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SENAC

Sindy Uiara Molina Brasil

LINHA EDITORIAL ONLINE

UM ESTUDO SOBRE RECEPÇÃO DE NOTÍCIAS EM REDE

São Paulo

2014
Sindy Uiara Molina Brasil

LINHA EDITORIAL ONLINE

UM ESTUDO SOBRE RECEPÇÃO DE NOTÍCIAS EM REDE

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao


Senac – Campus Lapa Scipião, como exigência
parcial para obtenção do grau de especialista em
Gestão de Comunicação em Mídias Digitais.

Orientadora Prof.ª Me. Juana R. Diniz

São Paulo

2014
Brasil, Sindy Uiara Molina

B823l
Linha editorial online: um estudo sobre recepção de notícias em rede /
Sindy Uiara Molina Brasil – São Paulo, 2014.

Orientadora: Prof.ª Me. Juana R. Diniz


Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Gestão de
Comunicação em Mídias Digitais) – Senac - Campus Lapa Scipião, São
Paulo, 2014.

1. Redes sociais online 2. Jornalismo 3. Recepção 4. Linha editorial.

I. Brasil, Sindy Uiara Molina (autora) II. Diniz, Juana R. (orient.) III.
Linha editorial online: um estudo sobre recepção de notícias em rede

CDD 006.7
Sindy Uiara Molina Brasil

Linha editorial online: um estudo sobre recepção de


notícias em rede

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao


Senac – Campus Lapa Scipião, como exigência
parcial para obtenção do grau de Especialista em
Gestão de Comunicação em Mídias Digitais.

Orientadora Prof.ª Me. Juana R. Diniz

A banca examinadora dos Trabalhos de Conclusão, em sessão pública realizada em


__ / __ / ____, considerou a candidata:

1) Examinador(a)

2) Examinador(a)

3) Presidente
AGRADECIMENTOS

À professora Juana Diniz pelos apontamentos e valiosas considerações;

Aos meus companheiros de estudo Paulo, Karin, Luis, Marcos e Tábata, que fizeram
a jornada mais leve;

E ao meu esposo, Leandro Brasil, pelo apoio e carinho.


RESUMO

As redes sociais online são meios de comunicação emergentes por onde a informação
circula. Diferente das mídias de massa, onde a comunicação ocorre unilateralmente, de um
centro emissor para milhares de receptores, as mídias digitais permitem uma comunicação
dialógica e multilateral, de todos para todos. Considerando as inúmeras possibilidades de
interação com a mensagem e a influência do capital social, buscou-se investigar se é
possível manter a linha editorial de uma notícia publicada em redes online; e como esses
meios proporcionam mudanças na recepção de mensagens. Levou-se em conta que a
produção de informações é orientada pela linha editorial de um veículo jornalístico e,
portanto, a notícia configura-se como a própria linha editorial. Além disso, em redes sociais,
o usuário é ativo nas escolhas e no repasse de informações. Para investigar a apropriação
de significados pelos receptores de uma notícia online, foi realizada pesquisa bibliográfica
de autores que se dedicam a compreender a comunicação mediada pelo computador e suas
implicações. Entre eles, Raquel Recuero, Alex Primo, Manuel Castells, Denise Cogo e
Pierre Lévy foram determinantes para o resultado desta análise, que compreendeu não ser
possível controlar a linha editorial de uma publicação em redes sociais.

Palavras-chaves: 1. Redes sociais online. 2. Jornalismo. 3. Linha editorial. 4. Recepção.


ABSTRACT

The social networks are an emerging media where the information circulates. They are
different of the mass communication, where the communication happens of one media
center to thousands of receivers. The social networks allows a multilateral communication
from all to all. Considering the possibilities of interaction with the message and the social
capital influence, this article wants to discover if it is possible to keep an editorial focus of a
publication from the online social networks and how this medias provide changes on the
messages reception. The information production is guided by the editorial focus of the press
and, therefore, the news becomes its own editorial focus. In addition, inside social networks,
the users are responsible for choosing and forwarding the information. To investigate the
appropriation of the meanings by the news receptors, a bibliographic research has been
made from the authors who devoted themselves to study the complexity of computer-
mediated communication and its implications. Among them, Raquel Recuero, Alex Primo,
Manuel Castells, Denise Cogo and Pierre Lévy were fundamental for the results of this article
that defends the impossibility of taking control of an editorial focus on the social networks.

Keywords: 1. Online Social Network. 2. Jornalism. 3. Editorial line. 4. Reception.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9

2 REDES SOCIAIS COMO MÍDIA ........................................................................... 11

2.1 O que são redes sociais na internet ................................................................. 11

2.2 Redes sociais como fonte de informação ........................................................ 13

3 REDES SOCIAIS E LINHA EDITORIAL NO JORNALISMO ONLINE .................. 16

3.1 Jornalismo em redes sociais ............................................................................ 16

3.2 A linha editorial nas redes sociais .................................................................... 20

4 A NOTÍCIA NAS REDES SOCIAIS ....................................................................... 25

4.1 A notícia no Facebook ..................................................................................... 26

4.2 O papel do usuário ........................................................................................... 30

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 33

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 36
9

1 INTRODUÇÃO

Herbert Marshall McLuhan, teórico e professor canadense e um dos mais


importantes estudiosos da comunicação, acreditava que as características de um
meio são influências mais determinantes do que o próprio conteúdo que ele
transmite. Esta percepção ganhou destaque em 1964, quando o ele escreveu
Understanding Media: os meios de comunicação como extensões do homem, onde
expôs um de seus mais célebres aforismos, “o meio é a mensagem”. Nesta obra,
McLuhan aponta que os meios de comunicação não são neutros, mas carregam
valores próprios, sendo objetos passíveis de análises e críticas, já que, no aspecto
social, o meio é o conteúdo principal. O autor chama a atenção para a ideia de que
uma mensagem proferida oralmente, no rádio, na televisão ou no jornal terão
diferentes estruturas perceptivas, gerando significados variados. O meio seria,
assim, determinante em relação ao modo de receber, perceber e assimilar o
conteúdo, “na medida em que controla e configura a proporção e forma das
associações humanas” (1964, p. 23).

Evidentemente, os meios de comunicação mediados pelo computador não


fizeram parte dos estudos de McLuhan. O autor faleceu em 1980, ainda no início da
revolução digital e muito antes do surgimento das redes sociais online, mas suas
teorias “(...) bastante discutidas através dos anos, ganham novo fôlego com o
advento das mídias digitais” (Levinson, 2001 apud Recuero, 2012, p. 1). Este
trabalho propõe uma visão crítica dos conceitos mcluhanianos, uma releitura de
suas teorias de comunicação à luz da cultura digital.

Criado ainda na época da comunicação eletrônica, o conceito “o meio é a


mensagem” não é totalmente adequado às redes sociais, pois estes veículos
possuem uma pragmática diferente dos veículos de massa. Nas mídias digitais a
comunicação é multidirecional, de todos para todos, enquanto nas mídias de massa
há um emissor para milhares de receptores passivos. Pierre Lévy e Manuel Castells
são filósofos contemporâneos que se destacam nessa discussão.

McLuhan buscava explicações para a reconfiguração da sociedade que se


adapta à emergência de cada novo meio. Indo além deste pensamento, mas não o
desprezando, Castells e Lévy expõem que os meios de comunicação também
emergem das necessidades da sociedade, se adaptando à mensagem em um
10

movimento recíproco e contínuo. Para Lévy (1999), os meios eletrônicos atuavam, e


atuam, num campo totalizante, que impede interpretações diferenciadas pela cultura
dos receptores, justamente por sua característica unidirecional. Já na cibercultura, a
pragmática totalizante é dissolvida, ou seja, há um campo aberto para participação
na construção e na interpretação das mensagens. Por sua interatividade, as mídias
digitais, e aqui trata-se especificamente das redes sociais, contribuem para uma
audiência multidisciplinar e participativa (Castells, 1999).

Este debate ajudou a clarear o caminho a seguir nesta investigação. Foi a


partir desta associação de conceitos que a hipótese deste trabalho começou ganhar
forma: um veículo jornalístico poderia de manter sua linha editorial nas publicações
feitas em redes sociais, visto que o leitor não é passivo ao receber a informação e,
em meios diferentes, a mensagem é percebida de maneiras diferentes? Como as
redes sociais contribuem para mudanças na recepção de mensagens?

Para esclarecer estas questões, perspectivas e observações de diversos


estudiosos das mídias digitais, da comunicação e da cibercultura foram
considerados nesta pesquisa, dividida em três pontos principais:

- Sobre as redes sociais online e como elas influenciam a disseminação de


notícias, que buscará compreender as diferenças das redes sociais on em relação
às offline e seu papel como meios de comunicação;

- O processo jornalístico em redes sociais online, que investigará a influencia


das redes no processo de produção e compartilhamento de notícias e;

- As possibilidades de intervenção na notícia publicada nas redes sociais,


considerando as especificidades do meio e o papel do usuário na seleção e
apropriação da informação.

Esta pesquisa propõe que as características das redes sociais influenciam


diretamente na recepção de uma notícia publicada em rede e, portanto, podem
modificar a linha editorial utilizada por um veículo a partir da interação. Considera-se
que a apropriação de significados para uma mensagem está intimamente
relacionada com o contexto individual do usuário - seus contatos, capacidade de
interação, escolhas e cultura; e de cada mídia - os recursos, fluxos e características
que a formam, entre outros fatores que serão esmiuçados ao longo dos três
capítulos.
11

2 REDES SOCIAIS COMO MÍDIA

Em seus estudos sobre o tema, Raquel Recuero aponta que para


compreender os efeitos da difusão de informações nas redes sociais na internet não
basta pensá-las como grupos, é preciso pensá-las enquanto meios (2012, p. 1).
Antes de um ensaio sobre o papel das redes sociais como mídia, é necessário
entender o que são, como surgiram e qual sua importância para a sociedade atual.

2.1 O que são redes sociais na internet

O conceito de rede social não é novo. Há muito tempo se estuda o que são as
redes em diversos contextos: econômicos, políticos e sociais. Castells (2003), citado
por Denise Cogo e Liliane Brignol (2011, p. 79), lembra que a formação de redes é
uma prática humana muito antiga, que se redimensionou a partir de algumas
necessidades e evoluções, entre elas os avanços extraordinários na computação e
nas telecomunicações.

As redes sociais existem desde que o homem começou a viver em sociedade


e são tema de abordagens matemáticas, antropológicas, sociais e psicológicas
desde o início do século XX. O tema alcançou repercussão, no entanto, com o
advento da comunicação mediada por computadores e o surgimento de sites
focados em interação e troca de informações.

Em seu artigo Redes Sociais e Teoria Social: revendo os fundamentos do


Conceito, Sônia Acioli (2007, p. 2) expõe que existe uma diversidade de definições
para o termo que, “no entanto, parecem com ter um núcleo semelhante à imagem de
fios, malhas e teias que formam um tecido comum”. É a apresentação gráfica dessas
teias, usada muito mais nas representações estruturais e matemáticas, que permite
a percepção de um conglomerado de pontos e ligações em que se reconhece uma
aproximação entre os indivíduos.

No campo das Ciências Sociais, são as relações entre pessoas,


desenvolvidas durante toda uma vida, que constituem as redes. Essas conexões
iniciam-se no âmbito familiar, em seguida na escola, na comunidade e no trabalho.
Na internet, as redes sociais são constituídas das representações desses atores e
12

de suas conexões (Recuero, 2009). Elas são, assim, formadas pelas interconexões
entre indivíduos dentro de um grupo e as ligações entre os próprios grupos distintos,
imitando as ligações que existem na vida real e proporcionando sua expansão.

Nas redes sociais online a quantidade de conexões possíveis para um mesmo


usuário é muito maior do que na vida real, já que internet favorece a manutenção
das associações criadas, porque não exige esforços físicos e psicológicos do
usuário para mantê-las. No entendimento de Cogo e Brignol (2011), as redes
manifestam uma forma de estar junto e de formar laços, implicando na participação
social.

Os primeiros estudos das redes compreenderam que existem dois aspectos


condicionantes: estudar grupos de ligações ou estudar indivíduos dentro de grupos.
As duas perspectivas buscam focar na interação, “primado fundamental do
estabelecimento das relações sociais entre os agentes humanos, que originarão as
redes sociais, tanto no mundo concreto, quanto no mundo virtual” (Recuero, 2004, p.
3). Mas diferente das redes sociais offline, as redes na internet estão sujeitas a uma
intervenção que não existia antes do surgimento da comunicação online:

É importante que se distinga o que são as redes sociais na Internet.


Elas não constituídas de forma diferente das redes offline,
justamente por conta da mediação. As redes sociais online, por
exemplo, são apresentadas através de representações dos atores
sociais. Ou seja, ao invés de acesso a um indivíduo, tem-se acesso à
uma representação dele. Do mesmo modo, as conexões entre os
indivíduos não são apenas laços sociais constituídos de relações
sociais. No meio digital, as conexões entre os atores são marcadas
pelas ferramentas que proporcionam a emergência dessas
representações. As conexões são estabelecidas através dessas
ferramentas e mantidas por elas. (Recuero, 2012, p. 1).

Em sua análise sobre recepção na internet, Cogo e Brignol (2011) afirmam


que as mesmas tecnologias de informação e comunicação (TIC‟s) que mediam as
redes também as dinamizam, mudando o lugar que elas ocupam na vida na
organização social contemporânea. É de se considerar que as redes sociais se
tornam cada vez mais o meio pelo qual as pessoas se comunicam e se encontram e
que, cada vez mais rapidamente, asseguram seu lugar entre outros meios de
comunicação mediados ou não pelo computador.
13

Castells (1999) aponta as redes como responsáveis pela configuração das


lógicas das organizações contemporâneas, caracterizando-se pela geração, pelo
processamento e pela transmissão de informações, impactando em dimensões
diversas de comunicação e de poder. Para o autor, as redes criaram uma nova
lógica de interação social.

Este trabalho utilizará o conceito que entende as redes sociais como


conexões formadas entre os usuários que utilizam uma mesma plataforma, cujo
aspecto fundamental é a interação mediada entre os atores - a transmissão de
mensagens, informações e conhecimentos - que formam a rede social online.

2.2 Redes sociais como fonte de informação

As redes sociais estão intimamente voltadas à ideia de comunicação. Online


ou offline, elas “[...] constituem uma das estratégias subjacentes utilizadas pela
sociedade para o compartilhamento da informação e do conhecimento, mediante as
relações entre atores que as integram” (Tomaél et al, 2005, p. 93).

A transmissão de informação por meio das conexões dos atores é uma


característica intrínseca de quaisquer redes, pois é através da interação e troca de
conhecimento que elas são formadas. As redes online não são diferentes: “suas
características e estrutura formam um complexo dinâmico por onde a informação
transita” (Recuero, 2012).

A principal mudança proporcionada pelas redes está na maneira como


informações são transmitidas através delas:

A principal consequência centra-se na passagem de uma lógica


hegemônica de transmissão das informações de forma massiva e
generalizada, de um pequeno grupo produtor a um coletivo
indiscriminado, para a possibilidade de produção de informação e
estabelecimento de comunicação de uma forma mais
descentralizada e distribuída para públicos segmentados. (Cogo;
Brignol, 2011, p. 83).

Em redes sociais, produtores e receptores de informação podem ser o mesmo


usuário. Enquanto difusoras de informação, elas permitem uma troca muito mais
14

evidente do que as mídias tradicionais. Pierre Lévy expõe essa diferença quando
observa que a dinâmica do ciberespaço é diferente da lógica informacional
dominante nos meios de comunicação de massa. O ciberespaço em geral, e em
consequência as redes sociais, “oferecem para debate coletivo, um campo de
prática aberto, participativo, e mais distribuído do que aquelas mídias clássicas”
(1999, p. 131).

Como fontes de informação, as redes sociais têm características individuais


muito acentuadas e processos complexos. Os mecanismos de difusão de
informação em redes online também têm a ver com a posição, as perspectivas de
quem a recebe na rede e com o valor atribuído a esta informação por cada sujeito. A
essa atribuição de valores pode-se chamar de capital social. Gyarmati e Kyte
(2004:3), apud Recuero (2005, p. 10) têm idéia semelhante, e explicam que o capital
social constitui-se no conteúdo das relações sociais em uma rede. Para Marteleto e
Silva (2004), capital social é formado por normas, valores, instituições e relações
que permitem a troca entre diferentes grupos, possuindo uma natureza
multidimensional. Pode-se defini-lo então como o conjunto de normas e redes que
afetam o bem-estar da comunidade na qual estão inscritas, “facilitando a cooperação
entre os seus membros pela diminuição do custo de obter e processar informação”
(Marteleto; Silva, 2004, p. 44).

O capital social é importante tema de discussão no estudo das redes sociais


como fontes de informação. Quando atribuído a um elemento da rede, é ele que irá
determinar a importância da informação que aquele usuário repassa. Assim, quanto
maior o valor do capital social atribuído a um nó, mais importância suas percepções
terão para outros nós e maior será seu alcance.

As informações que circulam nas redes sociais assim tornam-se


persistentes, capazes de ser buscadas e organizadas, direcionadas a
audiências invisíveis e facilmente replicáveis. A essas características
soma-se o fato de que a circulação de informações é também uma
circulação de valor social, que gera impactos na rede. (Recuero,
2012, p. 5).

Outra variável no processo de comunicação em rede está ligada justamente a


como as informações circulam entre os nós. As conexões são construídas pelos
atores através da interação:
15

Redes são estruturas diferenciadas. Ora, é apenas por conta desta


mediação específica que é possível a um ator ter, por exemplo,
centenas ou, até mesmo, milhares de conexões, que são mantidas
apenas com o auxílio das ferramentas técnicas. Assim, redes sociais
na Internet podem ser muito maiores e mais amplas que as redes
offline, com um potencial de informação que está presente nessas
conexões. (Recuero, 2012, p. 2-3).

Existem duas formas de interação e associação nas redes sociais: as


emergentes, que tratam das conexões estabelecidas pela conversação entre os
usuários; e as de filiação, proporcionadas pela estrutura da rede, que visam
aumentar a quantidade de conexões independente da relação entre os atores.
Ambas são importantes, mas são as redes de filiação que tornam as redes mais
complexas e aumentam o potencial de alcance de uma informação. Tomaél et al
(2005) propõe que as relações entre os indivíduos de uma rede é que lhe dão forma,
entretanto, a constante interação ocasiona mudanças estruturais e na circulação de
conhecimento, formando um poliedro de significados.

Cada nó estabelecido na rede social é um canal por onde a informação


circula, disponível a todos, e uma porta aberta para um alcance cada vez maior e
mais descentralizado. As estruturas formadas pela rede social online, ao contrário
das mídias tradicionais, permitem que vários atores emitam mensagens e as
propaguem. Com vários polos emissores, as redes sociais democratizam o acesso e
a produção de informação. McLuhan fala de algo parecido quando cita a aldeia
global, explorando a ideia de que a informação está acessível a qualquer pessoa, e
é divida entre todas as pessoas que a formam. “Mas, diferente da mídia de massa
da Galáxia de McLuhan, elas {a comunicação mediada pelo computador} têm
propriedades de interatividade e individualização tecnológica e culturalmente
embutidas” (Castells, 1999, p. 441). É sobre essas propriedades que iremos tratar
nos próximos capítulos.
16

3 REDES SOCIAIS E LINHA EDITORIAL NO JORNALISMO ONLINE

Discutiu-se até aqui o papel das redes sociais como fontes de informação e
porque o conteúdo é fundamental na sua formação, constituindo o principal
elemento que configura as interações entre os usuários. Também foi levantada a
proposta de que a circulação de informação em redes sociais têm características
únicas, responsáveis pela sua configuração enquanto mídias. Como visto no
capítulo anterior, as redes online possuem singularidades em seus fluxos
informativos: democratizam a produção e distribuição de conteúdo online,
possibilitando a criação de novas perspectivas sobre uma mesma mensagem.

As redes sociais online mudam completamente a lógica comunicacional


dominante nos meios de comunicação de massa, passando de um modelo um-para-
todos para uma comunicação aberta, de todos para todos, contribuindo para uma
audiência multidisciplinar, democrática e ativa. “É uma nova configuração do sistema
de comunicação que sai de um modelo linear, em que a maioria da população
apenas recebia mensagens, para um modelo circular, dialógico em que toda a
comunicação é de mão dupla” (Castells, 2013, p. 1). Dessa forma, todo o processo
produtivo de informações é afetado, inclusive o jornalismo.

Nos próximos tópicos, este trabalho buscará esclarecer as diferenças entre o


jornalismo em rede e nas mídias tradicionais, e como essa diferença é fundamental
no processo de recepção de uma notícia.

3.1 Jornalismo em redes sociais

Segundo a perspectiva histórica levantada por Telarolli e Albino (2007), foi


somente na década de 80 que os jornais realmente perceberam que poderiam
utilizar os meios de comunicação mediados pelo computador para divulgarem suas
notícias. O jornalismo online dá os primeiros passos nos EUA, quando o New York
Times passa a oferecer aos seus clientes a possibilidade de ler online artigos e
textos de suas edições diárias. De lá para cá, é cada vez maior o uso das mídias
digitais como difusoras de informação pelos jornais, que vêm se apropriando de
cada nova ferramenta, entre elas as redes sociais online.
17

O jornalismo online está se desenvolvendo ao mesmo tempo em que as


plataformas são criadas. Quando ocorreu o “boom” da internet, por volta de 1994, os
jornais transportaram para esse meio os mesmo valores que traziam consigo há
décadas. Para Catarina Moura (2002) faltou aos veículos uma visão de futuro que
permitisse a experimentação dos recursos disponibilizados por estes novos meios. A
autora expõe que o jornalismo online é uma outra forma de jornalismo, que embora
traga em sua bagagem a deontologia da profissão, ultrapassa os moldes tradicionais
permitindo a convergência de diversos recursos. Sobre isso também falou Castells:

A integração potencial do texto, imagens e sons e um mesmo


sistema – interagindo a partir de pontos múltiplos, no tempo
escolhido (real ou atrasado) em uma rede global, em condições de
espaço aberto e de preço acessível – muda de forma fundamental o
caráter da comunicação. (1999, p. 514).

O jornalismo não é mais orientado pela pelas mesmas premissas que guiam a
imprensa tradicional. “Isto passa pela constatação de que os sites noticiosos devem
ser vistos para além de um mero prolongamento das manifestações impressas ou
eletrônicas de um veículo, seguindo prerrogativas próprias”, reafirma Brambilla
(2005, p. 5).

As redes sociais online tornaram o jornalismo mais dinâmico porque a


intervenção de um usuário ativo sobre a notícia é parte do processo de criação e
compartilhamento de informações. Pode-se citar como exemplo, primeiramente, que
a própria rede (e seus usuários) pode pautar a notícia, em um segundo momento,
qualquer ator em rede pode criar notícias, selecioná-las, editá-las ou divulgá-las.

Uma importante relação entre jornalismo e redes sociais é quanto ao


processo de filtragem e seleção de informações, que “[...] dá visibilidade a
informações que tradicionalmente não circulariam nos meios mais tradicionais”
(Zago apud Recuero 2012, p. 9). Com mais informação circulando, novas
perspectivas de um mesmo assunto podem surgir. O conhecimento coletivo é
aumentado, as possibilidades de análise do fato, também.

[...] quanto mais informação trocamos com o ambiente que nos


cerca, com os atores de nossa rede, maior será a nossa bagagem de
conhecimento, maior será nosso estoque de informação, e é nesse
18

poliedro de significados que inserimos as redes sociais. (Tomaél et


al, 2005, p. 95).

Os usuários das redes atuam escolhendo e reverberando informações que


reconhecem como de interesse pessoal e para o seu grupo. Quando uma
informação já foi lida e compartilhada por um ator, sua relevância é aumentada ou
diminuída conforme o capital social atribuído a esse usuário. Recuero estudou esta
perspectiva no Twitter e concluiu que “ao repassar informações que foram
publicadas por veículos, os atores estão dando credibilidade ao veículo e tomando
parte dessa credibilidade para si, pelo espalhamento da informação” (2009, p. 9). É
o que muitos estudiosos chamam de gatewatching: uma nova perspectiva da teoria
do gatekeeping em que os usuários passam a ser responsáveis pela observação
daquilo que é publicado pelos veículos noticiosos, identificando informações
relevantes para si e para seu grupo e compartilhando-as, creditando a elas seu
próprio capital social.

Diferentemente da seleção profissional de quais acontecimentos


cobrir e publicar na mídia de referência, em um cenário de
abundância de informações e canais de expressão as pessoas
passam a participar da filtragem do que interessa a suas
comunidades de interesse. Além da seleção das notícias disponíveis
em outros lugares, que podem ser passadas adiante em sites de
redes sociais, os próprios voluntários podem oferecer seus
comentários em seus blogs e perfis no Twitter e Facebook. (Primo,
2011, p. 6).

Este processo é intimamente ligado ao de disseminação de informações, que


constitui um dos pontos centrais deste estudo. Um dos efeitos mais relevantes do
surgimento das redes sociais online é justamente a difusão, um processo ativado
pelas ações de cada nó, que repassa à rede informações determinadas. “Eles [os
processos de difusão] são emergentes porque nem sempre seus mecanismos,
intrincados e complexos, podem ser percebidos fora de sua estrutura” (Recuero,
2012, p. 5).

Outra característica das redes sociais capaz de mudar a relação entre usuário
e veículo noticioso e que a difere de outras mídias é a condição de que as
informações sejam armazenadas, replicadas e buscadas a qualquer momento.
19

Como essas ferramentas permitem a permanência das informações,


as conexões funcionam como vias de circulação, uma vez que,
enviada uma mensagem para a rede, todos receberão quando se
conectarem, pois a mesma ficará armazenada. Assim, mensagens
construídas por quaisquer nós da rede podem ter impactos massivos.
(Recuero 2012, p. 6).

Com a informação ao alcance em qualquer tempo, a seleção de notícias pode


ocorrer independentemente do arquivo disponibilizado pelos veículos jornalísticos
que as produzem. “Passa-se assim de uma condição de seleção a priori das
mensagens atingindo o público, a uma situação na qual o cibernauta pode escolher
num conjunto mundial muito mais amplo e variado, não triado pelos intermediários
tradicionais” (Lévy, 1998, p. 45).

Ainda sobre este aspecto, pode-se afirmar que a comunicação mediada por
computadores - o que se aplica as redes sociais online - amplia o papel do
jornalismo como fonte de informação, pois possibilita a leitura contínua e
descentralizada do fato. “No webjornalismo a notícia deve ser encarada como
princípio de algo e não um fim em si própria” (Canavilhas, 2001, p. 2). A
possibilidade de criar caminhos próprios de leitura faz das redes sociais um campo
aberto de busca, interpretação e discussão da mensagem.

Catarina Moura (2002) acredita que as redes têm contribuído para uma nova
modalidade, desenvolvida a partir da contribuição de todos, o que ela chama de
jornalismo open source. Nesse modelo, mais democrático, a imparcialidade é
característica intrínseca. Ela explica a sua hipótese em uma análise sobre o site
participativo www.slashdot.org:

Situado entre o webzine e o fórum, o Slashdot representa o que


muitos consideram o início do Jornalismo open source, o que implica
desde logo, permitir que várias pessoas (que não são jornalistas)
escrevam e, sem, a castração da imparcialidade, dêem sua opinião,
impedindo assim a proliferação de um pensamento único, como pode
ser difundido pela maioria dos jornais, cuja objectividade e
imparcialidade são muitas vezes, máscaras de um qualquer ponto de
vista que serve interesses mais particulares que apenas o informar
com honestidade e isenção o público que os lê. (2002, p. 1).

Esses interesses, citados pela autora, estão diretamente ligados à linha


editorial de um jornal. Será, porém, que com tantas interferências e diferenças no
20

processo produtivo é possível que a linha editorial de uma publicação feita em redes
sociais seja mantida?

3.2 A linha editorial nas redes sociais

Segundo Felipe Pena (2012) linha editorial é uma política predeterminada


pela direção do veículo de comunicação que determina a lógica pela qual a empresa
jornalística enxerga o mundo; é a linha editorial que irá indicar os valores, os
paradigmas e influenciar decisivamente na construção da mensagem de um veículo.
Rafael Venâncio (2009) reafirma este pensamento, considerando a linha editorial um
valor-notícia de construção, ou seja, para o pesquisador a linha editorial é o que
determina como uma mensagem será construída. Ora, se uma mensagem é
constituída intrinsecamente pela linha editorial de um veículo, pode-se dizer que a
mensagem é a própria linha editorial, e é sob esta perspectiva que se dará toda a
discussão a seguir.

A evolução do jornalismo está ligada diretamente à evolução dos meios de


comunicação. Não foi só o formato e a distribuição que mudou nos jornais ao longo
do tempo, houve também mudanças ideológicas que partiram das transformações
dos meios. No início do século XIX, a imprensa era opinativa ou partidária. Já por
volta dos anos 30, começaram a surgir os jornais mais factuais e, por vezes, mais
sensacionalistas; voltados aos interesses econômicos de seus detentores. Foi nesta
época que a seleção, a síntese da informação e linguagem factual impuseram se
como fatores cruciais da narrativa jornalística. Na metade do século XX, com as
grandes guerras, o jornalismo passa a ter caráter descritivo e analítico. Todas essas
etapas configuram mudanças na forma de escrever as notícias, caracterizada
principalmente pela linha editorial de um veículo. Essas mudanças continuam
ocorrendo com o advento da internet e das redes sociais online.

Ao operar em uma rede global, onde cada veículo é um nó dessa


malha interconectada, as organizações midiáticas sofrem
transformações profundas. A estrutura anterior, razoavelmente
estável, de fluxos controlados e lineares de informação, foi
substituída por uma estrutura mais caótica: ―the connection points
within a network information flowing into news outlets via a multiple
21

number of strings, being processed and then either pushed toward or


pulled out by the active user‖. (Heinrich: 2011, p. 63, apud Primo,
2011, p. 4).

Comumente, os conglomerados de mídia repassam às redes sociais o mesmo


modelo formal dos veículos impressos. No geral, as empresas apenas reverberam
as notícias impressas em seus meios online. A linha editorial é mantida
independente do veículo em que a mensagem é distribuída. Ocorre que o conteúdo
de uma notícia online é inevitavelmente diferente da mesma notícia impressa,
divulgada no rádio ou na televisão, isso porque tanto o conteúdo é modificado pelo
meio, como ele mesmo o modifica. A mensagem é parte indissociável dos meios
online. “Devido à diversidade da mídia e à possibilidade de visar o público-alvo,
podemos afirmar que no novo sistema de mídia, a mensagem é meio” (Castells,
1999, p. 425).

Em meios diferentes a mensagem é diferente, portanto, pode-se deduzir que


a recepção dessa mensagem também ocorrerá de forma distinta. Este fato é exibido
por Telarolli e Albino (2007, p. 13), em seu ensaio sobre as mudanças trazidas pelas
novas tecnologias de informação: “Nota-se que a impressa transforma-se a cada
inovação tecnológica; muda a maneira de produção de conteúdo e altera a forma de
recepção”. Essas mudanças são mais significativas nas redes sociais online, pois há
ainda outros fatores que contribuem para uma pluralização de sentidos: cada
indivíduo possui uma rede própria, com características singulares e ligações
diferentes. A rede social online pode ser observada tanto no âmbito individual quanto
no coletivo: cada perspectiva modifica o processo de transmissão de informações.

Como tem sido discutido ao longo deste trabalho, são os recursos interativos
das redes os responsáveis por atribuir novas leituras a uma mesma notícia. Alex
Primo (2011) afirma que na cibercultura um usuário consome toda e qualquer
informação que tiver contato, segundo suas estratégias particulares de interação. É
o usuário que decide a importância de cada fonte de informação e as avalia. A visão
de mundo emerge do cruzamento de todas as mensagens recebidas, formando o
que o autor chama de composto informacional midiático. Lúcia Santaella confirma
este fato:
22

As mídias digitais com suas formas de multimídia interativa estão


sendo celebradas por sua capacidade de gerar sentidos voláteis e
polissêmicos que envolvem a participação ativa do usuário. As duas
bases principais para isso estão na convergência de mídias
anteriormente separadas e na relação interativa entre o usuário e o
texto híbrido que este ajuda a construir. (Santaella, 2004, p. 146).

A possibilidade de um usuário produzir, filtrar e disseminar informações


conforme as suas próprias perspectivas o tornam imprescindível na formação da
mensagem que circula em redes sociais online. Como explica Lévy, o ponto de vista
propagado pelas mídias é ditado pelo interesse de quem a envia e, no caso das
notícias, do veículo que a produz, mas diferente das mídias de massa, “[...] o
ciberespaço é fraco nesse sentido, pois abriga essencialmente processos de leitura
e escrita coletivos, distribuídos e assíncronos” (1999, p. 209). Estes processos
coletivos são responsáveis pela pluralização de sentidos e interpretação da
mensagem que Primo e Santaella sugerem nas citações anteriores.

Uma vez em rede uma notícia pode passar por tantos nós que em sua
recepção final poderá ter adquirido significados diferentes daquele proposto em sua
produção, pois o simples ato de compartilhar a informação atribui a ela algum valor,
positivo ou negativo, um capital social. Uma informação adicionada ao post lançado
em qualquer rede - seja ela um comentário, um link ou uma imagem - pode contribuir
para a mudança de percepção do usuário que a recebe. Não é só o capital social
atribuído a estes grupos que podem determinar a importância dada à notícia
recebida: as informações agregadas a complementam e permitem uma nova
interpretação do fato. Um exemplo é dado por Recuero (2012) em um estudo que
foca no Twitter como rede difusora de conteúdo. A autora afirma que é frequente a
apropriação de mensagens por usuários que possam subverter o sentido de uma
informação considerada relevante pela rede:

Mesmo atores podem subverter esse sentido, fazendo humor e


criando contrafluxos que dificultem ou impeçam a compreensão da
proposta. A idéia da "marcha anticanhotismo" no Twitter
(#MarchaAntiCanhotismo), por exemplo, foi um desses casos. A
proposta era propagar a idéia de modo a ironizar a "Marcha pela
Família" e criticar posicionamentos homofóbicos e preconceituosos.
Entretanto, nem todos os participantes compreenderam o espírito da
manifestação e vários passaram a difundir a informação como uma
marcha real, criticando o preconceito contra canhotos. A informação
23

ficou entre os tópicos mais comentados do Twitter por dois dias.


(2012, p. 9).

Outro exemplo: se um ator de significativa importância no grupo, cujo capital


social se destaca, seleciona e repassa uma notícia junto a um comentário em que
discorde da opinião do veículo que a produziu – independente de sua razão ou não
–, é provável que os nós do grupo para o qual a notícia foi enviada a leiam
influenciados pelo ponto de vista de seu interlocutor. Estará aberta a discussão.
Muitos outros pontos de vista podem ser acrescentados ao fato em comentários,
imagens ou hiperlinks. Os mais interessados buscarão argumentação na imensa
massa de informação das internet; alguns assumiram para si a postura daquele ator
que inicialmente se opôs ao fato, mas uma coisa é certa: já não haverá garantias
que a notícia será interpretada como foi proposto pelo veículo que a pautou. Não há
um caminho exato por onde a informação circule, nem certeza do tipo de interação
que ela irá gerar, muito menos um resultado pré-estabelecido. Este é um processo
especialmente desenvolvido nas redes sociais online, mas não exclusivo:

Embora cada mente humana individual construa seu próprio


significado interpretando em seus próprios termos as informações
comunicadas, esse processamento mental é condicionado pelo
ambiente da comunicação. Assim, a mudança do ambiente
comunicacional afeta diretamente as normas de construção de
significado e, portanto, a produção de relações de poder. (Castells,
2013, p. 9).

É preciso destacar que cada possibilidade de intervenção cria diversas outras


possibilidades de recepção e interpretação da informação. O jornalismo não pode
fugir da prerrogativa de que uma vez em rede, a notícia passará pela construção
coletiva de sentidos, um processo que não acaba, nem pode ter seu início definido
com precisão. Pierre Lévy (1998) já falava desse aspecto ao afirmar que ao contrário
da página de celulose, a virtual não é fechada e limitada. Ela conecta o usuário
tecnicamente e de imediato, por meio dos vínculos e hipertextos, com páginas de
todo o planeta, que possuem outros vínculos, transportando o usuário a um oceano
de signos flutuantes em rede.
Uma vez que a informação ganha diversas possibilidades de leituras com as
tantas intervenções possíveis, já não há garantias de que o conteúdo inicial será
24

absorvido exatamente como seus criadores propuseram. Um jornal não pode


garantir que sua linha editorial seja mantida quando uma publicação é feita em redes
sociais, visto que a interpretação da notícia muda, e a linha editorial se traduz na
própria notícia.

Como premissa orientadora, está a percepção de quem embora os


processos midiáticos intervenham fundamentalmente na constituição
e na conformação das interações, memórias e imaginários sociais, os
indivíduos são sujeitos ativos em todo o processo de comunicação,
conferindo usos específicos às ofertas midiáticas. Não há garantia,
portanto, de que os conteúdos e sentidos ofertados pelos produtores
dos meios de comunicação sejam aqueles a serem apropriados pela
recepção, tendo em vista que são permanentemente negociados
com base nas experiências identitárias e práticas sociais individuais
e coletivas dos receptores. (Cogo, 2008, apud Cogo; Brignol, 2011,
p. 3).

Obviamente, estudos já foram feitos para compreender por que as redes


sociais online, como meios de comunicação, são capazes de gerar diferenças na
recepção de informações. Nogueira, apud Brambilla (2005) aponta quatro
características capazes de modificar a relação do usuário com o conteúdo noticioso:

1) a ubiquidade da notícia – todo conteúdo está em todo lugar e pode ser


recuperado a qualquer momento;

2) a velocidade da notícia – a apuração, processamento, conferência e


publicação são muito mais rápidos do que nas mídias tradicionais;

3) A interação – e efetividade da troca de opiniões, a possibilidade de


comentar a notícia, e a imediata troca de dados sobre a informação entre atores de
distintos cenários sociais impactam a leitura;

4) A indexação – traz a possibilidade de encontrar seus desdobramentos,


antecedentes através de níveis de leituras hipertextuais.

Estes elementos permitem um panorama tão amplo sobre o fato quanto for do
interesse do internauta e podem influenciar de maneira diferente em cada rede. Os
efeitos das características das redes sociais sobre a notícia é o que será estudado a
seguir.
25

4 A NOTÍCIA NAS REDES SOCIAIS

A notícia publicada em redes sociais circula por diferentes grupos de contato


e pode passar pela intervenção de diversos usuários. São as particularidades das
redes sociais online que possibilitam a interação, a recuperação de informações, a
edição e a intervenção na mensagem. Como citado no capítulo anterior, algumas
características das redes sociais são determinantes na recepção da notícia:
ubiquidade, velocidade, interação e indexação (Nogueira, apud Brambilla, 2005)
podem ajudar a construir novas perspectivas sobre um fato, pois modificam todo o
processo de leitura.

Boyd, apud Recuero (2012), aponta outras quatro características das redes
online que impactam a notícia: 1) a persistência, uma característica da mediação do
discurso, que permite que as interações entre os indivíduos permaneçam
armazenadas; 2) a “buscabilidade” – permite que as mensagens sejam buscadas e
recuperadas a qualquer momento – este ponto se assemelha a indexação citada por
Nogueira; 3) replicabilidade, característica também derivada da persistência, onde
as informações podem ser facilmente copiadas e repassadas; e 4) audiências
invisíveis - a presença de todo um público que não é conhecido de imediato e cujo
alcance não é percebido inteiramente pela própria rede social.

Indissociáveis das redes sociais online, esses efeitos estão presentes em


todo o processo de comunicação em rede. Eles fomentam os recursos de cada site
de redes sociais e contribuem para a criação de novos caminhos para a leitura
interpretação de uma notícia. Cogo e Brignol (2011, p. 84) ressaltam, ainda, a
importância da convergência e do hipertexto na criação de possibilidade de
interação com a informação online.

Também é a hibridação de diferentes formas discursivas (texto, som,


imagem) que dá margem ao aparecimento de outro elemento
essencial na comunicação mediada pelo computador, cuja
apropriação traz consequências para o universo da recepção. O
hipertexto, esse texto composto por uma estrutura não sequencial,
faz pensar também sobre os conteúdos e as mensagens construídos
através de fluxos heterogêneos, num contexto de processos inter-
relacionados. (Cogo; Brignol, 2011, p. 85).
26

A autora destaca o desenvolvimento de sites que ampliam essas


possibilidades interativas a partir do aproveitamento da dinâmica de redes sociais,
com a inserção, a personalização e o compartilhamento de conteúdo produzido ou
selecionado por seus usuários, como o Facebook, “que amplia as potencialidades
colaborativas da web” (2011, p. 87- 88).

4.1 A notícia no Facebook

Para afunilar um pouco mais esta análise, o Facebook foi escolhido para
exemplificar as possíveis interações de um usuário com a informação. Um olhar
sobre as particularidades e recursos da rede permitirá entender melhor como a linha
editorial de uma publicação online – apropriada e caracterizada como o conteúdo de
um veículo – pode ser modificada.

O Facebook é um site de redes sociais criado em 2004 por estudantes de


Harvard, com o objetivo de conectar pessoas. O site se baseia na adição de
contatos e formação de uma rede que possibilite manter relacionamentos
interpessoais online. Em 2013 a rede social possuía 1,2 bilhões de usuários em todo
o mundo. Cerca de 83 milhões de brasileiros possuem cadastro no site, segundo os
dados divulgados pelo próprio Facebook (apud G1, 2014).

Para participar da rede é necessário criar um perfil, cujas informações podem


ser adicionadas conforme a vontade do usuário e visualizadas segundo a orientação
de privacidade escolhida. Recuero (2009, p. 103) lista o Facebook como um site
com mecanismos de individualização (personalização, construção do eu), capaz de
mostrar as redes sociais de um ator de forma pública e que possibilita a construção
de interações nesse sistema.

Basicamente, é necessário que um convite de conexão seja enviado e aceito


para que a rede de contatos seja formada, mas com a criação das fanpages e dos
feeds de notícias, novas formas de conexões foram criadas. Gabriela Zago (2013, p.
51) explica que, no início, a confirmação era essencial para que uma conexão fosse
estabelecida, exigindo a existência - ou o desejo da existência – de laços bilaterais.
Atualmente, é possível assinar um perfil e receber as atualizações dele sem a
exigência de um “aceite”, o que cria conexões unidirecionais. Neste site, um mesmo
27

usuário pode fazer parte de diversos grupos que formam uma mesma rede, além de
existir, também, a possibilidade de participar de comunidades de interesse.

Curtir, compartilhar e comentar são apenas algumas das ações


disponibilizadas pelo Facebook para os atores interagirem as mensagens postadas.
Esta rede social é especialmente eficaz para a difusão de notícias, pois uma de suas
principais funções é justamente a opção “compartilhar”. Como visto, o
compartilhamento de informações atribui capital social ao conteúdo em rede, e os
valores construídos são capazes de influenciar os atores e suas ações (Recuero,
2009, p. 107).

Já os comentários trazem à tona a possibilidade ainda maior de leitura


descentralizada. Esta dinâmica permite o debate público da mensagem. É comum
que afirmações complementares sejam adicionadas nos comentários, incluindo,
muitas vezes, hiperlinks para textos e artigos que corroboram ou discordam do tema.
São os hiperlinks e as interações que permitem ao usuário criar a sua própria
concepção da informação. A hipermídia é o principal conector que possibilita essa
polissemântica. Lúcia Santaela (2003, p. 94) define hipermídia como coglomerados
de informação multimídia de acesso não sequencial, navegáveis através de palavra-
chave semi-aleatórias. Para a autora, a hipermídia é um paradigma para a
construção coletiva de sentido, novo guia para a compreensão individual e grupal.
De fato, o hiperlink é peça chave para um processo de comunicação mais
democrático, pois permite a interconexão de diversas informações.

Nesta rede, também é possível comentar antes de compartilhar a notícia,


expondo antecipadamente uma opinião sobre a informação capaz de influenciar no
processo de leitura de quem visualiza o post. A inserção de dados e de visões
corrobora para um novo olhar sobre o conteúdo. “O artigo publicado é muitas vezes
apenas o início de uma longa lista de comentários que, como em qualquer fórum,
acabam por trazer não só reações ao artigo inicial, mas reações a reações” (Moura,
2002, p. 2).

Outra ferramenta importante das redes presente no Facebook são os filtros de


informações. Recuero (2012) aponta este recurso tem papel fundamental para dar
visibilidade a nós menos conectados, com menor visibilidade, responsáveis, no
entanto, a dar vazão à informação de outros usuários da rede. No Facebook, é
possível selecionar as informações por “mais recentes” ou “principais histórias” (as
28

que tiveram mais interações) conforme as prioridades do usuário. Na seleção de


“mais recentes”, por exemplo, os usuários mais ativos na rede - mesmo com menor
valor social diante do grupo - têm a chance de mostrar seus interesses e ampliar o
alcance da sua visão sobre uma determinada informação. Quando se escolhe as
“principais histórias” é possível que sejam apresentadas as notícias mais
comentadas e, portanto, que têm maior valor social na rede. Há ainda outras
maneiras de filtrar informações: assinando feeds ou seguindo fanpages, por
exemplo. Neste caso, o “seguidor” receberá em sua timeline as atualizações do
usuário que escolheu acompanhar, sem que o processo contrário seja necessário.
Esse filtro possibilita a escolha de veículos, temas, pessoas e assuntos, mas
também muda a perspectiva da recepção na medida em que a seleção da
informação não depende exclusivamente do valor-notícia atribuído por um veículo
jornalístico:

[...] mecanismo através do qual os atores sociais encontram


motivações para tanto é bastante individualizado e focado na
percepção de capital social que poderá gerar e ser futuramente
apropriado. Assim, as redes sociais filtram e reverberam
informações, mas nem sempre de forma igual àquela do jornalismo.
(Recuero, 2009, p. 9).

Sobre a eficiência do Facebook para a divulgação de notícias, em uma


pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) de 2010,
divulgada em 2013, 31% dos respondentes citaram espontaneamente a rede social
como uma de suas duas principais fontes de informação. Foram cinco vezes mais
citações do que o segundo colocado. Outra pesquisa, dessa vez realizada por
Gabriela Zago em 2012 (2013, p. 54), apontou que 87,7% dos 98 entrevistados
consideram o Facebook adequado para a circulação de notícias. Pode-se observar
que os recursos e características das redes sociais citadas ao longo deste estudo se
associam às respostas da pesquisa. Entre os motivos destacados pelos
pesquisados que consideram a rede social apropriada para circulação de notícias
estão:

1) o fato de ter os amigos por perto na rede, o que provê acesso a mais
informações locais – o que detona a importância do capital social;
29

2) o potencial da rede para promover debates, por meio dos comentários –


fato que demonstra a importância da interação entre os atores;

3) abrangência da ferramenta e a praticidade para postar notícias na rede –


que leva em conta a facilidade de buscar e armazenar informações;

4) a facilidade de acompanhar os acontecimentos por meio da ferramenta


quando se passa muito tempo online – este ponto mostra a importância da constante
atualização e interação na rede;

5) a rapidez na propagação das notícias – priorizando a velocidade do acesso


à informações.

Obviamente, uma notícia compartilhada no Facebook será apropriada de


modos diferentes pelas diferentes audiências do sujeito que a repassa, mas isso não
ocorre somente pela influência do ator ou do grupo que faz parte de sua rede. Esta é
uma visão muito simplista, pois há ainda diversas dinâmicas nesse processo que
vão desde o design do site até os algoritmos de seleção e exibição de notícias,
passando, claro, pela bagagem cultural e social do indivíduo que atua em rede.
Como reforçam Cogo e Brignol (2011), as diferenças na recepção não se reduzem à
mídia pela qual se passa a informação, mas ao processo comunicacional como um
todo. “Esse deslocamento colabora para afirmar que nenhuma prática de recepção
em que estejam implicadas materialidades midiáticas pode estar isenta de
interações comunicacionais providas da historicidade e contextualizadas
socioculturalmente” (2011, p. 77).

Recuero (2009, p. 6) afirma, ainda, que os estudos sobre a mobilização do


capital social pelos atores mostraram como o Facebook os auxilia, atuando como um
facilitador da construção de valores e atribuindo importância à interação sobre a
informação na rede. O que esta discussão procura apontar é que os recursos do
Facebook colaboram diretamente para a exposição de diversos ângulos sobre uma
mesma informação.

A informação é parte essencial das redes e, no Facebook, circula


constantemente entre variados grupos de interesse, pois as redes pessoais são
interconectadas por nós comuns a vários usuários. Castells, definindo as redes de
comunicação como fluxos informativos, afirmou que a dinâmica de cada rede em
relação às outras são fontes cruciais de transformação de nossa sociedade (1999, p.
30

497). Nenhum recurso, no entanto, certifica que a informação depositada no


Facebook seja filtrada, visualizada, lida e compartilhada. Leva-se em conta que na
cibercultura, um usuário consome toda e qualquer informação que tiver contato
segundo suas estratégias particulares de interação (Primo, 2011).

4.2 O papel do usuário

Fragoso apud Recuero (2009) afirma que não é suficiente falar em redes
sociais na internet levando em conta apenas os fatores estritamente tecnológicos da
questão, esquecendo as pessoas que interagem umas com as outras para
concentrar-se sobre a mediação tecnológica. Propõe-se, por fim, um olhar sobre o
usuário das redes – do Facebook – na apropriação de significados na recepção da
notícia.

O usuário é o principal elemento de todo o processo de comunicação online,


porque, em primeiro plano é ele que escolhe estar ou não conectado a uma rede
social. Ainda nesse sentido pode-se afirmar que os usuários estabelecem qual tipo
de relações querem ter em rede e quais as informações querem receber e repassar
nesses ambientes.

Ora, o papel do indivíduo na construção de sua própria rede social é


preponderante. Na rede, o ator determina com quem irá interagir e
com quem irá constituir laços sociais. O individualismo em rede é um
padrão social, não um acúmulo de indivíduos isolados. O que ocorre
é que indivíduos montam suas redes, on-line e off-line, com base em
seus interesses, valores, afinidades e projetos. (Castells, 2003, p.
109 apud Cogo; Brignol 2011, p. 79).

Uma vez cadastrado na rede social, o usuário é quem escolhe repassar o


conteúdo, mas sua atuação depende do grau de intimidade com o meio. “[...] a
autonomia das escolhas de decisão está diretamente ligada à nossa capacidade de
interação com as mídias”, afirmam Cogo e Brignol (2011, p. 81).

Em seu estudo sobre circulação de informações, Zago (2013) questionou


usuários do Facebook sobre a reação deles ao lerem uma notícia em rede. Entre as
respostas sugeridas, 71 pessoas responderam que curtem a notícia, 58 usuários
31

afirmaram compartilhar a notícia a partir do botão oferecido no site, 11 pessoas


copiam manualmente o link em seu mural e 29 costumam deixar comentários. O
usuário sempre interage de alguma maneira com as notícias de seu interesse,
utilizando principalmente os recursos oferecidos pela rede. Como é realizada essa
interação, no entanto, é uma escolha pessoal. “Cada vez mais, o usuário tem, nos
dispositivos eletrônicos, ferramentas que potencializam suas opções de escolha de
conteúdos para compor sua cesta informativa e, assim, ampliar sua condição
intelectual e de conhecimento sobre o ambiente” (Saad Corrêa et al, 2009, p. 208).

Para Adriana Braga as novas tecnologias (nas quais inclui o Facebook) deram
uma nova dimensão à ideia de audiência ativa. Parafraseando McLuhan, ela afirma:

„O usuário é o conteúdo‟ se considerarmos que cada membro/a da


„audiência‟ de um meio incorpora o que lê, vê e/ou ouve de acordo
com seu conhecimento de fundo, de acordo com suas próprias
categorias e sistemas de valores, e faz do conteúdo algo que sirva e
se relacione com suas próprias capacidades. (2012, p. 51).

Outro fator que ressalta a importância do usuário para a formação de sentidos


de uma mensagem em rede é o modo como ele se comunica. Um exemplo fácil de
compreender: ao analisar o perfil de um humorista no Facebook percebe-se que sua
página é, tipicamente, constituída de piadas e ironias. Já um político, comumente,
trata em seu perfil de assuntos mais sérios. Se uma notícia é compartilhada por um
humorista seus seguidores a lerão com uma expectativa e um „tom‟ diferente
daquela que teriam se ela fosse compartilhada pelo político. A questão principal é
que o capital social tem a ver, também, com reputação que se constrói em rede. “O
conceito de reputação implica diretamente no fato de que há informações sobre
quem somos e como pensamos que auxiliam outros a construir, por sua vez, suas
impressões sobre nós” (Recuero, 2009, p. 109). A reputação é uma percepção
qualitativa, que influencia diretamente na recepção da informação repassada e
recebida por outros usuários da rede.

Primeiramente, se considerarmos que as redes que estamos


analisando são redes sociais, portanto, constituída de atores sociais,
com interesses, percepções, sentimentos e perspectivas,
percebemos que há uma conexão entre aquilo que alguém decide
32

publicar na internet e a visão de como seus amigos ou audiências na


rede perceberá tal informação. (Recuero, 2009, p. 117).

O ator reconhecer o seu próprio papel na rede também corrobora para o fato
de que ele é ativo diante das mídias. “Como dissemos, atores sociais não são
independentes de motivações. Eles são capazes de perceber os valores
constituintes das redes sociais na Internet e utilizar esses valores através da
apropriação dos sites de redes sociais” (Recuero 2009, p. 129). Marteleto e Silva
concordam com tal afirmação, completando: “Os recursos [das redes] são
empregados pelas pessoas a partir de uma estratégia de progresso dentro da
hierarquia social do campo, prática resultante da interação entre o indivíduo e a
estrutura” (2004, p. 44).

Porém, assim como nada garante que a apropriação de sentidos seja aquela
que o veículo noticioso propõe ao postar uma informação, também não é garantido
que os usuários das redes estejam aptos a compreender as novas possibilidades
que surgem com o novo meio. Pierre Lévy fala deste aspecto ao enfatizar as
diferenças entre a comunicação de massa e a comunicação mediada pelo
computador.

Tal desligamento, enfatizamos, não é de forma alguma garantido


nem automático. A ecologia das técnicas de comunicação propõem
os atores humanos, dispõem. São eles que decidem (...). É preciso
que tenham percebido a possibilidade de novas escolhas. (1999, p.
120).
33

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta análise buscou entender os efeitos da rede social sobre a linha editorial
focando na interação, sem esquecer que as redes sociais são formadas por
representações de pessoas. Compreendê-las enquanto sistemas, entretanto, é outro
passo importante para explorar as possibilidades que as redes oferecem aos
veículos noticiosos e seu conteúdo. Os sites de redes sociais online possuem
atributos que vão muito além do que é visto em uma página acessada por um
usuário comum. A interferência na linha editorial de uma notícia online começa no
momento em que um desenvolvedor atribui importância maior a um ou outro
elemento, escolhe as funcionalidades e cria códigos e padrões a serem utilizados. O
design é apenas um exemplo dos elementos da rede capazes de modificar a relação
do usuário com conteúdo e veículo. Nenhum usuário tem poder de escolha e
decisão sobre a interface que será apresentada na rede (apesar de influenciar a sua
construção), mas o design pode afetar diretamente no interesse sobre uma
publicação.

Embora voltados originalmente para finalidades mais sociais, os sites


de redes sociais têm sido apropriados para a difusão de informações,
em especial para a prática jornalística. Nesse contexto, elementos do
design de interface acabam influenciando a percepção dos usuários
quanto à adequação da utilização desses espaços para a circulação
jornalística. (Zago, 2013, p. 57).

Assim, também, ténicas de Search Enginee Optimization (SEO), Social Media


Optimization (SMO) e outras estratégias de alavancagem de conteúdo, publicações
patrocinadas e propagandas online podem interferir em todo o processo
comunicativo nas redes, impactando no conteúdo. Como e quais os resultados disso
sobre a linha editorial é um fator a ser estudado.

Importante destacar que, por seu capital social, jornais, revistas e programas
jornalísticos televisivos e de rádio ainda são reconhecidos como fontes seguras de
informação, apesar de nem sempre como modelos de objetividade. Muitas vezes, os
usuários recorrem às páginas oficiais dos veículos para verificar a veracidade de
uma notícia. Isto não constitui necessariamente a aceitação passiva da linha editorial
e informação propagada por um veículo. Vale citar que a informação e a
34

comunicação são vetores de dominação e poder (Castells, 1999) e que as mídias


digitais têm atuado diretamente na mudança desse paradigma histórico,
principalmente quando são capazes de dar voz às manifestações divergentes,
democratizando a comunicação.

Em razão da novidade histórica do veículo e da relativa melhora do


status relativo de poder dos grupos tradicionalmente subordinados,
como as mulheres, a CMC [comunicação mediada por
computadores] poderia oferecer uma oportunidade de reversão dos
jogos de poder tradicionais do processo de comunicação. (Castells,
1999, p. 446).

É necessário citar que as redes sociais online são também mecanismos de


mobilização. Cada vez mais novos grupos autônomos de jornalismo participativo
surgem e se desenvolvem nas redes sociais. “O restabelecimento de uma conexão
entre público e mídia vem estimulando novas iniciativas”, afirma Brambilla (2005,
p.91). Com visões muitas vezes antagônicas às das publicações mais tradicionais,
esses grupos trazem a tona novos debates sobre os fatos cotidianos, noticiados ou
não na mídia. A linha editorial sofre ainda mais impacto quando aumentam as
possibilidades de aprofundamento e as perspectivas sobre uma notícia. Este
aspecto é importante, porque democratiza ainda mais a produção de informação
trazida à tona nas redes sociais online.

A confiança atribuída aos veículos tradicionais, no entanto, principalmente


aqueles cujo domínio de mercado é mais amplo, também influencia no processo de
recepção e seleção de notícias em rede e isso não pode ser descartado. O tema
talvez seja digno de uma investigação particular, que estabeleça os valores
transferidos às redes pelos veículos jornalísticos e quão influentes esses valores os
tornam diante de um universo de informações e contrapontos tão rico.

“O jornalismo digital que quer usufruir das redes sociais precisa ter em
mente que há curadores de conteúdo tão influentes quanto veículos „oficiais‟
oferecendo análises tão profundas ou furos extraordinários quanto qualquer mídia
tradicional”, cita Cleyton Carlos Torres (2012, p. 1), em seu artigo sobre o desafio do
jornalismo em rede publicado no Observatório da Imprensa, completando: “Era mais
conveniente deter total controle sobre as direções em que as informações
jornalísticas trafegam. (...) Com as redes sociais tudo isso é profundamente alterado”
35

(2012, p. 1). Em rede sociais é preciso estar preparado para estabelecer um debate
amplo e dinâmico com os leitores, inovar e principalmente receber manifestações
críticas. Não se deve esquecer que o público está atento a tudo que circula nas
redes e pronto para argumentar, analisar, perceber, selecionar a informação. As
redes contribuem para o aprofundamento e à crítica. São as necessidades
comunicativas dos usuários que levam a criação de novos recursos e que trazem
consigo novas dinâmicas, nem sempre bem apropriadas pelos veículos.

A literatura nos permite inferir que as redes sociais são recursos


importantes para a inovação, em virtude de manterem canais e fluxos
de informação em que a confiança e o respeito entre os atores os
aproxima e os levam a compartilhamento de informações que incide
o conhecimento detido por eles, modificando-o ou ampliando-o.
(Tomaél et al, 2005, p. 102).

Ao falar de redes sociais é necessário considerar as suas eventuais


mudanças e a rápida evolução do meio digital. Esta análise tratou sempre de
possibilidades, pois as formas de acesso à informação online constituem inúmeras
perspectivas de apropriação e de interação, muitas vezes ainda inexploradas ou
mesmo desconhecidas. No momento em que este texto é lido, novos recursos estão
sendo criados, testados, inseridos nos meios digitais. Em redes complexas e em
constante evolução, portanto, uma visão determinista seria um erro.

Um meio de comunicação social é um dispositivo tecnológico de


produção e reprodução de mensagens associado a determinadas
condições de produção e a certas modalidades (ou práticas) de
recepção dessas mensagens, em que os contextos se tornam
imprescindíveis no estudo da comunicação midiática. (Cogo; Brignol,
2011, p. 78).

Por fim, a linha editorial é uma representação do próprio veículo e um


importante instrumento de identificação entre usuários e a publicação. Como visto,
não há garantias de que ela seja mantida em conteúdos publicados na rede social
online. Outra questão que surge com essas considerações é justamente sobre a
possível perda da identidade dos veículos que atuam nesses meios. Este é mais um
ponto importante sobre a linha editorial online ainda a ser explorado.
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