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catolica/

Primeira penitenciária feminina do Brasil era administrada pela


Igreja Católica

SOB A GESTÃO DE FREIRAS, ESPAÇOS REPRODUZIAM


LÓGICA DO TRABALHO DOMÉSTICO E REFORÇAVAM PAPÉIS
SOCIAIS ENTRE MULHERES E HOMENS

02/10/2017 Mayara Paixão Sociedade 0

Internas com
uniforme da penitenciária de Tremembé, anos 1960. Foto:
Reprodução

No início da década de 1940, em meio ao processo de formação da


metrópole paulistana, a cidade de São Paulo sediou a primeira
penitenciária específica para mulheres no país. Por trás da
institucionalização da punição feminina pelo Estado brasileiro, há
um fato curioso: o estabelecimento permaneceu, por mais de três
décadas, sob a gestão de um grupo religioso, a Congregação de
Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor.

Em plena vigência do Estado Novo de Getúlio Vargas, com ampla


concentração de poderes nas mãos do poder Executivo, qual seria
a articulação de interesses por trás dessa união? O que levava as
religiosas a quererem assumir uma instituição punitiva e o que
levava o Estado a transferir esse controle?
Essas foram as questões centrais que a historiadora Angela
Teixeira Artur se dedicou a estudar, de modo a reconstruir um
pequeno capítulo da história que colaborou para o cenário atual do
encarceramento de internas no país. As respostas não foram
isoladas. De acordo com a pesquisadora, uma articulação de
interesses foi pano de fundo para a administração das irmãs do
Bom Pastor.

Sediada em uma casa, a primeira penitenciária feminina do país


previa, em seu decreto de criação, que a pena das internas deveria
ser executada com trabalho e instrução domésticos. A essa
determinação, Artur chamou de “domesticação do regime de
execução penal”.

Internas trabalhando no presídio. Foto: Reprodução

“É uma insistência de que a mulher era um ser doméstico, do lar, e


que, se ela cometeu algum desvio, foi porque não estava nesse
lugar”, comenta Artur. “Dessa forma, a punição sobre ela deveria
ser treinada de modo a voltar para o lugar de onde ela nunca
deveria ter saído: uma casa, realizando as atividades domésticas.”

Ao ingressar nos presídios, a profissão das internas já estava pré-


definida: se não tinham uma ocupação, as mulheres eram
chamadas, automaticamente, de domésticas, buscando reforçar os
papéis sociais, em especial no que dizia respeito à manutenção da
mulher no espaço privado.

“A institucionalização reforça, mantém e, pior, torna mais rígida,


contundente, e inflexível uma mudança de papéis sociais, que a é a
domesticação das mulheres, a manutenção delas no local de onde
elas não deveriam ter saído segundo essa lógica”, defende Artur.

A pesquisa da historiadora compôs sua tese de doutorado


nomeada Práticas do encarceramento feminino: presas,
presídios e freiras, defendida recentemente na Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

Articulação de interesses

Instituída pelo Código Penal de 1940, a primeira penitenciária para


mulheres contava com apenas sete internas. “Isso mostra que não
é a quantidade de pessoas presas que determina se uma ação
política vai caminhar em uma direção ou em outra, mas, sim, os
interesses em jogo”, argumenta a historiadora.

Ela pontua que, durante o século 20, o Estado brasileiro operava


uma grande tentativa de institucionalizar as relações humanas, em
especial no que dizia respeito às camadas populares. A formação
de um estabelecimento penitenciário específico para a população
feminina foi exemplo disso.

“O Estado, diante da discussão de modernização do país, de


institucionalização das práticas, não tem, a pronta entrega, um
grupo de profissionais com experiência e que possa atender a essa
demanda rapidamente”, explica Angela Artur. “As freiras se colocam
como quem pode fazer isso. Há essa articulação de interesses”,
completa.

Nessa intrínseca relação entre a origem das penitenciárias


modernas e a questão religiosa — como caracteriza Artur —, os
interesses por parte das irmãs do Bom Pastor não eram poucos.
Para além do que pode parecer, o desejo das religiosas de
converter as pessoas ao cristianismo praticante não era o único
presente. Questões econômicas e políticas também foram
essenciais.
Irmãs
do Bom Pastor nas escadarias do presídio de mulheres. Foto:
Reprodução

“É uma ampliação de poderes e de status”, explica a pesquisadora.


“A possibilidade de ter controle de uma instituição empodera a
Congregação no sentido da influência, da diferenciação com outras
congregações, de ter mais voz dentro da própria Igreja e poder se
posicionar frente a ordens que vêm de cima.”

Outro interesse desse “empoderamento” da Congregação é que, no


momento em que se estabelece um contrato com o Estado, as
irmãs são remuneradas por isso e dispõem de uma renda fixa
mensal, que permite planejamentos de organização do grupo
religioso.

Em meio a uma instituição com forte presença masculina, como a


católica, esse jogo de interesses também busca fortalecer as
freiras. “Isso as empodera, porque elas têm um lugar definido
dentro de uma instituição junto ao Estado”, diz a pesquisadora.

Posto à margem

Angela Artur tem se dedicado a estudar a institucionalização da


punição de mulheres desde 2007. O trabalho da historiadora em
sua dissertação de mestrado, por exemplo, deu início a essa
investigação estudando o momento em que surgiram os primeiros
presídios femininos. Além de disponível online, a pesquisa virou o
livro Institucionalizando a punição: as origens do Presídio de
Mulheres do Estado de São Paulo, lançado pela editora
Humanitas.

Interna em uniforme utilizado no estabelecimento penitenciário.


Foto: Reprodução

O estudo, no entanto, não foi fácil. Ao falar de seus passos iniciais,


a pesquisadora conta que a motivação principal era uma dúvida:
“Por que mulheres que cometiam crimes ou atos de violência não
eram alvo de informação?”. Essa escassez de uma bibliografia
prévia sobre o assunto, em especial no Brasil, foi uma das
dificuldades iniciais que a historiadora encontrou.

A isso se somou a resistência com a qual a Artur se deparou para


acessar os arquivos das penitenciárias. Por anos, a administração
afirmou que as fontes não existiam mais, até que, somente em
2014, Artur conseguiu autorização para acessar os arquivos
internos e encontrou grande parte do material que solicitava acesso
— com exceção das folhas que haviam se deteriorado com o
passar dos anos.

A historiadora também priorizou a investigação nos arquivos da


própria Congregação do Bom Pastor e chegou, inclusive, a
pesquisar nos arquivos da Maison Mère, casa central do grupo
religioso localizada na França.
Para além de todas as considerações alcançadas pela
pesquisadora em seu trabalho, ela ressalta a constatação de que o
assunto foi posto à margem da história brasileira: “Ao mesmo tempo
em que o trabalho traz essa constatação incômoda de que a
historiografia ignorou uma certa camada da sociedade, já que a
população carcerária não foi um sujeito histórico privilegiado nas
pesquisas de historiadores, você percebe que tem uma série de
sujeitos que não foram mapeados.”

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