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 R. José Higino, 416 - Prédio 18
Tijuca - Rio de Janeiro - RJ
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CEP: 20755-971
Junta de Missões Nacionais
Direção Executiva • Fernando Brandão
Gerência Executiva de Missões • Samuel Moutta
Gerência Executiva de Evangelismo • Fabrício Freitas Copyright © 2018 da Junta de Missões Nacionais da CBB. Todos
Gerência Executiva de Comunicação • Jeremias Nunes os direitos reservados. Permitida a reprodução desde que integral
Gerência Executiva de Administração e Suporte • Juarez Solino (88p.), incluindo capa e página de créditos, e para uso exclusivo na
Gerência Executiva de Ação Social • Anair Bragança
Escola Bíblica Discipuladora da igreja, sem finalidade lucrativa.
Gerência Executiva de Mobilização • Milton Monte ISBN 978-85-66207-41-5
Produção Editorial • Diogo Carvalho
Assistente de Produção Editorial • Letícia Burity Guimarães
1ª edição: abril 2018
Produção Gráfica • Camila Freitas
Assistente de Produção Gráfica • Thaís Velasco
Revisão • Suzane Moutta, Adalberto Alves de Sousa e Sílvia Patrícia Leite Todos os textos bíblicos foram extraídos da Bíblia
Capa, Projeto Gráfico e Diagramação • Oliver Arte Lucas Almeida Século 21.

Ferreira, Marcos Paulo

F385s Ser discípulo/ Marcos Paulo Ferreira.- Rio de Janeiro: JMN, 2018.

88p. ; 21 cm.- (Escola bíblica discipuladora).

1.Discipulado. 2. Vida cristã. I. Junta de Missões Nacionais. II. Título.

III. Série.
CDD 248

Índice para catálogo sistemático:

1.Vida cristã: Crescimento: 248

2
 SUMÁRIO
Aula 1 – O Ser de Deus: Apontamentos bíblicos acerca da Pessoa de Deus ...................................................... 5

Aula 2 – O ser responsável: Os humanos antes da queda e suas responsabilidades no Éden ..................... 9

Aula 3 – O ser em pecado: Os humanos seduzidos pelo orgulho............................................................................ 15

Aula 4 – O ser em desequilíbrio: A destruição gerada pelo pecado ...................................................................... 20

Aula 5 – O Ser que alcança, acolhe e cuida: O amor de Deus refletido em três atos ....................................... 25

Aula 6 – O Ser discípulo em diferentes contextos: O discípulo e seu mestre nos contextos
veterotestamentário, helênico e judaico-romano ....................................................................................................... 31

Aula 7 – O Ser discípulo em Cristo: O diferencial do discipulado de Cristo ........................................................ 37

Aula 8 – O Ser de Cristo: A identidade e as atribuições de Jesus Cristo ............................................................... 44

Aula 9 – O Ser de Cristo e o reino de Deus: O Reino inaugurado por Cristo ....................................................... 51

Aula 10 – O Ser nascido de novo: O novo nascimento e a filiação do discípulo ............................................... 58

Aula 11 – Ser humanidade redimida: O povo que Cristo resgatou para si .......................................................... 64

Aula 12 – O Ser discípulo (Parte 1): Aspectos relevantes e práticos do discipulado......................................... 71

Aula 13 – O Ser discípulo (Parte 2): Aspectos relevantes e práticos do discipulado ........................................ 77

Referências Bibliográficas....................................................................................................................................................... 84

3
 Apresentação
É com imensa alegria que apresentamos a você este
que é o primeiro módulo da segunda parte do trilho
básico de formação do discípulo da visão de Igreja
Multiplicadora. Como você sabe, a primeira parte
compreende as ações discipulares individuais daquele
que almeja multiplicar-se na vida de outra pessoa,
começando com o Cartão Alvo de Oração, passando
pela série Relacionamento Discipulador 1, 2 e 3, até o
clássico Maturidade Cristã, que pode ser ministrado
em grupo em sala de aula.
O tão aguardado Ser Discípulo que você tem em mãos
é, agora, o primeiro módulo da Escola Bíblica Discipu-
ladora que compõe uma série que em breve será lan-
çada obedecendo aos seguintes verbos: SER, VIVER,
CONVIVER e FRUTIFICAR. Por hora, celebramos este
que é o primeiro! Glória a Deus! Que conquista!
As treze lições são fruto de uma experiência já
comprovada e de uma concepção de ensino eficaz para
o amadurecimento do discípulo não apenas do ponto
de vista cognitivo, mas sobretudo vivencial, com impacto
em sua vida e nas pessoas que o cercam e integrando-se
aos relacionamentos discipuladores. Os temas foram
planejados de forma sequencial para explicar o que é
ser um verdadeiro discípulo de Jesus Cristo nos dias
atuais. Tal temática é relevante tanto para aqueles que
estão chegando à igreja, como também para membros
antigos que têm encontrado dificuldade de agir no
4
mundo como seguidores de Jesus que se multipliquem.
Ensinar o membro de igreja a “Ser discípulo” talvez seja
a maior necessidade que enfrentamos hoje com vista a
uma multiplicação exponencial de discípulos.
A metodologia das lições também foi desenhada a par-
tir de uma visão andragógica, que favorece o aprendi-
zado de jovens e adultos, com tópicos interativos para
abordagem com pequenos grupos em sala de aula.
Não poderia deixar de agradecer a Deus pela vida
do pastor Marcos Paulo Ferreira, autor deste material
e do livro Escola Bíblica Discipuladora: formando
líderes multiplicadores, e também pela Igreja Batista
do Bacacheri, Curitiba/PR, que têm sido referência em
matéria de educação cristã no Brasil, especialmente no
contexto de uma Igreja Multiplicadora.
Sonhamos com uma Escola Bíblica cada vez mais forte,
com um ensino que favoreça a multiplicação de discí-
pulos e que se constitua, ao lado do relacionamento
discipulador e do Pequeno Grupo Multiplicador, um
tripé de formação de discípulos e líderes que transfor-
mem o Brasil pelo poder de Deus.
Vamos avançar!
Fernando M. Brandão
Diretor Executivo da JMN

O Ser de Deus
Apontamentos bíblicos acerca da Pessoa de Deus
Orar (10 min)
Confira um trecho inspirador retirado do livro A
formação de um discípulo, de Keith Phillips. Leia com
toda a atenção e em atitude de reflexão:
Ele [Deus] trabalha com a premissa de que o
desenvolvimento do caráter é mais importante do que
o polimento de técnicas. Você tem de ser a pessoa de
Deus antes de poder realizar a obra de Deus. Básica
para tal procedimento é a necessidade bíblica de morrer
para o egocentrismo a fim de que Cristo reine absoluto
no coração. Sustentando esse compromisso, está
uma atitude de submissão à autoridade divina, uma
devoção refletida em forte disciplina pessoal, um amor
que se estende para fora de si mesmo e um senso de
comunidade.1
Você já desenvolveu a consciência de que, mais
importante do que técnicas e métodos, é ser a pessoa
que Deus deseja que você seja? Aproveite este breve
período para refletir e orar. Você está disposto a iniciar
essa jornada de morte para você próprio a fim de
que Cristo seja em você? Conhecer a Deus só se torna
possível quando você decide que Ele mesmo assumirá
o governo da sua existência.
Debater (5 min)
Você deverá pensar rapidamente em quem considera
que Deus seja. Tente refletir em textos da Bíblia, mas
também em algumas experiências pessoais. Escreva
nas linhas abaixo sua breve reflexão. Neste momento,
não se preocupe tanto em apresentar uma síntese
teológica.
1 PHILLIPS, Keith. A formação de um discípulo, p. 10.
Aula 1
Quem é Deus para você?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Sintetizar (15 min)
Forme um pequeno grupo de três ou quatro
participantes. A partir da leitura dos três primeiros
capítulos de Gênesis, além de mais um texto de livre
escolha, formule uma breve declaração acerca de
quem Deus se apresenta sendo.
Escreva abaixo as verdades centrais apresentadas por
Gênesis 1, 2, 3 e pelo texto lido:
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
5
Refletir (25 min)
Com base nos três primeiros capítulos do livro de
Gênesis, pode-se pensar em Deus como:
CRIADOR ABSOLUTO
Com majestosa simplicidade, o autor dos capítulos
iniciais de Gênesis estabelece aquilo que era uma
verdade de fácil aceitação: “No princípio Deus criou
os céus e a terra”. Ele não tem interesse em provar a
existência de Deus, pois esse é um fato incontestável.
O ato de criação aconteceu “no princípio” (o termo
original é bereshit, utilizado para indicar o começo
absoluto do universo, tal como está em Isaías 46.10)
e nenhuma matéria preexistente parecia estar
presumida. Pode-se apreender também que Deus é
a “causa do mundo tanto do ato inicial de fazer surgir
o universo quanto em sua conservação contínua do ser
do mundo”2. Portanto, Deus cria e conserva. Confira a
declaração do próprio Deus acerca de si próprio em
Isaías 45.18 e 46.9,10.
ESSENCIALMENTE RELACIONAL
A criação dos seres humanos se dá por um pacto
solene que revela um Deus comunitário, conforme
se lê em Gênesis 1.26: “Façamos o homem à nossa
imagem, conforme a nossa semelhança”. O Deus
Criador é Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo,
que, em uma comunhão única e intensa, decidem
criar o ser humano para partilhar também dessa
relação preciosa. Deus tem prazer na comunhão de
amor ilimitado. A narrativa do Gênesis nos permite
imaginar uma cena linda em que Deus, por ser
essencialmente relacional e nutrir profundo deleite
na comunhão, passeava pelo jardim do Éden “quando
soprava a brisa do dia” (Gn 3.8), muito possivelmente
em busca de contato diário com as suas amadas
criações. Tanto que, na sequência do capítulo 3, assim
que o Senhor percebe que Adão e Eva se esconderam,
ele os chama perguntando onde estão.
O fato de Deus ter notado a solidão de Adão também
revela, além do seu cuidado, a sua natureza relacional:
“Não é bom que o homem esteja só; farei para ele alguém
que o auxilie e lhe corresponda” (Gênesis 2.18). Confira
agora uma pequena poesia que aborda algumas
das consequências em reconhecermos Deus como
essencialmente relacional, a partir da Trindade e do
vínculo que estabelece com os seres humanos:
2 CRAIG, William Lane. MORELAND, J. P. Filosofia e Cosmovisão
Cristã, p. 32.
6
Quando nós, cristãos, confessamos a Trindade de Deus,
queremos afirmar que Deus não é alguém solitário,
fechado em si mesmo, mas um ser solidário.
Deus é comunidade, vida compartilhada, dedicação,
doação recíproca, feliz comunhão de vida.
Deus é, ao mesmo tempo, o amante, o amado e o amor (…)
Confessar a Trindade não quer dizer, apenas, reconhecê-la
como princípio, mas também aceitá-la como modelo último
da nossa vida. Quando afirmamos e respeitamos
as diversidades e o pluralismo entre os seres humanos,
na prática confessamos a distinção trinitária de pessoas.
Quando eliminamos as distâncias e trabalhamos para realizar
a efetiva igualdade entre homem e mulher, entre afortunados
e despossuídos, entre próximos e distantes,
afirmamos na prática a igualdade das pessoas da Trindade.
Quando nos esforçamos para ter ‘um só coração e uma só alma’
e aprendemos a colocar tudo em comum,
para que ninguém tenha de passar pela indigência,
estamos confessando o único Deus e
acolhendo em nós a sua vida trinitária.”3
ESSENCIALMENTE AMOR
Embora a palavra “amor” não conste na narrativa
inicial do livro de Gênesis, certamente, foi ela a
iniciativa que moveu a Trindade à criação. O amor
transbordante da comunhão trinitária resultou
na criação do mundo e, em especial, dos seres
humanos. Afinal, como se revela o amor, senão a
partir de relacionamentos? O amor não cabe em si
mesmo. Ele não se contém e, portanto, transborda,
doa, dá e reparte. A criação foi movida pelo amor.
Deus saiu de si mesmo e repartiu dos seus atributos
com criaturas a ponto de formá-las “à nossa imagem,
conforme a nossa semelhança” (Gênesis 1.26). Confira
o que João escreve em Apocalipse 13.8: “todos
aqueles que não tiveram seus nomes escritos no livro
da vida do Cordeiro que foi morto desde a criação
do mundo”. E também 1Pedro 1.19,20: “mas pelo
precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem
mancha e sem defeito, conhecido antes da criação do
mundo”.
Os textos mencionados são profundos e podem suscitar
muitas reflexões. Mas, neste momento, atente apenas
para o fato de que para o mundo surgir e sermos
concebidos como seres humanos, alvos da afeição de
Deus, houve um sacrifício de amor. Desde a criação de
todas as coisas, a Trindade divina já estava disposta a
morrer na cruz a fim de que a humanidade pudesse ser
redimida. Esse é o ponto a que o amor de Deus chega:
o sacrifício de si próprio. As palavras de 1João 4.8 não
deixam espaço para argumentação: “Deus é amor”.
3 Bispos de Navarra e do País Basco, Creerhoyenel Dios de Jesucris-
to, Páscoa de 1986.
ESPÍRITO
Conforme se lê em Gênesis 1.2, Deus é Espírito. Mas
Ele não é uma energia passível de manipulação, ou
uma força fria e inanimada, tampouco o princípio
vital, como alguns defendem. Deus é Espírito Pessoal.
Em João 4.24, pode-se ler isto: “Deus é espírito, e é
necessário que os seus adoradores o adorem em espírito
e em verdade”. Embora Deus seja espírito, Ele também
é um ser vivo e pessoal. Confira o que Charles Hodge
escreve a esse respeito:
Nem é preciso enfatizar que as Escrituras por toda
parte representam a Deus como possuindo todos os
atributos de um espírito (...). O Deus da Bíblia é uma
pessoa. Ele falou a Adão. Revelou-se a Noé. Entrou
num pacto com Abraão. Conversou com Moisés,
como um amigo conversa com seu amigo. Por toda
a parte ele usa pronomes pessoais. Ele diz: ‘Eu sou’,
esse ‘é o meu nome’. Eu sou o Senhor vosso Deus. Eu
sou misericordioso e gracioso. Invoca-me e eu te
responderei. Como um pai se apieda de seus filhos,
assim o Senhor se apieda dos que o temem. Ó tu, que
ouves a oração, a ti virá toda carne. Nosso Senhor
pôs em nossos lábios palavras que revelam que Deus
é espírito e tudo o que está implícito em ser espírito,
quando nos ensina a orar: ‘Pai nosso, que estás no céu.
Santificado seja o teu nome. Venha o teu reino. Seja
feita a tua vontade’(...). Segundo a Bíblia, e segundo
os ditames de nossa própria natureza, tanto da razão
quanto da consciência, Deus é espírito; e, sendo
espírito, é necessariamente uma pessoa; um Ser que
pode dizer Eu, e a quem podemos dizer Tu.4
Deus é Espírito e também pessoa e, como pessoa, nas
profundezas de sua poderosa natureza, Ele pensa,
deseja, sente e ama, como qualquer outra pessoa. Em
seu relacionamento conosco, Ele se mantém fiel a esse
padrão de comportamento de personalidade (de forma
a sinalizar sua natureza essencialmente relacional).
Deus é Espírito transcendente. Criou tudo o que existe
com a sua Palavra. Ele não é a sua própria criação, mas
a transcende. Deus também é Espírito imanente. Ele
intervém na criação. Deus compartilhou da sua vida com
o ser humano, pois somente por meio do seu sopro a
matéria inanimada pôde receber o dom da vida.
CRISTO
Assim como o relato da criação deixa claro, Deus
estava em Cristo e com Cristo. Cristo é o próprio
Deus. Esse é o mistério precioso da Trindade. E
embora essa verdade pareça óbvia para alguns,
4 Teologia Sistemática, p. 106.
muitos pelo mundo vivem como se ela não existisse.
Deus tem o jeito de Cristo, a face de Cristo. Você quer
conhecer a Deus? Leia com afinco os evangelhos!
Como o seu Deus se relaciona com os pecadores
arrependidos? Seu Deus se entristece com a morte
das pessoas? Como Deus reage ao farisaísmo e
legalismo? Deus faz distinção de pessoas por suas
etnias, condições sociais ou sexo? Você encontrará
as respostas a essas perguntas em Jesus Cristo, a
revelação perfeita do Pai. Leia este diálogo que está
em João 14.8,9: “Disse Filipe: ‘Senhor, mostra-nos o
Pai, e isso nos basta.’ Jesus respondeu: ‘Você não me
conhece, Filipe, mesmo depois de eu ter estado com
vocês durante tanto tempo? Quem me vê, vê o Pai’”.
A pergunta de Jesus continua ressoando até os dias
de hoje e é direcionada a todos os seus discípulos,
em todos os lugares.
Deus é Espírito pessoal essencialmente amoroso
e relacional, transcendente e imanente, criador
cuidadoso, que formou o mundo e os seres humanos
especialmente à sua imagem e semelhança, com
quem tem prazer na comunhão. Por sermos obras
das mãos de Deus, herdamos também sua natureza
essencialmente relacional. Segundo 1João 4.16,
“conhecemos o amor que Deus tem por nós e confiamos
nesse amor. Deus é amor. Todo aquele que permanece no
amor permanece em Deus, e Deus nele”. Portanto, todo
aquele que pretende seguir Cristo, o Filho de Deus,
deve compartilhar a intensidade desse amor, que cria,
alcança, cuida, acolhe, cura e restaura.
Compartilhar (10 min)
Em pequenos grupos, converse e compartilhe suas
impressões a respeito das questões a seguir:
● Existem mais algumas características a
respeito de quem é Deus que você queira
ressaltar? Tente fazer isso a partir de textos
das Escrituras que se tornaram relevantes na
sua caminhada discipular.
● Converse com seu grupo sobre formas práticas
a partir das quais é possível reproduzir
algumas das características essenciais de
Deus, com base no conteúdo lido. Como você
pode criar, relacionar-se e amar de forma a
expressar Cristo?
● Essas dimensões (criador, relacional e amoroso)
acerca do Ser de Deus, apontam para o caminho
de discipulado? De que forma?
7
Sintetizar (5 min)
Tente contribuir com a formulação das principais ideias
da primeira aula que surgiram como fruto da leitura do
material e/ou dos diálogos nos pequenos grupos.
VIVER
Até o próximo encontro
O desafio é reproduzir as dimensões da criação, relação
e amor de Deus durante a semana. Após pensar,
refletir e orar, escolha uma atitude correspondente
a cada uma dessas características do Pai e ponha em
ação. Como você pode criar algo que abençoe? Com
quem ou de que forma você pode se relacionar com o
intuito de edificar? Qual atitude deve tomar para amar
alguém? As ideias escolhidas para serem praticadas
podem estar associadas. Pense com carinho e conte
com a orientação do Espírito Santo.
EU CREIO
Vida Discipular
SOLICITAÇÃO DE CONTAS
Nome do Relacionamento Discipulador (RD):
____________________________________________
____________________________________________
Material:____________________________________
Data:_______________________________________
Local:_______________________________________
Destaques da semana:
__________________________________________
____________________________________________
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____________________________________________
____________________________________________

Até o próximo encontro ____________________________________________

____________________________________________
Em algum momento da semana, você poderá refletir
com cuidado acerca dos conteúdos e verdades Destaques do meu Tempo A Sós (TAS) com Deus nesta
abordados na primeira aula. Escreva com suas palavras semana:
uma confissão de fé a respeito do Ser de Deus. Dedique
atenção especial a essa atividade. Por exemplo,
a)__________________________________________
comece assim: “Creio que Deus é...”.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
b)__________________________________________
____________________________________________
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____________________________________________
____________________________________________
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c)__________________________________________
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____________________________________________
____________________________________________ ____________________________________________

8

Orar (10 min)
Leia com atenção e de forma refletida o trecho
retirado do livro A formação de um discípulo, de
Keith Phillips:
Talvez o erro fundamental cometido por muitos cristãos
seja fazer distinção entre receber salvação e tornar-se
discípulo. Colocam as duas coisas em níveis diferentes
de maturidade cristã, presumindo que é aceitável ser
salvo sem assumir compromisso com as exigências mais
radicais de Jesus, como ‘tomar a sua cruz’ e segui-lo
(Mateus 10.38).5
A salvação oferecida por Cristo a nós está relacionada à
morte de nós mesmos a fim de que Ele reine em nossa
vida. Ela está intimamente associada à morte do velho
ser (enganado, rebelde e obstinado em seu egoísmo
e autossuficiência) para que o novo, em Cristo, possa
nascer. A cruz fala de salvação, porque também fala
da morte de nós mesmos. Você se considera salvo?
Consegue perceber em você mesmo um compromisso
fiel de discipulado com Cristo? Medite sinceramente
sobre essas questões em humildade.
Debater (5 min)
Pense brevemente e tente formular percepções
acerca da condição de Adão e Eva antes da queda.
Como eles eram? De que condições desfrutavam?
Qual era o ambiente no qual estavam inseridos?
Como se relacionavam entre si e com Deus? Tente
embasar suas impressões em textos bíblicos, mas não
se prive de opinar caso não consiga se recordar de
versículos específicos.
5 A formação de um discípulo, p. 10.
Aula 2
O ser
responsável
Os humanos antes da queda
e suas responsabilidades no Éden
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Atividade: 15 minutos
Reúna-se com seus colegas de classe e formem
pequenos grupos. O desafio será desenvolver um
pequeno texto que apresente suas percepções acerca
da condição humana antes da queda. A leitura bíblica
para esta atividade será a dos três primeiros capítulos
de Gênesis.
Quem eram os primeiros humanos e quais eram as
suas condições antes da deliberada rejeição à vontade
de Deus? Você consegue identificar cuidados e tarefas
que Deus designa a eles?
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Refletir (25 min)
O que se pode pensar a respeito dos humanos, antes
da queda? É possível que Deus tenha criado o ser
humano tão perverso?
Deus criou o homem bom e à sua imagem, isto é,
em verdadeira justiça e santidade para conhecer
corretamente a Deus, seu Criador, amá-lo de todo
o coração e viver com ele em eterna felicidade, para
louvá-lo e glorificá-lo.6
A partir da narrativa de Gênesis, podemos pensar em
algumas conclusões importantes sobre a condição
humana antes da queda:  atenção sobre a natureza criada. Através dos dons,
“Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança” é o registro de Gênesis 1.26. Os seres
humanos foram criados à imagem e semelhança de
Deus (imago dei). Deus instituiu o homem como seu
representante para cuidar e estender o seu reino na
criação. Deus formou Eva a partir da mesma natureza
e pretendia que ela igualmente compartilhasse
da Sua imagem. Por isso, a mulher não é em nada
inferior ao homem, sendo, antes, uma companheira,
que também foi alvo do amor, cuidado e carinho de
Deus ao ser concebida. O homem e a mulher tinham
como alvo espelhar e representar Deus no mundo.
Esse reflexo se dá em qualidades éticas, relacionais
e culturais.
Confira o que escreve Van Groningen a respeito da
imago dei:
Ao criar a humanidade à sua própria imagem, Deus
estabeleceu uma relação na qual a humanidade
poderia refletir, de modo finito, certos aspectos do
infinito Rei-Criador. A humanidade deveria refletir
as qualidades éticas de Deus, tais como “retidão
e verdadeira santidade”... e seu “conhecimento”
(Colossenses 3.10). A humanidade deveria dar
expressão às funções divinas em relação ao cosmos
e atividades tais como encher a terra, cultivá-la
e governar sobre o mundo criado. A humanidade
em uma forma física, também refletiria as próprias
capacidades do Criador: apreender, conhecer, exercer
amor, produzir, controlar e interagir.7
De forma um pouco mais objetiva, podemos pensar
alguns elementos centrais acerca da imago dei:
6 Catecismo de Heidelberg, perguntas 6 e 7. Disponível em: cprf.
co.uk/languages/heidelberg_portugal.htm.
7 Revelação Messiânica no Velho Testamento, p. 73.
10
RELAÇÃO
O ser humano reflete a imagem de Deus como um
ser que é relacional. Ele não vive isolado, assim como
Deus não vive só. Deus é relação comunitária de amor.
O homem é uma pessoa e, como tal, ele se relaciona.
Foi por isso que Deus lhe fez uma companheira. Os
humanos estabelecem suas relações em três direções
diferentes: com Deus em intimidade e comunhão (a
referência de Gênesis ao caminhar de Deus pelo Jardim,
na “viração do dia”), com o próximo (Adão e Eva são
formados para se relacionarem e, a partir da intimidade
dessa relação, constituírem a humanidade) e com a
criação (Deus pede a eles que interfiram com zelo e
capacidades e talentos – que são potenciais concedidos
a eles como imago dei, também – o homem e a mulher
devem produzir cultura saudável e benéfica. Chamamos
isso de mandato cultural).
DOMÍNIO
O ser humano reflete a imagem de Deus pela sua
capacidade de dominar sobre as outras coisas criadas.
“O domínio e o temor pertencem a Deus; ele impõe ordem
nas alturas, que a ele pertencem” (Jó 25.2), “Governe ele
de mar a mar e desde o rio Eufrates até os confins da
terra” (Salmo 72.8). Portanto, o homem foi colocado
como “senhor” da terra, para governá-la e cuidar dela.
Nesse sentido, o homem imita o seu Criador, pois Deus
é o Senhor soberano e absoluto que exerce domínio
sobre toda a Terra.
É importante esclarecer. As palavras “dominar”,
“sujeitar” e “subjugar” não soam bem aos ouvidos
modernos e há uma razão para isso. A história
humana está repleta de exemplos sangrentos de
pessoas e povos que, por motivos variados, tentaram
“dominar” outros. Mas é importante ter em mente
que esse mandato foi entregue ao ser humano em
uma era anterior à queda. São, portanto, palavras
ditas a pessoas inocentes que viviam em um
ambiente absolutamente harmônico e que, até então,
desconheciam o frio, a dor, a tragédia, a desigualdade
e o caos. A delegação de autoridade de Deus ao ser
humano fazia referência, não à opressão, mas ao
exercício de uma cuidadosa e responsável mordomia.
Confira alguns versículos do Salmo 8:
Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos,
a lua e as estrelas que ali firmaste, pergunto: Que é
o homem, para que com ele te importes? E o filho do
homem, para que com ele te preocupes? Tu o fizeste um
pouco menor do que os seres celestiais e o coroaste de
glória e de honra. Tu o fizeste dominar sobre as obras
das tuas mãos; sob os seus pés tudo puseste: Todos os
rebanhos e manadas, e até os animais selvagens, as aves
do céu, os peixes do mar e tudo o que percorre as veredas
dos mares (Salmo 8.3-8).
O trecho do Salmo 8 é muito significativo pois parece
colocar em íntima associação o amor de Deus pelos
humanos e a atribuição da responsabilidade de
cuidado e domínio sobre a Terra. Deus não formou
a humanidade para desfrutar eternamente do ócio
em ambiente idílico, pois sabia que suas amadas
criações precisariam trabalhar assim como Ele. “Disse-
lhes Jesus: ‘Meu Pai continua trabalhando até hoje, e eu
também estou trabalhando” (João 5.17). Portanto, a
ordem de Deus para o trabalho dos humanos junto
ao Éden jamais foi um castigo, mas, opostamente, um
privilégio. A vontade da Trindade de que suas criações
participassem ativa e criativamente do cuidado com
a Terra é uma das expressões concretas da imago dei.
ATRIBUTOS ESSENCIAIS
O ser humano reflete a imagem de Deus por ser
dotado de alguns atributos importantes impressos
pelo Criador em sua constituição.
a) Poder intelectual: É a faculdade de raciocinar, a
inteligência e outras capacidades intelectivas em
geral, que refletem aquilo que Deus tem.
b) Afeições naturais: É a capacidade que o homem
tem de ligar-se emocional e afetivamente a
outros seres e coisas. Como lido na aula passada,
Deus é profundamente amoroso, e a criação só
foi tornada possível por causa desse amor. “Eu
a amei com amor eterno; com amor leal a atraí”
(Jeremias 31.3). “Pois estou convencido de que nem
morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem
o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes,
nem altura nem profundidade, nem qualquer
outra coisa na criação será capaz de nos separar
do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso
Senhor” (Romanos 8.38,39). A afeição nutrida por
Deus pela humanidade é diferente da que Ele
nutre pelos animais e pela natureza. Afinal, Adão
e Eva foram as únicas criações em conformidade
com a sua imagem e semelhança. Perceba que,
se todo o mundo foi criado por meio da voz de
Deus, apenas os humanos receberam o toque
dele (Gênesis 2.21 e 22). As Escrituras deixam
claro que os humanos não derivam de outros
animais, mas são fruto da vontade e do toque do
próprio Deus. A relação estabelecida por Deus
com a humanidade é cheia de amor e afeto.
c) Liberdade moral: Capacidade que o homem
tem de tomar decisões obedecendo a princí-
pios morais.
d) Espiritualidade: Deus é espírito, e em certo sentido,
o homem tem traços dessa espiritualidade. Ser
espiritual é ser capaz de se comunicar e exercer
comunhão íntima com Deus, que “é Espírito” (João
4.24). O homem e a mulher são partes do universo
criado mas também o transcendem, pois não são
apenas matéria. Como seres espirituais pessoais, o
homem e a mulher têm a capacidade de conhecer,
amar, confiar, desejar, querer e obedecer, e, para
além disso, de se relacionar em intimidade com
Deus, o Espírito Pessoal, criador e amoroso. Assim
como Deus, os humanos foram criados para serem
livres na utilização das suas capacidades. E assim
como Ele, o homem e a mulher têm o potencial
para executar suas vontades, propósitos e alcançar
suas metas. A espiritualidade presente nos seres
humanos permite a eles ter um senso moral,
conhecer o bem e o mal, além da possibilidade
do desenvolvimento de uma consciência e de um
senso de responsabilidade.
Foram dadas aos humanos tanto a capacidade como
a responsabilidade de intervir de forma zelosa sobre
tudo o que fora criado. Essa delegação atribuída por
Deus foi tanto uma capacidade (Gênesis 1.26) como
um imperativo (Gênesis 1.28). As orientações dadas
pelo Criador aos humanos foram em três direções:
espiritual, social e cultural. Costuma-se chamar essas
direções outorgadas por Deus de mandatos (mandato
é uma autorização, um poder para alguém praticar
determinadas ações em nome de outra pessoa. Desde
a criação, Deus pretendeu que a humanidade fosse
frutífera, que reproduzisse sua imagem e semelhança
ao produzir bons frutos, gerar consequências positivas,
bons resultados e benefícios. Os mandatos foram
delegações de Deus para que Adão e Eva frutificassem,
ao multiplicarem (intervindo, gerando, administrando,
relacionando-se) as boas coisas criadas por Ele. Vamos
ver um pouco mais sobre os três mandatos que Deus
deu ao homem em Gênesis:
MANDATO ESPIRITUAL
É expresso de forma clara e objetiva por Deus por meio
da ordem: “Não comam do fruto da árvore que está no
meio do jardim, nem toquem nele; do contrário vocês
morrerão” (Gênesis 3.3). Os humanos foram chamados
11
a pactuar com Deus. A Trindade compreendia que toda
a harmonia das relações e do ambiente no qual os
humanos estavam inseridos dependia dessa relação de
obediência. Adão e Eva deveriam optar pela preservação
da comunhão com Deus, que resultaria em vida. Esse
mandato pactual implica uma vida de obediência
e adoração a Deus. Os humanos foram criados para
glorificar a Deus e se deleitar nele.
MANDATO SOCIAL
“Então o Senhor Deus fez o homem cair em profundo
sono e, enquanto este dormia, tirou-lhe uma das costelas,
fechando o lugar com carne. Com a costela que havia
tirado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher e a
trouxe a ele. Disse então o homem: ‘Esta, sim, é osso dos
meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada
mulher, porque do homem foi tirada’. Por essa razão, o
homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se
tornarão uma só carne.” (Gênesis 2.21-24)
A formação da família é um dos aspectos essenciais
para a compreensão do mandato social. A criação da
mulher teve o objetivo de evitar a solidão do homem
e dar-lhe a bênção da multiplicação. O princípio aqui é
que o ser humano não é uma ilha, isolado, sozinho, sem
relação com outros. O companheirismo e a parceria
são prioridades estabelecidas por Deus para sua
criação. O mandato social estabelece a necessidade de
o homem se unir à mulher a fim de constituir família
e, por meio da sua descendência, cumprir a ordem de
povoar e cuidar da Terra. A delegação de Deus ao casal
foi “sejam férteis e multipliquem-se” (Gênesis 1.28).
MANDATO CULTURAL
O ser humano desenvolve um relacionamento
singular com toda a criação. O Senhor lhe concedeu
a condição de governador de tudo que foi criado.
Zabatiero refere-se a esta tarefa como “a vocação
divina da humanidade”8. O fundamento desse
mandato cultural está em Gênesis 1.28: “Deus os
abençoou, e lhes disse: ‘Sejam férteis e multipliquem-se!
Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes
do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais
que se movem pela terra’”. A primeira frase do versículo
– “sejam férteis e multipliquem-se” – faz referência ao
desenvolvimento do mundo social: formar famílias,
escolas, cidades, governos, leis. A segunda frase
–“encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os
peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os
animais que se movem pela terra”– aponta para a
vontade de Deus de que os humanos subordinem o
8 Para uma teologia pública, p. 16.
12
mundo natural ao fazer plantações, construir pontes,
projetar, compor músicas, etc. São prerrogativas reais
para governar, desenvolver e manter o mundo criado.
Deus organizou deliberadamente a vida de tal maneira
que age com a cooperação dos seres humanos para
o cumprimento de seus propósitos. “Pois nós somos
cooperadores de Deus; vocês são lavoura de Deus
e edifício de Deus” (1Coríntios 3.9). Ele não criou o
planeta Terra para ser produtivo por si mesmo. Os seres
humanos tinham que subjugá-lo e desenvolvê-lo.
Não fez um jardim cujas flores se abririam e os frutos
amadureceriam por conta própria. Ele designou um
jardineiro para cultivar a terra. Natureza é o que Deus
dá; cultura é o que o homem faz a partir dela. Sem o
trabalho humano, mesmo antes do pecado, tudo se
degeneraria, pois era da vontade da Trindade que
os humanos refletissem a imago dei, trabalhando,
cultivando, criando e mantendo a criação. Nas
palavras de Charles Colson, “até o sexto dia, Deus fez
todo o trabalho da Criação diretamente. Mas, agora cria
os primeiros seres humanos e os ordena a levar adiante
de onde deixou”9.
Os mandatos haviam sido outorgados. Os humanos,
a coroa da criação, além de terem sido formados à
imagem de Deus, deveriam reproduzir também – em
suas atividades e relações – a semelhança do Criador.
Assim como Deus é essencialmente relacional e
amoroso, os humanos também deveriam ser. Assim
como Deus multiplicou sua bondade por meio da
boa criação, os humanos também deveriam frutificar.
Deveriam interferir cuidadosa e positivamente sobre
a natureza criada, gerando boa cultura. Deveriam
também se relacionar com Deus e entre si em
intimidade, amor e reverência (mandatos espiritual e
social). Dessa forma, estariam multiplicando o amor
que provém de Deus ao gerar a humanidade. Os
vínculos da humanidade deveriam seguir o mesmo
padrão de comprometimento, carinho e zelo da
relação estabelecida entre Deus e o primeiro casal.
Essa era – e ainda é – a vontade do Criador.
Compartilhar (10 min)
Em pequenos grupos, converse e compartilhe suas
impressões a respeito das questões a seguir:
● Como você tem obedecido ao mandato
cultural no seu ambiente de trabalho, na escola,
faculdade, ou até mesmo em casa?
● Compartilhe maneiras práticas de obedecer ao
9 E agora como viveremos?, p. 48.
 mandato cultural em sua profissão. Você trabalha
para a manutenção e o desenvolvimento da
criação, em favor do bem do seu próximo?
● Resgate a reflexão proposta acerca do Salmo
8. Por que é possível associar a delegação de
trabalho por parte de Deus aos humanos com
uma atitude de amor e honra? Como você
relaciona isso com o trabalho que desenvolve
hoje?
● Você compreende que a sua família é parte
de plano original de Deus para o mundo? Sua
família tem cumprido o mandato social proposto
em Gênesis, ao apontar, por meio de dinâmicas
relacionais e atitudes, para o Deus amoroso?
Sintetizar (5 min)
Tente contribuir para a formulação das principais
contribuições desta aula, que surgiram como fruto da
leitura do material e diálogos nos pequenos grupos.
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VIVER
Até o próximo encontro
Procure refletir sobre a vontade de Deus expressa nos
mandatos espiritual, social e cultural. Após um período
de oração e reflexão, escolha uma atitude que contribua
com o cumprimento de cada um dos mandatos. Não pre-
cisa ser algo excessivamente elaborado. Como forma de
cumprir o mandato social, por exemplo, você pode pen-
sar em investir um tempo significativo ao lado dos filhos
ou jantar com o cônjuge. Escreva a seguir as atitudes que
você decidiu esta semana.
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EU CREIO
Até o próximo encontro
Em algum momento da semana, você poderá refletir com
cuidado acerca dos conteúdos e verdades abordados
na segunda aula, e irá escrever, com suas palavras, uma
confissão de fé a respeito do ser responsável. Dedique
atenção especial a essa atividade.
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Vida Discipular
SOLICITAÇÃO DE CONTAS
Nome do Relacionamento Discipulador (RD):
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Material:____________________________________
Data:_______________________________________
Local:_______________________________________
Destaques da semana:
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13
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Destaques do meu Tempo A Sós (TAS) com Deus nesta

semana:

a)__________________________________________
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b)__________________________________________
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c)__________________________________________
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14

O ser em pecado
Orar (10 min)
Keith Phillips nos agracia com noções preciosas sobre
o discipulado. Leia com atenção o trecho a seguir:
Alguns cristãos têm procurado entrar no nosso ministério
de discipulado com a condição de que seus talentos sejam
utilizados. Mas tal perspectiva é uma negação da morte
de si mesmo e demonstra que os valores estão distorcidos.
A principal ocupação do discípulo deve ser que seu caráter
seja construído e multiplicado. Um doutor em Filosofia,
um mestre em Divindade, ou um assistente social não são
necessariamente mais valiosos para uma organização
missionária (...). Essas pessoas não são tratadas de um
modo diferente de como outras são tratadas. Todos nós
procuramos fazer discípulos, mas sabemos que isso é
impossível sem que sejamos primeiramente discípulos.
Precisamos conhecer a Deus antes de torná-lo conhecido.
O discípulo emprega qualquer dom ou talento que
construa o Reino ou edifique o corpo. Ele confiantemente
deixa de exercer habilidades que possam nutrir seu
orgulho ou impedir sua maturidade cristã. O enfoque do
homem morto para si mesmo é Deus.10
Você se vale dos seus talentos, diplomas, cargos ou
dinheiro a fim de parecer ser alguém importante
perante outras pessoas? Seja honesto consigo e com
Deus. Você entende que essa postura está na direção
oposta ao que Cristo propõe? Se você age dessa forma
na sua igreja ou em algum outro contexto cristão, você
continua com dificuldade para entender o sentido do
discipulado. Leve seus reconhecimentos até Cristo, em
oração. Na sua existência só pode haver um rei, ou será
o seu ego ou o Cristo ressurreto.
10 A formação de um discípulo, p. 39.
Aula 3
Os humanos seduzidos pelo orgulho
Debater (20 min)
Reúna-se em pequenos grupos e leia com atenção os
seguintes textos da Bíblia: Gênesis 3, Gênesis 11.1-9, Jó
15.31, Provérbios 16.5,18 e Daniel 4. O que esses textos
têm em comum? Tente associá-los ao motivo pelo
qual Adão e Eva cederam à tentação da serpente. Você
acredita, a partir dos textos lidos, que há um estado
pecaminoso que favoreça a transgressão de todos os
outros mandamentos? Qual é esse grande pecado?
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Refletir (25 min)
A LAMENTÁVEL ESCOLHA HUMANA
A escolha humana foi feita. Os primeiros humanos
optaram por transgredir a ordem outorgada por Deus.
Um colapso foi instaurado a partir do exato momento
em que Adão e Eva romperam o pacto firmado com a
Trindade. A humanidade, como originalmente criada
por Deus, era boa e justa. A vontade do homem
era tanto livre quanto boa, e ele servia a Deus com
disposição e satisfação. Nas palavras de Agostinho,
“a vontade, assim, é verdadeiramente livre quando não
15
é escrava de vícios e pecados. Assim nos foi dada por
Deus; e tendo sido perdida pelo próprio erro, só pode ser
restaurada através daquele que foi capaz de dá-la em
primeiro lugar”11. Na criação, Adão tinha a possibilidade,
mas não a necessidade, de pecar. Os humanos tinham
a capacidade de não pecar, mas, em vez disso, optaram
por violar o comando de Deus, e experimentaram a
horrível queda.
Certamente, Deus se entristeceu muito pela ruptura
da comunhão entre Ele e suas criaturas amadas. O
Criador investiu amor nessa relação, e seu coração
deve ter ficado enternecido com a decisão de Adão
e Eva. Leia um trecho da obra O Senhor do Impossível,
de Lloyd John Ogilvie, que retrata muito bem o estado
em que Deus possivelmente se encontrava diante da
desobediência dos humanos:
Um homem me contou que está chocado porque seu filho
não partilha da sua fé e seus bons propósitos. Ele sente a
desgraça de ter falhado em comunicar amor. ‘Amo muito
meu filho’, disse ele, ‘mas como posso comunicar-lhe esse
amor sem afirmar as coisas que ele está fazendo e que
sei vão arruinar-lhe a vida? Sinto-me preso nas minhas
próprias convicções, às quais não posso renunciar,
mas não posso viver a vida de meu filho por ele. O que
posso fazer? Sinto-me sozinho sem a amizade que uma
vez tive com ele.’ Quando nos simpatizamos com essas
pessoas e sentimos semelhante frustração, estamos nos
aproximando das profundezas do coração de Deus.
O problema dele com você e eu, da mesma forma que
milhões de seu povo, não é diferente. É o relacionamento
complexo de justiça e graça. Ele nos criou para si mesmo
e para o companheirismo espiritual de conhecê-lo, amá-
lo, e permitir que ele nos ame. Mas a luta que observamos
em Adão e Eva está em todos nós. Fazemos coisas que
magoam o coração de Deus. Com frequência estamos
decididos a voltar-lhe as costas e fazer as coisas a nosso
modo. Não é sempre que o pomos em primeiro lugar.
Buscamos coisas que ele não nos destinou. Adoramos
falsos deuses erigidos pelo nosso orgulho. Resistimos
à sua orientação e fechamos o fluxo de seu amor
remediador. (...) Quebramos os mandamentos divinos e
o mandamento essencial do amor. O que ele pode fazer
conosco? (...) Ele que não nos rejeita obliterando nossa
liberdade, busca uma maneira de tornar-nos dispostos a
estarmos dispostos.12
A RAIZ DO PECADO
A história da torre de Babel (Gênesis 11.1-9) ilustra
perfeitamente a raiz do pecado original: o orgulho, a
11 A Cidade de Deus, p. 36.
12 O Senhor do Impossível, p. 69.
16
vontade dos humanos em se tornarem seus próprios
deuses, autônomos, juízes de si próprios e de outros,
iguais ao Deus supremo. Confira atentamente essas
palavras, também de Agostinho:
E qual é a origem de nosso mal a não ser o orgulho?
Porque “o orgulho é o início do pecado”. E o que é o
orgulho senão o desejo por exaltação imprópria? E isto é
exaltação imprópria, quando a alma abandona aquele a
quem deve se apegar como seu fim e se torna um tipo de
fim em si mesma. Isto acontece quando ela se torna sua
própria satisfação...Esta queda é espontânea; porque se
a vontade tivesse permanecido fixa no amor daquele
bem maior e imutável pela qual foi iluminada para a
inteligência e incitada para o amor, não teria se afastado
para encontrar satisfação em si mesma...13
E complementa, ao se referir ao orgulho que levou
Satanás a pecar:
O princípio de todo pecado é o orgulho, porque foi
isso que derrubou o diabo, de quem surgiu a origem
do pecado; e depois, quando sua malícia e inveja
perseguiram o homem, o qual ainda desfrutava de sua
retidão, o inimigo subverteu-lhe da mesma forma em
que ele mesmo caiu. Porque a serpente, de fato, apenas
buscou uma porta pela qual entrar quando disse:
“Sereis como deuses”14.
As raízes da autossuficiência podem iniciar quase
imperceptivelmente, mas, após terem sido cultivadas
e alimentadas, causam grande destruição e dor. Nós
somos facilmente tentados a assumir o lugar de
reinado que pertence somente a Deus. Adão e Eva
eram os representantes da raça humana. A sedução de
Satanás foi muito eficaz para envolvê-los, e continua
sendo até hoje. O inimigo de nossa alma conhece
nossa sede por controle, poder e autonomia. Ele sabe
que gostamos da ideia de sermos nossos próprios
deuses.
Atividade: 20 minutos
Neste momento, você será desafiado a ler alguns
trechos extraídos do clássico de C.S. Lewis, Cristianismo
puro e simples, escritos com maestria sobre a sutileza
perigosíssima do orgulho. Ele chega a afirmar:
De acordo com os mestres cristãos, o vício fundamental,
o mal supremo, é o orgulho. A devassidão, a ira, a cobiça,
a embriaguez e tudo o mais não passam de ninharias
13 A Cidade de Deus, p. 38.
14 SCHAFF, Philip (ed.). A Select Library of the Nicene and Post-Nice-
ne Fathers of the Christian Church, p. 78.
comparadas com ele. É por causa do orgulho que o diabo
se tornou o que é. O orgulho leva a todos os outros vícios; é
o estado mental mais oposto a Deus que existe15.
Decida com o grupo qual será a melhor dinâmica de
leitura, e se enriqueça com estas palavras dele:
Chegamos agora à parte em que a moral cristã difere
mais nitidamente de todas as outras morais. Existe
um vício do qual homem algum está livre, que causa
repugnância quando é notado nos outros, mas do qual,
com a exceção dos cristãos, ninguém se acha culpado.
Já ouvi quem admitisse ser mal-humorado, ou não ser
capaz de resistir a um rabo de saia ou à bebida, ou mesmo
ser covarde. Mas acho que nunca ouvi um não-cristão
se acusar desse vício. Ao mesmo tempo, é raríssimo
encontrar um não-cristão que tenha alguma tolerância
com esse vício nas outras pessoas. Não existe nenhum
outro defeito que torne alguém tão impopular, e mesmo
assim não existe defeito mais difícil de ser detectado em
nós mesmos. Quanto mais o temos, menos gostamos de
vê-lo nos outros.
O vício de que estou falando é o orgulho ou a presunção.
A virtude oposta a ele, na moral cristã, é chamada
de humildade. Você deve se lembrar de que, quando
falávamos sobre a moralidade sexual, adverti que não
era ela o centro da moral cristã. Bem, agora chegamos
ao centro. (...)
Parece que estou exagerando? Se você acha que sim, pense
um pouco mais no assunto. Agora há pouco, observei que,
quanto mais orgulho uma pessoa tem, menos gosta de vê-
lo nos outros. Se quer descobrir quão orgulhoso você é, a
maneira mais fácil é perguntar-se o seguinte: “Quanto me
desagrada que os outros me tratem como inferior, ou não
notem minha presença, ou interfiram nos meus negócios,
ou me tratem com condescendência, ou se exibam na
minha frente?”. A questão é que o orgulho de cada um está
em competição direta com o orgulho de todos os outros.
Se me sinto incomodado porque outra pessoa fez mais
sucesso na festa, é porque eu mesmo queria ser o grande
sucesso. Dois bicudos não se beijam. O que quero deixar
claro é que o orgulho é essencialmente competitivo – por
sua própria natureza –, ao passo que os outros vícios só o
são acidentalmente, por assim dizer. O prazer do orgulho
não está em se ter algo, mas somente em se ter mais que
a pessoa ao lado. Dizemos que uma pessoa é orgulhosa
por ser rica, inteligente ou bonita, mas isso não é verdade.
As pessoas são orgulhosas por serem mais ricas, mais
inteligentes e mais bonitas que as outras. Se todos fossem
igualmente ricos, inteligentes e bonitos, não haveria do
que se orgulhar. É a comparação que torna uma pessoa
15 Cristianismo puro e simples, p. 44.
orgulhosa: o prazer de estar acima do restante dos seres.
Eliminado o elemento de competição, o orgulho se vai.
É por isso que eu disse que o orgulho é essencialmente
competitivo de uma forma que os outros vícios não são.
O impulso sexual pode levar dois homens a competir
se ambos estão interessados na mesma moça. Mas a
competição ali é acidental; eles poderiam, com a mesma
facilidade, ter se interessado por moças diferentes. Um
homem orgulhoso, porém, fará questão de tomar a sua
garota, não por desejá-la, mas para provar para si mesmo
que é melhor do que você. A cobiça pode levar os homens
a competir entre si se não existe o suficiente para todos;
mas o homem orgulhoso, mesmo que tenha mais do que
jamais poderia precisar, vai tentar acumular mais ainda só
para afirmar seu poder. Praticamente todos os males no
mundo que as pessoas julgam ser causados pela cobiça
ou pelo egoísmo são bem mais o resultado do orgulho.
Veja a questão do dinheiro. A cobiça pode fazer com que
o homem deseje ganhar dinheiro para comprar uma casa
melhor, poder viajar nas férias e ter coisas mais apetitosas
para comer e beber. Mas só até certo ponto. O que faz com
que um homem que ganha 10.000 libras por ano fique
ansioso para ganhar 20.000 libras? Não é a cobiça de mais
prazer. A soma de 10.000 libras pode sustentar todos os
luxos de que ele queira desfrutar. É o orgulho — o desejo
de ser mais rico que os outros ricos e, mais do que isso, o
desejo de poder. Pois, evidentemente, é do poder que o
orgulho realmente gosta: nada faz o homem sentir-se tão
superior aos outros quanto o fato de poder movê-los como
soldadinhos de brinquedo. Por que uma moça bonita à
caça de admiradores espalha a infelicidade por onde quer
que vá? Certamente não é por causa de seu instinto sexual:
esse tipo de moça é quase sempre sexualmente frígida. É o
orgulho. O que faz um líder político ou uma nação inteira
quererem expandir-se indefinidamente, exigindo tudo
para si? De novo, o orgulho. Ele é competitivo pela própria
natureza: é por isso que se expande indefinidamente. Se
sou um homem orgulhoso, enquanto existir alguém mais
poderoso do que eu, ou mais rico, ou mais esperto, esse
será meu rival e meu inimigo.
Os cristãos estão com a razão: o orgulho é a causa
principal da infelicidade em todas as nações e em todas
as famílias desde que o mundo foi criado. Os outros vícios
podem, às vezes, até mesmo congregar as pessoas: pode
haver uma boa camaradagem, risos e piadas entre gente
bêbada ou entre devassos. O orgulho, porém, sempre
significa a inimizade - é a inimizade. E não só inimizade
entre os homens, mas também entre o homem e Deus.
Em Deus defrontamos com algo que é, em todos os
aspectos, infinitamente superior a nós. Se você não sabe
que Deus é assim – e que, portanto, você não é nada
comparado a ele –, não sabe absolutamente nada sobre
17
Deus. O homem orgulhoso sempre olha de cima para
baixo para as outras pessoas e coisas: é claro que, fazendo
assim, não pode enxergar o que está acima de si.
Isso levanta uma questão terrível. Como podem existir
pessoas evidentemente cheias de orgulho que declaram
acreditar em Deus e se consideram muitíssimo religiosas?
Infelizmente, elas adoram um Deus imaginário. Na
teoria, admitem que não são nada comparadas a esse
Deus fantasma, mas na prática passam o tempo todo
a imaginar o quanto ele as aprova e as tem em melhor
conta que ao resto dos comuns mortais. Ou seja, pagam
alguns tostões de humildade imaginária para receber
uma fortuna de orgulho em relação a seus semelhantes.
Suponho que é a esse tipo de gente que Cristo se referia
quando dizia que pregariam e expulsariam os demônios
em seu nome, mas no final ouviriam dele que jamais
os conhecera. Cada um de nós, a todo momento, vê-se
diante dessa armadilha mortal. Felizmente, temos como
saber se caímos nela ou não. Sempre que constatamos
que nossa vida religiosa nos faz pensar que somos
bons — sobretudo, que somos melhores que os outros
—, podemos ter certeza de que estamos agindo como
marionetes, não de Deus, mas do diabo. A verdadeira
prova de que estamos na presença de Deus é que nos
esquecemos completamente de nós mesmos ou então
nos vemos como objetos pequenos e sujos. O melhor é
nos esquecermos de nós mesmos.
É uma coisa terrível que o pior de todos os vícios
insinue-se assim no próprio centro de nossa vida
religiosa. Mas é fácil saber por que isso acontece. Todos
os vícios menores vêm do diabo quando trabalha sobre
o nosso lado animal. Este vício, porém, não nasce em
absoluto da nossa natureza animal. Vem diretamente
do inferno. É puramente espiritual: consequentemente,
muito mais sutil e perigoso. Pela mesma razão, o
orgulho é usado com frequência para vencer os vícios
mais simples. Os professores, que sabem disso, apelam
costumeiramente para o orgulho dos meninos, ou,
como dizem, para seu amor-próprio, a fim de fazê-los
comportar-se direito. Mais de um homem conseguiu
superar a covardia, a luxúria ou o mau humor pela
crença inculcada de que tudo isso estava abaixo da sua
dignidade. Ou seja, venceram pelo orgulho. O diabo ri
às gargalhadas. Fica satisfeitíssimo de nos ver castos,
corajosos e controlados desde que, em troca, prepare
para nós uma Ditadura do Orgulho. Do mesmo modo,
ele ficaria contente de curar as frieiras dos nossos pés se
pudesse, em troca, nos deixar com câncer. O orgulho é
um câncer espiritual: ele corrói a possibilidade mesma
do amor, do contentamento e até do bom senso.16
16 Cristianismo puro e simples, p. 53.
18
Compartilhar (10 min)
● Qual é a sua reação diante da leitura do texto de
Ogilvie? Como é imaginar Deus neste aparente
impasse entre justiça e graça? Pensá-lo como
um Pai que sabe das dores que aguardam os
seus filhos diante das escolhas erradas, mas
que também não quer podar sua liberdade de
escolha? Compartilhe.
● Você consegue pensar em áreas da sua vida em
que a autossuficiência ainda impere? Sente-se à
vontade para compartilhar com o grupo?
● Reflita de que forma o orgulho está na base de
pecados e hábitos destrutivos como: adultério,
ganância, mentira e ativismo religioso.
● “E isto é exaltação imprópria, quando a alma
abandona aquele a quem deve se apegar como
seu fim e se torna um tipo de fim em si mesma.
Isto acontece quando ela se torna sua própria
satisfação”. De que formas você pode se tornar
sua própria satisfação?
Sintetizar (5 min)
Tente ajudar na formulação das principais contribuições
desta aula, que surgiram como fruto da leitura do material
e/ou dos diálogos nos pequenos grupos.
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VIVER ____________________________________________
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Até o próximo encontro
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O desafio é que você separe um período significativo
____________________________________________
de um dos seus dias, pegue sua bíblia, um caderno
de oração (caso ainda não tenha, é uma ótima ____________________________________________
oportunidade para improvisar um), e se retire em
____________________________________________
solitude. Durante essas horas, ore, medite sobre algum
texto da Bíblia e permita-se ser ministrado pelo Espírito ____________________________________________
de Deus acerca da seguinte questão: Em que área da
sua vida Cristo ainda não reina em absoluto? Destaques do meu Tempo A Sós (TAS) com Deus nesta
semana:
EU CREIO
a)__________________________________________
Até o próximo encontro
____________________________________________
O que você pode formular, como confissão de fé, ____________________________________________
a partir das reflexões propostas pela aula O ser em
pecado? Não faça isso sem oração e reflexão. ____________________________________________
____________________________________________
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b)__________________________________________
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c)__________________________________________
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Vida Discipular ____________________________________________
SOLICITAÇÃO DE CONTAS ____________________________________________

Nome do Relacionamento Discipulador (RD): ____________________________________________

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Material:____________________________________
Data:_______________________________________
Local:_______________________________________

Destaques da semana:
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19
Aula 4
O ser em
desequilíbrio
Orar (10 min)
Confira as palavras de Keith Phillips, em A formação de
um discípulo:
Deus não espera que você, à semelhança de Cristo,
decida obedecer por seus próprios esforços. Paulo ensina
que “é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto
o realizar, de acordo com a boa vontade dele” (Filipenses
2.13). Sua vontade, capacitada pelo Espírito Santo,
pode vencer seus sentimentos e levá-lo a agir conforme
seu compromisso com Cristo. Lembro-me de certa vez
ter-me hospedado num hotel que tinha uma piscina
com trampolim bem alto. Com bastante medo, resolvi
aventurar-me a saltar daquele trampolim. Com cuidado,
subi a escada de metal até o topo e fiquei tremendo sobre
a prancha de vidro. Não tinha dúvida de que a gravidade
podia puxar-me para a piscina. Mas também sabia que
seria improvável que isso acontecesse enquanto eu não
saltasse. Podemos comparar a força da gravidade com a
obra de Deus que nos capacita; sempre que escolhermos
obedecer, Ele estará a nossa disposição.17
Você tem lutado contra algum pecado específico? Um
hábito ou uma postura que você sabe que exerce um
efeito destruidor sobre a sua alma, suas relações ou
sobre sua comunhão com Deus? Converse com o Pai,
neste momento. Compartilhe com Ele quais têm sido
suas maiores dificuldades. Peça ajuda e socorro ao
Espírito consolador, que nos assiste a todo momento.
Confie que Ele está trabalhando em seu favor e
descanse sob a certeza de que Deus é fiel!
17 A formação de um discípulo, p. 10.
20
A destruição gerada pelo pecado
Debater (15 min)
Reúna-se em pequenos grupos e leia os seguintes
textos das Escrituras: Gênesis 4.6-10, 6.11, 19.1-22,
Levítico 18, Deuteronômio 18.9-15, Romanos 1.18-32
e Efésios 2.1-3.
Após a deliberada rejeição dos humanos a Deus, a
situação – como esperado – rumou para a depravação.
A partir do momento em que a humanidade deixou
de lado a amizade com o seu Criador, Satanás teve
livre acesso para seduzi-la e arrastá-la para um estado
próximo à animalização. Deuteronômio 18.10, por
exemplo, menciona uma lei que proibia os sacrifícios
de crianças a Moloque (um deus da época). A
eliminação de crianças e adolescentes é um dos temas
mais citados na história, abrangendo o infanticídio
(crianças pequenas mortas pelos pais) e os homicídios.
A prática do infanticídio era aceita pelas sociedades
antigas, sendo facultado aos pais acolher ou renegar o
filho recém-nascido. As relações incestuosas e o abuso
sexual de crianças também se tornaram comuns para
algumas nações vizinhas a Israel. Então, para além
de uma lista moralista fruto de um capricho divino,
as Escrituras trazem leis de proteção à vida e aos
mandatos culturais, sociais e espirituais.
Converse com o seu grupo e tente refletir à luz de
João 13.35 sobre qual é a postura adequada do
discípulo de Cristo frente às narrativas de declínio
da humanidade e às leis mencionadas pelo Antigo
Testamento (AT). Tenha em vista as reflexões da
aula passada sobre o grande perigo da sutileza do
orgulho, o pecado que antecede todos os outros.
Escreva abaixo suas impressões.
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Refletir (25 min)
Tanto se tem falado em pecado. Mas afinal, o que é o
pecado? Algumas respostas podem vir a sua mente:
pecar é “errar o alvo”, “desobedecer a Deus”, ou até
mesmo pecado é “transgressão ou infração”.
No AT é possível encontrar as seguintes palavras
relacionadas ao pecado: hatah (basicamente, errar,
tornar-se culpado), heth (erro, malogro), awon
(iniquidade), pesha (transgressão, infração). Fica claro,
portanto, que o pecado é geralmente visto como uma
transgressão direta à Lei de Deus, evidenciada por um
erro moral que torna o sujeito ou a nação culpados
diante de Deus. Entretanto, nos profetas do AT, o
pecado é muito mais que uma violação de regras; ele
significa o rompimento de um relacionamento pessoal
com Deus. Leia o que diz Isaías 59.2: “Mas as suas
maldades separaram vocês do seu Deus; os seus pecados
esconderam de vocês o rosto dele, e por isso ele não os
ouvirá”; e Jeremias 31.18-21:
Ouvi claramente Efraim lamentando-se: “Tu me
disciplinaste como a um bezerro indomado, e fui
disciplinado. Traze-me de volta, e voltarei, porque tu és
o Senhor, o meu Deus. De fato, depois de desviar-me, eu
me arrependi; depois que entendi, bati no meu peito.
Estou envergonhado e humilhado porque trago sobre
mim a desgraça da minha juventude”. “Não é Efraim o
meu filho querido? O filho em quem tenho prazer? Cada
vez que eu falo sobre ele, mais intensamente me lembro
dele. Por isso o meu coração por ele anseia; tenho por
ele grande compaixão”, declara o Senhor. “Coloque
marcos e ponha sinais nas estradas, preste atenção no
caminho que você trilhou. Volte, ó Virgem, Israel! Volte
para as suas cidades.”
Leia ainda Isaías 54.6-8:
“O Senhor chamará você de volta como se você fosse
uma mulher abandonada e aflita de espírito, uma
mulher que se casou nova, apenas para ser rejeitada”,
diz o seu Deus. “Por um breve instante eu a abandonei,
mas com profunda compaixão eu a trarei de volta. Num
impulso de indignação escondi de você por um instante o
meu rosto, mas com bondade eterna terei compaixão de
você”, diz o Senhor, o seu Redentor.
Deus parece sentir dor com a aplicação de sua justiça
contra Israel e com o afastamento do seu povo eleito.
O distanciamento entre a humanidade e Deus não é
sentido de forma indiferente, como demonstram as
declarações de amor proferidas pelos profetas que
falavam em nome do Senhor.
No Novo Testamento (NT), destacam-se as seguintes
palavras: hamartano (não acertar o alvo, ou atingir o
alvo errado) e hamartia (transgressão, pecado – em
referência a atos específicos). Nas cartas do apóstolo
Paulo, o pecado é exposto como uma força em si,
que opera no homem e o mantém cativo. Por vezes,
o pecado é personificado, como em Romanos 7.20:
“Ora, se faço o que não quero, já não sou eu quem
o faz, mas o pecado que habita em mim”. De forma
geral, o NT apresenta o pecado como não acertar o
alvo correto. Ou seja, não é um ato passivo, mas uma
intenção determinada em não se conformar à vontade
de Deus. Portanto, o pecado está relacionado com a
incapacidade de se viver em conformidade ao que
Deus espera. E, como se sabe, o que Deus espera de
nós e para nós é que vivamos como filhos, em profunda
intimidade com Ele e em humilde submissão ao seu
senhorio. Leia com carinho o que Paulo escreve sobre
o propósito de Deus para nós:
Vocês estavam mortos em suas transgressões e
pecados, nos quais costumavam viver, quando seguiam
a presente ordem deste mundo e o príncipe do poder do
ar, o espírito que agora está atuando nos que vivem
na desobediência. Anteriormente, todos nós também
vivíamos entre eles, satisfazendo as vontades da nossa
carne, seguindo os seus desejos e pensamentos. Como
os outros, éramos por natureza merecedores da ira.
Todavia, Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande
amor com que nos amou, deu-nos vida juntamente
com Cristo, quando ainda estávamos mortos em
transgressões — pela graça vocês são salvos. Deus nos
ressuscitou com Cristo e com ele nos fez assentar nos
lugares celestiais em Cristo Jesus, para mostrar, nas eras
que hão de vir, a incomparável riqueza de sua graça,
demonstrada em sua bondade para conosco em Cristo
Jesus (Efésios 2.1-7).
21
O PECADO COMPREENDIDO A PARTIR DOS SEUS
EFEITOS SOBRE A ALMA HUMANA
As definições acima podem auxiliar um pouco na
compreensão do que a Bíblia chama de pecado, mas
podemos ir um pouco além. Uma ótima forma de
discernir o pecado e entender o motivo pelo qual
Deus o repudia tanto é tentar percebê-lo a partir do
efeito que ele gera na alma humana. Leia com atenção
dois trechos de autores que abordam o pecado a partir
da destruição que ele gera:
Como definir pecado hoje? A parábola do filho pródigo
ajuda a responder. (...) Podemos derivar o conceito de
pecado avaliando suas consequências na vida humana.
A primeira consequência é o entorpecimento: o pecado
anestesia a alma. A pessoa começa a viver sem se dar
conta de como está vivendo. Perde a capacidade de
enxergar a si mesma, de perceber o risco a que submete
sua vida, não tem mais régua com que avaliar seus
comportamentos. Perde o juízo, o bom senso, sai de si,
perde a cabeça. Pecado é aquilo que arrebata, que nos
cega e nos faz cativos de um objeto de desejo. Pecado é
o que nos rouba a autonomia, controla nossa vontade à
nossa revelia. Quando você perde o juízo, provavelmente
está vivendo uma situação de pecado. Alguma coisa
tomou conta de você, o deixou anestesiado e sem noção
de quem é, do que está fazendo, da maneira como está
vivendo. O pecado nos faz perder o contato com nossa
identidade. É como se outra pessoa passasse a viver,
pensar, sentir e falar em nosso lugar. O pecado tem a
capacidade de roubar o ser humano de si mesmo.18
E nas palavras de A.W. Tozer:
O pecado nos fez coisas terríveis, e o seu efeito sobre
nós é mais mortal ainda porque nascemos nele e mal
sabemos o que se passa conosco. Uma coisa que o pecado
fez foi confundir os nossos valores para que tenhamos
dificuldade em distinguir um amigo de um inimigo, e
em ter certeza sobre o que é bom para nós e o que não é.
Andamos num mundo de sombras, onde as coisas reais
parecem irreais, e as coisas insignificantes são procuradas
tão avidamente como se fossem feitas do próprio ouro que
serve de pavimento das ruas da Cidade de Deus. As nossas
ideias raramente se harmonizam com as coisas como são,
mas sofrem distorção por uma espécie de astigmatismo
que desvia tudo de foco.19
Paulo fornece um panorama muito parecido com o que
aqui foi descrito e que é gerado pelo pecado: “Porque,
tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus,
18 KIVITZ, Ed René. Talmidim: O passo a passo de Jesus, p. 84.
19 Esse cristão incrível, p. 48.
22
nem lhe renderam graças, mas os seus pensamentos
tornaram-se fúteis e os seus corações insensatos se
obscureceram. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos”
(Romanos 1.21 e 22).
O EFEITO DO PECADO SOBRE AS VÁRIAS
DIMENSÕES DA CRIAÇÃO
É possível refletir sobre as várias consequências da
queda. O pecado incidiu e incide destrutivamente
sobre as relações do homem e da mulher com o Criador,
com eles mesmos, entre eles, e entre a humanidade e
a criação.
Separação Espiritual
A queda implica diretamente a separação espiritual
do homem com Deus. Em função da entrada do
pecado no mundo, o homem foi privado de desfrutar
da comunhão plena com seu Criador, que não pode
conviver nem manter comunhão com o pecado. No
relato de Gênesis, vemos que, após cometerem uma
infração direta contra a Lei de Deus, o homem e a
mulher se esconderam. Isso revela que a comunhão
com Deus havia sido quebrada.
Separação Psicossomática
Em função do pecado, o homem passou a sofrer a falta de
unidade no que tange aos seus aspectos imateriais. Ou
seja, o pecado desestabilizou a harmonia inicial do homem,
e, devido a isso, ele não pode mais se portar de maneira
irrepreensível diante da Lei de Deus. As consequências
disso ainda podem ser claramente observadas: a mulher
passou a sofrer as dores do parto (Gênesis 3.16), o homem
passou a penar em sua labuta diária (3.19) e a morte passou
a reinar na experiência humana (3.19b), sem contar que,
agora, as inclinações do homem propendem ao pecado,
ao erro, à pratica do mal.
Separação Sociológica
O ser humano não perdeu apenas a comunhão com
Deus e a harmonia consigo, mas separou-se também
de seus semelhantes. Em Gênesis 3.12 lemos o
seguinte: “Disse o homem: ‘Foi a mulher que me deste
por companheira que me deu do fruto da árvore, e eu
comi”. O primeiro conflito do homem se manifesta no
contexto matrimonial. “À mulher, ele declarou: ‘(…)
Seu desejo será para o seu marido, e ele a dominará.’
E ao homem declarou: ‘Visto que você deu ouvidos à
sua mulher e comeu do fruto da árvore da qual eu lhe
ordenara não comesse...” (Gênesis 3.16,17). O que se
nota é que não existe mais harmonia matrimonial.
Antes, sobressai a desavença como consequência do
pecado. Entretanto, o relacionamento homem mulher
não é o único prejudicado, mas qualquer outra espécie
de relacionamento, pois em Gênesis 4 podemos notar o
ciúme e o homicídio de Caim contra Abel.
Separação ecológica
Por consequência do pecado, a natureza passa a sofrer.
Note que agora “maldita é a terra”, “ela lhe dará espinhos
e ervas daninhas” e está sujeita à futilidade (Romanos
8.20-22). O relacionamento do homem com a natureza
também é afetado, pois ele precisa trabalhar por sua
sobrevivência, pois a terra deve ser cuidada para que
dê fruto (Gênesis 3.18,19).
Por meio da morte de Jesus na cruz, a solução para cada
separação ocasionada pela queda é providenciada e
garantida. Agora, a reconciliação com Deus e a cura
psicológica e social do homem podem ser realizadas
por meio da fé em Cristo. E, no futuro, a restauração
completa (até da natureza) ocorrerá.
SATANÁS, O USURPADOR
O apóstolo João afirma categoricamente: “Sabemos
que somos de Deus e que o mundo todo está sob o
poder do Maligno” (1João 5.19). E em seu evangelho,
registrou duas falas de Jesus mencionando Satanás
como o príncipe deste mundo: “porque o príncipe
deste mundo já está condenado” (João 16.11) e “Já
não lhes falarei muito, pois o príncipe deste mundo está
vindo. Ele não tem nenhum direito sobre mim” (João
14.30). O próprio Cristo sabia que Satanás, após a
escolha humana de rejeitar a ordem de Deus, havia se
apropriado do poder de um mundo que não foi criado
para ele, mas sim para a glória de Deus. Infelizmente, a
humanidade – não apenas na queda, mas ainda hoje
– continuamente favorece a atuação do príncipe deste
mundo ao virar as costas para Deus.
Jesus vem instituir uma nova ordem – o reino de Deus
–, que implica a manifestação visível de seu domínio
sobre toda a criação. Jesus é o rei legítimo, aquele
que tem autoridade e legitimidade para governar o
mundo. C.S. Lewis comenta que “um território ocupado
pelo inimigo – assim é este mundo. O cristianismo é a
história de como o rei por direito desembarcou disfarçado
em sua terra e nos chama a tomar parte numa grande
campanha de sabotagem”20. Satanás é um usurpador
pois, debaixo da permissão de Deus, apropriou-se de
uma ordem que não lhe pertencia. Paulo nos lembra
que “nossa luta não é contra pessoas, mas contra os
20 Cristianismo puro e simples, p. 36.
poderes e autoridades, contra os dominadores deste
mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal
nas regiões celestiais” (Efésios 6.12). Somos seguidores
de Cristo e embaixadores do verdadeiro Rei: “Somos
embaixadores de Cristo, como se Deus estivesse fazendo
o seu apelo por nosso intermédio. Por amor a Cristo lhes
suplicamos: Reconciliem-se com Deus” (2Coríntios 5.20).
Compartilhar (15 min)
Em pequenos grupos, converse e compartilhe suas
impressões a respeito das questões a seguir.
● Quais as suas impressões e sensações sobre o
conteúdo trabalhado hoje?
● Perceber o pecado de forma teórica (o sentido
dos termos bíblicos originais) é diferente de
compreendê-lo de forma subjetiva, pessoal.
Você consegue ver essa diferença? Comente.
● Leia os versículos de Romanos: “A natureza criada
aguarda, com grande expectativa, que os filhos
de Deus sejam revelados. Pois ela foi submetida
à futilidade, não pela sua própria escolha, mas
por causa da vontade daquele que a sujeitou,
na esperança de que a própria natureza criada
será libertada da escravidão da decadência em
que se encontra para a gloriosa liberdade dos
filhos de Deus. Sabemos que toda a natureza
criada geme até agora, como em dores de parto”
(Romanos 8.19-22). Reflita sobre o sentido dos
versos, em especial as partes grifadas. Pense
nas consequências que o pecado trouxe ao
mundo nas dimensões econômicas e sociais,
interpessoais, subjetivas e ecológicas. Reflita
com o grupo e discutam sobre isso.
Sintetizar (5 min)
Tente ajudar na formulação das principais contribuições
da aula que surgiram como fruto da leitura do material
e/ou dos diálogos nos pequenos grupos. Faça um
esforço em propor questões significativas não apenas
a partir do conteúdo teórico mas também de suas
próprias reflexões acerca do tema.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
23
VIVER ____________________________________________
____________________________________________
Até o próximo encontro

Separe um tempo significativo durante a semana Vida Discipular

e, em solitude, com a sua bíblia e um caderno de SOLICITAÇÃO DE CONTAS
oração, converse com Deus sobre a sua vida. Peça
uma consciência renovada e profunda acerca do Nome do Relacionamento Discipulador (RD):
pecado. Preste atenção à voz do Espírito para que
Ele ministre ao seu coração. Há algum hábito que ____________________________________________
tenha anestesiado a sua alma? O nome disso é ____________________________________________
pecado. Dê nome a essas atitudes pecaminosas. Esse
é um processo importante para o arrependimento. Material:____________________________________
Aproveite para ler também algumas menções que
Paulo faz de práticas pecaminosas em Romanos, Data:_______________________________________
capítulos 1.18-32, 2.1-29 e 3.23-25. O apóstolo Paulo Local:_______________________________________
lista uma série de pecados que dominavam tanto
gentios como judeus para não deixar dúvida de nosso
Destaques da semana:
estado lastimável. Se não fosse o amor bondoso de
Deus, estaríamos completamente perdidos. __________________________________________

O que você tem permitido que o domine? Ganância, ____________________________________________

virtualidade (obsessão por relações virtuais e redes ____________________________________________
sociais), omissão, medo, religiosidade, moralismo,
julgamento, frieza espiritual, vícios sexuais (pornografia, ____________________________________________
pensamento impuros, adultério, homossexualidade),
____________________________________________
egoísmo, soberba, ódio, ou narcisismo (cuidado
excessivo com a sua imagem)? O Pai terá prazer em ____________________________________________
apontar posturas que precisam ser renovadas, e em
dispensar poder para que você se aproxime da imagem Destaques do meu Tempo A Sós (TAS) com Deus nesta
e semelhança de Cristo. Conte com seu discipulador ou semana:
conselheiro para realmente ajudá-lo nesse processo,
em oração, jejum, conversas, estudos e demais meios
a)__________________________________________
que encontrarem.
____________________________________________
EU CREIO ____________________________________________
Até o próximo encontro
b)__________________________________________
Elabore sua confissão de fé acerca do efeito do pecado
sobre a alma humana (em especial, sobre a sua alma) ____________________________________________
e sobre o mundo. Fique à vontade para ir além. Essas ____________________________________________
linhas são todas suas.
c)__________________________________________
____________________________________________ ____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

24

O Ser que alcança,
acolhe e cuida
Orar (10 min)
Leia com atenção os seguintes trechos extraídos do
livro A formação de um discípulo:
Muitos grupos identificam-se por insígnias ou roupas
comuns ao grupo; os policiais usam uniformes, rotarianos
usam distintivos, jogadores de basquete usam camisetas
e calções. Mas os discípulos não precisam usar distintivos
com lemas, colarinhos clericais ou togas eclesiásticas.
Podemos usar uma diversidade de roupas e ser facilmente
identificados como um gigante numa colônia de
anões. Temos a identificação mais marcante de todas.
É desnecessário colocar letreiro na cara dos membros
de nossa equipe nos guetos, dizendo “Casa de Impacto
Mundial” ou “Casa de Deus”. Nosso amor mútuo tem de ser
tão óbvio que os vizinhos não possam duvidar de nossa
dedicação a Cristo. Quando algumas mulheres de nossa
equipe foram à quitanda pela primeira vez, o proprietário
disse: “Ah, vocês são daquela casa cristã, não são? Eu
sempre reconheço as moças de lá pelo grande sorriso e
pelo amor que mostram”.21
Você realmente crê que é amado por Deus? Ou
será que, por mais que saiba desse amor na teoria,
nunca conseguiu recebê-lo ou senti-lo? Será que sua
percepção do amor de Deus está baseada em méritos?
Ou seja, será que você pensa desta forma: “Se eu faço
para Deus e lhe obedeço, Ele me ama; se não, Ele deixa
de me amar e de me querer bem”? Diga a Ele as coisas
que estão no seu coração a esse respeito. Peça ao
Espírito ajuda para poder entender, sentir e receber o
imenso e avassalador amor do Pai. A partir disso, amar
os outros será uma consequência natural da sua vida.
21 A formação de um discípulo, p. 35.
Aula 5
O amor de Deus refletido em três atos
Debater (20 min)
Reúna-se em pequenos grupos e, com a bíblia em
mãos, procure duas narrativas do AT que ilustrem
cada uma das atitudes de amor de Deus. A proposta
é selecionar seis narrativas diferentes, portanto. Cada
uma delas correspondente a uma dimensão relacional
que deriva do amor de Deus:
ALCANÇAR (“chegar junto” ou ao lado de alguém):
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ACOLHER (oferecer ou obter refúgio, proteção ou
conforto físico; abrigar, amparar):
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____________________________________________
CUIDAR (tratar de alguém, garantindo o seu bem-estar
e segurança, tomar conta de, garantir a preservação de
algo, ocupar-se de, responsabilizar-se por):
____________________________________________
25
____________________________________________
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____________________________________________
Refletir (30 min)
Os verbos alcançar, acolher e cuidar retratam muito bem
o amor de Deus pela humanidade. Constantemente, as
narrativas bíblicas apontam o estabelecimento dessas
três dimensões relacionais cultivadas por Deus em
relação ao seu povo e à humanidade, em geral.
CONSIDERAÇÕES GERAIS: O DEUS QUE ALCANÇA,
ACOLHE E CUIDA
As iniciativas de Deus em alcançar a humanidade estão
estampadas por toda a Bíblia.
A graça redentora, o amor de Deus e seu desejo de
alcançar o ser humano novamente para si foram
manifestados nos momentos imediatos à queda
por intermédio do anúncio profético de que o
descendente da mulher pisaria a cabeça da serpente
(Gênesis 3.15: “Porei inimizade entre você e a mulher,
entre a sua descendência e o descendente dela; este lhe
ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar”). A profecia
era clara: alguém nascido como ser humano venceria o
diabo, o pecado e a morte (Jesus Cristo é esse redentor
que veio nos garantir reconciliação com o Pai e a vida
eterna). “Aprimeira reação de Deus, portanto, ao pecado
humano é uma manifestação de graça”22. Logo em
seguida, na narrativa de Gênesis, é possível ainda notar
um detalhe que reflete o profundo cuidado de Deus
pelos humanos: “O Senhor Deus fez roupas de pele e
com elas vestiu Adão e sua mulher” (Gênesis 3.21). Deus
sabia das adversidades que Adão e Eva encontrariam a
partir daquele momento.
Mais à frente, Gênesis relata o chamado de Abraão a fim
de que, através da sua descendência, Deus formasse uma
grande nação que levaria o Seu nome e apontaria para
a Sua existência, poder e interesse pela humanidade.
O povo judeu pode ser considerado fruto de uma
aliança feita com Abraão (Deuteronômio 1.10,11), mas
a completude dessa aliança se deu em Jesus Cristo.
Paulo diz que todos aqueles que pertencem a Cristo
são descendência do patriarca, que é considerado “pai”
22 HOEKEMA, Anthony. Criados à imagem de Deus, p. 28.
26
de todos os que creem. Assim, os discípulos de Cristo
possuem uma aliança histórica com Abraão e são parte
do cumprimento de uma promessa feita séculos atrás.
Portanto, a promessa vem pela fé, para que seja de
acordo com a graça e seja assim garantida a toda a
descendência de Abraão; não apenas aos que estão
sob o regime da lei, mas também aos que têm a fé
que Abraão teve. Ele é o pai de todos nós. Como está
escrito: “Eu o constituí pai de muitas nações”. Ele é
nosso pai aos olhos de Deus, em quem creu, o Deus que
dá vida aos mortos e chama à existência coisas que
não existem, como se existissem. Abraão, contra toda
esperança, em esperança creu, tornando-se assim pai
de muitas nações, como foi dito a seu respeito: “Assim
será a sua descendência” (Romanos 4.16-18).
A sequência do Antigo Testamento (AT) narra também a
horrível escravidão a que Israel é submetido pelo Egito,
em Êxodo. Deus atenta para a situação do seu povo
escolhido e convoca Moisés como o libertador da nação.
Ele não só envia Moisés mas se compromete a estar
à frente do povo durante o livramento da escravidão
egípcia. Por meio do seu escolhido, Moisés, o Senhor
realiza poderosos feitos e, por fim, conduz o povo a
peregrinar no deserto rumo à terra prometida, onde,
durante o percurso, alimenta-o com maná e codornizes,
e os trata com imenso cuidado. “Pediram, e ele enviou
codornizes, e saciou-os com pão do céu” (Salmo 105.40). A
fim de protegê-los do sol, de dia providencia uma coluna
de nuvem e, para o frio da noite, envia uma coluna de
fogo. “A coluna de nuvem não se afastava do povo de dia,
nem a coluna de fogo, de noite” (Êxodo 13.22).
Por meio de inúmeras profecias e alguns simbolismos
ritualísticos, o AT continua sinalizando a intenção de
Deus em resgatar a humanidade em Cristo. Como
exemplo dos simbolismos, podemos nos lembrar do
cordeiro sem defeito que era preparado na ocasião da
Páscoa, instituída por Deus quando Israel ainda estava
sob a escravidão egípcia. Leia o que Paulo escreve
a esse respeito em 1Coríntios 5.7: “Pois Cristo, nosso
Cordeiro pascal, foi sacrificado”. Além disso, lembremos
a exclamação de João Batista registrada em João 1.29:
“Vejam! É o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!”.
É possível relembrar inclusive dois textos do NT (já
mencionados em aula passada) que indicam a intenção
prévia de Deus, em sua onisciência, de sacrificar-se em
amor e por amor. Os textos estão em Apocalipse 13.8:
“(...) todos aqueles que não tiveram seus nomes escritos no
livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a criação do
mundo”, e em 1Pedro 1.19,20: “mas pelo precioso sangue
de Cristo, como de um cordeiro sem mancha e sem defeito,
conhecido antes da criação do mundo”.
As profecias que apontam para Cristo no Antigo dos seus profetas que tem um plano de resgate
Testamento também são inúmeras. Ao longo da perfeito para a humanidade. Aqui você vai conferir
história de Israel, Deus dá a entender por meio apenas algumas:

PROFECIA CUMPRIMENTO
Isaías 9.7: “Do aumento do seu governo e paz não Mateus 1.1: “Registro da genealogia de Jesus Cristo, filho
haverá fim. Reinará sobre o trono de Davi e sobre o de Davi, livro de Abraão”.
seu reino, para o estabelecer e o fortificar em retidão e
justiça, desde agora para sempre. O zelo do Senhor dos
Exércitos fará isto”. – também Isaías 11.1-5; 2Samuel
7.13; Jeremias 23.5 e Salmo 132.11.

Isaías 7.14 (800 anos antes de Cristo): “Por isso o Senhor Mateus 1.18: “Foi assim o nascimento de Jesus Cristo:
mesmo lhes dará um sinal: a virgem ficará grávida e dará Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José,
à luz um filho, e o chamará Emanuel”. mas, antes que se unissem, achou-se grávida pelo Espíri-
to Santo”. Também Lucas 1.26-35.

Isaías 9.1,2: “Contudo, não haverá mais escuridão para
os que estavam aflitos. No passado ele humilhou a terra
de Zebulom e de Naftali, mas no futuro honrará a Galileia
dos gentios, o caminho do mar, junto ao Jordão. O povo
que caminhava em trevas viu uma grande luz; sobre os
que viviam na terra da sombra da morte raiou uma luz”.
Mateus 4.12-16: “Quando Jesus ouviu que João tinha
sido preso, voltou para a Galileia. Saindo de Nazaré, foi
viver em Cafarnaum, que ficava junto ao mar, na região
de Zebulom e Naftali, para cumprir o que fora dito pelo
profeta Isaías: ‘Terra de Zebulom e terra de Naftali, cami-
nho do mar, além do Jordão, Galileia dos gentios; o povo
que vivia nas trevas viu uma grande luz; sobre os que vi-
viam na terra da sombra da morte raiou uma luz’”.

Isaías 53.1-8: “Quem creu em nossa mensagem e a quem Mateus 27

foi revelado o braço do Senhor? Ele cresceu diante dele
como um broto tenro, e como uma raiz saída de uma
terra seca. Ele não tinha qualquer beleza ou majestade
que nos atraísse, nada em sua aparência para que o de-
sejássemos. Foi desprezado e rejeitado pelos homens,
um homem de tristeza e familiarizado com o sofrimento.
Como alguém de quem os homens escondem o rosto, foi
desprezado, e nós não o tínhamos em estima. Certamen-
te ele tomou sobre si as nossas enfermidades e sobre si
levou as nossas doenças, contudo nós o consideramos
castigado por Deus, por ele atingido e afligido. Mas ele
foi transpassado por causa das nossas transgressões, foi
esmagado por causa de nossas iniquidades; o castigo
que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas
fomos curados. Todos nós, tal qual ovelhas, nos desvia-
mos, cada um de nós se voltou para o seu próprio cami-
nho; e o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos
nós. Ele foi oprimido e afligido, contudo não abriu a sua
boca; como um cordeiro foi levado para o matadouro, e
como uma ovelha que diante de seus tosquiadores fica
calada, ele não abriu a sua boca. Com julgamento opres-
sivo ele foi levado. E quem pode falar dos seus descen-
dentes? Pois ele foi eliminado da terra dos viventes; por
causa da transgressão do meu povo ele foi golpeado”.

27
Do início ao fim, a Escritura comunica os propósitos
de Deus em alcançar, acolher e cuidar da humanidade.
A Bíblia aponta para Jesus Cristo e para a sua obra de
redenção. A essência da Escritura está em Jesus Cristo.
Tudo aponta para Ele. Dessa forma, pode-se entender
que a Bíblia é um instrumento eficaz inspirado pelo
Espírito Santo a fim de revelar o plano de Deus para,
por meio do evangelho, resgatar todos aqueles que
estão subjugados pelo pecado e pela escravidão.
O DEUS QUE ALCANÇA: UMA NARRATIVA
Confira atentamente a iniciativa de Deus em tentar
alcançar um dos povos mais perversos da Antiguidade,
os assírios, que eram uma nação de guerreiros, isto
é, uma sociedade militarizada, governada por uma
aristocracia militar. Muitos historiadores e arqueólogos
defendem a tese de que os assírios formaram o primeiro
exército organizado do mundo, dispondo de arqueiros,
carros de batalha e infantaria, munida de espadas e
lanças. Tal forma de organização garantiu-lhes uma
expansão rápida e avassaladora, que ficou caracterizada
também pelas inúmeras formas de atrocidade
cometidas contra as populações que eles subjugavam.
Contra os vencidos, os soldados assírios empregavam
métodos de tortura cruéis, como a mutilação dos
órgãos genitais, do nariz e das orelhas. A forma como
matavam seus oponentes também não era menos cruel.
A decapitação e a exibição ostensiva das cabeças dos
adversários também figuravam entre os procedimentos
de guerra deles. Para evitar revoltas ou insurreição dos
povos que conquistavam, eles deportavam a população
de sua região originária e a levava como escrava para
outras partes do Império. Essa estratégia desagregava
as outras culturas, retirava-lhes a unidade e as impedia
de se reorganizarem.
Não é à toa que o profeta Jonas relutou em aceitar a
missão que lhe fora confiada por Deus. Logo no início
do livro, Deus se apresenta ordenando enfaticamente
a Jonas que fosse pregar em Nínive (principal cidade
da Assíria). Mas o profeta, tomado de indignação
pela iniciativa divina em alcançar esse povo perverso,
relutou muito. Quando o profeta não tinha mais meios
para fugir da convocação de Deus, pregou ao povo
assírio o que Deus lhe havia designado. Os versículos 5
a 9 relatam o resultado da pregação de Jonas:
Os ninivitas creram em Deus. Proclamaram jejum, e
todos eles, do maior ao menor, vestiram-se de pano de
saco. Quando as notícias chegaram ao rei de Nínive,
ele se levantou do trono, tirou o manto real, vestiu-se
de pano de saco e sentou-se sobre cinza. Então fez uma
proclamação em Nínive: “Por decreto do rei e de seus
28
nobres: Não é permitido a nenhum homem ou animal,
bois ou ovelhas provar coisa alguma; não comam
nem bebam! Cubram-se de pano de saco, homens e
animais. E todos clamem a Deus com todas as suas
forças. Deixem os maus caminhos e a violência. Talvez
Deus se arrependa e abandone a sua ira, e não sejamos
destruídos” (Jonas 3.5-9).
A iniciativa do povo sensibilizou a Deus, que decidiu
não destruir a nação como havia dito que faria. A
reação de Jonas também foi imediata: “Senhor, não foi
isso que eu disse quando ainda estava em casa? Foi por
isso que me apressei em fugir para Társis. Eu sabia que
tu és Deus misericordioso e compassivo, muito paciente,
cheio de amor e que promete castigar mas depois se
arrepende” (Jonas 4.2). Leia o que Lloyd Ogilvie escreve
a respeito dessa história fascinante:
O que se segue é um ato duplo de arrependimento, que nos
impele mais a fundo em nossa compreensão do Senhor
do impossível. O povo se arrependeu, e Deus também!
(...) Usa-se a mesma palavra para o arrependimento do
povo e o de Deus. O Senhor mudou de ideia em resposta à
confissão do povo. Isso é muito importante para nós. Não
podemos fugir de diante de sua face de retidão e justiça.
O julgamento do pecado é a separação de Deus, agora e
para sempre. O julgamento do pecado é a separação de
Deus, agora e para sempre. Mas, no momento em que nos
voltamos para ele, ele nos recebe com graça e perdão. É
um novo começo!23
O profeta conhecia o seu Deus a ponto de saber que
Sua iniciativa em alcançar a humanidade era levada
muito a sério, independentemente do grau de pecado
e perversão de um povo. Ao final do livro, ainda sobra
uma pequena lição de misericórdia para o profeta: “Você
tem pena dessa planta, embora não a tenha podado nem
a tenha feito crescer. Ela nasceu numa noite e numa noite
morreu. Contudo, Nínive tem mais de cento e vinte mil
pessoas que não sabem nem distinguir a mão direita da
esquerda, além de muitos rebanhos. Não deveria eu ter
pena dessa grande cidade?” (Jonas 4.10,11).
DEUS QUE ACOLHE E CUIDA: UMA NARRATIVA
As narrativas do AT também dão vislumbres incríveis
do amor de Deus refletido em acolhimento e cuidado.
Talvez um dos exemplos mais estarrecedores da
disposição do Pai em acolher e cuidar, não obstante
a corrupção, orgulho e obstinação do seu povo, esteja
relatada no livro do profeta Oseias. Deus ordena que
o profeta se case com uma mulher adúltera e, mesmo
ela o tendo traído, o Senhor dá uma ordem expressa
23 O Senhor do Impossível, p. 85.
para que ele a receba novamente e a trate com amor.
Leia os versículos que seguem a fim de compreender
o que de fato o livro narra: “Quando o Senhor começou
a falar por meio de Oseias, o Senhor lhe disse: ‘Vá, tome
uma mulher adúltera e filhos da infidelidade, porque
a nação é culpada do mais vergonhoso adultério por
afastar-se do Senhor’” (Oseias 1.2); logo em seguida, no
capítulo 3, após Gômer (a mulher que foi tomada por
esposa) ter traído o profeta, Deus ordena o seguinte:
“Vá, trate novamente com amor sua mulher, apesar de
ela ser amada por outro e ser adúltera. Ame-a como o
Senhor ama os israelitas, apesar de eles se voltarem para
outros deuses” (Oseias 3.1).
É interessante notar que nenhum pecado poderia
ter sido mais desprezível para um hebreu do que a
adoração de Baal. Gômer fora atraída aos rituais de
fertilidade pagã de fornicação no culto a Baal. A coisa
mais acertada a fazer (segundo a lei e o bom senso) era
julgá-la e esquecê-la. Mas o profeta estava a mando
do Deus de Israel, que amava, perdoava, acolhia e
cuidava intensamente. Quanto mais fundo Oseias
penetrava no coração de Deus, mais percebia que
Deus compreendia a luta que ele teria de enfrentar
para reconciliar-se com a esposa.
A partir desse ato, seguem-se declarações de justiça,
mas também de muito amor e compaixão pelo seu
povo. Mesmo diante da rebelião da nação, Deus, como
um pai que ama profundamente, mostra-se disposto a
acolher e cuidar:
Quando Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei
o meu filho. Mas, quanto mais eu o chamava, mais eles
se afastavam de mim. Eles ofereceram sacrifícios aos
baalins e queimaram incenso aos ídolos esculpidos.
Mas fui eu quem ensinou Efraim a andar, tomando-o
nos braços; mas eles não perceberam que fui eu quem
os curou. Eu os conduzi com laços de bondade humana
e de amor; tirei do seu pescoço o jugo e me inclinei para
alimentá-los (Oseias 11.1-4).
E ainda: “Como posso desistir de você, Efraim? Como
posso entregar você nas mãos de outros, Israel? Como
posso tratá-lo como tratei Admá? Como posso fazer
com você o que fiz com Zeboim? O meu coração está
enternecido, despertou-se toda a minha compaixão”
(Oseias 11.8). Deus continua com suas declarações de
amor: “Mas eu sou o Senhor, o seu Deus, desde a terra
do Egito. Vocês não reconhecerão nenhum outro Deus
além de mim, nenhum outro Salvador senão a mim.
Eu cuidei de vocês no deserto, naquela terra de calor
ardente. Quando eu os alimentava, ficavam satisfeitos;
quando ficavam satisfeitos, se orgulhavam, e então me
esqueciam” (Oseias 13.4-6).“O que Efraim ainda tem
com ídolos? Sou eu que lhe respondo e dele cuidarei.
Sou como um pinheiro verde; o fruto que você produz
de mim procede” (Oseias 14.8). Perceba os destaques
para os verbos que refletem a intensidade do amor de
Deus por Israel. Amor se reflete inevitavelmente em
acolhimento e cuidado.
Leia as lindas palavras de Ogilvie a esse respeito:
No relato de Oseias temos um quadro de Deus com
as mãos presas, mordendo os lábios em restrição
autoimposta, tudo para não invadir as nossas vidas e
recusar-nos o privilégio de crescer através de nossos
erros. Em seguida, vemos os seus braços estendidos
enquanto ele corre em nossa direção. O severo olhar de
desagrado é substituído por um compassivo sorriso de
aceitação, quando esboçamos a menor inclinação para
dar as costas ao pecado e correr em sua direção.24
Deus é amor. Essa é a sua essência. Ele se recusa a
abandonar a humanidade. Por meio do relacionamento,
está sempre disposto a alcançar, acolher e cuidar dos
seres humanos, não importando as circunstâncias.
Nas palavras de Agostinho: “Deus ama tanto a cada
um como se não existisse ninguém mais a quem pudesse
dedicar seu amor.”25
Compartilhar (10 min)
Em pequenos grupos, conversem a respeito das
questões propostas:
● Você entende que a relação de amor pode, de
fato, ser compreendida nas atitudes de alcançar,
acolher e cuidar? A ordem na qual essas atitudes
estão dispostas pode ser levada a sério, na
prática? Quando você, como discípulo de Cristo,
se dispõe a amar alguém que está sem esperança
e imerso em caos e dor, o que costuma fazer?
Que atitudes você tem tomado de forma a
alcançar, acolher e cuidar? Conversem sobre isso,
ilustrando o diálogo com testemunhos pessoais.
● Pense e converse sobre meios de amar (levando-se
em conta os três verbos propostos), por exemplo:
um colega de profissão, seu supervisor ou chefe,
ou um indigente que pede esmolas na sarjeta.
● Dos textos trabalhados nesta aula, por qual
deles você foi mais profundamente ministrado?
Compartilhe.
24 O Senhor do Impossível, p. 73.
25 O obstinado amor de Deus, p. 43.
29
Sintetizar (5 min)
Tente contribuir com a formulação dos principais
aprendizados da aula que surgiram como fruto da leitura
do material e/ou dos diálogos nos pequenos grupos.
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VIVER
Até o próximo encontro
Separe um tempo durante a semana e ore pedindo que
o Espírito indique alguém do seu convívio que precisa
ser resgatado pela graça de Cristo. Tente aquietar a
sua alma e não tenha pressa em ouvi-lo. Tente não
ser imediatista em querer decidir rapidamente quem
é essa pessoa. Após receber a orientação de Deus,
responda sinceramente: você está disposto a amar
essa pessoa por meio do alcance, acolhimento e
cuidado? Inicie ainda nesta semana uma aproximação
em amor. Tente estabelecer uma relação de interesse
e comprometimento. Discípulos se fazem por meio de
relacionamentos.
EU CREIO
Até o próximo encontro
Após a leitura e reflexão do conteúdo abordado, você
deve estar mergulhado no oceano de amor e graça do
Pai. Você tem consciência da intensidade do desejo
dele por você e pelo seu próximo? Tente reler os textos
apontados nesta aula, em especial os trechos de Jonas
e Oseias. Elabore, em seguida, uma confissão de fé:
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30
Vida Discipular
SOLICITAÇÃO DE CONTAS
Nome do Relacionamento Discipulador (RD):
____________________________________________
____________________________________________
Material:____________________________________
Data:_______________________________________
Local:_______________________________________
Destaques da semana:
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Destaques do meu Tempo A Sós (TAS) com Deus nesta
semana:
a)__________________________________________
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____________________________________________
____________________________________________
b)__________________________________________
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c)__________________________________________
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O Ser discípulo em
diferentes contextos
O discípulo e seu mestre nos contextos veterotestamentário,
Orar (10 min)
Leia com atenção, em espírito de reflexão e humildade,
as palavras que seguem:
A mensagem de Cristo era clara: o amor espiritual
serve, e não deseja ser servido. O serviço é a forma mais
alta de liderança. O cristão maduro escolhe servir, em
vez de ser senhor em toda situação. (...) Jesus disse que
o seu mandamento é este: “Amem-se uns aos outros
como eu os amei” (João 15.12). E o amor de Cristo a
seus discípulos foi serviço altruísta. Ele assumiu, por
vontade própria, a forma de escravo (Filipenses 2.7).
Ele lavou-lhes os pés e voluntariamente tomou o lugar
que era deles na cruz. Jesus não estava reclamando ou
esperneando quando o levaram para crucificá-lo. Ele
teve compaixão e perdoou e depois anunciou: “Eu lhes
dei o exemplo, para que vocês façam como lhes fiz”
(João 13.15).26
Você já parou para pensar que quando Cristo decidiu
lavar os pés dos discípulos, a cena que se desenhou foi
a do Criador de todas as coisas, o Senhor do universo,
lavando os pés sujos e empoeirados de doze das suas
criaturas – uma das quais, inclusive, estava a poucos
momentos de traí-lo? Não há um exemplo mais forte e
instigante do que esse. Nós fomos convocados a servir.
Pode-se fazer isso de diversas formas, mas o espírito de
humildade, comprometimento e amor deve motivar
qualquer ação do discípulo.
Você entende que, caso tenha realmente se
comprometido com o evangelho, é um servo? Como
isso soa a você? Parece humilhante? Como você se
relaciona com a execução de tarefas simples, como,
26 A formação de um discípulo, p. 45.
Aula 6
helênico e judaico-romano
por exemplo, carregar peso ou varrer o chão? Quando
o assunto é o amor ao próximo, as orientações e o
exemplo de Cristo não deixam espaço para aquilo
que você pode considerar “inferior à sua capacidade”.
Reflita com carinho sobre as questões propostas e fale
com Deus, com sinceridade.
Debater (5 min)
Tente se lembrar de relações discipulares estabelecidas
no AT. Você pode usar como base os moldes clássicos
da dinâmica do discipulado: um mestre (ou alguém
mais experiente) e o seu aprendiz (aquele que está
disposto a aprender). Relate abaixo os exemplos
pensados:
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Refletir (40 min)
DISCIPULADO NO ANTIGO TESTAMENTO
O discipulado no AT se dava por uma relação de senhor
e servo. Tanto que a palavra discípulo ou aprendiz é
muito pouco usada, ficando mais evidente o conceito
de servo aprendiz. Esse servo aprendiz convivia
31
diariamente com seu senhor, aprendendo muito mais
pela imitação do que pelo ouvir.
Reuel e Moisés
A história de um dos grandes homens usados por
Deus nos mostra a importância de se submeter ao
aprendizado para poder ser um canal de bênçãos.
Moisés é um desses exemplos. Moisés que fora
adotado pela filha do Faraó, mas providencialmente
foi criado por sua mãe, israelita, aprendeu no início
de sua vida os princípios da fé de seu povo. Porém,
por viver dentro do palácio egípcio, sua maneira de
ver o mundo estava contaminada pelo pensamento
egípcio. Deus tinha um plano na vida daquele homem,
mas ele precisava passar por uma renovação em sua
cosmovisão. Ele precisava caminhar junto de alguém
que o ajudasse a diferenciar o que era princípio do
Deus Iavé do que era cultura pagã.
Então, Deus colocou ao seu lado um sacerdote: Reuel
(que significa amigo de Deus), também conhecido
como Jetro (um título que significa superior), sacerdote
de Midiã (Êxodo 2.15-22,3.1). Esse sacerdote se torna
seu sogro e passa a influenciá-lo por aproximadamente
quarenta anos (Atos 7.29,30). A relação de servo
aprendiz entre Moisés e Reuel foi um pouco diferente
pelo fato de Moisés ser genro de Reuel, mas isso não
o impediu de viver os princípios da honra, submissão
e obediência, pois Reuel era Jetro (superior). Foi com
Jetro que Moisés aprendeu a amar e a ser frutífero
no serviço de Iavé. Foi com esse discipulador que
ele aprendeu a exercer a liderança descentralizada:
dividiu o povo em grupos de dez com supervisores
de cinquenta, de cem e de mil. Leia atentamente os
versículos seguintes, que ilustram perfeitamente a
relação dos dois:
No dia seguinte Moisés assentou-se para julgar as
questões do povo, e este permaneceu de pé diante
dele, desde a manhã até o cair da tarde. Quando o
seu sogro viu tudo o que ele estava fazendo pelo povo,
disse: “Que é que você está fazendo? Por que só você
se assenta para julgar, e todo este povo o espera de
pé, desde a manhã até o cair da tarde?”. Moisés lhe
respondeu: “O povo me procura para que eu consulte a
Deus. Toda vez que alguém tem uma questão, esta me
é trazida, e eu decido entre as partes, e ensino-lhes os
decretos e leis de Deus”. Respondeu o sogro de Moisés:
“O que você está fazendo não é bom. Você e o seu povo
ficarão esgotados, pois esta tarefa lhe é pesada demais.
Você não pode executá-la sozinho. Agora, ouça-me! Eu
lhe darei um conselho, e que Deus esteja com você! Seja
você o representante do povo diante de Deus e leve a
32
Deus as suas questões. Oriente-os quanto aos decretos
e leis, mostrando-lhes como devem viver e o que devem
fazer. Mas escolha dentre todo o povo homens capazes,
tementes a Deus, dignos de confiança e inimigos de
ganho desonesto. Estabeleça-os como chefes de mil,
de cem, de cinquenta e de dez. Eles estarão sempre à
disposição do povo para julgar as questões. Trarão
a você apenas as questões difíceis; as mais simples
decidirão sozinhos. Isso tornará mais leve o seu fardo,
porque eles o dividirão com você. Se você assim fizer,
e se assim Deus ordenar, você será capaz de suportar
as dificuldades, e todo este povo voltará para casa
satisfeito”. Moisés aceitou o conselho do sogro e fez
tudo como ele tinha sugerido. Escolheu homens
capazes de todo o Israel e colocou-os como líderes
do povo: chefes de mil, de cem, de cinquenta e de dez
(Êxodo 18.13-25).
Moisés e Josué
Outra relação discipular que pode ser notada no AT foi
a de Josué, servo aprendiz, e Moisés (Josué 1.1). Josué
acompanhou Moisés passo a passo, familiarizando-se
com os planos e métodos divinos compreendidos e
praticados por Moisés. Foi Josué quem acompanhou
Moisés até o monte Sinai. Também dirigiu uma das
comitivas de espias e trouxe um excelente relatório
(Números 14.6,7). Josué recebeu a mesma visão do seu
discipulador (Êxodo 24.13 e Números 14.5-9) e, através
do gesto simbólico de imposição de mãos, Moisés deu
a ele sua autoridade (Deuteronômio 34.9). Deus se
comprometeu a ser com Josué assim como fora com
Moisés. A promessa de Deus era que, da maneira como
ele foi com seu discipulador, também seria com ele: “Assim
como estive com Moisés, estarei com você; nunca o deixarei,
nunca o abandonarei” (Josué 1.5). Por aproximadamente
quarenta anos, Josué caminhou ao lado de Moisés.
Rute e Noemi
A relação de lealdade e seguimento de Rute para
Noemi também pode ser considerada discipular.
Muito embora Rute fosse moabita, sua lealdade à
família israelita em que foi acolhida por casamento
e sua devoção total à sogra destacam-na como
verdadeira filha de Israel. Leia a declaração de lealdade
de Rute: “Aonde fores irei, onde ficares ficarei! O teu povo
será o meu povo e o teu Deus será o meu Deus! Onde
morreres morrerei, e ali serei sepultada. Que o Senhor
me castigue com todo o rigor, se outra coisa que não a
morte me separar de ti!” (Rute 1.16,17). Sem lealdade,
não há relação discipular. É muito possível que Rute
só tenha assumido essa posição por passar a crer no
Deus da sogra. A posição de Rute, sendo moabita,
como aprendiz e companheira de Noemi, exemplifica
a verdade de que a participação no reino de Deus é
determinada não por sangue ou nascimento, mas
pelo ajuste da vida à vontade de Deus mediante a
obediência que vem pela fé (Romanos 1.5).27
Elias e Eliseu e demais profetas
Outro grande líder foi o profeta Elias. Deus lhe disse
que ele deveria formar um sucessor (1Reis 19.16). Ele
encontra Eliseu, lança sobre ele sua capa, e Eliseu o
segue como servo aprendiz (1Reis 19.19-21). Eliseu
andou com Elias e o serviu durante anos (2Reis 3.11).
Herdou o ministério e a unção de Elias (2Reis 2.9-
15). Semelhantemente a Elias, tinha consigo alguns
servos aprendizes (2Reis 6.3). Um de seus servos-
aprendizes foi Geazi (2Reis 4.12). Isaías – bem como
Jeremias (Jeremias 32.12,13) e muitos outros líderes
encontrados no AT – também tinha seus fervorosos
servos aprendizes (Isaías 8.16). A missão dos profetas
era trazer o povo rebelde de volta para os caminhos
do Senhor.
Família
Mesmo com muitos grandes líderes, profetas e
sacerdotes, era na família que o discipulado deveria
ser mais profícuo, sendo os pais (Deuteronômio 4.9
e 6.7-9) os responsáveis por usar as narrativas dos
feitos de Deus e sua Lei para deixar o grande legado
de fé e conduta (Salmo 78.3-8). Leia com atenção este
versículo: “Ensine-as com persistência a seus filhos.
Converse sobre elas quando estiver sentado em casa,
quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar
e quando se levantar” (Deuteronômio 6.7).
DISCIPULADO NO JUDAÍSMO
As tradições judaicas e rabínicas guardam o sentido
de “aprender”, muito próximo ao nosso conceito de
“aluno”. O quadro cultural e a pedagogia da tradição
oral e da memorização se encontram tanto nas escolas
rabínicas como nos ensinamentos de Jesus: é pela
força da repetição que as palavras do mestre (rabi)
continuam a cantar no coração do discípulo, mesmo
quando este se ocupa com outras coisas.
No judaísmo com suas diversas escolas rabínicas, rabi
era o mestre, e os que seguiam sua interpretação
eram chamados discípulos. Os rabinos, ou doutores
da Lei, reuniam os discípulos em torno de si, aos quais
transmitiam a sua doutrina. Cada discípulo escolhia
o seu mestre. Mais do que teorias ou doutrinas, um
27 Bíblia de Estudo NVI, p. 26.
mestre ensinava sobre a sabedoria de viver retamente,
o sentido da existência e a forma como cumprir a
própria vocação. Para um hebreu era muito mais
importante “saber viver” do que viver. O mestre não
baseava seu ensino apenas em teorias. O que ensinava
era a própria vida. Por isso, os discípulos tinham que
conviver com seus mestres, porque era observando-o
que aprendiam a viver. Desse modo, em torno do
mestre formava-se uma família. Por esse fato o
ambiente do discipulado era chamado, por exemplo,
de “casa de Gamaliel” e não escola.
Leia, a seguir, alguns elementos importantes que
compunham a relação discipular no contexto judaico.
• Ensino itinerante e vivencial: utilizavam lugares
distintos e situações da vida para ensinar.
• Eram escolhidos pelos discípulos: os mestres
atraíam alunos para si em Jerusalém a fim de
assentar-se, literalmente, aos pés desses mestres.
• Não aceitavam mulheres como discípulas. Ser
homem era se compreender cidadão e, no caso
judaico, parte de um povo, a nação escolhida
por Deus.
• O discípulo acompanhava seu mestre por
um tempo.
• O alvo era aprender a Lei que Deus tinha revelado
por intermédio de Moisés. Tudo que havia sido
escrito no Pentateuco: Gênesis, Êxodo, Levítico,
Números e Deuteronômio. Os judeus chamavam
esses cinco livros de Toráh. A palavra Toráh
literalmente significa Lei. Eles entendiam que era
a lei, mas também a revelação de Deus que se
tornou palavra. A Toráh era a palavra, a Toráh era
a lei e a Toráh era a vida.
• Os discípulos tinham o prestígio do mestre. O
sonho máximo de um menino judeu não era
ser sacerdote, pois o sacerdócio era reservado
aos levitas. Os meninos de outras tribos ainda
tinham a esperança de se tornarem rabinos e
mestres da lei. E toda escola da época visava
preparar o menino para se tornar, um dia, um
rabino, mestre, ou doutor da lei.
• Os discípulos estavam a serviço do mestre e
eram obrigados a servi-lo como servos.
Naquela época, o sistema educacional judeu se dividia
em três fases.
33
A primeira compreendia dos seis aos doze anos, o
BeitSefer. Os pais que podiam investir na vida de
seus filhos escolhiam uma escola rabínica. A criança
começava a fazer parte de uma “casa”, uma “família”
de discípulos de um determinado mestre. Esses
mestres usavam as sinagogas para o ensino da Toráh
e dos livros dos profetas, pois eram os únicos lugares
em que havia esses manuscritos, com exceção da
escola dos essênios. O acesso às Escrituras era muito
raro, pois uma cidade ou aldeia tinha no máximo um
exemplar desses manuscritos. O alvo inicial da criança
era aprender a Lei de Deus. Aos doze anos, o menino já
deveria ter adquirido o conhecimento pleno da Toráh
para poder continuar no caminho de se tornar um
mestre. A avaliação feita no Templo, junto aos doutores
da lei, consistia em saber se o menino havia decorado
todos os livros da Toráh (os cinco primeiros livros da
Bíblia atual). Após uma exaustiva avaliação, o rabino
deveria estar plenamente seguro a fim de proferir a
tão esperada expressão: “SEGUE-ME”. Provavelmente,
a alegria dos jovens ao serem admitidos como
discípulos pelos rabinos era equivalente à alegria de
um adolescente de nossos dias que foi aprovado no
vestibular, no curso de sua escolha em uma renomada
universidade. Os alunos que se destacavam seguiam
para a escola secundária, BeitTalmud. Aos demais cabia
agora seguir o caminho da profissão de seus pais. Isso
era entendido como resposta de Deus para aquele
jovem. Era a vontade do Altíssimo.
Na BeitTalmud, entre os doze e quinze anos, o
jovem, além da Toráh, que já sabia de cor, passava a
memorizar o Ketuvim (livros poéticos, ou seja, Salmos,
Provérbios e Jó) os Profetas (Josué, Juízes, Samuel, Reis,
Isaías, Jeremias, Ezequiel e os doze profetas menores),
os Cinco Rolos (Cantares, Rute, Lamentações, Ester
e Eclesiastes) e os livros históricos (Daniel, Esdras e
Crônicas). Após essa fase, somente os melhores entre
os melhores permaneciam estudando. Novamente no
Templo, junto aos doutores da lei, os alunos tinham
seu conhecimento avaliado. O alvo do rabino era
responder: “Será que esse jovem tem potencial para
ser igual a mim? Está habilitado a caminhar passo a
passo com esse rabino? Ser como ele, ensinar como
ele, viver como ele?”. O rabino somente escolhia um
candidato se tivesse plena certeza. Após a aprovação,
o jovem entrava em uma nova fase de vida, o sonho
de todo jovem judeu daqueles tempos. Começava o
BeitMidrash, no qual o discípulo estudaria a fundo a
doutrina do seu rabino para, enfim, tornar-se um.
Era a partir do BeitMidrash que esses jovens deixavam
pai e mãe, os negócios da família, a sinagoga e os
amigos para se entregar por inteiro a seguir seu rabi.
34
Passavam a caminhar com o mestre, ver o que o
mestre fazia e procurar fazer igual a ele. Começavam
a caminhar por todos os lugares junto ao mestre. Era
comum ver o mestre com seus discípulos. Os rabinos
indo de cidade em cidade, de vila em vila, de aldeia
em aldeia, ensinando a sua “gema”, a sua essência.
Nessa caminhada, o discípulo não podia ir à frente
nem ao lado do mestre, mas devia ir logo atrás, tendo
o privilégio de receber a poeira seca que se levantava
de seus pés. Essa era uma cena comum naqueles
caminhos empoeirados da Galileia e da Judeia. O
mais aplicado dos discípulos era o que estava mais
próximo, e recebia a poeira só do mestre! Os mais
desatentos, que ficavam por último, recebiam a poeira
de todos. O maior desejo de uma família quando um
jovem procurava seguir um mestre era “que ele ficasse
coberto da poeira, da cabeça aos pés, da poeira das
sandálias do seu mestre”.
Dos dezoito aos trinta anos o jovem passava a ter
acesso aos ensinos mais peculiares de seu mestre, aos
seus segredos. Aos trinta, estava pronto para ser um
rabino ou mestre. Após a nomeação, os jovens adultos
recebiam o “poder de ligar e desligar” questões
relacionadas à nação judaica.
DISCIPULADO NO HELENISMO
O helenismo foi o período da história da Grécia e de
parte do Oriente Médio compreendido entre a morte
de Alexandre, o Grande, em 323 a.C. e a anexação da
península grega e ilhas por Roma em 146 a.C. Caracterizou-
se pela difusão da civilização grega numa vasta área, que
se estendia do mar Mediterrâneo oriental à Ásia Central.
De modo geral, o helenismo foi a concretização de um
ideal de Alexandre: o de levar e difundir a cultura grega
aos territórios que conquistava. Foi nesse período que
as ciências particulares tiveram seu primeiro e grande
desenvolvimento. Foi o tempo de Euclides e Arquimedes.
O helenismo marcou um período de preparação para o
domínio e apogeu de Roma.
Em matéria de educação, os gregos são os que mais
se sobressaem, e foi na Grécia Antiga que surgiram
as primeiras teorias educacionais. A compreensão
de cultura e do lugar ocupado pelo indivíduo na
sociedade reflete-se no ensino e nas próprias teorias.
Desde a conquista da Síria por Alexandre Magno
(356-323 a.C), a região onde Jesus nasceu e viveu
estava sob a influência do helenismo em todos os
setores da vida: língua, literatura, religião, filosofia,
ciência, arte, política e educação.28
28 MANACORDA, M. A. História da Educação: Da Antiguidade aos
nossos dias, p. 34.
As histórias dos mestres gregos circulavam pelas ruas
da Palestina nos dias de Jesus. Essa influência foi tão
grande que, nos negócios, as pessoas usavam uma
espécie de grego popular para se comunicar, o grego
koiné, “comum”, língua que foi usada na escrita do NT.
Por exemplo, a palavra usada por Jesus para discípulo é
mathetés, que significa aprender mediante o ensino e a
experiência. Esse substantivo designa um homem que se
associava a um mestre – ao qual se pagavam honorários
para aprender um ofício (o que hoje chamamos de
aprendiz) ou uma filosofia ou ciência (o que chamamos
hoje de aluno). Embora alguns mestres gregos fizessem
o chamado ao discipulado, de um modo geral eram os
estudantes que escolhiam o mestre. As famílias desses
alunos pagavam uma taxa aos mestres. Os filhos da
nobreza ou de comerciantes ricos eram deixados a cargo
dos preceptores e podiam fazer parte da scholé.29
Compartilhar (10 min)
Reúna-se em grupo, reflita e debata sobre as seguintes
questões.
● Compare as concepções de discipulado dos
contextos apresentados com o significado que a
palavra tem hoje em dia.
● É possível perceber nuances, no discipulado
proposto por Cristo, da forma como a relação
discipular ocorria nos contextos do AT, judaísmo
e helenismo?
● Tente relacionar Gálatas 4.4 (“Mas, quando chegou
a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho”)
com o conteúdo estudado hoje. Para ajudar na
discussão, leia o seguinte trecho de um estudo:
O cristianismo não é um evento isolado do mundo,
ele surgiu num tempo determinado, num contexto
geopolítico singular e em condições históricas propícias
que serviram como pano de fundo para a afirmação da
sua influência. É exatamente nesse pano de fundo (Cristo
e o contexto histórico em que nasceu) que podemos
encontrar as melhores evidências e os melhores vestígios
da atuação divina que transformou e deu forma à
natureza e mensagem da Igreja cristã.30
Sintetizar (5 min)
Tente descrever as principais contribuições da aula
que surgiram como fruto da leitura do material e/ou
dos diálogos nos pequenos grupos.
29 Paideia - A formação do homem grego, p. 64.
30 Plenitude dos tempos: um estudo contextualizado de Gl 4,4, p. 152.
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VIVER
Até o próximo encontro
Separe um tempo de oração durante a semana e reflita
sobre sua percepção acerca do discipulado. O propósito
da aula é resgatar o sentido precioso da relação entre
um mestre e seu discípulo. Você consegue encarar Jesus
Cristo como seu mestre? Ele não propõe uma salvação
etérea e sem aplicação para a vida aqui e agora. Como
já mencionado, a salvação é o próprio discipulado.
Quando você se propõe segui-lo e ficar coberto pelo
pó levantado de suas sandálias, está sendo salvo do
domínio do seu eu caído, enganado e iludido. Existem
áreas da sua vida que ainda não estão sob o domínio
do Mestre? Há princípios e ensinamentos de vida
que você ainda não aplica? Seu estilo de vida ainda
não está em conformidade com a vida que Ele levou?
Reflita e ore. Permita que o Espírito Santo, conselheiro
e companheiro, guie seus pensamentos. As linhas
a seguir podem ajudar. Uma sugestão é que, ainda
nesta semana, você tome atitudes decisivas de forma
a submeter áreas da sua vida ao exemplo do Mestre.
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35
EU CREIO
Até o próximo encontro
Escreva a seguir sua declaração de fé, após o conteúdo
lido e refletido. O que você crê a respeito do sentido e
do significado do discipulado?
Destaques do meu Tempo A Sós (TAS) com Deus nesta
semana:
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Vida Discipular ____________________________________________
SOLICITAÇÃO DE CONTAS
Nome do Relacionamento Discipulador (RD):
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Data:_______________________________________
Local:_______________________________________

Destaques da semana:
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36

O Ser discípulo
em Cristo
Orar (10 min)
Leia atentamente as palavras de Keith Phillips, em seu
livro A formação de um discípulo:
Fazer discípulos é um processo que começa com ser
modelo. O caráter é transmitido, e não ensinado. É por isso
que os discípulos de Cristo abandonaram suas profissões
para estarem com ele. Primeiro tinham de seguir a Jesus.
Só então ele poderia treiná-los para ser “pescadores de
homens”. Os discípulos acompanharam Cristo quando
ele transformou água em vinho. Observaram-no quando
ele expulsou os cambistas do templo. Escutaram-no
quando ele ministrou à mulher samaritana, violando
um tabu racial. Viram Cristo curar o filho do nobre e o
coxo em Betesda. Maravilharam-se quando ele expulsou
demônios de um homem em Gerasa. Por meses,
observaram-no curar cegos, coxos e surdos. (...) Jesus
explicou cuidadosamente os seus ensinos e seus atos
aos discípulos para que eles compreendessem a razão e
os princípios que o motivavam. Ele gastou tempo a sós
com eles, explicando-lhes por que falava em parábolas
(Mateus 13.10-15) e revelando os segredos do Reino de
Deus (Marcos 4.11). Enquanto Jesus ensinava a seus
discípulos os princípios que deveriam seguir em seu
ministério, concentrou-se em moldar-lhes o caráter, e não
apenas em transmitir informações. Não houve outros
homens que se assentaram aos pés de um mestre mais
profundo e relevante. O que os discípulos viram e ouviram
afetou-os de modo radical. Nunca se esqueceram da
perfeita integração entre o ensino e a ação de Jesus.31
Ninguém se torna discípulo sem uma disposição
radical e comprometida em seguir o mestre bem de
perto; em ouvi-lo, assistir-lhe, contemplá-lo, admirá-lo,
31 A formação de um discípulo, p. 48.
Aula 7
O diferencial do discipulado de Cristo
tocá-lo. Não haverá uma relação entre discípulo e
mestre se não houver investimento de tempo para
cultivo da intimidade e conhecimento mútuo, conhecer
o mestre e permitir ser conhecido por Ele. Como está o
seu tempo de devoção a Cristo? Você tem conseguido
separar um tempo significativo para assentar-se aos
pés do mestre, e aprender dele, ser curado pelo seu
toque, ouvi-lo e vê-lo? Reflita com carinho sobre as
questões propostas e separe um tempo em oração a
Deus. Tente estar inteiro na presença do Pai.
Debater (10 min)
Reúna-se em pequenos grupos e tente identificar, a
partir dos relatos dos evangelhos, a convocação de
pelo menos cinco discípulos que compunham o grupo
dos doze. Referencie as passagens a seguir. Como
foram esses chamados? Jesus demonstrou quem era
por meio de palavras e/ou ações?
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Tente se lembrar do conteúdo trabalhado na
aula passada e se esforce para estabelecer alguns
diferencias do discipulado proposto por Cristo das
demais relações discipulares no contexto da época.
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Refletir (30 min)
Como lido anteriormente, o mundo greco-romano do
século I apresentava grande variedade de líderes religiosos,
filosóficos e políticos, cada um deles tendo seguidores
comprometidos com seus ensinos, causas e crenças.
Embora fossem utilizados vários termos para designar
esses seguidores, “discípulo” era um dos mais comuns.
O próprio Cristo se considerava um mestre, como
fica claro em João 13.13: “Vocês me chamam ‘Mestre’
e ‘Senhor’, e com razão, pois eu o sou”. Nos evangelhos,
Jesus é chamado de mestre 45 vezes, e nunca se
fala nele como pregador. Somando-se os termos
equivalentes há 61 ocorrências. Jesus Cristo, portanto,
era rabi, mesmo que não cumprisse todos os moldes
de um mestre do judaísmo.
Jesus teve seguidores desde o início de seu ministério
público. De acordo com a tradição joanina, seus
primeiros seguidores foram antes discípulos de João
Batista. Os primeiros seguidores foram André e outro
discípulo não identificado (provavelmente João). André
trouxe o irmão, Simão Pedro, até Jesus. Filipe, que era da
mesma cidade natal de André e Pedro, foi chamado em
seguida e, por sua vez, trouxe Natanael até Jesus (João
1.35-49). O movimento inicial desses seguidores de
Jesus ganhou ímpeto à medida que as notícias acerca
de Jesus se espalhavam por meio das relações sociais
em uma área relativamente restrita (região da Galileia).
É importante notar que dois grupos participaram de
boa parte do ministério de Jesus: os discípulos e as
multidões. Os discípulos eram os que obedeciam ao
chamado de Jesus para segui-lo. As multidões eram
aquelas a quem Jesus continuava a fazer um chamado.
Elas constituíam um grupo neutro, ligado a Jesus
mais pela curiosidade que por outro motivo. Embora
seguissem Jesus, as multidões não preenchiam os
38
dois pré-requisitos do discipulado: pagar o preço e
comprometer-se com a causa. Seguiam-no apenas
fisicamente, não no sentido mais verdadeiro de se
dedicar a Ele. Enquanto Ele lhes ensinava e pregava,
alguns eram conduzidos à fé e começavam a servir Jesus
como Senhor. Da multidão surgiram tanto discípulos
quanto adversários de Jesus. Fazer discípulos entre
os que formavam a multidão era um dos objetivos
do ministério de Jesus em Israel, e a missão mundial
de que incumbiu os discípulos antes de ascender aos
céus foi que fizessem discípulos das nações.
O DISCIPULADO DE CRISTO EM COMPARAÇÃO A
OUTRAS PROPOSTAS DISCIPULARES
A aula passada abordou as propostas de discipulado
presentes no AT, no contexto judaico-romano e helênico.
Mas, afinal, é possível estabelecer diferenças entre o
chamado de Cristo para o discipulado e o dos outros?
De início, leia com atenção as palavras de Bonhoeffer
a partir das quais já se pode pensar em uma proposta
muito mais radical e visceral de Cristo em comparação
a outros mestres da época:
Ser discípulo significa dar determinados passos. Já
o primeiro passo que segue ao chamado separa o
discípulo de sua existência anterior. Assim, o chamado
ao discipulado cria imediatamente uma nova situação.
Permanecer na situação antiga e ser discípulo é
impossível. (...) Jesus poderia ter proporcionado ao
publicano um novo conhecimento de Deus e permitir
que ele continuasse em sua antiga situação. Isso seria
possível se Jesus não fosse o Filho de Deus feito ser
humano. Como, porém, Jesus é o Cristo, tinha que se
tornar claro de antemão que sua mensagem não é uma
doutrina, mas nova criação da existência. A pessoa que
era chamada compreendia que, para ela, só havia uma
possibilidade de fé em Jesus, a saber, abandonar tudo e
ir com o Filho de Deus feito ser humano.32
E de forma mais objetiva, o autor comenta assim:
Um cristianismo no qual só existe Deus Pai, mas não existe
Cristo como Filho vivo, exclui o discipulado. Somente
porque o Filho de Deus tornou-se humano, por ele ser
Mediador, é que o discipulado constitui o relacionamento
correto com ele. O discipulado está vinculado ao
Mediador, e, onde quer que se fale corretamente do
discipulado, aí se fala do Mediador, Jesus Cristo, Filho de
Deus. Somente o Mediador, Deus feito ser humano, pode
chamar ao discipulado.33
32 Discipulado, p. 36.
33 Idem, p. 42.
Bonhoeffer entende que uma percepção autêntica de
discipulado só pode ser concebida por alguém que
seja mediador entre a humanidade e o próprio Deus.
Inegável é a ousadia e profundidade da proposta de
Cristo ao exigir que seus discípulos morressem para si
mesmos, nascessem novamente e se tornassem novas
criaturas, vinculadas a Ele.
É possível pensarmos também em três elementos que
diferenciam a proposta de discipulado de Cristo das
dinâmicas estudadas anteriormente.
JESUS CRISTO, MESTRE, MEDIADOR, FILHO DE
DEUS, O PRÓPRIO DEUS, TORNA-SE SERVO E
LAVA OS PÉS DOS SEUS DISCÍPULOS.
Jesus sabia que o Pai havia colocado todas as coisas
debaixo do seu poder, e que viera de Deus e estava
voltando para Deus; assim, levantou-se da mesa, tirou sua
capa e colocou uma toalha em volta da cintura. Depois
disso, derramou água numa bacia e começou a lavar os
pés dos seus discípulos, enxugando-os com a toalha que
estava em sua cintura. Chegou-se a Simão Pedro, que lhe
disse: ‘Senhor, vais lavar os meus pés?’ Respondeu Jesus:
‘Você não compreende agora o que estou lhe fazendo;
mais tarde, porém, entenderá’. Disse Pedro: ‘Não; nunca
lavarás os meus pés’. Jesus respondeu: ‘Se eu não os lavar,
você não terá parte comigo’. Respondeu Simão Pedro:
‘Então, Senhor, não apenas os meus pés, mas também as
minhas mãos e a minha cabeça!’” (João 13.3-9).
Interessante notar que o evangelista faz questão
de mencionar a segurança de Jesus a respeito de
quem era, de onde viera e para onde iria (versículo
3), para apenas depois descrever a cena do lava-pés.
Como já foi mencionado, lavar os pés das pessoas
era uma atividade destinada aos escravos, mas foi
protagonizada pelo próprio Cristo. É importante
observar que, assim como Cristo, quando o discípulo
se sente seguro acerca da sua identidade e sabe que
é profundamente amado por Deus, não terá crise
alguma em servir ao seu próximo, mesmo que esse
serviço assuma uma forma considerada humilhante.
No discipulado concebido no AT, em que as
atividades dos mestres e dos discípulos eram bem
delimitadas, sendo o discípulo um servo e executando
atividades destinadas apenas a servos. Cristo rompe
completamente com esse paradigma discipular e
expressa objetivamente: “Pois bem, se eu, sendo Senhor
e Mestre de vocês, lavei-lhes os pés, vocês também devem
lavar os pés uns dos outros. Eu lhes dei o exemplo, para
que vocês façam como lhes fiz” (João 13.14,15).
JESUS CRISTO, SENDO O IDEAL DE HOMEM, O DEUS
ENCARNADO, APROXIMA-SE DAS MULHERES EM
AMOR E RESPEITO.
Os evangelhos conferem proeminência a várias
mulheres que eram discípulas de Jesus. Elas faziam
parte do grupo mais amplo de discípulos de Jesus,
porém algumas o acompanharam fisicamente durante
sua itinerância. Um grande mestre com discípulas
era um fato absolutamente incomum na Palestina
do século I, como se pode concluir na reação dos
próprios discípulos ao encontrar Jesus dialogando
com a mulher samaritana (João 4.27). Essas mulheres,
contudo, preenchiam os mesmos requisitos dos
discípulos de Jesus: haviam pagado o preço e estavam
comprometidas com Ele. O mesmo grupo de mulheres
seguiu Jesus até Jerusalém e assistiu à crucificação.
Algumas delas foram as primeiras a chegar ao túmulo
vazio. Mais adiante, em Atos, é possível encontrar
muitas mulheres desempenhando papéis importantes
na igreja primitiva. Lucas usa com naturalidade a
forma feminina “discípula” em Atos 9.36, indicando
que as mulheres que criam eram chamadas dessa
forma.34 Jesus considerava as mulheres pessoas dignas
e de valor. Isso se vê no fato de curar muitas mulheres,
aceitar mulheres indesejáveis e ritualmente impuras (a
mulher adúltera e a samaritana, por exemplo), além de
lhes perdoar e, implicitamente, questionar a falta de
respeito com que os homens as tratavam.
Em contraste, importante anotar o menosprezo com
que o judaísmo do mundo greco-romano tratava as
mulheres. De acordo com a Toseftá rabínica (compilação
da lei oral), que pode muito bem refletir a tradição do
século I, todos os dias um judeu fazia três orações de
gratidão, inclusive uma em que agradecia a Deus por
não ter nascido mulher.35 Outro elemento importante é
a posição de Jesus em relação ao divórcio. A lei de Moisés
obrigava o homem que não desejasse mais permanecer
casado a entregar à sua mulher uma certidão de
divórcio. Isso significava que ele estava abrindo mão de
qualquer direito sobre ela. Na cultura semita, a mulher
era propriedade do homem; e o casamento e o divórcio
eram regulamentados por transações econômicas. A
mulher repudiada pelo marido e que não recebesse
a certidão de divórcio permanecia vinculada a ele, e
quem quisesse se casar com ela deveria indenizar o
marido. Não era justo repudiar uma mulher sem dar a
ela uma carta de divórcio.
Ao ser questionado sobre esse tema, Jesus deixa claro
que o padrão moral dos seus discípulos implica a relação
34 Dicionário Teológico do Novo Testamento, p. 278.
35 Idem, p. 283.
39
de justiça, especialmente na proteção dos direitos da
mulher. Jesus ainda vai além e aborda a divergência
de dois rabinos de sua época sobre o divórcio. O
rabino Hilel sustentava que qualquer motivo poderia
legitimar um divórcio. Shamai, entretanto, afirmava
que apenas a imoralidade sexual justificava o divórcio.
Ao que parece, Jesus concordou com Shamai, pois
entendia que a relação homem -mulher é sagrada e
por esse motivo ensinava a preservação dessa unidade
a qualquer custo.36
Por fim, vale um destaque bem importante acerca da nova
forma instituída por Cristo acerca do trato com mulheres.
A cultura judaica da época pretendia afastar a mulher
do convívio social e do espaço público porque se tinha
a concupiscência como invencível. O teólogo Joachim
Jeremias comenta, a partir de Mateus 5.28 (“qualquer que
olhar para uma mulher para desejá-la, já cometeu adultério
com ela no seu coração”), que Jesus assume a mulher no
círculo de discípulos porque espera dos seus seguidores
homens que superassem a lascívia e a concupiscência.
Joachim Jeremias comenta o seguinte: “A velha ordem
está sob o domínio da concupiscência, de que o homem
se protege tanto quanto pode. Na nova aliança domina
a pureza, que disciplina até o olhar (bem-aventurados os
puros de coração – Mateus 5.8)”.37
Por fim, vale notar o lugar ocupado pela mulher na
cultura helênica. Os mestres gregos jamais admitiriam
mulheres como discípulas, pois elas eram consideradas
seres inferiores, fracos, cuja função se reduzia à
procriação e à vida doméstica reclusa. Mas Jesus foi
superior a tudo isso, como já vimos.
JESUS CRISTO, O SENHOR ABSOLUTO, FILHO
DE DEUS, REFERE-SE AOS SEUS SEGUIDORES
NÃO COMO ESCRAVOS OU SERVOS, MAS COMO
AMIGOS.
“Vocês serão meus amigos, se fizerem o que eu lhes
ordeno. Já não os chamo servos, porque o servo não sabe
o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado
amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu lhes tornei
conhecido” (João 15.14,15). Jesus ainda se refere aos
seus seguidores como irmãos e mães, ou seja, aproxima-
os tanto a ponto de referenciá-los como participantes
da sua própria família: “Alguém lhe disse: ‘Tua mãe e
teus irmãos estão lá fora e querem falar contigo’. ‘Quem
é minha mãe, e quem são meus irmãos?’, perguntou ele.
E, estendendo a mão para os discípulos, disse: ‘Aqui estão
minha mãe e meus irmãos! Pois quem faz a vontade de
meu Pai que está nos céus, este é meu irmão, minha irmã
36 Talmidim: O passo a passo de Jesus, p. 174.
37 Teologia do Novo Testamento, p. 356.
40
e minha mãe’” (Mateus 12.47-50). Em suas falas, Jesus
também promete uma intensa intimidade entre Ele e os
seus seguidores a ponto de apontar para uma unicidade
entre Mestre e discípulos: “Se alguém me ama, guardará
a minha palavra. Meu Pai o amará, nós viremos a ele e
faremos nele morada” (João 14.23).
JESUS CRISTO É O ÚNICO MESTRE QUE PROMETE E
PROVIDENCIA PODER E FORÇA SOBRENATURAIS
A TODOS AQUELES QUE SE COMPROMETEM EM
SEGUI-LO.
O Espírito Santo é o selo e a garantia de que somos
filhos de Deus e também a fonte de poder de todos os
discípulos de Cristo que vieram após Ele. O Mestre bem
sabia das dificuldades que seus seguidores enfrentariam
e, por isso, assegurou-lhes poder do alto, para agir
sobre seus sentimentos, emoções e razão: orientando-
os, consolando-os, exortando-os, capacitando-
os, fortalecendo-os e empoderando-os com dons
sobrenaturais. É o que podemos observar nestes textos:
“Eu lhes envio a promessa de meu Pai; mas fiquem na cidade
até serem revestidos do poder do alto” (Lucas 24.49).“Pois
naquela hora o Espírito Santo lhes ensinará o que devem
dizer” (Lucas 12.12).“E com isso, soprou sobre eles e disse:
‘Recebam o Espírito Santo’” (João 20.22).“A cada um,
porém, é dada a manifestação do Espírito, visando ao bem
comum. Pelo Espírito, a um é dada a palavra de sabedoria;
a outro, a palavra de conhecimento, pelo mesmo Espírito;
a outro, fé, pelo mesmo Espírito; a outro, dons de cura,
pelo único Espírito; a outro, poder para operar milagres; a
outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a outro,
variedade de línguas; e ainda a outro, interpretação de
línguas” (1Coríntios 12.7-10).
AFINAL, O QUE SIGNIFICAVA SER DISCÍPULO DE
CRISTO?
A seguir você pode conferir alguns aspectos do que
significava e significa ser discípulo de Jesus Cristo. Em
lições posteriores algumas dessas características serão
abordadas com maior profundidade.
Seguir Jesus significava ter intimidade com Ele enquanto
viajava, prestar atenção nele, olhar atentamente para
tudo o que Ele fazia, ouvir o que ele dizia, perceber os
milagres que realizava, dar atenção à maneira como Jesus
se relacionava com seu Pai, como falava com Ele, porque
a grande ambição de um discípulo era ser igual a seu
mestre. O apóstolo Paulo escreve que ser um discípulo
de Jesus significa seguir a Jesus com a intenção de se
tornar semelhante a Ele. O propósito eterno de Deus é ter
muitos filhos à imagem de seu Filho Unigênito, de modo
que Jesus seja o primogênito entre muitos irmãos:
Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem
daqueles que o amam, dos que foram chamados de
acordo com o seu propósito. Pois aqueles que de antemão
conheceu, também os predestinou para serem conformes
à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito
entre muitos irmãos. E aos que predestinou, também
chamou; aos que chamou, também justificou; aos que
justificou, também glorificou (Romanos 8.28-30).
Inclusive, esta é a razão por que Deus concedeu
os dons espirituais: “até que todos (...) cheguemos
à maturidade, atingindo a medida da plenitude de
Cristo” (Efésios 4.13). Confira também 2Coríntios
3.18: “E todos nós, que com a face descoberta
contemplamos a glória do Senhor, segundo a sua
imagem estamos sendo transformados com glória
cada vez maior, a qual vem do Senhor, que é o
Espírito”; e 1João 3.2: “Amados, agora somos filhos de
Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser,
mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos
semelhantes a ele, pois o veremos como ele é”. Ainda,
1João 2.6:“Aquele que afirma que permanece nele,
deve andar como ele andou”. Paulo ainda escreve, ao
expressar seu cuidado com os seus discípulos: “Meus
filhos, novamente estou sofrendo dores de parto por
sua causa, até que Cristo seja formado em vocês”
(Gálatas 4.19), e “A fim de que apresentemos todo
homem perfeito em Cristo” (Colossenses 1.28).
John Stott comenta que há três perspectivas
importantes que apontam para o propósito do
discipulado, que é tornar-se conforme a imagem de
Cristo (Romanos 8.29):“O propósito eterno de Deus (nós
fomos predestinados); o propósito histórico de Deus
(estamos sendo mudados, transformados pelo Espírito
Santo); e o propósito escatológico de Deus (seremos
como ele). Tudo isso contribui para a mesma finalidade
de semelhança com Cristo, pois esse é o propósito de Deus
para o seu povo”.38 O teólogo inglês ainda sugere cinco
dimensões nas quais devemos nos basear a partir do
momento em que nos dispomos a renunciar o eu a fim
de seguir Cristo. Todas elas podem ser compreendidas
a partir do texto de Filipenses 2.5-8: “Seja a atitude de
vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus,
não considerou que o ser igual a Deus era algo a que
devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a
ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo
encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo
e foi obediente até à morte, e morte de cruz!”.
Devemos ser como Cristo em sua encarnação:
“embora sendo Deus, não considerou que o ser igual
38 O discípulo radical, p. 62.
a Deus era algo a que devia apegar-se”. O discípulo
é convocado a seguir o exemplo da humildade de
Jesus, que não levou em conta o seu estado original
de glória e poder, mas em amor e por amor, optou
pela encarnação. John Stott comenta que toda missão
autêntica é encarnacional, ou seja, ela exige contato,
relação e intimidade. A missão encarnacional exige
que os discípulos entrem no mundo de outras pessoas
e apontem a esperança e a cura em Cristo.
Devemos ser como Cristo em seu serviço: “vindo a
ser servo”. Assim como Jesus fez o que era o trabalho
de um escravo, os discípulos não devem considerar
nenhuma tarefa simples ou humilhante. Leia as
palavras do Mestre em João 13.14,15: “Pois bem, se eu,
sendo Senhor e Mestre de vocês, lavei-lhes os pés, vocês
também devem lavar os pés uns dos outros. Eu lhes dei o
exemplo, para que vocês façam como lhes fiz”.
Devemos ser como Cristo em sua longanimidade:“E,
sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si
mesmo”. O discípulo chamado à semelhança de Cristo
deve estar disposto a sofrer e a ser perseguido. Pedro
exorta os seus leitores a não pagarem o mal com
mal (1Pedro 3.9; leia também Romanos 12.21). Cristo
também sofreu e aceitou a humilhação como eventos
que compunham uma missão superior.
Devemos ser como Cristo em sua missão: “foi obediente
até à morte, e morte de cruz”. A morte de Jesus na cruz
foi a forma pela qual Deus reconciliou a humanidade
consigo. Por meio da sua morte substitutiva (nós
deveríamos estar em seu lugar), Cristo possibilitou a
reaproximação da humanidade com o Pai. Da mesma
forma, nós, como seus discípulos, devemos apontar
para a cruz e para o poder da vida sobre a morte como
as Boas-Novas de Deus.
Devemos ser como Cristo em seu amor: “Seja a atitude
de vocês a mesma de Cristo Jesus.” A atitude de Jesus Cristo
que motivou toda a jornada de expiação foi o amor. Leia
o que Paulo escreve em Efésios 5.2: “e vivam em amor,
como também Cristo nos amou e se entregou por nós como
oferta e sacrifício de aroma agradável a Deus”. Nós somos
exortados a amar como Cristo amou. O amor é o principal
motivo pelo qual o discípulo seria reconhecido porque
era o principal motivo pelo qual Cristo fora reconhecido.
“Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se
vocês se amarem uns aos outros” (João 13.35).
Leia a seguir um precioso trecho escrito por C.S. Lewis
a respeito do propósito do discipulado que vem sendo
abordado aqui:
41
Quanto mais tiramos do caminho aquilo que agora
chamamos de “nós mesmos” e deixamos que ele tome
conta de nós, tanto mais nos tornamos aquilo que
realmente somos. Ele é tão grande que milhões e milhões
de “pequenos Cristos”, todos diferentes, não serão
suficientes para expressá-lo plenamente. Foi ele que os
fez a todos. Ele inventou — como um escritor inventa
os personagens de um romance – todos os homens
diferentes que vocês e eu devemos ser. Nesse sentido,
nossos verdadeiros seres estão todos nele, esperando
por nós. De nada vale procurar “ser eu mesmo” sem ele.
Quanto mais resisto a ele e tento viver sozinho, tanto
mais me deixo dominar por minha hereditariedade,
minha criação, meus desejos naturais e o meio em que
vivo. Na verdade, aquilo que chamo com tanto orgulho
de “eu mesmo” é simplesmente o ponto de encontro de
miríades de cadeias de acontecimentos que não foram
iniciadas por mim e não poderão ser encerradas por
mim. Os desejos que chamo de “meus” são meramente
os desejos vomitados pelo meu organismo físico,
incutidos em mim pelo pensamento de outros homens
ou mesmo sugeridos a mim pelos demônios.39
Além de apontar o propósito supremo do discipulado,
que é o discípulo tornar-se como seu mestre, C. S.
Lewis comenta que não há uma percepção saudável
de própria identidade fora da relação com Jesus Cristo.
Compartilhar (10 min)
Reunido em pequenos grupos, leia, reflita e dialogue
sobre as questões propostas:
● Resgate as dimensões do discipulado que
devemos exercer em nossa decisão de seguir
Cristo, conforme proposto por John Stott. De que
forma prática você pode reproduzir o modelo de
Cristo na sua vida através da encarnação, serviço,
longanimidade e missão? Converse sobre isso
com seu pequeno grupo.
● Você se recorda de mais alguma ruptura
paradigmática abordada por Jesus na sua
proposta de discipulado? Converse com o seu
grupo. Qual das inovações instauradas por Jesus
mais chamou a sua atenção? Por quê?
● Você concorda com C. S. Lewis acerca da
perspectiva de que nossa identidade está em
Cristo e de que nada vale tentarmos ser nós
mesmos sem Ele? Pense sobre os possíveis
desdobramentos dessa verdade.
39 Cristianismo puro e simples, p. 68.
42
● De que forma prática você pode reforçar a
proposta de Cristo na sua forma de discipulado,
seja por meio do respeito às mulheres ou qualquer
pessoa que sofra algum tipo de discriminação?
Sintetizar (5 min)
Tente formular as principais contribuições da aula
que surgiram como fruto da leitura do material e/ou
dos diálogos nos pequenos grupos. Tente pensar nos
tópicos abordados que, na sua opinião, são os mais
importantes e relevantes.
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VIVER
Até o próximo encontro
Reflita e ore sobre as dimensões discipulares de Cristo
que foram propostas nesta aula. Escolha uma atitude
correspondente para cada uma delas: encarnação,
serviço, longanimidade e missão. Se necessário, releia
o conteúdo trabalhado em sala. Liste a seguir, após
receber a orientação do Espírito, a atitude escolhida
que corresponda a cada uma dessas atitudes.
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EU CREIO Destaques do meu Tempo A Sós (TAS) com Deus nesta
semana:
Até o próximo encontro
a)__________________________________________
Após o conteúdo trabalhado e a partir das suas
próprias reflexões, escreva a seguir uma confissão de ____________________________________________
fé. Permita que ela seja correspondente à ministração
____________________________________________
do Espírito ao seu coração. O que Deus deseja que
você passe a crer ou de que forma você deve passar ____________________________________________
a agir?
____________________________________________

__________________________________________ b)__________________________________________

____________________________________________ ____________________________________________

____________________________________________ ____________________________________________

____________________________________________ ____________________________________________

____________________________________________ ____________________________________________

____________________________________________ c)__________________________________________

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Vida Discipular ____________________________________________
SOLICITAÇÃO DE CONTAS
Nome do Relacionamento Discipulador (RD):
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Material:____________________________________
Data:_______________________________________
Local:_______________________________________

Destaques da semana:
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43
Aula 8
O Ser de Cristo
Orar (10 min)
Leia com atenção e cuidado as palavras de Keith
Phillips:
Os ensinamentos de Cristo têm sido interpretados de
modos variados – da ética idealista às ordens legalistas.
Mas não importa como os outros entendam o ensino dele,
ao estudar a vida de nosso Senhor, vemos claramente
que ele esperava que seus discípulos praticassem aquilo
que lhes ensinou. Jesus exigiu excelência em tudo o que
seus discípulos faziam. Sua ênfase principal no Sermão
do Monte, como em todas as suas instruções, estava
sobre a justiça ou retidão – essa característica interior
que fornece a base para toda a conduta exterior. (...)
Uma pessoa pode ficar desanimada se acreditar que
esse nível de desempenho que se espera está muito
acima de suas capacidades. Contudo, os dons divinos
de graça e poder acompanham as exigências de
Deus. Porque Cristo está em você (Colossenses 1:27), a
santidade é atingível.40
Você costuma relativizar as orientações dadas pelo
Mestre com diversas argumentações? Lê as narrativas
em que Ele cura, prega e ensina e pensa que esse
ministério não está reservado a você, somente a Ele
por ser, afinal, o próprio Cristo? Pensa que é impossível
amar sacrificialmente como Ele amou? Reflita que
essa é a vontade perfeita de Deus para nós. Mas
nunca esqueça que, justamente, porque os ideais
são elevados, a graça também é. Ela nos acolhe, nos
levanta do chão (exatamente no ponto onde caímos)
e nos pede que prossigamos. Tenha um tempo de
oração sobre isso.
40 A formação de um discípulo, p. 68.
44
A destruição gerada pelo pecado
Debater (15 min)
Com a bíblia em mãos, reúna-se em um pequeno
grupo e, com os seus colegas, tente identificar os
testemunhos dados a respeito de Jesus Cristo a partir
dos capítulos 1 e 5 do Evangelho de João. Escolha mais
dois textos com o grupo que revelem o testemunho
de pessoas e/ou situações a respeito da identidade de
Jesus Cristo.
Quem é Jesus Cristo a partir dos testemunhos
dos capítulos 1 e 5 de João e dos outros capítulos
escolhidos pelo grupo?
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Refletir (30 min)
Os versículos lidos do Evangelho de João apontam
para quatro testemunhos importantíssimos a respeito
da identidade de Jesus, como o Cristo. Eles são: as
Escrituras, João Batista, as obras, sinais e milagres de
Jesus e o próprio Deus. Houve o acréscimo também
do reconhecimento de Jesus a respeito de si próprio e
a clareza que Ele tinha sobre sua identidade e missão.
A partir desses reconhecimentos testemunhais, é
possível prosseguir na compreensão do significado de
Jesus Cristo para a fé cristã.
Vamos fazer algumas considerações essenciais
acerca do significado de Jesus Cristo para a teologia
cristã e para o discipulado a partir das quatro fontes
testemunhais apontadas pelos capítulos lidos do
Evangelho de João.41
O NT é a fonte primária de onde podem ser extraídas
as percepções acerca de Cristo, mas algumas das
referências atribuídas a Ele devem ser lidas no contexto
do AT. O próprio termo Cristo é na verdade um título,
com uma variedade de significados que podem ser
compreendidos apenas à luz da expectativa do AT
em relação à vinda do Messias (em grego, Christos). A
seguir, você confere as principais linhas de expressão
da identidade de Jesus Cristo.
TESTEMUNHO DAS ESCRITURAS
O Messias prometido. A palavra grega Christos traduz
o termo hebraico Mashiah, reconhecido em sua forma
transliterada Messiah (Messias), cuja raiz significa
“o ungido”. Embora o antigo Israel ungisse profetas
e sacerdotes, o termo foi principalmente reservado
para a unção de um rei. Ser ungido (ter óleo de oliva
esfregado ou derramado sobre a cabeça) era um sinal
público de ter sido escolhido por Deus para a função
de rei. O texto profético de Isaías 9.2-7 dá um belo
vislumbre acerca desse Messias:
O povo que caminhava em trevas viu uma grande luz; sobre
os que viviam na terra da sombra da morte raiou uma luz.
Fizeste crescer a nação e aumentaste a sua alegria; eles se
alegram diante de ti como os que se regozijam na colheita,
como os que exultam quando dividem os bens tomados na
batalha. Pois, tu destruíste o jugo que os oprimia, a canga
que estava sobre os seus ombros, e a vara de castigo do seu
opressor, como no dia da derrota de Midiã. Pois, toda bota
de guerreiro usada em combate e toda veste revolvida em
sangue serão queimadas, como lenha no fogo. Porque um
menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está
sobre os seus ombros. E ele será chamado Maravilhoso
Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz.
Ele estenderá o seu domínio, e haverá paz sem fim sobre o
trono de Davi e sobre o seu reino, estabelecido e mantido
com justiça e retidão, desde agora e para sempre. O zelo do
Senhor dos Exércitos fará isso.42
41 A seção Para Refletir está substancialmente baseada na obra Teo-
logia Sistemática, Histórica e Filosófica, do teólogo Alister McGrath.
42 Leia também Isaías 11.1-9 e Zacarias 9.9-10.
O próprio Jesus reconhecia que Ele era o cumprimento
das profecias acerca do Messias, Ungido de Deus:
Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías. Abriu-o e
encontrou o lugar onde está escrito: “O Espírito do
Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar
boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar
liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos,
para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do
Senhor”. Então ele fechou o livro, devolveu-o ao assistente
e assentou-se. Na sinagoga todos tinham os olhos fitos
nele; e ele começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu a
Escritura que vocês acabaram de ouvir” (Lucas 4.17-21).
E, ainda, ao aprovar o reconhecimento de Pedro, que
foi gerado pelo Espírito Santo: “Simão Pedro respondeu:
‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo’. Respondeu Jesus:
‘Feliz é você, Simão, filho de Jonas! Porque isto não lhe foi
revelado por carne ou sangue, mas por meu Pai que está
nos céus’” (Mateus 16.16,17). De acordo com alguns
estudos, estima-se que existam mais de trezentas
profecias messiânicas ao longo do AT.
TESTEMUNHO DE JOÃO BATISTA
“Vejam! É o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo!” (João 1.29). A salvação foi possibilitada pela
vida, morte e ressurreição de Cristo. Leia as palavras
de Irineu, um dos “pais” da igreja, a esse respeito:
“Quando Cristo encarnou e assumiu a forma humana,
ele recapitulou em si mesmo toda a história da raça
humana, obtendo para nós a salvação, de forma que
pudéssemos reconquistar em Jesus Cristo aquilo que
havíamos perdido por meio de Adão, isto é, a condição
de criaturas feitas à imagem e semelhança de Deus”43.
O apóstolo Paulo também estabelece contrapontos
muito significativos entre Adão (por meio de quem,
representativamente, o pecado acessou a humanidade)
e Jesus Cristo (por meio de quem a humanidade pode
novamente desfrutar da intimidade perdida com o seu
Criador). Leia atentamente os versículos que seguem:
Não se pode comparar a dádiva de Deus com a
consequência do pecado de um só homem: por um
pecado veio o julgamento que trouxe condenação, mas
a dádiva decorreu de muitas transgressões e trouxe
justificação. Se pela transgressão de um só a morte
reinou por meio dele, muito mais aqueles que recebem
de Deus a imensa provisão da graça e a dádiva da
justiça reinarão em vida por meio de um único homem,
Jesus Cristo. Consequentemente, assim como uma
só transgressão resultou na condenação de todos os
43 Contra as Heresias, p. 87.
45
homens, assim também um só ato de justiça resultou
na justificação que traz vida a todos os homens. Logo,
assim como por meio da desobediência de um só homem
muitos foram feitos pecadores, assim também, por meio
da obediência de um único homem muitos serão feitos
justos. A lei foi introduzida para que a transgressão fosse
ressaltada. Mas onde aumentou o pecado, transbordou
a graça (Romanos 5.16-20).
Leia também o que o escritor de Hebreus escreve a
respeito do fundamento da salvação:
Mas, visto que vive para sempre, Jesus tem um
sacerdócio permanente. Portanto ele é capaz de salvar
definitivamente aqueles que, por meio dele, aproximam-
se de Deus, pois vive sempre para interceder por eles. É de
um sumo sacerdote como este que precisávamos: santo,
inculpável, puro, separado dos pecadores, exaltado acima
dos céus. Ao contrário dos outros sumos sacerdotes, ele
não tem necessidade de oferecer sacrifícios dia após
dia, primeiro por seus próprios pecados e, depois, pelos
pecados do povo. E ele fez isso de uma vez por todas
quando a si mesmo se ofereceu. Pois a Lei constitui
sumos sacerdotes a homens que têm fraquezas; mas
o juramento, que veio depois da Lei, constitui o Filho,
perfeito para sempre (Hebreus 7.24-28).
O livro de Hebreus expressa uma verdade poderosa:
Jesus Cristo, Deus encarnado, é capaz de salvar
perfeitamente aqueles que se achegam a Deus.
TESTEMUNHO DAS OBRAS, SINAIS E MILAGRES
O historiador sobre o século I Robert Grant, comentando o
Evangelho de Marcos, afirmou que “é difícil achar qualquer
grão não milagroso no Evangelho”44. Dos 661 versículos
que se encontram nesse Evangelho, 209 tratam de
milagres. Jesus não só pregou a chegada do reino de Deus
como também a demonstrou por intermédio do ministério
de cura, expulsão de demônios e outros milagres. Eles
faziam parte normal do seu ministério (Mateus 4.23). Até
os judeus mais hostis a Jesus reconheceram-no como
operador de maravilhas e exorcista. Também Jesus deu
aos seus doze discípulos a autoridade para realizar estas
operações, como sinal e demonstração de que o Reino
estava próximo (Mateus 10.7), e fez o mesmo com os
setenta discípulos (Lucas 10.8,9). Estes sinais evidenciaram
a chegada do Reino e a vitória consequente sobre Satanás
e seu poder (Mateus 11.22-28).
Quando examinamos os momentos “críticos” ou
“momentos-chave” na história, quando havia um
avanço significativo nos propósitos redentores de
44 Citado por Tim Carriker em Todos os milagres do Novo Testamento.
46
Deus, sempre encontramos sinais extraordinários.
Para quê? Para que todos soubessem que Iahweh é
o Deus verdadeiro e o glorificassem. Qualquer outra
motivação além desse testemunho bíblico deve levar
a certa suspeita. Portanto, os milagres servem a um
propósito missionário. Dirigem-se ao mundo com a
finalidade de chamá-lo para glorificar a Deus.
Há 35 milagres atribuídos a Jesus nos evangelhos:
1. Transformou água em vinho — João 2.1-11
2. Curou o filho de um funcionário público — João
4.46-54
3. Curou um paralítico no poço — João 5.1-9
4. Curou um cego de nascimento — João 9.1-41
5. Alimentou 5.000 homens com 5 pães e 2 peixes
— João 6.5-13
6. “Pegou altas ondas” sem prancha e sem se
molhar! — João 6.19-21
7. Ressuscitou Lázaro — João 11.1-44
8. Pescou 153 grandes peixes sem se molhar! —
João 21.1-11
9. Expulsou um demônio que dominava um homem
— Lucas 4.33-35
10. Curou a sogra de Pedro — Lucas 4.38,39
11. Pescou peixes que encheram dois barcos — Lucas
5.1-11
12. Curou um leproso — Lucas 5.12,13
13. Curou um paralítico descido pelo telhado —
Lucas 5.17-25
14. Curou o homem de mão aleijada — Lucas 6.6-10
15. Curou o empregado de um oficial romano —
Lucas 7.1-10
16. Ressuscitou o filho de uma viúva — Lucas 7.11-15
17. Acalmou uma tempestade — Lucas 8.22-25
18. Curou o homem dominado por legião de
demônios — Lucas 8.27-35
19. Curou a filha de Jairo — Lucas 8.41-56
20. Curou uma mulher com hemorragia — Lucas 8.43-48
21. Curou um menino endemoninhado — Lucas 9.38-43
22. Expulso um demônio de mudez — Lucas 11.14
23. Curou uma moça que estava torta havia 18 anos
— Lucas 13.11-13
24. Curou o homem com as pernas e braços inchados
— Lucas 14.1-6
25. Curou 10 leprosos — Lucas 17.11-19
26. Curou um mendigo cego — Lucas 18.35-43
27. Previu a negação de Pedro — Lucas 22.31-34
 28. Sarou a orelha cortada do empregado do sumo
sacerdote — Lucas 22.50,51
29. Curou dois cegos — Mateus 9.27-31
30. Tirou uma moeda da boca de um peixe — Mateus
17.24-27
31. Curou a filha endemoninhada de uma mulher
cananeia — Mateus 15.21-28
32. Alimentou 4.000 homens com 7 pães e alguns
peixes — Mateus 15.32-38
33. Secou uma figueira infrutífera — Mateus 21.18-22
34. Curou um surdo-mudo — Marcos 7.31-37
35. Curou outro cego — Marcos 8.22-26
TESTEMUNHO DE DEUS, O PAI
“Eu não o teria reconhecido, se aquele que me enviou
para batizar com água não me tivesse dito: ‘Aquele sobre
quem você vir o Espírito descer e permanecer, esse é o que
batiza com o Espírito Santo’” (João 1.33), e “Então uma
voz dos céus disse: ‘Este é o meu Filho amado, em quem
me agrado’” (Mateus 3.17). O AT emprega o termo Filho
de Deus em um sentido amplo, cuja melhor tradução
talvez seja “aquele que pertence a Deus”. Ele era aplicado
a um vasto espectro de categorias, que incluía, de modo
geral, o povo de Israel (Êxodo 4.22) e, especificamente,
o rei Davi e seus sucessores, que deveriam reinar sobre
esse povo (2 Samuel 7.14). No NT, Jesus é compreendido
como Filho de Deus, especialmente por Paulo e pelo
escritor de Hebreus. Paulo afirma, por exemplo, que
Jesus havia sido designado Filho de Deus devido à sua
ressurreição (1Tessalonicenses 1.10). O apóstolo usa
o termo Filho de Deus tanto em relação a Jesus como
aos cristãos, mas traça uma distinção importante: os
cristãos são filhos por adoção enquanto Cristo é o Filho
de Deus (Romanos 8.29,32).
O quarto evangelho, de João, também faz referência a
Jesus como sendo o Filho de Deus. E estabelece também
uma diferença entre o termo Filho para Jesus, enquanto o
termo mais genérico filhos tende a se aplicar aos cristãos.
Confira os versículos a seguir: “Porque Deus tanto amou o
mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que
nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3.16),
“Ao ouvir isso, Jesus disse: ‘Essa doença não acabará em
morte; é para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja
glorificado por meio dela’”. (João 11.4), “Então Natanael
declarou: ‘Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel!’”
(João 1.49), “Eu vi e testifico que este é o Filho de Deus”
(João 1.34) e “Eu lhes afirmo que está chegando a hora, e já
chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e
aqueles que a ouvirem, viverão” (João 5.25).
Para a maioria dos estudiosos cristãos, o termo Filho
do Homem é compatível ao termo Filho de Deus. É uma
afirmação da humanidade de Cristo, assim como o
termo Filho de Deus é uma afirmação complementar
da sua divindade. O termo ocorre em três contextos
principais do AT:
a) como uma espécie de vocativo utilizado pelo profeta
Ezequiel (“Portanto, profetize contra eles; profetize, filho
do homem” - Ezequiel 11.4; “Filho do homem, apresente
uma alegoria e conte uma parábola à nação de Israel”
- Ezequiel 17.2; e “Filho do homem, faça um lamento a
respeito de Tiro” - Ezequiel 27.2);
b) como referência à figura escatológica de Daniel 7.13,14;
c) como ênfase sobre o contraste entre a humildade e
fragilidade da natureza humana e a elevada posição
ou a estabilidade de Deus e dos anjos (“Deus não
é homem para que minta, nem filho de homem para
que se arrependa. Acaso ele fala, e deixa de agir? Acaso
promete, e deixa de cumprir?”– Números 23.19, e
“Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos,
a lua e as estrelas que ali firmaste, pergunto: Que é
o homem, para que com ele te importes? E o filho do
homem, para que com ele te preocupes?”– Salmo 8.3,4).
Nas palavras de George Caird, estudioso do NT, Jesus
usou o termo acerca de si próprio a fim de “indicar sua
união essencial com a humanidade e, acima de tudo, com
o fraco e humilde, como também para indicar sua função
especial como representante predestinado do novo Israel
e portador do julgamento e do reino de Deus”45.
O testemunho de Deus a respeito de Jesus é muito
importante também, pois Cristo é considerado como
aquele em quem Deus se revela de uma maneira
particular, específica e singular. Talvez uma das
declarações mais expressivas acerca dessa crença seja
encontrada nos escritos do teólogo Karl Barth:
Quando a Sagrada Escritura fala sobre Deus, ela não nos
permite deixar que nossa atenção ou pensamentos vaguem
ao acaso... Quando a Sagrada Escritura fala sobre Deus,
ela concentra nossa atenção e pensamentos sobre um
único ponto e sobre o que devemos conhecer sobre ele... Se
continuarmos nos questionando a respeito do único ponto
sobre o qual, de acordo com as Escrituras, nossa atenção e
pensamentos devem se concentrar, então, do começo ao
fim, a Bíblia aponta-nos o nome de Jesus Cristo.46
Leia também os versículos a seguir de João 1: “No
princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e
45 Citado em Teologia sistemática, histórica e filosófica, p. 362.
46 Idem, p. 368.
47
era Deus. Ela estava com Deus no princípio” (João 1.1,2), e
“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, pleno de graça e
de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito
do Pai” (João 1.14). Confira também as palavras de Jesus a
Filipe, num texto já transcrito em aula anterior:
Disse Filipe: ‘Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta’.
Jesus respondeu: ‘Você não me conhece, Filipe, mesmo
depois de eu ter estado com vocês durante tanto
tempo? Quem me vê, vê o Pai. Como você pode dizer:
‘Mostra-nos o Pai’? Você não crê que eu estou no Pai e
que o Pai está em mim? As palavras que eu lhes digo
não são apenas minhas. Pelo contrário, o Pai, que vive
em mim, está realizando a sua obra. Creiam em mim
quando digo que estou no Pai e que o Pai está em mim;
ou pelo menos creiam por causa das mesmas obras
(João 14.8-11).
JESUS CRISTO A RESPEITO DE SI PRÓPRIO
“Se testifico acerca de mim mesmo, o meu testemunho não
é válido. Há outro que testemunha em meu favor, e sei que
o seu testemunho a meu respeito é válido. Vocês enviaram
representantes a João, e ele testemunhou da verdade.
Não que eu busque testemunho humano, mas menciono
isso para que vocês sejam salvos” (João 5.31-34). Embora
Jesus tenha dado a entender que seu testemunho acerca
de si próprio não seria válido, Ele faz isso ao longo dos
evangelhos, e o propósito de fazê-lo está estampado nos
versículos citado, isto é: Ele deseja que a humanidade
seja salva.
Como foram apresentadas também quatro outras
fontes testemunhais, de acordo com a cultura judaica
o testemunho de uma pessoa acerca de si própria se
torna igualmente válido. Na Bíblia não há registros
de Jesus dizendo, palavra por palavra “Eu sou Deus”.
Entretanto, isto não significa que Ele não tenha
afirmado ser Deus. Como exemplo, tome as palavras
de Jesus em João 10.30: “Eu e o Pai somos um”. Em um
primeiro olhar, isto pode não parecer uma afirmação
de Jesus em ser Deus. Entretanto, perceba a reação
dos judeus à sua afirmação: “Responderam os judeus:
‘Não vamos apedrejá-lo por nenhuma boa obra, mas
pela blasfêmia, porque você é um simples homem e
se apresenta como Deus’” (João 10.33). Os judeus
compreenderam a afirmação de Jesus como uma
declaração de ser Deus. Nos versículos seguintes Jesus
não corrige os judeus dizendo “Eu não afirmei ser
Deus”. Isto indica que Jesus realmente estava dizendo
que é Deus ao declarar “Eu e o Pai somos um”.
João 8.58 nos dá outro exemplo: “Respondeu Jesus: ‘Eu
lhes afirmo que antes de Abraão nascer, Eu Sou!’”. Mais
48
uma vez, em resposta, os judeus tomaram pedras
em uma tentativa de apedrejar Jesus (João 8.59). Por
que os judeus iriam querer apedrejar Jesus se Ele não
tivesse dito algo que criam ser uma blasfêmia, ou seja,
uma afirmação de ser Deus? João 1.1 diz que o Verbo
“era Deus”, João 1.14 diz que o Verbo “se fez carne”. Isso
claramente indica que Jesus é Deus em carne. Atos
20.28 nos diz assim: “Cuidem de vocês mesmos e de
todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo os colocou
como bispos, para pastorearem a igreja de Deus, que ele
comprou com o seu próprio sangue”. Quem comprou
a igreja com seu próprio sangue? Jesus Cristo, que é
Deus. Tomé, o discípulo, declarou a respeito de Jesus:
“Senhor meu e Deus meu!” (João 20.28), e Jesus não
o corrige. Tito 2.13 nos encoraja a esperar pela volta
de nosso Deus e Salvador, Jesus Cristo (veja também
2Pedro 1.1). Em Hebreus 1.8, o Pai declara o seguinte
a respeito de Jesus: “Mas a respeito do Filho, diz: ‘O
teu trono, ó Deus, subsiste para todo o sempre; cetro de
equidade é o cetro do teu Reino’”. Nas Escrituras, várias
vezes Jesus recebe adoração (Mateus 2.11; 14.33; 28.9
e 17; Lucas 24.52; João 9.38). Ele nunca reprovou as
pessoas quando o adoraram. Jesus Cristo, portanto, é
Deus e deve ser adorado. Há muitos outros versículos
e passagens das Escrituras que atestam a favor da
divindade de Jesus.
A razão mais importante para Jesus ser Deus é que,
se Ele não o fosse, sua morte não teria sido suficiente
para pagar a pena pelos pecados do mundo inteiro
(1João 2.2). Somente Deus poderia pagar um preço tão
infinito. Somente Deus poderia carregar os pecados
do mundo (2Coríntios 5.21), morrer e ressuscitar,
provando sua vitória sobre o pecado e a morte. Outro
reconhecimento importante é que Jesus Cristo é o
Senhor (Romanos 10.9). Essa foi uma das primeiras
confissões da fé cristã, servindo para distinguir os que
criam dos que não criam em Jesus.
A palavra grega kyrios (Senhor) era reservada a Deus.
Flávio Josefo, historiador judeu, registra um importante
incidente no qual os judeus se recusaram a participar
do culto ao imperador, que era uma parte central da
religião civil do Império Romano. Eles se recusaram a se
referir ao imperador como senhor (kyrios), pela crença
de que esse termo era aplicável somente a Deus. O uso
do termo para referir-se a Jesus no NT veio dessa rica
tradição, revelando um alto grau de identidade entre
Jesus e Deus. O NT está repleto de menções a Cristo
como o Senhor. Ressalta-se aqui o texto de Filipenses
2.9-11: “Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe
deu o nome que está acima de todo nome, para que ao
nome de Jesus se dobre todo joelho, no céu, na terra e
debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo
é o Senhor, para a glória de Deus Pai”. É muito possível,
inclusive, que Paulo tenha feito referência ao texto
de Isaías 45.23: “Diante de mim todo joelho se dobrará;
junto a mim toda língua jurará”.
Franco Zeffirelli, consagrado cineasta italiano, retrata
uma cena belíssima em seu filme Jesus de Nazaré
(1977). A cena se baseia no trecho dos evangelhos
em que Pedro reconhece que Jesus Cristo é o Filho do
Deus Vivo – o próprio Deus, por assim dizer. Assim que
esse reconhecimento é gerado em Pedro pela ação
do Espírito Santo, o apóstolo cai de joelhos perante
Jesus. A expressão corporal de reverência e adoração
frente a essa descoberta proporcionada pela ação
divina é muito bem retratada pelo diretor. A cena se
desenrola quando os outros discípulos também são
tomados pelo temor proveniente do reconhecimento
de que estavam frente a frente com o Deus encarnado.
A partir desse reconhecimento, um a um, todos caem
prostrados aos pés de Jesus. Os discípulos de Cristo são
inevitavelmente ADORADORES, porque reconhecem
que seu mestre é o próprio Deus encarnado.
Por fim, leia com muita atenção as palavras de
C.S. Lewis a respeito da posição humana frente ao
reconhecimento de Jesus Cristo como Deus:
Estou tentando impedir que alguém repita a rematada
tolice dita por muitos a seu respeito: “Estou disposto a
aceitar Jesus como um grande mestre da moral, mas
não aceito a sua afirmação de ser Deus”. Essa é a única
coisa que não devemos dizer. Um homem que fosse
somente um homem e dissesse as coisas que Jesus disse
não seria um grande mestre da moral. Seria um lunático
– no mesmo grau de alguém que pretendesse ser um
ovo cozido — ou então o diabo em pessoa. Faça a sua
escolha. Ou esse homem era, e é, o Filho de Deus, ou
não passa de um louco ou coisa pior. Você pode querer
calá-lo por ser um louco, pode cuspir nele e matá-lo
como a um demônio; ou pode prosternar-se a seus
pés e chamá-lo de Senhor e Deus. Mas que ninguém
venha, com paternal condescendência, dizer que ele
não passava de um grande mestre humano. Ele não
nos deixou essa opção, e não quis deixá-la. (…) Agora,
parece-me óbvio que Ele não era nem um lunático nem
um demônio, consequentemente, por mais estranho,
assustador e inacreditável que possa parecer, tenho que
aceitar a ideia de que Ele era e é Deus.47
C.S. Lewis põe a questão de forma muito objetiva e
visceral. Compreender Jesus Cristo como um mestre
da moral é uma atitude incompreensível. Mais sensato,
portanto, é compreendê-lo como um louco ou como
47 Cristianismo puro e simples, p. 84.
sendo quem Ele realmente alegava e demonstrava ser: o
próprio Deus. E se Ele é Deus, nós devemos ADORÁ-LO.
Compartilhar (10 min)
Em pequenos grupos, conversem a respeito das
questões propostas:
● Qual dos termos atribuídos a Cristo você mais
aprecia? Por quê? Converse com o seu grupo.
● Pense em consequências práticas que derivam
do reconhecimento de Jesus como Messias,
Filho de Deus, Filho do Homem, Senhor e
Deus, nas dimensões pessoais (para você,
enquanto indivíduo) e relacionais (como esses
reconhecimentos, a partir das suas especificidades,
devem interferir nas suas relações).
Sintetizar (5 min)
Tente registrar as principais contribuições desta aula
que surgiram como fruto da leitura do material e/ou
dos diálogos nos pequenos grupos.
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PARA VIVER
Até o próximo encontro
Separe um tempo significativo durante a semana e
com a Bíblia, um caderno e o material trabalhado pelo
Ser de Cristo, pergunte para Deus qual das dimensões
acerca da identidade de Jesus Cristo precisa ser
aprofundada na sua vida e consciência. Reflita, ore e
fale com Ele.
Portanto, visto que temos um grande sumo sacerdote que
adentrou os céus, Jesus, o Filho de Deus, apeguemo-nos
com toda a firmeza à fé que professamos, pois não temos
um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das
49
nossas fraquezas, mas sim alguém que, como nós, passou
por todo tipo de tentação, porém, sem pecado. Assim sendo,
aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança,
a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que
nos ajude no momento da necessidade (Hebreus 4.14-16).
Aproxime-se do trono com toda a confiança que
repousa sobre a graça!
EU CREIO
Até o próximo encontro
Elabore sua confissão de fé a partir das reflexões
propostas e do conteúdo lido. Tente pensar com
carinho em quem Jesus Cristo é para VOCÊ. Seja
sincero. É possível que a relação que você tenha
estabelecido com Ele seja a de um admirador? Talvez
alguém que comporia a grande multidão que o cercava
e se admirava com as suas palavras e feitos? Quem
sabe você nunca tenha permitido que sua existência
sentisse o efeito profundamente transformador e
drástico que vem do reconhecimento de que Jesus
Cristo é o próprio Deus? Fale com Deus a respeito
dessas questões e, caso sinta necessidade, procure o
seu discipulador a fim de refletirem e orarem juntos.
Material:____________________________________
Data:_______________________________________
Local:_______________________________________
Destaques da semana:
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Destaques do meu Tempo A Sós (TAS) com Deus nesta
semana:
a)__________________________________________

Quando é que você se torna um discípulo de Cristo? ____________________________________________

Quando vai à frente em resposta a um apelo? Quando
____________________________________________
chora sinceramente? Nem sempre. Os primeiros
seguidores de Cristo tornaram-se discípulos quando lhe ____________________________________________
obedeceram, quando “eles, deixando imediatamente seu
pai e o barco, o seguiram”.48 ____________________________________________
b)__________________________________________
__________________________________________ ____________________________________________
____________________________________________ ____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
c)__________________________________________
____________________________________________
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Vida Discipular ____________________________________________

SOLICITAÇÃO DE CONTAS
Nome do Relacionamento Discipulador (RD):
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____________________________________________
48 A formação de um discípulo, p. 69.

50

O Ser de Cristo e o
Reino de Deus
Orar (10 min)
A respeito de Gálatas 2.20: “Fui crucificado com Cristo.
Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim.
A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho
de Deus, que me amou e se entregou por mim”, Keith
Phillips afirma:
Um grande paradoxo da vida está em que existe imensa
liberdade nessa morte. O morto já não se preocupa com
seus direitos, com sua independência ou com a opinião
dos outros a seu respeito. Ao unir-se espiritualmente
ao Cristo crucificado, riquezas, segurança e status – as
coisas que o mundo tanto almeja – perdem o valor. (...) A
pessoa que toma a cruz, que está crucificada com Cristo,
não fica ansiosa pelo amanhã porque seu futuro está nas
mãos de outro.49
Status, segurança, a opinião dos outros a seu respeito,
poder, dinheiro ainda são preocupações que tiram o
seu sono e o impedem de desfrutar a bênção que é
viver o domínio de Cristo sobre a sua vida? Você se
considera morto? Como isso soa para você? Converse
com Deus a respeito em sinceridade. Peça ao Espírito
que o ajude a confiar na promessa: “Quem acha a sua
vida a perderá, e quem perde a sua vida por minha causa
a encontrará” (Mateus 10.39). A vida verdadeira está
depois da morte do eu.
Debater (25 min)
Reúna-se em pequeno grupo e leia atentamente
os seguintes textos: Mateus 12.28, 13.1-58, Lucas
17.20,21, 22.29,30, Colossenses 1.13,14 e mais dois
textos da sua escolha.
49 A formação de um discípulo, p. 36.
Aula 9
O Reino inaugurado por Cristo
Após a leitura cuidadosa dos textos, você e seu grupo
serão desafiados a atentar aos detalhes dos textos:
contexto, personagens, assuntos abordados, figuras
de linguagem e sentido. Logo em seguida, tentem
esboçar as ideias do grupo, formuladas a partir da
leitura dos textos, a respeito do significado do reino de
Deus (o que é, quem faz parte, a quem é destinado).
Recomendações: caso se lembre de outros textos que
auxiliem na atividade, sinta-se livre para utilizar. Tente
não recorrer a conceitos preconcebidos, mas vazios
de sentido e significado. Fique à vontade para usar
figuras de linguagem atuais como meio de auxiliar na
formulação dos textos. Afinal, Jesus fazia muito isso.
Reino de Deus:
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Agora tente refletir o motivo pelo qual Jesus Cristo
propagava um novo reino, o reino dos Céus. Baseie
sua resposta nos textos de Efésios 2.1-3, 1João 5.19 e
Mateus 4.8,9.
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51
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Leia a parábola contada por Jesus em Lucas 14.15-24
e o sermão do monte em Mateus 5.1-11 (em especial
o versículo 3). Agora, tente associá-los aos seguintes
textos:
“A característica do novo povo de Deus congregado por
Jesus é saber do caráter irrestrito da graça.”50
“Bem-aventurados aqueles que, no mais profundo de
sua carência espiritual, acolhem a promessa do reino de
Deus. Eles são comuns, gente certamente presente na
multidão, em torno dos discípulos, pessoas oprimidas,
enfermas, abandonadas, usurpadas de seus direitos,
fragilizadas. Jesus disse que é sobre essa gente que veio o
Reino de Deus. São eles, pobres em espírito, que estão em
marcha em direção ao reino, porque é essa, na verdade,
sua única, legítima e suficiente felicidade.”51
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Refletir (25 min)
AFINAL, O QUE É UM REINO?
Reino é uma forma de governo em que a autoridade
reside em um rei. Esses governos se estendem sobre
todos os territórios e pessoas que estão debaixo do
domínio desse rei.
50 JEREMIAS, Joachim. Teologia do Novo Testamento, p. 286.
51 Idem, p. 297.
52
PORQUE UM NOVO REINO?
Sabemos, por intermédio da Bíblia, que Deus é o criador
da Terra e de tudo que existe. Ele é “o Rei de toda a terra”
(Salmo 47.7), o “grande Deus, o grande Rei acima de todos
os deuses” (Salmo 95.3). Em Deus está a fonte de toda a
autoridade. Ele é o rei absoluto do universo por direito
inerente, por ser seu criador, dono e sustentador. Deus
é a autoridade suprema sobre tudo o que existe, sobre o
que é visível e o que é invisível, sobre a criação, os anjos,
a humanidade, a história, as nações e os eventos futuros.
Por ser autoridade, um dia Ele julgará a todos com
justiça. Deus é o Rei do universo e Rei Eterno (Salmos
93.1,2; 99.1; 145.13; 146.10). Quando Deus criou este
mundo, Ele o deixou aos cuidados dos seres humanos:
“Os mais altos céus pertencem ao Senhor, mas a terra ele a
confiou aos homens” (Salmo 115.16).
Porém, a Bíblia relata os fatos de uma grande rebelião
no universo. Um dos seres mais poderosos que Deus
havia criado se rebelou contra Ele, arrastou consigo parte
das milícias celestes e cooptou a humanidade para sua
rebelião. A humanidade deu ouvido a esse ser e também
se rebelou contra Deus. Agora, com uma natureza
pecaminosa e carente da glória de Deus (Romanos 3.23),
o homem está sujeito a pensamentos e intenções do
coração que o levam para longe de Deus (Efésios 2.1-3;
Romanos 1.28), sendo presa fácil de Satanás, “o príncipe
do poder do ar, o espírito que agora está atuando nos que
vivem na desobediência” (Efésios 2.2).
Satanás lidera um reino contrário ao reino de Deus
com a intenção de roubar a lealdade das pessoas,
enganá-las e destruí-las. Com a queda do ser humano
no jardim do Éden,“o mundo todo está sob o poder do
Maligno” (1João 5.19), e seu governo de influência está
sobre todos que vivem na desobediência (Efésios 2.2).
Por esse motivo ele mesmo mostrou ao Senhor Jesus
“todos os reinos do mundo” e disse: “Eu lhe darei toda a
autoridade sobre eles e todo o seu esplendor, porque me
foram dados e posso dá-los a quem eu quiser” (Lucas 4.6).
Mas, como tem sido notado ao longo do módulo, Deus
não abre mão da humanidade, e era chegada a hora
da redenção e da vitória sobre Satanás. Então, Jesus
Cristo, o Deus encarnado, veio trazer as Boas-Novas de
um novo reino sob o domínio do Rei verdadeiro.
PARA QUEM É O REINO?
“Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o
Reino dos céus” (Mateus 5.3),“Vá rapidamente para as
ruas e becos da cidade e traga os pobres, os aleijados, os
cegos e os mancos” (Lucas 14.21).
Na primeira bem-aventurança (Mateus 5.3) há uma
identificação muito forte com as antigas escrituras
judaicas, como o Salmo 37, em que os mansos e humildes
herdarão a terra, ou Isaías 61, em que os quebrantados
de coração, os espiritualmente feridos e os que tremem
diante da Palavra de Deus são estimados pelo Pai. Jesus
identifica seus discípulos com essa gente, mas fala de
carências muito mais profundas e absolutas.
Esses “pobres de espírito” ou “humilhados do sopro”,
conforme traduz o biblista Chouraqui52, também são os
humilhados do Espírito. São aqueles que, conscientes
de sua absoluta e profunda miséria, receberam o
sopro do Espírito. Bem-aventurados aqueles que, no
mais profundo de sua carência espiritual, acolhem a
promessa do reino de Deus. Eles são pessoas comuns,
gente certamente presente na multidão em torno dos
discípulos, pessoas oprimidas, enfermas, abandonadas,
usurpadas de seus direitos, fragilizadas. Jesus diz que
é sobre essa gente que veio o reino de Deus. São
eles, pobres em espírito, que estão em marcha em
direção ao Reino, porque é essa, na verdade, sua única,
legítima e suficiente felicidade. Bem-aventurados os
que tremem diante da promessa do reino de Deus. Os
seguidores de Jesus estão com os olhos abertos para
os pobres. E também estão conscientes de sua própria
pobreza, isto é, sabem que sua verdadeira riqueza está
em marchar no reino de Deus.
Leia a seguir a afirmação:
“Bem-aventurados os pobres de espírito”. O que é
pobreza de espírito? É o oposto daquela disposição
soberba, autoafirmativa e autossuficiente que o
mundo tanto admira e louva. É o exato reverso
daquela atitude independente e desafiante que recusa
se curvar diante de Deus, que determina enfrentar as
coisas, e que diz como Faraó: “Quem é o Senhor, para
que eu obedeça a Sua voz?” (Êxodo 5:2). Ser pobre de
espírito é perceber que eu não tenho nada, não sou
nada, não posso fazer nada e que tenho necessidade
de todas as coisas. A pobreza de espírito é evidente
numa pessoa que é trazida ao pó diante de Deus, para
reconhecer seu completo desamparo. É a primeira
evidência experiencial de uma obra da graça divina
dentro da alma, e corresponde ao despertar inicial
do pródigo no país distante, quando ele ‘começou a
passar necessidades (Lucas 15:14).53
Nas palavras de Dallas Willard: “E, portanto, ele disse:
‘Bem-aventurados os analfabetos espirituais – os
espiritualmente falidos, despossuídos e deficientes, os
52 Citado em Talmidim: O passo a passo de Jesus, p. 84.
53 PINK, Arthur W. A primeira beatitude.
mendigos espirituais, aqueles que não têm nenhuma
lágrima de ‘religião’ – quando o reino dos céus vem sobre
eles’”. E ainda:
Quando Jesus falava, em torno dele havia gente
completamente destituída de qualidades ou capacidades
espirituais. Você jamais poderia contar com eles para
realizar alguma “obra espiritual”. Nada neles sugeria que
o sopro de Deus pudesse se mover nas suas vidas. Não
tinham nenhum carisma, nenhuma inclinação ou brilho
religioso. Eles “não conhecem a sua Bíblia”. Eles “não
conhecem a lei”, como disse um crítico posterior da obra
de Jesus. São “meros leigos”, que na melhor das hipóteses
podem ocupar um banco de igreja ou, quem sabe, dar
uma oferta. Ninguém os chama para conduzir um culto
ou mesmo para fazer uma oração, e podem fraquejar se
alguém lhes pedir isso. Eles são os primeiros a lhe dizer que
“realmente não entendem nada de religião”. Passam por
nós às centenas ou milhares todo dia. Seriam os últimos
a dizer que têm qualquer ideia sobre Deus. As páginas
dos Evangelhos estão abarrotadas de gente assim. E no
entanto: “Ele me tocou”. O reino dos céus desce sobre as
suas vidas pelo contato com Jesus. E então eles também
são bem-aventurados – curados no corpo, na mente ou no
espírito – nas mãos de Deus.54
É interessante notar que os pobres em espírito são
chamados bem-aventurados por Jesus não porque
estejam numa condição meritória, mas porque, apesar
disso e em meio à sua sempre tão deplorável condição,
o reino dos Céus lhes traz a redenção pela graça de
Cristo. O reconhecimento da pobreza de espírito é o
primeiro passo para o alcance da graça de Deus. Como
já mencionado, é o estado mais oposto à arrogância,
soberba e autossuficiência, que são componentes (ou
sinônimos) do grande pecado. A fim de que o discípulo
se torne adorador e multiplicador, ele precisa manter a
consciência de sua necessidade da graça redentora de
Deus. É a contrição e a humildade que o mantêm em
posição de dependência do Espírito.
REINO DOS CÉUS
De forma objetiva, podemos entender que o reino
de Deus ou reino dos Céus é um governo soberano,
dinâmico e escatológico55 de Deus. O reino de Deus é
um governo eterno de Deus, e seu âmbito é universal,
e não limitado à nação judaica. O Reino era iminente
e foi inaugurado por Jesus, estando perfeitamente
associado à sua pessoa e missão.
54 Quem está realmente bem? – As bem-aventuranças.
55 Escatologia se refere ao ensino sobre as últimas coisas, especi-
ficamente à consumação da história e aos acontecimentos direta-
mente associados a esse momento.
53
O termo grego usado para “reino de Deus” é Basileia,
e designa um governo ou domínio do qual Deus é
soberano e governante. O evangelho fala desse reino,
que não é humano, mas sim o governo de Deus sobre
as pessoas. João 18.36,37: “Disse Jesus: ‘O meu Reino
não é deste mundo. Se fosse, os meus servos lutariam
para impedir que os judeus me prendessem. Mas agora
o meu Reino não é daqui’. ‘Então, você é rei!’, disse Pilatos.
Jesus respondeu: ‘Tu dizes que sou rei. De fato, por esta
razão nasci e para isto vim ao mundo: para testemunhar
da verdade. Todos os que são da verdade me ouvem’”
(Ver também Lucas 17.20,21 e João 3).
O reino dos Céus é o governo de Deus de hoje para toda
a eternidade. Em João capítulo 3, Jesus começa falando
sobre ver o Reino e entrar no Reino, mas logo depois fala
sobre ter a vida eterna. As palavras reino e vida (eterna)
estão associadas uma à outra. Lucas 17.20,21:“Certa vez,
tendo sido interrogado pelos fariseus sobre quando viria
o Reino de Deus, Jesus respondeu: ‘O Reino de Deus não
vem de modo visível, nem se dirá: ‘Aqui está ele’, ou ‘Lá
está’; porque o Reino de Deus está entre vocês’”. Romanos
14.17: “Pois o Reino de Deus não é comida nem bebida,
mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo”.
Jesus começa a pregar o reino dos Céus, e o cenário de
governo de Satanás sobre os seres humanos começa a
mudar. Quando Jesus declara que “o tempo é chegado”
e “o Reino de Deus está próximo” (Marcos 1.15), Ele
está dizendo que alguém maior que o inimigo estava
presente, restaurando o reinado de Deus nesta terra.
Esta é a boa notícia, o significado da palavra evangelho:
a boa notícia era que o Rei chegou e um novo tempo
começou a se estabelecer sob o reinado dele. “O tempo
é chegado” declarava o fim de um período, o fim de uma
era. Ou seja, chegou a “plenitude do tempo” (Gálatas
4.4), o tempo esperado ansiosamente por aqueles que
aguardavam a ação transformadora de Deus.“O Reino
de Deus está próximo” significa que ele está ao nosso
alcance. Aqueles que creem nessa mensagem se
tornam cidadãos do reino dos Céus: “Portanto, vocês já
não são estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos
dos santos e membros da família de Deus” (Efésios 2.19).
“Então, Jesus aproximou-se deles e disse: ‘Foi-me dada
toda a autoridade no céu e na terra.’” (Mateus 28.18).
O reino de Deus se estende por toda a terra por
intermédio das vidas que foram entregues ao senhorio
do Rei Jesus. Uma profecia do AT, em Isaías capítulo
9, mostra como o reino de Deus veio com a primeira
vinda do Senhor Jesus, mas crescerá e continuará
eternamente: “Porque um menino nos nasceu, um filho
nos foi concedido. O governo está sobre os seus ombros,
e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte,
54
Pai Eterno, Príncipe da Paz. O seu domínio aumentará,
e haverá paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o
seu reino, para estabelecê-lo e firmá-lo em retidão e em
justiça, desde agora e para sempre. O zelo do SENHOR
dos Exércitos fará isso” (Isaías 9.6,7).
O “JÁ” E O “AINDA NÃO” DO REINO
John Stott ajuda na compreensão temporal do reino
de Deus, pregado por Cristo. Segundo ele, no NT
há uma perspectiva de que nós estamos vivendo
“tempos intermediários” entre o passado e o futuro,
entre a primeira e a segunda vindas de Cristo, entre o
que foi feito e o que resta por fazer, entre a realidade
presente e o destino futuro, entre o Reino que veio e
o Reino que virá; em resumo, entre o “já” (instauração
do Reino) e o “ainda não” (consumação do Reino).
Do ponto de vista físico, é naturalmente impossível
olhar ao mesmo tempo para duas direções opostas;
espiritualmente falando, porém, é essencial que o
façamos, olhando para trás, para a encarnação e
todas as suas implicações, e olhando para a frente,
para a volta de Cristo e tudo o que ela trará. A partir
da leitura dos evangelhos, podemos ver que o Reino
se manifestou claramente no ensino de Cristo, como
também foi anunciado como algo que se consumará
no futuro mediante a sua vinda.
Que Jesus considerava e descreveu o reino como um
fenômeno presente, disso não há dúvida. Ele ensinou
que o tempo do cumprimento havia chegado; que
agora o “valente” estava amarrado e desarmado,
facilitando que lhe saqueassem os bens, como era
evidente a partir de seus exorcismos (por exemplo,
Mateus 12.29); que o Reino já estava ou “dentro” ou
“entre” as pessoas (Lucas 17.21); que agora se podia
“entrar” nele ou “recebê-lo” (por exemplo, Mateus 19.24
e Marcos 10.15); e que, desde o tempo de João Batista,
seu precursor, que havia anunciado sua chegada
iminente, o reino de Deus vinha sendo “tomado por
esforço” e que “aqueles que se esforçam” se haviam
“apoderado dele” (Mateus 11.12).
Porém, na perspectiva de Jesus o Reino era também
uma expectativa futura. Ele só seria aperfeiçoado no
último dia. Assim ele olhava em direção ao fim, e ensinou
seus discípulos a fazerem o mesmo. Eles deviam orar
“Venha o teu reino” (Mateus 6.10) e “buscá-lo primeiro”
(Mateus 6.33), dando prioridade a sua expansão. Leia a
esclarecedora abordagem de John Stott:
Vivendo entre o presente e o futuro, a situação
característica dos cristãos é descrita de variadas maneiras:
tendo esperança, aguardando, aguardando com ardente
expectativa, gemendo. Afinal, nós ainda passamos por
lamentáveis provações e tribulações. Na verdade, “nós
temos que ver a realidade desse sofrimento como uma
manifestação concreta do ainda não”. Enquanto isso,
precisamos aguardar, não só “com ardente expectativa”
mas também “com paciência”. Como escreveu John
Murray: “Tentativas de reclamar para a vida presente
elementos que pertencem à perfeição consumada... são
apenas sintomas dessa impaciência que iria interromper
a ordem divina. Expectativa e esperança não devem
cruzar as fronteiras da história; elas têm que esperar o fim,
‘a liberdade da glória dos filhos de Deus”. A essência do
período intermediário entre o “já” e o “ainda não”, entre o
reino que veio e o reino que virá, é a presença do Espírito
Santo no povo de Deus. Por um lado, a dádiva do Espírito
é a bênção que distingue o reino de Deus e é, portanto, o
principal sinal de que a nova era se aproxima. Por outro
lado, já que o fato de o Espírito habitar em nós é apenas
o princípio da nossa herança no reino, ele é também a
garantia de que um dia o resto haverá de ser nosso. O
Novo Testamento usa três metáforas para ilustrar isso.
O Espírito Santo é “as primícias”, garantindo assim que
virá a plena colheita; ele é o “penhor”, ou a primeira
parcela do pagamento, garantindo com isso que haverá
o pagamento completo; e é o antegosto, garantia de que
o banquete completo será desfrutado um dia. Assim,
o Espírito Santo é “tanto o cumprimento da promessa
como a promessa do cumprimento: ele é a garantia de
que o novo mundo de Deus já começou, e também um
sinal de que esse novo mundo ainda há de vir”.56
O teólogo alemão Jürgen Moltmann afirma o seguinte
a respeito da proximidade e futura consumação (o já e
o ainda não):
Ele se tornou tão próximo que os sinais do tempo
messiânico já aparecem: doentes são curados, demônios
são expulsos, coxos andam, surdos ouvem, aos pobres
é anunciado o Evangelho. Ele está tão perto que já se
pode orar a Deus como “Abba”, Pai querido. Já se tornou
tão próximo que se torna necessária a interpretação
messiânica da Torá por meio do Sermão do Monte em
que seu cumprimento se torna possível no discipulado
de Cristo. (...) O agir libertador de Deus deve, por isso,
ser entendido como a imanência do reino escatológico
de Deus, e o reino vindouro deve ser entendido como a
transcendência do atual domínio de Deus.57
Em lições anteriores acerca do Ser de Deus, estudamos
que, além de essencialmente amoroso e relacional,
Criador absoluto e Espírito Pessoal, Deus também é
56 Ouça o Espírito, ouça o mundo: como ser um cristão contemporâ-
neo, p. 61.
57 O Caminho de Jesus Cristo, p. 57.
transcendente e imanente. O interessante é perceber,
de acordo com a citação anterior, que o Reino também
pode ser caracterizado da mesma forma: imanente (o
agir libertador de Deus já é notado) e transcendente
(sua consumação ainda está por vir e está para além
da ordem atual).
OS DOIS REINOS
Com a vinda do Senhor Jesus, duas opções de governo
existem e são diametralmente opostas. No NT esses
dois tipos de governo estão identificados como
império das trevas e reino de Deus. Isso é claramente
revelado quando o apóstolo Paulo declara que o
Pai “nos tornou dignos de participar da herança dos
santos no reino de luz. Pois ele nos resgatou do domínio
das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho
amado” (Colossenses 1.12,13).
Ao se deixar viver segundo os próprios critérios, os
sistemas humanos e os desejos do coração (Efésios
2.2,3), e ao se deixar ser levado pela disposição natural
de sua mente (Romanos 1.28), o ser humano está
naturalmente vivendo sob o governo do “príncipe do
poder do ar, o espírito que agora está atuando nos que
vivem na desobediência” (Efésios 2.2). Satanás se tornou,
por usurpação, “o príncipe desse mundo” (João 12.31;
Efésios 2.2). Com seus demônios, ele exerce uma força
espiritual maligna cujo propósito é transtornar, arruinar
e destruir o homem (Efésios 2.1,2; 6.11-13; João 10.10).
Por isso, a rejeição ao governo de Deus coloca o ser
humano sob a influência e o governo de Satanás.
É importante entender que nossos recursos humanos não
são suficientes para fazer frente ao diabo. Devemos levar
em conta que a raiz do mal do homem está em sua rebelião
intrínseca, seu egoísmo, sua pretensa independência de
Deus. Ao não levar Deus em conta, nem reconhecê-lo
como dono e rei, o ser humano está seguindo o mesmo
caminho de Satanás e, como consequência, terminará
debaixo de seu domínio. Por isso precisamos depender
de Cristo, pois “para isso o filho de Deus se manifestou: para
destruir as obras do diabo” (1João 3.8).
O reino de Jesus Cristo é o governo de Deus aceito
individualmente pelo ser humano que se arrepende
de seu estado de rebeldia e se submete novamente
ao Criador e Senhor de todas as coisas. Seu governo
é exercido na luz, com justiça, santidade e amor. O
governo sempre reflete o caráter do governante. Nesse
caso, é Jesus Cristo quem governa com a autoridade
que surge de sua morte e de sua ressurreição, pelas
quais revelou o amor e a justiça de Deus, e a Ele foi
dada toda autoridade nos céus e na terra.
55
O REINO EM AÇÃO
Lucas 17.20,21: “Certa vez, tendo sido interrogado
pelos fariseus sobre quando viria o Reino de Deus, Jesus
respondeu: ‘O Reino de Deus não vem de modo visível, nem
se dirá: ‘Aqui está ele’, ou ‘Lá está’; porque o Reino de Deus
está entre vocês”. Há algo intrinsecamente subversivo
sobre o reino de Deus, que vem invadindo este mundo
tenebroso, derrotando as forças de Satanás e trazendo
a presença dos céus na terra. O Senhor Jesus descreveu
o Reino como sendo o grão de mostarda que cresce e se
torna uma árvore e o “fermento que uma mulher misturou
com uma grande quantidade de farinha, e toda a massa
ficou fermentada” (Lucas 13.19-21). O profeta Daniel o
viu como sendo uma “pedra que (...) encheu a terra toda”,
um “reino que jamais será destruído, (...) destruirá todos
esses reinos e os exterminará, mas (...) durará para sempre”
(Daniel 2.35,44).
O Senhor Jesus manifestou-se “para destruir as obras
do diabo” (1João 3.8); Ele “andou por toda parte fazendo
o bem e curando todos os oprimidos pelo diabo, porque
Deus estava com ele” (Atos 10.38). A salvação, a libertação
e a cura são ações contra as obras do inimigo, contra seu
reino. Essas obras confirmam a realidade do evangelho,
da proclamação da presença do reino de Deus. O Senhor
Jesus explicou que Ele expulsava demônios como prova
de que Ele tinha vencido o “valente” Satanás e que o
reino de Deus tinha chegado (Lucas 11.20).
Somente quando o Senhor Jesus voltar, depois que
o evangelho do Reino for “pregado em todo o mundo”
(Mateus 24.14), o Reino estará completo: “Mas cada
um por sua ordem: Cristo, o primeiro; depois, quando ele
vier, os que lhe pertencem. Então virá o fim, quando ele
entregar o Reino a Deus, o Pai, depois de ter destruído
todo domínio, autoridade e poder. Pois é necessário que
ele reine até que todos os seus inimigos sejam postos
debaixo de seus pés” (1Coríntios 15.23-25). Finalmente,
haverá um dia quando será proclamado que “o reino
do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele
reinará para todo o sempre” (Apocalipse 11.15).
Porém, até então nós já podemos viver neste mundo,
nesta vida, como cidadãos do reino de Deus. Podemos
proclamar e presenciar a manifestação de seu poder, e
aqui provar “os poderes da era que há de vir” (Hebreus
6.5), e ver “o Reino de Deus vindo com poder” (Marcos
9.1). Podemos orar como o Senhor Jesus nos ensinou:
“venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim
na terra como no céu” (Mateus 6.10), e presenciar a
manifestação do poder e da presença do seu Reino,
revelando-se por meio de salvações, libertações, curas,
e sinais miraculosos. Também devemos trabalhar para
56
promover este Reino, que “não é comida nem bebida,
mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Romanos
14.17). “Pois o reino de Deus não consiste de palavras,
mas de poder” (1Coríntios 4.20).
Leia estas profundas palavras a respeito do efeito
da inauguração do Reino que já está em ação e cuja
consumação está por vir:
Jesus expulsa demônios e cura doentes, ele expulsa os
poderes destrutivos da criação e restabelece as criaturas
machucadas e doentes. O domínio de Deus que ele
testemunha por meio da cura de doentes sara a criação
enferma. As curas de Jesus não são milagres sobrenaturais
num mundo natural, mas a única coisa “natural” num
mundo desnatural, demonizado e machucado. As
parábolas de Jesus como parábolas do reino de Deus são
também as parábolas da nova criação no quotidiano desse
mundo exausto.58
Compartilhar (15 min)
Em pequenos grupos, converse a respeito das questões
propostas:
● Você se identifica de alguma forma com os
convidados do grande banquete oferecido
por Jesus? Você estava entre os mancos,
cegos e aleijados? Como você ficou sabendo
do banquete? Qual foi a sua reação a ele?
Compartilhe com o grupo.
● A partir da perspectiva de que há dois reinos
em ação no mundo, é possível pensar em um
território neutro? Comente.
● Compartilhe com seus colegas algumas das
evidências da chegada do Reino na sua vida.
● Pense e faça um comentário sobre algumas
evidências da chegada do Reino no mundo.
Reflita também sobre realidades em relação às
quais o Reino parece estar muito distante. Pode
mencionar exemplos das mais diversas esferas
(social, relacional, política, ecológica e espiritual).
● Reflitam e conversem sobre essa última citação.
Sintetizar (3 min)
Contribua com a formulação das principais conclusões
da aula que surgiram como fruto da leitura do material
e/ou dos diálogos nos pequenos grupos.
58 O Caminho de Jesus Cristo, p. 96.
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VIVER
Até o próximo encontro
Pense, ore e reflita sobre alguma realidade com a
qual você convive em que as pessoas ainda não
foram alcançadas pelo reino de Deus. Talvez as Boas-
Novas lhes pareçam uma fábula ou conto de fadas.
A perspectiva de serem intensa e profundamente
amadas é extremamente remota. Peça ao Espírito de
Deus que lhe dê uma estratégia a fim de que você as
aproxime do Rei de verdade, que ama, alcança, acolhe
e cuida. Essa estratégia pode ser desde simplesmente
convidá-las para uma refeição e comunicar o amor
de Deus até se envolver de fato com a vida dessas
pessoas, estreitando laços. Se você, seguidor de Cristo,
estiver realmente disposto e desejoso por ouvir a Deus,
Ele falará. Ele lhe dará meios, estratégias e poder do
Espírito para a realização da missão de fazer discípulos.
Reflita também sobre sua posição diante da realidade
do Reino. Você já compreendeu que estar submisso ao
Rei Jesus Cristo implica estar em guerra contra o príncipe
usurpador, que é Satanás? Como está a sua consciência
acerca dessa batalha? Quais são as suas armas? Fale
com Deus sinceramente sobre seu posicionamento.
EU CREIO
Até o próximo encontro
A respeito da instauração do reino de Deus e seu
poder atuante para libertar, curar, redimir e confrontar
a maldade, formule sua declaração de fé.
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Vida Discipular
SOLICITAÇÃO DE CONTAS
Nome do Relacionamento Discipulador (RD):
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Material:____________________________________
Data:_______________________________________
Local:_______________________________________
Destaques da semana:
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Destaques do meu Tempo A Sós (TAS) com Deus nesta
semana:
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b)__________________________________________
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c)__________________________________________
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57
Aula 10
O Ser nascido
de novo
Orar (10 min)
Leia atentamente as palavras de Henri Nouwen, que
refletem com graça a paternidade de Deus frente à
rebelião de Adão e do filho pródigo de Lucas 15:
A rebelião de Adão e de todos os seus descendentes é
perdoada e a bênção pela qual Adão recebeu a vida
imortal é restaurada. Parece-me que essas mãos (as de
Deus) estiveram sempre estendidas – mesmo quando
não havia ombros sobre os quais descansá-las. Deus
nunca abaixou os braços, jamais retirou sua bênção,
nunca deixou de considerar seu filho como o Amado.
Mas o Pai não podia forçar o filho a permanecer em
casa. Não podia impor o seu amor ao seu Amado. Tinha
que deixar que se fosse em liberdade embora sabendo a
dor que isso causaria a ambos. Foi o próprio amor que o
impediu de manter o filho em casa a qualquer preço. Foi
ainda o amor que fez que deixasse o filho procurar o seu
caminho, mesmo com o risco de perdê-lo. Aqui o mistério
da minha vida é revelado. Sou amado a tal ponto que
tenho liberdade para abandonar a casa. A bênção existe
desde o princípio. Deixei e deixo o lar muitas vezes, mas o
Pai está sempre me buscando com braços estendidos para
me receber de volta e de novo sussurrar aos meus ouvidos:
“Tu és o meu Amado, sobre ti ponho todo o meu carinho”.59
Você está certo de que é profundamente amado por
Deus, independentemente da sua condição? Que
Deus o deixa ir para longe justamente porque o ama e
respeita sua decisão? Que não vai parar de tentar atraí-
lo novamente para os seus braços? Seremos discípulos
que amam os outros somente quando descansarmos
na certeza de que somos alvo do mais profundo amor
e afeto do Pai. Ore por um momento.
59 A volta do filho pródigo, p. 52.
58
O novo nascimento e a filiação do discípulo
Debater (20 min)
Reúna-se em pequenos grupos. A partir dos textos de
João 3.3-21, 2Coríntios 5.17, 1João 5.1-5 e 18, Tiago
1.18, 1Pedro 1.3 e Efésios 2.4,5, tente formular algumas
ideias sobre o novo nascimento. O que é? Como se dá?
Quem o produz? Quais são suas evidências? Caso sinta
necessidade de recorrer a outros textos, fique à vontade.
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Leia atentamente o texto de Romanos 8.14-17. Como
consequência de termos sido gerados por Deus num
novo nascimento, passamos a nos relacionar com Ele
como Pai. Tente localizar outros três textos em que Jesus
ou os discípulos se relacionam com Deus dessa forma.
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Refletir (25 min)
Na aula passada, um conteúdo significativo sobre o reino
de Deus foi lido, debatido e refletido. Hoje, o desafio será
ponderar sobre o significado e as implicações do novo
nascimento proposto por Jesus, e sua consequência
imediata: o direito de seus seguidores, aqueles que
ouviram o seu chamado e o aceitaram, relacionarem-se
com Deus como Pai, ou Abba.
Logo de início, Jesus declara, em João 3.3: “Digo-lhe
a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não
nascer de novo”.
O QUE É NASCER DE NOVO?
Seguir Jesus implica uma experiência de
transcendência, uma abertura para o universo e a
realidade espiritual. Seguir Jesus é passar da morte
para a vida, das trevas para a luz. Para descrever esta
profunda experiência de ruptura que arremessa o ser
humano para outra dimensão de existência, Jesus
usou a figura de nascer de novo, ou renascer. Assim
como há o nascimento natural, que é físico, biológico
(chamado por Jesus de “nascer da carne”), há também
o nascimento espiritual (chamado por Jesus de “nascer
do Espírito”). Há um momento na vida do discípulo
quando a realidade espiritual se descortina e a própria
presença de Deus e do Espírito de Deus se torna
experiência pessoal e sagrada. Nas palavras de Ed
René Kivitz, nascer de novo “é essa experiência quando
o Espírito de Deus está unido ao nosso espírito. A partir
dessa experiência, passamos a interagir consciente e
voluntariamente com o Espírito de Deus. Nesse nascer de
novo nós nos rendemos a Deus e confessamos: ‘Eu abro
mão do controle da minha vida para experimentar o seu
Espírito agindo sobre o meu espírito.’ Eis o maravilhoso
mistério do renascer”.60
A. W. Tozer também comenta o assunto:
Para entrar no reino de Deus, explicou o Senhor, o homem
tem de nascer de novo (João 3.3-7). Isto é, ele precisa
passar por uma transformação espiritual. Isto concorda
completamente com a pregação de João Batista, que
conclamava os seus ouvintes a preparar o caminho do
Senhor produzindo frutos dignos de arrependimento, e com
o apóstolo Pedro, que lembrava aos cristãos primitivos que
eles tinham sido feitos coparticipantes da natureza divina
e tinham fugido da corrupção que o mundo sofrera pela
concupiscência (2 Pedro1.4). Contudo, a mudança inicial
não é a única que o homem redimido experimentará. Toda
sua vida cristã consistirá de uma sucessão de mudanças,
60 Talmidim: O passo a passo de Jesus, p. 73.
movendo-se sempre rumo à perfeição espiritual. Para
realizar estas mudanças, o Espírito Santo emprega vários
meios, sendo que provavelmente os mais eficientes são os
escritos do Novo Testamento.61
Leia também estes trechos de Charles Spurgeon:
Um novo nascimento é o processo mais radical e integral
concebível. É, de fato, algo mais que uma mudança,
é uma criação. A regeneração é algo mais que uma
mudança de vida ou de ter uma religião apropriada, pois
não diz: “necessário vos é ser lavados, necessário vos é
ser melhorados, necessário vos é ser elevados”; mas diz:
“necessário vos é nascer”. Não basta que a vida presente, tal
como se vê, seja renovada, nem que a natureza existente
receba um vigor renovado e uma nova tendência, mas
que “necessário vos é nascer de novo”: tem que se receber
uma vida nova e nenhuma melhoria da vida presente
ocupará seu lugar. É também muito mais que uma
mudança de opinião. Sempre tive medo daquelas pessoas
que se gloriam quando são convertidas de um conjunto
de opiniões religiosas a outro. Os melhores convertidos
que se integram a uma igreja são aqueles que chegam
diretamente do mundo; os que migram de outras seções
do Cristianismo não são frequentemente as aquisições
mais valiosas. Algumas vezes, tal como os convictos que
abandonam seu país pelo bem do mesmo, beneficiam
mais a seu grupo abandonando-o que mostrando-se
ante a seção recém-adotada da igreja como simples lucro.
O texto não diz: “vocês têm que mudar suas opiniões e
absorver novos conceitos”, mas diz: “necessário vos é ter
uma nova natureza; necessário vos é nascer de novo”.
Os conceitos podem ser modificados uma e outra vez e,
contudo, o homem pode não estar mais perto de converter-
se em um filho de Deus; mas se o Espírito Santo muda a
natureza, então se realiza o novo nascimento. Isto, e nada
que não chegue a isto, é o que pode levar um homem ao
céu; tem que converter-se em uma nova criatura em Cristo
Jesus. O processo do novo nascimento é tão completo
que é muitíssimo mais que uma modificação na forma de
pensar de um indivíduo, ainda que fosse sobre o melhor
dos assuntos. Um homem pode considerar agora que seu
dever é ser religioso quando antes era um libertino; pode
conceber agora que seu dever é ser sóbrio quando antes
era um bêbado; pode sentir que é seu dever agora ser
diligente quando antes era um imprudente; mas todas
essas coisas tomadas em seu conjunto não equivaleriam
a um novo nascimento. Nos regozijamos com uma
reforma do tipo que for. Quanto menos pecado houver
no mundo melhor, mas, apesar de tudo isso, não se teria
alcançado o ponto vital por meio de todas as alterações do
pensamento, e ainda da vida, das que foi capaz o homem;
61 O melhor de A. W. Tozer, p. 47.
59
pois o texto segue vigente depois de todas as renovações,
conversões e reformas que são possíveis para a carne e o
sangue, desprovidas de ajuda, e clama com voz severa e
inalterável: “Necessário vos é nascer de novo”.62
Quem produz o novo nascimento? Podemos nós
mesmos nos regenerarmos?
A Escritura mostra com clareza que apenas Deus pode
realizar a transformação necessária para capacitar os seres
humanos a fazerem o que é agradável aos Seus olhos
(Deuteronômio 30.6, Jeremias 31.33 e Ezequiel 36.26).
Em João 1.12,13 lemos o seguinte: “Contudo, aos que o
receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito
de se tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram por
descendência natural, nem pela vontade da carne nem
pela vontade de algum homem, mas nasceram de Deus”.
Repare que ser filho de Deus não é algo que se consegue
pela descendência (“não nasceram por descendência
natural”) nem pela decisão humana autônoma (“nem
pela vontade da carne”), mas exclusivamente pela ação
de Deus (“de Deus”).
Para sermos filhos de Deus, precisamos ser espiritual-
mente gerados por Ele. A regeneração é uma obra to-
talmente divina realizada pelo Espírito no coração do
pecador. Em João 3, diante da dificuldade de Nicode-
mos em entender as suas palavras (v. 4), Jesus declara
ainda com mais clareza: “Digo-lhe a verdade: Ninguém
pode entrar no Reino de Deus, se não nascer da água e do
Espírito” (v. 5). No AT, a água era usada para simbolizar
a purificação interna. O uso mais notável desse sím-
bolo é visto em Ezequiel, quando o Senhor anuncia a
futura restauração de Israel: “Aspergirei água pura so-
bre vocês, e vocês ficarão puros; eu os purificarei de todas
as suas impurezas e de todos os seus ídolos” (Ezequiel
36.25). Então Jesus está dizendo que, se a pessoa não
for purificada por Deus, ela não pode entrar no Reino.
O Espírito, por sua vez, é o agente divino que produz o
novo nascimento. Portanto, Jesus está afirmando a ne-
cessidade de purificação interior e regeneração para
que a pessoa possa entrar no reino de Deus.
Nesse novo nascimento, somos totalmente depen-
dentes da ação do Espírito. Jesus ensina que “o vento
sopra onde quer. Você o escuta, mas não pode dizer de
onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todos
os nascidos do Espírito” (João 3.8). A ação do Espírito
na regeneração é misteriosa, como os movimentos
do vento. Quando Jesus diz que “o que nasce da car-
ne é carne, mas o que nasce do Espírito é espírito” (v. 6),
Ele não está usando a palavra “carne” no sentido de
62 projetospurgeon.com.br
60
“natureza humana escravizada pelo pecado”, como
Paulo faz frequentemente, mas no sentido de “fraque-
za humana”. O sentido do texto é que aquele que tem
um nascimento apenas físico continua sendo uma
pessoa não regenerada, mas aquele que é nascido do
Espírito se torna uma pessoa regenerada, um filho de
Deus. A regeneração, portanto, provoca em nós uma
mudança real: deixamos de ser simplesmente criaturas
de Deus e nos tornamos filhos de Deus.
Quais são as evidências do novo nascimento?
A primeira carta de João também é repleta de
ensinamentos sobre a regeneração. Em 1João 2.29, ele
afirma que a pessoa regenerada pratica a justiça. Isso
mostra que a regeneração, embora aconteça em um
dado momento no tempo, é manifestada na vida do
crente pelos efeitos que ela produz.
A regeneração não nos torna perfeitos. Mesmo depois
de regenerados, continuamos tendo que lidar com o
problema do pecado, como o próprio João ensina: “Se
afirmarmos que estamos sem pecado, enganamo-nos
a nós mesmos, e a verdade não está em nós” (1João 1.8).
Seremos perfeitos somente quando formos glorificados.
No entanto, a regeneração coloca em nosso coração uma
disposição nova, uma disposição para o bem, que agrada
a Deus, uma disposição para a santidade, de modo que
não mais servimos ao pecado como escravos. Em 1João
4.7, João afirma que a pessoa regenerada ama seus
irmãos, sendo esta mais uma evidência da regeneração.
Uma pessoa regenerada reconhece em outra pessoa
regenerada um irmão em Cristo. Somos regenerados
individualmente, mas, quando isso acontece, somos
imediatamente inseridos na família cristã.
Em 1João 5.1, o apóstolo afirma que a pessoa regenerada
tem fé em Jesus. Esse “em Jesus” é fundamental.
O regenerado não tem fé em um ídolo, não tem fé
nas riquezas deste mundo, não tem fé em si mesmo.
O regenerado tem fé em Jesus. João também afirma que
“o que é nascido de Deus vence o mundo” (1João 5.4). Essa
vitória, porém, não é alcançada pela sabedoria deste
mundo, mas pela fé em Jesus.
Sendo regenerados por Deus, somos também
preservados por Ele. Nem mesmo o diabo pode nos
fazer voltar ao antigo estado de mortos espirituais e
inimigos de Deus. Uma vez que recebemos de Deus
a vida espiritual, Ele mesmo a preservará em nós.
Reconciliados com Deus em Cristo, não voltaremos ao
antigo estado de hostilidade permanente contra Ele.
Nas palavras de Spurgeon:
Notem que cada nascimento põe em operação uma
nova força. Nasce um novo trabalhador; ele é fraco
ainda, mas esses pezinhos serão fortes para correr, e
essas diminutas mãos se tornarão destras em algum
ofício útil. E assim, quando uma alma nasce para Deus,
ela sente um novo poder em seu interior, e ela mesma se
converte em uma nova força. Obedece a um poder que
nunca antes conheceu, e se vale de uma força que não
havia podido exercitar antes e que nem sequer entendia.
Um novo poder chega entre os homens quando outra
alma nasce para Deus: o mundo espiritual é mais forte
e o mundo carnal fica mais fraco pelo nascimento de
outro homem espiritual.”63
E continua:
A partir do momento em que o Espírito nos revivifica,
dando-nos uma vida regenerada, todo o nosso ser passa
a gozar de afinidade com Deus, mostrando-se exultante e
grato. Isto é o nascer do Espírito sem o qual não podemos
ver o Reino de Deus. Entretanto, isso não é o fim, mas
apenas o começo, pois é a partir daí que o nosso coração
inicia o glorioso caminho da busca, que consiste em
penetrar nas infinitas riquezas de Deus. Posso dizer que
começamos neste ponto, mas digo também que nenhum
homem já chegou ao final dessa exploração, pois os
mistérios da Trindade são tão grandes e insondáveis que
não tem limite nem fim.”64
É incrível refletir sobre as implicações do novo
nascimento!
A respeito daqueles seguidores de Cristo cujo novo
nascimento já foi gerado por Deus, mas se afastaram
da Presença (assim como o filho pródigo em Lucas 15),
Spurgeon ensina: “Se você imaginar que foi regenerado,
e se tiver se afastado de Deus, será mais uma vez nascido
de novo, porque ‘aquele que é nascido de Deus não vive no
pecado’. Isto é, ele não peca tanto a ponto de cair da graça,
não lhe é possível viver como o mundo mais, porque Deus
o guarda, de modo que ‘o maligno não lhe toca.’”65
Considerações gerais
● O novo nascimento é uma transformação
instantânea. A regeneração é imediata, diferente da
santificação, que é um processo contínuo que dura
toda a vida do crente. Em Efésios 2.5, a regeneração
é descrita como uma mudança da morte para a
vida. Não existe meio termo entre a morte e a vida.
Ou a pessoa está morta, ou está viva.
63 projetospurgeon.com.br
64 Idem.
65 Idem.
● É uma transformação sobrenatural que Deus
realiza no discípulo. Repare que a regeneração
não é apenas uma melhoria moral ou uma
melhoria social, mas uma mudança sobrenatural.
O regenerado não se torna uma “pessoa boa”;
ele se torna uma nova criatura. É claro que a
santificação que acompanha a regeneração
tem efeitos éticos na vida do regenerado,
mas a regeneração vai muito além disso. Ela
não se refere somente a uma mudança de
comportamento, mas a uma mudança em nosso
relacionamento com Deus.
● É uma mudança radical, não superficial. A
regeneração atinge a essência da natureza humana.
● O novo nascimento é a concessão de vida
espiritual. É na regeneração que o pecador morto
em seus pecados se torna espiritualmente vivo e
ganha a sua reconciliação com Deus.
● Nascer de novo é uma mudança que afeta a
vida toda. Não se trata de uma mudança apenas
intelectual, mas de uma mudança que atinge o
intelecto, a vontade e as emoções. A Escritura
afirma que a pessoa regenerada tem um coração
novo, isto é, uma vida nova.
A FILIAÇÃO DO DISCÍPULO: O ABBA
Aqueles que foram gerados pela vontade de Deus
foram tornados também seus filhos. Jesus quebra com
todos os protocolos da época quando se refere a Deus
como Abba.
O judaísmo antigo dispunha de uma grande riqueza
de modos de se dirigir a Deus, mas chamar Deus
de Pai certamente não era um deles. A expressão
aramaica abba, traduzida por pai, era linguagem de
crianças, um termo utilizado no dia a dia. Para os
contemporâneos de Jesus, teria parecido irreverente –
até mesmo inimaginável – invocar a Deus usando essa
palavra tão familiar. A total novidade e singularidade
da forma com que Jesus se dirigia a Deus evidencia o
cerne da relação entre as duas Pessoas da Trindade.
Jesus falou com Deus como uma criança com o seu
pai: cheio de confiança, sentindo-se acolhido e, ao
mesmo tempo, respeitoso e pronto à obediência.
Comentando a fala de Jesus em Lucas 18.17: “Quem
não receber o Reino de Deus como uma criança, nunca
entrará nele”, o teólogo Joachim Jeremias escreve
que converter-se significa reaprender a dizer Abba,
depositar total confiança no Pai celestial, retornar à
casa do Pai e aos braços do Pai.
61
“Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são
filhos de Deus. Pois vocês não receberam um espírito que os
escravize para novamente temer, mas receberam o Espírito
que os adota como filhos, por meio do qual clamamos: ‘Aba,
Pai’. O próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que
somos filhos de Deus” (Romanos 8.14-16).
“E, porque vocês são filhos, Deus enviou o Espírito de seu Filho
aos seus corações, o qual clama: ‘Aba, Pai’” (Gálatas 4.6).
A certeza da filiação traz segurança ao discípulo, pois o
pai sabe de que seus filhos precisam (Mateus 6.8 e 32).
Sua bondade e providência são certas e permitem aos
seus filhos descansar. Nada é pequeno demais para
Deus, como se lê em Mateus 6.26. E, ao contrário do
que ensinavam os rabinos ao proibirem a oração “Até
a um ninho de pássaro se estende a sua misericórdia”,
pois seria um desrespeito a Deus. Jesus afirma que até
os pardais são abarcados pela providência de Deus.
Leia um trecho de uma obra do escritor Brennan
Manning a respeito da oração do “Pai-Nosso”.
Essas palavras eram não somente reais, mas também
revolucionárias para os doze discípulos. Filósofos pagãos
como Aristóteles chegaram à existência de Deus por meio
da razão humana e se referiram a ele em termos vagos e
impessoais: sem causa, motor sem movimento. Os profetas
de Israel revelaram o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó
de maneira mais calorosa, mais compassiva. Mas somente
Jesus revelou a uma comunidade judaica atônita que Deus
é verdadeiramente Pai. Se você tomasse o amor de todas
as melhores mães e de todos os melhores pais que viveram
no curso da história humana, toda a bondade deles, toda a
paciência, fidelidade, sabedoria, ternura, força e todo amor e
reunisse todas essas qualidades numa única pessoa, o amor
dessa pessoa seria apenas uma pálida sombra do amor e da
misericórdia presentes no coração de Deus Pai direcionado a
você e a mim neste momento. Ouvimos um belo eco disso no
capítulo 8 da carta de Paulo aos Romanos, em que escreve:
Pois vocês não receberam um espírito que os escravize para
novamente temerem, mas receberam o Espírito que os
adota como filhos, por meio do qual clamamos: ‘Aba, Pai’
(Romanos 8.15). Aba significa literalmente: papai, papá,
tatá, meu querido pai. Nos Estados Unidos, os psicólogos da
infância informam-nos que a média dos bebês americanos
começa a falar entre a idade de catorze e dezoito meses.
Independentemente do sexo da criança, a primeira palavra
normalmente falada nessa idade é pa — pa, papá, papai.
Um bebê judeu que falasse o aramaico na Palestina do
primeiro século na mesma faixa etária começaria dizendo
ab — ab, ab, Aba. A revelação de Jesus não foi nada menos
que uma revolução. Jesus está dizendo que podemos nos
dirigir ao Deus infinito, transcendente, todo-poderoso com
62
a intimidade, a familiaridade e a confiança inabalável que
um bebê de dezesseis meses de idade experimenta sentado
no colo de seu pai — pa, papá, papai.”66
A criança que balbucia abba sabe apenas que aquele rosto
e aquele cheiro lhe transmitem amor e segurança, e que
aqueles braços estendidos são um abrigo naturalmente
desejado. Diante de tantos braços estendidos, diante
de tantas faces, a criança, ainda sem compreensão da
realidade, identifica a face de seu pai, de seu abba.
“Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu
nome.” (Mateus 6.9)
Jesus nos ensina a tratar o Deus altíssimo como Abba,
e isso está em absoluta harmonia com o que Ele nos
ensina sobre oração. A oração não é algo que o Abba
ouve, mas um coração que Deus vê. É uma experiência
entre o homem e Deus que vai muito além das palavras,
para além da articulação racional. Oração é uma relação
afetiva e talvez até passional. Deus é nosso Abba. É aquele
em cujos braços nos lançamos, independentemente do
que entendemos ou cremos, sabemos ou duvidamos.
Deus é Abba, é quem invocamos com um simples
suspiro ou com o balbuciar desarticulado que surge nos
momentos de profunda e legítima pureza e ingenuidade.
Deus vê coração. Ele compreende e acolhe os suspiros e
lágrimas que clamam: “Meu Abba, meu Pai”. 67
Compartilhar (15 min)
Em pequenos grupos, converse a respeito das questões
propostas:
● Você percebe evidências do seu novo nascimento?
Reflita e compartilhe com o grupo a fim de
edificarem a fé uns dos outros. Tente se ater à forma
como esse ensino de Jesus foi trabalhado na aula:
uma nova condição e disposição frente à vida que
pode ser percebida radical e visceralmente.
● “Contudo, aos que o receberam, aos que creram em
seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos
de Deus, os quais não nasceram por descendência
natural, nem da vontade pela carne nem pela
vontade de algum homem, mas nasceram de
Deus” (João 1.12,13). A partir desses versículos,
tente articular com o seu grupo como a geração
do novo nascimento (que só é ocasionada pelo
Espírito Santo) pode estar associada, de alguma
forma, à participação humana.
66 O Evangelho maltrapilho, p. 59.
67 Talmidim: O passo a passo de Jesus, p. 78.
 ● Como soa para você o direito que Jesus adquiriu Vida Discipular
de se referir a Deus como papai? Você tem
dificuldade em se relacionar com Ele dessa forma?
SOLICITAÇÃO DE CONTAS
Pense, reflita e compartilhe com o seu grupo.
Nome do Relacionamento Discipulador (RD):
Sintetizar (3 min) ____________________________________________

Contribua com a formulação das principais ideias desta ____________________________________________

aula que surgiram como fruto da leitura do material e/
ou dos diálogos nos pequenos grupos.
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VIVER
Material:____________________________________
Data:_______________________________________
Local:_______________________________________
Destaques da semana:
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Até o próximo encontro ____________________________________________

Separe um tempo durante a semana e, em solitude
e oração, tente refletir sobre reais evidências do seu
novo nascimento. Se necessário, volte ao conteúdo e
leia com atenção o auxílio apresentado por pastores e
escritores a respeito do tema. Você realmente percebe
que sua existência foi essencialmente renascida em
Deus, ou você apenas segue um código de conduta
rígido e se associa à opinião de pessoas mais legalistas?
Se sentir necessidade, procure o seu discipulador a
fim de conversarem e orarem sobre isso. Aproveite
e reflita também em como é a sua relação com Deus
como papai. Isso soa infantil a você? Parece mais uma
bobeira gospel inventada? Ore sobre isso e permita
que Ele se apresente a você como Pai Perfeito.
EU CREIO
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Destaques do meu Tempo A Sós (TAS) com Deus nesta
semana:
a)__________________________________________
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b)__________________________________________
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Até o próximo encontro ____________________________________________

c)__________________________________________
Formule sua confissão de fé a respeito da regeneração
proporcionada pelo Espírito Santo e do direito de ____________________________________________
filiação que foi concedido aos seguidores de Cristo de
____________________________________________
forma a poderem se relacionar com Deus como Abba.

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63
Aula 11

Ser humanidade
redimida
O povo que Cristo resgatou para si

Orar (10 min) Debater (25 min)

Não se pode experimentar o verdadeiro cristianismo em
isolamento. O próprio Deus é uma comunidade de três
pessoas, constantemente interligadas de modo íntimo.
Como fomos criados à imagem de Deus, quanto mais
intimamente nos conformarmos à natureza divina, mais
abundante será a nossa vida. Só poderemos realizar a
plenitude de nossa humanidade em relacionamentos
saudáveis. Jesus reconheceu a necessidade dos
relacionamentos. O ato inicial de seu ministério foi
chamar 12 homens a “estar com ele” (Marcos 3.14).
Ele formou uma comunidade. Foi neste contexto que
ele ensinou seus discípulos a manter relacionamentos
duradouros e íntimos com Deus e com o homem: amar
ao Senhor de todo o coração – e ao próximo como a si
mesmo.68
Como é a sua relação com outros discípulos de Cristo?
Baseada em sinceridade, amor e companheirismo,
ou baseada em relações superficiais que nada têm
de comprometimento e doação? Essa reflexão deve
ser levada a sério, em especial pelos homens, que
têm muita dificuldade em manter vínculos sinceros
e profundos uns com os outros. Você tem problemas
de confiança? Peça a Deus que cure o seu coração e
conduza você a relações saudáveis que reflitam a
vontade dele. Talvez, num outro extremo, você cultive
e mantenha relações codependentes e obsessivas que,
em vez de curar, só adoecem a alma. Você precisa ser
curado também. Achegue-se com confiança ao trono
da graça e fale com o seu Abba. Peça a Ele que lhe dê o
privilégio de relações saudáveis, solidárias e curativas
com outros discípulos.
68 A formação de um discípulo, p. 68.
Reúna-se em pequenos grupos e, com a bíblia em mãos,
leia atentamente os textos indicados: Romanos 8.15-31
e 5.14-21, 1Coríntios 15.20-26 e 45-49, 1Pedro 2.1-11,
Colossenses 1.10-23, 2Coríntios 5.17-21, 1Coríntios 3.9,
Mateus 5.13-16, Efésios 1, e João 17. Atente aos detalhes
dos textos e converse com o seu pequeno grupo a
respeito dos trechos lidos. Tente responder às questões
a seguir com base nos versículos apontados.
Quem é o povo santo?
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Como se tornar parte dessa unidade?
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Qual é o objetivo desse povo?
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O que significa dizer que Cristo é o primogênito entre
muitos irmãos?
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Compare o legado de Adão e o de Cristo, conforme
Romanos 5 e 1Coríntios 15:
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Qual é o seu papel como embaixador de Cristo? E
como sal? E luz?
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Refletir (30 min)
A NOVA HUMANIDADE E A SINALIZAÇÃO DO
REINO DE DEUS
Povo de Deus, sacerdócio real, nação santa, corpo de
Cristo, geração eleita, lavoura, edifício, embaixadores
e cooperadores de Deus, convidados ao banquete, sal
e luz da terra, ou igreja, são termos e expressões que
podem estar intimamente associados pelos sentidos
que recebem no NT. Certamente há muito estudo
acerca das palavras originais, seus usos e contextos,
mas, como apresentar as minúcias de cada termo não
é o objetivo da aula, o conteúdo a seguir vai se ater
às implicações da nova humanidade, regenerada por
Cristo e por seu evangelho.
A Bíblia tem uma lógica muito coerente. Começa dizendo
que Deus criou os céus e a terra, o ser humano, Adão, à
sua imagem e semelhança, a quem delegou o cuidado
de sua criação. Gênesis registra ainda a advertência de
que o ser humano viveria apenas enquanto estivesse
em comunhão com Deus. Logo em suas primeiras
páginas, a Bíblia apresenta a ruptura do ser humano
com Deus, razão por que é expulso do paraíso e perde a
autoridade sobre a criação que lhe foi delegada.
A Bíblia também afirma que Deus, o Filho, se esvazia
de suas prerrogativas divinas e vem ao mundo
encarnado em Jesus de Nazaré, perfeitamente Deus e
perfeitamente homem. O Filho vive em obediência ao
Pai, sem pecado. Cumprindo um propósito de Deus,
Jesus morre, mas ressuscita ao terceiro dia, pois a
morte não pôde retê-lo. Ao ressuscitar, Jesus toma de
volta a autoridade sobre todo o universo criado.
Relembre a citação de C.S. Lewis: “o mundo é um território
ocupado pelo inimigo, e o cristianismo é a história de
como um rei justo retornou a suas terras e está nos
chamando para fazer parte de uma grande campanha de
sabotagem”.69 E é exatamente isso o que Jesus ensina
aos seus discípulos, uma nova humanidade gerada por
vontade do Pai, como se dissesse: “Toda a autoridade
está nas minhas mãos. Eu tenho o direito legítimo
sobre a criação de Deus. Agora delego a vocês, meus
discípulos, a autoridade que me foi dada, a que o meu
Pai deu a Adão, e que este permitiu que o Maligno a
usurpasse, está de novo na minha mão, e eu novamente
a entrego a vocês. Então, exerçam no mundo, em meu
nome, a autoridade que eu lhes dou”.
A nação santa, os discípulos de Cristo, a nova
humanidade, estão no mundo em missão e podem
orar como Francisco de Assis: “Onde houver ódio, que
eu leve amor; onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
onde houver discórdia, que eu leve a união; onde houver
dúvida, que eu leve a fé, onde houver erro, que eu leve a
verdade; onde houver desespero, que eu leve a esperança;
onde houver tristeza, que eu leve a alegria; onde houver
trevas, que eu leve a luz”.70
Deus tem um povo, mas esse povo não tem uma terra
delimitada como espaço geográfico do tipo “território
nacional”. A Igreja (o povo redimido, espalhado pela
Terra, dos mais diversos períodos históricos) sinaliza
o reino eterno de Deus. O povo de Deus se oferece
ao mundo como humanidade e sociedade redimida,
que se estrutura de maneira alternativa e, por meio
de suas relações, anuncia profeticamente que o Reino
69 Cristianismo puro e simples, p. 58.
70 Citado em Talmidim: O passo a passo de Jesus, p. 86.
65
virá. Os discípulos são responsáveis por manifestar,
aqui e agora, a maior densidade possível do Reino,
que será estabelecido. Os seguidores de Cristo são
aqueles que têm a consciência de que o mundo não
é, ou não está, como deveria ser. As coisas estão fora
do lugar, a realidade está desconjuntada, o mundo
está desestruturado. Jesus instiga seus discípulos ao
inconformismo e a buscar em Deus a força e os meios
para a transformação da realidade.
Pode-se pensar também, como sugere Jacques Ellul71,
que o discípulo pertence a duas cidades. Ele está
no mundo, tem uma vida social. Ele é cidadão de
uma nação, tem um lugar em uma família, tem uma
situação e deve trabalhar para ganhar dinheiro. Ele
leva sua vida entre outros homens e com eles tem a
mesma natureza e condição. Tudo o que ele faz neste
mundo deve fazê-lo seriamente, porque é solidário
em relação aos outros e não pode negligenciar seus
deveres. Mas ele não pode pertencer totalmente a
este mundo, pois sabe que é estrangeiro e peregrino
aqui (Hebreus 11.13). A vida neste mundo é para ele
uma situação provisória (embora muito importante)
porque ele pertence a outra cidade. Ele tem a sua
filiação e recebeu seu pensamento de outro lugar. Ele
tem outro Senhor. Estando neste mundo, pertence,
porém, a outro. Ele é de fato estrangeiro e também
cidadão de outro país. Sua fidelidade se dirige para
esse país e não para o seu país de residência. Assim é
o seguidor de Cristo. Ele é cidadão de outro reino – e
é de lá que ele recebe seus modos de pensar, julgar e
sentir. O seu coração e seus pensamentos estão em
outro lugar. Ele é sujeito de outro Estado, é embaixador
deste Estado sobre a Terra (2Coríntios 5.20), ou seja:
ele deve apresentar as exigências do seu Senhor,
estabelecer uma relação entre os dois, mas não
pode tomar os interesses deste mundo. Ele defende
os interesses do seu Senhor, como um embaixador
defende os interesses do seu Estado. Embora o cristão
se encontre neste mundo, ele não deve fidelidade
ao mundo. Aqueles que são chamados por Cristo e
passam a segui-lo, devem se engajar na história deste
mundo como representantes de uma outra ordem, de
um outro Senhor (diferente do príncipe deste mundo),
obedecendo a uma outra exigência.
A comunidade dos discípulos de Jesus é formada por
aqueles que se comprometeram com uma nova realidade,
uma maneira de viver que revoluciona completamente
o modo de ser e as estruturas postas na sociedade. A
comunidade discipular é formada por aqueles que foram
chamados para uma revolução que tem como referência o
71 Cristianismo revolucionário, p. 73.
66
reino de Deus. O povo santo é como uma cidade edificada
sobre o monte, uma luz na escuridão que, inserida na
sociedade corrompida e vivendo em meio a uma geração
perversa que se opõe a Deus e é inimiga da cruz, funciona
como um sinal do Reino de Deus.
NOVA HUMANIDADE E OS MANDATOS DE GÊNESIS
O ser humano redimido continua com as suas
responsabilidades diante da criação. Na perspectiva
da fé cristã, o desafio para o discípulo consiste em
trabalhar na restauração de toda a criação de Deus,
uma vez que esta – toda ela – sofre as consequências
da queda. Confira, novamente, o texto de Paulo:
A natureza criada aguarda, com grande expectativa, que
os filhos de Deus sejam revelados. Pois ela foi submetida
à futilidade, não pela sua própria escolha, mas por causa
da vontade daquele que a sujeitou, na esperança de que
a própria natureza criada será libertada da escravidão da
decadência em que se encontra para a gloriosa liberdade
dos filhos de Deus (Romanos 8.19-21).
Os discípulos são chamados a viver sob a nova
perspectiva da redenção até a restauração de toda
a criação de Deus. Podemos afirmar que “essa meta
redentora penetra em tudo que fazemos, pois não há
nenhuma linha divisória invisível entre o sagrado e o
secular”72. A redenção, portanto, “não é somente ser salvo
do pecado, mas também ser salvo para algo — retomar
a tarefa para a qual fomos originalmente criados”73, em
referência a Gênesis 1 e 2. Como afirmava o pensador
holandês Abraham Kuyper, Cristo não é somente
mediador da redenção, mas também da criação. O
trabalho que os seres humanos precisam realizar,
portanto, é dar continuidade a uma tarefa já prevista
por Deus desde a Criação, quando tudo era muito bom.
Como Paulo diz aos Colossenses 1.20: “E que, havendo
por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele
reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que
estão na terra, como as que estão nos céus”.
A pregação e o ensino da igreja cristã podem contribuir
na propagação de um evangelho que desperte
consciências para a responsabilidade ecológica, cultural,
social e espiritual. Isso acontece na medida em que se
resgata a cosmovisão cristã em sua integralidade. O Deus
que se encarna pela redenção de todas as coisas não é
outro senão aquele que criou todas as coisas. Deus não
se interessa por uma vida religiosa separada da realidade
humana em seu dia a dia. Nas palavras de Kuyper:
72 A obra do Espírito Santo, p. 81.
73 Idem, p. 82.
Se Deus é Soberano, então seu senhorio deve per-
manecer sobre toda a vida e não pode ser trancada
dentro das paredes da igreja ou dos círculos cristãos.
O mundo não cristão não foi entregue a Satanás ou à
humanidade caída ou ao acaso. A soberania de Deus
é grandiosa e domina também em reinos não bati-
zados, portanto nem o trabalho de Cristo no mundo,
nem o filho de Deus pode ser arrancado para fora da
vida. Se o seu Deus trabalha no mundo, então você
deve colocar a mão no arado para que lá também o
nome do Senhor seja glorificado.74
A partir dessa perspectiva abrangente, podemos
conceber um engajamento ativo por parte do
discípulo nas diversas esferas da sociedade – inclusive
política, educação, arte e ciência –, em obediência aos
mandatos outorgados no Gênesis. Esse engajamento
do discípulo na redenção do mundo não é um
envolvimento passivo e acrítico na vida cultural. O
cumprimento do mandato recebido na criação deve
levar em conta a realidade esmagadora da queda e o
advento glorioso da redenção realizada por Deus Pai,
por intermédio de Jesus Cristo, no poder do Espírito
Santo. O motivo bíblico da criação-queda-redenção
implica a existência de uma divisão radical: de um
lado, a raça humana caída em Adão e, de outro, a
nova humanidade redimida em Cristo. E, assim como
a comunidade humana em geral caminha segundo o
curso deste mundo, a atuação do seguidor de Jesus
nas diversas esferas da sociedade deve ser gerada por
sua nova fonte de vida: sua união radical com Cristo e
com a nova humanidade.
É importante ressaltar que, se de um lado o cristão não
pode isolar-se do mundo, ele também não pode aceitar
qualquer possibilidade de síntese entre a fé cristã e
a cosmovisão apóstata. A tarefa do crente consiste,
pois, em oferecer uma resposta distintamente cristã
às demandas culturais, sociais, ambientais e espirituais
de sua própria época, submetendo todas as áreas da
vida ao senhorio de Cristo.
Conforme lido e estudado na segunda aula, podemos
distinguir três mandatos criacionais que foram
outorgados por Deus aos humanos: espiritual, cultural
e social. Vamos relembrar o significado de um mandato:
uma concessão de poderes para desempenho de
uma representação, uma espécie de delegação. Pense
sobre esse exemplo: na democracia, costuma-se dizer
que todo o poder emana do povo. E, por ocasião das
eleições, o povo ao eleger um candidato para exercer
um cargo público, está atribuindo o seu poder a esses
74 A obra do Espírito Santo, p. 86.
representantes. É algo muito similar ao que Deus faz por
intermédio dos mandatos. A Ele pertence todo o poder.
Mas Ele decide outorgar esse poder à humanidade
redimida a fim de que ela dê continuidade ao trabalho
de conservação e redenção do mundo.
O fato de que Deus não revoga os mandatos atribuídos
aos humanos no Éden, mas os mantém – porém agora
direcionando-os à humanidade redimida em Cristo
–, permite algumas reflexões importantes. Acerca do
mandato cultural, Deus pretendia que os primeiros
humanos interferissem na criação, cultivando, plantando,
nomeando os animais. Toda a relação com a natureza
criada pode ser compreendida como manifestação
cultural. O povo que Cristo resgatou para si continua
mantendo o direito e o dever de produzir e multiplicar
cultura que sinalize a inauguração e futura consumação
do Reino. Portanto, é perfeitamente possível que os
discípulos se envolvam com a produção de cultura,
seja por meio da arte, cinema, música, produção
escrita, tecnologia, ciência,etc. Mas é imperativo que
os seguidores de Cristo atuem também na redenção
dessa cultura. Por exemplo, no Brasil, existe a “cultura da
corrupção”. A humanidade redimida precisa se importar
com a redenção, modificação, submissão dessa cultura
pecaminosa ao senhorio de Cristo. Outro exemplo é
o ambiente acadêmico. Os seguidores de Cristo têm
o direito e o dever de influenciar a universidade ao
propor linhas de pesquisa científica que estabeleçam
um diálogo saudável com a fé cristã.
Aproveite e leia também uma das resoluções do Pacto de
Lausanne75 a respeito da relação da igreja com a cultura:
A cultura deve sempre ser julgada e provada pelas
Escrituras. Porque o homem é criatura de Deus, parte de
sua cultura é rica em beleza e em bondade; porque ele
experimentou a queda, toda a sua cultura está manchada
pelo pecado, e parte dela é demoníaca. O evangelho não
pressupõe a superioridade de uma cultura sobre a outra,
mas avalia todas elas segundo o seu próprio critério de
verdade e justiça, e insiste na aceitação de valores morais
absolutos, em todas as culturas. As missões muitas
vezes têm exportado, juntamente com o evangelho,
uma cultura estranha, e as igrejas, por vezes, têm ficado
submissas aos ditames de uma determinada cultura, em
vez de às Escrituras. Os evangelistas de Cristo têm de,
humildemente, procurar esvaziar-se de tudo, exceto de
sua autenticidade pessoal, a fim de se tornarem servos
dos outros, e as igrejas têm de procurar transformar e
enriquecer a cultura; tudo para a glória de Deus.
75 Congresso Internacional de Evangelização Mundial que
aconteceu em 1974 em Lausanne, na Suíça, com a participação de
representantes mais de 150 nações.
67
Se o mandato social do Éden fazia referência à
multiplicação da humanidade recém-criada, a igreja
de Cristo deve se ater à ordem de Jesus Cristo de
multiplicação dos discípulos. “Foi-me dada toda a
autoridade no céu e na terra. Portanto, vão e façam
discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do
Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer
a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com
vocês, até o fim dos tempos” (Mateus 28.18-20). Como
bem enfatiza Keith Phillips em A formação do discípulo,
Jesus pede que seus discípulos formem e multipliquem
discípulos, e não simpatizantes da fé cristã. A nova
humanidade redimida por Cristo é multiplicadora e se
preocupa com a formação de discípulos, e não com o
simples preenchimento dos bancos vazios das igrejas.
No Éden, o mandato espiritual se expressava por meio
de um pacto de obediência firmado entre Deus e os
humanos. O desenrolar do AT revela o peso da lei e a
incapacidade do ser humano em cumpri-la de forma
satisfatória. Mas Cristo nos liberta do domínio da lei e
da morte ao cumprir, Ele mesmo, todas as exigências
propostas pela lei.
Portanto, agora já não há condenação para os que estão
em Cristo Jesus, porque por meio de Cristo Jesus a lei do
Espírito de vida me libertou da lei do pecado e da morte.
Porque, aquilo que a lei fora incapaz de fazer por estar
enfraquecida pela carne, Deus o fez, enviando seu próprio
Filho, à semelhança do homem pecador, como oferta
pelo pecado. E assim condenou o pecado na carne, a fim
de que as justas exigências da lei fossem plenamente
satisfeitas em nós, que não vivemos segundo a carne,
mas segundo o Espírito (Romanos 8.1-4).
E ainda: “Por essa razão, Cristo é o mediador de uma
nova aliança para que os que são chamados recebam
a promessa da herança eterna, visto que ele morreu
como resgate pelas transgressões cometidas sob a
primeira aliança” (Hebreus 9.15). O mandato espiritual
se baseia na liberdade do homem – conquistada por
Cristo, na cruz – do domínio do pecado e da morte. Um
belo exemplo do aperfeiçoamento da relação entre a
humanidade e Deus, possibilitado por Cristo, está na
narrativa da mulher samaritana em João 4.6-42. Antes,
o povo de Israel tinha um lugar específico para adorar
e cultuar, e a relação entre Deus e a humanidade era
restringida (ou mediada) pela nação judaica. Com a
consumação da revelação de Deus em Cristo, havia
chegado “a hora em que vocês não adorarão o Pai nem
neste monte, nem em Jerusalém”, mas “adorarão o Pai
em espírito e em verdade. São estes os adoradores que
o Pai procura” (João 4.21,23). Os seguidores de Cristo
são adoradores, e receberam a maravilhosa liberdade
68
de adorá-lo onde quer que estejam, e adentrar o
Santos dos Santos no momento que desejarem, pois
por intermédio de Jesus “o véu do santuário rasgou-se
ao meio” (Lucas 23.45). Portanto, a nova humanidade
redimida é multiplicadora (em relação aos mandatos
social e cultural) e adoradora (em relação ao mandato
espiritual).
Por fim, leia atentamente a frase de C.S. Lewis:
Para o cristão, Deus criou o mundo – “tirou da sua cabeça”
o espaço e o tempo, o calor e o frio, todas as cores e sabores,
todos os animais e vegetais, como um homem que cria
uma história. Por outro lado, para o cristianismo, muitas
das coisas criadas por Deus caíram no erro, e Deus insiste –
aliás, de forma enfática – em colocá-las de volta no lugar.76
O mais incrível é pensar que a insistência de Deus em
colocar as coisas de volta no lugar é protagonizada
pela humanidade redimida por Cristo, por discípulos
que ADOREM, AMEM e SE MULTIPLIQUEM.
Compartilhar (15 min)
Em pequenos grupos, converse a respeito das questões
propostas:
● Você já tinha pensado sobre a dupla condição
(ou dupla nacionalidade) do discípulo: Cidadão
do céu (identidade superior à qual deve maior
fidelidade) e cidadão da terra (ser parte de uma
nação, uma família, um ofício para se manter).
Como é viver sob essa perspectiva? Em que áreas
da sua vida você corre o maior risco de alienar sua
identidade como cidadão do céu? Compartilhe
com o grupo.
● Compartilhe formas, pelas quais você como
discípulo pode “sabotar” a presente ordem do
mundo nas seguintes áreas: política, social,
econômica e ecológica.
● Converse sobre a declaração de Kuyper:
Se Deus é Soberano, então seu senhorio deve
permanecer sobre toda a vida e não pode ser
trancada dentro das paredes da igreja ou dos
círculos cristãos. O mundo não cristão não foi
entregue a Satanás ou à humanidade caída ou ao
acaso. A soberania de Deus é grandiosa e domina
também em reinos não batizados, portanto nem o
trabalho de Cristo no mundo, nem o filho de Deus
pode ser arrancado para fora da vida. Se o seu
76 Cristianismo puro e simples, p. 38.
 Deus trabalha no mundo, então você deve colocar
a mão no arado para que lá também o nome do
Senhor seja glorificado.77
Você concorda? Tem procurado sinalizar o reino de
Deus na sua vida inteira?
Sintetizar (3 min)
Escreva as principais contribuições da primeira aula
que surgiram como fruto da leitura do material e/ou
dos diálogos nos pequenos grupos.
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VIVER
Até o próximo encontro
Medite nas palavras do teólogo holandês:
Cristo não é somente Mediador da redenção, mas também
da Criação. Cristo teria morrido, portanto, não apenas
pelos pecadores, mas também por um mundo perdido.
O trabalho que os seres humanos precisam realizar,
portanto, é dar continuidade a uma tarefa já prevista por
Deus desde a Criação onde tudo era muito bom.
Leia também as palavras de Jesus:
Vocês são o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor,
como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser
jogado fora e pisado pelos homens. Vocês são a luz do
mundo. Não se pode esconder uma cidade construída
sobre um monte. E, também, ninguém acende uma
candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Pelo
contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina
a todos os que estão na casa (Mateus 5.13-15).
De que forma você tem exercido sua função como
embaixador do Rei Jesus num mundo caído e insosso?
Reflita seriamente sobre essa questão. Você já perguntou
para Deus qual é a sua vocação? Se necessário, converse
e ore com o seu discipulador a esse respeito.
77 A Obra do Espírito Santo, p. 86.
EU CREIO
Até o próximo encontro
Formule sua confissão de fé a respeito do conteúdo
lido, refletido e debatido em Ser humanidade redimida.
Um bom exercício é perceber em que momentos
da leitura e em sala você foi mais profundamente
ministrado pelo Espírito de Deus.
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Vida Discipular
SOLICITAÇÃO DE CONTAS
Nome do Relacionamento Discipulador (RD):
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Material:____________________________________
Data:_______________________________________
Local:_______________________________________
Destaques da semana:
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69
Destaques do meu Tempo A Sós (TAS) com Deus nesta
semana:

a)__________________________________________
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b)__________________________________________
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c)__________________________________________
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70

O Ser discípulo
(Parte 1)
Orar (10 min)
Leia com atenção e de forma reflexiva as palavras de
A. W. Tozer:
O homem cujo tesouro é o Senhor tem todas as coisas
concentradas nele. Outros tesouros comuns talvez lhe
sejam negados, mas mesmo que lhe seja permitido
desfrutar deles, o usufruto de tais coisas será tão diluído
que nunca é necessário à sua felicidade. E se lhe acontecer
de vê-los desaparecer, um por um, provavelmente não
experimentará sensação de perda, pois conta com a
fonte, com a origem de todas as coisas, Deus, em quem
encontra toda satisfação, todo prazer e todo deleite. Não
se importa com a perda, já que em realidade nada perdeu,
e possui tudo em uma pessoa – Deus – de maneira pura,
legítima e eterna.78
Onde está ou quem é o seu maior tesouro? Filhos,
cônjuges, pais, emprego, dinheiro, bens, status, poder,
imagem, religiosidade? Qual é a sua reação mediante
a possível perda dessas coisas? Reflita sobre essas
questões em oração e contrição, sob a certeza de que
Ele conhece o seu coração e tem prazer em acolhê-
lo nos braços. O Abba deseja conduzi-lo ao estado
de perfeita paz que só pode ser alcançado quando o
seu maior tesouro for Ele. Só assim você conseguirá
descansar sabendo que a sua vida, as pessoas mais
amadas e tudo o que é seu (ou ainda não) está sob os
cuidados das mãos fortes de Deus.
Debater (20 min)
Reúna-se em pequenos grupos e, a partir dos textos
bíblicos apontados, tente perceber quais são as
78 O melhor de A. W. Tozer, p. 54.
Aula 12
Aspectos relevantes e práticos do discipulado
características que descrevem o discipulado cristão.
Os textos são os seguintes: Romanos 12.1,2, Romanos
8.29, 2Coríntios 3.18, Colossenses 1.28,29 (atenção ao
termo perfeito, cujo original, teleios, pode ser traduzido
por maduro), 1Coríntios 3.1-3, Gênesis 2.15, Salmo
115.16, Atos 4.32-34, Marcos 6.8,9 e Mateus 6.24-34.
Em alguns casos, há mais de um versículo referenciando
a mesma característica. Eles estão em sequência para
facilitar. A princípio, os textos devem indicar cinco
características do discipulado, mas, caso você consiga
extrair mais percepções dos textos, não deixe de
mencionar.
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Refletir (25 min)
É bem possível que, no decorrer das aulas, você já
tenha se deparado com alguns dos textos bíblicos
mencionados nesta aula. Mas buscamos compilá-los
a fim de proporcionar a percepção, de forma sintética,
das características essenciais do discipulado. O
conteúdo a seguir está baseado nas obras O discípulo
radical, de John Stott e A formação de um discípulo, de
Keith Phillips.
71
INCONFORMISMO (ROMANOS 12.1,2)
O discípulo de Cristo tem uma dupla responsabilidade
em relação ao mundo ao seu redor. Por um lado, deve
viver, servir e testemunhar no mundo. Por outro, deve
evitar ser contaminado por ele. Não deve, portanto, a
fim de preservar a santidade, fugir do mundo, nem
sacrificá-la ao se conformar a ele. Tanto o escapismo
como o conformismo são proibidos aos discípulos
de Cristo. Esse é um dos temas que permeiam toda a
Escritura. Deus está convocando um povo para si e o
desafiando a ser diferente de todos os outros povos.
John Stott comenta que o significado do amor ágape
– conforme está em Mateus 22.39: “Ame o seu próximo
como a si mesmo” – é o sacrifício próprio em benefício
de outros. E esse tipo de amor é contrário aos valores do
mundo, que enfatizam o egoísmo e a vida para si, aos
quais o discípulo não pode se conformar. Uma postura
equilibrada do discípulo para consigo, portanto, é um
misto de autoafirmação e autonegação: afirmar tudo
em seu ser que vem da criação e redenção, e negar tudo
o que pode ser ligado à queda. Nas palavras do teólogo:
É aliviador se livrar de uma preocupação doentia consigo
mesmo e voltar-se para os saudáveis mandamentos
de Deus (incorporados e reforçados por Jesus): amar a
Deus de todo o coração e ao nosso próximo como a nós
mesmos. Pois a intenção de Deus para a sua igreja é que
ela seja uma comunidade de amor, de adoração e de
serviço.79
SEMELHANÇA COM CRISTO (ROMANOS 8.29 E
2CORÍNTIOS 3.18)
Após a queda, Deus não desvia o olhar da criatura
perdida. Deus quer novamente deleitar-se em sua
criatura. A imagem de Deus, manchada após a
rebelião, deverá ser restaurada no ser humano. Trata-
se aí de um todo. O alvo do ser humano não é que ele
apenas aprenda a conceituar Deus corretamente, mas
que, como um todo, represente de fato a imagem de
Deus no mundo ao se parecer com Jesus Cristo. Essa
não é uma tarefa que os discípulos consigam com
esforço. Sem o poder da cruz e do Espírito Santo,
esse alvo jamais será alcançado. Não somos nós que
nos transformamos em imagem de Cristo; é a própria
imagem de Deus, a do Cristo, que toma forma em
nós (Gálatas 4.19). É a sua própria figura que quer
revelar-se por nosso intermédio. Cristo não desiste de
trabalhar em nós até que nos tenha transformado em
sua imagem. Quem estiver na comunhão do Cristo
encarnado e crucificado, esse também será igual a Ele,
será um espelho da imagem de Deus. Há um progresso
79 O discípulo radical, p. 58.
72
de conhecimento em conhecimento, de glória em
glória, à conformidade cada vez maior à imagem do
Filho de Deus. Pode-se entender que, como sugere
Bonhoeffer, a vida de Cristo sobre a terra ainda não
está consumada. Cristo continua vivendo sua vida na
vida dos seguidores. Ele adverte:
Não falemos, pois, de nossa vida cristã, mas da
verdadeira vida de Jesus Cristo em nós. “Já não sou
eu mais quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gálatas
2.20). O Encarnado, o Crucificado, o Glorificado tomou
morada em mim e vive minha vida. “Para mim o viver
é Cristo” (Filipenses 1.21). Com Cristo, porém, mora
comigo o Pai, e ambos pelo Espírito Santo. É a própria
Santíssima Trindade que tomou morada nos cristãos,
preenchendo-os e transformando-os em sua imagem. O
Cristo encarnado, crucificado e glorificado toma forma
nos indivíduos, porque são membros de seu corpo, da
igreja. A igreja carrega a forma da humanidade, a forma
da morte e a forma da ressureição de Jesus Cristo.80
MATURIDADE (COLOSSENSES 1.28,29 E
1CORÍNTIOS 3.1-3)
A maturidade cristã é algo difícil de ser obtido. A
maioria de nós sofre de imaturidade prolongada.
Mesmo no adulto, a pequena criança ainda se esconde
em algum lugar.
Existem diferentes tipos de maturidade: a física (um
corpo saudável), a intelectual (uma mente disciplinada
e uma cosmovisão coerente), a moral (faculdades
exercitadas para discernir o bem e o mal), a emocional
(personalidade equilibrada, capaz de estabelecer
relacionamentos e assumir responsabilidades). Mas,
acima de tudo, existe a maturidade espiritual. É isso
que Paulo chama de maturidade “em Cristo”, isto é, um
relacionamento maduro com Cristo.
Estar em Cristo é estar relacionado com Ele de
forma pessoal, vital e orgânica. Ser maduro é ter
um relacionamento maduro com o Mestre, no
qual o adoramos, confiamos nele, o amamos e lhe
obedecemos. É lógico que, se a maturidade cristã é
maturidade em nosso relacionamento com Cristo, no
qual o adoramos, confiamos nele e lhe obedecemos,
então, quanto mais clara for a nossa visão de Cristo,
mais convencidos nos tornaremos de que Ele é digno
de nossa dedicação. Assim, se os seguidores desejam
desenvolver uma maturidade verdadeiramente cristã,
precisam de uma visão correta de Jesus Cristo –
principalmente de sua supremacia absoluta, da qual
Paulo fala em Colossenses 1.15-20:
80 Discipulado, p. 49.
Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda
a criação, pois nele foram criadas todas as coisas nos
céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos
ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas
foram criadas por ele e para ele. Ele é antes de todas
as coisas, e nele tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo,
que é a igreja; é o princípio e o primogênito dentre os
mortos, para que em tudo tenha a supremacia. Pois foi
do agrado de Deus que nele habitasse toda a plenitude,
e por meio dele reconciliasse consigo todas as coisas,
tanto as que estão na terra quanto as que estão no céu,
estabelecendo a paz pelo seu sangue derramado na
cruz (Colossenses 1.15-20).
Foi dessa forma que Paulo proclamou Cristo como
Senhor da criação (aquele por meio de quem todas as
coisas foram feitas) e como Senhor da igreja (aquele
por meio de quem todas as coisas foram reconciliadas),
o que nos remete ao conteúdo da aula passada.
Por causa de quem Ele é (a imagem e plenitude de
Deus) e por causa do que Ele fez (aquele que criou e
reconciliou), Jesus Cristo tem uma dupla supremacia:
Ele é o cabeça do universo e da igreja. Ele é o Senhor
de ambas as criações. Essa é a descrição exata que
Paulo faz de Jesus Cristo.
John Stott pergunta e alerta:
Onde, então, encontraremos o Jesus autêntico? Ele deve
ser encontrado na Bíblia – o livro que pode ser descrito
como o retrato que o Pai fez do Filho, colorido pelo Espírito
Santo. A Bíblia é repleta de Cristo. Como ele próprio diz,
“as Escrituras testemunham a meu respeito” (João 5.39).
Jerônimo, o antigo pai da igreja, escreve que “ignorância
da Escritura é ignorância de Cristo”. Da mesma forma,
podemos dizer que conhecer a Escritura (em especial, os
evangelhos) é conhecer a Cristo. Se a venda fosse retirada
dos nossos olhos, se pudéssemos ver Jesus na plenitude
de quem ele é e do que ele tem feito, certamente veríamos
o quanto ele é digno da nossa dedicação apaixonada. A
fé, o amor e a obediência brotariam de nós e cresceriam
em maturidade. Nada é mais importante para um
discípulo cristão maduro do que uma visão renovada,
clara e verdadeira do Jesus autêntico.81
Por fim, é interessante notar a sequência do versículo
de Colossenses apontado no início deste tópico: “Para
isso eu me esforço, lutando conforme a sua força, que
atua poderosamente em mim”. Paulo está fazendo
referência aos seus grandes esforços em proclamar,
advertir e ensinar a cada um com toda a sabedoria a fim
de apresentar suas ovelhas maduras. Assim como ao
apóstolo Paulo, aos seguidores fiéis de Cristo também
81 O discípulo radical, p. 39.
foi designada a missão de investir em relacionamentos
discipuladores de forma que mais pessoas descubram
o poder perdoador e restaurador da cruz. O desafio da
multiplicação está diante dos discípulos.
CUIDADO COM A CRIAÇÃO (GÊNESIS 2.15, SALMO
115.16)
O cuidado e a interferência respeitosa sobre a criação
são as bases do mandato cultural outorgado por Deus
ao homem no Éden. O plano de Deus de restauração
não incluía apenas a reconciliação dos humanos com
Deus e com o próximo, mas também a libertação da
criação que geme. É claro que um dia haverá novo céu
e nova terra, e essa é uma parte essencial da esperança
de futuro perfeito que nos aguarda no final dos tempos.
Porém, enquanto isso, toda a criação está gemendo,
passando pelas dores de parto da nova criação
(Romanos 8.18-32). O que ainda se discute é o quanto
do destino final da terra pode ser vivenciado agora.
Assim como a compreensão do destino final cultivada
pelo discípulo influencia sua relação com o seu próprio
corpo – no sentido de que ele será glorificado, mas isso
não deve privá-lo dos cuidados básicos com a saúde
e educação física, por exemplo –, a compreensão do
novo céu e da nova terra deve influenciar e aumentar a
consideração que temos pela terra agora.
Como, então, devemos nos relacionar com a terra? Se
lembrarmos que ela foi criada por Deus e colocada
sob os nossos cuidados, devemos evitar dois extremos
opostos: a deificação da natureza e a exploração
exaustiva dela. O mandato cultural é um chamado
nobre para cooperarmos com Deus no cumprimento
dos seus propósitos, a fim de transformar a ordem
criada para o benefício de todos. Portanto, os
seguidores de Cristo devem escolher, como diz Chris
Wright, “formas sustentáveis de energia quando é viável.
Desligam aparelhos em desuso. Sempre que possível,
compram alimentos, mercadorias e serviços de empresas
que tenham diretrizes ambientais eticamente saudáveis.
Eles se aliam a grupos de conservação. Evitam o consumo
demasiado e o desperdício desnecessário e reciclam
o máximo possível”.82 O mesmo autor, de forma um
pouco mais rígida, questiona a postura dos discípulos
quanto a sua relação com a natureza:
É totalmente inexplicável ouvir alguns cristãos
afirmarem que amam e adoram a Deus, que são
discípulos de Jesus, mas, mesmo assim, não se
preocupam com a terra, que carrega seu selo de
propriedade. Eles não se importam com o abuso que
a terra sofre e, realmente, considerando seus estilos
82 Citado em O discípulo radical, p. 54.
73
de vida esbanjadores e por demais consumistas,
conspiram contra isso. Deus deseja que nosso cuidado
com a criação reflita nosso amor pelo Criador.83
SIMPLICIDADE (ATOS 4.32-34, MARCOS 6.8,9,
MATEUS 6.24-34)
A igreja cristã primitiva, constituída em Jerusalém no
dia de Pentecostes, caracterizava-se por um tipo de
vida comunitária até então desconhecida. Aqueles
crentes cheios do Espírito amavam uns aos outros a
ponto de venderem e repartirem seus bens segundo
a necessidade de cada um. Atos 4.32 diz que “ninguém
considerava unicamente sua coisa alguma que
possuísse”. Ou seja, eles eram livres do egoísmo. Como
resultado de suas relações econômicas transformadas,
“não havia pessoas necessitadas entre eles” (Atos 4.34).
Esse princípio de generosidade, expressado no ato de
os discípulos colocarem seus bens à disposição dos
necessitados, é uma indispensável característica de
toda igreja cheia do Espírito.
Os seguidores de Cristo que tenham mais condições
devem atentar para as necessidades dos menos
favorecidos. Do contrário, serão como os ricos discípulos
de Corinto – que comiam e bebiam demais, enquanto
seus irmãos mais pobres passavam fome – que não
escaparam da repreensão de Paulo (1Coríntios 11.10-34).
Jesus convoca seus seguidores a abraçar a santidade,
a humildade, a simplicidade e o contentamento. Aliás,
Ele atrela a vida verdadeira – a mais profunda paz e
alegria bem como poder do Espírito – à decisão radical
de segui-lo. A obediência cristã exige um estilo de vida
simples que atente ao fato de que, ao redor do mundo,
800 milhões de pessoas estão em situação de pobreza
absoluta e 10 mil morrem de fome todos os dias84.
É sabido que alguns discípulos foram, são e serão
chamados a viver entre os pobres, e outros a abrir o lar
aos necessitados. Mas isso não diminui a determinação
de Cristo ao incentivar e ordenar que seus seguidores
cultivem estilos de vida simples.
Leia com bastante atenção e seriedade uma declaração
que está na obra do teólogo inglês John Stott e foi
adaptada do Pacto de Lausanne:
Tencionamos reexaminar nossa renda e nossos gastos,
a fim de gastar menos, para que possamos doar mais.
Resolvemos renunciar ao desperdício, e opormo-nos à
extravagância em nossa vida pessoal, em matéria de
roupas e de moradia, de viagens e de templos. Também
83 Citado em O discípulo radical, p. 56. 86 Celebração da disciplina, p. 69.
84 Estimativa da ONU, em 2002.
74
aceitamos a distinção entre necessidades e luxo,
hobbies criativos e símbolos de status vazios, modéstia
e vaidade, celebrações ocasionais e o nosso dia a dia,
e entre o serviço de Deus e à escravidão da moda.
(...) Aqueles dentre nós que pertencem ao Ocidente
necessitam da ajuda de nossos irmãos dos países
menos desenvolvidos a fim de avaliarem seus gastos.
Nós que vivemos nos países menos desenvolvidos,
reconhecemos que também estamos expostos à
tentação da avareza. De maneira que precisamos da
compreensão, estímulo e orações uns dos outros.85
Leia também as profundas palavras do escritor Richard
Foster:
Por nos faltar um centro divino, a necessidade de segurança
levou-nos a um apego insano às coisas materiais. Precisamos
entender que é psicótica essa avidez que a sociedade
moderna tem pela opulência. É psicótica porque perdeu
completamente o contato com a realidade. Ansiamos
por possuir coisas das quais não precisamos e jamais
desfrutaremos. Até compramos coisas que não queremos
para impressionar pessoas das quais não gostamos.
Quando a obsolescência planejada é interrompida, a
obsolescência psicológica assume o comando. Faz-nos
sentir vergonha de usar roupas ou dirigir carros até que
se gastem completamente. Os meios de comunicação de
massa convenceram-nos de que não andar na moda é
perder o chão da realidade. É hora de despertarmos para
o fato de que conformar-se a uma sociedade doentia é
adoecer. Enquanto não enxergarmos quanto nossa cultura
está desequilibrada nessa questão, não conseguiremos
lidar com o espírito de Mamom que vive dentro de nós nem
desejaremos a simplicidade cristã.86
Richard Foster também ajuda todos aqueles que
desejem o discipulado radical ao elaborar algumas
dicas práticas na busca por simplicidade. Confira.
a) Compre as coisas pela utilidade que têm, e não pelo
status que conferem. Nas palavras de John Wesley,
“quanto ao vestuário, compro o que for mais duradouro
e, em geral, o menos enfeitado. Não compro nenhuma
mobília que não seja necessária e barata”87.
b) Rejeite qualquer coisa que crie em você alguma
dependência – isso vai do chocolate e café ao cigarro
e álcool. A simplicidade é liberdade, não escravidão.
Recuse-se a ser escravo de qualquer coisa, a não ser de
Deus. Um vício se identifica ao observar-se a existência
de compulsões indisciplinadas.
85 O discípulo radical, p. 48.
87 Citado em Celebração da disciplina, p. 73.
c) Desenvolva o hábito de dar coisas.
d) Recuse a propaganda feita pelos guardiões da
moderna indústria eletrônica. Os profissionais da
propaganda tentam convencer-nos de que, pelo fato
de haver um modelo mais moderno ou com uma
função adicional, precisamos vender o modelo antigo
e comprar o novo.
e) Aprenda a desfrutar as coisas sem possuí-las – praias,
praças públicas e bibliotecas, por exemplo.
f ) Examine com ceticismo saudável todas as propostas
“compre agora, pague depois”.
g) Obedeça às instruções de Jesus sobre falar direta e
honestamente. “Seja o seu ‘sim’, ‘sim’, e o seu ‘não’, ‘não’”
(Mateus 5.37). Se concordar em realizar uma tarefa,
complete-a. Evite bajulações e meias verdades. Rejeite
os jargões e especulações abstratas, cujos propósitos
são obscurecer e impressionar, em vez de iluminar e
informar.
h) Rejeite qualquer coisa que seja instrumento de
opressão. Essa é uma das questões mais difíceis de
encarar e uma das mais sensíveis, mas é preciso
enfrentá-la. Será que comemos e bebemos café
e comemos bananas à custa da exploração dos
trabalhadores no campo? Num mundo de recursos
limitados, não estaria nossa avidez por riquezas
implicando a pobreza de outros? É justo comprar
produtos fabricados por pessoas forçadas a trabalhar
em monótonas linhas de montagem? Agradam-nos
os relacionamentos hierárquicos das empresas, que
mantêm pessoas submissas a nossa vontade?
i) Afaste-se de qualquer coisa que o distraia de sua
busca pelo reino de Deus. A busca intensa por outras
coisas, ainda que legítimas e boas, podem facilmente
nos levar a perder o rumo. Emprego, posição, família,
amigos, segurança – tudo isso pode ocupar, com
extrema rapidez, o foco das nossas atenções.88 Que
Deus dê ao seu povo sabedoria, graça, consciência
renovada do Reino e força!
Compartilhar (15 min)
● Compartilhe com o seu pequeno grupo qual
dessas características do discipulado abordadas
é mais desafiadora para você. Por quê? Alguma
delas gerou algum tipo de resistência em você?
Tente identificá-las.
88 Celebração da disciplina, p. 83.
● Pense nas formas como você tem falhado
nos desafios propostos por Cristo abordados
nesta aula. Compartilhe com o grupo e tente
estabelecer algumas metas que possam ajudá-lo
a incorporar mais intensamente o discipulado.
● Como a sua igreja tem lidado com a simplicidade
e o cuidado com a criação? Converse com o seu
grupo sobre a realidade da sua comunidade
local. Se surgir alguma boa ideia que auxilie
sua igreja com o cumprimento das direções de
Cristo, o que acha de orarem e levarem adiante?
Sintetizar (3 min)
Contribua com a formulação das principais conclusões
da aula que surgiram como fruto da leitura do material
e/ou dos diálogos nos pequenos grupos.
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VIVER
Até o próximo encontro
Revise o conteúdo trabalhado em sala, ore e reflita.
Peça ajuda ao Espírito Santo a fim de começar a
desenvolver um hábito que o auxilie no cumprimento
das direções do discipulado radical deixadas por Jesus
Cristo. O desafio é que você pense em um hábito para
cada uma das características abordadas.
EU CREIO
Até o próximo encontro
Elabore com atenção e reflexivamente uma
confissão da qual você quer se apropriar a partir do
estudo desta aula.
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75
____________________________________________
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c)__________________________________________
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Vida Discipular
SOLICITAÇÃO DE CONTAS
Nome do Relacionamento Discipulador (RD):
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Material:____________________________________
Data:_______________________________________
Local:_______________________________________

Destaques da semana:
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Destaques do meu Tempo A Sós (TAS) com Deus nesta

semana:

a)__________________________________________
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b)__________________________________________
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76

O Ser discípulo
(Parte 2)
Orar (10 min)
Deus é um Deus carregador. O Filho de Deus tomou
sobre si nossa carne e por isso suportou a cruz,
suportou todos os nossos pecados e, por seu carregar,
trouxe a reconciliação. Da mesma forma, o discípulo
está chamado a levar fardos. Ser cristão consiste em
levar fardos. Como Cristo manteve a comunhão com
o Pai levando fardos, assim também carregar fardos é,
para o discípulo, comunhão com Cristo. O ser humano
pode livrar-se do fardo que lhe é imposto. Mas, assim
procedendo, ele não se liberta propriamente do fardo;
antes, passa a levar um fardo ainda mais pesado,
mais insuportável. Leva, por livre escolha, o jugo de si
mesmo. Jesus convidou todos os oprimidos por toda
sorte de sofrimentos e fardos para os lançarem fora e
tomarem sobre si seu jugo, que é suave, e seu fardo, que
é leve. Seu jugo e fardo são a cruz. Colocar-se sob essa
cruz não significa miséria e desespero, mas é refrigério e
descanso para as almas, é a suprema alegria. Aí, então,
não andamos mais sob o peso de leis e fardos de feitura
própria, mas sob o jugo daquele que nos conhece e
caminha ao nosso lado sob o mesmo jugo, onde temos
a certeza e a proximidade de sua comunhão. É a Cristo
que o seguidor encontra ao tomar sobre si sua cruz.89
Que impressões essa leitura gera no seu coração?
Reflita por alguns instantes e fale com Deus. Está claro
para você que o jugo de Cristo é leve e o seu fardo
suave? Que a morte de si mesmo é, no fim das contas,
um convite a uma existência libertada e de profunda
intimidade com o Abba? Você consegue perceber que
apesar de desafiadora, a jornada proposta por Cristo é
a única forma de se viver, de fato?
89 BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado, p. 76.
Aula 13
Aspectos relevantes e práticos do discipulado
Debater (15 min)
Reúna-se em pequenos grupos e a partir dos textos
bíblicos apontados, tente perceber quais são as outras
cinco características que descrevem o discipulado em
Cristo. Os textos são estes: Marcos 8.34-36, Gálatas
2.20, João 14.15, 1Tessalonicenses 5.17, Mateus 6.6,
Hebreus 4.16, Marcos 6.46, João 13.35, Mateus 5.43-45
e 48, Efésios 5.1,2, 2Coríntios 4.15, Mateus 28.19,20 e
João 15.16.
Pode haver mais de um versículo referenciando a
mesma característica. Nesses casos, eles estão em
sequência para facilitar. A princípio, os textos devem
apontar para cinco características do discipulado, mas,
caso você consiga extrair mais percepções dos textos,
não deixe de mencioná-las.
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Refletir (25 min)
Nesta aula serão estudadas outras cinco características
muito importantes da vida discipular em Cristo.
Novamente, o conteúdo do trabalho está baseado nas
obras de Keith Phillips (A formação de um discípulo) e
John Stott (O discípulo radical).
77
MORTE DO EU (MARCOS 8.34-36, GÁLATAS 2.20)
Deus veio a nós em Jesus Cristo. Ele tomou nosso lugar,
se apossou do nosso pecado e morreu a nossa morte.
Nós havíamos pecado. Nós merecíamos morrer. Porém,
Ele morreu em nosso lugar. Ele não cometeu pecados
pelos quais precisasse morrer; Ele morreu pelos nossos
pecados. Porém, sua morte não pode nos trazer nenhum
bem a menos que reivindiquemos seus benefícios. É
pela fé, interiormente, e pelo batismo, exteriormente,
que nos tornamos unidos a Cristo em sua morte e
ressurreição. Nós morremos e ressuscitamos com Ele.
Portanto, agora “considerem-se mortos para o pecado”
(Romanos 6.11). Para isso, não é necessário fingir que
estamos imunes ao pecado – quando sabemos que
não estamos –, mas é necessário compreendermos e
nos lembrarmos de que, sendo nós um com Cristo, os
benefícios da sua morte se tornaram nossos.
Estamos vivos para Deus, vivos por intermédio de sua
morte. John Stott parafraseia o versículo 35 de Marcos
8 da seguinte forma: “Quem estiver determinado a
se apegar a si próprio e a viver por si próprio perderá
a si próprio. Porém, quem estiver disposto a morrer, a
perder-se, a se entregar à obra de Cristo e ao evangelho
se encontrará (no momento do completo abandono) e
descobrirá sua verdadeira identidade”.90 Jesus promete a
verdadeira autodescoberta pelo preço da autonegação,
a verdadeira vida pelo preço da morte. O fato de haver
muita liberdade nessa morte é um grande paradoxo.
O morto já não se preocupa com seus direitos, com
sua independência nem com a opinião dos outros
a seu respeito. Ao unir-se espiritualmente ao Cristo
crucificado, riqueza, segurança, status e as coisas que
o mundo almeja perdem o valor. A pessoa que toma a
cruz, que está crucificada com Cristo, não fica ansiosa
pelo amanhã porque seu futuro está nas mãos de outro.
Em Gálatas, Paulo declara que foi crucificado com
Cristo (2.20), e que todos os que pertencem a Cristo
crucificaram sua natureza caída com todas as paixões
e desejos (5.24). Isso é mortificar-se, ou seja, sentenciar
à morte ou repudiar a natureza caída e autopermissiva.
A declaração mais clara de Paulo a esse respeito está
em Romanos 8.13: “Pois se vocês viverem de acordo com
a carne, morrerão; mas, se pelo Espírito fizerem morrer
os atos do corpo, viverão”. Esse versículo define um
contraste evidente entre vida e morte. Ele afirma que
existe um tipo de vida que conduz à morte e um tipo
de morte que, na verdade, leva à vida.
Se desejarmos o real discipulado, deveremos sen-
tenciar à morte (rejeitar radicalmente) todo o mal. Se
90 O discípulo radical, p. 59.
78
estivermos dispostos a rejeitar o mal, viveremos. A
única forma de vivermos a plenitude da vida é morrer,
sentenciar à morte, crucificar o falso eu. A única pos-
sibilidade de renúncia e morte do eu acontece pelo
poder do Espírito Santo. Nas palavras de John Owen:
“É mais fácil um homem conseguir ver sem olhos, ou
falar sem língua, do que verdadeiramente mortificar um
pecado sem o Espírito”.91
A morte do eu é um requisito para tornar-se discípulo.
Qualquer pessoa que não tenha experimentado a
morte de si mesmo é incapaz de reproduzir. Jesus
mesmo ensinou que “se o grão de trigo não cair na terra
e não morrer, continuará ele só. Mas se morrer, dará muito
fruto” (João 12.24). Sem multiplicação (que só pode ser
gerada por meio da morte do eu) não existe discipulado.
OBEDIÊNCIA (JOÃO 14.15)
A obediência é o primeiro distintivo do discípulo.
Devemos obedecer a Deus porque Ele é o Senhor
soberano do universo, e nossa obediência é a única
resposta aceitável diante de quem Ele é. Jesus disse
assim: “Se vocês me amam, obedecerão aos meus
mandamentos” (João 14.15). Somente os que obedecem
à Palavra de Deus demonstram seu amor a Ele. O seu
amor por Cristo fez com que você obedecesse à ordem
dele de arrepender-se e segui-lo. O seu batismo, que
ilustrou a morte de si mesmo e a entronização de
Cristo como Senhor da sua vida, foi mais um passo de
obediência (Romanos 6.3,4). A vida cristã, em suma, é
uma peregrinação contínua de obediência.
Comprometer-se é ligar-se a uma pessoa, a um ideal
ou a um alvo, não importam as consequências. Seu
compromisso é um voto de estar unido a Cristo, tornar-se
um com Ele, colocar o futuro e a própria vida nas mãos
dele. Paulo pede aos seguidores de Cristo que “se ofereçam
em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Romanos
12.1). A maioria dos cristãos quer obedecer à Palavra de
Deus, mas querer não é suficiente. Querer é uma emoção
e oscila com os sentimentos. O discípulo decide obedecer
à Palavra de Deus. O melhor de tudo é que Deus não
espera que nós decidamos obedecer por nossa própria
iniciativa. Paulo ensina que “é Deus quem efetua em (nós)
tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa
vontade dele” (Filipenses 2.13). A vontade do discípulo,
capacitada pelo Espírito, pode vencer os sentimentos
(naturalmente variáveis) e levá-lo a agir conforme seu
compromisso assumido com Cristo. Quando há conflito
entre a Palavra de Deus e o sentimento, o discípulo deve
resolver fazer o que Deus ordena.
91 Citado em O discípulo radical, p. 63.
Leia o texto de Lucas 10.25-29 e, depois, o comentário
de Bonhoeffer:
Certa ocasião, um perito na lei levantou-se para pôr
Jesus à prova e lhe perguntou: “Mestre, o que preciso
fazer para herdar a vida eterna?”. “O que está escrito na
Lei?”, respondeu Jesus. “Como você a lê?” Ele respondeu:
“Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de
toda a sua alma, de todas as suas forças e de todo o seu
entendimento” e “Ame o seu próximo como a si mesmo”.
Disse Jesus: “Você respondeu corretamente. Faça isso,
e viverá”. Mas ele, querendo justificar-se, perguntou a
Jesus: “E quem é o meu próximo?”.92
A pergunta “o que preciso fazer” foi o primeiro logro.
A resposta é: obedece ao mandamento que conheces.
Não fiques perguntando; age! A pergunta “quem é
o meu próximo” é a pergunta do desespero ou da
autossegurança com que se justifica a desobediência.
A resposta a essa pergunta é: Tu mesmo és o próximo.
Vai e sê obediente no amor atuante. Ser próximo não
é mera qualidade do outro, mas é o direito que o outro
tem sobre mim. A todo momento, em cada situação, é
a mim que se exige ação e obediência. Literalmente,
não sobra tempo para inquirir quanto à qualificação
de meu semelhante. Tenho que agir, tenho que
obedecer, tenho que ser o próximo para o outro. Se,
porém, perguntas um tanto assustado se não deverias,
antecipadamente, saber e planejar como deves agir,
a isso somente se pode retorquir que não é possível
planejar e saber senão na própria ação, sabendo-te
sempre já exigido. Somente obedecendo se aprende o
que é obediência, e não fazendo perguntas. Somente
na obediência se reconhece a verdade. Do conflito da
consciência e do pecado atinge-nos o chamado de
Jesus à obediência simples.93
Vamos conferir o ensino do teólogo alemão sobre
outro trecho precioso, agora em Mateus 19.16-22:
Eis que alguém se aproximou de Jesus e lhe perguntou:
“Mestre, que farei de bom para ter a vida eterna?”
Respondeu-lhe Jesus: “Por que você me pergunta sobre
o que é bom? Há somente um que é bom. Se você quer
entrar na vida, obedeça aos mandamentos”. “Quais?”,
perguntou ele. Jesus respondeu: ‘‘Não matarás, não
adulterarás, não furtarás, não darás falso testemunho,
honra teu pai e tua mãe” e “amarás o teu próximo
como a ti mesmo’’. Disse-lhe o jovem: “A tudo isso tenho
obedecido. O que me falta ainda?”. Jesus respondeu:
“Se você quer ser perfeito, vá, venda os seus bens e dê
o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu.
92 Discipulado, p. 63.
93 Idem, p. 65.
Depois, venha e siga-me”. Ouvindo isso, o jovem afastou-
se triste, porque tinha muitas riquezas.
A única resposta ao problema do conflito ético é o
mandamento de Deus e, portanto, o imperativo de
pôr termo às discussões e obedecer, de vez. Somente
Satanás oferece uma solução do conflito ético: “Continua
discutindo e estarás dispensado da obediência”. Jesus
não visa o problema do jovem rico, mas ao próprio
jovem. Ele nem toma a sério o conflito ético que tanto
preocupa o rapaz. Para Jesus importa uma só coisa:
que esse jovem afinal ouça o mandamento e obedeça.
Justamente onde o conflito ético pretende ser tomado
tão a sério, justamente onde ele atormenta e escraviza
o ser humano, impedindo-o de chegar ao ato libertador
da obediência – justamente aí que se revela toda a sua
impiedade, aí ele deve ser desmascarado, em toda a sua
ímpia falta de seriedade, como desobediência definitiva.
Séria é somente a obediência que põe termo ao conflito
e o destrói, que nos liberta para sermos filhos de Deus. É
esse o diagnóstico divino para esse jovem.94
ORAÇÃO (1TESSALONICENSES 5.17, MATEUS 6.6,
HEBREUS 4.16 E MARCOS 6.46)
A comunicação é o segredo de todo relacionamento
saudável, e isso não é diferente em nosso relaciona-
mento com Deus. A oração é vital para o discípulo.
Keith Phillips aponta quatro características importantes
que devem ser notadas na oração do discípulo. Primeiro,
o louvor. A oração é, antes de tudo, um meio de o
discípulo adorar e honrar o seu Deus. O seguidor de Cristo
deve aguardar com alegria a oportunidade de estar na
presença do Rei dos reis. Deve permitir que a gratidão flua
de seus lábios, e que todo o seu ser expresse admiração e
temor diante do Abba. O discípulo também deve ser um
ouvinte ativo. Deus deseja a perfeita comunicação com
os seus filhos. Ele fala conosco por meio da sua Palavra
e também do Espírito Santo consolador. A comunicação
mais significativa ocorre quando o discípulo está a sós
com Deus e longe de distrações, como televisão, celular
e outras pessoas. Como terceiro elemento, é importante
observar a constância na vida de oração, o que só é
atingido mediante um período extenso de prática diária.
A intimidade com Deus exige comunicação regular. A
comunicação constante faz com que nosso coração,
motivação e pensamentos coincidam com os de Deus.
Por fim, é essencial compreender o lugar da sinceridade
nas orações. Como em qualquer relação de intimidade,
a sinceridade estreita os laços e demonstra confiança.
Porque o discípulo confia no amor, na graça e no
poder do seu Deus, ele se expressa em honestidade e
94 Discipulado, p. 78.
79
franqueza, tanto na confissão dos seus erros e pecados
até na expressão dos seus sentimentos mais profundos
(como medo e vergonha, por exemplo). Veja o que
declara Richard Foster:
A oração impele-nos para a fronteira da vida espiritual.
De todas as disciplinas espirituais, a oração é a principal,
porque nos conduz a uma comunhão perene com o Pai. A
meditação introduz-nos a vida interior; o jejum é um meio
que a acompanha; e o estudo transforma a mente, mas é
a disciplina de oração que nos leva ao agir mais profundo
e elevado do espírito humano. A oração verdadeira cria
vida e muda vida. Orar é mudar. A oração é a principal via
usada por Deus para nos transformar. Se não estivermos
dispostos a mudar, deixaremos a oração de lado, e ela não
será uma característica perceptível em nossa vida. Quanto
mais próximos chegarmos do coração pulsante de Deus,
mais enxergaremos a necessidade de sermos conformados
a Cristo e mais desejaremos isso. (...) Todos os que
caminharam com Deus consideravam a oração atividade
principal da vida. Quando foram tentados a investir suas
energias em outras tarefas mais importantes e necessárias,
os apóstolos decidiram dedicar-se continuamente à oração
e ao ministério da Palavra (Atos 6.4). Lutero declarou:
“Tenho tanto que fazer que não consigo prosseguir sem
gastar três horas diárias em oração. Ele sustentava o lema
“aquele que ora bem estuda bem” como axioma espiritual.
John Wesley afirmou: “Deus não faz nada que não seja
em resposta à oração”, e nutria essa convicção dedicando
duas horas ao exercício sagrado. O traço mais marcante
na vida de Brainerd (missionário norte-americano era a
oração. Seu diário está repleto de relatos de oração, jejum
e meditação. “Gosto muito de ficar sozinho em minha
cabana, onde consigo passar bastante tempo em oração.”
Para esses descobridores da fronteira da fé, a oração não
era um hábito menor, anexado à periferia da vida: era a
vida deles.95
Embora, a princípio, oração pareça ser algo tão simples
que até a mais débil criança pode fazer, também é, ao
mesmo tempo, o trabalho mais sublime que o homem
pode realizar. Ela é a comunhão com o Deus invisível
e santíssimo. É a compreensão de que os poderes do
mundo eterno estão a nossa disposição. É a própria
essência da verdadeira religião, o canal de todas as
bênçãos, o segredo do poder e da vida. É por meio da
oração que Deus nos dá o direito de tomar posse de Si
mesmo e de Sua força. É pela oração que as promessas
esperam por seu cumprimento, o reino por sua vinda e
a glória de Deus por sua plena revelação. (...) A oração
deve ser para a glória de Deus, em total rendição a sua
vontade, em plena certeza de fé, no nome de Jesus, e com
95 Celebração da disciplina, p. 93.
80
tal perseverança que, se necessário for, se recusa a não
ser atendida. E como precisamos aprender todas essas
coisas. E isso só acontece na escola de muita oração,
pois a prática faz a perfeição. Só se aprende a divina
arte da oração eficaz em meio à dolorosa consciência
de nossa ignorância e falta de merecimento e em meio
ao conflito entre crer ou duvidar.96
AMOR AO PRÓXIMO (JOÃO 13.35, MATEUS 5.43-45
E 48, EFÉSIOS 5.1,2)
Amar a Deus sem amar o próximo é uma fuga da realidade.
Amar o próximo sem amar a Deus é uma pretensão que
será frustrada. Amar a Deus para que consigamos amar o
próximo, e amar o próximo como consequência de nossa
experiência do amor de Deus. Os discípulos de Jesus
devem viver a maravilhosa experiência de amor. São
amados por Deus e transbordam esse amor ao próximo.
Eles sabem que Deus é amor.
No contexto de Mateus 5, Jesus está ensinando
que a essência do caráter de Deus não é a lei, mas
o amor. A espiritualidade do reino de Deus não se
restringe à adoção de regras de comportamento ou
alguma elevada proposta moral. O caminho de Jesus
é essencialmente uma experiência de amor; uma
experiência do amor de Deus que transborda para
a construção de uma sociedade fundamentada no
amor. Deus faz o Sol se levantar sobre justos e injustos
e a chuva cair sobre bons e maus. Esse é o caráter de
Deus, e Jesus nos convida a ser assim.
Para Jesus, a verdadeira religião tem a ver com relacio-
namentos de amor e, porque são relacionamentos de
amor, são também e necessariamente relacionamentos
de justiça. São relacionamentos em que a dignidade
humana é resgatada, restaurada, valorizada e preser-
vada (em outros termos, já trabalhados neste módulo,
amar é alcançar, acolher e cuidar). Veja o que Deus disse
pela boca do profeta Isaías: “O jejum que desejo não é
este: soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do
jugo, pôr em liberdade os oprimidos e romper todo jugo?
Não é partilhar sua comida com o faminto, abrigar o po-
bre desamparado, vestir o nu que você encontrou, e não
recusar ajuda ao próximo?” (Isaías 58.6,7).
O que Deus deseja como expressão de honra a Ele é
o cuidado da vida humana, por meio de relações de
amor e justiça. É importante notar que assim como
estar perto não significa ser próximo, também há uma
diferença entre amar e gostar. Jesus nos mandou amar
todo mundo. Mas não disse que precisamos gostar
de todo mundo. Gostar é uma questão de afinidade,
96 Com Cristo na escola de oração, p. 26.
empatia e simpatia, e isso acontece mesmo sem que
saibamos o motivo. Mas amar é uma relação de serviço,
independentemente dos sentimentos e sensações.
Amar é querer o bem, gostar é querer perto. Amar é
servir a pessoa, mesmo que exija sacrifícios. Amar
é alcançar, acolher, cuidar, doar e doar-se pelo bem
do próximo. O discípulo ADORADOR adora a Deus,
também AMANDO e servindo o próximo. Dessa
forma, inevitavelmente, estará MULTIPLICANDO a vida
redimida e a cultura do Reino.
Tiago está de acordo com Isaías ao escrever que
“a religião que Deus, o nosso Pai, aceita como pura e
imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas nas
suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo”
(Tiago 1.27). Ser discípulo tem pouco a ver com códigos
morais ou rituais litúrgicos. A vida do discípulo está
absolutamente ligada a relacionamentos de amor e à
prática da justiça. De fato, ser discípulo de Cristo implica
alcançar, acolher e cuidar (zelar pela dignidade) do
ser humano criado à imagem e semelhança de Deus.
Amar o próximo significa amar o ser humano em sua
condição de maior miserabilidade. Amar o próximo
significa amar o ser humano que se degenerou
tanto em seu egoísmo, orgulho e prepotência que
deixou de ser amável. A reação esperada de um
discípulo é contemplar o necessitado, ter compaixão
e se dirigir a ele em ato de serviço. Mas também é um
grande desafio de amor ter compaixão de religiosos
prepotentes e bandidos de colarinho branco. Amar o
próximo significa, também, amar os não amáveis.
O amor ao próximo, qualquer que seja sua situação,
deve ser uma ajuda libertadora, que quebre o ciclo
da dependência, pois viver como dependente é
viver numa condição de indignidade. Os seguidores
de Cristo devem não apenas socorrer mas oferecer
condições para que aqueles que um dia precisarem de
ajuda se tornem também ajudadores. O ser discipular
adora a Deus, ama o próximo e multiplica discípulos
sob a perspectiva da cultura de redenção do Reino.
FRUTIFICAR E MULTIPLICAR (2CORÍNTIOS 4.15,
MATEUS 28.19,20 E JOÃO 15.16)
A grande ambição do discípulo é ser igual ao mestre. O
seguidor de Jesus quer ser igual a Jesus, quer alcançar
a maturidade. Contudo, a maioria dos mestres,
especialmente no contexto religioso, parece desejar
que seus discípulos permaneçam infantilizados,
fragilizados e dependentes, sempre precisando deles,
sempre debaixo de sua cobertura, de sua orientação ou
palavra profética. De modo geral, os mestres religiosos
não gostam de conduzir pessoas à maturidade. Não
gostam de pessoas que pensam com a própria cabeça
e andam com as próprias pernas.
Jesus é um mestre diferente. O grande desejo dele é se
multiplicar por meio dos seus discípulos. Quando Jesus
chama seus seguidores entre homens comuns, sabe
que primeiro serão aprendizes, depois imitadores, e
aos poucos serão transformados, até que Ele mesmo,
Jesus, comece a viver neles e se manifestar por meio
deles. Na verdade, esse é o desejo do Pai em relação
a Jesus e aos seus irmãos (os discípulos). O apóstolo
Paulo ensina que o propósito de Deus é transformar
cada ser humano à imagem do seu Filho Jesus. Deus
também quer multiplicar filhos e filhas à sua imagem
e semelhança. Deus não se contenta em ter apenas
um Filho. Ele quer ter muitos, de modo que Jesus seja
apenas o primeiro entre muitos irmãos (Romanos
8.29). Aqueles que seguem Jesus têm a tarefa sagrada
de multiplicar discípulos, de buscar dentro de cada
ser humano, oprimido por suas vontades, a expressão
mais verdadeira do seu eu. Muito mais do que iniciar as
pessoas em uma religião, multiplicar os filhos de Deus
é cooperar com Ele para que as pessoas sejam libertas
de toda e qualquer opressão e escravidão.
Jesus Cristo ordena que seus discípulos reproduzam
em outros a plenitude de vida que encontraram nele
(João 15.8). Um discípulo maduro tem de ensinar
outros cristãos como viver uma vida que agrade
a Deus, equipando-os para treinarem outros a
ensinarem outros. Nenhuma pessoa é um fim em si
mesma. Todo discípulo faz parte de um processo, do
método escolhido por Deus para expandir seu Reino
por meio da multiplicação. Sabemos disso porque
Cristo fez discípulos e ordenou-lhes que fizessem
discípulos. Jesus optou pelo discipulado. Ele treinou
pessoalmente um pequeno grupo de homens e
equipou-os para que treinassem outros para que
ensinassem outros. Ele ordenou a seus discípulos que
fossem multiplicadores. O discipulado é o único meio
de produzir tanto a quantidade como a qualidade que
Deus deseja dos seus filhos.
Podemos resumir o que aprendemos neste curso desta
forma: A partir de nosso chamado para seguir Cristo,
fomos levados à adoração pelo reconhecimento de
quem é aquele que nos chamou. Somos ADORADORES.
Também somos DISCÍPULOS. A missão que nos foi
designada é esta: FRUTIFICAR através do AMOR, que
alcança, acolhe e cuida. Somos FRUTÍFEROS. Somos
desafiados a MULTIPLICAR discípulos a fim de que
eles também apontem a salvação em Cristo a outras
pessoas a fim de torná-las também seguidoras de
Cristo. Somos MULTIPLICADORES. Todos nós, como
81
humanidade redimida, somos também convocados a EU CREIO
intervir sobre a Terra, ao redimir a cultura e a criação
sob a perspectiva do Reino, que já está aqui, mas cuja Até o próximo encontro
consumação está por acontecer.
Elabore com atenção e reflexão uma confissão de
Compartilhar (15 min) você da qual você quer se apropriar a partir do estudo
desta aula.
● Compartilhe com o seu pequeno grupo qual
dessas características do discipulado abordadas
é mais desafiadora para você. Por quê? Alguma __________________________________________
delas gerou algum tipo de resistência em você? ____________________________________________
Tente identificar.
____________________________________________
● Pense nas formas como você tem falhado
____________________________________________
nos desafios propostos por Cristo abordados
nesta lição. Compartilhe com o grupo e tente ____________________________________________
estabelecer metas que o ajudem a incorporar
mais intensamente o discipulado. ____________________________________________

● Pense e compartilhe formas práticas de Vida Discipular

corresponder às cinco características do
discipulado em Cristo abordadas nesta aula:
morte do eu, obediência, oração, amor (alcançar,
acolher e cuidar) e multiplicação.
Sintetizar (3 min)
Contribua com a formulação das principais ideias da
aula que surgiram como fruto da leitura do material e/
ou dos diálogos nos pequenos grupos.
__________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
VIVER
Até o próximo encontro
SOLICITAÇÃO DE CONTAS
Nome do Relacionamento Discipulador (RD):
____________________________________________
____________________________________________
Material:____________________________________
Data:_______________________________________
Local:_______________________________________
Destaques da semana:
__________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

Revise o conteúdo trabalhado em sala, ore e ____________________________________________

reflita. Peça ajuda ao Espírito Santo para começar a
Destaques do meu Tempo A Sós (TAS) com Deus nesta
desenvolver um hábito que o auxilie no cumprimento
semana:
das direções do discipulado radical deixadas por Jesus
Cristo. O desafio é que você pense em um hábito para
cada uma das características abordadas. a)__________________________________________

82
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
b)__________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
c)__________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

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