22
2 vezes
8 25, 60
2 vezes
9 41, 84
3 vezes
10 53, 57, 82
1 vez
11 54
176
PADRÃO NOTAÇÃO COMPASSOS REPETIÇÕES
1 vez
12 56
2 vezes
13 58, 74
1 vez
14 59
1 vez
15 61
3 vezes
16 64, 69, 80
2 vezes
17 65, 81
1 vez
18 66
3 vezes
19 67, 73, 83
1 vez
20 72
1 vez
21 75
1 vez
22 77
1 vez
23 78
1 vez
24 92
177
c) Padrões melódicos
Padrão rítmico 1
1 1, 0/5↓, 1
2.
62 1, 5↓/1, 1↑
Padrão rítmico 2
PADRÃO
COMPASSOS PADRÕES MELÓDICOS ANÁLISE MELÓDICA
MELÓDICO
178
3.
2, 18 1/1, 1
4.
São dois padrões com o mesmo perfil melódico; porém, com notas diferentes.
Padrão rítmico 3
3, 19 1, 0, 5↓, 1
6.
5, 13 1, 1, b5↑, 1
7.
10, 26, 42, 85 1, 0/1, 1
8.
11 1, 1/5↓, 1
179
9.
27 1, 7↓/5↓, 1
10.
43 1, 6↓/5↓, 1
11.
86 1, 1/5↓, 1
12.
93 1, 1/1, 1
Padrão rítmico 4
PADRÃO
COMPASSOS PADRÕES MELÓDICOS ANÁLISE MELÓDICA
MELÓDICO
13.
6 1, 1/1, 1
180
14.
30, 46 1, 0/1, 0
15.
89 1, 0/1, 1
Os três padrões são bem semelhantes, diferenciando-se apenas pelo uso de notas mortas.
Padrão rítmico 6
PADRÃO
COMPASSOS PADRÕES MELÓDICOS ANÁLISE MELÓDICA
MELÓDICO
16.
14 1, 0/1
17.
52 1, 1/3↓
18.
97 1, 1/1
Padrão rítmico 7
181
Tabela 55 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 7
PADRÃO
COMPASSOS PADRÕES MELÓDICOS ANÁLISE MELÓDICA
MELÓDICO
19.
17 1/1↓, 1
20.
68, 76 1/3↓, 1
21.
70 1/1, 1
Padrão rítmico 8
PADRÃO
COMPASSOS PADRÕES MELÓDICOS ANÁLISE MELÓDICA
MELÓDICO
22.
25 1, 5↑/ 0, 5↓, 1
23.
60 1, 7↓/1, 1, 1
182
Os dois padrões possuem perfis melódicos diferentes.
Padrão rítmico 9
PADRÃO
COMPASSOS PADRÕES MELÓDICOS ANÁLISE MELÓDICA
MELÓDICO
24.
41 1, 1↓/5↓, 1↓, 1
25.
84 1, 0/5↓, 1↓, 1
Padrão rítmico 10
27.
57 1, 1/3↑. 1
183
28.
82 1, 0/#4, 7
Nos dois primeiros (26 e 27), há repetição de notas no primeito tempo; no segundo tempo
de 26, há uma passagem diatônica para o acorde do próximo compasso (nota Dó) e no 27 há a
utilização de notas do arpejo (Lá e Fá).
Padrão rítmico 13
PADRÃO
COMPASSOS PADRÕES MELÓDICOS ANÁLISE MELÓDICA
MELÓDICO
29.
58 1, 0/1
30.
74 1, 1/1
Os dois padrões se diferenciam apenas pela utilização de nota morta no padrão 30.
Padrão rítmico 16
184
Tabela 60 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 16
PADRÃO
COMPASSOS PADRÕES MELÓDICOS ANÁLISE MELÓDICA
MELÓDICO
31.
32.
69 1, 1, #1/2, #4, 6
Padrão rítmico 17
65 1, 0/5↓, 1, 2↑
34.
81 1, 0/1, 4, b3↓
Padrão rítmico 19
185
Tabela 62 - Padrões melódicos extraídos do padrão rítmico 19
67 4/1, 3↑
36.
73 3/1, 3↑
37.
83 7/1, 4↑
186
Figura 39 – "Chorinho A" - Ponto de interação 1.
Nesse trecho, há uma unidade rítmica entre a linha de baixo e a melodia do piano no
segundo tempo do compasso.
187
Figura 41 – "Chorinho A" - Ponto de interação 3.
Nesse trecho, há uma unidade rítmica entre o baixista e o baterista; Barrozo antecipa o
acorde de Bbmaj7.
Nesse trecho, há uma unidade rítmica entre a melodia e a linha de contrabaixo no segundo
tempo do compasso.
188
Ponto de interação 5 – Compassos 68 e 69
ritmo. Além disso, foram encontrados 5 pontos de interação. Notou-se pouca interação melódica
Nesse item, estão dispostos os padrões particulares de Sérgio Barrozo, que foram
encontrados a partir de uma comparação entre os dois fonogramas. No item "a" estão os padrões
rítmicos comuns a ambos. A partir desses padrões rítmicos, foram encontrados novos padrões
189
melódicos. Os padrões melódicos que já foram expostos nos itens acima, não são expostos
a) Padrões Rítmicos
2. 8, 34, 54 22
3. 10 61
5. 15 41, 84
6. 31, 57 65, 81
190
7. 42, 81, 82 2, 18, 21, 29, 45, 88,
96
8. 51 14, 52, 97
9. 56 53, 57, 82
10. 70 75
b) Padrões Melódicos
Abaixo, foram expostos apenas os padrões que ainda não apareceram na análise realizada
nos itens anteriores.
Padrão 2
PADRÃO Chorinho A
COMPASSOS ANÁLISE MELÓDICA
MELÓDICO
191
1
22 1, 0/5↓, 1
Padrão 3
10 1/1, 2↑
PADRÃO Chorinho A
COMPASSOS ANÁLISE MELÓDICA
MELÓDICO
3
61 1/1, 2↑
192
Padrão 5
15 1, 1/3↑, 1, 1
Padrão 8
51 1, 0/2↑
Padrão 9
193
PADRÃO Ponte Aérea
COMPASSOS ANÁLISE MELÓDICA
MELÓDICO
6
56 1, 1/4↑, 6↑
Padrão 10
PADRÃO Chorinho A
COMPASSOS ANÁLISE MELÓDICA
MELÓDICO
194
8
A partir das análises dos padrões e dos pontos de interação, pudemos deduzir as
"Ponte Aérea"
O padrão rítmico com maior número de repetições foi uma das células estruturais
de condução no samba:
Padrão rítmico 12
Compassos: 27, 28, 29, 32, 35, 47, 48, 52, 55, 56, 59, 60, 68, 69, 72, 73, 74
Esse padrão foi repetido 17 vezes, o que pode determinar uma característica de marcação
Padrão rítmico 1
195
Compassos: 7, 11, 17, 19, 33, 63, 75
O baixista se utilizou de notas mortas em vários padrões, como, por exemplo, nos padrões
melódicos 2 e 3;
Barrozo faz uso, no segundo tempo, de uma passagem escalar, seja utilizando notas do
Nessa linha de contrabaixo, não houve muitos momentos de interação. Notamos que o
"Chorinho A"
Foi encontrado o padrão 11 como célula estrutural do samba e foi identificado o seguinte
padrão rítmico, que apareceu apenas uma vez durante a linha de contrabaixo:
Padrão 11
196
Compasso: 54
Padrão 3
Compassos 3, 5, 10, 11, 13, 19, 26, 27, 42, 43, 85, 86, 93.
Padrão 2
Nessa linha de contrabaixo, não houve muitos momentos de interação. Assim como a
anterior, Barrozo evitou alguns momentos de interação para marcar o tempo. No total, foram 5
Desses 10, extraímos mais 8 padrões melódicos. No fonograma "Chorinho A", o único padrão
básico de condução foi o padrão rítmico 11. Portanto, como parâmetro de comparação melódica
197
"Ponte Aérea"
1, 0/5↑, 0
1, 0/5↓, 0
1, 1/5↑, 0
1, 0/1, 5↑
1, 1/1, 1
1, 1/5↓, 1
1, 1/5↑, ↑
7, 0/1, 0
1, 0/3↑, 0
1, 1/4↑, 6↑
1, 0/5↑, 4↑
1, 0/5↓, 1
198
1, 0/1,0
5↑, 5↑/1, 1
1, 1/5↓, 1
"Chorinho A"
1, 0/5↓, 1
1, 1/ b5↑, 1
1, 0/1, 1
1, 1/5↓, 1
1, 7↓/5↓, 1
1, 6↓/5↓, 1
1, 1/5↓, 1
1, 1/1, 1
199
Os padrões "1, 1/1, 1" e "1, 0/5↓, 1" foram os únicos em comum encontrados na
comparação entre as duas linhas de Barrozo. Foram encontrados muitos padrões melódicos a
partir da identificação dos rítmicos entre as duas gravações. Notamos que Barrozo optou várias
comparação das linhas de "Samba pro Pedrinho" com as linhas de "Chorinho A" e "Ponte Aérea".
Na segunda tabela, adotou-se o mesmo procedimento coma linha de "Samba Novo". Nos campos
da tabela em que não foram identificados padrões, marcou-se um "X". Encontramos 15 padrões
200
Samba pro Ponte Aérea Chorinho A
Pedrinho/
17/ 35, 64 X 5/ 9
1.
19/ 31, 38 3/ 9 X
2.
27/ 55 11/ 26 X
3.
28/ 56 26/ 56 X
4.
38/ 95 33/ 75 X
5.
201
b) Padrões identificados a partir de Samba Novo
6.
19/ 41, 50 X
6/ 8, 30, 94
8.
30/ 66 X
8/ 10, 14, 24, 34, 38,
9. 90
10. 19/ 33
202
Samba Novo Ponte Aérea Chorinho A
2/ 8, 34, 54 X
21/ 37, 101
11.
27/ 58 X
26/ 45
12.
6/ 15 X
30/ 51
13.
4/ 10 X
35/ 89, 93, 97
14.
6/ 14, 52, 97 X
36/ 91
15.
203
CONSIDERAÇÕES FINAIS
linhas de Humberto Clayber e Sérgio Barrozo. Estes aspectos apontaram alguns traços estilísticos
da linha contrabaixo executada na década de 1960 no Brasil, com foco na concepção dos trios
formados por piano, baixo e bateria. Para tal, extraímos uma série de padrões rítmicos, melódicos
instrumental no país. A princípio, notamos que as jam sessions contribuíram bastante para o
desenvolvimento desse tipo de música. Nos EUA, as jams surgiram por volta da década de 1930
Outro fator de destaque é que a busca por uma nova concepção de tocar dos músicos
instrumentais brasileiros já veio de meados da década de 1950, no Rio de Janeiro, com o grupo
Turma da Gafieira, com o qual o baterista Edson Machado consolida alguns padrões de condução
São Paulo também passou por situação semelhante – como relatou o baterista Rubens
Barsotti em entrevista concedida a Gomes (2010) –, na qual houve uma mudança do samba
cruzado para o samba de prato, ou seja, trocou-se uma condução rítmica nesse instrumento,
204
carregada de tambores, por formas de acompanhar mais "abertas", conduzidas no prato da
O principal público, de poder aquisitivo mais elevado e consumidor deste tipo de música,
que temos ciência é o chamado café society. Tanto no Rio de Janeiro, como em São Paulo,
notamos que houve um cenário musical muito propício para o trabalho desses grupos
instrumentais. Havia muitas casas, boates e, além disso, um convívio social elevado entre
Bossa Três: Luis Carlos Vinhas (piano), Sebastião "Tião" Neto (baixo) e Edison
Machado (bateria);
Jongo Trio: Cido Bianchi (piano), Sebastião Oliveira da Paz "Sabá" (baixo) e
Rio 65 Trio: Dom Salvador (piano), Sergio Barroso (baixo), Edison Machado
(bateria);
Moreira (bateria);
Tamba Trio: Bebeto Castilho (baixo), Luis Eça (piano), Hélcio Milito (bateria);
205
Zimbo Trio: Amilton Godoy (piano), Luís Chaves (baixo), Rubens Barsoti
(bateria).
formaram principalmente devido à influência de grupos como o de Oscar Peterson e Bill Evans.
Os baixistas Ray Brown e Scott LaFaro foram os mais citados dentro das influências principais
dos dois contrabaixistas. Ray Brown, que neste período fazia parte de importantes grupos do
cenário musical mundial, em especial do trio de Oscar Peterson, causou grande impacto sobre os
contrabaixistas devido à clareza e definição de suas linhas. Scott LaFaro, apesar da curta carreira,
surgiu como um contrabaixista que trouxe uma concepção mais livre de se tocar.
A metodologia de análise foi baseada nos seguintes autores: Meyer (1996), Berliner
(1994), Monson (1996), Tagg (2003), Giffoni (1997), Carvalho (2006) e Lawn e Hellmer (1993).
contrabaixistas. Comparando as duas linhas de Clayber, não foram encontrados muitos padrões
206
em comum, provavelmente pelo grande número de pontos de interação encontrados nas duas
A linha de "Samba Novo" foi a linha de baixo em que o contrabaixista mais interagiu com
os integrantes do grupo, totalizando 16 pontos de interação, o que indica uma afinidade musical
maior com o pianista Hermeto Pascoal, do que com César Camargo Mariano.
utilizou trechos com semicolcheias. Outro procedimento que o contrabaixista citou em entrevista
(VOTO, 2014) e que identificamos na análise, foi a utilização de algumas notas de passagem e
tensões como 4ª justa ou aumentada, 6ª, resolvendo em notas do acorde. Além disso, faz bastante
uso de notas de passagem diatônica nas transições de um acorde para outro. Foram identificados
poucos padrões comuns às duas linhas; o que provavelmente ocorreu em razão do fato de haver
Clayber, uma vez que sua linha de contrabaixo desempenha predominantemente a função de
marcação de ritmo. Nota-se que, na maior parte do tempo, o contrabaixista Sérgio Barrozo
harmônicas dos outros integrantes do trio. Além disso, o baixista se utilizou de notas mortas em
vários padrões nas duas linhas de contrabaixo. A partir da comparação entre as duas linhas do
contrabaixista, foram identificados os padrões melódicos "1, 1/1, 1" e "1, 0/5↓, 1".
207
Identificaram-se algumas características comuns a ambos, como a utilização
depoimento de Clayber sobre o padrão do bumbo de Milton Banana, sua utilização foi
Percebemos, com a análise do estilo dos dois contrabaixistas, que alguns padrões de
condução do samba utilizados hoje em dia se consolidaram nesse período e a sonoridade dos trios
contribuiu para o desenvolvimento dessas linhas. Devido ao escopo desta dissertação, não
história do estilo que se pretende tocar e das transcrições para o desenvolvimento do estilo
próprio de tocar contrabaixo. A música está sempre se renovando; porém, não se deve deixar de
208
REFERÊNCIAS
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University of Chicago, 1994.
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outubro de 1964, Diversão e Cultura, p. 3.
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n.16, p. 07-20, 2007.
GOMES, Marcelo Silva. Samba-jazz aquém e além da bossa nova: três arranjos para céu e
mar de Johnny Alf. Campinas - SP: Tese de Doutorado, IA/UNICAMP, 2010.
209
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210