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São Paulo
2014
Sindy Uiara Molina Brasil
São Paulo
2014
Brasil, Sindy Uiara Molina
B823l
Linha editorial online: um estudo sobre recepção de notícias em rede /
Sindy Uiara Molina Brasil – São Paulo, 2014.
I. Brasil, Sindy Uiara Molina (autora) II. Diniz, Juana R. (orient.) III.
Linha editorial online: um estudo sobre recepção de notícias em rede
CDD 006.7
Sindy Uiara Molina Brasil
1) Examinador(a)
2) Examinador(a)
3) Presidente
AGRADECIMENTOS
Aos meus companheiros de estudo Paulo, Karin, Luis, Marcos e Tábata, que fizeram
a jornada mais leve;
As redes sociais online são meios de comunicação emergentes por onde a informação
circula. Diferente das mídias de massa, onde a comunicação ocorre unilateralmente, de um
centro emissor para milhares de receptores, as mídias digitais permitem uma comunicação
dialógica e multilateral, de todos para todos. Considerando as inúmeras possibilidades de
interação com a mensagem e a influência do capital social, buscou-se investigar se é
possível manter a linha editorial de uma notícia publicada em redes online; e como esses
meios proporcionam mudanças na recepção de mensagens. Levou-se em conta que a
produção de informações é orientada pela linha editorial de um veículo jornalístico e,
portanto, a notícia configura-se como a própria linha editorial. Além disso, em redes sociais,
o usuário é ativo nas escolhas e no repasse de informações. Para investigar a apropriação
de significados pelos receptores de uma notícia online, foi realizada pesquisa bibliográfica
de autores que se dedicam a compreender a comunicação mediada pelo computador e suas
implicações. Entre eles, Raquel Recuero, Alex Primo, Manuel Castells, Denise Cogo e
Pierre Lévy foram determinantes para o resultado desta análise, que compreendeu não ser
possível controlar a linha editorial de uma publicação em redes sociais.
The social networks are an emerging media where the information circulates. They are
different of the mass communication, where the communication happens of one media
center to thousands of receivers. The social networks allows a multilateral communication
from all to all. Considering the possibilities of interaction with the message and the social
capital influence, this article wants to discover if it is possible to keep an editorial focus of a
publication from the online social networks and how this medias provide changes on the
messages reception. The information production is guided by the editorial focus of the press
and, therefore, the news becomes its own editorial focus. In addition, inside social networks,
the users are responsible for choosing and forwarding the information. To investigate the
appropriation of the meanings by the news receptors, a bibliographic research has been
made from the authors who devoted themselves to study the complexity of computer-
mediated communication and its implications. Among them, Raquel Recuero, Alex Primo,
Manuel Castells, Denise Cogo and Pierre Lévy were fundamental for the results of this article
that defends the impossibility of taking control of an editorial focus on the social networks.
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 36
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1 INTRODUÇÃO
O conceito de rede social não é novo. Há muito tempo se estuda o que são as
redes em diversos contextos: econômicos, políticos e sociais. Castells (2003), citado
por Denise Cogo e Liliane Brignol (2011, p. 79), lembra que a formação de redes é
uma prática humana muito antiga, que se redimensionou a partir de algumas
necessidades e evoluções, entre elas os avanços extraordinários na computação e
nas telecomunicações.
de suas conexões (Recuero, 2009). Elas são, assim, formadas pelas interconexões
entre indivíduos dentro de um grupo e as ligações entre os próprios grupos distintos,
imitando as ligações que existem na vida real e proporcionando sua expansão.
evidente do que as mídias tradicionais. Pierre Lévy expõe essa diferença quando
observa que a dinâmica do ciberespaço é diferente da lógica informacional
dominante nos meios de comunicação de massa. O ciberespaço em geral, e em
consequência as redes sociais, “oferecem para debate coletivo, um campo de
prática aberto, participativo, e mais distribuído do que aquelas mídias clássicas”
(1999, p. 131).
Discutiu-se até aqui o papel das redes sociais como fontes de informação e
porque o conteúdo é fundamental na sua formação, constituindo o principal
elemento que configura as interações entre os usuários. Também foi levantada a
proposta de que a circulação de informação em redes sociais têm características
únicas, responsáveis pela sua configuração enquanto mídias. Como visto no
capítulo anterior, as redes online possuem singularidades em seus fluxos
informativos: democratizam a produção e distribuição de conteúdo online,
possibilitando a criação de novas perspectivas sobre uma mesma mensagem.
O jornalismo não é mais orientado pela pelas mesmas premissas que guiam a
imprensa tradicional. “Isto passa pela constatação de que os sites noticiosos devem
ser vistos para além de um mero prolongamento das manifestações impressas ou
eletrônicas de um veículo, seguindo prerrogativas próprias”, reafirma Brambilla
(2005, p. 5).
Outra característica das redes sociais capaz de mudar a relação entre usuário
e veículo noticioso e que a difere de outras mídias é a condição de que as
informações sejam armazenadas, replicadas e buscadas a qualquer momento.
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Ainda sobre este aspecto, pode-se afirmar que a comunicação mediada por
computadores - o que se aplica as redes sociais online - amplia o papel do
jornalismo como fonte de informação, pois possibilita a leitura contínua e
descentralizada do fato. “No webjornalismo a notícia deve ser encarada como
princípio de algo e não um fim em si própria” (Canavilhas, 2001, p. 2). A
possibilidade de criar caminhos próprios de leitura faz das redes sociais um campo
aberto de busca, interpretação e discussão da mensagem.
Catarina Moura (2002) acredita que as redes têm contribuído para uma nova
modalidade, desenvolvida a partir da contribuição de todos, o que ela chama de
jornalismo open source. Nesse modelo, mais democrático, a imparcialidade é
característica intrínseca. Ela explica a sua hipótese em uma análise sobre o site
participativo www.slashdot.org:
processo produtivo é possível que a linha editorial de uma publicação feita em redes
sociais seja mantida?
Como tem sido discutido ao longo deste trabalho, são os recursos interativos
das redes os responsáveis por atribuir novas leituras a uma mesma notícia. Alex
Primo (2011) afirma que na cibercultura um usuário consome toda e qualquer
informação que tiver contato, segundo suas estratégias particulares de interação. É
o usuário que decide a importância de cada fonte de informação e as avalia. A visão
de mundo emerge do cruzamento de todas as mensagens recebidas, formando o
que o autor chama de composto informacional midiático. Lúcia Santaella confirma
este fato:
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Uma vez em rede uma notícia pode passar por tantos nós que em sua
recepção final poderá ter adquirido significados diferentes daquele proposto em sua
produção, pois o simples ato de compartilhar a informação atribui a ela algum valor,
positivo ou negativo, um capital social. Uma informação adicionada ao post lançado
em qualquer rede - seja ela um comentário, um link ou uma imagem - pode contribuir
para a mudança de percepção do usuário que a recebe. Não é só o capital social
atribuído a estes grupos que podem determinar a importância dada à notícia
recebida: as informações agregadas a complementam e permitem uma nova
interpretação do fato. Um exemplo é dado por Recuero (2012) em um estudo que
foca no Twitter como rede difusora de conteúdo. A autora afirma que é frequente a
apropriação de mensagens por usuários que possam subverter o sentido de uma
informação considerada relevante pela rede:
Estes elementos permitem um panorama tão amplo sobre o fato quanto for do
interesse do internauta e podem influenciar de maneira diferente em cada rede. Os
efeitos das características das redes sociais sobre a notícia é o que será estudado a
seguir.
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Boyd, apud Recuero (2012), aponta outras quatro características das redes
online que impactam a notícia: 1) a persistência, uma característica da mediação do
discurso, que permite que as interações entre os indivíduos permaneçam
armazenadas; 2) a “buscabilidade” – permite que as mensagens sejam buscadas e
recuperadas a qualquer momento – este ponto se assemelha a indexação citada por
Nogueira; 3) replicabilidade, característica também derivada da persistência, onde
as informações podem ser facilmente copiadas e repassadas; e 4) audiências
invisíveis - a presença de todo um público que não é conhecido de imediato e cujo
alcance não é percebido inteiramente pela própria rede social.
Para afunilar um pouco mais esta análise, o Facebook foi escolhido para
exemplificar as possíveis interações de um usuário com a informação. Um olhar
sobre as particularidades e recursos da rede permitirá entender melhor como a linha
editorial de uma publicação online – apropriada e caracterizada como o conteúdo de
um veículo – pode ser modificada.
usuário pode fazer parte de diversos grupos que formam uma mesma rede, além de
existir, também, a possibilidade de participar de comunidades de interesse.
1) o fato de ter os amigos por perto na rede, o que provê acesso a mais
informações locais – o que detona a importância do capital social;
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Fragoso apud Recuero (2009) afirma que não é suficiente falar em redes
sociais na internet levando em conta apenas os fatores estritamente tecnológicos da
questão, esquecendo as pessoas que interagem umas com as outras para
concentrar-se sobre a mediação tecnológica. Propõe-se, por fim, um olhar sobre o
usuário das redes – do Facebook – na apropriação de significados na recepção da
notícia.
Para Adriana Braga as novas tecnologias (nas quais inclui o Facebook) deram
uma nova dimensão à ideia de audiência ativa. Parafraseando McLuhan, ela afirma:
O ator reconhecer o seu próprio papel na rede também corrobora para o fato
de que ele é ativo diante das mídias. “Como dissemos, atores sociais não são
independentes de motivações. Eles são capazes de perceber os valores
constituintes das redes sociais na Internet e utilizar esses valores através da
apropriação dos sites de redes sociais” (Recuero 2009, p. 129). Marteleto e Silva
concordam com tal afirmação, completando: “Os recursos [das redes] são
empregados pelas pessoas a partir de uma estratégia de progresso dentro da
hierarquia social do campo, prática resultante da interação entre o indivíduo e a
estrutura” (2004, p. 44).
Porém, assim como nada garante que a apropriação de sentidos seja aquela
que o veículo noticioso propõe ao postar uma informação, também não é garantido
que os usuários das redes estejam aptos a compreender as novas possibilidades
que surgem com o novo meio. Pierre Lévy fala deste aspecto ao enfatizar as
diferenças entre a comunicação de massa e a comunicação mediada pelo
computador.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta análise buscou entender os efeitos da rede social sobre a linha editorial
focando na interação, sem esquecer que as redes sociais são formadas por
representações de pessoas. Compreendê-las enquanto sistemas, entretanto, é outro
passo importante para explorar as possibilidades que as redes oferecem aos
veículos noticiosos e seu conteúdo. Os sites de redes sociais online possuem
atributos que vão muito além do que é visto em uma página acessada por um
usuário comum. A interferência na linha editorial de uma notícia online começa no
momento em que um desenvolvedor atribui importância maior a um ou outro
elemento, escolhe as funcionalidades e cria códigos e padrões a serem utilizados. O
design é apenas um exemplo dos elementos da rede capazes de modificar a relação
do usuário com conteúdo e veículo. Nenhum usuário tem poder de escolha e
decisão sobre a interface que será apresentada na rede (apesar de influenciar a sua
construção), mas o design pode afetar diretamente no interesse sobre uma
publicação.
Importante destacar que, por seu capital social, jornais, revistas e programas
jornalísticos televisivos e de rádio ainda são reconhecidos como fontes seguras de
informação, apesar de nem sempre como modelos de objetividade. Muitas vezes, os
usuários recorrem às páginas oficiais dos veículos para verificar a veracidade de
uma notícia. Isto não constitui necessariamente a aceitação passiva da linha editorial
e informação propagada por um veículo. Vale citar que a informação e a
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“O jornalismo digital que quer usufruir das redes sociais precisa ter em
mente que há curadores de conteúdo tão influentes quanto veículos „oficiais‟
oferecendo análises tão profundas ou furos extraordinários quanto qualquer mídia
tradicional”, cita Cleyton Carlos Torres (2012, p. 1), em seu artigo sobre o desafio do
jornalismo em rede publicado no Observatório da Imprensa, completando: “Era mais
conveniente deter total controle sobre as direções em que as informações
jornalísticas trafegam. (...) Com as redes sociais tudo isso é profundamente alterado”
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(2012, p. 1). Em rede sociais é preciso estar preparado para estabelecer um debate
amplo e dinâmico com os leitores, inovar e principalmente receber manifestações
críticas. Não se deve esquecer que o público está atento a tudo que circula nas
redes e pronto para argumentar, analisar, perceber, selecionar a informação. As
redes contribuem para o aprofundamento e à crítica. São as necessidades
comunicativas dos usuários que levam a criação de novos recursos e que trazem
consigo novas dinâmicas, nem sempre bem apropriadas pelos veículos.
REFERÊNCIAS
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________. Articular mentes, criar significados, contestar o poder. Prefácio. In: Redes
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20/02/2014.
PENA, Felipe. 1000 perguntas sobre jornalismo. 1ª edição, São Paulo: LTC, 2012.
TOMAÉL, Maria Inês; et al. Das redes sociais à inovação. Ciência da Informação,
Brasília, vol. 34, nº 2, p. 93-104, mai./ago. 2005. Disponível em <http://revista.ibict.
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