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A manipulação destes dados por parte das grandes empresas de comunicação eletrónica
é a grande responsável pela progressiva substituição das relações sociais pelos dados
enquanto explicação, fundamento, sentido e valorização da vida coletiva. Os dados são
obtidos por instrumentos tecnológicos cujos parâmetros e critérios não são do domínio
público por estarem protegidos por patentes. Esta opacidade é a condição essencial da
suposta transparência dos dados e, portanto, da sua utilização aparentemente neutra. A
sociedade métrica em que estamos a entrar visa transformar o carácter relacional da vida
social em desempenhos individuais quantificados e sem outra relação entre si senão as
diferenças numéricas e as agregações que são feitas a partir delas. Tudo o que não é
quantificável é desqualificado mesmo que seja a felicidade ou sentido da vida e da
morte.
4. Das redes à solidão coletiva. Os big data não visam individualmente os indivíduos
(passe o pleonasmo); visam coletivos homogéneos de indivíduos, organizados
invisivelmente segundo os seus gostos de consumo, de política ou de religião. Desta
forma, os big data permitem combinar a máxima personalização com a máxima
massificação. Os indivíduos, longe se sentirem sós ou isolados, sentem-se auto-
escolhidos por grupos mais ou menos vastos com quem não têm outras relações senão
as que a internet permite. As redes sociais são a expressão mais acabada da nova
solidão, a pertença superficial, seletiva, isenta de compromissos extra-comunicacionais
a coletivos cada vez mais organizados pelo mercado comercial, político ou religioso dos
big data. Claro que as redes sociais também permitem intensificar a comunicação que
começou por ser física e presencial, mas do ponto de vista dos big data a única
dimensão comunicacional que conta é a digital. E é mesmo crucial que entre o indivíduo
massivamente personalizado e o objeto de consumo não existam intermediários. O
indivíduo tem à sua disposição um mundo que considera feito por si, apesar de ter sido
feito por outros, e que pensa ser seu, apesar de ser pertença, muitas vezes patenteada, de
outros.