Sunteți pe pagina 1din 100

C.

CARRETTO

MARIA, A MULHER
QUE ACREDITOU
Introdução

O Concílio Vaticano II
com sua visão centrada em Cristo,
obrigou-nos a rever nossa piedade mariana.
A devoção a Maria,
tida durante muito tempo em grande consideração,
passou a um segundo plano.
Em alguns lugares chegou a desaparecer.
Via-se em Maria a Rainha,
mas não se via a mulher, a mãe, a irmã.
Carretto, neste livro,
nos conta como redescobriu,
em sua experiência de contemplação,
Maria como mulher, mãe e irmã.
Maria se torna de nós,
porque também ela teve que gerar Cristo na fé.
ÍNDICE
I. Maria, a mulher que acreditou
II. Ave Maria
III. Meu Deus, meu filho
IV. Raquel chora seus filhos
V. Nazaré
VI. Fazei tudo o que ele vos disser
VII. A vida e a dor
VIII Ressuscitou
IX. Rezar com Maria
Rosário
1º dia: Maria, minha irmã
2º dia: Ave Maria
3º dia: Meu Deus, meu filho
4º dia: O caos da história
5º dia: Nazaré
6º dia: Fazei tudo o que ele vos disser
7º dia: A morte de Jesus
8º dia: Ressuscitou
9ºdia: Com Maria
X. Cantos
I
MARIA, A MULHER QUE ACREDITOU

Irmão! Irmã!
Eu tinha 36 anos quando o papa Pio XII me chamou a Roma para
dirigir a Juventude da Ação Católica. A tarefa então não era nada fácil.
Hoje, o movimento católico acha-se fracionado em milhares e milhares
de grupos. Naquela época, porém, a organização era única e reunia meio
milhão de jovens, possuía catorze jornais e mais de vinte mil associações.
Senti-me esmagado com o peso da responsabilidade e foi, nessa
ocasião, que realmente conheci a angústia, principalmente quando eu
viajava para Roma.
Sim, porque Roma era a causa de minha angústia: o trabalho
parecia-me superior às minhas forças. Um mistério indizível emanava
daquelas pedras da capital. Olhar para a praça de são Pedro, que ao
turista só falava de estupenda harmonia, a mim causava um sofrimento
indescritível que, às vezes, me deixava paralisado.
Eu tinha em casa uma cópia de um quadro bem famoso1. Prezava-o
muito, não só porque gostava dele, mas também porque ele me dizia
muita coisa. Nos braços de Nossa Senhora estava o Menino Jesus que
segurava um passarinho. O quadro era atribuído a um autor anônimo do
século XIV.
Não sei explicar como, num dos meus momentos de angústia, me
veio a ideia de substituir o passarinho por uma pequena carroça, em
italiano carretto, símbolo do meu nome de família. Da ideia passei logo
à obra, como que impelido por uma força estranha. Tomei os pincéis e,
no lugar onde se achava o passarinho, pintei uma carrocinha, como se
fosse um brinquedo, que são José houvesse preparado para o Menino
com um pedaço de madeira.

1A capa deste livro, em italiano, traz a reprodução da imagem de Nossa Senhora de que fala o autor, Já modificada
por ele. (N. do T.).
Ao fazer esse desenho infantil, experimentei a sensação de estar
dizendo a Maria: "Escuta bem. Presta atenção. Para que eu fique
satisfeito basta que eu seja um brinquedo nas mãos de teu filho,
principalmente agora que me encontro em meio a tantas dificuldades. E
isto porque tenho a certeza de que permanecerás atenta, cuidando de
mim e protegendo-me'.
Não me passou de todo a angústia que eu experimentava quando
me via diante de Roma. O que é certo, porém, é que, quando sentia o
coração apertado, ao pensar que eu me considerava como parte
integrante daquele quadro tão sereno, eu acabava conseguindo
acalmar-me e encerrava o dia gozando de paz de espírito.
Posso afirmar que sempre, nos momentos duros, meu pensamento
se voltava para o quadro, onde Jesus apertava a sua carrocinha de
madeira, símbolo de outra carrocinha, que andava circulando pelas ruas
poeirentas do mundo.

* * *

Devo dizer, entretanto, que as minhas relações com Maria, mãe de


Jesus, achavam-se deterioradas pelo romantismo daquele tipo de
devoção mariana, que grassava antes do Concílio e que, pouco a pouco,
ia esvaziando o seu conteúdo.
O fato de Maria ser rainha - e que rainha! - de ter sido uma criatura
que jamais conheceu o erro, de ter sido uma jovem e uma mulher, que
andava pelas ruas de Nazaré com uma visão lúcida e clara a respeito das
coisas, dizia muito pouco a uma pessoa que, como eu, estava angustiada
e que se arrastava no deserto da fé com tanto esforço.
A exaltação de tal criatura, procedente do fanatismo de alucinados,
tão numerosos no mundo católico, termina por esvaziar de conteúdo
teológico autêntico a devoção àquela que nada menos é senão a mãe de
Deus, e que não necessita de recomendações para assim ser
considerada. Basta para isto não trair o Evangelho.
Não me admiro, portanto, de que, nos últimos decênios, haja por
assim dizer secado, nas gerações jovens, a fonte do amor a Maria de
Nazaré, nem de que os comerciantes de terços tenham sido obrigados a
fechar suas lojas.
Era necessário que tal acontecesse.
Como em tantas outras coisas, era preciso recomeçar tudo de novo.
Mas será que não começamos tudo de novo ao retomarmos a Bíblia,
considerada na época da minha juventude um livro proibido?
Acaso não começamos tudo de novo ao adotar a renovação
litúrgica, sabendo que, antes do Concílio, a liturgia era expressa no
imobilismo de gestos bastante frios, numa língua incompreensível às
multidões como é o latim?
Não estamos começando tudo novamente quando abandonamos a
ideia, vigente no passado, de uma Igreja encarada como uma pirâmide
clerical, e assimilamos a imagem que o Concílio dela apresenta,
apontando-a como o "Povo de Deus" em marcha para a Terra
Prometida?
Pois bem, mesmo em relação a Nossa Senhora vamos começar tudo
novamente, embora este "começar novamente" seja apenas uma
impressão, porque, na verdade, as coisas continuam, já que na Igreja,
que é um corpo vivo, uma realidade viva, tudo continua.

* * *

Para mim, o começar novamente teve um momento importante.


Foi durante a minha longa permanência no deserto. Eu morava no
Hoggar, numa fraternidade dos Irmãozinhos do Padre de Foucauld, e
ganhava o meu pão trabalhando como meteorólogo nas pistas de Tit,
Tazrouk, lm Amgüel. O trabalho agradava-me bastante porque, além do
sustento, me dava a possibilidade de viver no ambiente que eu buscara:
o deserto, e de aliar à fadiga quotidiana os grandes silêncios e uma
oportunidade propícia à oração prolongada.
Em pouco tempo conheci os tuaregues que viviam em tendas, os
árabes que cultivavam os oásis, e os árabes que vinham do Norte, bem
como os mozabitas que se dedicavam a vários tipos de comércio.
Afeiçoei-me principalmente aos tuaregues, cujos acampamentos se
situavam ao longo das gueltá e nos planaltos, e aproveitava as ocasiões
de minhas viagens para ficar em sua companhia à noite, depois do
trabalho.
Foi durante um encontro com eles que tomei conhecimento de um
fato interessante.
Eu soubera, quase por acaso, que uma jovem do acampamento
tinha ficado noiva de um jovem de outro acampamento, mas que ainda
não fora morar com o esposo por ser muito nova. Instintivamente
relacionei o fato com o trecho do Evangelho de Lucas, onde se conta
exatamente que a Virgem Maria ficara noiva de José, mas ainda não
havia ido morar com ele (cf. Mt 1,18).
Dois anos mais tarde, passando de novo pelo mesmo
acampamento, espontaneamente e como que para encontrar motivos
para encetar uma conversa, perguntei se o casamento já se realizara.
Notei perturbação no meu interlocutor, e seguiu-se um silêncio
evidentemente embaraçoso.
Eu também me calei. À noite, porém, enquanto eu apanhava água
numa gueltá 2, a algumas centenas de metros do acampamento, vendo
um dos servos do patrão, não pude resistir à curiosidade de conhecer o
motivo do silêncio embaraçoso do chefe do acampamento.
O servo olhou em volta com circunspecção, mas, como tinha em
mim muita confiança por ser eu marabut 3, fez um sinal que eu conhecia
muito bem: passando a mão pelo pescoço, mostrou, com um gesto
característico dos árabes, que a jovem "fora degolada"

2
Bacia rochosa de onde brota água.
3
Religioso, homem de Deus, segundo a terminologia islâmica.
Qual o motivo?
Antes do matrimônio descobriram que ela estava grávida, e a honra
da família traída exigia tal sacrifício.
Senti um calafrio pensando na jovem morta por não ter sido fiel ao
seu futuro esposo4
À noite, em Completas, sob o céu do Saara, eu quis reler o texto de
Mateus sobre a conceição de Jesus em Maria.
Acendi uma vela porque estava escuro e a noite não era de luar.
Li: "Maria, sua mãe, comprometida em casamento com José, antes
que coabitassem, achou-se grávida pelo Espírito Santo. José, seu esposo,
sendo justo e não querendo difamá-la, resolveu repudiá-la em segredo"
(Mt 1,18-19).
Em suma, José não se fizera de delator, e Joaquim, pai de Maria,
não assumira o papel de Khomeini, por sua vez apedrejando Maria, como
a lei teria exigido. "Moisés disse-nos que estas mulheres devem ser
mortas" (Dt 22,24).
Lembro-me como se fosse hoje. Senti Maria pertinho de mim,
sentada na areia, pequena, frágil, indefesa com o seu ventre aumentado,
com a sua impossibilidade de abaixar-se, silenciosa.
Apaguei a vela.
Na noite escura, eu não via as estrelas.
Eu via em torno de mim muitos olhos, que brilhavam como os olhos
dos chacais quando se põem à espreita dos cordeirinhos.
Eram os olhos de todos os habitantes de Nazaré, que espiavam
aquela jovem mãe, e que lhe perguntavam com toda a força da

4
A nossa surpresa diante desses fatos relativos à morte por causa de adultério deve-se à nossa ignorância a respeito da história.
No passado, a defesa da castidade matrimonial por parte da sociedade era terrível. O próprio Moisés estabelecera: "Mulheres
deste tipo sejam mortas" (Dt 22,24; Jo 8,4) .
Khomeini no Irã deixa-nos estupefatos com a sua política sócio-religiosa, quando manda fuzilar as adúlteras. No fundo, ele não faz mais do que
retroceder até a época em que a própria lei punia de tal modo o adultério. O Islã, que não teve Jesus para corrigir as leis mediante a misericórdia,
sofre sempre a tentação de retorno à integridade primitiva da lei.
incredulidade de que os homens são capazes, e, mais ainda, as mulheres:
"Que fizeste para arranjar este filho, desgraçada, corrupta! "
- Que noite!
- Que responder?
Que é Deus o pai desta criança?
Quem me há de dar crédito?
Prefiro calar.
Deus sabe.
Deus provê...
- Pobre Maria... doce Maria, jovenzinha e já mãe.
Começas mal a tua carreira!
Como haverás de enfrentar tantos inimigos?
Quem acreditará em ti?

* * *

Naquela noite, pela primeira vez, senti que me estava aproximando


do mistério de Maria.
Pela primeira vez, eu não a via sobre o altar, como uma estátua de
massa, imóvel, adornada com vestes de rainha. Mas eu a via como irmã,
perto de mim, sentada na areia do mundo, com os instrumentos de
trabalho como os meus, e com muito cansaço nas veias.
Compreendi então por que sua prima Isabel, que Maria fora
procurar depois daqueles fatos (sempre se sai de bom grado do
ambiente em que se vive, quando se está com o ventre crescido, e
quando os olhos dos vizinhos se fixam na pessoa de maneira puritana),
pôde dizer ao término do relato que Maria lhe fez:
"Feliz és tu que creste"
Sim, verdadeiramente feliz!
Maria, precisamos de coragem para crer nestas coisas! É difícil para
nós crer no que dizes, quando nos afirmas que esse filho não é fruto de
uma aventura noturna, que não queres explicar.
Mas a coisa é difícil principalmente para ti! "Feliz és tu que creste"
(LC 1,45).
É o máximo que se pode dizer de uma jovenzinha simples, humilde,
pobre, que teve a ventura de falar com os anjos, ela que é um nada e que
ouviu dizer que deverá ter um filho que será o Santo e o Filho do
Altíssimo, sim, justamente ela, que é o último e o menor "resto" de
Israel.
"Feliz és tu que creste, Maria" (LC '1,45).
Naquela noite, sentado na areia, perto da gueltá de Issakarassem,
decidi escolher Maria como minha mestra na fé.
Eu havia encontrado um contato vital com ela. Para mim, ela não
era mais um personagem a quem se prestava "culto", era a irmã do meu
coração, a companheira de viagem, a mestra de minha fé.
Sim, exatamente da fé.
Explico-me. Vocês devem saber, irmãos, que o caminho da fé eu o
percorri todo e... a pé.
A minha sorte foi a de não ter vacilado na escuridão, e de não ter
afrouxado o passo mesmo quando já não podia mais.
Ajudaram-me bastante os anos passados no deserto, inclusive
porque foi justamente aí que conheci a "noite", aquela descrita por são
João da Cruz.
Agora, sinto-me irmão de todos os que se dizem ateus (e são
poucos), e mais ainda daqueles (e são muitos) que sentem dificuldade
de crer e não conhecem até agora os verdadeiros termos do problema.
Quando eu morrer e espero que isto aconteça dentro em breve,
porque conheci o Senhor e anseio por ver a sua face se vocês vierem até
o meu túmulo, e se pensarem que seja possível a comunicação entre os
membros do Reino, não me peçam que interceda por vocês para que
fiquem curados deste ou daquele mal. Peçam apenas que eu reze pela
sua fé.
É o único dom que merece ser pedido.
Pois bem, se eu puder fazê-lo, fá-lo-ei: olharei para os olhos de
Maria de Nazaré em silêncio e procurarei alcançar, pela contemplação
daquela que teve tanta coragem para crer, tudo o que meus irmãos
estiverem precisando.
Irmãos e irmãs, eu lhes abri o meu coração e disse tudo a vocês.
Agora, se me quiserem ouvir, ponham o terço no bolso. Pode
acontecer que se passem anos sem que consigam rezá-lo razoavelmente.
Não importa. Mesmo assim, conservem-no perto de vocês.
Ele há de ajudá-los. Pelo menos, quando ele lhes passar pelos
dedos, procurem dizer somente:
AVE MARIA.

II
AVE MARIA

Depois daquele fato da jovem mãe morta no acampamento


tuaregue por ter sido apanhada em adultério, minhas relações com
Maria de Nazaré tornaram-se muito mais íntimas.
Foi como se ela, imprevistamente, se tivesse tornado minha irmã.
Eu não fora habituado a vê-la assim tão perto, tão humana, tão frágil. O
culto havia desenvolvido um tipo de relacionamento sobrenatural, mas
havia sufocado a voz da mulher, da criatura, da irmã, da mestra que, a
meu lado, ainda podia dizer-me algo.
Sim, devo confessá-lo com humildade: quando consegui aproximar
aquela tragédia, consumada no silêncio de um vale de Hoggar, ao
Evangelho de Lucas, compreendi perfeitamente a coragem de Maria ao
aceitar o pedido do anjo e o desígnio de Deus a respeito dela.
Ela tinha de aceitar o papel de jovem mãe.
Quem haveria de acreditar nela? Quem haveria de aceitar a
conversa de uma jovenzinha que chega em casa para dizer: "Sabe? A
criança que trago no ventre é o filho do Altíssimo! "
Se isto acontecesse em minha casa, ela teria pelo menos recebido
uma bofetada de meu pai; e nós morávamos no Piemonte. Em casa de
qualquer família localizada mais para o sul, ela teria ouvido a frase
seguinte ou uma semelhante: "Vá-se embora! Não queremos mais vê-la,
porque você desonrou a família! "
Numa casa árabe, xiita ou judaica dos tempos passados... teria
havido derramamento de sangue.
Maria, pela fé, teve a coragem de confiar no Deus do impossível e
deixar a ele a solução dos seus problemas: a sua fé era fé pura.
Foi uma descoberta extremamente consoladora esta que eu fiz,
num ambiente estupendo como é o deserto e... que deserto!
Não o esqueçamos: a Bíblia foi escrita justamente naquela região
entre o deserto e a estepe, onde vivem as caravanas, onde os asnos e os
carneiros comem folhas, e onde os homens sabem interrogar o céu
porque, para eles, este é a única esperança de vida.
E eu também estava lá. Quando, à noite, eu preparava o
acampamento à beira da pista e acendia o fogo para cozer o pão e ferver
a água para o chá, Maria mantinha-se bem perto de mim. Bastava que
eu puxasse o terço, feito por mim com sementes recolhidas no oued de
Issakarassem, e que ficava sempre no meu bolso, para que eu sentisse a
presença dela ao lado do fogo. O de, serto é toda uma igreja, que tem o
céu estrelado como cúpula e a areia fina e quente como esteira onde se
pode sentar para rezar.
Que doçura perder a noção do tempo e do espaço e viver a
comunhão com os santos como uma suave realidade!
Vim ao deserto justamente para isto. Eu queria romper a fronteira
existente entre o visível e o invisível, entre o céu e a terra, e até que
muitas vezes consegui isto.
Quanta paz se experimenta quando se consegue passar para além
das coisas!
Viver como se o Evangelho estivesse sendo escrito agora, vivido
agora.
Ver romper-se o sinal das coisas de Deus, para que o invisível lhe
mostre sua presença, sua realidade divina. Poder falar com os santos.
Fazer experiência da presença eucarística sob a tenda transformada
em tabernáculo.
Certa noite, tentei uma conversa com Maria.
Para mim, era uma coisa tão fácil!
Eu já lhe queria tanto bem!
- Maria, dize-me como as coisas aconteceram. Conta-me como o
contaste a Lucas, o evangelista.
- Tu o sabes, disse-me ela, porque conheces o Evangelho.
Realmente foi tudo lindo, lindíssimo!
Eu vivia em Nazaré da Galileia, e a minha vida era igual à vida de
todas as jovens do povo: trabalho, oração, pobreza, muita pobreza,
alegria de viver e, principalmente, esperança no destino de Israel.
Eu morava com Ana, minha mãe, numa casa pequenina e muito
simples, que tinha um jardim na frente e um muro alto construído de
propósito para que nós, mulheres, nos sentíssemos à vontade, vendo
preservadas nossa liberdade e intimidade.
Nesse pátio ou jardim, muitas vezes eu me detinha para trabalhar e
rezar. Em mim, as duas coisas se mesclavam, e eu vivia cheia de paz e de
alegria.
Naquele dia, eu estava sozinha no jardim, quando uma luz intensa
me envolveu.
Eu estava rezando, sentada num banquinho. Conservava meus
olhos fechados e sentia uma alegria diferente invadir-me toda.
A luz começou a aumentar sua intensidade, e eu a entreabrir as
pálpebras que fechara para não ficar com a visão ofuscada.
Sentia-me contente de me deixar penetrar por aquela luz. Parecia-
me o sinal da presença de Deus que me envolvia como um manto. De
repente, aquela luz assumiu o aspecto de um anjo. Sempre pensei que
os anjos fossem como o que vi naquele momento.
Sabes como é o problema da fé. Nunca sabes se a visão vem de
dentro ou de fora.
É certamente de dentro porque, se fosse unicamente de fora, bem
poderias duvidar dela, pensando que se tratasse de uma ilusão.
Vindo de dentro, porém, não existe ilusão. É assim. Sabes que é
assim: Deus é quem dá testemunho.
Mantinha-me imóvel, com medo de que tudo desaparecesse.
E, ao contrário disto, o anjo falou. Aí também: nunca sabes se a voz
é escutada pelo ouvido ou nas profundezas do próprio ser.
Certamente deveria ser nas profundezas, porque, se fosse captada
apenas pelo ouvido, poderias iludir-te.
Ouvi a voz lá no fundo, onde o próprio Deus dá testemunho.
- E que te disse a voz?
- Disse-me: Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor está contigo.
- E que foi que sentiste nesse momento?
- É lógico que fiquei perturbada. Sentia-me como se estivesse
sendo visitada por coisas demasiado grandes para a minha dimensão tão
pequena.
Podes pensar nas coisas de Deus com um desejo imenso de
experimentá-las. Mas, quando elas te tocam, não podes deixar de te
assustares.
Na verdade, ele me disse de repente: "Não tenhas medo, Maria" (LC
1,30).
Isto me deu coragem, porque eu já ouvira a mesma frase na
sinagoga, quando se lia a história de Abraão:
"Não tenhas medo, -Abraão. Sou o teu escudo' (Gn 15,1).
Depois, o anjo me anunciou a maternidade com poucas palavras,
mas com palavras tão claras que eu tinha a impressão de que elas
brotavam dentro de mim. Jamais me havia acontecido ouvir palavras
como se fossem acontecimentos.
- Dize-me uma coisa, Maria: foste apanhada de surpresa? Antes,
nunca havias pensado que tu... justa-
mente tu...
- Oh! sim! Eu já havia pensado nisto. Nós, jovens judias, não
pensávamos em outra coisa. Percebíamos que os tempos eram aqueles,
e, quando rezávamos na sinagoga, o ambiente ficava saturado da espera
do Messias.
- Que foi que compreendeste quando o anjo te disse que eras tu a
escolhida, e que o Messias nasceria de ti?
- Compreendi exatamente o que ele queria dizer-me, e fiquei
simplesmente estarrecida diante de uma coisa tão extraordinária. Como
seria isto possível já que eu era virgem?
O anjo explicou-me as coisas e foi-me fácil aceitá-Ias, porque eu me
sentia imersa em Deus tanto quanto naquela luz fortíssima do meio-dia.
Inconscientemente percebi, também, quanta dificuldade daí
decorreria, que eu não conseguiria explicar-me e justificar-me diante de
minha mãe, e, principalmente, diante do meu noivo José. Apesar disto,
porém, não podia deter-me em tais pensamentos, de tão forte que era
a invasão de Deus em mim e de tão grande que era a certeza suscitada
pelas palavras do anjo.
"Para Deus nada é impossível.
Para Deus nada é impossível.
Para Deus nada é impossível" (LC 1,37).
Devagarzinho, devagarzinho, a luz foi diminuindo e não vi mais o
anjo.
Vi minha mãe atravessar o pátio e senti vontade de falar com ela,
mas não consegui fazê-lo porque não encontrava palavras adequadas.
Compreendi logo que não havia palavras por meio das quais eu
pudesse explicar as coisas.
Assim, nos dias que se seguiram ao fato, ou melhor, à medida que
o tempo passava, mais silenciosa ia eu ficando.
A conversa com José, meu noivo, foi muito mais difícil.
Sabes como aconteciam as coisas nas nossas tribos. A esposa era
prometida ao esposo muito cedo. Era como que um pacto entre famílias.
Entretanto, sendo assim tão jovem, a futura esposa continuava a
viver com a família esperando atingir a maturidade.
Só então, com grande festa, à noite, realizavam-se os esponsais, e o
esposo, acompanhado dos amigos, vinha com muitas luzes e cantos, com
muita alegria, tomar a esposa e conduzi-la à sua casa. Deste momento
em diante, estavam eles verdadeiramente casados.
Quando o anjo me apareceu para me anunciar a maternidade, eu
ainda estava na casa da minha família. Eu tinha sido prometida a José,
mas ainda não fora morar com ele.
Bastaram poucos meses para que tudo ficasse complicado aos olhos
dos homens. Eu não podia esconder a minha maternidade e o meu
ventre me denunciava.
Compreendi então o que significa a fé obscura, dolorosa.
Como poderia eu explicar-me junto à minha mãe?
Como poderia conversar sobre o assunto com o meu noivo José?
Vivi momentos verdadeiramente dolorosos e o conforto único que
eu encontrava me vinha da repetição da frase: ' 'A Deus tudo é possível...
a Deus tudo é possível...'
Cabia a ele explicar-se, e eu depositava nele absoluta confiança.
Isto, porém, não afastava o meu sofrimento que, em certos momentos,
me estraçalhava a alma.
Como poderia eu encontrar palavras para dizer que aquela criança,
que eu trazia em meu seio, era o filho do Altíssimo?
A esta altura, eu já não ousava mais sair de casa e, uma vez, vi uma
vizinha olhar para mim por cima do muro do jardim com evidente ar de
puritana.
Foram momentos terríveis, e eu tremia diante do pensamento de
ser denunciada como adúltera.
Faltava muito pouco para isto Bastava que José fosse à sinagoga
para explicar o fato, e não faltariam zelotes dispostos a sair com pedras
para lapidar-me. Eu não seria a primeira a ser morta em Nazaré como
adúltera. Mas é mesmo verdade: "Deus tudo pode".
E ele se encarregou de explicar tudo.
Explicou primeiro a José, que me disse ter tido um sonho realmente
extraordinário, que me garantiu não haver perdido a confiança em mim
e que prometeu casar-se comigo mesmo assim.
Que alegria senti quando ele me disse isto!
Antes de ele falar comigo, porém, que medo experimentei! Que
escuridão!
Sim, o episódio me mostrara que a fé é dessa natureza, e que
precisamos habituar-nos a viver na escuridão.
Houve também um fato extraordinário que aliviou os meus
sofrimentos durante aqueles meses.
Sabes que -o anjo me dera um sinal para ajudar a minha fraqueza.
Dissera-me que minha prima Isabel estava no sexto mês de • uma
maternidade extraordinária, pois que todos nós da família sabíamos que
ela era estéril.
Eu tinha de ir visitá-la na Judéia, em Ain Karim, onde ela morava.
Não me fiz de rogada para partir.
E a ideia foi bem acolhida por minha mãe, que estava preocupada
com a possibilidade de as pessoas da aldeia me verem com o ventre
crescido, e ela não queria boatos nem mexericos.
Parti durante a noite, mas de muito bom grado, até gostando de me
afastar de Nazaré onde havia um número exagerado de olhos
indiscretos, e onde eu não podia contar a todos os meus problemas.
Encontrei minha prima já próxima ao parto e tão feliz, coitadinha!
Desejara tanto um filho!
O Senhor explicara inclusive a ela, porque, quando cheguei, me
recebeu como se já soubesse de tudo! tudo! tudo !
Pôs-se a cantar de alegria e eu cantava com ela.
Parecíamos duas loucas, mas loucas de amor.
E havia um terceiro que parecia ter enlouquecido de alegria.
Era o pequenino, o futuro João, que dançava no ventre de Isabel
como se fosse para festejar Jesus que estava no meu seio.
Foram dias inesquecíveis.
Mas Isabel, que entendia bem de fé e de fé obscura, e que já sofrera
tanto na vida, me disse uma coisa que me causou grande prazer e que
foi como que o prêmio de toda a minha solidão daqueles meses:
"Feliz és tu que creste" (LC 1,44).
E ela me repetia isto todas as vezes que me encontrava e me tocava
o ventre, como que para tocar Jesus, o novo Moisés que estava para vir
ao mundo.

* * *

O fogo em que eu cozinhara o pão, estava quase apagado. A noite


já ia adiantada e senti-me sozinho.
A presença de Maria estava agora no terço que eu trazia na mão e
que me convidava a rezar.
Eu sentia frio e me enrolei no bournous5 que estava comigo.
A escuridão tornou-se total, mas eu não tinha vontade alguma de
dormir.
Eu queria saborear a meditação com que Maria me havia
presenteado.
Eu queria, principalmente, entrar com suavidade e com força no
mistério da fé, da fé verdadeira, daquela fé dolorosa, obscura, árida.
Oh! não! Não é fácil crer, é mais fácil raciocinar.
Não é fácil aceitar o mistério que supera sempre a capacidade que
você possui e que amplia sempre os limites da sua pobreza.
Pobre Maria!
Ter de crer que aquela criança, que trazia no seio, era o filho do
Altíssimo. Sim, foi simples concebê-lo na carne, mas extremamente mais
comprometedor concebê-lo na fé! Que caminho!
Infelizmente não existe outro. Não há outra opção. — Amedrontada
por teres acreditado, queres porventura, Maria, voltar atrás, pensar que
não é verdade, que é inútil tentar, que é uma ilusão admitir um Deus que
se faz homem, que não há Messias para a salvação, que tudo é um caos,
que no mundo domina o irracional, que na competição vencerá a morte
e não a vida?
Não!
Se crer é difícil, não crer é morte certa.
Se esperar contra toda esperança é heróico, não esperar é a
angústia mortal.
Se amar custa o teu sangue, não amar é o inferno.
Creio, Senhor!
Creio porque quero viver.

5 Manto árabe de lã de carneiro.


Creio porque quero salvar alguém que se está afogando: o meu
povo.
Creio porque crer é a única resposta digna de ti, que és o
Transcendente, o Infinito, o Criador, a Salvação, a Vida, a Luz, o Amor, o
Tudo.

* * *

Que coisa estranha para não dizer maravilhosa: mal pronunciei com
todas as minhas forças a palavra "creio", vi a noite tornar-se clara.
Agora, fecho os olhos justamente porque é ela, a noite, que me
ofusca com sua luz, superando qualquer outra luz.
Sim, nada é mais claro do que esta noite escura, nada é mais visível
do que o Deus invisível, nada está mais perto de nós do que este
infinitamente longe, nada é menor do que este Deus Infinito.
- De fato, ele conseguiu ficar no teu pequeno seio de mulher, Maria,
e tu pudeste aquecê-lo com teu corpo delicado e belo.
Maria!
Minha irmã!
Feliz és tu que creste, digo-te eu esta noite, com entusiasmo, como
to disse tua prima Isabel, naquela tarde quente em Ain Karim.

III
MEU DEUS, MEU FILHO

Durante o Advento, encontrava-me eu sobre as dunas claras e


quentes de Beni Abés, o magnífico oásis do Saara.
Eu havia decidido preparar-me para o Natal na solidão, e escolhera
como local o poço de Ouarourout onde a água era abundante e onde
uma pequena gruta natural podia servir de capela.
Parti depois das festas da Imaculada Conceição, com um tempo
belíssimo e com uma grande vontade de solidão.
Mas... o tempo não tardou a mudar e o deserto tornou-se lívido e
frio por causa da bruma alta que encobria o sol.
Até a solidão passou a ser difícil porque fui descoberto por Ali, filho
de Mohamed Assani, um grande amigo, que apascentava suas onze
ovelhas naquelas paragens e que se achava sedento de companhia e de
conversa.
Parecia fazer de propósito, mas não sabia encontrar pastos mais
adequados e mais ricos para seus animais do que os de Ouarourout.
Ficava rodeando-me, de longe é claro, porque sabia que, quando eu
estava em oração, ele precisava... manter-se longe e não me perturbar.
O poço era comum e, portanto, ele se sentia justificado ao
aproximar-se quando eu ia buscar água.
Naturalmente que aproveitava para me convidar para tomar o chá
que ele próprio preparava, depois de haver apanhado, na minha tenda,
tudo o de que precisava.
Ali sabia fazer o chá e gostava de tomá-lo comigo, acompanhando-
o com o pão que eu cozera sob as cinzas.
Depois, ele ia para o pasto e, durante o dia inteiro, contentava-se
com olhar-me de longe, procurando na areia pequenos fósseis e
elementos arqueológicos, tais como pontas de flechas da idade da pedra,
que posteriormente me vendia com regularidade.
O tempo piorou e tive de reforçar as cordas que prendiam a tenda,
prevendo a vinda da tempestade, que no deserto é terrível.
A tormenta desencadeou-se sem demora. Quem já esteve no
deserto sabe o que é a tempestade de areia.
Para lhes dizer o que pode chegar a acontecer, basta lembrar que,
em pleno dia, se precisa acender os faróis do automóvel para enxergar a
pista, e que os vidros e o verniz ficam como se tivessem sido polidos pela
violência da areia.
A gruta transformou-se no meu único refúgio, e pensei aí
permanecer dia e noite, já que não queria interromper o meu retiro.
Pensando em Ali, que eu não mais tinha visto, convenci-me de que
devia ter previsto as coisas a tempo e de que, para não ser surpreendido
pela tempestade, deveria haver reunido o rebanho no redil e voltado à
tenda paterna, que se encontrava a uma dúzia de quilômetros de
Ouarourout, exatamente na encruzilhada da estrada de Bechar.
Mas... em vez disto!?!?
Eu estava rezando na gruta quando o vi entrar de repente,
extremamente agitado e com o seu bastão de pastor.
— Venha, venha, irmão Carlos. As ovelhas estão morrendo na areia:
estão perdidas... Ajude-me, por favor!
Corri para o carro e, com ele, enfrentamos o deserto revolucionado
pelo vento e pela areia que nos deixava quase cegos.
Não foi fácil encontrar as ovelhas perdidas naquele inferno. Elas
estavam aterrorizadas, enfraquecidas e vagavam de um lado para o
outro entre as rajadas de areia e da chuva que já começara a cair.
Eu nunca vira antes nada de semelhante àquilo, e, mais uma vez,
constatei bem de perto que, no deserto, vida e morte se acham muito
próximas uma da outra.
Enquanto eu dirigia o carro e tentava não perder o caminho, Ali
precipitava-se sobre as ovelhas e ia recolhendo-as uma a uma e
metendo-as no carro, exaustas e abobalhadas de tanto medo.
Conseguimos levar as ovelhas para dentro da gruta, o único refúgio
possível, para escapar daquele furacão que cortava a nossa respiração.
A grutazinha ficou repleta de lã, de balidos e do cheiro azedo do
rebanho.
Para mim, não era difícil pensar na gruta de Belém, e eu procurava
aquecer-me pondo-me pertinho das ovelhas maiores que, molhadas
como eu, tremiam na semi-escuridão da noite.
Retirei a Eucaristia do tabernáculo e pendurei a teca no pescoço,
debaixo do bournous.
Naturalmente que não conseguimos acender v o fogo para o jantar,
e tivemos de contentar-nos comendo pão e um pedaço de sardinha.
Ali, porém, não gostava de sardinha.
Eu sentia vontade de rezar, e de repente percebi que, no fundo, não
me havia saído mal com todo aquele transtorno.
Talvez pudesse aproveitar para passar uma noite um tanto especial.
Estávamos perto do Natal.
Eu me achava numa gruta com um pastor.
Eu sentia frio.
Havia as ovelhas e o mau cheiro do esterco.
Realmente não faltava nada.
A Eucaristia, que eu pendurara no pescoço, obrigava-me a pensar
em Jesus, presente sob o sinal do pão, tão parecido com o sinal de Belém,
terra do pão.
Caía a noite. Lá fora a tempestade continuava a desencadear sua
fúria sobre o deserto.

* * *

Agora, na gruta, tudo era silêncio.


As ovelhas enchiam o espaço disponível.
Ali dormia, enrolado no seu bournous, com a cabeça apoiada no
corpo de uma grande ovelha. Aos pés dele havia dois cordeirinhos.
Eu rezava, repetindo de cor o Evangelho de Lucas: "Enquanto lá
estavam, completaram-se os dias para o parto, e ela deu à luz o seu filho
primogénito, envolveu-o com faixas e reclinou-o numa manjedoura,
porque não havia um lugar para eles na sala" (LC 2,67). Calei-me e
permaneci em atitude de expectativa.
Maria tornou-se a minha oração, e comecei a senti-Ia pertinho,
pertinho de mim.
Jesus estava na Eucaristia justamente ali, coberto com o manto.
Toda a minha fé, a minha esperança e o meu amor convergiam para
um só ponto.
Eu já não precisava mais meditar: bastava contemplar em silêncio.
Eu tinha toda a noite pela frente, à minha disposição, e o amanhecer
ainda estava bem longe.

* * *

Estava eu sonhando? Fazendo vigília?


Não sei. Tudo parecia uma coisa só.
Além do mais, que diferença existe entre o sonho e a realidade,
quando o sonho focaliza a vinda de Deus à terra, e a realidade é uma
gruta como a descrita pelos evangelistas?
Crer que Deus se fez homem é o maior sonho que pode haver para
o homem. Dir-se-ia que foi tão grande o desejo de unir a terra ao céu,
que o Natal se transformou na realização de tal desejo.
Em suma, o Natal, a vinda de Deus à terra, será que eu o desejei e
sonhei, ou ele é um fato extraordinário, uma espécie de sonho que
acabou concretizando-se?
Acho que tanto uma coisa quanto a outra são algo de
extraordinário. Certamente que a vinda antecipou o sonho, porque
ninguém, nenhum de nós, teria sido capaz de ter um sonho tão
excepcional e tão belo.
Que me dizes, Maria, tu que és a mais interessada? Não te parecia
um sonho teres um filho desse gênero?
A coisa te parecia real? O tê-lo gerado na carne não era nada em
comparação com o esforço de gerá-lo na fé.
Ver uma criança, o teu filho, era fácil, mas crer, enquanto lhe
trocavas as fraldas, que aquela criança, a tua criança, era o Filho de
Deus, não devia ser coisa fácil.
A fé era por certo obscura, dolorosa também para ti, e não apenas
para nós, teus irmãos, que estamos nesta terra dos vivos.
Eu aqui estou com a teca que contém a Eucaristia, pendurada ao
pescoço e resguardada sob o manto. É um pedacinho de pão consagrado
pela fé da Igreja. Trago-o comigo, amo-o, adoro-o, mas... não é fácil
crer.
Não é verdade, Maria?
Não acontece o mesmo contigo?
Não há esforço maior nesta terra do que o esforço que se faz para
crer, para esperar e para amar: tu o sabes.
Bem que tinha razão a tua prima Isabel quando te dizia: Feliz és tu
que creste!
Sim, Maria, feliz de ti que acreditaste.
Feliz de ti que me ajudas a crer, feliz de ti que tiveste força para
aceitar todo o mistério da Natividade, e coragem de emprestar o teu
corpo para servir à realização de tal acontecimento. Um acontecimento
que não tem limites na sua grandiosidade e na sua inverossímil
pequenez.
Na encarnação, os extremos se tocaram, e o infinitamente distante
tornou-se o infinitamente próximo, e 0 infinitamente poderoso tornou-
se o infinitamente pobre.
Maria, será que tu entendes o que fizeste?
Conseguiste manter-te firme sob o peso de um mistério sem limites.
Conseguiste não tremer diante da luz do Eterno que procurava o
teu ventre como uma casa onde pudesse aquecer-se.
Conseguiste não morrer de medo diante do riso escarninho de
Satanás que te dizia ser impossível que a transcendência de Deus
pudesse encarnar-se na imundície da humanidade.
Que coragem, Maria!
Somente a tua humildade poderia ajudar-te a suportar semelhante
choque de luz e de trevas.

* * *

Até ontem eu estava acostumado a dizer "Pai nosso, que estais nos
céus". Convenhamos: nem mesmo isto é assim tão fácil de ser dito.
Crer que Deus criador, poder infinito, seja pai, e um pai cheio de
amor, já é fruto de um longo caminho percorrido na fé.
No passado, sob o estrondo dos trovões e no meio dos raios e
relâmpagos, era mais fácil pensar num Deus "padrasto", isto é, num Deus
que incutia medo em você.
Não foi sem motivo que a preocupação com o inferno e com as
penas eternas já perseguiu e perturbou as noites que nós, pecadores,
temos passado.
É quase natural ter medo de um Deus criador.
Um Deus incomunicável, justiceiro, único.
Diante dele, que é tão poderoso, não nos resta outra coisa senão o
cairmos em terra de joelhos.
A unicidade e a transcendência de Deus são a primeira fonte do
temor. Ao ler o Antigo Testamento, ouvi o eco profundo e percebi o
caminho que o Povo de Deus percorreu, no seu longo êxodo da
escravidão para a terra prometida.
Volta e meia, surge a voz do profeta que já anuncia o amor: "Pode,
porventura, uma mãe esquecer-se de seu filho? Pode uma mulher
abandonar o fruto do seu seio? E, ainda que esta o esquecesse, eu jamais
me esqueceria de vós" (Is 49,15).
Mas há também a voz do legislador que diz: "Deus não deixa sem
punição e castigo a culpa dos pais nos filhos, e nos filhos dos filhos até a
terceira e a quarta geração" (Ex 34,7).
Leiam o Levítico, o livro dos Números e principalmente o
Deuteronômio, e vocês se convencerão de como é verdade que "O
temor é o princípio da sabedoria".
Esta noite, porém, estou aqui, e não penso mais nem no Levítico
nem no Deuteronômio.
Estou aqui numa esteira, ao lado de Maria, e mergulho no
Evangelho. E o Evangelho me diz: "Maria deu à luz o seu filho
primogénito" (Lc 2,7).
A transcendência tornou-se encarnação, o temor transformou-se
em suavidade e a incomunicabilidade passou a ser abraço.
O distante fez-se próximo, Deus tornou-se filho.
Vocês percebem a inversão que se realizou?
Pela primeira vez uma mulher pôde dizer, com toda a verdade:
"Meu Deus, meu filho".
Agora não sinto medo. Se Deus é aquela criança colocada em cima
da palha da gruta, Deus não me mete medo.
E, se eu também posso sussurrar ao lado de Maria: "Meu Deus, meu
filho", então o paraíso entrou em minha casa, trazendo-me
verdadeiramente a paz.
Posso ter medo de meu pai, sobretudo quando ainda não o
conheço, mas de meu filho não.
De um filho que tomo em meus braços, cuja pele delicada roça em
mim, um filho que me pede proteção e calor, não.
Não tenho medo.
Não tenho medo.
Não tenho medo. A paz, que é a ausência de medo, agora está
comigo.
Ora, o único esforço que me resta fazer reside em crer.
E crer é como que gerar. Na fé, continuo a gerar Jesus como filho.
Maria fez assim. Por certo foi-lhe mais fácil gerar Jesus na carne:
para isto bastaram-lhe nove meses.
Para gerar Jesus na fé você precisa comprometer a vida inteira,
desde Belém até o Calvário.

* * *

Maria, creio, como tu o crês, que esse menino é Deus e é teu filho.
E eu o adoro.
Adoro a sua presença na teca que trago sob o manto, onde ele está
oculto sob o sinal fragílimo do pão, mais frágil ainda do que a carne.
Ouço-te, Maria, que de vez em quando repetes como em Belém:
"Meu Deus, meu filho".
E eu te respondo: "Meu Deus, meu filho". É o terço que rezo esta
noite.
Como então.
A respiração dos animais aquece a gruta como então.
IV
RAQUEL CHORA SEUS FILHOS (Mt 2,18)
Como Deus quis, a tempestade de areia serenou, e Ali retomou o
caminho dos pastos com seu bastão e suas onze ovelhas. Fiquei sozinho
em Ouarourout, limpando o esterco da gruta e aquecendo meus ossos
ao sol.
A partida do rebanho privara-me do sinal de Belém, e eu imaginava
Maria e José na estrada para o sul, com o menino Jesus nos braços.
Mas por que partiram tão depressa? Por que enfrentar a estrada
tão difícil com uma criancinha ainda tão pequena?
Em Mateus eu lia: "O anjo do Senhor manifestou-se em sonho a
José e lhe disse: 'Levanta-te, toma o menino e a mãe, e foge para o Egito.
Fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para
o matar'
Ele se levantou, tomou o menino e a mãe, durante a noite, e partiu
para o Egito" (Mt 2,13-14).
Mal nascemos, começam logo as dificuldades. Parece incrível, mas
como é difícil viver nesta pobre terra!
E agora Jesus está sozinho na estrada amarga, e esta noite talvez
não encontre nem mesmo uma gruta onde proteger-se do frio.
E Mateus continua: "Herodes, percebendo que fora enganado pelos
magos, ficou muito irritado e mandou matar em Belém, e no seu
território, todos os meninos de dois anos para baixo, conforme o tempo
de que se havia certificado com os magos.
Então cumpriu-se o que fora dito pelo profeta Jeremias:
Ouviu-se uma voz em Ramá, choro e grande lamentação: Raquel
chora seus filhos, e não quer consolação, porque não existem mais" (Mt
2,16-18).
Parece até impossível que alguém possa atingir semelhante grau de
ferocidade.
Assim é o poder, e não há limites para a sua prepotência.
E os humildes, os pobres é que pagam.
Portanto, Herodes, na tentativa de assassinar Jesus, organizou um
dos inúmeros massacres da história.
Imagino bem que noite não deve ter sido essa! Os soldados
cercaram o território de Belém e começaram a carnificina ha escuridão.
Eles tinham a relação dos recém-nascidos e foi fácil arrombar as portas
de tantos pobres.
Oh! No meio da noite, que uivo o dessas pobres mães!
Oh! Que horror o sangue inocente derramado!
Por quê?
Por quê?
Por quê?
E tudo isso de nada serviu, porque Jesus havia escapado.
A rede estava com uma das malhas solta, e o menino fugira como
"O pássaro da rede dos caçadores", conforme diz o Salmo 124.
Que fazer para impedir que se propague uma tal notícia?
O deserto possui o telégrafo sem fio, e as notícias espalham-se com
a velocidade do vento.
Um camelo, que também ia para o sul, encontra a pequena
caravana que leva Jesus, e as palavras que ardem dentro das pessoas
comunicam-se como fogo.
Já sabem da notícia? Herodes mandou matar todas as criancinhas
de Belém. Não escapou uma.
Foi uma coisa horrível. Vieram de noite, cercaram as casas.
Maria escuta em silêncio e aperta o filho contra o peito, onde seu
coração bate com uma velocidade inverossímil, como se fosse
despedaçar-se.
José olha para Maria com um frêmito.
- Bem que eu te dizia. Eu estava com medo. Não me sentia tranquilo
ali dentro. Eu percebia que devia fugir, percebia sim. E depois... aquele
sonho!
O guia de camelos chicoteia a cavalgadura, e os dois esposos
permanecem atordoados um ao lado do outro. O próprio Jesus olha para
o sol em silêncio.
Meu Deus, por quê?
Meu Deus, por quê? Meu Deus, por quê?
Que noite!
Que noite! Que noite!
Pensar em Deus quando tudo vai bem é fácil. Mas pensar nele nesta
escuridão, como é duro!
Maria, dize-me alguma coisa.
E Maria se cala.
Ela sente como que uma espada aguda penetrar-lhe o coração.
Voltam-lhe à mente as palavras do velho Simeão no templo, quando
tomou nos braços Jesus para a purificação: "Eis que este menino foi
colocado para a queda e para o soerguimento de maitos em Israel, e
como um sinal de contradição, e a ti uøaa espada transpassará tua alma"
(LC 2,34-35).
Maria revê tantos rostinhos de crianças conhecidas em Belém,
filhos da mesma tribo de Davi, que nasceram na mesma época que seu
filho.
A ponta da espada penetra cada vez mais fundo no seu coração de
mãe.
Por que estes e não ele?
Por que o Onipotente permitiu este extermínio?
Por que não os defendeu?
Por que não imobilizou com a morte o cruel Herodes?
Por quê? Por quê?
Não há resposta para tanta dor.
Maria está sentada e inclinada sobre a estrada árida. José está como
que esvaziado nas profundezas de suas entranhas.
Jesus, enrolado em alguns paninhos, olha, estático, o sol que se
deita no horizonte entre chamas avermelhadas.
O asno morde a ponta de uma vara fincada na estrada.
Sim, crer em Deus não é fácil, esperar na sua presença que tudo
ordena é ainda mais duro, amar os homens quando são assassinos é
sobre-humano.
Que devo fazer?
Amanhã virá uma nova aurora e a vida continua.
- Como é possível recitar contigo, Maria, a tua oração de júbilo, o
teu Magnificat, agora que os meus e os teus olhos estão cheios da
tremenda visão do massacre consumado por Herodes em Belém?
E foi justamente por causa dele, do teu filho!
Dizer contigo: ' 'A minha alma engrandece o Senhor" como é
possível? Como é possível dizer contigo: "Depôs poderosos de seus
tronos, e a humildes exaltou"?
Como é possível?
Tu estás no sofrimento e Herodes no seu trono.
Tens o coração despedaçado e os pobres são desprezados.
O poder domina a tua história?

* * *

Todavia...
Todavia, as coisas não são assim! Podemos dizer que ele próprio, o
detentor do poder, foi burlado.
Porventura, obteve êxito no seu intento de matar Jesus?
De que serviu a astúcia? De que adiantou cercar a cidadezinha, à
noite, com tantos soldados?
Bastou uma das malhas ter escapado, para a cilada não funcionar.
Justamente o que procuravam lá não estava.
Que escárnio para o poder!
Sim, é verdade: "Dispersou os homens de coração orgulhoso" (Lc
1,51).
É verdade: seu plano fracassou.
Mas os outros?
E o sacrifício de tantos inocentes!
Apesar de tudo, podemos dizer que combateram o seu combate,
que cumpriram a sua missão.
E é isto o que conta. Recebendo na própria carne os golpes que
receberam, evitaram que atingissem o Cristo que fugia. Atraindo a
atenção dos soldados para seus corpos frágeis, deram tempo ao Messias
para que este se afastasse da carnificina. Ocupando os peritos em
matança com o tempo empregado para matá-los, proporcionaram a
Jesus a salvação.
Era necessário que Jesus não morresse naquela noite. E a eles foi
necessário que pagassem em lugar de Jesus.
A hora da morte não tem importância. O que tem importância é
cumprir a nossa missão.
Jesus cumprirá sua missão mais tarde no Calvário. As crianças
inocentes cumpriram-na naquela mesma noite.
Os poderosos não conseguiram desviar o curso da história da
salvação. Tentaram apenas fazê-lo, mas seus pensamentos foram
dispersos (cf. LC 1,51).
Sim, Maria, dize também esta noite o teu Magnificat, à beira da
estrada amarga. Dize-o inteiro, em plenitude. Dize-o porque também
nesta noite estás envolvida no grandioso desígnio de Deus, e ninguém
poderá tocar-te se Deus não o quiser. Dize-o !
Dize-o, porque ninguém pode tocar o teu Jesus, mesmo sendo ele
tão pequeno e tão fraco.
Dize-o, porque a história está nas mãos de Deus e não nas dos
homens.
Dize-o, porque os faraós foram vencidos, um por um, e os pobres
foram libertados. Dize-o!
E até eu quero dizê-lo junto contigo.
E estou certo de que, enquanto o dizes, como anjos, um por um, os
pequenos mártires virão colocar-se em volta de ti, já transfigurados
como habitantes do Reino de luz, pelo qual combateram,
testemunhando com a morte, mais do que com a palavra, a chegada do
Salvador.
Como eu quisera ser um deles!'
"A minha alma engrandece o Senhor, e o meu espírito exulta em
Deus, meu Salvador, porque olhou para a humilhação de sua serva. Sim!
Doravante as gerações todas me chamarão bem-aventurada, pois o
Todo-poderoso fez grandes coisas por mim. O seu nome é santo, e sua
misericórdia perdura de geração em geração, para aqueles que o
temem. Agiu com a força de seu braço, dispersou os homens de coração
orgulhoso. Depôs poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou.
Cumulou de bens a famintos, e despediu ricos de mãos vazias. Socorreu
Israel, seu servo, lembrado E sua misericórdia, - conforme prometera a
nossos pais - em favor de Abraão e de sua descendência, para
sempre!"(Lc 1,46-55)

* * *

A Estrada para o Egito ainda se achava longe de seu termo.


Coragem, José, partamos.
Deus provê.
V
NAZARÉ
- O Egito foi o nosso refúgio por vários anos.
O país é realmente um lugar onde a pessoa consegue esconder-se
facilmente, com todos aqueles caniços ao longo do Nilo, e com aquelas
águas que não foram capazes de engolir o primeiro Moisés.
Também nós não fomos engolidos, apesar de estrangeiros, pobres
e indefesos.
Deus sustentava cada dia a nossa fraqueza.
Sofríamos muito por nos sentirmos tão longe de casa, • tão
sozinhos... Mas assim era necessário para que se cumprisse o desígnio
de Deus.
De fato, seria do Egito que Deus iria chamar seu filho como o novo
Moisés: "Do Egito chamei meu filho" (Os 11,1).
Quando chegou o momento oportuno, partimos para o norte.
Enquanto isto, Jesus ia crescendo, ia robustecendo-se. E Herodes
morria.
A viagem foi longa, mas não foi difícil.
Sentíamo-nos tão alegres com a presença de Jesus, que olhava
muitas vezes para Jerusalém, com um interesse especial.
José achou que seria bom não ficarmos muito perto desta cidade,
mesmo já tendo morrido Herodes. Não podíamos esquecer o que
acontecera alguns anos antes.
Jerusalém é a mais perigosa das capitais, e nela existem dois
poderes: o político e o religioso.
As coisas não estavam bem esclarecidas, e, por isto, preferimos
ficar à margem dos acontecimentos.
Estabelecemo-nos em Nazaré da Galiléia, onde a liberdade era
maior e onde eu, Maria, vivi quando menina.
José teria preferido Belém, terra de sua tribo, mas não encontrou
dificuldade para arranjar-se em Nazaré, ainda mais que era um bom
operário.
Montou a sua oficina e conhecemos anos felizes.
Jesus crescia em idade e em graça (cf. LC 2,32).
Ele era muito bonito e ajudava José na oficina.
Eu o olhava como quem olha o Mistério.
Jamais consegui olhá-lo simplesmente como meu filho. Não
conseguia fazê-lo, e isto não podia deixar de me causar sofrimento.
Pouco a pouco, fui compreendendo que esta era a minha missão,
que não havia outro caminho: mas, assim mesmo, eu sofria.
O Mistério daquele nascimento continuava bem acima da minha
compreensão. O pensamento de que Jesus era Filho de Deus obrigava-
me a sair de mim mesma e a entrar na fé.
Isto era sempre doloroso.
Era como se nunca houvesse conseguido penetrar até o fundo o
segredo do meu filho.
Eu o tinha gerado na carne uma vez por todas, mas devia gerá-lo
na fé continuamente, sem descanso, até o fim.
Foi quando ocorreu um episódio que marcou muito a minha vida,
e ao qual precisas dirigir muitas vezes a atenção a fim de compreenderes
as coisas.
Todos os anos, íamos em peregrinação a Jerusalém por ocasião da
festa da Páscoa, e, como ele já havia completado os doze anos, levamo-
lo conosco.
Que confusão era a peregrinação! Mas que alegria, que vida!
Parecia que a primavera invadia tudo, os meninos ficavam soltos e
animadíssimos.
Em Jerusalém, ocorreu algo de verdadeiramente novo nos
relacionamentos que eu tinha com Jesus
Quando retomamos o caminho de volta, Jesus ficou em Jerusalém
sem que nós o notássemos (cf. LC 2,43).
Pensando que ele estivesse na caravana, andamos o caminho de
um dia, mas depois...
A surpresa não foi nada agradável. Pela primeira vez, perdemos o
contato com ele.
Voltamos imediatamente a Jerusalém para procurá-Io, angustiados
e apavorados.
Que poderia ter acontecido?
Eu não tinha dúvida alguma: foi ele que escolhera a fuga.
Eu não conseguia concatenar as coisas, e José estava tão espantado
quanto eu.
Era como se, de repente, o mistério dele e do seu Ser se tivesse
tornado mais denso, e ele sentisse necessidade de se afastar de nós.
Senti então a espada anunciada por Simeão penetrar bem dentro
do meu coração.
Procuramo-lo angustiados, como o teriam feito qual. quer pai e
qualquer mãe em Jerusalém, mas compreendi que devia haver algo
diferente.
Era impossível que Jesus pudesse comportar-se como um menino
qualquer. Se agira assim, era para dizer-nos algo de novo. Sua fuga
estava ligada ao caminho de fé que percorríamos juntos.
Chegara o tempo em que deveríamos constatar que a nossa
maternidade e paternidade eram muito relativas em face da sua
liberdade.
Jesus estava tomando consciência de que era "o filho" (Mt 4,3),
antes de ser nosso filho.
Com efeito, quando o encontramos no templo, ele nos disse
claramente: ''Não sabíeis que devo estar na casa de meu Pai?" (LC 2,49),
Era a verdade, mas uma verdade que possuía a capacidade de
enfiar mais fundo a espada no coração.
O meu sofrimento consistia em ver que se isolava, em constatar
claramente que ele procurava o seu espaço, e isto contrariava a minha
natureza de mãe.
Eu devia deixá-lo livre, e isto me custava.
Jamais duvidei de que aquela ausência de três dias, longe de mim,
fora a antecipação dos três dias tremendos de ausência na sua morte.
Ele queria ficar livre de mim para permanecer com todos.
Queria estar livre de mim para morrer por todos.

* * *

Voltando a Nazaré, à vida de costume, compreendi que muita coisa


havia mudado e que começava um período novo para mim.
A fé tornava-se mais purificada, e a transparência dele bem maior.
A minha tentação de ser uma mãe possessiva recebera um golpe
tremendo. Será que não compreendeis? ... Será que não sabeis... ' 'que
devo estar na casa de meu Pai?" (Lc 2,49).
Eu não conseguia mais tirar este estribilho dos meus ouvidos.
Não... eu não sabia... e, por isso, eu não compreendia. De fato, o
Evangelho de Lucas diz a respeito de mim e de José: "Eles, porém, não
compreenderam a palavra que ele lhes dissera" (Lc 2,50).
Não é fácil compreender a infinita transparência a que Deus nos
convida em nossos sentimentos fundamentais.
É um caminho... e o caminho é feito para ser percorrido... e ao
longo dele nós nos cansamos... e gostaríamos de poder parar!
Eu, jovem mãe, sentia-me inclinada a pensar que aquele filho era
meu, somente meu...
...e, ao invés disto, que acontecia?
Tinha de esforçar-me para aceitar que aquele filho fosse de todos,
de todos... de todos!
Voltamos a Nazaré depois da peregrinação. Na viagem de volta, eu
não conseguia mais tirar da cabeça o episódio de Abraão no monte
Moriá, quando foi convidado por Deus a sacrificar o filho Isaac.
Mas sacrificar um filho não é fácil, principalmente quando se trata
do unigênito, como era o caso de Jesus!
Outra coisa que me ensinou o tempo passado em Nazaré, na escola
de Jesus, foi a divindade das coisas comuns.
Se Deus estava comigo, na minha casa, nas minhas coisas, tudo era
divino. Céu e terra estavam fundidos sem solução de continuidade.
Onde ficava a entrada do Reino, se Jesus já estava comigo?
Eu já me achava no Reino: precisava apenas tomar consciência
disto.
De fato, ele muitas vezes repetia: "0 Reino de Deus está no meio
de vós" (Lc 17,21).
Trata-se de algo muito importante e que leva a dar às coisas da
terra o seu justo valor.
Quantas vezes nós, aqui na terra, somos tentados a considerar o
trabalho, o pão, o esforço, como coisas vazias de Deus, leigas,
indiferentes.
Elas, porém, não são assim. Se Jesus está presente no teu trabalho,
o teu trabalho é sagrado. Se Deus vive no teu esforço, o teu esforço é
oração. Se na tua casa está Jesus, a tua casa é uma verdadeira igreja.
Sim, eis uma das coisas mais importantes que precisas
compreender: a fronteira do Invisível está na fé, não na realidade.
Depois da Encarnação, a realidade tornou-se divina porque Jesus
entrou nela e tu, ao tocares a realidade, tocas o divino.
Se o Verbo se fez carne, toda a carne se fez Verbo. Todo o universo
tornou-se Palavra de Deus.
O visível do Universo é o sinal da Palavra, e o invisível dele é o
Espírito.
Não, os homens não fugiram desta solicitação infinita do real, de
ora em diante assumida e habitada por Deus.
Não é possível.
Podes compreender agora a importância da fé, da esperança, da
caridade que te levam para além da fronteira do visível.
Na fé falas com Deus, na esperança escutas Deus, na caridade
experimentas Deus.
Estás compreendendo?
E o real é o ambiente de Deus.
Nazaré para mim era o ambiente de Deus porque era o meu real.

* * *

E eu não devia apropriar-me de tudo isso.


É uma das tentações mais sutis a de se apropriar das coisas.
E, quando te aproprias das coisas, tiras a transparência, a liberdade
e a identidade que elas têm.
Quando te aproprias da criação, instrumentalizas a criação e te
tornas escravo dela.
Cada coisa tem a sua vocação, e a liberdade é a cruz de toda
vocação.
Eu tinha meu filho Jesus, mas meu filho Jesus era perfeitamente
livre, e o nosso amor precisava amadurecer na liberdade recíproca.
Como é difícil viver o amor sem cair na apropriação e na posse,
formas de escravidão.
E nós somos chamados à liberdade.
Nazaré, para nós, era a escola da liberdade e Jesus era a liberdade.
Era isto que ele nos ensinava e vivia: liberdade em face do dinheiro,
liberdade em face dos ídolos, liberdade em face da opinião pública,
liberdade em face do medo, liberdade diante de tudo.
Deveríamos possuir como se não possuíssemos, chorar como se
não chorássemos, rir como se não ríssemos (cf. ICor 7,30).
Sentíamos que, entre aquelas paredes, tudo era nosso, mas nós
éramos de Jesus e Jesus era de Deus (cf. ICor 3,23).

* * *

Enquanto isto, íamos caminhando e ele me ajudava com a sua


presença e o seu amor.
A confiança recíproca estava na base dos nossos encontros.
Ele, porém, sempre me superava, e eu ia-me sentindo cada vez
menor diante dele que crescia.
Seu silêncio deixava-me sempre admirada, e eu me via obrigada a
nutrir de espera a minha esperança.
Eu não conseguia compreender nem perceber quando teria ele
começado a sua verdadeira missão, e cada dia só servia para aumentar
a minha sede.
Quando ele recitava de cor para mim trechos da Escritura, fazia-me
tremer e ao mesmo tempo me exaltava.
Ele gostava muito de Isaías, e eu diria que os seus cânticos
preferidos eram os do Servo de Iahweh.
Eu compreendia que ele se identificava com este, e acho que ia
pouco a pouco tomando consciência de que era ele o Servo de Iahweh.
Então, ele assumia uma suavidade toda sua e introduzia frases que,
mais tarde, reconheci no seu discurso sobre as bem-aventuranças.
Bem-aventurados os pobres.
Bem-aventurados os que choram.
Bem-aventurados os perseguidos.
Nazaré foi verdadeiramente, para mim, o tempo mais belo da
minha lida de mãe e do meu convívio com ele.
Eu tinha podido estar com ele quando era pequenino, e como me
sentia feliz! Cabia-me agora estar com ele na sua vida de adulto.
Nada mais eu desejava senão estar sempre perto dele.
Eu não sabia nada, mas era ele próprio que se tornava a minha
sabedoria.
Eu não sentia, nem por sombra, necessidade de ir à sinagoga,
porque a sua Palavra me bastava.
Quando me lembro desse tempo, sinto-me entusiasmada.
Parecia-me estar sempre rezando, ou melhor: estar sempre em
oração.
Aliás, que é a oração senão o "estar com Deus"? E eu permanecia
com Deus as vinte e quatro horas do dia, sempre, sem interrupção.
Ele também vivia assim. Percebia-se logo.
Bastava olhar para ele. Era a unidade perfeita entre o que ele
pensava e o que fazia.
Estava sempre consigo mesmo e, simultaneamente, obedecia a
uma realidade que habitava em suas profundezas.
Ele era habitado.
"Tu em mim e eu em ti" (Jo 17,20), sussurrava ele muitas vezes,
onde somos consumados na unidade. E eu sabia que ele falava do Pai.

VI
FAZEI TUDO O QUE ELE VOS DISSER
Quando lhe perguntávamos se já chegara a sua hora, ele se calava.
Dir-se-ia que ele próprio não podia fazer outra coisa a não ser esperar.
A frase transcrita por Marcos (13,32): "Daquele dia e da hora
ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho; somente o Pai", eu
mesma a escutei dele muitas vezes.
Ele vivia de espera como nós todos. Não atribuía nada a si, mas
tudo esperava do Pai.
Era a única coisa que contava: o Pai.
Mas sentíamos que as coisas estavam amadurecendo. Ele havia
feito os primeiros amigos em Cafarnaum, para onde descia de vez em
quando. Em Nazaré ficava isolado, e eu percebia muito bem que, quando
"batesse asas", ele escolheria Cafarnaum como lugar de pouso.
Um dia, disse-me ele que queria que eu conhecesse os seus
primeiros amigos. Esperava apenas que surgisse uma ocasião para isto,
e a oportunidade apareceu quase espontaneamente.
Em Caná da Galiléia, ia realizar-se um casamento, para o qual tanto
eu quanto ele estávamos convidados.
A ocasião pareceu-lhe boa para um primeiro encontro. Desceu a
Cafarnaum e reuniu todos os seus amigos. Caná ficava à beira da mesma
estrada, e lá nos encontramos na hora das núpcias.
Fiquei admirada do grande número de amigos que Jesus trouxera
consigo.
Era quase de levar à falência o dono da casa...
Mas... há males que vêm para o bem... Pareceu-me que um
número tão grande de pessoas era um tanto exagerado para uma família
tão pequena como a que nos convidara.
O barulho era enorme, e não se entendia bem que tipo de
linguagem eles usavam, nem de que espécie era a sua conversa.
O evento das núpcias era apenas uma desculpa; os companheiros
de Jesus estavam todos ocupados e entretidos nas suas conversas sobre
o Messias e sobre o Reino. Parecia haver um clima de exaltação, e o
vinho ajudava e aumentava a excitação.
Dir-se-ia que haviam tomado o Templo de assalto: os olhos dos que
se achavam mais perto de Jesus brilhavam.
Agora Jesus era o chefe.
Naturalmente que, com todos aqueles convidados beberrões e
festeiros, a primeira coisa que veio a faltar foi o vinho.
Notei, de repente, uma preocupação nova nos esposos, que
continuavam a sorrir, mas que faziam perguntas ao responsável pelo
serviço da mesa, que era um parente nosso.
O fato era este: não havia mais vinho. Eu, pela primeira vez na
minha vida, me senti invadida pelo mesmo entusiasmo dos discípulos. O
céu e a terra estavam-se encontrando naquele pequeno pátio, onde se
realizavam as núpcias dos amigos.
Não, o vinho não haveria de faltar porque entre nós estava alguém
que nos daria o vinho do Reino.
Com ele, tudo era possível. Os gritos, os cantos, a alegria subiam
até as estrelas.
Aproximei-me de Jesus, com o coração batendo forte, e disse-lhe
segurando-o pelo braço: "Eles não têm vinho" (Jo 2,3).
Jesus olhou-me com certa dureza, e pareceu-me perceber nele um
momento de hesitação.
Entretanto, eu estava tão entusiasmada que nem levei em conta
aquele olhar, nem as palavras um pouco duras que ele me disse. Eu
queria forçá-lo a agir.
Meu entusiasmo era tão grande que eu sentia segurança no que
dizia.
Minha cabeça parecia estar pegando fogo.
Aos servos eu disse com firmeza: "Fazei tudo o que ele vos disser"
(Jo 2,5).
Depois, procurei ocultar-me no meio das pessoas, de modo que
ninguém notasse n a minha presença, e comecei a rezar com todas as
forças.
Tudo é possível a Deus.
Tudo é possível a Deus.
Tudo é possível a Deus.
Era sempre esta a frase que me ocorria desde o dia em que o anjo
do Senhor me dissera que Jesus ia nascer. Sim, tudo é possível a Deus.
Foi um dia memorável, e todos transbordavam de alegria.
Parecia que aquele vinho provocava até vertigens.
Sim, tudo era possível a Deus, e aquele rio de vinho que corria era
o sinal da alegria que decorre do encontro com Deus e do júbilo causado
pelo seu abraço.
Gritava-se, dançava-se; o casamento dos nossos amigos tornara-se
o sinal de um outro matrimônio bem mais radical e jubiloso: as núpcias
do homem com Deus.
Sim, João teve razão de apresentar as bodas de Caná como o
primeiro encontro repleto de alegria da Igreja com Jesus.
Foi festa, porque o encontro com Deus é festa.
Mais tarde vivemos um outro tipo de entusiasmo no dia de
Pentecostes, mas já ali, naquele pequeno pátio de Caná, nas encostas do
Tabor, nós nos sentíamos felizes porque Deus estava conosco.
A solidão de Israel terminara.
A viuvez de Israel ficara esquecida.
* * *

Em Caná estavam Pedro, João e Tiago.


Depois, havia ainda André, irmão de Simão Pedro, Filipe de
Betsaida, Natanael que falava mal de Nazaré, mas que se entusiasmava
com cada uma das palavras de Jesus, e muitos outros.
Depois do episódio do vinho, eu não ousava mais aparecer.
Eu tinha a impressão, embora me sentisse muito contente, de
haver exagerado, e de que o meu dever consistia agora em ficar na
sombra.
Eu não queria absolutamente atrapalhar Jesus com a minha
presença, e prometi a mim mesma viver na obscuridade e calar sempre.
A prioridade cabia aos doze, e não faltavam os que se esforçassem
para serem notados por Jesus.
Não era difícil compreender que manter unido um grupo tão
heterogêneo constituía um empreendimento complicado, e, mesmo
que, naquele dia, todos dessem a impressão de "crer em Jesus" (Jo 2,11),
não faltariam dias obscuros e desgastantes.
Seria difícil principalmente convencer todos de que aquele tipo de
vinho que haviam bebido somente Jesus podia dar.
Foi ali que compreendi, com alegria, onde residia o verdadeiro
mistério da Igreja e do apostolado. Compreendi igualmente por que os
homens sentem tanta dificuldade em aceitar tal mistério.
Mesmo Pedro, que já começava a se sentir chefe do grupo e a ter
certa importância, não podia fazer o que Jesus fizera.
Jesus era o Único, porque era Deus.
Somente ele podia derramar no teu cálice o vinho do Reino.
A nós, aos servos, a todos, cabe o dever de preparar as jarras, de
enchê-las de água, de servir à mesa e de encher as taças com o vinho.
Mas o mistério daquele vinho era o próprio Deus.
Já desde aquele dia compreendi que existiria na Igreja a eterna
tentação de dar aquele vinho, sem esperar recebê-lo de Jesus.
Um vinho assim, porém, não convenceria ninguém. Os homens
podem dar o vinho de suas vinhas, não o vinho do Reino.
A Igreja não poderia deixar de ser contemplativa, e, se tivesse
esquecido aquele gesto radical de esperar tudo de Deus, como a
transformação daquele vinho, ter. -se-ia tornado uma grande loja
comercial que venderia várias coisas, menos — é claro — o que é divino.
Prometi a mim mesma que sempre me esforçaria por lembrar a
todos a necessidade de agir como se tudo dependesse de nós, mas de
pedir e esperar na oração como se tudo dependesse de Deus, porque o
Reino é de Deus, e não nosso, como poderia parecer, ainda que se realize
conosco.
* * *

Uma outra coisa que aprendi naquele dia em Caná foi a alegria.
Se bebes o vinho que o próprio Deus te oferece, permanece na
alegria.
Oh! Não se diga que tal alegria seja sempre fácil, isenta de dor e de
lágrimas. Mesmo assim, porém, é alegria.
Pode até acontecer que bebas esse vinho da vontade de Deus sob
os golpes da contradição e da amargura. E ainda assim experimentas
alegria.
Deus é alegria.
Deus é alegria mesmo quando está morrendo.
Deus é alegria sempre.
Deus é alegria, porque sabe transformar a água da nossa pobreza
no vinho da ressurreição.
Nada resiste a esse poder transformador, a essa capacidade infinita
de renovar as coisas, a essa perene novidade dos céus novos e da nova
terra.
Para nós basta crer, esperar e amar, que o milagre sempre se
realiza.
E a nossa alegria é a resposta impregnada de gratidão que devemos
dar.
Sim, o discípulo de Jesus deve viver na alegria, deve difundir
alegria, deve inebriar-se de alegria.
E este há de ser sempre o seu apostolado.

* * *
E aquele vinho, dado por Jesus com tanta abundância, recorda-me
ainda uma coisa: a extrema igualdade do Povo de Deus.
O vinho do Reino era bebido por todos sem distinção, alegrava
todos e era doado a todos gratuitamente.
O último podia consegui-lo tanto quanto o primeiro. A realidade
divina era de todos, a profecia era de todos, a santidade era de todos, o
sacerdócio era de todos.
Ora, compreendi tudo o que Jesus me dizia, quando ele me falava
do Reino e me afirmava que todos os homens redimidos formariam um
povo de santos, um povo de profetas, um povo de sacerdotes.
As castas, com seu orgulho inconfesso, estavam acabadas. As
exclusões e as marginalizações também. Os pobres bebiam ao lado dos
ricos na mesma mesa.
A Igreja que se rejubilava com aquele vinho era uma Igreja
universal: não há homem nem mulher, nem grego nem xiita.
Cada um podia profetizar, animado pelo espírito que aquele vinho
lhe transmitia.
Cada um devia ser santo, porque santo era aquele que o havia
saciado.
Cada um era sacerdote, já que aquele vinho era bebido pelo
sacerdote eterno.

* * *

Naquele dia, eu, Maria de Nazaré, senti-me sacerdote do Altíssimo,


e chamada a oferecer o meu Jesus como sacrifício eterno.

VII
A VIDA E A DOR
Mal Jesus iniciou a sua vida pública, começaram as contradições.
Mal fez menção de distribuir a vida, começou a sofrer.
As duas coisas se achavam ligadas. Não se pode dar a vida sem
sorver a taça da dor. O parto é sempre doloroso.
O ambiente oficial era-lhe positivamente contrário. E assim o foi
desde o início. Tal ambiente estava demasiado distante dele. Seus
pensamentos não eram os pensamentos de Jesus
No entanto, este mesmo ambiente ia deixando Jesus agir porque
se sentia bastante seguro, e via em Jesus um profeta qualquer, um
profeta provinciano, que certamente teria uma carreira curta.
No fundo, Jesus dava prioridade a temas que interessavam pouco
aos grandes do mundo: sua preocupação maior voltava-se para os
pecadores. Queria mostrar a todos que viera para estes, que com estes
se sentia solidário e deles se achava bem perto.
De fato, não tardou a apresentar-se nas margens do Jordão, onde
João Batista se encontrava, e quis fazer-se batizar por ele como se fosse
um pecador público, ele, Jesus, o Santo dos Santos.
João não queria batizá-lo e resistiu ao pedido de Jesus, mas este o
obrigou a fazê-lo.
Ele começava mesmo lá de baixo, lá do fundo; deste fundo feito de
pobreza verdadeira e de insucesso contínuo.
Os pecadores sentiram-no bem próximo, e logo se tornaram seus
amigos.
Jesus era menos duro do que João, e nunca falava de machado
colocado na raiz da árvore. Não amedrontava os pequeninos.
Com esse rótulo de amigo das prostitutas e dos pecadores, não
podiam faltar os perigos e as oposições, ainda mais no campo religioso.
Realmente...
Os primeiros que se deram conta disto foram os fariseus, que se
consideravam os puros, os verdadeiros e os espirituais por excelência.
Eles nunca perdiam a oportunidade de atacá-lo justamente no
terreno que lhe era específico.
Os fariseus punham na lei a perfeição de Israel, e não suportavam
a atitude de tolerância e de compaixão que animava Jesus: esta atitude
parecia-lhes fraqueza.
Jesus, porém, não vacilava nem se submetia. Cada vez mais, via-se
ele cercado de gente pobre e de pobre gente. Na sua pregação deslocava
o acento da lei para o Amor, do castigo para a misericórdia, da dureza
para a compaixão.
De que o homem fosse pecador, mais ou menos todos estavam
convencidos. A novidade que Jesus trazia era a de que, mesmo assim, o
homem, podia ser amado.
Sim, este foi um fato muito importante para Israel, acostumado a
amaldiçoar o pecador e a querer erradicá-lo da cidade santa.
Dir-se-ia que Jesus não perdia a estima do homem em pecado, mas
até demonstrava claramente que o amava, e que o amava com amor de
predileção.
Esta posição escandalizava, porque Israel estava por demais
habituado a elogiar os que cultivavam a lei e os perfeccionistas da Torá.
Ainda conseguir dar crédito a uma adúltera e con fiar num
publicano significava exatamente remar contra a corrente.
E Jesus remava contra a corrente.
Memorável foi a conversão de Zaqueu, o publicano. Este rico, que
havia roubado em negócios ilícitos, que fora marginalizado pelos
cultores da moral, sentir-se estimado por Jesus... Ele, Zaqueu, que era
um pecador público, sentir-se digno de sentar-se à mesa com o Santo...
Não faltava mais nada...
Que não haveria ele de fazer por Jesus que continuava repetindo:
"Vim procurar e salvar o que estava perdido" (LC 19,10).
Sim, é lógico, quem se sentia perdido agarrava-se a Jesus.
Bastava ver as multidões que o seguiam para se ter, de fato, a
impressão de que só os pecadores podiam compreendê-lo. E era melhor
mesmo que somente os que tomavam consciência de serem pecadores
pudessem compreendê-lo.
Estes haviam descoberto e identificado, no seu pecado, a
verdadeira, a eterna pobreza do homem.
Os verdadeiros pobres eram eles. E eles precisavam de Jesus para
serem salvos.
A fronteira de Israel já não consistia mais num pedaço de terra a
ser conquistado, mas na santidade a ser vivida.
Os inimigos de Israel não eram mais os cananeus, nem os filisteus,
mas o próprio orgulho, a própria sensualidade, o próprio egoísmo, o
próprio medo.
Todo o Êxodo tornara-se apenas um sinal de um outro êxodo,
verdadeiramente universal, que envolvia todos os homens nascidos de
mulher, e que tinha, como Terra Prometida, a liberdade que o próprio
Deus lhes estava pregando e que era a mesma liberdade dos filhos do
Altíssimo.

* * *

As verdadeiras provas Jesus as teve em Jerusalém. Esta era a cidade


que mais lhe interessava e que ele mais temia.
A Galiléia era como sua própria casa, e, enquanto estivesse cercado
de pobres, sempre se sentiria à vontade e satisfeito.
Quando caminhava, porém, pelas ruas de Jerusalém e, sobre as
muralhas, surgiam as caras dos poderosos e os espiões dos magnatas,
então Jesus sofria.
Todo o resto não era problema. O único problema era Jerusalém.
O desfecho ocorreria aí. Isto era óbvio para todos, e, se dependesse
de nós, nunca mais teríamos voltado a Jerusalém.
Ele contudo...
Fazia-se necessário... E ele voltava.
Voltava.
Até que um dia teve a sensação nítida de que o problema
verdadeiro era político, e de que o resto não passava de verniz.
Quem vivia rodeando Jesus queria o poder.
Não queria aceitar a derrota.
No fundo, esperava-se um Messias vitorioso: causava até
aborrecimento a pregação de Jesus sobre as bem-aventuranças e sobre
a não-violência.
Os fautores de semelhantes visões eram os mais numerosos.
Jesus não teria conseguido explicar-se: eles acabariam
massacrando-o.
É triste, mas é assim: Israel não se mostrava capaz de descobrir o
semblante do seu Messias, do seu Cristo, a face do Servo sofredor.
Israel queria outro Messias.
Jesus não o deixava satisfeito. Israel queria um Messias vencedor.
A situação política de servidão aos romanos justificava seu desejo
de libertação.
Se Moisés assim o fizera, colocando-se à frente do povo para
libertá-lo, o novo Moisés devia fazer o mesmo e lutar contra os romanos.
Jesus calava-se a respeito da questão política, evitava pôr-se em
evidência, mas ensinava claramente aos seus que agora a libertação
residia nas profundezas do homem.
O grande êxodo realizado por Moisés, para libertar-se do Faraó, era
apenas o prelúdio de um êxodo permanente, o êxodo que nos leva a nos
deixarmos a nós mesmos, a nos libertarmos de nossas escravidões, do
Faraó que se aninha em cada um de nós.
Jesus era agora o Moisés de todo homem sobre esta terra, o
libertador autêntico ungido pelo Espírito. Retroceder às questões
políticas equivaleria a um reduzir-se ao gueto de sempre.
A salvação proposta por ele era universal: a libertação da morte.
Israel não quis aceitar semelhante projeto, e não conseguiu
descobrir a face do Cristo.
Que sofrimento para Jesus e para mim!
Digo "para mim", Maria, porque mesmo entre os apóstolos não se
procurava aderir ao plano de Jesus expresso nas bem-aventuranças.
Mesmo entre nós, havia os zelotes, que acreditavam nas armas, no
poder, no Cristo triunfante. E até o fim.

* * *

Como se achavam distantes os homens da revelação que Jesus


fazia a respeito da realidade, da vida, de Deus! Sobretudo de Deus.
Deus permanecera em suas mentes como o juiz severo, cioso de
suas prerrogativas e desejoso de ver um mundo ordenado e tranquilo,
como um colégio de alunos disciplinados.
A moral ocupava o ápice de suas solicitudes, e seu zelo se exprimia
através da perfeição da Lei e do castigo infligido aos pecadores.
Dir-se-ia que a um Deus derrotado pelo homem desobediente e
pecador não restava outra alegria a não ser a de construir um inferno
para puni-lo.
O homem mesquinho forjava para si um Deus mesquinho, incapaz
de novidade e de salvação.
Como o pensamento de Jesus pairava longe das preocupações
moralistas do Templo!
E como era limitada a visão humana sobre as verdadeiras coisas de
Deus!
E Deus, em Jesus, estava revelando a sua identidade. O céu estava
irrompendo na terra!
A luz era tal, que obrigava todos a fecharem os olhos.
Até Satanás ficou atordoado com o fulgor desse relâmpago, e não
mais se refez da surpreza de que fora tomado.
Qual foi a revelação?
Foi a revelação de um Deus pobre, sofredor, fracassado.
O homem, acostumado aos trovões do céu e ao barulho dos
castigos, viu-se diante de Jesus morto na cruz.
Entre todos os semblantes imaginados pelo homem em oração e
atribuídos ao Messias, o que mais se aproximou da realidade foi o que
Isaías entreviu: o semblante do Servo sofredor.
Era o Amor que se vestia de pobreza e de dor para salvar o homem
caído na pobreza e na dor.
Era o Amor que se fazia solidário com o amado, o homem, e que
não hesitava em descer até o fundo do seu pecado para salvá-lo.
A morte foi para Jesus o instante supremo da mais suprema
pobreza.
Deus escolhera o caminho da pobreza para salvar o homem, e
nenhum instante, durante o percurso deste caminho, fora tão saturado
de pobreza quanto o instante da sua morte.
Deus morto era a pobreza mais absoluta: não se poderia ir além
deste ponto.
Quando Cristo atingiu esse abismo escuro e doloroso, já atingira
todos os homens que o Pai predestinara a serem filhos, mas que, por
terem desobedecido, haviam perdido tal possibilidade.
Ao entrar Jesus no caos das contradições do homem desanimado
e desiludido, ele se tornara solidário com as coisas perdidas, dando um
significado de salvação até mesmo ao pecado.
O fogo do amor, ao abraçar o "não-amor", adquirira o poder de
fundir este "não-amor". A fuga do filho pródigo tornou-se positiva,
porque revelou os abismos da misericórdia do Pai.
O amor vencera, o homem estava salvo.
A liberdade transformara-se em herança da terra.

* * *

Aceitar a morte como ato de amor não é fácil, e acho que esta
aceitação foi a obra-prima de Cristo no seu esforço para amar.
A nós também, em nossa fraqueza infinita, cabe imitá-lo.
Mas a morte, a morte verdadeira, não é a física: esta é apenas o
sinal, a representação horrível, visível e sensível da outra.
A morte verdadeira é a "separação" de Deus, e esta é intolerável.
A morte verdadeira é a não-fé, a não-esperança, o não-amor.
Quem a conhece, e nós todos a conhecemos porque nela estamos
imersos, conhece o que é a dor e a tristeza.
A morte verdadeira é o caos onde acaba o homem quando
desobedece ao Pai, é o torvelinho inextricável a que ele fica reduzido
pelas suas paixões, é o fracasso mais radical de todos os seus sonhos de
grandeza, é o esfacelamento do homem todo.
A morte verdadeira é o vazio, a escuridão, a angústia, o desespero,
o ódio, a destruição.
E o Cristo aceitou entrar nesta morte, nesta separação para tornar-
se solidário com todos os que estavam envolvidos pela separação e
salvá-los.
Quando ele atingiu as profundezas do desespero dos homens,
anunciou a esperança com a sua ressurreição. Quando penetrou na
escuridão que os impregnava, fez explodir a luz da verdade com a sua
ressurreição.
Quando desceu ao abismo da incapacidade que os impedia de
amar, comunicou-lhes o júbilo infinito do amor com a sua ressurreição.
Ressurgindo dos mortos, Cristo renovou todas as coisas.
Ressurgindo dos mortos, abriu os novos céus. Ressurgindo dos
mortos, renovou a vida.

* * *

Quem sonha nesta terra com uma Igreja triunfante erra e, mesmo
sem o querer, retrocede ao passado, ou melhor, à sua concepção infantil
de Deus e do homem.
A verdadeira Igreja é a Igreja dos fracassados, dos fracos, dos
pobres, dos marginalizados.
É uma pena que as reuniões dos cristãos se façam com tanta
frequência na praça de são Pedro, onde Bernini, filho de uma época pagã
que sofria da doença do triunfalismo, desenhou tudo como um triunfo.
Nessa praça não há sinal de agonia da Igreja e de sofrimento dos
homens, e, embora bela, ela está toda errada.
As reuniões dos cristãos devem fazer-se nas prisões, nos hospitais,
nos manicômios, nos lugares onde se chora e onde se paga na carne por
causa das devastações produzidas pelo pecado.
O semblante de Jesus aí estará e aí há de revelar-se, porque aí é
preciso salvar o que "estava perdido"
Os aplausos são um tipo de droga de que os cristãos deveriam
resguardar-se com maior atenção.
As procissões colossais deveriam ser transferidas para mais tarde,
já no Reino.
As fazendas, as rendas e os bordados que se usam no culto
deveriam ser utilizados para cobrir os nus do Terceiro Mundo, e as
riquezas da Igreja enviadas para serem transformadas em alimento
destinado às crianças que morrem de fome.
O Evangelho é muito mais sério no que diz a respeito do verdadeiro
triunfo do homem e do seu modo de pregar e de exprimir a santidade.

* * *

Maria ao pé da cruz fazia-me ver o semblante de Jesus, seu filho.


Era o semblante do homem transfigurado pelo amor crucificado.
Nenhum outro semblante poderia ser mais belo.

VIII
RESSUSCITOU

No dia seguinte ao sábado, Maria de Magdala dirigiu-se ao sepulcro


de manhãzinha, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra fora
afastada do sepulcro.
Correu então e foi procurar Simão Pedro e o outro discípulo que
Jesus amava, dizendo-lhes: "Tiraram o Senhor do sepulcro e não
sabemos onde o colocaram"
Ao ouvir isto, Simão Pedro saiu com o outro discípulo, e foram
ambos ao sepulcro. Corriam juntos os dois, mas o outro discípulo correu
mais velozmente do que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro.
Inclinando-se, ele viu os lençóis no chão mas não entrou.
Chegou também Simão Pedro, que o seguia, e entrou no sepulcro.
Viu os lençóis no chão e o sudário que fora colocado sobre a cabeça de
Jesus. O sudário não estava no chão, porém dobrado num lugar à parte.
Então, entrou também o outro discípulo que chegara primeiro ao
sepulcro. Viu e creu.
Na realidade, eles ainda não haviam compreendido a Escritura, que
dizia que ele ressuscitaria dos mortos.
Maria, entretanto, conservava-se do lado de fora perto do sepulcro
e chorava.
Enquanto chorava, inclinou-se para o sepulcro e viu dois anjos com
vestes brancas sentados um do lado da cabeça e o outro do lado dos pés,
no lugar onde fora colocado o corpo de Jesus.
E eles lhe disseram: "Mulher, por que choras?" Ela lhes respondeu:
"Levaram o meu Senhor e não sei onde o puseram"
Ao dizer isto, voltou-se ela para trás e viu Jesus, que estava ali de
pé. Ela, porém, não sabia que era Jesus. Disse-lhe este: "Mulher, por que
choras? Quem procuras?" E ela, pensando que fosse o jardineiro, disse-
lhe: "Senhor, se foste tu que o levaste, dize-me onde o puseste, e irei
buscá-lo".
Jesus disse-lhe: "Maria". Ela então, voltando-se para ele, disse-lhe
em hebraico: "Rabbuni", que significa "Mestre"
Jesus disse-lhe: "Não me detenhas, porque ainda não subi ao Pai,
mas vai aos meus irmãos e dize-lhes: Subo ao meu Pai e vosso Pai, ao
meu Deus e vosso Deus".
Maria de Magdala foi logo anunciar aos discípulos: "Vi o Senhor". E
contou-lhes o que ele lhe dissera (cf. Jo 20,1-18).
"À tarde desse dia, o primeiro da semana, estando fechadas as
portas onde se achavam os discípulos, por medo dos judeus, Jesus veio
e, pondo-se no meio deles, lhes disse: 'Paz a vós!' Tendo dito isto,
mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos, então, exultaram por
verem o Senhor. Ele lhes disse de novo: 'Paz a vós!
Como o Pai me enviou, também eu vos envio'
Dizendo isto, soprou sobre eles e lhes disse:
'Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados
ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos quais não perdoardes, ser-lhes-ão
retidos'.
Um dos doze, Tomé nome que significa Gêmeo, não estava com
eles, quando veio Jesus. Os outros discípulos, então, lhe disseram:
'Vimos o Senhor!' Mas ele lhes disse: 'Se eu não vir em suas mãos o lugar
dos cravos e se não puser o meu dedo no lugar dos cravos e minha mão
no seu lado, não acreditarei'. Oito dias depois, achavam-se os discípulos,
de novo, dentro de casa, e Tomé com eles. Jesus veio, estando as portas
fechadas, pôs-se no meio deles e disse: 'Paz a vós!' Disse depois a Tomé:
'Põe o teu dedo aqui e vê minhas mãos! Estende a tua mão e põe-na no
meu lado e não sejas incrédulo, mas acredita!' Responde-lhe Tomé: 'Meu
Senhor e meu Deus!' Jesus lhe diz: 'Porque viste, creste. Felizes os que
não viraram e creram!' " (Jo 20,19-29).

* * *

Maria, eu quis repetir todo o capítulo de João onde se relata o fato


da ressurreição justamente, porque não sabia como fazer para me
explicar contigo.
Que dizes a respeito dele?
Porventura é suficiente aos homens, fechados na sua obscuridade,
o relato de semelhante acontecimento?
E, antes de mais nada: Que sentiste quando Madalena te disse que
tinha visto Jesus no jardim?
E quando Pedro e João vieram a ti correndo para contar-te que
haviam encontrado o túmulo vazio? Que aconteceu naquele dia?
Que significa crer que Cristo ressuscitou dos mortos?
E acaso tu o reviste naqueles dias?
Por que o Evangelho não fala de ti?
Quanto me tem feito pensar este silêncio do Evangelho!
Que queria Jesus acenar-te quando disse a Tomé: "Felizes os que
não viram e creram" (Jo 20,29).
Talvez fosses tu a única que não tinha necessidade de ver para
crer? E eras feliz?
Acho que sim.
E é por isto que és a nossa mestra na fé, e o elogio de Isabel foi,
desde o princípio, o maior elogio que te poderia ser feito.
Feliz és tu que creste.
Não tinhas necessidade de ver para crer.
Acreditavas no teu Filho ressuscitado e isto te bastava.
Crer na ressurreição de Jesus significa crer sem ver. E eu também
quero crer sem ver: como tu.
Não quero mais sentir necessidade de ver. Ou melhor: não o peço
mais.
Muitas vezes, quando estou diante do Tabernáculo, digo: "Creio,
Jesus, na tua presença no Pão Eucarístico"
Depois, digo a mim mesmo: Que aconteceria se o Tabernáculo se
abrisse e Jesus me revelasse a sua Presença de outro modo? Se me
aparecesse sob o sinal do homem Jesus, como procuro imaginá-lo
quando penso nele?
E eis o que aconteceria: eu me voltaria para o outro lado e lhe diria:
Não, não preciso de outro sinal, basta-me o sinal do Pão.
Um outro sinal me perturbaria.
Não, não o quero.
Poderia ser um engano da minha sensibilidade.
Ao invés disto, pela fé me sinto seguro e digo-te, no Espírito, que é
o teu Espírito: "Creio na tua ressurreição dos mortos. Creio na tua
presença na Eucaristia”.

* * *
Não, irmãos, é inútil procurar em outro lugar: vocês não o
encontrarão.
A única coisa séria é a fé.
Os estados de ânimo poderão enfraquecê-los, o sentimentalismo e
a imaginação torná-los-ão fanáticos, as visões não os convencerão, a
busca do extraordinário vai aliená-los da realidade, as imagens de Nossa
Senhora que choram... não os ajudarão, os atalhos procurados ao acaso
conduzi-los-ão à superstição.
A única coisa que permanecerá será a fé.
E é pela fé que eu creio na ressurreição de Cristo.
E, quando creio, torno-me invencível: ' 'E esta é a vitória que
venceu o mundo: a nossa fé" (1 Jo 5,4).

* * *

Maria, conta-me de novo uma coisa: Que foi que aconteceu


naquela manhã? Foi fácil à Igreja nascente, a Pedro, aos apóstolos, aos
discípulos convencerem-se de que Cristo havia ressuscitado?
E de onde vinha tal convicção?
De o terem visto?
E por que não acreditaram nas mulheres que o haviam visto? (cf.
LC 24,22). De o terem visto?
Mas que foi que viram, se até Madalena confundiu Jesus com o
jardineiro? (cf. Jo 20,15).
De o terem visto?
Como é possível ver quando se passa metade de um dia com ele na
estrada de Emaús, sem o reconhecer? (cf. LC 24,16).
Não, não é com os olhos que se vê a ressurreição de Cristo: é com
a fé. Os olhos são demasiado enganadores, quando muito vêem o sinal.
Porventura será mais fácil crer na palavra? Certamente.
Sobretudo quando a palavra é a palavra de Deus: ' 'E, começando
por Moisés e por todos os Profetas, interpretou-lhes em todas as
Escrituras o que a ele dizia respeito" (LC 24,27).
Mas também, no caso da Palavra, a fé é necessária, porque é pela
fé que Deus revela a sua plenitude.
"Então seus olhos se abriram e o reconheceram; ele, porém, ficou
invisível diante deles" (LC 24,31).
É na fé que se dá o encontro com Deus.
É na esperança que se recebe o seu abraço vital. É na caridade que
se faz a experiência de Deus.
E a fé é obscura.
A esperança é dolorosa.
A caridade é crucificada.

* * *

Ajuda-me a crer, Maria.


Dize-me o que significa "crer na Ressurreição de teu filho".
- Eis o que te digo: não vás esquecê-lo:
Quando vires a tempestade desencadear-se Sobre a floresta, e os
terremotos castigarem a terra, e o fogo queimar a tua casa, dize a ti
mesmo: creio que a floresta se reconstituirá, que a terra voltará à sua
imobilidade, e que eu reconstruirei a minha casa. Quando ouvires
rumores de guerra e os homens morrerem de medo em torno de ti,
' 'e levantar-se nação contra nação e reino contra reino" (Mt 24,7),
dize a ti mesmo, com suprema coragem:
Jesus advertira-me e acrescentara: Não temais, ' 'erguei-vos e
levantai a cabeça, pois está próxima a vossa libertação" (LC 21,28).
* * *

Quando o pecado te apertar a garganta e te sentires sufocado, já


não podendo mais te aguentares, dize a ti mesmo: "Cristo ressuscitou
dos mortos e eu ressurgirei do meu pecado"
Quando a velhice ou a doença tentarem amargurar a tua
existência, dize a ti mesmo: "Cristo ressuscitou dos mortos e fez novos
céus e nova terra”.
Quando vires teu filho fugir de casa em busca de aventura, e te
sentires fracassado em teu sonho de pai ou de mãe, dize a ti mesmo:
"Meu filho não escapará das mãos de Deus, e há de voltar para cá porque
Deus o ama”.
Quando vires extinguir-se a caridade em torno de ti e olhares os
homens como que enlouquecidos no seu pecado e embriagados pelas
suas traições, dize a ti mesmo: "Chegarão até o fundo, mas retrocederão,
porque longe de Deus não se consegue viver"
Quando o mundo te parecer uma derrota de Deus e sentires
náuseas provocadas pela desordem, pela violência, pelo terror, pela
guerra, que dominam tudo e todos, e quando tiveres a impressão de que
a terra se transformou num caos, dize a ti mesmo: "Jesus morreu e
ressuscitou justamente para salvar, e a sua salvação já está presente
entre nós".
Quando teu pai ou tua mãe, teu filho ou tua filha, tua esposa ou
teu esposo, o teu amigo mais querido estiverem diante de ti no leito de
morte, e neles fixares o olhar na angústia mortal do grande desapego,
dize a ti mesmo e também a eles: "Havemos de nos rever no Reino.
Coragem! "
Isto significa crer na Ressurreição.

* * *
Isto, porém, não basta.
Crer em Cristo ressuscitado significa algo mais.
Significa para irmã Teresa de Calcutá confortar o moribundo. E a ti
também compete fazer coisa semelhante.
Significa, para Luther King, enfrentar a morte e, para ti, significa
não ter medo de enfrentar a morte por amor a teus irmãos.
Significa para o irmão Roger Schutz abrir o seu convento à
esperança e, para ti, abrires a tua casa à esperança.
Cada missionário que parte é um ato de fé na Ressurreição.
Cada leprosário que se abre é um "creio na
Ressurreição"
Cada tratado de paz é um ato de fé na Ressurreição.
Todo compromisso aceito é um ato de fé na Ressurreição.
Quando perdoas teu inimigo,
Quando dás de comer ao faminto,
Quando defendes o fraco,
estás crendo na Ressurreição.
Quando tens a coragem de te casares,
Quando aceitas o filho que nasce,
Quando constróis a tua casa,
estás crendo na Ressurreição.
Quando te levantas tranquilo pela manhã,
Quando cantas ao nascer do sol,
Quando vais ao trabalho com alegria,
estás crendo na Ressurreição.
Crer na Ressurreição significa impregnar a vida de confiança,
significa dar crédito ao irmão,
significa não ter medo de ninguém.
Crer na Ressurreição
significa pensar que Deus é Pai, que Jesus é teu irmão,
e que eu, Maria, sou tua irmã,
ou, se preferes,
tua Mãe.
IX
REZAR COM MARIA

Depois de haver tentado dizer algo sobre Maria de Nazaré, gostaria


de poder penetrar com você na oração dela.
A tradição mais antiga do povo cristão, a forma mais popular e
simples, sempre conheceu o esforço de escolher ao menos um dia, para
procurar, individualmente ou em comunidade, um tempo forte de fé,
que tornasse a pessoa ou as pessoas disponíveis à ação do Espírito
invocado justamente através da intercessão de Maria que, com o Espírito
Santo, teve tanta intimidade de vida. A escolha de um período de 9 dias
é a mais frequente, sobretudo na vida do povo, isto é, de quem não vive
com a cabeça cheia de histórias e que reza para viver, no desejo de
chegar até o âmago das coisas.
O livro e as meditações, destinados a tal finalidade são, por isso
mesmo, estruturados com base no compromisso de 9 dias. Proponho-os
também a você, com simplicidade, como fazia minha mãe que, quando
nos via em alguma necessidade, nos dizia logo: "Façamos uma novena a
Nossa Senhora”.
A oração segue claramente duas orientações que considero
substanciais para uma autêntica devoção mariana.
1) A orientação bíblica
2) A orientação contemplativa.
A orientação bíblica tem como objetivo nutrir a alma da Palavra de
Deus, palavra que se torna, por sua vez, inspiração teológica, e que
coloca o homem na verdadeira luz da revelação, mantendo-o longe das
deformações pietistas e da superficialidade sentimental.
A orientação contemplativa trilha outro caminho e, deixando de se
preocupar com o alimento bíblico e teológico, desperta no homem o
desejo do amor, que exprime por meio de fórmulas simples, repetitivas,
tais como as ladainhas, o terço e o rosário, as jaculatórias etc. O tipo
desta oração é quase sempre rítmico, simples, pobre, e limita-se a
repetir, e repetir muitas vezes, as mesmas coisas.
À primeira vista, uma oração deste gênero pode parecer imatura,
formal, não inteligente. E, no entanto, para quem a compreende, ela é
exatamente o contrário: oração madura, espontânea e dotada da mais
alta inteligência, que é a inteligência do coração. Se a esposa diz ao
esposo que o ama, isto não é nada reprovável. E, se o disser cinquenta
vezes seguidas, não creio que o esposo vá ofender-se e considerar a
esposa tola, só porque repete sempre as mesmas coisas.
É próprio do amor querer repetir-se, usando o ritmo das palavras
simples e quentes. Portanto, para concluir: se você sente necessidade de
nutrir a sua oração de textos bíblicos, pode fazê-lo; mas, se acontecer
que, à volta do trabalho, você se encontre bem e em paz, com vontade
de apanhar o seu terço e expandir-se numa oração rítmica e repetitiva,
faça-o, e fique contente com isto.
E lembre-se de uma coisa: se você conseguir rezar todo o terço (ou
todo o rosário) sem se preocupar com o estar pensando no que diz, mas
sentindo-se satisfeito por estar em paz com a Mãe de Jesus, fique feliz,
porque certamente você está sob a ação do Espírito e é isto que conta
quando se reza.
Você encontrará aqui, pois, o projeto para 9 dias de oração.
A orientação bíblica vai indicada na primeira parte com as Laudes,
as Vésperas e as Leituras.
A orientação contemplativa vem acompanhada de sugestões de
fórmulas, de tarefas, de compromissos, etc. Você escolherá com
simplicidade, adaptando-se ao que mais lhe interessa.
Num e noutro casos, procure não tanto a cultura, mas o amor.
É sempre a maneira mais verdadeira e mais segura para enfrentar
o ritmo divino da oração.

O ROSÁRIO

Para quem não compreende nada da vida espiritual, o rosário (ou


o terço) é sinônimo de uma oração retórica, tola, inútil.
Para quem é "espiritual", para quem já está mais adiantado no
caminho da oração, o rosário é o modo mais simples de ajudar a pessoa
a viver a oração de modo concreto e prolongado.
Não receio afirmar que quem gosta deste tipo de oração, e se sente
bem disposto para rezar o terço, já é um contemplativo ou certamente
já se encontra no caminho da contemplação.
Portanto: cuidado para não falar mal de coisas que não se
conhecem.
O terço é uma forma universal de oração. De fato, encontramo-lo
em todas as religiões reveladas.
Indico-lhe três que podem ser usadas por você neste período.

O TERÇO MARIANO (O nosso)

Um rosário consta de três terços. O terço é feito de cinquenta


contas, subdivididas em cinco dezenas e intercaladas de uma conta em
geral maior. Ele é um verdadeiro ofício reduzido de Nossa Senhora, um
modo simples para ajudar o povo a rezar. Na tradição católica, o terço
tem desempenhado um papel fundamental. Para muitos pobres, ele tem
sido o único auxílio para manter a fé em tempos duros e áridos.
O terço consiste na tentativa de reunir no espaço de quinze
minutos um pequeno roteiro de meditações sobre a vida da Virgem
Maria, intercalando-o com uma oração vocal e repetitiva da Ave Maria.
O roteiro de meditações abrange três caminhos muito simples :
— A alegria de Maria
— A dor de Maria
— A glória de Maria, e estrutura-se com base em cinco quadros
chamados mistérios (o termo é medieval, quando eram chamadas de
"mistérios" as representações sagradas).
Para fugir à monotonia, a indicação era a seguinte:
Segunda-feira e quinta-feira:
A alegria de Maria — Mistérios gozosos Terça-feira e sexta-feira:
A dor de Maria — Mistérios dolorosos Quarta-feira, sábado e
domingo:
A glória de Maria — Mistérios gloriosos
MISTÉRIOS GOZOSOS:
1) A anunciação
2) A visita a Isabel
3) O nascimento de Jesus
4) A apresentação ao templo 5) O reencontro de Jesus
MISTÉRIOS DOLOROSOS:
1) A agonia de Jesus
2) A flagelação
3) A cruz
4) O caminho do Calvário
5) A morte de Jesus
MISTÉRIOS GLORIOSOS:
1) A ressurreição
2) A ascensão
3) A descida do Espírito Santo
4) A assunção de Maria 5) O paraíso

O TERÇO BIZANTINO

Chamamos de "terço" ou "rosário" por semelhança, mas na


realidade, ele é chamado de Cicotki pela liturgia bizantina.
É um rosário de lã, com 100 contas, que se fazem deslizar entre os
dedos, dizendo a cada conta:
"Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus Vivo, tende piedade de mim,
pecador"
Ele tem a mesma origem da famosa Oração de Jesus, do Peregrino
Russo:
Senhor, tende piedade, eu sou pecador!
A repetição seguida desta oração é um modo muito útil de
"adormecer" a fantasia e a imaginação.
Assim como a mãe adormece o filho embalando-o, também o ritmo
e a monotonia acalma essas duas "loucas" da casa, que estão sempre
prontas a distrair da oração.

O TERÇO ISLÂMICO (SUBHA)

É indubitavelmente o mais simples e o mais perfeito. É a oração do


deserto, das longas caminhadas, da adoração e do louvor prolongados.
Formado de 99 contas (correspondentes aos 99 louvores de Deus),
desliza sob os dedos com uma única invocação escolhida entre as 99.
É verdadeiramente uma fonte extraordinária de oração.
Quem se sente apaixonado por Deus, não se cansa de repeti-lo.
Se vocês pudessem percorrer os países islâmicos, ser-lhes-ia fácil
ver os "crentes" caminharem, levando na mão o terço e fazendo as
contas deslizarem entre os dedos, enquanto os lábios sussurram:
"Deus meu, como sois grande' ou então:
''Ó Deus, vós sois misericordioso".
Muitas vezes, a expressão escolhida é mantida em segredo: um
"segredo" pessoal.
Eu, por exemplo, jamais consegui que alguém, mesmo que amigo,
me dissesse qual a expressão que usava na oração.
Eu, porém, digo-lhe a minha, porque tenho menos pudor:
"Meu Deus, eu vos amo, tende piedade de mim".
E acho que não existe no mundo uma esposa que tenha dito ao
esposo: 'Eu o amo", mais vezes do que eu.
Eis os 99 louvores de Deus:
1. Allah (‫ )هللا‬Deus 11. Al 20. Al Alim
2. Al Rahman (‫ )الرحمن‬O Mutakabbir (‫ )المتكبر‬O (‫ )العليم‬O que Tudo Sabe; O
Misericordioso Majestoso Omnisciente
3. Al Rahim (‫ )الرحيم‬O 12. Al Khaliq 21. Al Qabid
Clemente; O (‫ )الخالق‬O Criador (‫ )القابض‬Aquele que
Misericordioso 13. Al Bari' Constringe
4. Al Malik (‫ )الملك‬O Soberano (‫ )البارئ‬O que Faz evoluir; O 22. Al Basit
5. Al Quddus (‫ )القدوس‬O que Concebe (‫ )الباسط‬O que Expande; O
Sagrado 14. Al Magnânimo
6. Al Salam (‫ )السالم‬A Fonte da Musawwir (‫ )المصور‬O 23. Al Khafid
Paz Formador; O Modelador (‫ )الخافض‬O que Rebaixa
7. Al Mu'min (‫ )المؤمن‬O 15. Al Ghaffar 24. Al Rafi'
Guardião da Fé; A Fonte da (‫ )الغفار‬O que Perdoa (‫ )الرافع‬O que Exalta
Fé 16. Al Qahhar 25. Al Mu'izz
8. Al Muhaymin (‫ )المهيمن‬O (‫ )القهار‬O Dominador (‫ )المعز‬O que Honra
Protetor 17. Al Wahhab 26. Al Mudhill
9. Al 'Aziz (‫ )العزيز‬O Poderoso (‫ )الوهاب‬O Doador (‫ )المذل‬O que Desonra
(Onipotente) 18. Al Razzaq 27. Al Sami'
10. Al Jabbar (‫ )الرزاق‬O Provedor (‫ )السميع‬O que Tudo Ouve
(‫ )الجبار‬O Irresistível; O que 19. Al Fattah 28. Al Basir
Compele (‫ )الفتاح‬O que abre (‫ )البصير‬O que Tudo Vê
29. Al Hakam
(‫ )الحكم‬O Juiz
30. Al 'Adl 50. Al Ba'ith 66. Al Majid
(‫ )العدل‬O Justo (‫ )الباعث‬O que Ressuscita (‫ )الماجد‬O Nobre; O
31. Al Latif 51. Al Shahid Magnificente
(‫ )اللطيف‬O Sutil (‫ )الشهيد‬A Testemunha 67. Al Wahid
32. Al Khabir 52. Al Haqq (‫ )الواحد‬O Único; O
(‫ )الخبير‬O Ciente; O (‫ )الحق‬A Verdade, Aquele Indivízível
Desperto que é Real 68. Al Samad
33. Al Halim 53. Al Wakil (‫ )الصمد‬O Eterno; O
(‫ )الحليم‬O Clemente; O (‫ )الوكيل‬O Confiável; O Impregnável
Delicado Depositário 69. Al Qadir
34. Al 'Azim 54. Al Qawiyy (‫ )القادر‬O Capaz
(‫ )العظيم‬O Magnificiente; O (‫ )القوى‬O Mais Forte 70. Al
Infinito 55. Al Matin Muqtadir (‫ )المقتدر‬O Mais
35. Al Ghafur (‫ )المتين‬O Firme, o Leal Poderoso; O Dominante; O
(‫ )الغفور‬O que Tudo Perdoa 56. Al Wali que Tudo Determina
36. Al Shakur (‫ )الولى‬O Amigo Protetor, O 71. Al
(‫ )الشكور‬O Apreciador Patrono e Ajudante Muqaddim (‫ )المقدم‬O que
37. Al 'Ali 57. Al Hamid Adianta; O que Apressa
(‫ )العلى‬O Mais Alto (‫ )الحميد‬O Digno de Louvor 72. Al
38. Al Kabir 58. Al Muhsi Mu'akhkhir (‫ )المؤخر‬O que
(‫ )الكبير‬O Maior (‫ )المحصى‬O Calculador, O Atrasa; O que Retarda
39. Al Hafiz Numerador de Tudo 73. Al Awwal
(‫ )الحفيظ‬O Preservador 59. Al Mubdi' (‫ )األول‬O Primeiro
40. Al Muqit (‫ )المبدئ‬O que Dá Origem; O 74. Al Akhir
(‫ )المقيت‬O que Sustenta Produtor; O Originador e (‫ )األخر‬O Último
41. Al Hasib Iniciador de Tudo 75. Al Zahir
(‫ )الحسيب‬O que Reconhece 60. Al Mu'id (‫ )الظاهر‬O Manifesto
42. Al Jalil (‫ )المعيد‬O Restaurador; Que 76. Al Batin
(‫ )الجليل‬O Sublime Traz Tudo de Volta (‫ )الباطن‬O Oculto
43. Al Karim 61. Al Muhyi 77. Al Wali
(‫ )الكريم‬O Generoso (‫ )المحيى‬o Doador da Vida (‫ )الوالي‬O que Governa; O
44. Al Raqib 62. Al Mumit Patrão
(‫ )الرقيب‬O Vigilante (‫ )المميت‬O Criador da Morte, 78. Al Muta'al
45. Al Mujib O Destruidor (‫ )المتعالي‬O Mais Elevado
(‫ )المجيب‬O que Responde 63. Al Hayy 79. Al Barr
46. Al Wasi' (‫ )الحي‬O Eterno Vivente (‫ )البر‬A Fonte da Bondade;
(‫ )الواسع‬O que Tudo Abraça 64. Al Qayyum O Mais Generoso e Correto
47. Al Hakim (‫ )القيوم‬O Auto-Subsistente; 80. Al Tawwab
(‫ )الحكيم‬O Sábio O que a Tudo Sustém (‫ )التواب‬O que Aceita o
48. Al Wadud 65. Al Wajid Arrependimento
(‫ )الودود‬O Amante (‫ )الواجد‬O que Encontra; O 81. Al
49. Al Majid que Percebe; O Infalível Muntaqim (‫ )المنتقم‬O
(‫ )المجيد‬O Glorioso Vingador
82. Al 'Afuww 95. Al Badi
(‫ )العفو‬O que Perdoa (‫ )البديع‬O Incomparável, O
83. Al Ra'uf Originador
(‫ )الرؤوف‬O Compassivo 96. Al Baqi
84. Malik al (‫ )الباقي‬O Perpétuo
Mulk (‫ )مالك) (الملك‬O 97. Al Warith
Detentor de Toda A (‫ )الوارث‬O Herdeiro
Majestade; O Eterno Supremo
Detentor da Soberania 98. Al Rashid
85. Dhu al (‫ )الرشيد‬O Guia para o
Jalal wa al Ikram ( ‫ذو الجالل و‬ Caminho Reto, O Professor
‫ )اإلكرام‬O Senhor da Infalível, O Conhecedor
Majestade e da 99. Al Sabur
Generosidade (‫ )الصبور‬O Paciente, O
86. Al Muqsit Eterno
(‫ )المقسط‬O Equitativo
87. Al Jami'
(‫ )الجامع‬O que Reúne; o que
Unifica
88. Al Ghani
(‫ )الغنى‬O Auto-Suficiente; O
Independente; O Possuidor
de Todas as Riquezas
89. Al Mughni
(‫ )المغنى‬O Enriquecedor; O
Emancipador
90. Al
Mani'(‫ )المانع‬O que Impede;
O que Defende
91. Al Darr
(‫ )الضار‬O que Causa
Preocupações (Esse
atributo só pode ser
encontrado nas hadith. No
Corão esse atributo é
usado exclusivamente para
Satã na Súra 58, verso 10)
92. Al Nafi'
(‫ )النافع‬O que Beneficia
93. Al Nur
(‫ )النور‬A Luz
94. Al Hadi
(‫ )الهادئ‬O Guia
O centésimo louvor é mantido oculto, e Deus o revela
pessoalmente a quem o quer.

1º DIA
MARIA, MINHA IRMÃ

O tema de hoje é Maria na minha história. É uma tentativa. Pode


acontecer que seja fácil para você. Pode acontecer que não seja. Procure
fazê-lo com simplicidade. Leia o primeiro capítulo do livro, onde relato a
minha experiência. Conte a sua. Depois, tente rezar. Aponto-lhe dois
caminhos.

* * *

LAUDES
Sl 8
SI 13
VÉSPERAS
SI 4
SI 11
Cântico de Ana (ISm 2,1-11)
LEITURAS
Is 59
Jo 1
Cântico de Moisés (Ex 15,1-20)

* * *
*Vou agora ensinar-lhe um modo novo de usar o terço, rezando-o à
moda oriental.
* Tome o terço e vá deslizando-o entre os dedos. A cada conta diga:
AVE, MARIA! Ao fim de cada de zena de jaculatórias, intercale uma Ave
Maria rezada dc princípio ao fim. Ou então utilize uma das seguintes:
"FAÇA-SE COMIGO SEGUNDO A TUA PALAVRA" "MINHA MÃE,
MINHA CONFIANÇA"

* * *

Durante o dia, louve Maria assim:


Ó meu único alívio,
ó rajada divina, refrigério para a minha aridez,
ó chuva que desce de Deus sobre o meu coração ressequido,
ó lâmpada resplandecente que ilumina a escuridão da minha
alma,
guia para o meu caminho,
sustento para a minha fraqueza,
veste para a minha nudez,
riqueza na minha miséria extrema,
remédio para minhas feridas incuráveis,
consolo que põe fim às minhas lágrimas e aos meus gemidos,
libertação de toda desventura,
bálsamo para minhas dores,
liberdade em troca de minha escravidão,
esperança da minha salvação...
Assim seja, ó Senhora minha.
Assim seja, ó refúgio meu,
minha vida e meu auxilio,
minha defesa e minha glória,
minha esperança e minha fortaleza.
(Germano de Constantinopla)

2º DIA
AVE MARIA
O tema é a Anunciação.
Procurei colocar Nossa Senhora o mais próximo possível de nossa
vida. Anunciação significa, antes de mais nada, que Deus intervém na
nossa vida: é o Deus conosco. Significa também vocação, chamado,
convite para realizarmos o nosso êxodo para a libertação.
Maria nos ensina a coragem e a força na fé.

* * *

LAUDES
SI 16
SI 118
Cântico de Moisés (Dt 32,1-44)
VÉSPERAS
SI 17
SI 19
Cântico de Maria (LC 1,46-55)
LEITURAS
Ex 17
Epístola aos Colossenses (toda)

— O Anjo do Senhor anunciou a Maria.


— E ela concebeu do Espírito Santo.
— Eis aqui a serva do Senhor.
— Faça-se em mim segundo a tua palavra.
— E o Verbo se fez carne.
— E habitou entre nós.
Ave Maria...

Hoje, você pode rezar o terço, dizendo, de acordo com sua escolha,
uma das frases da fórmula do Angelus. Principalmente esta:
— Eis aqui a serva do Senhor.
— Faça-se em mim segundo a tua palavra.

* * *

Antes de anoitecer, louve Maria dizendo:


Salve, canto dos querubins e louvor dos anjos.
Salve, paz e alegria do género humano.
Salve, jardim de delícias, salve, ó árvore da vida.
Salve, baluarte dos fiéis e porto dos náufragos.
Salve, eco de Adão, salve, resgate de Eva.
Salve, fonte da graça e da imortalidade.
Salve, templo santíssimo, salve, trono do Senhor.
Salve, puríssima, que esmagaste a cabeça do dragão,
precipitando-o no abismo.
Salve, refúgio dos aflitos, salve, combate à maldição.
Salve, ó Mãe do Cristo, Filho do Deus vivo, a quem se devem
glória, honra, adoração e louvor, agora e sempre e por todo o
sempre. Amém e assim seja nos séculos.
(Efrém da Síria)

3º DIA
MEU DEUS, MEU FILHO

Deus nasce em Maria e nasce na nossa realidade. É a inversão de


todos os valores. O infinitamente distante se torna infinitamente
próximo. A intimidade substitui o medo: nasce a confiança.
O máximo consiste em poder dizer a Deus: — Meu filho! Isto
significa ter tido a coragem de gerá-lo na fé.
* * *

LAUDES
SI 23
SI 26
Cântico de Jonas (Jn 2,3-11)
VÉSPERAS
SI 25
SI 24
Cântico de Maria (LC 1,46-55)
LEITURAS
IS 35
Jo 13
* * *

Hoje, procure encher os espaços vazios do seu dia, rezando o terço


à moda oriental e usando a fórmula: MEU DEUS, MEU FILHO.
Pense que, na verdade, a fé possui o poder de "gerar" Deus na sua
vida, sob o clamor da sua fé, da sua esperança, do seu amor.

* * *

LOUVOR
Salve, mãe da alegria celeste.
Salve, tu que alimentas em nós um júbilo sublime.
Salve, sede da alegria que salva.
Salve, tu que ofereceste o gáudio perene.
Salve, ó místico lugar da alegria inefável.
Salve, ó campo digníssimo da alegria indizível.
Salve, ó fonte abençoada da alegria infinita, Salve, ó tesouro
divino da alegria sem fim,
Salve, ó árvore frondosa da alegria que dá vida,
Salve, ó Mãe de Deus, por ninguém desposada,
Salve, ó Virgem, intacta em tua integridade depois do parto,
Salve, espetáculo admirável, que deixa aquém todos os
prodígios.
Quem poderia descrever o teu esplendor?
Quem poderia relatar o teu mistério?
Quem seria capaz de proclamar a tua grandeza? Ornaste a
natureza humana, superaste as legiões de anjos...
Superaste todas as criaturas...
Nós te aclamamos: Salve, ó cheia de graça!
(Sofrônio de Jerusalém)

4º DIA
O CAOS DA HISTÓRIA

Hoje, você vai meditar sobre a fraqueza de um Deus que renuncia


à sua onipotência, para entrar na história e aceitar as suas
conseqüências.
O massacre dos inocentes é a síntese de um inexplicável caos, que
Jesus aceita para salvar os homens, mas é também o sinal de que a
vontade de Deus se cumpre para além da orepotência do homem e
apesar dela.

* * *

LAUDES
SI 28
SI 30
Cântico de Habacuc (Hab 3)
VÉSPERAS
SI 29
SI 31
Cântico dos três jovens (Dn 3,52-90)
LEITURAS
Jr 9 os 2
Lc 15

* * *

Hoje a sua jaculatória será:


A DEUS TUDO É POSSÍVEL.
A DEUS TUDO É POSSÍVEL.

* * *
E O LOUVOR:
Minha alma glorifica o Senhor;
exulta meu espírito
em Deus, meu Salvador:
ele voltou os olhos para a humildade de sua serva,
doravante todas as gerações
me chamarão bem-aventurada.
O Poderoso fez em mim maravilhas,
Santo é seu nome!
Sua misericórdia se estende de geração em geração
sobre aqueles que o temem;
manifestou o poder de seu braço,
dispersou os soberbos.
Depôs do trono os poderosos
e exaltou os humildes;
saciou de bens os que têm fome
e os ricos despediu de mãos vazias.
Veio em socorro de Israel seu servo,
recordando-se de sua misericórdia,
assim como prometera a nossos pais,
a Abraão e a seus filhos para sempre.
(LC 1,46-55)
5º DIA
NAZARÉ

A meditação sobre Nazaré atinge as profundezas de um abismo, e


é a que fica mais próxima da sua e da minha vida.
Nazaré é o modo de viver nesta terra, sob a ação da fé. Nazaré
significa Deus conosco, significa a divinização das coisas simples como o
trabalho, as relações humanas. Significa oração durante as vinte e quatro
horas do dia.
Preste atenção: este dia de hoje é fundamental.

* * *

LAUDES
SI 33
SI 37
Cântico da Epístola aos Colossenses (2,5-11)
VÉSPERAS
SI 34
SI 39
Cântico de Sirácida (Eclo 42-43)
LEITURAS
IS 53
Epístola aos Efésios
LC 4
* * *

—Hoje, você poderia tentar rezar o terço. Você sabe como se reza
o terço tradicional.
— Anuncie o mistério, e depois recite dez vezes a Ave Maria.
— Aqui você tem os cinco mistérios gozosos:
1. A anunciação
2. A visita a Isabel
3. O nascimento de Jesus
4. A apresentação ao Templo
5. O reencontro de Jesus

* * *

Como LOUVOR, você recitará:


Ave, sempre bela,
Ó Virgem Mãe de Deus,
Do alto mar estrela,
Porta azul dos céus.

Novas o anjo traz:


"Ave", te saúda;
Funda-nos na paz,
De Eva o nome muda.

Quebra a algema ao réu,


E dá aos cegos luz,
Dá-nos, Mãe do céu,
O que ao céu conduz.

Mostra seres Mãe,


Faze a nós descer
Quem por nós nascido,
Quis de ti nascer.
Mansidão, pureza,
Ó Virgem sem igual,
Dá-nos com presteza,
E livra-nos do mal.

Dá-nos vida pura,


Um caminho certo,
Para quem procura
Ver Jesus de perto.

Seja ao Pai louvor,


Ao Cristo também;
Ao Consolador
Igualmente. Amém.
(Hino popular do século

6ºDIA
FAZEI TUDO O QUE ELE VOS DISSER

Esta é a meditação sobre o compromisso, o apostolado, o serviço.


Que é o apostolado? É fazer o que Cristo nos pede. Não é uma
agitação vazia. Maria ajuda-nos a permanecer junto de Jesus, a provocá-
lo com a nossa oração e forçá-lo a agir com a nossa caridade.

* * *

LAUDES
SI 40
SI 46
Cântico de Isaías (26,9-21)
VÉSPERAS
SI 42
SI 47
Cântico de Maria (LC 1,46-55).
LEITURAS
Ex 6-8
Ez 34
Jo 15

* * *

Hoje, bem que você poderia recitar o terço à moda oriental, usando
jaculatórias sobre o apostolado.
É o assunto do dia:
— PAI, ENVIAI OPERÁRIOS PARA A VOSSA MESSE.
— PAI, SALVAI-NOS QUE PERECEMOS.
— PAI, VENHA A NÓS O VOSSO REINO.

* * *

Eis o LOUVOR da noite:


Ó Maria, vastidão do céu,
fundamento da terra,
profundidade dos mares, luz do sol,
beleza da lua,
esplendor das estrelas do céu...
Teu seio carregou o próprio Deus,
diante de cuja majestade o homem se sente amedrontado.
Tuas entranhas contioeram o carvão ardente.
Teus joelhos sustentaram o leão,
terrível em sua majestade.
Tuas mãos tocaram
Aquele que é intocável,
e o fogo da divindade que nele reside.
Teus dedos parecem as pinças incandescentes
com que o profeta recebia o carvão
para a oblação celeste.
És o cesto onde está o pão ardendo em chama,
e és o cálice onde o vinho foi colocado.
Ó Maria, que em teu seio formaste
o fruto da oblação...
pedimos-te instantemente
que nos guardes do inimigo que vive a rondar-nos.
E, assim como não se separa
a mistura da água com o vinho,
nós também não nos separamos de ti e do teu Filho,
Cordeiro da Salvação.
(Anáfora etíope)

7ºDIA
A MORTE DE JESUS
Esta meditação é fundamental para você compreender o

pensamento íntimo de Jesus. É a descoberta do Semblante do Servo


sofredor, delineado por Isaías e realizado pelo Cristo. Compreender ou
não compreender esta atitude significa entrar ou não na Boa Nova do
Evangelho.

* * *

LAUDES
SI 22
SI 51
Cântico de Zacarias (LC 1,68-79)
VÉSPERAS
SI 55
SI 57
Cântico do Servo (Is 49)
LEITURAS
Jr 14-15 IS 53
Jo 18-19

* * *

Você poderia, no dia de hoje, esforçar-se para rezar os mistérios


dolorosos do rosário:
1) O Getsêmani
2) A flagelação
3) A coroação de espinhos
4) A condenação
5) A morte de Jesus na cruz
Se você preferir rezar o terço à maneira oriental eis algumas
jaculatórias:
Pai, não se faça a minha vontade, mas a vossa.
Deus meu, por que me abandonaste?

* * *

STABAT MATER
Estava a Mãe dolorosa
Ao pé da cruz lacrimosa,
E o filho pendente dela.
Dura espada lhe rasgava,
Com dor, tristeza e gemidos,
A alma pura e lha ensopava.
Oh! quão triste, quão aflita!
Foi a donzela bendita,
Mãe do Unigénito Filho!
Dor e angústia a possuía,
E toda trémula via
As penas do ínclito Filho.
Que homem ali não chorara,
Se a Mãe do Cristo observara,
Padecendo tal suplício!
Que peito não se partira,
Quando a Mãe piedosa vira
Com seu filho suspirando!
Porque o povo delinquiu,
Jesus em tormentos viu
Sofrendo cruéis flagelos.
Viu o filho seu amado,
Morrendo desamparado,
Lançar o espírito extremo.
Eia, Mãe, fonte de amores,
Fazei que estas fortes dores
Eu sinta, e convosco chore.
Fazei que a alma se me inflame,
Porque a Cristo-Deus só ame,
E só busque o seu agrado.
Santa Mãe, isto vos peço,
Fique bem meu peito impresso
Das chagas do Crucifixo.
De vosso filho chagado
O que por mim se há dignado
Sofrer, reparti comigo.
Fazei-me, enquanto viver,
Com meu Jesus condoer,
Convosco chorar deveras.
Junto à cruz convosco estar,
Vosso pranto acompanhar
Unicamente desejo.
Virgem das virgens preclara,
Não sejais comigo avara,
Fazei-me chorar convosco.
Fazei que eu seja consorte
Das chagas, paixão e morte
De Cristo, e em mim se vejam.
Fazei-me delas chagado,
Desta cruz embriagado,
Por amor do doce filho.
Porque a chama não me queime,
Doce Virgem, defendei-me
No derradeiro juízo.
Ao sair do corpo est'alma,
Dai-me da vitória a palma
Por vossa Mãe, ó Jesus.
Quando a morte me levar,
Fazei que a alma vá gozar
A glória do Paraíso. Amém.
Aleluia.

8º DIA
RESSUSCITOU

Que significa para mim crer que Cristo ressuscitou dos mortos?
Maria vai dizê-lo...
Abandonemos a retórica e o sentimentalismo ou o fideísmo, e
entremos decididamente na dinâmica da fé, da esperança e da caridade,
que constituem o verdadeiro terreno onde se realiza, dia a dia, a
ressurreição de Jesus.

* * *

LAUDES
SI 62
SI 68
Cântico de Ezequiel (Ez 37 , 1-14)
VÉSPERAS
SI 66
SI 84
Cântico do Apocalipse (Ap 5,1-13)
LEITURAS
Jonas (todo)
Ap 21 -22
Lc 24

* * *

Se você hoje resolver desfiar o seu terço à maneira oriental, diga o


seguinte:

CRISTO JESUS RESSUSCITOU.


RESSUSCITOU VERDADEIRAMENTE.

* * *

E, antes de adormecer, louve Maria assim:


Ó Virgem Maria, de ti,
como de uma montanha nunca antes tocada,
saiu o Cristo, a pedra angular,
que uniu as duas naturezas divididas.
É por isto que nós nos alegramos
e te exaltamos, ó Teotókos!

Vinde, todos, e recordemos, com pureza de coração


e com ânimo sóbrio e reto, a Filha do Rei,
o esplendor da Igreja,
mais brilhante do que o ouro,
e procuremos exaltá-la!

Salve! E alegra-te também, ó Esposa do grande Rei,


tu que refletes de modo esplêndido
a beleza do teu esposo,
e vem aclamar com o teu povo:
Ó Doador da vida,
nós vos exaltamos!

Aceita as súplicas do teu povo,


ó Virgem Mãe de Deus,
e intercede continuamente junto a teu Filho,
a fim de que ele nos livre, a nós que te louvamos,
dos perigos e das tentações.
És, realmente, a nossa embaixatriz
e a nossa esperança.
(André de Creta)

9º DIA
COM MARIA
No silencio ela se faz discípula.

* * *

LAUDES
SI 89
SI 103
Cântico da Jerusalém celeste (Ap 21)
VÉSPERAS
SI 91
SI 104
Cântico de Maria (LC 1,46-55)
LEITURAS
IS 42
Epístola aos Filipenses
Jo 17

* * *

— Eis-nos chegados à conclusão do breve retiro de nove dias, feito


em companhia de Maria.
— Você deve escolher, ou melhor, criar a sua jaculatória
fundamental, o seu "segredo" que, de agora em diante, você repetirá
como expressão de amor quando se encontrar com Jesus. Você há de ver
como isto o ajudará a atingir a “oração contínua”.

* * *

A hora de Completas diga:


Deixemo-nos guiar pelas palavras de Gabriel,
que é cidadão do céu, e digamos:
Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo!
Repitamos com o anjo:
Salve, ó alegria por nós tão desejada!
Salve, ó júbilo, da Igreja!
Salve, ó nome cheio de perfume!
Salve, ó rosto iluminado pela luz de Deus
e que difunde tanta beleza!
Salve, ó memorial todo feito de veneração!
Salve, ó véu salutar e espiritual!
Salve, ó mãe iluminada pela luz nascente!
Salve, ó intemerata mãe da santidade!
Salve, ó fonte borbulhante de água viva!
Salve, ó mãe tão nova e
modeladora do novo nascimento!
Salve, ó mãe repleta de mistério e inexplicável!...
Salve, ó vaso de alabastro, do unguento da santificação!
Salve, ó tu que sabes valorizar a virgindade!
Salve, ó modesto espaço que acolheu em si
Aquele que o mundo não pode conter!
(Teodoro de Ancira)

X
CANTOS

O SENHOR É MEU PASTOR


O Senhor é meu pastor, nada me pode faltar!
O Senhor é o pastor que me conduz, / nada me falta; / é nos prados
da relva mais fresca, / que me faz descansare, / para as águas
tranqüilas me conduz, / reconforta a minha alma.
Ensina-me os caminhos mais seguros / por amor de seu nome; /
passarei os mais negros abismos sem temer mal nenhum: / junto a
mim teu bastão, teu cajado, / eles são o meu conforto.
Preparas uma mesa para mim / bem à face do inimigo; / teu óleo
me ungiu a cabeça / e minha taça transborda.
Viverei a ventura da graça / cada dia da vida; / minha casa é a casa
do Senhor, / para sempre o há de ser.
Glória ao Pai, ao Filho e ao Santo Espírito, / desde agora e para
sempre. / Ao Deus que é, que era e que vem / pelos séculos.
Amém.
PERDOAI-NOS, Ó PAI...
Perdoai-nos, ó Pai, as nossas ofensas, como nós perdoamos a quem
nos ofendeu.
Se eu não perdoar a meu irmão, / o Senhor não me dá o seu
perdão.
Eu não julgo para não ser julgado; / perdoando é que serei
perdoado.
Ajudai-me, Senhor, a perdoar; e livrai-me de julgar e condenar!
Vou ficar sempre unido em comunhão / ao Senhor e também ao
meu irmão.
Vivo em Cristo a vida de cristão: sou mensagem de sua
reconciliação.

PARA QUE TODOS SEJAM UM


Para que todos sejam um, como sou um em ti, ó Pai!
Guarda em teu nome, Pai Santo / aqueles que tu me deste.
Rogo também por aqueles / que por sua palavra hão de crer. Que
sejam unidos em mim, / e mostrem que tu me enviaste.
O mundo há de crer em teu Verbo, / vendo a sua união. Eu estarei
sempre neles, / como estás sempre em mim.
Para que o mundo conheça, / que tu por amor me enviaste.
Dei-lhes a glória que é tua, / a glória que tu me deste. Quero, meu
Pai, que estejam / onde estou sempre contigo.

VÓS SOIS O CAMINHO


Vós sois o Caminho, a Verdade e a Vida, o Pão da alegria descido
do céu.
Nós somos caminheiros / que marcham para os céus. /Jesus é o
caminho / que nos conduz a Deus.
Da noite da mentira, / das trevas para a Luz, / busquemos a
Verdade, / Verdade é só Jesus.
Pecar é não ter vida, / pecar é não ter luz; / tem vida só quem segue
/ os passos de Jesus.
Jesus, Verdade e Vida, / Caminho que conduz as almas peregrinas
/ que marcham para a luz.

A VOSSA PROTEÇÃO...
À vossa proteção recorremos, Mãe de Deus.
Santa Maria, socorrei os pobres, ajudai os fracos, / consolai os
tristes, rogai pela Igreja, protegei o clero, ajudai-nos todos, sede
nossa salvação.
Santa Maria, sois a Mãe dos homens, sois a Mãe de Cristo, / que
nos fez irmãos, rogai pela Igreja, pela humanidade, e fazei que
enfim tenhamos paz e salvação.
PELAS ESTRADAS DA VIDA
Pelas estradas da vida, / nunca sozinho estás. /Contigo pelo
caminho / santa Maria vai.
Ó vem conosco, vem caminhar, santa Maria, vem. (bis)
Se pelo mundo os homens sem conhecer-se vao, /não negues
nunca a tua mão / a quem te encontrar.
Mesmo que digam os homens: / "Tu nada podes mudar", /luta por
um mundo novo / de unidade e paz.

CANTIGA MARIANA
Ensina o teu povo a rezar, / Maria, mãe de Jesus,/ que um dia o teu
povo desperta / e na certa vai ver a luz, /que um dia o teu povo se
anima e caminha com teu Jesus.
Maria de Jesus Cristo / Maria de Deus, Maria mulher, / ensina a teu
povo o teu jeito / de ser o que Deus quiser. Maria, senhora nossa,
/ Maria do povo, povo de Deus, / ensina o teu jeito perfeito / de
sempre escutar teu Deus.

MARIA DE JESUS CRISTO


Maria santa de Jesus, / Maria pura de José, /que eu vi chorando ao
pé da cruz, / que eu vi sorrindo em Nazaré.
Nossa Senhora a gente diz / Senhora e mãe de todos nós
/pensando em ti, fico feliz / no teu amor roga por nós. /
Também como em Belém / nasci em teu regaço / e passo a passo
/ caminhei com meu Jesus. / Eu caminhei também / sorrindo e a
chorar, mas vou levar com teu Jesus a minha cruz.
Ave Maria, Maria, Maria, Maria. Ave Maria, Maria, Maria, Maria.
Maria meiga de Belém; em quem a graça repousou; /maior ternura
ninguém tem, / Deus nosso Pai te abençoou. Mãe do Senhor a
gente diz / e tem coragem de sonhar / que o mundo vai ser mais
feliz, / sabendo amar e perdoar. / E como em Nazaré, / vivendo
com Jesus e com José, / teu coração só teve amor. / Aumenta a
nossa fé / no Filho que é teu Deus, / e faz de nós / o povo santo do
Senhor.

HISTÓRIA DE MARIA
Vou lhe contar uma história / de uma jovem chamada Maria, / em
Nazaré da Galileia /outra igual eu não sei se existia. / Não sei se
eram verdes seus olhos, / se tinha cabelos morenos, só sei que
Maria de Nazaré / resolveu se casar com José.
Vou começar minha história / relembrando as garotas de então. /
Em Nazaré da Galileia o assunto era libertação. / Não sei se eram
verdes seus olhos, / se tinha cabelos morenos, só sei que Maria de
Nazaré / resolveu assumir sua fé.
Vou prosseguir minha história / relembrando as ideias que havia. /
Em Nazaré da Galileia a mulher muito pouco valia. / Não sei se
eram verdes seus o. tinha cabelos morenos, só sei que Maria de foi
a santa mulher de José.
Vou recordar nesta história / as batalhas que o mundo hoje trava.
/ Em Nazaré da Galileia / lá também já se massificava. / Não sei se
eram verdes seus olhos,/ se tinha cabelos morenos, / só sei que
Maria de Nazaré / ainda não conhecera José.
A jovem senhora um dia / recebeu um recado divino./ Por ela o
amor nasceria, / a verdade seria um menino. / Não sei se eram
verdes os seus olhos, / se tinha cabelos morenos,/ só sei que Maria
de Nazaré / aceitou mas não disse a José.
Vou lhe falar da agonia / que nos dois corações se criou. / Pois ela
explicar não podia, / e o marido julgar não ousou. / Não sei se eram
verdes seus olhos, / se tinha cabelos morenos, / só sei que Maria
de Nazaré / mereceu o amor de José.
Para Belém noite e dia, caminharam pro recenciamento. /
Ninguém deu abrigo a Maria, / não havia mais alojamento. / Não
sei se eram verdes seus olhos, / se tinha cabelos morenos, / só sei
que no ventre daquela flor / rejeitaram o libertador.
Vou terminar minha história / recordando os hoje em dia. / Em
Nazaré da Galileia / o divórcio também existia. / Não sei se eram
verdes seus olhos, / não sei se foi loira ou morena, / só sei que
Maria de Nazaré / foi fiel a seu Deus e a José.

MARIA DE MINHA INFÂNCIA


Eu era pequeno, nem me lembro, só lembro que à noite, ao pé da
cama, / juntava as mãozinhas e rezava apressado / mas rezava
como alguém que ama.
Nas Ave-Marias que eu rezava, / eu sempre engolia umas palavras,
/ e, muito cansado, acabava dormindo, / mas dormia como quem
amava.
Ave Maria, Mãe de Jesus
o tempo passa, não volta mais;
tenho saudades daquele tempo
que eu te chamava de minha mãe.
Ave Maria, Mãe de Jesus!
Ave Maria, Mãe de Jesus!
Depois fui crescendo, eu me lembro, / e fui esquecendo nossa
amizade, / chegava lá em casa, chateado e cansado, / de rezar não
tinha nem vontade.
Andei duvidando, eu me lembro, / das coisas mais puras que me
ensinaram. / Perdi o costume da criança inocente, / minhas mãos
quase não se ajuntavam.
O teu amor cresce com a gente, / a mãe nunca esquece o filho
ausente, / eu chego lá em casa, chateado e cansado, / mas eu rezo
como antigamente.
Nas Ave-Marias que hoje eu rezo, / esqueço as palavras e
adormeço, / e embora cansado, sem rezar como eu devo, eu de ti,
Maria, não me esqueço.

BOM DIA, MARIA


Ave Maria, Ave Maria Bom dia, bom dia
Bom dia, Maria de Deus.
O Senhor é contigo, / bendita és tu entre as muff e bendito é o
fruto do ventre teu, / Jesus de Na Santa Maria mãe, mãe do Filho
de Deus, / rc nós pecadores, / agora e na hora de nossa morte.

MARIA DE NAZARÉ
Maria de Nazaré, Maria me cativou. / Fez mais minha fé / e por
Filho me adotou. / Às vezes e e fico a pensar / e sem perceber me
vejo a rezar, / coraçao se põe a cantar / pra Virgem de Naz Menina
que Deus amou e escolheu, / pra mãe de o Filho de Deus. / Maria
que o povo inteiro ele senhora e mãe do céu.
Ave Maria, Ave Maria
Ave Maria, Mãe de Jesus!
Maria que eu quero bem, / Maria do puro amor, a você ninguém,
/ mãe pura do meu Senhor. / En mulher que a terra criou, um traço
de Deus deixou, / um sonho de mãe Maria plantou, / pro encontrar
a paz. / Maria que fez o Cristo falar, / que fez Jesus caminhar, /
Maria que só viveu p: Deus, / Maria do povo meu.

CANTO DE MARIA (Magnificat)


O Senhor fez em mim maravilhas, santo é seu nome!
A minh'alma engrandece o Senhor; exulta meu espírito em Deus
meu Salvador!
Pôs os olhos na humildade de sua serva; / doravante toda terra
cantará os meus louvores.
O Senhor fez em mim maravilhas, / Santo é seu nome.
Seu amor para sempre se estende / sobre aqueles que o temem.
Demonstrando o poder de seu braço, / dispersa os soberbos. Sacia
de bens os famintos, / despede os ricos sem nada. Abete cs
pcderoscs de seus tronos / e eleva os humildes. Acclhe Israel seu
servidor / fiel a seu amor.
E à promessa que fez aos nossos pais, / em favor de Abraão e de
seus filhos para sempre.
Glória ao Pai, ao Filho e ao Santo Espírito, / desde agora e para
sempre pelos séculos. Amém.

ALGUÉM DO POVO EXCLAMOU


Aleluia, aleluia, aleluia, aleluia! (bis)
Alguém do povo exclama: como é grande, ó Senhor, / quem te
gerou e alimentou! / Jesus responde: Ó mulher, / pra mim é feliz /
quem soube ouvir a voz de Deus / e tudo guardou!
' 'Nem todo o que diz: / Senhor, Senhor, chega ao céu. / Mas só
quem obedece ao Pai". / Jesus, se a Igreja louva tua mãe, / louva é
a ti / e espera que a conduzas / pela estrada onde vai.

BALADA DA CARIDADE
Para mim, a chuva no telhado / é cantiga de ninar, / mas o pobre
meu irmão, / para ele a chuva é fria, / vai entrando em seu barraco
/ e faz lama pelo chão.
Para mim, o vento que assobia / é noturna melodia, / mas o pobre
meu irmão, ouve o vento angustiado, / pois o vento, esse malvado,
/ lhe desmancha o barracão.
Como posso ter sono sossegado, / se no dia que passou / os meus
braços eu cruzei? / Como posso ser feliz, se ao pobre meu irmão
eu fechei o coração, / meu amor eu recusei?

S-ar putea să vă placă și