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Diego Irarrazaval *
ABSTRACT: In our context, full of anxiety, it is worth a re-encounter with the joyful spirituality
and ethics that come from Jesus of Nazareth. The Evangelical experience sees the situations of
evil, and also invites to see human signs of the presence of the Spirit. Many say that we are in the
midst of a changing era. Well, faith motivates to seek alternatives and to transform the world. In
our ecclesial spaces is worth rediscovering the pleasure of believing and celebrating.
* Chileno, professor de teologia, vigário na paróquia de San Roque (Chile). Assessor de cursos de lideranças
de base e de profissionais, e de encontros eclesiais (durante 29 anos no Peru e em outros lugares da América
Latina). Foi presidente (2001-2006) da Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo (ASETT /
EATWOT). Livros publicados: Religión del pobre y liberación (1978); Tradición y porvenir andino (1992); Cultura y fe
latinoamericana (1994); Inculturación (1998), La fiesta (1998); Teología en la fe del pueblo (1999); Audacia (2001);
Un Jesús Jovial (2003); Raíces de la Esperanza (2004); Gozar la ética (2005) etc. Publicações em português: Um Jesus
jovial (2003), numerosos artigos em livros e revistas.
Ao partilhar pontos de vista sobre a felicidade1 , desejo destacar alguns
elementos bíblicos com respeito a gozar (alegrar-se com) a vida. Não me volto
para a piedade, nem para uma reflexão sem espiritualidade. Interessa-me a
meditação teológica, que é alimentada pela alegria do povo pobre. E o faço
em um contexto onde são abundantes os sinais de êxito e comodidade, ainda
que também cresçam a depressão e o mal-estar. São feitos muitos estudos
sobre a felicidade2 .
1) MOTIVAÇÃO DE FUNDO
Pode-se dizer, à base dos testemunhos bíblicos, que Jesus Cristo foi um
homem feliz. Não difundiu conceitos nem regulamentos. Antes, dedicou-se à
apaixonante Boa Nova, e proclamou as bem-aventuranças (“felizes vocês...”).
Sua morte na cruz foi um caminho para a gozosa Ressurreição. O Espírito de
Jesus enche de alegria a comunidade. Portanto, a experiência da fé não fica
aprisionada por substantivos; antes se expressa bem mais mediante fórmulas
verbais: deleitar-se com a criação, a salvação, a ressurreição.
5 A alegria semítica/palestina é comer, a relação sexual, a unção com azeite, louvar a Deus. A
emoção vai de mão dada com a ação. Não é assim no mundo ocidental. Gary Anderson: “terms
for emotions in Western languages are used in ways that ignore or severely minimize their
behavioral dimension” (A time to mourn, a time to dance, the expression of grief and joy in
Israelite Religion, Pennsylvania: State University Press, 1991, 13 ss). Anderson explica o gozar ou
deleitar-se segundo a Biblia Hebraica e os textos rabínicos (pgs. 19-49).
cumplicidade com a maldade institucionalizada. Nestas condições, como é
possível uma existência integralmente feliz?
Por outro lado, a Boa Nova favorece ao pobre. Poder gozar constituí-se
numa busca do ser humano. As multidões postergadas e abatidas (nos tempos
de Jesus, e em cada época humana) são convocadas a alegrar-se com o Reino de
Deus. A comunidade cristã dá testemunho da luz de Cristo, que ilumina e fortalece
tais buscas, e a resposta divina é que, a partir do pobre, a humanidade é salva.
É certo que a injustiça e a pobreza desumanizante põem imensos obstáculos à
felicidade. Porém, o Espírito mobiliza a população abatida para a alegria de Deus.
Isso é constatado nos ambientes pobres deste continente e deste país (Chile).
6 Veja-se no caminhar humano e eclesial: Carlos Gonzalez V., Estas siempre alegres, Santander:
Sal Terrae, 1999, Anselm Grun, Recuperar a propia alegria, Estella: Verbo Divino, 1999, Miguel
Ortega, He decidido ser feliz, Santiago: San Pablo, 2000, Jose Rafael Prada, La felicidad e como
alcanzarla, Bogotá: San Pablo, 2006; e na teologia: M. Barros, Celebrar o Deus da Vida, São Paulo:
Loyola, 1992, Luis C. Bernal, Recuperar l fiesta en la Iglesia, Madrid: Edibesa, 1998, V. M. Fernández
e C.M. Galli (dir.), Teologia e Espiritualidade, Buenos Aires: San Pablo, 2005.
Tão pouco cabe espiritualizar a humanidade do Senhor. Concretamente
ele sofreu, mas também em formas muito precisas alegrou-se com sua
existência humana. Ao reprimir a alegria, se afiança a relação amorosa com Jesus
Cristo. Fortalece-se a felicidade de seguir Jesus e de colaborar com sua obra
libertadora. Isto pode ser chamado um prazer evangélico. Alegrar-se com Jesus
é o fundamental. Isto ocorre a cada dia ao abrir o coração à Vida. Isso também é
decisivo para nosso mundo tão pesado e tenso.
7 Marcelo Barros; Reflexão feita num encontro do Instituto de Pastoral Andina, Peru, 2001
8 Cito partes do “Himno de Cristo”, nos “Hechos de Juan” (Edgar Hennecke, New Testament
Apocrypha, London: Lutterworth Press, 1965, 227 ss).
Um segundo esclarecimento: a alegria humana de Jesus é inseparável
do deleite devido a sua filiação divina. “A alegria humana de Jesus é a alegria do
Filho de Deus” assinala Jorge Costadoat9. Foi o Jesus, humano e divino, quem se
alegrou. Em Jesus Cristo, como ensina o Concílio de Calcedônia, o humano e o
divino não se confundem nem se separam. O jovial Jesus de Nazaré é inseparável
do Deus da alegria.
Por outra parte, H.U. Von Balthasar desenvolve com lucidez a temática da
Glória. Esta temática inclui a cruz e a alegria, que se integram no mistério divino
de perdoar11. A tensão entre sofrer e alegrar-se não tem sentido senão é em que o
Crucificado é o Glorificado. Também existe descontinuidade; já que a ressurreição
18 mostra que Deus impugna o injusto sofrimento. Assim também faz o cristão; um
não carrega a cruz porque lhe apraz sofrer, mas porque o sofrer é transformado
em alegria.
Uma atitude é o dualismo. Por exemplo, separar o corpo e a alma. Com esta
atitude, a pessoa de Jesus (e de cada cristão) seria desencarnada. Tal perspectiva
tacha o prazer, e o associa ao pecado. Outro modo de viver é o ascético; que aceita
alguns benefícios concretos, porém tende a rechaçar as realidades humanas.
4) DISCERNIMENTO ESPIRITUAL
Geralmente se trata de vivências da gente comum que passa dum estar mal
a um estar bem, e em tal processo sentem felicidade. Trata-se de práticas que em
geral não são qualificadas como algo espiritual. Sem dúvida, em se tratando de
humanização, podem ser consideradas como sinais do Espírito.
20 Por exemplo. O anônimo cuidar de quem sofre com enfermidades, em que
se usam medicinas alternativas; e onde se supera desconforto diário. O resolver
problemas de subsistência material mediante iniciativas informais e criativas; por
exemplo, o comércio e a empresa de caráter informal onde as multidões resolvem
a questão da falta de ocupação (trabalho). Por outro lado existem as atividades
artísticas (artesanato, folclore) em que muitas pessoas plasmam a beleza que tem
no coração, e que também tem um sentido pragmático.
Mais que objeções ao que se diz, se trata de problemas dos tempos atuais.
As maiorias pobres não só levam cargas pesadíssimas, e passam mal. Também
buscam alívios em diversões instantâneas. As empresas e meios de comunicação
lhes oportunizam festivais de pão e circo. Estas realidades funcionam como um
obstáculo à genuína felicidade. É, pois, urgente superar o entretenimento frívolo,
e abrir-se à plenitude. Por outra parte, a gente pobre tem razões para confiar na
bondade de familiares e amizades, e confiar em suas responsabilidades sociais.
Em geral, em meio às ambivalências e injustiças humanas são esquadrinhados os
sinais do Espírito do Ressuscitado.
Quer dizer, não se está paralisado nem o agir humano, nem a igreja nem
a espiritualidade. Ao contrário, estamos numa época cheia de oportunidades de
felicidade. Alguém poderia desejar que ao documento dos Direitos Humanos das
Nações Unidas se lhes fosse acrescentado o direito universal de gozar a vida.
Tradução Hr.
17 idem , Conclusão .
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