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RESUMO
Este artigo tem como objetivo principal discutir se o currículo e as práticas educativas nos
Institutos Federais (IFs), especialmente no Ensino Médio Integrado (EMI), se aproximam das
diretrizes propostas para a Educação Profissional e Tecnológica (EPT). São nossos objetivos
específicos: apresentar o conceito de currículo do EMI; tratar sobre o currículo nos IFs;
apresentar uma experiência real na perspectiva de integração curricular – IF Farroupilha;
dissertar sobre a necessidade de práticas educativas para um currículo integrado. Tal estudo foi
feito mediante pesquisa bibliográfica. Como resultados, tivemos que, em sua maioria, os
currículos dos IFs não são seguem a proposta de integração, mas sim reproduzem a dicotomia
entre o saber geral e o técnico. O IF Farroupilha, no entanto, vai na contramão dessa tendência,
mostrando que é possível fazer a travessia para uma formação integrada, politécnica e
omnilateral. As práticas pedagógicas devem ir na mesma direção do currículo integrado, não
importando quais os procedimentos escolhidos, mas sim qual o sentido que lhes é dado.
Palavras-chaves: Educação profissional. Currículo. Práticas educativas.
1 INTRODUÇÃO
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Mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT), polo IFS
(Instituto Federal de Sergipe).
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Desse modo, para que o EMI possa, realmente, ser considerado um projeto em
construção, uma travessia para uma escola politécnica, fazem-se necessários não só um
currículo integrado, como também práticas pedagógicas integradoras. Nessas práticas, o ensino
deve ter como alvo um projeto de desenvolvimento com justiça social e efetiva igualdade, com
vistas à efetivação da democracia e da cidadania. Assim, podemos afirmar que a integração do
currículo é ponto crucial na concepção do EMI. O currículo integrado deve considerar o ser
humano como um sujeito pleno de potencialidades, e deve estar inserido numa concepção de
educação que o considere em sua historicidade e promova o enfrentamento consciente da
realidade dada.
No presente artigo, portanto, temos como objetivo principal discutir se há essa
convergência de olhares e intenções sobre o currículo e as práticas educativas nos Institutos
Federais (IFs) de ensino, especialmente no Ensino Médio Integrado (EMI), modalidade que, ao
nosso entender, mais se aproxima das diretrizes propostas para a EPT. São nossos objetivos
específicos: apresentar o conceito de currículo do EMI; tratar sobre o currículo nos IFs;
apresentar uma experiência real na perspectiva de integração curricular; dissertar sobre a
necessidade de práticas educativas em consonância com um currículo integrado.
Esse estudo dar-se-á mediante a pesquisa bibliográfica sobre o tema, e será organizado
nas seguintes partes: currículo do EMI; currículo dos IFs; uma experiência na perspectiva de
integração curricular; propostas de práticas educativas para um currículo integrado.
A Educação Profissional e Tecnológica (EPT) em sua face mais visível, qual seja, o
Ensino Médio Integrado (EMI), tem por principal objetivo a formação humana integral, “com
base na integração de todas as dimensões da vida no processo educativo, visando à formação
omnilateral dos sujeitos” (BRASIL, 2007, p. 40).
Essa visão de todo tem por objetivo a superação de uma concepção reducionista do ser,
em particular do educando. A formação de indivíduos conscientes e críticos, não obstante as
pressões pela educação aligeirada e unicamente vinculada às necessidades mercadológicas,
constitui o grande desafio de uma proposta de educação integral:
Para esse fim, o currículo integrado deve proporcionar a interação entre conhecimentos
de formação geral e específica para o exercício profissional, com vistas a superar a dualidade
de concepções educacionais. Em termos práticos, deve-se instrumentalizar, através de um
documento propositivo, a forma de condução do curso médio integrado. Segundo BEZERRA
(2013, p. 93), faz-se necessário “um documento elaborado na etapa do planejamento curricular
que objetiva apresentar sinteticamente a organização/estrutura curricular de um dado curso”.
Trata-se, pois, da matriz curricular, a qual deve conduzir as ações e práticas com vistas ao
atingimento dos objetivos educacionais, pois “o currículo é sempre uma seleção de
conhecimentos a serem ensinados e aprendidos dependendo da finalidade e dos objetivos
educacionais” (BRASIL, 2007).
O projeto pedagógico é peça fundamental de qualquer curso, compreendendo sua
justificativa e relevância, métodos didáticos, formas de organização, potencialidades discentes
e docentes a serem desenvolvidas, estrutura necessária, sendo voltado, finalisticamente, para
objetivos claros e atingíveis, levando-se em conta sua importância na orientação das ações
educativas na ponta da cadeia, vale dizer, na prática em sala de aula:
no intuito de conferir legitimidade das decisões do grupo elaborador, bem como proporcionar
reconhecimento das pessoas participantes na arte final do trabalho. Nesse sentido:
No que tange aos arranjos curriculares, o ensino médio, aqui compreendido o integrado,
deverá ter seu currículo estruturado nos termos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
(LDB):
Através de minudente pesquisa realizada com os projetos pedagógicos dos cursos dos
Institutos Federais (IFs), Bezerra (2013) observou que os currículos dos cursos integrados não
apresentaram, de um modo geral, elementos de conexão entre os eixos de formação básica e
formação técnica. Sendo assim, não se evidenciou, na prática, a esperada superação da
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dicotomia formativa, o que significa dizer que a denominada educação integral ficou restrita ao
rótulo dos cursos, onde foram aglutinadas disciplinas aos montes, sem inter-relação:
Visando a uma proposta curricular que contemple ou, pelo menos, caminhe no sentido
de atingir a formação integral, o Instituto Federal de Farroupilha (RS) cuidou de traçar diretrizes
curriculares nas quais, sob uma concepção democrática, são elencados os eixos principais de
formação. Nesse trabalho, foram envolvidos docentes, equipe diretiva e a comunidade em geral
para conferir legitimidade ao projeto, bem como elevar em importância a construção
participativa com todas as suas nuances.
Cruz Sobrinho (2017) demonstra o itinerário da elaboração dessa proposta curricular,
nunca perdendo de vista seu foco principal: a formação integral, omnilateral e politécnica, tendo
por pressupostos a superação da dualidade entre trabalho manual e intelectual, e, por
conseguinte, a efetiva integração entre ciência, trabalho e cultura na formação básica
profissional.
Inúmeros desafios forma enfrentados nesse caminho – a formação inapropriada dos
professores, sendo muitos deles bacharéis e sem vivência pedagógica; a falta de concepção
teórica acerca do currículo integrado; a construção de currículos justapostos (BEZERRA, 2013,
p. 94), em duas matrizes distintas e incomunicáveis, a básica e a técnica; a compreensão de
como criar pontes para a integração de conhecimentos; o contexto biopsicossocial complexo do
educando; a necessidade de formatar um currículo que una ensino, pesquisa e extensão.
Em termos pedagógicos, o grande desafio curricular passa pela desconstrução da ideia
de dois currículos paralelos e estanques, sendo um que contempla a formação técnica como
mera formação para o mercado de trabalho, e outro de formação básica que vise ao ingresso no
ensino superior.
De início, foi possível observar, de acordo com a matriz existente, que “na organização
dos PPCs de cursos técnicos, em regra, minibacharelados ao invés de formações específicas de
acordo com seu nível de ensino específico e a formação desejada” (CRUZ SOBRINHO, 2017,
p. 113). Isso ficou evidente na observação da elevada carga horária dos cursos que, além de
desobedecer à legislação vigente, sobrecarrega os docentes e dificulta a criação de outros
espaços pedagógicos e inviabiliza a atuação de equipes multidisciplinares.
Para a construção do currículo do IF Farroupilha, foi instituído um grupo de trabalho
para estudar a fundamentação teórica do currículo integrado, as bases legais e a eleição do eixo
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tecnológico de referência. Assim feito, foi realizado um estudo sobre o perfil do aluno egresso
e, por fim, a definição dos conhecimentos necessários para atingir o perfil de formação.
Através desses estudos, tornou-se possível delimitar os núcleos da proposta de
integração: básico, tecnológico e politécnico. Tais segmentos, que necessariamente devem ser
flexíveis e conversar entre si, foram formatados em atendimento à carga horária mínima
estabelecida em lei (3.200 horas), ficando destinados os percentuais de 50% a 60% para a
formação básica; 25% a 35% para a formação técnica e, no mínimo, 15% para a formação
politécnica.
Em termos de conteúdo, o núcleo básico contempla as disciplinas sobre conhecimentos
e habilidades atinentes à educação básica, com pequena ênfase tecnológica e menor área de
integração com as demais disciplinas; o núcleo tecnológico enfatiza as disciplinas que tratam
de conhecimentos e habilidades específicos da formação técnica, também com pequena área de
integração; por fim, o núcleo politécnico é o espaço curricular destinado às disciplinas da
educação básica e técnica, com grande área de integração com as demais disciplinas. O núcleo
politécnico representa, assim, o espaço curricular em que são previstas as principais formas de
integração curricular, contemplando disciplinas estratégicas para que se promova essa
integração (CRUZ SOBRINHO, 2017, p. 134). Em outras palavras,
Assim, com base na obra de Araújo e Frigotto (2015), alguns princípios são indicados
como orientadores para as práticas pedagógicas condizentes com o currículo integrado: a
contextualização, a interdisciplinaridade e o compromisso com a transformação social. Como
procedimentos de ensino integrado, são propostos a problematização, o trabalho cooperativo e
a auto-organização.
Nesse contexto, são estabelecidas duas premissas: a) a valorização da atividade e da
problematização como estratégias de promoção da autonomia; b) o estímulo ao trabalho
colaborativo como estratégia de trabalho pedagógico. Essas concepções consideram que ações
como o trabalho cooperativo, a iniciativa e a resolução de problemas são ferramentas que dão
o tom da aprendizagem significativa e estruturante, com o objetivo de “estimular o próprio
esforço do educando ‘para fazê-lo penetrar na corrente do progresso material e espiritual da
sociedade de que proveio e em que vai viver e lutar’” (SAVIANI, p. 247).
A atividade, segundo os autores, “na perspectiva da transformação da realidade e
visando à ampliação das capacidades humanas, coloca-se como um componente a ser
considerado no planejamento, no desenvolvimento e na avaliação das práticas pedagógicas que
se querem integradoras” (ARAÚJO; FRIGOTTO, 2015, p. 73).
Tanto os docentes quanto os discentes, nos processos formativos, têm uma atividade
necessária para a efetivação dos projetos integradores de ensino. Mas essa “pedagogia ativa”
deve ser entendida, necessariamente, sob uma perspectiva de transformação social, tendo como
função o desenvolvimento da capacidade crítica e consciente dos educandos, que devem agir
para adaptar a realidade às suas necessidades. Isto se entende por autonomia:
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6 CONCLUSÃO
Consideramos que o IF Farroupilha é uma instituição que deu passos rumo à tão sonhada
travessia rumo a uma educação profissional e tecnológica que faça parte de um projeto de
sociedade para além do capital, mostrando-nos que é preciso soltar a voz nas estradas e não
querer parar. Enfim, tomamo-la como exemplo de que, apesar do caminho de pedra, a travessia
é possível.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Adilson Cesar; SILVA, Cláudio Nei Nascimento da. Ensino médio integrado no
Brasil: fundamentos, práticas e desafios. Brasília: Ed. IFB, 2017.
POZO, Juan Ignacio. A Solução de Problemas. Porto Alegre: ArtMed Editora, 1998.
SAVIANI, Dermeval. História das ideias pedagógicas no Brasil. 3. ed. Campinas: Autores
Associados, 2011.