“Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da
vocação com que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. ” - Efésios 4:1-3.
Ao empregar a palavra “pois”, o apóstolo mostra claramente a conexão entre
a fé e a prática. Ele firmara a doutrina; agora é preciso que ela seja aplicada. Aqui, então, no capítulo 4, o apóstolo começa a fazer um grande apelo aos crentes efésios para que ponham em ação as coisas que lhes estivera ensinando. Lembra-lhes as coisas que inevitavelmente se seguem como uma consequência natural do entendimento das grandes doutrinas da fé cristã. pois é uma conjunção que nos leva adiante, e nos indica a vida que devemos viver à luz das doutrinas que já consideramos. Vocês verão - e isto é um princípio geral - que em todas as Epístolas, num ponto correspondente a este, vocês têm geralmente esta palavra “pois”. Há sempre o perigo - e este afeta mais umas pessoas do que outras - de esquecer que o cristianismo é, acima de tudo, um modo de vida e um modo de viver. Naturalmente há certas pessoas que só dão ênfase a isso, e que nada sabem de doutrina e não se interessam pela doutrina. Tais pessoas consideram o cristianismo como um sistema de moralidade ou ética. Algumas pessoas são naturalmente intelectuais; foram-lhes dadas por Deus mentes acima da média, talvez, e elas gostam de ler, estudar, arrazoar e manejar as grandes verdades e doutrinas. Seu perigo particular é passar todo o tempo com doutrina e deter-se na doutrina. A doutrina vem primeiro, porém não devemos deter-nos na doutrina. Há outro grupo cujo perigo é ficar só com a experiência. Eles lêem, por exemplo, os versículos finais do capítulo três de Efésios que descrevem a tremenda possibilidade de conhecermos o amor de Cristo de maneira experimental e de termos os nossos corações emocionados e arrebatados pelas manifestações do Seu amor, e de sermos cheios da plenitude de Deus, e eles acham que nada mais importa, que nada mais conta. O homem que só se interessa pela doutrina, e o homem que só se interessa pelo tipo místico de experiência, estão igualmente negligenciando esta importante palavra “portanto”. Esta palavra nos salvaguarda de todos esses perigos. Vemos esta mesma verdade noutra exposição feita por Paulo em sua carta a Tito. Ele está escrevendo acerca do Senhor Jesus Cristo e da Sua morte na cruz, e diz: “O qual se deu a si mesmo por nós”. Mas na seqüência ele não diz que o propósito do Senhor era que ele tivesse alguma experiência estranha, extática, e sim “para nos remir de toda a iniquidade, e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras” (2:14). Na verdade o Senhor já dissera isso, com as palavras: “Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes” (João 13:17). As experiências e o conhecimento estimulam, promovem e encorajam; mas a santificação mesma não é uma experiência. É resultado da vida que recebi e do conhecimento que tenho; é algo que, à luz disso tudo, eu devo começar a pôr em prática. “Operai a vossa salvação com temor e tremor ; porque (por causa do fato de que) Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade” (Filipenses 2:12 e 13). Paulo lhes está rogando, está instando com eles, com o fim de os estimular. Não lhes está dizendo apenas que tudo que eles têm que fazer agora, à luz das grandes doutrinas, é simplesmente “olhar para o Senhor”. Ele poderia ter concluído a sua Epístola rapidamente neste ponto, se acreditasse em tal ensino concernente à santificação. Não haveria necessidade de mais três longos capítulos. Simplesmente teria que escrever: “Pois bem, agora, à luz de tudo isso, tudo que vocês têm que fazer é olhar para o Senhor e deixá-10 viver a Sua vida em vocês; é muito simples, vocês simplesmente não fazem nada, vocês olham para o Senhor, e Ele viverá a Sua vida em vocês”. Entretanto, não é o que o apóstolo diz; em vez disso, lemos: “Rogo- -vos, pois, eu, que andeis como é digno...”. Ele diz coisas como: “Aquele que furtava, não furte mais”, ele nos concita a evitar “parvoíces” e “chocarrices”. Ele entra em detalhes, ele exorta os efésios, repreende- -os, ordena-lhes, apela para eles, argumenta com eles, lança os seus grandes imperativos. Ele o faz porque esse é o ensino do Novo Testamento sobre a santificação. É o desenvolvimento, a vivência dinâmica, pelo poder que Deus nos dá e que já está em nós, da doutrina em que cremos e das experiências que temos desfrutado de Suas bondosas mãos. No capítulo 17 de João, onde Ele ora: “Santifica-os na verdade: a tua palavra é a verdade”, (ou, segundo a VA (versão inglesa), “Santifica- os mediante a tua verdade; a tua palavra é a verdade”). E por meio da Palavra que nós somos santificados. “Portanto”, é à luz da doutrina que nós devemos viver a vida santificada. O processo de santificação é, primeiro e acima de tudo, uma plena compreensão das doutrinas bíblicas. Devemos compreender o meio de salvação como esboçado nelas. Devemos ver as coisas para as quais fomos chamados, as gloriosas possibilidades que foram abertas para nós; e quanto mais as entendermos e as captarmos, mais prontos e deveras ansiosos estaremos para desenvolvê-las na prática. NÃO PODEMOS IGNORAR nas Escrituras a doutrina e a prática estão indivisivelmente unidas. Jamais devemos separá-las. Sempre devemos pregá-las e aplicá-las. Não devemos ficar só com a doutrina; não devemos ficar só come experiência. Não devemos separar a justificação e a santificação, exceto no pensamento. A salvação é um todo, e o “portanto” é o elo que sempre mantém juntas as partes. Jamais devemos fazer violência às Escrituras no interesse de teorias ou métodos ou experiências particulares. Queira Deus conceder-nos graça para entendermos o significado desta poderosa palavra “portanto”! A nossa santificação é o resultado inevitável da doutrina e da experiência, graças à vida de Deus em nossas almas. O processo começa imediatamente, assim que nascemos de novo, e o que nos compete fazer é pôr toda a nossa energia em atividade nesse processo, para desenvolvê-lo “com temor e tremor”. Para isso fomos chamados, e essa é a razão pela qual tudo o que nos aconteceu, de fato nos aconteceu. “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo”. Você crê nisso, meu amigo? Se crê, o “portanto” forçosamente virá logo à sua mente. Tudo em você o fará ansiar por ser digno disso e por elevar-se a isso. Você crê que o Espírito é também “o penhor da nossa herança para redenção da possessão de Deus”? Você crê que Deus fez de você um herdeiro e co- herdeiro com Cristo, e que você vai receber aquela gloriosa herança? Se crê, então você concordará com a lógica do apóstolo João, como também com a do apóstolo Paulo, e dirá: “E qualquer que nele tem esta esperança purifica- se a si mesmo, como também ele é puro (1 João 3:3). É na medida em que captamos a verdade da doutrina, que o desejo de sermos santos é produzido em nós. Se eu creio realmente que, quando eu estava “morto em ofensas e pecados”, Deus me vivificou, enviou Seu Filho ao mundo para morrer por mim e por meus pecados para salvar-me do inferno, e para salvar-me para o céu - se eu creio realmente nisso, devo dizer: “Amor tão admirável, tão divino, requer a minha alma, a minha vida, o meu tudo”. E lógico, e requer a minha alma, a minha vida, o meu tudo. Não posso resistir a essa lógica - não devo! E assim analisamos todas as grandes doutrinas que o apóstolo nos estivera apresentando nos três primeiros capítulos, e lembramos que não somos mais “estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus”. Se eu crer nessa verdade enquanto viver neste mundo, compreenderei que não tenho direito de viver para mim mesmo. “Portanto”! É lógica inegável, uma dedução inevitável. Porque eu creio na doutrina é que desejo ser cada vez mais santificado. “Sede santos, porque eu sou santo”, diz o Senhor (1 Pedro 1:16).