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CONSIDERAÇÕES:
A aptidão à clínquerização de uma farinha crua influi nos processos e custos de fabricação do
clínquer portalnd, pois intervêm na marcha e estabilidade operacional do forno, no comportamento
e durabilidade dos refratários, no consumo específico de combustível, na nodulação, clínquerização
e moabilidade do clínquer. Portanto, a obtenção de condições otimizadas de queimabilidade
constitui um fator de regularidade na produção, bem como, na qualidade do cimento portland.
DEFINIÇÃO:
Aptidão à clínquerização é a maior ou menor capacidade que uma farinha tem em se transformar
num clínquer tecnicamente de boa qualidade, dentro de condições técnicas e economicamente
viáveis. O conceito de reatividade de uma farinha esta diretamente relacionada à taxa das reações
para determinadas condições de temperatura, ou seja, é função do grau de combinação do CaO
(FSC), do módulo de sílica (MS), do módulo de alumina (MA), do grau de homogeneização, da
granulometria e das espécies e estruturas mineralógicas dos minerais presentes. Como se observa, o
conceito de aptidão é relativamente complexo, pois depende de muitas propriedades e parâmetros os
quais serão separadamente e descritos na seqüência deste trabalho.
Os óxidos de cálcio, magnésio, silício e alumínio puros, isoladamente fundem a temperaturas muito
elevadas. CaO = 2760°C; SiO2 = 1710°C; Al2O3 = 2050°C; MgO = 2800°C.
A combinação destes óxidos com os demais compostos em proporções bem definidas para formar
silicatos e aluminatos cálcicos, resulta em compostos com temperatura do ponto de fusão muito
mais baixa, isto é, da ordem de 1260 - 1450°C.
Pelo aquecimento gradativo da farinha crua até atingir o estado de sinterização (fusão parcial) no
forno rotativo de clínquerização, formam-se novas combinações cristalinas entre os óxidos, vindo
em conseqüência, a constituir as chamadas “fases cristalinas do clínquer portland”.
1. Todo o Fe2O3 e parte do Al2O3 existente no processo se combinam com o CaO disponível no
processo para formar ferro aluminato tetracálcico: 4CaO. Al2O3. Fe2O3 ® C4AF
2. Todo o Al2O3 remanescente da reação anterior, se combina com o CaO disponível no
processo para formar aluminato tricálcico: 3CaO. Al2O3 ® C3A
3. Todo o SiO2 presente no processo se combina com o CaO disponível no processo para
formar silicato dicálcico: 2CaO.SiO2 ® C2S (Belita)
4. Posteriormente o composto formado na reação anterior, reage com mais CaO disponível no
processo para formar silicato tricálcico: 2CaO.SiO2 + CaO = 3CaO. SiO2 ® C3S (Alita)
Simbologia:
CaO® óxido de cálcio..............® C
Al2O3 ® tri-óxido de alumínio......® A
SiO2®di-óxido de silício..........® S
Fe2O3® tri-óxido de ferro......... ® F
Fig.01- Fluxograma esquemático da formação das quatro fases constituintes do clínquer portland.
Influência do FSC:
O fator de saturação de cal constitui um dos índices químicos mais utilizados na indústria
cimenteira e correlaciona os óxido de cálcio (CaO), óxido de silício (SiO 2), óxido de alumínio
(Al2O3) e óxido de ferro (Fe2O3).
O grau de aptidão da farinha à clínquerização diminui com o aumento do FSC, pois, devido a um
maior teor de carbonato (CaO), será acompanhado de um aumento das condições de queima para
desenvolver a clínquerização, acarretando em função disto, um maior consumo de energia. Observa-
se, freqüentemente na prática que uma diminuição do FSC, para valores da ordem de 95 – 97%,
obtêm uma melhor formação do clínquer, com um menor consumo de combustível, a uma
temperatura de calcinação mais baixa. Este fato implica numa redução da zona de máxima
temperatura, em relação à zona de fase líquida, com conseqüente melhora na zona de nodulação do
clínquer. Para um FSC>100, temos mais CaO que o necessário para reagir com os outros
compostos. Desta forma sobrará CaO não combinado no clínquer denominado de CaO livre (cal
livre). Na prática sempre temos cal livre. Cal livre inferior a 1% para um valor normal de FSC
encarece o processo, levando a um maior consumo de combustível na queima da farinha.
Entretanto, se a cal livre é baixa devido ao baixo FSC, temos neste caso, baixa formação de silicatos
cálcicos e, conseqüentemente, baixa proporção de C3S no clínquer. A escolha de um FSC
tecnicamente adequado e economicamente vantajoso representa um compromisso entre a seleção e
a preparação das matérias-primas disponíveis e a obtenção de um clínquer dentro da composição
projetada, com pouca cal livre e um consumo específico de calor satisfatório. Resumindo temos:
Alto FSC Ý
1. Tende a formar clínquer mal queimado com maior teor de CaO livre;
2. Exige maior grau de finura da farinha para auxiliar na reação de descarbonatação e
clínquerização;
3. Quando a CaO livre esta controlada, produz clínquer com elevado teor de C 3S em
detrimento do C2S;
4. Resulta em queima mais difícil e, portanto, com maior consumo de combustível;
5. Resulta em maior carga térmica no forno;
6. Dificulta a formação de colagens na zona de clínquerização do forno;
7. Resulta em altas resistências do cimento principalmente nas idades iniciais;
8. Resulta em cimento com calor de hidratação mais elevado;
9. Resulta em clínquer mais fácil de moer.
Baixo FSC ß
Influência do MS:
É representado pela relação dos óxidos de silício (SiO2) e a soma dos óxidos de alumínio (Al2O3) e
de ferro (Fe2O3). Esta relação esta intimamente relacionada com o desenvolvimento da fase líquida.
MS = SiO2 / AL2O3 + Fe2O3
A importância desse módulo é que ele exprime uma correlação entre os componentes de elevada
atividade hidráulica e a fase líquida, isto é, o incremento do módulo de sílica provoca um aumento
na proporção dos silicatos de cálcio (C3S e C2S), e uma diminuição na proporção do (C3A e C4AF).
Quanto maior o módulo de sílica, maior a quantidade de silicatos e menor a fase líquida e vice
versa. Um módulo de sílica elevado (>2,8), aliado a uma fase líquida inadequada, dificulta não
somente a queimabilidade da farinha, mas também à aptidão a granulação do clínquer na zona de
clínquerização em função da redução da quantidade de fase líquida. O resultado é a formação de um
clínquer fino e pulverulento que gera uma recirculação dentro do forno rotativo e causa uma
deficiência na recuperação de calor do resfriador. Contrariamente, um módulo de sílica baixo
favorece a formação da fase líquida, beneficiando a queimabilidade e facilitando o desenvolvimento
da colagem. Diminuindo o módulo de sílica, alem de aumentar a quantidade de fase líquida,
melhora-se também, a nodulação de clínqueres pulverulentos. Não existe um único valor ideal para
o módulo de sílica, pois, para cada farinha particular, haverá um valor ótimo, governado
fundamentalmente pela natureza e granulometria dos componentes “silicosos”. A maneira como o
componente silicoso se apresenta na farinha é muito importante nas reações de combinação entre a
sílica (SiO2) e a cal (CaO). Segundo a natureza e granulometria dos componentes silicosos, pode-se
aumentar o MS, sem prejuízo da reatividade, obtendo-se um clínquer rico em silicatos e com baixo
teor em CaO livre e, portanto, com resistências mecânicas mais altas. Experiências têm
demonstrado que para farinhas com alto teor em sílica e baixo teor em alumínio, recomenda-se
adicionar mais óxido de alumínio que óxido de ferro para corrigir o MS. Entretanto quando o teor
de sílica é baixo e o teor de alumínio é alto, recomenda-se adicionar óxido de ferro. Resumindo
temos:
Alto M.S Ý
1. Origina clínqueres com elevados teores de C3S e C2S quando conjugados com o FSC alto;
2. Origina clínqueres com menor porcentagem de fase líquida (C 3A e C4AF) dificultando a
nodulação;
3. Exige maior consumo de combustível e, portanto, maior carga térmica no forno;
4. Proporciona a formação de clínquer pulverulento;
5. Dificulta a formação de colagem;
6. Quando demasiadamente alto, deteriora a colagem existente afetando o revestimento
refratário.
Baixo M.S ß
É representado pela relação do óxido de alumínio (Al 2O3) e de ferro (Fe2O3). Esta relação esta
intimamente relacionada com o desenvolvimento da fase líquida.
MA = Al2O3 / Fe2O3
O módulo de alumina controla a composição e a natureza da fase líquida, influindo diretamente na
temperatura de clínquerização e na nodulação e granulação do clínquer.
Quando o M.A aumenta, a viscosidade da fase líquida aumenta e a difusão ou mobilidade iônica dos
componentes químicos torna-se mais difícil. Isto explica porque na temperatura de clínquerização o
grau de combinação do CaO diminui, quando o módulo de alumina aumenta. Por outro lado, um
módulo de alumina mais baixo torna a fase líquida menos viscosa, facilitando a cinética das
reações, alem de possibilitar a obtenção de temperaturas de clínquerização mais baixas, provocando
a formação colagens e facilitando a nodulação e a granulação do clínquer. Como no decorrer das
reações de clínqueização, forma-se inicialmente o C 4AF e o Al2O3 remanescente é que irá formar o
C3A, quanto mais baixo for o MA, maior o percentual de C 4AF e menor o percentual de C3A.
Resumindo temos:
Alto M.A Ý
Baixo M.A ß
Os métodos para condução de fornos variam de fábrica para fábrica e, mesmo dentro da mesma
instalação, por vezes existem diferenças de operador para operador. Contudo, há que respeitar as
seguintes regras fundamentais:
1. Proteção do pessoal, do ambiente e do equipamento em todas as circunstâncias;
2. Produção de clínquer com a qualidade requerida;
3. Maximização da produção com a minimização do consumo energético;
4. Operação estável do forno.
Parâmetros de controle.
FORNO.
1. Vazão de farinha
2. Vazão de combustível (forno e pré-calcinador)
3. Velocidade do ventilador exaustor
4. Velocidade de rotação do forno
RESFRIADOR.
A condução de um forno é um processo dinâmico, contudo, a transição de uma situação para outra é
fluente. Uma condução estável e suave é apenas alcançada se os desvios forem corrigidos
antecipadamente com pequenos mas frequentes ajustes.
EM GERAL.
Para assegurar uma operação optimizada do arrefecedor, é importante que a espessura da camada de
clínquer sobre as grelhas seja constante.
Há que ter especial atenção às placas do arrefecedor que se possam vir a quebrar. Neste caso, parar
o forno, depois a grelha, esvaziar o compartimento sob a grelha da zona correspondente. Esvaziar a
grelha tendo em atenção a queda de material no compartimento.
SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA.
Entupimento de ciclone.
Se houver formação de incrustações na câmara de fumos, no forno e nas etapas inferiores do pré-
aquecedor, deverão ser efectuados levantamentos e análises periódicas para:
1. Determinar experimentalmente uma correlação entre os diferentes factores e a formação de
incrustações;
2. Reagir a tempo em função das tendências de evolução para prevenir o aparecimento de
incrustações;
3. Análises de SO3, Cl-, K2O e Na2O no material proveniente de cada ciclone, na farinha de
alimentação do forno e no clínquer, a efectuar, no mínimo, uma vez por turno.
A sua aparição resulta de um desgaste no refractário, quer seja previsto, acidental ou localizado
(queda de um tijolo), ou mesmo pela queda de vários tijolos provocada por uma queda importante
de incrustação.
Se a mancha for de pouca importância pode-se tentar aplicar a técnica designada de “colagem”,
estando o operador consciente dos riscos que ela envolve; caso contrário, parar o forno e reparar.
Avalanches de material.
Considerações:
Quando fiz o primeiro treinamento de calcinação com eng. Hernani na decada de 80, ele nos
ensinou uma regra que eu nunca mais esqueci. A regra das 4 irmazinhas.
1. Rotação do forno.
2. Vazão de farinha.
3. Vazão de combustível.
4. Controle da tiragem.
Para uma boa condução e estabilidade de clinquerização devemos sempre atuar nas 4 irmazinhas ao
mesmo tempo. São inseparáveis. Uma boa clinquerização é aquela onde se obtem um clinquer de
qualidade com baixo desvio, um consumo específico e energético nos níveis históricos de cada
forno, produção nominal e operação dos equipamentos com segurança. Nunca esquecendo que a
segurança do ser humano é a prioridade zero em todo este processo. Se não estamos conseguindo
estes controles e resultados citados acima temos que parar e analisar com todo a equipe as prováveis
causas e traçar um bom plano de ação.
Seja qual for o forno, dos mais antigos aos de última geração, é fundamental ter na equipe de
operação um nível de conhecimento técnico desenvolvido, com entendimento das reações de
formação do clinquer, as variáveis que influenciam no processo, as consequencias sobre as ações
tomadas, etc. Quanto menor os desvios operacionais, mais estável vai trabalhar o forno.
É normal dentro da equipe de operação existirem diferentes formas de operar o forno. Isto é errado
e danoso a todo processo. O responsável pela área de clinquerização não deve engessar a operação
dos fornos, pois isso iria tirar da equipe a condição de sugerir melhores práticas, mas deve estar
atento para estas ações serem de forma planejada e criteriosa. A atitude mais errada de um operador
de forno é alterar alguma variavel do forno em 10/15 minutos depois da troca de turno. Isto mostra
total discordancia no entendimento do que está acontecendo no forno entre os 2 operadores e neste
caso seja qual for o profissional que esteja certo quem mais sofre é o Forno, o Clinquer, o Refratário
e o Equipamento.