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O problema do socialismo coloca-se ante a existência real da luta de classes

entre exploradores e explorados, entre opressores e oprimidos. Socialismo implica


auto-organização, associação, autogestão operária. A autogestão não é um objetivo
da sociedade capitalista, seja na forma do capitalismo privado, seja na forma livre-
concorrencial, monopolista ou estatal. Ela significa que o proletariado e os
assalariados em geral gerem por si mesmos suas lutas, através das quais se
conscientizam de que podem administrar a produção e criar formas novas de
organização do trabalho. Em suma, que podem colocar em prática a “democracia
operária”.

O predomínio da autogestão nos campos econômicos, social e político


manifesta-se sempre que os trabalhadores aparecem como sujeitos revolucionários.
São os períodos de ascensão dos movimentos de massas que tomaram forma na
Comuna de Paris de 1871, na Revolução Russa de 1917, na Guerra Civil Espanhola
de 1936, nas rebeliões de 1918 na Hungria e na criação do sindicato Solidariedade
(1978) na Polônia.

A causa motriz desses movimentos sociais foi a luta contra a exploração,


fosse praticada pelo capital privado fosse pelo capitalismo de Estado.

O caráter anticapitalista e socialista da luta operária não se mostra


simplesmente nas reivindicações colocadas em pauta, mas também no fato de o
proletariado, no processo da luta, criar “organizações horizontais”, igualitárias -
comitês de greve, comissões de fábrica, conselhos operários.

O que corrói o capitalismo é a criação dessas organizações, pois elas negam


o verticalismo dos organismos existentes, seja o Estado, o partido ou o sindicato.
Estes são despojados de sua finalidade de controle da mão-de-obra através da ação
direta dos trabalhadores. Por mediação das instituições criadas no processo político-
social, a classe operária possui a autogestão das suas lutas, ficando, portanto,
decisão e a execução em mãos dos trabalhadores.

Assim, socialismo é entendido aqui como o regime onde a autogestão


operária extingue o Estado como órgão separado e acima da sociedade, elimina o
administrador dirigente da empresa em nome do capital e, ao mesmo tempo, elimina
o intermediário político, isto é, o “político profissional”.
Por sua ação direta, os trabalhadores têm condição de desencadear um
processo de greve, ocupar o local de trabalho e reorganizar o processo de produção
no mesmo nível das relações que estabelecem entre si no processo de luta. É nesse
sentido que eles unificam a luta econômica e a luta política, estruturando a produção
e abolindo as hierarquias existentes na fábrica e a divisão tradicional do trabalho.

A articulação dessas formas de luta operária que unificam pensamento e


ação representa a prática da proposta socialista. Pode-se dizer que a luta operária é
revolucionária pelas formas de auto-organização que cria, igualitárias, coletivas,
onde as relações de hierarquia verticais, a submissão ou a dependência estão
excluídas. Criando instituições autogeridas por meio de sua práxis, a classe operária
abre espaços onde as novas formas econômicas podem se realizar.

Nesse sentido é inegável a contribuição de Marx para uma maior


conscientização da importância da auto-organização dos trabalhadores como meio e
fim, visando um projeto socialista. No século passado, a autogestão das lutas
operárias apresentou-se sob a forma de organização de associações operárias, as
quais, por meio das greves, faziam-se ouvir e reagiam à exploração do trabalho e à
extinção do próprio salariato como forma predominante de remuneração.

A necessidade de lutar pela abolição do salariato é que criou essas


associações, que rapidamente tomaram a forma de uma associação permanente de
luta. Por meio de sua prática, a associação pretendia construir uma existência social
comum e, ao mesmo tempo, eliminar a concorrência que o capital estabelece entre
os trabalhadores, substituindo-a pela união da classe.

A recomposição do modo de vida operário e a supressão da concorrência


entre si e da divisão da classe em profissões (categorias) eram as razões de ser das
associação operárias. E foram as greves e os vários processos de luta de classe
que trouxeram à tona a prática dessas associações, tornando-se estas não somente
a realidade antagônica ao sistema capitalista mas também o prenúncio da
transformação deste.

A associação cria as precondições de união dos trabalhadores, porém a


divisão de trabalho no interior das empresas e sua articulação nos vários ramos da
produção social e econômica constituem seu maior obstáculo. Embora a
reivindicação de aumentos salariais seja considerada inerente à classe operária em
sua totalidade, ela não elimina a hierarquização dos salários, dividindo os
trabalhadores.

A abolição do sistema de opressão e de exploração do salariato pressupõe a


unificação dos operários, a qual elimina a concorrência mantida entre eles. Para
Marx, isso se daria por meio da criação de um fundo comum de subsistência pela
recomposição coletiva da vida, compartilhando-se a alegria inerente à luta associada
dos trabalhadores. Marx descobre que a associação nascida no processo das lutas,
continuando após seu término - sempre passageiro -, representa a perspectiva
revolucionária que leva à ruptura das formas burguesas de trabalho assalariado.

A ruptura não é algo para ser deixado para um futuro remoto, mas inicia-se
dentro da própria associação. A associação constitui o espaço de luta operária
contra a burguesia, daí a importância de se manter esse movimento como real e
autônomo. Ele provoca a crise das instituições dominantes e do salariato,
defrontando-se com o Estado capitalista ou com o “Estado socialista”, nova
denominação do capitalismo de Estado.

Uma luta da classe operária inicia-se em razão de interesses imediatos,


desdobrando-se, em seguida, numa luta revolucionária de desenvolvimento da
associação no sentido de uma sociedade sem classes. Conclusivamente, em Marx
não há lugar para as “teorias de transição ao socialismo” dominantes na URSS,
Leste Europeu e alguns países africanos hoje em dia.

O embrião de uma associação emerge do processo de luta de classes e,


depois, dá lugar à constituição de uma associação operária de luta e de existência
comum, sem hierarquia e sem dirigentes ou dirigidos. Terminada a luta, a
associação tem continuidade, reunindo-se às outras associações existentes. Esse
processo realiza uma socialização proletária do poder, da vida e do trabalho. Opõe-
se à “socialização” capitalista, realizada a partir das cúpulas dirigentes,
centralizadora e alienante do trabalhador dos processos decisórios.

Assim, para Marx, desenvolver a associação - tenha ela esse nome ou


comissão de fábrica, comitê de greve, conselho operário é fazer da luta através
dessa associação uma luta para a associação.
Qualquer projeto envolvendo o trabalhador é criativo, na medida em que cria
entidades ou estruturas igualitárias através do processo de luta. A ação direta dos
trabalhadores substitui os intermediários - os políticos profissionais - e a suprema
autoridade é a assembléia, que tem poderes não só para nomear os que querem
representá-los, mas também para destituí-los.

Porém a luta autônoma dos trabalhadores geralmente enfrenta o patronato e


a burocracia sindical. Exemplo disso foi a luta dos trabalhadores da Renault, na
França, considerada pelo patronato e pelos aparelhos sindicais como uma
provocação, um complô contra as organizações operárias.

Os trabalhadores da Renault tinham criado um comitê de luta com base nos


delegados das diversas seções da empresa, firmando-se no combate à estrutura
hierárquica e disciplinadora dominante. Esse comitê cresce rapidamente devido à
intervenção policial, originando um movimento de massa sem precedente, na
Renault, contra a hierarquia capitalista. A maior participação foi de trabalhadores
jovens, que tomaram a frente do processo de luta.

Os temas mais discutidos na empresa referiam-se à hierarquia interna, à ação


autônoma dos seus trabalhadores e à punição de chefes autoritários. A ação do
comitê de luta enfrentou diretamente a burocracia sindical representada pela CGT,
segundo a qual os operários não podiam pensar ou agir sem sua autorização, pois
ela pretendia ser o representante único dos trabalhadores. Assim, a CGT
considerava provocação qualquer iniciativa autônoma das massas trabalhadoras
que desse liberdade à inteligência operária, colocando em xeque a hierarquia
capitalista.

Os operários somente podem conquistar sua consciência de classe por meio


da contestação direta do sistema que os isola e divide. Possuir uma inteligência
independente, questionar a linha de montagem ou o delegado sindical - que aceita
essa linha como natural significa uma provocação à CGT, pois esta defende a
“unidade natural” do pessoal, isto é, a hierarquia que o capital estabelece
internamente na fábrica. Então fica fácil entender o outro aspecto da questão: a
união entre Marchais, líder do PCF (o PCF é hegemônico na CGT), e Jaruzelski,
primeiro-ministro da Polônia. Defender uma estrutura empresarial que perpetue a
hierarquia capitalista sob direção de uma classe patronal do “Estado público” é
defender uma sociedade igual à polonesa ou à russa. A polícia sindical desempenha
idêntico papel ao da polícia estatal na Polônia, que atirou contra os operários
quando estes contestaram a hierarquia nos estaleiros navais. A única diferença é
que a polícia sindical não é polícia do Estado, porém tem condições de sê-lo. A ação
autônoma das massas operárias não reside na sua independência formal ante a
burocracia sindical.

A autonomia é uma prática diversa do sindicalismo burocrático; no caso


francês, por exemplo, responde a aspirações coletivas dos jovens e dos
trabalhadores emigrantes, na condição de párias sociais. Da mesma forma, a
sabotagem de equipamentos torna-se uma forma de resistência ao capital e ao
autoritarismo fabril. Daí a exigência dos trabalhadores de eles próprios
cronometrarem o ritmo de seu trabalho e de reivindicarem a rotação nos postos de
trabalho para eliminar a desigualdade de remuneração.

A auto-organização operária no local de trabalho e a democratização das


relações de trabalho constituem a base de qualquer democracia no plano da
sociedade global, pois a existência do despotismo fabril com a democracia formal
além dos muros da fábrica é uma profunda contradição.

Foi na Rússia, em outubro de 1917, que pela primeira vez na história um


partido socialista tomou o poder e deu início à construção de uma nova ordem
econômica, social e política.

A causa imediata da revolução reside no impacto que a Primeira Guerra


Mundial produziu na sociedade russa, que vinha acumulando uma série de
contradições bastante graves ao longo de sua história.

A Rússia se manteve afastada do ciclo revolucionário que deu origem às


sociedades burguesas na Europa Ocidental nos séculos XVIII e XIX. Na Rússia não
apenas se manteve a servidão, como o próprio Estado feudal foi o agente da
introdução do capitalismo no país.

A oposição à monarquia russa partia principalmente da intelectualidade que,


influenciada pelos movimentos socialistas ocidentais e pelas tradições comunitárias
do campesinato russo, fez desde cedo uma opção socialista. Eis o paradoxo do
processo revolucionário russo: a oposição à monarquia era feita principalmente a
partir de objetivos socialistas, enquanto a oposição liberal-burguesa permanecia
frágil.

O movimento socialista russo divide-se em pelo menos dois grandes


períodos. O primeiro, de 1850 a 1870, foi dominado pelos narodniks, que entendiam
ser o caminho russo para o socialismo profundamente diferente do caminho
ocidental. Eles viam no campesinato e na comuna camponesa as bases do
socialismo na Rússia.

Essa posição foi afirmada numa série de debates com Marx e Engels.
Bakunin, líder de uma das correntes do movimento narodnik, participou ativamente
das polêmicas. Os narodniks realizaram na década de 1870 dois grandes
movimentos.

O primeiro, chamado de Ida ao Povo, fez com que inúmeros jovens


universitários se dirigissem aos camponeses, visando prepará-los

para a revolução.

A derrota da Ida ao Povo fez com que parte dos narodniks recorresse a
atentados terroristas contra os representantes do Estado monárquico. O mais
importante deles foi uma bomba lançadancontra o Czar Alexandre II, em 1º de
março de 1881. A morte do czar detonou uma violenta repressão que liquidou o
movimento.

Uma pequena parcela dos narodniks, que se recusara a adotar o terrorismo


individual como forma de luta, funda em 1883 o grupo Emancipação do Trabalho,
dando início ao segundo período do movimento socialista russo, dominado pelo
marxismo. Essa virada ocorre pouco antes de a classe operária russa surgir como
força independente, a partir das primeiras greves de importância, na década de
1890.

Submetida à intensa exploração e concentrada em pequeno número de


centros industriais, esta classe operária logo ganhará uma importância política
desproporcional ao seu reduzido peso numérico.

A união da vanguarda do operariado com a intelectualidade marxista dará


origem, no final do século, às primeiras tentativas de constituir o Partido Social-
Democrata Russo, fundado afinal em 1903. A intensa luta interna será uma das
características marcantes da social-democracia russa e se faz presente inclusive no
congresso de fundação, que cindiu o partido em duas alas: os bolcheviques
(maioria) e os mencheviques (minoria). Em 1904, a Rússia imperial acaba derrotada
na guerra contra o Japão.

Em janeiro de 1905, uma manifestação operária pacífica em Petrogrado, para


reivindicar do czar melhores condições de vida, é reprimida violentamente pelas
tropas imperiais, dando início a um movimento revolucionário bastante amplo.

A Revolução de 1905 é considerada um ensaio geral da Revolução de 1917.


Nela se conjugam as vertentes que levaram à destruição do império czarista dez
anos depois: a luta socialista da classe operária, as reivindicações democráticas de
amplas parcelas da população, em especial a reivindicação de posse da terra pelo
campesinato e o complexo problema das nacionalidades. Neste movimento surgem
pela primeira vez os sovietes, organismos de auto-organização e representação
direta dos trabalhadores, que irão reaparecer em 1917.

Com a derrota da revolução, as classes dominantes tentam modernizar o


país, sem sucesso, enquanto no interior do movimento social-democrata trava-se
agudo debate sobre a estratégia da revolução, em que se cristalizam as posições de
bolcheviques e mencheviques. Ambos entendiam que a revolução russa era uma
revolução democrático-burguesa.

Contudo, enquanto os mencheviques propunham uma política de aguardar o


amadurecimento das condições para o socialismo, os bolcheviques entendiam ser
necessário tomar a iniciativa na revolução democrático-burguesa para transformá-la
o mais rápido possível em revolução socialista.

O envolvimento do Império Russo na Primeira Guerra Mundial revela a sua


incapacidade de suportar as tensões sociais e políticas a que o conflito submete a
sociedade russa. Como em 1905, o agravamento das tensões sociais leva a um
processo revolucionário.

Em fevereiro de 1917, uma comemoração operária pela passagem do Dia


Internacional da Mulher evolui para uma insurreição espontânea, que ganha a
adesão do exército e provoca a abdicação do czar e a proclamação da república.
A classe operária fez a revolução, mas o governo provisório da república é
dominado por uma coalizão de partidos burgueses apoiada pelos sovietes,
organismos revolucionários de massas recriados com base na experiência de 1905.

Em abril de 1917, o Partido Bolchevique decide lutar contra o governo


provisório. Seus lemas são: paz, pão e terra. Petrogrado, maior concentração
industrial, capital da Rússia, é o epicentro da Revolução.

Em julho de 1917, manifestações de operários e soldados são reprimidas pelo


governo 30 provisório, que prende parte da liderança bolchevique. Apesar de
considerar prematuras estas manifestações, os bolcheviques colocam-se à frente
delas, optando por permanecer ao lado das massas num momento decisivo, atitude
que, meses depois, será fundamental para assegurar a liderança do partido sobre a
maioria dos sovietes, às vésperas da revolução.

Em agosto, a direita tenta um golpe, utilizando para isto as tropas do General


Kornilov. A participação dos bolcheviques na derrota dos golpistas dificulta a
repressão que o governo provisório vinha lhes movendo e reforça ainda mais a sua
liderança.

Confirmada a sua maioria, os bolcheviques, após intensa polêmica interna,


passam a organizar uma insurreição militar, sob o lema de “todo poder aos
sovietes”. Na noite de 6 para 7 de novembro (ou, segundo o velho calendário russo,
na noite de 24 para 25 de outubro), os bolcheviques, com o apoio da ala esquerda
do Partido Socialista Revolucionário, derrubam o governo provisório e tomam o
poder. No II Congresso dos Sovietes de Toda a Rússia, que se realizava naquele
dia, é eleito um Conselho dos Comissários do Povo. Lênin ocupa a presidência.
Trotski é o comissário para Negócios Estrangeiros. Stálin é o comissário para as
Nacionalidades.

O primeiro objetivo do governo soviético é a paz. Em março de 1918 é


assinado com a Alemanha o tratado de paz de Brest-Litovsk. Logo em seguida
inicia-se a guerra civil. Os latifundiários e a burguesia, apoiados pela intervenção
militar das nações imperialistas, buscam derrubar o governo bolchevique. Nesta luta
os contra-revolucionários contam com o apoio da direita do Partido Socialista
Revolucionário (que fazia parte do governo provisório derrubado pela revolução) e
de setores do Partido Menchevique (que era contra a tomada do poder).

O governo bolchevique vence a guerra, que durou até 1921. A situação


econômica e social é gravíssima. A aliança operário camponesa está às vésperas do
rompimento. Em março estoura uma revolta na base naval de Kronstadt. Ao mesmo
tempo em que reprime a revolta, o governo soviético adota a Nova Política
Econômica (NEP), que incentiva o retorno a certas práticas capitalistas e permite
uma retomada econômica. Num primeiro momento a NEP reestabelece a aliança
operário-camponesa e eleva o nível de vida da população. Em seguida, contudo, os
conflitos entre a cidade e o campo, entre camponeses e operários, retornam com
força redobrada.

A luta interna sobre os caminhos a seguir é agravada pela morte de Lenin em


1924. Com o esgotamento dos sovietes e a dispersão da classe operária de 1917, a
disputa sobre os rumos da revolução passa a ser travada no reduzido círculo
dirigente bolchevique.

Divergências sobre a política econômica a seguir, sobre a via de

construção do socialismo, sobre a

política internacional, entre outras,

provocam seguidas crises no

Partido Bolchevique. O desfecho

ocorre em 1929, com a adoção do I

Plano Quinquenal: uma política de

coletivização forçada e de

industrialização a todo custo. As

condições em que esta politica foi

implantada levaram a um violento

conflito entre o campesinato e as


forças do governo.

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A partir de 1934, milhares de

quadros do Partido são afastados de

suas funções. Em seguida, nos

Processos de Moscou (1936-1938),

dezenas de dirigentes históricos são

condenados à morte sob falsas

acusações. É curioso observar que

os métodos da luta interna

contradiziam em tudo os princípios

da Constituição Soviética de 1934,

considerada a mais avançada do

mundo.

Em 1941 a União Soviética é

invadida pelas tropas nazistas. Na

primeira fase da guerra sofre

derrotas devastadoras que chegam

a por em risco a sobrevivência do

Estado Soviético. A luta contra a

invasão, baseada na capacidade de

resistência do Estado socialista, nos

recursos naturais e econômicos da


URSS e na firme resistência

popular à invasão, permitiram a

reação. Os exércitos soviéticos

ocupam Berlim em 1945, coroando

sua participação decisiva na vitória

sobre os nazistas.

O breve período de paz entre as

nações vitoriosas é seguido pela

guerra fria. Internamente, volta-se a

adotar a repressão contra qualquer

tipo de oposição, mas não há

condições políticas que sustentem o

retorno ao terror. A morte de Stálin

(1953) serve como catalisador do

processo de redemocratização

politica do país, abrindo-se um

período de instabilidade que tem

seu grande marco no XX

Congresso do PCUS, em 1956,

quando o então primeiro-secretário,

Nikita Kruschov, lê um “relatório

secreto” denunciando o culto à

personalidade e os crimes contra a


legalidade socialista cometidos e

incentivados no período de Stálin.

Kruschov é deposto em 1964,

sendo substituído por Leonid

Brejnev, representante da ala mais

conservadora do partido e que fica

no poder até 1982. Neste momento,

os impasses da economia e da

política soviéticas motivam o

questionamento dos conservadores.

Com a ascensão de Mikhail

Gorbatchov ao cargo de secretáriogeral,

em 1985, a direção do

partido adota os programas de

reformas estruturais conhecidos

como glasnost e perestroika”.

Ler o livro e recordar as polêmicas do

seminário promovido há trinta anos pelo

Instituto Cajamar suscita diversas

questões, entre as quais a sensação de

um “debate interrompido”.

Debate interrompido pela ofensiva

neoliberal; pela capitulação de grande


parte da socialdemocracia europeia e do

nacional-desenvolvimentismo latinoamericano;

pelo colapso da União

Soviética e do tipo de socialismo que

havia no Leste Europeu; e pela crise do

movimento comunista. Debate

interrompido, também e

paradoxalmente, pelos êxitos relativos

da esquerda brasileira, com destaque

para o PT, que em 1988 foi o grande

vitorioso das eleições municipais e em

1989 quase venceu, com Lula, as

eleições presidenciais (POMAR, 2014).

Quando a Revolução de Outubro

comemorou seus 80 anos (1997) e seus

90 anos (2007), havia deixado de existir

uma parte importante do mundo sobre o

qual discutimos no seminário “70 anos

de experiências da construção do

socialismo”. E muitas das questões que

então havíamos debatido, deixaram de

ser ou deixaram de parecer essenciais,

pelo menos aos olhos de muita gente.


Nos últimos dez anos, a situação mudou

novamente. A partir da crise mundial de

2008, estamos assistindo a um (com o

perdão da “licença poética”)

“movimento vintage”: muitas daquelas

antigas questões voltaram a ser ou pelo

menos voltaram a parecer ser essenciais.

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Sem dúvida isto tem relação, não com o

alinhamento das estrelas, mas com a

impressionante concentração de

efemérides. No espaço de dez anos,

entre 2014 e 2024, chegam ao

centenário: o começo e o fim da

Primeira Guerra; a Revolução de

Fevereiro e a Revolução de Outubro de

1917; a Revolução Alemã de 1918; a

criação da Internacional Comunista, a

fundação do Partido Comunista da

China e do Partido Comunista do Brasil;

o assassinato de Rosa Luxemburgo e o

falecimento de Lenin. Além dos

duzentos anos de nascimento de Karl


Marx e a publicação de livros clássicos

como Imperialismo, etapa superior e O

Estado e a Revolução, ambos de Lênin.

Mas para além do “efeito efeméride”, a

retomada do interesse no debate sobre o

socialismo em geral e sobre a

Revolução Russa em particular tem

outras causas, que citaremos a seguir.

Em primeiro lugar, porque vivemos um

cenário internacional que possui

algumas semelhanças com o que

ocorreu no início do século 20: o

declínio da potência hegemônica, a

ascensão de novos polos de poder, o

acirramento das contradições

intercapitalistas, a importância do

capital financeiro e do imperialismo.

Malgrado as óbvias diferenças, o

ambiente de 2017 lembra em vários

aspectos aquele que desembocou na

Primeira Guerra Mundial (CLARK,

2014).

Vivemos um momento de profunda


crise mundial. Momentos assim tornam

inescapável certa “volta aos clássicos”.

E a Revolução Russa de 1917 é um caso

clássico, do ponto de vista dos que

estudam a dinâmica do capitalismo e de

suas crises. Um caso tão clássico quanto

o da Revolução Francesa de 1789, do

ponto de vista dos que estudam a

dinâmica do feudalismo e de suas crises

(HOBSBAWN, 1990).

Em terceiro lugar, porque a crise de

2008 e o que veio depois colocaram

com extrema força e urgência o debate

sobre o capitalismo, sobre as crises de

acumulação, sobre o capital financeiro,

sobre o papel do Estado, sobre o

imperialismo e as guerras. Temas sobre

os quais há contribuições relevantes

feitas pelos revolucionários russos,

como Bukharin e Lenin, antes e depois

de Outubro de 1917 (POMAR, 2007).

De maneira mais geral, a análise

marxista sobre o capitalismo voltou à


moda (CALLINICOS, 2014). Análise

que sempre foi muito cara para as

diferentes tradições socialistas

existentes na Rússia – anarquistas,

populistas, socialdemocratas e

comunistas, que dedicaram grande

energia ao debate acerca do modo de

produção capitalista, em particular a

discussão sobre seu desenvolvimento e

crises (CLAUDIN, 1974).

A história é conhecida: logo depois da

primeira edição de O Capital, foi

publicada uma tradução em russo. A

situação excêntrica do Império Russo,

um pé na Ásia e outro na Europa, um pé

no feudalismo e outro no capitalismo,

um pé no atraso e outro na

modernidade, obrigou os pensadores

russos de todos os matizes a se debruçar

sobre a relação desigual entre

desenvolvimento econômico e

desenvolvimento político, a dialética

entre os diferentes tempos e conteúdos


da (re)evolução política e da

(re)evolução econômico-social.

Em quarto lugar, porque a tradição

socialista vitoriosa na Revolução de

Outubro (os socialdemocratas da fração

bolchevique, que em 1918 adotaram o

nome de “comunistas”) investiu grande

parte de suas energias no debate sobre o

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papel do proletariado na luta pela

democracia e pelo socialismo.

Num país onde o proletariado era uma

parcela diminuta da população, isto

implicou em debater de maneira

integrada a relação entre “proletariado”

e “campesinato”, entre “cidade” e

“campo”, entre “partido e classe”, entre

“teoria” e “prática”, entre “ditadura” e

“democracia”. Questões que certas

tradições acadêmicas tentam abordar

fragmentariamente, como “objetos”

particulares da economia, da sociologia,

da política, da cultura, da história etc.


Cem anos depois, acompanhando a

difusão do capitalismo, a maior parte da

população trabalhadora mundial é

assalariada. Um proletariado que

continua compartilhando a exploração

capitalista com outra classe, a dos

trabalhadores pequenos proprietários.

Um proletariado que se tornou mais

universal, mas não se tornou mais

homogêneo: tanto mundialmente quanto

em cada país, segue composto por

diferentes frações econômico-sociais

(por exemplo: operários e não

operários), atravessado por conflitos

nacionais, étnicos, de gênero,

geracionais, culturais e religiosos.

Características que fazem com que o

debate sobre as formas de luta e de

organização, de comunicação e cultura,

especialmente a necessidade de partidos

políticos “de novo tipo”, ganhe

novamente grande importância no

debate político contemporâneo. E como


fazer este debate, sem reler o que disse,

por exemplo, Lênin? (JOHNSTONE,

1985)

Há cem anos, como hoje, muitos

socialistas lamentavam a divisão nas

forças da esquerda, as traições, as

vacilações, o ambiente de confusão e

divisão existente na classe trabalhadora.

E deduziam daí que a revolução

socialista seria adiada por muitos anos e

décadas. Mas há outra semelhança

fundamental entre hoje e a situação há

cem anos: as crises do capitalismo e

suas decorrências políticas e sociais,

entre as quais a obscena desigualdade

(PIKETTY, 2014). “Voltar aos 17” é

também buscar descobrir que condições

objetivas e subjetivas fizeram com que

uma situação de “defensiva estratégica”

fosse convertida numa “ofensiva

revolucionária” que marcou a história

do século XX.

Para os que vivemos na América Latina


e Caribe, há mais uma causa que explica

a retomada do interesse no debate sobre

o socialismo em geral e sobre a

Revolução Russa em particular. Desde

1998 até hoje, vários países da região

são governados por partidos que

pretendem estar construindo o

socialismo ou, pelo menos, caminhando

em direção a ele. Isto produziu uma

retomada do debate sobre a transição

socialista, debate que na América Latina

e Caribe é temperado pelos pontos de

contato que existem entre o populismo

russo do século XIX e a “esquerda

populista” do século XXI.

Os populistas russos, ao menos em sua

versão clássica, acreditavam que seria

possível construir o socialismo sem

passar pelo capitalismo, tomando como

ponto de apoio as tradições coletivistas

do campesinato russo. Lênin iniciou sua

trajetória política combatendo esta

teoria, mas o curso dos acontecimentos


o levou a capitanear um experimento

que foi considerado, por alguns de seus

adversários no movimento socialdemocrata,

uma variante do

“populismo”. Posteriormente, todas as

chamadas revoluções socialistas do

século 20 ocorreram em países em que

o capitalismo estava pouco

desenvolvido. Recolocando novamente

a questão: quais os vínculos entre a

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construção do socialismo e o

desenvolvimento do capitalismo, nos

planos da economia, da sociedade, da

cultura e da política?

Responder de forma sólida a esta

questão supõe revisitar o debate sobre a

Revolução de Outubro, sobre o processo

de construção da União Soviética, sobre

as concepções e as práticas do

movimento comunista ao longo do

século 20. Debate que está sintetizado

em expressões como: “transição”,


“socialismo”, “socialismo real”,

“ditadura do proletariado”, “estado

operário burocraticamente degenerado”,

“capitalismo de Estado”, “modo de

produção asiático”, “stalinismo”,

“totalitarismo”, “social-imperialismo”.

Debate que está diretamente relacionado

com as diferentes caracterizações que se

faz, hoje, acerca da República Popular

da China.

Encerro este texto como iniciei: com um

depoimento pessoal.

No final de 1991, televisões de todo o

mundo transmitiram a cena: pela última

vez desde então, a bandeira da União

das Repúblicas Socialistas Soviéticas

desceu o mastro onde estava hasteada,

no Kremlin. Desmoralizando as

previsões dos teóricos do

“totalitarismo”, a URSS caiu devido à

suas próprias contradições internas.

No mundo inteiro, no Brasil e no PT,

foram tempos para lembrar que, como


tantas outras obras humanas, a

Revolução Russa de Outubro de 1917

fora carregada de tragédias e crimes,

lama e sangue, dor e violência,

imperfeições e debilidades. E que

nenhum processo histórico deve ser

considerado irreversível.

Mas foram tempos também para

defender, em certos momentos contra

quase tudo e contra quase todos, que

diferente de outras obras humanas, a

Revolução Russa de Outubro de 1917

fora um esforço titânico para

materializar os ideais de igualdade,

liberdade e fraternidade. Metas algum

dia compartilhadas pela burguesia, mas

que desde há muito constituem parte do

legado e patrimônio da classe

trabalhadora.

Hoje, décadas depois do fim da URSS,

parece mais evidente que a contribuição

global da Revolução de Outubro de

1917 para a humanidade foi positiva.


“Convicção” que pode ser sustentada

com inúmeras “provas”, entre as quais a

contribuição que a Revolução deu para

a luta pelos direitos iguais para as

mulheres; para a batalha por políticas

públicas de saúde, educação, cultura,

esportes, habitação e transporte; para a

adoção do planejamento econômico;

além da contribuição, direta e indireta,

para a luta contra o imperialismo, o

colonialismo, o racismo e o nazismo, a

luta a favor da paz. E também, acima de

tudo, a tentativa de superar o

capitalismo e iniciar a transição

socialista em direção a uma sociedade

comunista.

Neste ano de centenário, milhões de

pessoas vão perguntar novamente: qual

a herança da Revolução Russa de

1917?

Repito aqui, para concluir, o que escrevi

numa “Agenda” (FONT, 2016)

dedicada à Revolução: “Cada geração


constrói sua própria opinião acerca do

passado. Mas uma coisa é certa:

enquanto existir capitalismo sobre a

face da Terra, a Revolução Russa

continuará provocando paixões

antagônicas. De um lado, os que a

consideram a materialização do mal. De

outro lado, os que a consideram um

momento fundamental da luta para

libertar a humanidade de todas as

formas de opressão e exploração. Cabe

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aos trabalhadores e trabalhadoras do

século 21 decidir qual será a herança da

Revolução Russa de 1917. Esperamos

que sigam o exemplo do proletariado

russo, ao comemorar o aniversário da

Comuna de Paris de 1871: inspirar-se

no heroísmo, aprender com os erros,

preparar os próximos triunfos”.

Friedrich Engels nasceu em Barmen, Renânia, em 1820, e faleceu no ano de


1895. O autor e colaborador de Marx foi um dos teóricos que fundamentou o
materialismo dialético enquanto fator condicionante da transformação histórico-
social. Desse modo, podemos refletir a partir da obra “Do Socialismo Utópico ao
Socialismo Científico” sobre as importantes contribuições da corrente de socialistas
utópicos, assim como as conjunturas sociais que foram desencadeadas devido às
influências dessa corrente. Engels afirma que essa brochura se baseia em partes da
obra Anti-Duhring, ou seja, “a subversão do senhor Eugênio Dühring” ao socialismo.
Nesse sentido, essa obra desconstrói as mais variadas formas de socialismo
existentes. Por sua vez, tenta esclarecer as pretensões do partido comunista. Assim
como, explicar as principais concepções acerca da transformação dos sistemas
econômicos. Na nota de edição ele afirma que a circulação dessa obra ganhou mais
destaque do que as obras O Manifesto do Partido Comunista e o Capital. A obra é
então, dividida na explanação teórica dos sistemas de produção feudalista ao
capitalista.

Abordagem dos principais pensamentos que culminaram no período pré-


capitalista e por fim, com o consolidado. Em seguida, ele explicita sobre a corrente
de socialistas utópicos e a suplantação dessa teoria, com a formulação do
socialismo científico.

Nossa pretensão não é esgotar as significações elencadas por Engels.


Entretanto, queremos mostrar algumas concepções que fundamentaram o
pensamento socialista dos autores Marx e Engels, nesse caso, faremos uma
descrição sobre a modificação entre o sistema feudalista ao sistema de produção
capitalista. Elencaremos algumas das passagens históricas que foram fundamentais
para a suplantação do modo de produção feudal ao modo de produção capitalista.

A obra desenvolve a concepção das tessituras, que se referem ao processo


de transição do sistema capitalista ao socialismo, bem como as evidências cabíveis
para o desenvolvimento desse processo. Essa análise se dá na medida em que
Engels acrescenta as transformações dos modos de produção e traz, em seguida,
as peculiaridades inerentes a cada sistema.

Engels desdobra a análise do sistema capitalista, partindo da premissa


dialética, assim ele explicita que a sociedade industrial não foi resultado apenas de
princípios ideológicos, mas que, antes, necessitaram de forças produtivas para a
fundamentação da mesma. Nesse sentido, ele aponta que a Revolução Francesa foi
uma categoria ideológica e material, porém, para em seguida, ponderar que a
Revolução Industrial trouxe o aperfeiçoamento do sistema capitalista.

Assim, as modificações sociais pautadas na superação de um modelo


econômico, nesse caso, o feudalismo. Foram possíveis devido ao embate entre as
forcas produtivas e o modo de produção. Dessa maneira, as concepções medievais
que giravam em torno de um Deus transcendente, já não serviam para explicar as
rápidas mudanças entre as relações sociais, e também entre o sistema
mercadológico. É necessária, uma nova forma de pensar sobre a realidade social.
Portanto, surgiram as concepções renascentistas, idealistas como forma de
responder as transformações materiais da modernidade. Assim como Marx Engels,
apontam no livro Ideologia Alemã:

[...] A produção de idéias, de representações e da consciência está em


primeiro lugar direta e intimamente ligada à atividade material e 'ao comércio
material dos homens; é a linguagem da vida real. As representações, o pensamento,
o comércio intelectual dos homens surge aqui como emanação direta do seu
comportamento material.(MARX; ENGELS, 1987, p. 20).

Diante do processo de transição entre o modo de produção feudalista ao


capitalista um dos fatores principais foi a descentralização do poder da igreja
católica. Mediante essacontecimento histórico, tem-se como suporte as ideias
filosóficas renascentistas que relatam a liberdade do homem no que diz respeito a
seus dogmas religiosos. Não se tem mais a necessidade de intermédio da igreja, já
que as ciências estão proporcionando à sociedade respostas baseadas em
verdades que podem ser verificadas.

O rompimento com as construções ideológicas, com o modelo social


postulado pela cultura dominante, emerge diretamente em todo o âmbito da
produção econômica, já que a igreja e nobreza respaldavam-se em concepções
religiosas para proibir a crescimento econômico-comercial. Mediante essa situação,
o predomínio da ciência gerou um fortalecimento significativo dentro da Europa, pois
havia a necessidade de engendrar as transformações culturais e econômicas dentro
de toda a sociedade.
A concepção calvinista baseada na predestinação “era expressão religiosa do
fato de que no mundo comercial, no mundo da concorrência, o êxito ou a bancarrota
não dependem da atividade ou da aptidão do indivíduo, mas de circunstâncias
independentes dele” (ENGELS, 2005, p. 33). É importante salientar que não era
mais necessário o intermédio dos cardeais, pois o crescimento econômico “não
depende da vontade ou da fuga de ninguém, mas da misericórdia, de forças
econômicas superiores desconhecidas” (ENGELS, 2005, p. 33). Partindo das
transformações religiosas iniciadas por Lutero no século XVI que já anunciavam as
modificações dentro do sistema feudal católico. Ademais, com o movimento de
Calvino foi possível uma transformação mais pautada na economia capitalista.
Dessa forma, a burguesia que viu seu momento de instaurar suas próprias noções e
modelos de economia vinculada ao crescimento do capital, embasando-se nas
correntes filosóficas tais como: deísta, agnóstica, hegeliana, baconiana, que
elencaram todas as transformações advindas da mudança econômica e, com isso,
uma série de mudanças dentro da sociedade medieval.

Houve a necessidade do advento de novas bases que responderiam a muitos


questionamentos feitos pela burguesia, aos seus anseios por novos mecanismos
que modificariam o sistema de relações sociais, e, principalmente as relações
monetárias, porque eram esses questionamentos atrelados às concepções
científicas que resultaram na Revolução Francesa do século XVIII.

Os ideais materialistas se iniciaram na Inglaterra, principalmente com a


aristocracia, foram também transferidos para a França com a segunda escola de
filósofos. Seu intento era questionar não apenas a religião, mas também as
tradições políticas e científicas. A juventude culta da França seguiu as linhas
teóricas do pensamento materialista, que teve grande reconhecimento com a obra
dos enciclopedistas, a qual deu embasamento teórico para a Grande Revolução,
servindo de bandeira teórica aos terroristas e aos republicanos. Nela inspirou-se o
texto da Declaração dos Direitos Humanos.

A Revolução Francesa foi a consolidação entre as teorias filosóficas e o


descontentamento da burguesia em relação aos privilégios da nobreza e do clero.
Dessa forma, a derrocada total do feudalismo e dos poderes da igreja foi legitimada
com a Revolução Francesa, que acabou com todas as relações do sistema servil. A
partir desse momento, a burguesia triunfa sobre todas as classes, até mesmo sobre
a aristocracia.

O predomínio das relações feudais na Inglaterra não correspondeu à


destruição por completo do sistema servil na França, que já contava com o enorme
desenvolvimento estruturação do sistema capitalista, ou seja, o feudalismo já não
daria conta do mercado capitalista que crescia cada vez mais na França e se
firmava fortemente com o propósito materialista. Isso também se diferencia do que
ocorreu com o burguês britânico que estava completamente atrelado aos preceitos
religiosos. Para o modelo burguês britânico, o que ocorria na França lhes soava
muito mal, quanto mais o pensamento materialista crescia e tomava conta do
pensamento burguês na França, mais a religião cristã predominava na Grã-
Bretanha.

O sistema fabril ganhava destaque na Inglaterra, tirando a aristocracia


latifundiária do topo da ascensão social e preponderando as relações comerciais
atreladas ao desenvolvimento da indústria, concentrando a demanda crescente da
economia capitalista inglesa nas fábricas.

A instauração da Revolução Francesa desencadeou a aceleração e


estruturação da burguesia e sua concentração econômica. O novo sistema tende a
desmoronar o primeiro que se encontrara na aristocracia latifundiária, que antes da
revolução tinha um grande domínio dentro da esfera social e política, mas com o
advento da revolução e a forte estrutura da burguesia, se concretizou com a sua
participação dentro do Parlamento. Depois, a derrogação das leis dos cereais, que
concretizou por completo a ascensão da burguesia em relação a todas as outras
classes.

A revolução industrial na Inglaterra criou um grande acúmulo de riquezas aos


capitalistas, fornecendo-lhes também um grande contingente de operários
trabalhadores em suas fábricas. Trabalhadores estes que faziam crescer em
quantidade e em força, o que disso gerou foram as manifestações, como a de 1824,
a qual obrigou o Parlamento a revogar as leis contra liberdade de coalizão. Diante
disso, os operários formaram o seu próprio “partido dos cartistas”.
As manifestações contra o sistema capitalista eram situações que pareciam
tão absurdas aos olhos do burguês que pretendia manter o operário sob as rédeas
da religião cristã. No entanto, para seu descontentamento, vieram algumas
imposições operarias, entretanto, seguida de declínios.

Em seguida, vieram as revoluções continentais de Fevereiro e Março de


1848, nas quais os operários tiveram um papei tão importante e nas quais
levantaram pela primeira vez, em Paris, reivindicações que eram absolutamente
inadmissíveis do ponto de vista da sociedade capitalista. E sobreveio logo a reação
geral. Primeiro foi a derrota dos cartistas de 10 de Abril de 1848; depois, o
esmagamento da insurreição operária de Paris, em Junho do mesmo ano; mais
tarde, os descalabros de 1849 na Itália, Hungria e sul da Alemanha; por último, o
triunfo de Luís Bonaparte sobre Paris, em 2 de Dezembro de 1851. (ENGELS, 2005,
p. 44-45)

Com o acréscimo de mazelas sociais, as insurreições proletárias, surgiram


pensadores utópicos que criam suas teorias a fim de tentar resolver os problemas
causados pelo capitalismo, os utópicos tendem a não quererem resolver o problema
dos operários, mas sim o todo. Assim como fizeram os enciclopedistas “não se
propõe emancipar primeiramente uma classe determinada, mas, de chofre, toda a
humanidade.” (ENGELS, 2005,p.60). Esse mundo no qual predominou a razão
eterna, a justiça e liberdade estiveram completamente longe de serem aplicados na
realidade concreta. De fato, o que prevalece nesse mundo idealizado, são as
injustiças e explorações de um sistema que separa os possuidores dos
despossuídos. Então Engels pondera que a corrente de socialistas utópicos, que
teve como pensadores: Saint-Simon, Fourier e Woen. Respaldava-se da seguinte
maneira:

[...] suas teorias incipientes não fazem mais do que refletir o estado incipiente
da produção capitalista, a incipiente condição de classe. Pretendia-se tirar da
cabeça a solução dos problemas sociais, latentes ainda nas condições econômicas
pouco desenvolvidas da época. A sociedade não encerrava senão males, que a
razão pensante era chamada a remediar. (ENGELS, 2005, p. 64-65).

Nesse contexto, Engels explica que as utopias que permearam a corrente dos
socialistas utópicos, não podiam ser realizadas, já que suas concatenações não
estavam respaldadas em princípios materiais, não havia problematizarão sobre a
dualidade entre as forças produtivas e os modos de produção. Em sua ontologia
social, não aparecia o proletário enquanto uma classe revolucionária. Tampouco,
havia uma compreensão voltada para a concepção capitalista. Ademais, só era
possível pensar sobre os problemas advindos do sistema capitalista. Em seguida,
Engels acrescenta que Marx desenvolveu a grande compreensão sobre a história da
humanidade, as lutas de classes seguidas de um novo modo de produção. Essa
análise das transformações dialético-materialistas pode ser encontrada nas obras A
Ideologia Alemã e O Manifesto do Partido Comunista, que esboçam de maneira
clara a pretensa superação das premissas puramente racionais encontradas tanto
na ideologia alemã quanto no pensamento socialista francês.

Diante das concepções utópicas, Engels faz sua crítica considerando que a
sociedade por muito tempo as ouviu e venerou como sendo algo de extremo
prestígio, pois nesse socialismo se encontra a “verdade absoluta, da razão e da
justiça [...] e, como verdade absoluta, não está sujeita a condições de espaço e
tempo nem ao desenvolvimento histórico da humanidade”[...] (ENGELS, 2005, p.
78). Diante disso, tal acontecimento é desprovido de concretização, pois sua
amplitude se encontra na dimensão do acaso, somente o acaso decidirá quando a
sociedade socialista irá existir. Nesse sentido, mesmo o socialismo não tendo se
concretizado. As idealizações de um sistema social mais justo repousam sobre o
imaginário daquelas pessoas que pensam alternativas para um mundo melhor.
Assim, o que se percebe é que a justificação de Marx Engels pautada no viés
materialista, e, por conseguinte, na refutação do pensamento idealista alemão.
Assim como, a crítica ao socialismo o utópico, nada mais era do que a tentativa de
instauração de uma sociedade sem classes, ou seja, uma sociedade igualitária.
Esse princípio norteou a corrente renascentista, o idealismo alemão, e também o
socialismo utópico e por último o socialismo científico de Marx e Engels.

Em contraposição aos socialistas utópicos surge o socialismo científico, que


tem toda sua base teórica e metodológica na luta de classes, ou seja, no
materialismo dialético, partindo do pressuposto de que a mudança social é oriunda
da compreensão e atuação dos indivíduos no processo de reconhecimento de
classe e na compreensão de sua atuação dentro da esfera social para ser capaz de
concretizar a derrocada da burguesia.
O cientificismo da teoria socialista de Marx se dá por meio da comprovação
sobre o percurso material vivenciado pela sociedade ao longo de sua existência que
foi propício ao surgimento de uma nova classe, ou seja, com base na luta entre as
classes é possível ter a dimensão real e material acerca da mudança estrutural do
sistema de produção que influi em todas as diferentes áreas da sociedade e
relações que dimensionam a vida social.

As forças produtivas desenvolvem toda a relação do homem, atuando dentro


do processo material para poder compor a base existencial de toda a sociedade.
Diante disso, ocorrem relações de produção que se respaldam na escravidão,
arrendamento, artesanato, e, no modo assalariado. Nesses processos ocorrem
conflitos entre as forças produtivas e as forças de produção, desencadeando a
derrocada do modo de produção predominante na esfera social. Segundo essa
teoria, Marx parte da relação de exploração que se estabelece entre operariado e
patronato para comprovar que, na Historia da Humanidade ocorreram sucessivas
lutas entre as forças produtivas e as forças de produção. Em consequência disso,
uma classe ascende historicamente e revoluciona a sociedade vigente. Assim como
a burguesia ascendeu-se e revolucionou todo o arranjo social mediada pelo embate
contra o modo de produção feudal, os proletários também cumpririam seu papel na
História da humanidade, pondo fim ao sistema capitalista.

Assim sendo, o papel histórico do proletário é derrubar o sistema capitalista e


implantar temporariamente o socialismo, o qual é o processo em que a humanidade
tenderá a desapropriar a propriedade privada e colocar o Estado a serviço do
proletário. Isso dar-se-á ao passo que a humanidade dissolverá os resquícios
ideológicos do capitalismo, assim não havendo a necessidade do Estado, pois a
organização social terá sido alcançada. Ao final desse processo, a sociedade
atingirá o comunismo onde todos os seres humanos se desenvolverão por completo.

De certo modo, hoje o Estado tem exercido um duplo papel, por um lado, ele
continua sendo como Marx e Engels consideravam aparato da burguesia capitalista
que garante sua reprodução e perpetuação, e por outro lado, assumiu “novas
posturas” como consideradas no livro 18 Brumário de Luís Bonaparte onde o mesmo
surge como mediador frente às situações de exploração e desigualdade.

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